Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alexandre Lobo dos Santos Hugo Seidi Iwai Ridao Juliano Katayama Groff Paulo Emilio Furlaneto Garcia Maringá, 13 de Julho de 2012. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROJETOS E PROCESSOS 1173/02 Acadêmicos Alexandre Lobo dos Santos Hugo Seidi Ridao Juliano Katayama Groff Paulo Emilio Furlaneto Garcia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROJETOS E PROCESSOS 1173/02 Disciplina Projetos e Processos 1173/02 Professores e orientadores responsáveis Nehemias Curvelo Pereira Edson M. Canassa Alexandre Lobo dos Santos Paulo Emilio Furlaneto Garcia 2 DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA RA 54640 47840 53703 55126 3 Sumário PROJETO TÉCNICO ....................................................................................................... 8 1. Introdução ..................................................................................................................... 8 1.1. Objetivo ..................................................................................................................... 8 1.2. A cana-de-açúcar ....................................................................................................... 8 1.3. Histórico .................................................................................................................. 13 1.3.1 Programa nacional do álcool – Proálcool. ............................................................. 14 1.4. Produto .................................................................................................................... 16 1.5. Especificações do álcool ......................................................................................... 18 1.5.1. Álcool hidratado (Hydrous alcohol) ..................................................................... 18 1.5.2. Tipos de álcool hidratado ..................................................................................... 20 1.5.3. Álcool Anidro (Absolute or Anhydrous Alcohol) ................................................ 22 1.5.4. Produtos secundários da reação ............................................................................ 23 1.6. Fluxograma.............................................................................................................. 25 1.6.1. Diagrama da Cebola ............................................................................................. 25 1.6.2. Fluxograma Detalhado ......................................................................................... 26 1.7. Balanço de massa .................................................................................................... 32 1.7.1. Transporte ............................................................................................................. 32 1.7.2. Mesa Alimentadora e Tratamento da Água de Lavagem ..................................... 32 1.7.3. Nivelador, Picador e Desfibrador ......................................................................... 37 1.7.4. Moendas ............................................................................................................... 39 1.7.5. Peneira Rotativa .................................................................................................... 40 1.7.6. Injeção de Ácido fosfórico na linha ...................................................................... 41 1.7.7. Preparação e adição do Leite de Cal ..................................................................... 41 1.7.8. Balão de Flash ...................................................................................................... 42 1.7.9. Preparação do Polímero ........................................................................................ 44 1.7.10. Decantador .......................................................................................................... 45 1.7.11. Filtro do Caldo Clarificado ................................................................................. 47 1.7.12. Tanque de Caldo Clarificado .............................................................................. 49 1.7.13. Evaporadores ...................................................................................................... 50 1.7.14. Filtro do Lodo ..................................................................................................... 53 1.7.15. Tanque de Distribuição ou Tanque de Caldo Concentrado ................................ 55 4 1.7.16. Dornas de Fermentação ...................................................................................... 56 1.7.17. Dorna Pulmão ..................................................................................................... 59 1.7.18. Centrífuga ........................................................................................................... 60 1.7.19. Cubas .................................................................................................................. 62 1.7.20. Tratamento da Levedura ..................................................................................... 63 1.7.21. Torre de Absorção para Lavagem de CO2 .......................................................... 64 1.7.22. Dorna Volante .................................................................................................... 66 1.7.23. Caixa de Vinho ................................................................................................... 67 1.7.24. Coluna de Destilação A. ..................................................................................... 69 1.7.25. Coluna de Destilação B. ..................................................................................... 70 1.7.26. Tanque de Álcool Hidratado............................................................................... 72 1.7.27. Peneira Molecular ............................................................................................... 73 1.7.28. Tanque de Álcool Anidro ................................................................................... 74 1.7.29. Caldeira ............................................................................................................... 75 1.7.30. Ciclone ................................................................................................................ 78 1.7.31. Coluna de absorção para lavagem de gases ........................................................ 79 1.7.32. Sedimentador e Filtro ......................................................................................... 82 1.7.33. Tratamento Físico da Água ................................................................................. 83 1.7.34. Tratamento Químico da Água ............................................................................ 84 1.7.35. Desmineralização e Desaeramento ..................................................................... 85 1.8. Balanço de energia .................................................................................................. 86 1.8.1. Balanço de energia na Caldeira ............................................................................ 86 1.8.2.Balanço de Energia na Extração ........................................................................... 87 1.8.3. Aquecimento do Caldo ......................................................................................... 87 1.8.4. Pré-evaporador ...................................................................................................... 88 1.8.5. Resfriamento do Caldo ......................................................................................... 90 1.8.6. Balanço de Energia nas Dornas de Fermentação .................................................. 90 1.8.7. Balanço de Energia na Destilação ........................................................................ 91 1.9. Integração Energética .............................................................................................. 97 1.10. Dimensionamento dos equipamentos .................................................................. 100 1.10.1. Transporte ......................................................................................................... 100 1.10.2. Balança Rodoviária ........................................................................................... 101 1.10.3. Estocagem ......................................................................................................... 101 5 1.10.4. Mesa Alimentadora ........................................................................................... 102 1.10.5. Condutor ........................................................................................................... 102 1.10.6. Decantador da Água de Lavagem ..................................................................... 103 1.10.7. Tanque de Armazenamento de Água ................................................................ 103 1.10.8. Nivelador/Eletro-imã/Picador/Desfibrador ....................................................... 104 1.10.9. Moendas ............................................................................................................ 105 1.10.10. Esteira Transportadora.................................................................................... 105 1.10.11. Peneira rotativa ............................................................................................... 105 1.10.12. Tanque de caldo misto .................................................................................... 106 1.10.13. Tanque de ácido fosfórico .............................................................................. 106 1.10.14. Tanque de Leite de cal .................................................................................... 106 1.10.15. Tanque de Polímero ........................................................................................ 107 1.10.16. Balão flash ...................................................................................................... 107 1.10.17. Decantador de caldo ....................................................................................... 107 1.10.18. Filtro rotativo a vácuo ..................................................................................... 108 1.10.20. Tanque de caldo clarificado ............................................................................ 108 1.10.21. Tanque de caldo concentrado ......................................................................... 108 1.10.22.Dornas de Fermentação................................................................................109 1.10.23.Tanque de Ácido Sulfúrico...........................................................................111 1.10.24.Tanque de Pé de Cuba...................................................................................112 1.10.25.Centrifugas....................................................................................................114 1.10.26.Dorna Pulmão...............................................................................................114 1.10.27.Dorna Volante...............................................................................................114 1.10.28.Caixa de vinho..............................................................................................114 1.10.29.Destilação......................................................................................................115 1.10.30.Absorção de etanol........................................................................................115 1.10.31.Peneira Molecular.........................................................................................115 1.10.32.Tanque de Álcool hidratado..........................................................................116 1.10.33.Tanque de Armazenamento de Álcool Hidratado e Anidro..........................116 1.11. Utilidades........................................................................................................117 1.11.1. Utilidades quentes e frias...............................................................................117 1.11.2. Bombas...........................................................................................................118 1.11.3. Dimensionamento da Caldeira……………………………………………...122 6 1.12. Estação de Tratamento de Efluentes – ETE.............................................................123 1.13. Layout ...................................................................................................................... 126 1.13.1. Especificações da planta…………………………………………………………..126 1.13.2. Layout ............................................................................................................... 131 1.14. Controle de Qualidade ............................................................................................. 133 1.14.1. Qualidade da cana-de-açúcar ............................................................................ 133 1.14.2. Qualidade do Álcool Etílico Combustível ........................................................ 133 1.14.3. Tratamento de Água ......................................................................................... 136 1.14.4. Controle e Análise na Fermentação .................................................................. 138 1.14.5. Tratamento da Levedura ................................................................................... 139 1.14.6. Análise do Bagaço ............................................................................................ 139 PLANO ECONÔMICO .............................................................................. ..........140 2. Plano de negócios .................................................................................................. 140 2.1. Motivação ................................................................................................................ 140 2.2. Objetivo ................................................................................................................... 141 2.3. A Empresa ................................................................................................................ 141 2.3.1. Missão ............................................................................................................... 141 2.3.2. Visão ................................................................................................................. 141 2.3.3. Valores .............................................................................................................. 142 2.4. Responsabilidade Socioambiental ........................................................................... 142 2.5. Estrutura Organizacional ......................................................................................... 143 2.5.1. Organograma .................................................................................................... 143 2.6.Pesquisa de mercado .......................................................................... ......................147 2.6.1. Objetivo ............................................................................................................ 147 2.6.2. Produção e consumo nacional .......................................................................... 147 2.6.3. Exportações e Importações ............................................................................... 148 2.6.4. Produção de etanol por estados ........................................................................ 150 2.6.5. Produção e consumo mundial ........................................................................... 151 2.6.6. Projeção de mercado ......................................................................................... 152 2.6.7. Análise da concorrência.................................................................................... 156 2.7. Estudo de localização ............................................................................................... 158 2.8. Plano de Marketing .................................................................................................. 166 2.8.1. Sumário executivo ............................................................................................ 166 7 2.8.2. Metas ................................................................................................................ 167 2.8.3. Estratégia de Marketing .................................................................................... 167 2.8.4. Público alvo e posicionamento no mercado ..................................................... 168 2.8.5. Análise SWOT .................................................................................................. 169 2.9. Plano Financeiro ...................................................................................................... 170 2.9.1. Objetivo ............................................................................................................ 170 2.9.2. Aspectos econômicos e financeiros .................................................................. 170 2.9.3. Investimento Inicial .......................................................................................... 171 2.9.4. Investimento Fixo ............................................................................................. 171 2.9.5. Receitas ............................................................................................................. 182 2.9.6. Custos e Despesas ............................................................................................. 183 2.9.6.1. Custos fixos ..................................................................................................................186 2.9.6.2. Custos variáveis ............................................................................................................192 2.9.6.3. Despesas fixas ..............................................................................................................192 2.9.6.4. Despesas variáveis ........................................................................................................197 2.9.7. Capital de Giro ................................................................................................. 196 2.9.8. Financiamento .................................................................................................. 197 2.9.9. Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) ........................................... 200 2.9.9.1. Projeção dos resultados ................................................................................................202 2.9.9.2. Projeção de fluxo de caixa............................................................................................203 2.9.9.3. DRE do empreendimento .............................................................................................204 2.9.9.4. Fluxo de caixa do empreendimento ..............................................................................210 2.9.9.5. Tempo Interno de Retorno ...........................................................................................210 2.9.9.5.1. Taxa mínima de atratividade ........................................................................................210 2.9.9.5.2. Taxa interna de retorno do empreendimento ................................................................211 2.9.9.6. DRE do acionista ..........................................................................................................211 2.9.9.7. Fluxo de caixa do acionista ..........................................................................................215 2.9.9.7.1. TIR do acionista ...........................................................................................................216 2.9.10. Ponto de Equilíbrio ........................................................................................... 215 3. Referências Bibliográficas .................................................................................... 216 8 PROJETO TÉCNICO 1. Introdução 1.1. Objetivo Este trabalho estuda a viabilidade de implantação de uma destilaria no Brasil, nomeada por Destilaria Brasnipo. Para isso, deve ser levada em consideração toda a parte técnica (fluxograma, balanços de massa e energia, dimensionamento de equipamentos). A empresa produzirá os dois tipos mais comuns de álcool (anidro e hidratado), que possuem diversas aplicações, como combustível, fármacos, cosméticos e bebidas. 1.2. A cana-de-açúcar A cana-de-açúcar, nome comum de uma herbácea vivaz, planta da família das gramíneas, espécie Saccharum officinarum, originária da Ásia Meridional, é muito cultivada em países tropicais e subtropicais para obtenção do açúcar, do álcool e da aguardente, devido à sacarose contida em seu caule, formado por numerosos nós. Os colmos, caracterizados por nós bem marcados e entrenós distintos, quase sempre fistulosos, são espessos e repletos de suco açucarado. As flores, muito pequenas, formam espigas florais, agrupadas em panículas e rodeadas por longas fibras sedosas, congregando-se em enormes pendões terminais de coloração cinzento-prateado. Existem muitas variedades de cana-de-açúcar (Figura 1), o que é algo muito bom, embora isto torne difícil a tomada de decisão de qual plantar, já que requer muito mais conhecimento do produtor rural acerca das opções disponíveis. É importante que o produtor possua uma diversidade de variedades e cultivares de cana-de-açúcar na lavoura, pois assim pode diminuir a possibilidade de que uma praga ou doença se prolifere dentro do canavial, causando prejuízos. 9 Figura 1 – Variedades de cana-de-açúcar. Foto: Raffaella Rossetto A grande quantidade de tipos de cana-de-açúcar se deve ao melhoramento genético, que é considerado um dos principais fatores agronômicos que podem contribuir com o aumento da produtividade, permitindo desenvolver variedades que se adaptem melhor às condições adversas de solo e clima e à incidência de pragas e doenças, assim como ao sistema de colheita. A produtividade média dos canaviais aumentou de 43 toneladas por hectare, em 1961, para 74 toneladas por hectare, em 2005, e grande parte desse aumento pode ser atribuída ao uso de variedades geneticamente melhoradas. A máxima produtividade em cana-de-açúcar depende, também, de um correto planejamento de plantio e de adequado manejo das variedades, as quais devem atender a exigências tanto no campo como na indústria, para maximizar lucros. As variedades de cana-de-açúcar mais utilizadas no Brasil, distribuídas por instituição de pesquisa, encontram-se na tabela 1, a seguir.Tabela 1 – Variedades mais utilizadas de cana Para aumentar-se a produtividade, é dentro das opções de variedades ofertadas pelas instituições de pesquisa, aquelas que melhor se adaptam às condições locais. Então, deve em características como o porte da cana e o fechamento da en levar à redução dos custos de manejo e colheita, além de maturação, volume de matéria Variedades mais utilizadas de cana-de-açúcar no Brasil, por instituição de pesquisa. se a produtividade, é importante que cada produtor selecione, variedades ofertadas pelas instituições de pesquisa, aquelas que melhor se adaptam às condições locais. Então, deve-se prestar atenção características como o porte da cana e o fechamento da entrelinha, que podem dos custos de manejo e colheita, além de maturação, volume de matéria 10 açúcar no Brasil, por instituição de pesquisa. importante que cada produtor selecione, variedades ofertadas pelas instituições de pesquisa, aquelas que se prestar atenção trelinha, que podem dos custos de manejo e colheita, além de maturação, volume de matéria- prima, entre outros, como pode ser observado na Tabela 2, para a Região Centro seguir. Tabela 2 - Características das variedades de cana Brasil. prima, entre outros, como pode ser observado na Tabela 2, para a Região Centro Características das variedades de cana-de-açúcar mais plantadas na Região Centro 11 prima, entre outros, como pode ser observado na Tabela 2, para a Região Centro-Sul, a úcar mais plantadas na Região Centro-Sul do Deve-se também, minimizar os riscos em relação às doenças e pragas, até mesmo aquelas que ainda não ocorreram. Em 1984, a variedade mais plantada, NA56 79, ocupava 43% da área nacional, sendo que a plantadas correspondiam a 70% de toda área plantada com cana. Em 2005, foi necessário somar as áreas das oito variedades mais significativas para atingir 60% da área plantada, sendo que as variedades mais utilizadas ocupam a cana no país. Este fato contribui para a estabilidade da cultura diante de possíveis epidemias, uma vez que a diversificação genotípica cria uma barreira para os surtos epidêmicos. se também, minimizar os riscos em relação às doenças e pragas, até mesmo aquelas que ainda não ocorreram. Em 1984, a variedade mais plantada, NA56 79, ocupava 43% da área nacional, sendo que a soma das quatro variedades mais plantadas correspondiam a 70% de toda área plantada com cana. Em 2005, foi necessário somar as áreas das oito variedades mais significativas para atingir 60% da área plantada, sendo que as variedades mais utilizadas ocupam apenas 12% da área de cana no país. Este fato contribui para a estabilidade da cultura diante de possíveis epidemias, uma vez que a diversificação genotípica cria uma barreira para os surtos 12 se também, minimizar os riscos em relação às doenças e pragas, até mesmo aquelas que ainda não ocorreram. Em 1984, a variedade mais plantada, NA56- soma das quatro variedades mais plantadas correspondiam a 70% de toda área plantada com cana. Em 2005, foi necessário somar as áreas das oito variedades mais significativas para atingir 60% da penas 12% da área de cana no país. Este fato contribui para a estabilidade da cultura diante de possíveis epidemias, uma vez que a diversificação genotípica cria uma barreira para os surtos 13 1.3. Histórico O setor açucareiro, já no século XVI, foi a primeira atividade produtiva organizada pelo colonizador português no solo brasileiro. Até o início do século XVIII esta atividade tinha absoluta preponderância dentre todas as atividades econômicas desenvolvidas pela colônia. Diversos fatores, contudo, alteraram esta situação trazendo uma persistente decadência neste setor produtivo desde então. A estagnação do setor açucareiro nacional perduraria durante o século XIX quando, como fator agravante da crise, foi viabilizada a produção de açúcar de beterraba pelos países europeus. Durante grande parte do século XX, mesmo com a modernização da agroindústria açucareira através da transformação dos antigos engenhos e bangüês em usinas de açúcar, o Brasil se manteria periférico em termos da participação global no mercado internacional deste produto. Assim, a capacidade de sobrevivência deste setor baseou-se no mercado interno, sendo que as exportações eram feitas com o objetivo de escoar a produção doméstica excedente, quase sempre de forma gravosa. Já em 1929 com a grande depressão o governo brasileiro motivou algumas medidas envolvendo o álcool. Essas medidas tinham como objetivo solucionar os problemas dos excedentes de cana não utilizados na fabricação de açúcar e do próprio açúcar não consumido internamente, e nesse sentido, percebe-se que essa política estava mais relacionada com a crise da indústria açucareira do que com a busca de uma solução para a substituição de combustíveis líquidos no País. Dentro de uma concepção que previa uma forte presença do Estado na economia e na sociedade, foi criado nos anos 1940 o Estatuto da Lavoura Canavieira (Decreto Lei nº 3.855 de 21/11/1941) que criava regulamentações nas relações entre as usinas e os fornecedores de cana-de-açúcar, e entre estes e os trabalhadores canavieiros. Nos início dos anos 1950, a economia açucareira brasileira sofreu importantes alterações na distribuição regional da produção e começaram a ocorrer novos movimentos modernizadores da economia açucareira no Brasil. O grande impulso ao setor açucareiro brasileiro, contudo, ocorreu na década de 1960. O mercado internacional do açúcar permaneceu bastante aquecido durante a década de 1960 e começo dos anos 1970. Contudo, o mercado açucareiro, dadas suas características de commodity, é de se esperar que após um dado período de elevação de preços estes venham a declinar mediante o ingresso de novos produtores e pela expansão da área e da escala de produção das unidades já operantes, estimuladas, por 14 sua vez, pelo próprio processo de maior lucratividade. Tais tendências voltariam a se manifestar em 1975, quando ocorreu um forte declínio do preço do açúcar no mercado internacional. Esta queda, por outro lado, também se associou à própria crise da economia mundial na segunda metade dos anos 1970, quando eclodiu o primeiro choque do petróleo. No Brasil os efeitos foram imediatos: a balança comercial teve um forte déficit 5 devido ao grande volume de petróleo do qual o país dependia externamente, que coincidiu com a crise iminente no mercado mundial de açúcar. Frente a esses sérios problemas macroeconômicos, havia suas consequências na economia nacional, ou seja, reservas cambiais reduzidas, exportações em declínio, e falta de crédito internacional. O governo anunciou medidas para corrigir o déficit, tomando para si a responsabilidade de reverter o estilo de desenvolvimento com base na dependência externa, com programas alternativos para substituir importantes derivados do petróleo: Proóleo, Procarvão e o Proálcool. 1.3.1. Programa nacional do álcool – Proálcool Em meados da década de 1970, quando da reversão das expectativas do mercado internacional de açúcar, o setor canavieiro havia se expandido e era necessária a continuidade dos aumentos da produção para amortizar os investimentos efetuados. Neste contexto surgiu o Proálcool, tendo como objetivos economizar divisas, diminuir as importações de petróleo e garantir a ocupação da capacidade ociosa das usinas. Assim, houve um crescimento da produção de álcool etílico anidro em destilarias anexas (majoritariamente, em um primeiro momento), ou autônomas, para ser misturado à gasolina substituindo o chumbo tetraetila. A primeira fase do programa envolveu o financiamento para construção de destilarias autônomas e anexas às usinas, o incremento na utilizaçãoda mistura etanol anidro-gasolina, e o desenvolvimento por parte da indústria automobilística da tecnologia para fabricação, em larga escala, de automóveis movidos a etanol hidratado. Com o aumento da adição do álcool etílico anidro à gasolina foi necessária a ampliação da produção deste produto, incluindo a instalação de novas unidades produtivas. Os três mecanismos principais que o governo brasileiro lançou mão para incentivar a produção do álcool etílico carburante foram: fixação de preços remuneradores, a concessão de 15 empréstimos para investimentos em condições vantajosas, e a garantia de mercado. Desta maneira, o Proálcool não somente manteve elevada a demanda do setor sucroalcooleiro, como permitiu um acentuado aumento do mercado alcooleiro, que até então assumira um caráter absolutamente residual para os produtores do setor. Com o segundo choque do petróleo, em 1979, o governo reorientou o Proálcool. O Conselho de Desenvolvimento Econômico decidiu investir na segunda etapa do programa, apontando para a produção do álcool etílico carburante não mais como mero complemento a ser adicionado à gasolina (o etanol anidro), mas como combustível (o etanol hidratado) para ser utilizado nos “carros a álcool” (automóveis com motores ciclo Otto que foram modificados para operar com 100% de álcool etílico hidratado), destinando recursos para a expansão da área plantada das destilarias anexas, para implantação das destilarias autônomas, para melhoria técnica da matéria prima e para o sistema de armazenamento. Criou-se, também, a Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL), responsável pela execução das decisões referentes ao programa. Contando com esta série de incentivos, a indústria automotiva passou a colaborar de forma bastante ativa com o Proálcool. Já nos anos 1980 e 1981 a produção de veículos a álcool chegou a quase 30% do total de automóveis (veículos de passeio e utilitários) fabricados no Brasil. Este percentual cresceu para 88% em 1983, 94,8% em 1985 e atingiu seu auge em 1986, quando 96% dos veículos produzidos no Brasil eram movidos a etanol hidratado. Igualmente, o público consumidor, estimulado por uma forte propaganda governamental, que tinha como lema “este pode usar que não vai faltar”, alusão a crise do petróleo e ao fato do álcool ser renovável e totalmente produzido no Brasil, aderiu ao programa comprando entre 1980 e 1986 um total de aproximadamente 3 milhões de carros movidos a etanol hidratado. Durante a década de 1980 o programa atingiu seu auge em termos de recursos investidos, veículos a álcool fabricados e vendidos e em termos da própria confiança do público consumidor. Entretanto, a partir de 1989, com a crise de desabastecimento no final daquele ano, caiu a confiança da população no abastecimento de álcool e houve drástica redução das vendas dos veículos a álcool, que chegaram a 11,04% em 1990, menos de 1% em 1996 e foram quase nulas em 1997. O ano de 1989 foi um divisor de águas na história do complexo agroindustrial canavieiro: naquele ano houve desabastecimento de álcool etílico hidratado, anteriormente mencionado, e foi preciso importar etanol e metanol para que a demanda 16 fosse atendida. Naquele instante, o consumo aparente de etanol hidratado superou a produção pela primeira vez desde a criação do Proálcool. Em 2003, com o advento dos veículos flex-fuel, e com a grande aceitação desses por parte dos consumidores, houve um reaquecimento no consumo de etanol hidratado no mercado interno, o que abre um novo horizonte para a expansão da agroindústria da cana no Brasil. Esta tecnologia, além de modificar o perfil da produção brasileira de automóveis, pode resgatar a confiança do consumidor no álcool etílico hidratado, ao oferecer ao proprietário deste veículo a opção de uso da gasolina ou/e etanol hidratado, optando pelo combustível que tiver melhor preço, qualidade, características de desempenho, consumo ou mesmo disponibilidade. O crescimento da frota flex e a manutenção da competitividade do preço do etanol em relação ao da gasolina fizeram com que as vendas do etanol hidratado quintuplicassem em cinco anos. Desde abril de 2008, a venda mensal de etanol (somados o hidratado e o anidro) superou a de gasolina pura – um marco inédito e admirado no mundo. Graças a esse feito, pode-se afirmar que no Brasil o “combustível alternativo” hoje é a gasolina. 1.4. Produto Por ser uma molécula muito simples, de fácil obtenção, de baixo peso molecular, contendo oxigênio, miscível com a grande maioria dos líquidos de baixo peso molecular, o álcool etílico (etanol) encontra grande aplicação na natureza, como combustível, solvente industrial, antisséptico, conservante, fabricação de bebidas, etc. Pode ser fabricado pela via bioquímica (fermentações de açúcares), ou pela via química, principalmente, a partir da hidratação do etileno, encontrando neste caso aplicações restritas, como a produtos industriais não destinados ao consumo humano e a combustível. É um líquido incolor, de odor aromático, de sabor ardente e por ser muito higroscópico retira a umidade das mucosas. É bem conhecido o uso humano do etanol na forma de bebidas como cervejas, vinhos, licores, destilados e derivados. Ingerido em pequenas doses e diluído, primeiro reanima (excita) o organismo humano, mas com a ingestão continuada em doses repetidas, produz queda da temperatura do corpo, já que atua como narcótico, conduzindo a embriaguez e, finalmente, a um estado de prostração. Tomado puro, ou diluído em grandes quantidades, é tóxico. É solúvel na 17 água em todas as proporções, sendo ávido pela água, característica esta que o faz ser um excelente agente para impedir a putrefação, pois desidrata os tecidos em contato com o mesmo, sendo, então, usado na conservação de alimentos, frutas, impedindo a sua fermentação. É um solvente fortemente polar devido ao radical hidroxila (HO-) e por isso tem grande afinidade com a água, numerosas substâncias de estrutura polar, compostos orgânicos e inorgânicos, dissolvendo também essências, hidrocarbonetos, graxas, etc. O álcool obtido por fermentação de açúcares é então separado do vinho que lhe deu origem, por destilação e em seguida concentrado até perder a água consigo arrastada. Na coluna de retificação, à medida que os vapores alcoólicos vão subindo os estágios (pratos) de concentração, a concentração dos vapores alcoólicos vai aumentando até atingir (teoricamente) um ponto em que a partir daí não é mais possível obter concentração, pois os vapores produzidos passam a ter a mesma concentração do líquido que lhes está dando origem. Este ponto é chamado de “azeótropo” e corresponde a uma concentração máxima de 97,1% em volume (v/v), equivalente a 95,5% em massa (m/m), sendo o restante, água. A partir daí, se for desejado maior concentração, é preciso utilizar alguma técnica de desidratação do álcool, estando disponíveis atualmente vários processos, os mais usados sendo pela adição de um terceiro componente como o ciclo-hexano que irá formar outro azeótropo de ponto de ebulição mais baixo (destilação azeotrópica), ou pela adição de etileno-glicol ou glicerina (destilação extrativa), ou ainda através de adsorção em “zeólitos” (material microporoso, em “bolinhas”, semelhante a uma cerâmica), sendo a água depois extraída do zeólito pela aplicação de vácuo, processo este denominado “peneira molecular”. A formação do azeótropo determina então a divisão dos tipos (classes) comerciais de álcool, em álcool hidratado, quando o álcool é concentrado até basicamente 96,0% v/v (93,8% m/m), e álcool anidro ou absoluto, na concentração mínima de 99,0% v/v (98,4% m/m), portanto, com teor de água menor que 1%. A desidratação somente é aplicável quando o processo em que o álcool for utilizado não admitir a presençade água, devendo-se considerar que o processo de desidratação pode, além do custo adicional, agregar algum residual do produto desidratante utilizado, deteriorando, conforme o uso, a qualidade do produto. 18 1.5. Especificações do álcool Entendendo-se que a tecnologia de produção do álcool determina a existência basicamente em duas classes, álcool hidratado (hydrous alcohol) e álcool anidro ou absoluto (absolute or anhydrous alcohol), pode-se, então, evidenciar as especificações de cada classe segundo as aplicações a que é destinado. 1.5.1. Álcool hidratado (Hydrous alcohol) A nível internacional pode-se dizer que o álcool hidratado é utilizado em várias aplicações, sendo as mais comuns as seguintes: Uso potável, alimentício e farmacêutico: fabricação de bebidas (vodka, gim, licores, etc.), fabricação de vinagre, fabricação de alimentos (precipitante, solvente, etc.), solvente de aromas (aromatizante) na fabricação de alimentos e cigarros, na extração de produtos medicinais de plantas e tecidos animais, na fabricação de vacinas, antibióticos, antisséptico, etc.; Cosméticos: fabricação de perfumes, desodorantes, cremes, produtos de toalete em geral, etc.; Industrial: fabricação de detergentes, produtos de limpeza, tinturas, têxteis, pinturas, solventes, etc.; Combustível: veículos (Brasil), aplicações especiais. Como todo produto, o álcool pode conter alguma substância residual de onde foi extraído, advindo daí a necessidade de purificá-lo ao grau necessário a sua aplicação, entendendo-se então, que quanto mais nobre seja a aplicação, mais requisitos de qualidade são aplicáveis. No tocante à especificação, o primeiro parâmetro importante seria o conteúdo de água presente, definido apropriadamente como o “grau alcoólico do álcool” (querendo- se dizer grau alcoólico = 100 – água), já que as demais impurezas, via de regra, estão presentes em quantidades tão pequenas que não modificam substancialmente o grau 19 alcoólico. Quando a proporção das impurezas é relevante, sejam originalmente presentes no álcool ou adicionadas como “desnaturante”, esta consideração não é aplicável. O grau alcoólico do álcool é normalmente analisado através da determinação da sua massa específica a 20°C, cuja correspondência com o grau alcoólico pode ser lida numa tabela. Quando o álcool se destina a aplicações nobres (produtos de uso humano ou veterinário), como no caso do Álcool Neutro, todas estas impurezas podem ser removidas do álcool, por técnicas de destilação extrativa (hidrosseleção), sendo então eliminadas a um nível que não são mais detectadas por um cromatógrafo a gás. Quando o álcool se destina a um uso menos nobre, como álcool combustível, então, estas substâncias não necessitam ser separadas, pois algumas delas são combustíveis até melhor que o próprio álcool. Os parâmetros descritos abaixo são também utilizados para a medição da qualidade do álcool hidratado, sendo utilizados segundo o grau de qualidade requerido para a aplicação do álcool. Acidez: expressa em ácido acético, indica a quantidade de impurezas que dão o caráter ácido ao álcool; é medida por neutralização com solução diluída de soda cáustica, em presença do indicador fenolftaleína. Condutividade elétrica: informa de modo qualitativo a presença de íons, como traços de sais minerais e substâncias orgânicas ionizáveis. Resíduo fixo: mede a quantidade de substâncias pesadas presentes no álcool, que não são evaporadas quando o álcool é submetido à evaporação a 105°C. Teste de Barbet (ou Teste de Permanganato): consiste em reagir o álcool com solução de permanganato de potássio, que é fortemente oxidante, e o tempo necessário para consumir o permanganato, identificado pela mudança de cor da solução, indica o nível de substâncias redutoras presentes no álcool. A reação do permanganato é fortemente influenciada pela presença de aldeídos no álcool, que são substâncias ávidas por oxigênio. 20 Absorbância: medida por um espectrofotômetro, na região da luz ultravioleta, dá indicação qualitativa da presença de impurezas do tipo crotonaldeído, benzeno e outras, notadamente compostos cíclicos ou que contenham dupla ligação. 1.5.2. Tipos de álcool hidratado De acordo com a aplicação a que se destina, pode-se, então concluir que são distinguidos, basicamente três tipos de álcool hidratado: Álcool Neutro (Neutral Alcohol), Álcool Industrial (Industrial Alcohol) e Álcool de Baixa Qualidade (Low grade Alcohol), incluindo-se neste último tipo, o álcool hidratado destinado a uso como combustível. O Álcool Neutro é o de melhor qualidade, mais puro, sendo próprio para qualquer aplicação que envolve o consumo humano ou veterinário. É virtualmente isento de qualquer impureza e seu nome “neutro” deriva do fato de que tem odor típico de álcool, e é diferente de um álcool que contenha traços de alguma impureza. Mesmo assim, dependendo da aplicação, pode tolerar a presença de traços de alguma impureza menos agressiva, principalmente se não utilizado em produtos de consumo humano interno. Na tabela 3 temos as especificações do álcool neutro: 21 Tabela 3 - Especificação típica de Álcool Neutro Massa Específica a 20°, g/mL, máximo 0.8071 Grau Alcoólico, % v/v, mínimo 96.1 Acidez, em ácido acético, mg/L, máximo 10 Condutividade, µS/m, máximo 50 Teste de Permanganato a 20ºC, mínimo 30 Absorbância, 220 nm, máximo 0.3 Absorbância, 230 nm, máximo 0.18 Acetal, mg/L não detectável Acetona, mg/L não detectável Álcoois superiores, mg/L, máximo 5 Aldeídos, mg/L, máximo 5 Crotonaldeído, mg/L não detectável Metanol, mg/L, máximo 5 Ésteres, mg/L, máximo 10 Aspecto límpido e isento de materiais em suspensão Teste sensorial livre de odores estranhos O Álcool Industrial tem uso em uma grande quantidade de produtos industriais que não seja para a fabricação de produtos que envolvam o consumo humano. Sua qualidade depende da necessidade específica de cada aplicação, mas em geral é requerida a graduação alcoólica mínima de 96,0% v/v, e teores relativamente baixos de impurezas. O Álcool de Baixa Qualidade é um álcool menos elaborado, em geral produzido em colunas que não visam à extração das impurezas citadas e tem aplicação geral menos nobre e, principalmente, como combustível; dependendo da legislação, deve ser desnaturado. Um álcool de baixa qualidade, que não tenha recebido qualquer outro produto, pode também ser utilizado como matéria prima para a fabricação de álcool neutro. Os parâmetros de especificação em geral limitam-se ao grau alcoólico, acidez e condutividade. 22 1.5.3. Álcool Anidro (Absolute or Anhydrous Alcohol) É o álcool cuja aplicação não tolera a presença significativa de água. O álcool anidro é utilizado em aplicações industriais como reativo, solvente, na fabricação de aerossóis (inseticidas, repelentes de insetos, desodorantes de ambientes, fungicidas, etc.). Também aplicações de álcool neutro, como em aerossóis, podem requerer a necessidade de desidratá-lo, sendo neste caso indicado ser produzido através da técnica da peneira molecular, que não incorpora nenhuma outra substância residual. A aplicação mais generalizada do álcool anidro é como combustível (motor fuel grade ethanol / MFGE), na forma de aditivo a gasolina, principalmente, melhorando a combustão, pelo aumento da octanagem e pela presença de oxigênio na molécula do álcool, reduzindo a liberação de monóxido de carbono. Nos EUA, passou a ser utilizado como combustível principal, contendo um mínimo de 15% v/v de gasolina, nos veículos denominados FlexibleFuel Vehicles (FFV). Em termos de especificação, o principal parâmetro, então, passa a ser o teor de água presente, sendo nos EUA admitido um teor máximo de água de 1,0% v/v, enquanto que no Brasil 0,4 %v/v (correspondente a 0,7 %m/m, definido pelo grau mínimo de 99,3°INPM). Os diagramas de equilíbrio para misturas de álcool a gasolina mostram que quando se adiciona álcool em pequenas proporções, dependendo do teor de água no álcool e em baixas temperaturas, poderá haver a separação da água formando uma fase rica em água que pode se acumular no fundo do tanque de combustível de um veículo, havendo então dificuldade de se conseguir dar partida. Para um teor de 5% de álcool na gasolina, a 0°C, a tolerância à água seria da ordem de 0,07% da mistura. Calcula-se que neste caso o álcool para não haver separação de fases deveria ter um grau mínimo de 99,0 %v/v. Se a mistura à gasolina fosse de 10%, o grau mínimo deveria ser de 98,6%, se fosse de 15%, 98,3% e se fosse de 30%, de 97,8 % m/m. Mas se a temperatura for de 15°C, o grau mínimo do álcool nos quatro exemplos citados seria, respectivamente, 98,7%, 98,2%, 97,7% e 97,2%. Conclui-se com isso, que não há risco algum de haver separação de fases se o álcool anidro tiver um grau alcoólico mínimo de 99,0 %v/v, e as especificações americanas são no mínimo sensatas e baseadas em fundamentos técnicos, o que não aconteceu no Brasil, onde o teor de 99,3% m/m (99,6 %v/v) foi fixado puramente em função de valores históricos praticados. Assim, faz sentido o Brasil baixar a graduação do álcool anidro para pelo menos 99,3 %v/v (e abandonar o uso do grau INPM), facilitando o processo de produção e reduzindo o seu custo. A mudança de 23 °INPM para %v/v (que o mesmo que °GL) visa se ajustar ao mercado mundial, pois esta unidade é utilizada universalmente. Os parâmetros acidez e condutividade são também especificados para o álcool anidro, como forma de controlar o caráter ácido e a presença de sais dissolvidos no álcool. A presença de algum traço significativo de cobre e cloretos no álcool pode comprometer a mistura combustível gasolina-álcool, pela formação de gomas e produtos corrosivos, sendo então especificados limites também para estes elementos. 1.5.4. Produtos secundários da reação A relação abaixo dá uma ideia dos possíveis produtos secundários presentes no álcool oriundo de fermentação, geralmente em pequenas concentrações (partes por milhão, ppm ou mg/L) podendo então ser especificadas suas concentrações máximas toleradas, em função da aplicação do álcool. Acetal, ou dietilacetal (CH3-CH=(O-CH2-CH3)2): Formado a partir de acetaldeído e álcool, líquido volátil, PE 102,7°C. É substância tóxica, hipnótica. Acetona (CH3-CO-CH3): Oriundo do isopropanol, volátil, PE 56,5ºC. Por inalação produz dores de cabeça, fadiga, excitamento, irritação dos brônquios. Ácidos orgânicos: Principalmente o ácido acético CH3-COOH, que geralmente não causa danos a ingestão humana, mas que pode formar outros compostos pela reação destes ácidos com o álcool (reação de esterificação). Podem também dar um caráter muito ácido ao álcool, ocasionando corrosão ou modificação de cor ou estabilidade do produto que o contém. 24 Álcoois superiores: N-Propanol (PE 97,2ºC), I-Butanol (PE 117,5ºC), I-Amílico (PE 132ºC). São álcoois com três, quatro e cinco carbonos, que se formam pela decomposição de células de leveduras. Têm odores intensos, irritante aos olhos, membranas mucosas, causando depressão. Aldeído acético (Acetaldeído) (CH3-CHO): Forma-se nas etapas intermediárias do ciclo biológico da produção do etanol. Volátil, PE 21ºC, odor pungente, ação narcótica. Carbamato de etila, ou Uretana (NH2COOC2H5): Forma-se na destilação de vinhos produzidos com uréia como nutriente. É anestésico, cancerígeno. Crotonaldeído (CH3-CH=CH-CHO): Resulta da combinação de dois aldeídos acéticos. PE 104ºC, vapor lacrimejante, extremamente irritante aos olhos, pele e membranas mucosas. Diacetil (CH3-CO-CO-CH3): Forma-se a partir de metil etil cetona. PE 88ºC. Líquido amarelo esverdeado, vapores com odor de cloro. Quando presente no álcool e em bebidas engarrafadas, deixa gosto ruim na bebida. Ester (acetato de etila) (CH3-COO-CH2-CH3): Forma-se pela combinação de ácido acético e álcool. PE 77ºC. Odor de frutas no álcool. É não tóxico em baixas concentrações, apresentando gosto agradável. 25 Metanol (CH3OH): Forma-se devido à presença de compostos de pectinas. PE 64,7ºC. Perigoso quando ingerido, inalado ou absorvido pela pele. Provoca dores de cabeça, fadiga, náusea. Causa cegueira e mata quando ingerido puro (que não é o caso) em doses da ordem de 30 ml. Metil-etil-cetona (CH3-CO-CH2-CH3): Forma-se por oxidação de i-butanol. PE 79,6ºC. Inflamável, odor de acetona, forma azeótropo com a água (73,4ºC). 1.6. Fluxograma 1.6.1. Diagrama da Cebola O Diagrama de Cebola, usado para representar o fluxograma da nossa indústria, tem esse nome por lembrar o formato de uma cebola, dividida em suas camadas. Cada uma dessas camadas representa setores pré-definidos da planta. O núcleo leva o “coração” da planta, que normalmente são os reatores principais, e no nosso caso são os fermentadores. A segunda camada é destinada aos processos de separação de produtos e subprodutos, como por exemplo, na destilaria, as colunas de destilação, entre outros. A terceira camada é para os trocadores de calor, e a última para as utilidades, como a caldeira, que é muito importante na produção de etanol através da cana de açúcar. Na figura 2, temos a representação do fluxograma da nossa planta industrial baseada no Diagrama de Cebola. 26 Figura 2 - Diagrama da Cebola – Destilaria Brasnipo. 1.6.2. Fluxograma Detalhado A seguir, a figura 3 nos dá, através do fluxograma detalhado no processo, uma visão total do processo de produção de etanol hidratado e anidro, englobando o tratamento dos efluentes e da água. 27 Figura 3 – Fluxograma detalhado do processo de produção de etanol. Para uma melhor visualização do processo, dividimos o processo total em macro setores, os quais são: Moagem (extração), Tratamento do Caldo, Fermentação, Separação, Produto, Energia, ETE (estação de tratamento de efluentes) e ETA (estação de tratamento de água). Primeiramente, temos a figura 4, a qual representa o fluxograma do macro setor Moagem. Figura 4 – Fluxograma da Moagem. 28 A seguir, temos o fluxograma do macro setor Tratamento do Caldo, representado pela figura 5: Figura 5 – Fluxograma do Tratamento do Caldo. A figura 6 nos fornece o fluxograma do macro setor Fermentação: Figura 6 – Fluxograma da Fermentação. 29 O macro setor pelo qual o produto final é obtido é a Separação, e está representado na figura 7, a seguir: Figura 7 – Fluxograma da Separação. O macro setor onde ocorre a armazenagem e a distribuição é representado na figura 8: Figura 8 – Fluxograma do Produto. 30 O macro setor Energia é de extrema importância também, pois a planta é autossustentável em energia, produzida através do bagaço da cana. Este macro setor está representado na figura 9: Figura 9 – Fluxograma da Energia. Por fim, temos os dois últimos macro setores, o da ETE e o da ETA, representados nas figuras 10 e 11, respectivamente: 31 Figura 10 – Fluxograma da ETE.Figura 11 – Fluxograma da ETA. 32 1.7. Balanço de massa A Destilaria Brasnipo produzirá diariamente 403668.85 litros de etanol hidratado e 97837.50 litros de etanol anidro, totalizando 501506,35 litros de etanol. A partir disto, temos que 80.49% do etanol produzido é etanol hidratado e 19.51% é anidro. 1.7.1. Transporte Como a cana-de-açúcar é a matéria prima principal na produção de etanol, ela deve ser transportada do campo, onde é colhida, até a destilaria para que possa ser processada. Esse transporte é realizado através de caminhões chamados de Julietas, os quais têm capacidade de transportar 17 toneladas de cana por viagem, e cada caminhão puxa duas julietas. Nossa produção de etanol requer 340 toneladas de cana por hora sendo processadas, portanto, temos: 340 34 = 10 Assim, podemos ver que precisamos de 10 caminhões chegando carregados de cana por hora. 1.7.2. Mesa Alimentadora e Tratamento da Água de Lavagem A mesa alimentadora é o equipamento que recebe a cana-de-açúcar bruta, suja, e realiza a lavagem da mesma. Essa lavagem é realizada através de uma água que opera em circuito fechado, e que, pelo fato de haver perdas, deve ser reposta. 33 Figura 12 – Mesa alimentadora. A seguir, temos a composição da cana bruta, que foi obtida através da literatura, como um padrão de composição observado ao longo da história, e a vazão por componente obtida através da vazão total já conhecida, por ser necessária para produzir o etanol desejado. Além disso, podemos acompanhar o grau Brix em cada etapa do processo, sabendo que este é a quantidade de sólidos solúveis por 100 gramas de solução. É importante ressaltar que trabalharemos as vazões sempre na unidade de tonelada por hora. Tabela 4 – Cana bruta. Cana Bruta Composição Vazão (t/h) Água 0.698 237.456 Sacarose 0.116 39.576 Fibras 0.126 42.874 Impurezas 0.029 9.894 Sujeira 0.030 10.200 Total 1.000 340.000 °Brix 0.172 Temperatura (°C) 25.0 34 A água utilizada para a lavagem dessa cana bruta, para a retirada de sujeiras, é caracterizada a seguir. Devemos observar que ela é a soma da água reciclada (circuito fechado) com a água reposta devido às perdas. Tabela 5 – Água de reposição. Água de Reposição Composição Vazão (t/h) Água 1 37.4 Total 1 37.4 Temperatura (oC) 25 Água Reciclada Composição Vazão (t/h) Água 1 710.6 Sacarose 0 0 Sujeira (s.s) 0 0 Total 1 710.6 Temperatura (oC) 25.0 Tabela 6 – Água de reciclo. Tabela 7 – Água de lavagem total. Água de Lavagem Total Composição Vazão (t/h) Água 1 748.0 Sacarose 0 0 Sujeira (s.s) 0 0 Total 1 748.0 Temperatura (oC) 25.0 Depois da lavagem, temos a seguinte corrente de cana limpa: 35 Tabela 8 – Cana lavada. Cana Lavada (Limpa) Composição Vazão (t/h) Água 0.716 237.456 Sacarose 0.119 39.339 Fibras 0.129 42.874 Impurezas 0.030 9.894 Sujeira 0.006 2.040 Total 1.000 331.603 °Brix 0.172 Temperatura (oC) 25.0 Dessa maneira, podemos observar uma quantidade grande de sujeira retirada da cana bruta. A última corrente referente à lavagem da cana é a água que foi utilizada na lavagem e que é reciclada após passar por um tratamento em decantador. Vamos aproveitar essa etapa do processo para já explicar o funcionamento desse tratamento. A corrente de água que sai da mesa alimentadora é a seguinte: Tabela 9 – Água de lavagem. Água de Lavagem Composição Vazão (t/h) Água 0.989 748.000 Sacarose 0.000 0.237 Sujeira (s.s) 0.011 8.160 Total 1.000 756.397 Podemos perceber que junto com a sujeira, consideramos perdas de sacarose durante o processo de lavagem, além de que consideramos uma retirada de 80% da sujeira pela mesa alimentadora. Essa água que foi utilizada para lavagem é enviada para um decantador, como pode ser mostrado a seguir: 36 Figura 13 – Decantador. A quantidade de água perdida é igual à quantidade de água reposta, portanto, temos: Tabela 10 – Água perdida. Água perdida Composição Vazão (t/h) Água 1 37.4 Total 1 37.4 Temperatura (oC) 25 A quantidade de sujeira retirada pelo fundo do decantador é caracterizada a seguir: Tabela 11 – Sujeira. Sujeira Composição Vazão (t/h) Sacarose 0.028 0.237 Sujeira(s.s) 0.972 8.160 Total 1 8.397 A corrente de sobrenadante que é reciclado para o processo de lavagem da cana já foi apresentada anteriormente, mas será aqui, novamente posta: 37 Tabela 12 – Água reciclada. Água Reciclada Composição Vazão (t/h) Água 1 710.6 Sacarose 0 0 Sujeira (s.s) 0 0 Total 1 710.6 Temperatura (oC) 25 A sujeira gerada nessa etapa do processo é acumulada em caminhões para serem enviadas para seus destinos corretos. O próximo passo do processo é o envio da cana lavada para a esteira onde encontra os equipamentos: nivelador, picador e desfibrador. 1.7.3. Nivelador, Picador e Desfibrador. Ao sair do processo de lavagem a cana entra na esteira que contém o nivelador, o picador e o desfibrador, os quais são utilizados para facilitar a moagem, compactando a cana, ou seja, diminuindo os vazios existentes no volume de cana processada. O nivelador vai, como o próprio nome diz, nivelando a corrente de cana lavada; o picador vai cortando a cana em pedaços pequenos e o desfibrador separa as fibras da cana picada, fazendo com que o próximo processo, a moagem, seja possível de ser realizada. Vale lembrar, que depois desses três equipamentos consecutivos, e antes de entrar na moagem, a corrente de cana passa por um eletro-imã, o qual serve para reter pedaços de metal que possam estar presentes na vazão de cana. As únicas informações mais importantes que poderiam estar presentes no balanço de massa dessa etapa são as referentes às perdas de processo, as quais estão atreladas a uma espécie de rendimento. Nesse momento não consideramos perdas por considerá-las insignificantes. 38 Figura 14 – Nivelador, Picador e Desfibrador. Pelas explicações dadas anteriormente, temos que as correntes de entrada e saída são iguais: Tabela 13 – Cana lavada. Cana Lavada (Limpa) Composição Vazão (t/h) Água 0.716 237.456 Sacarose 0.119 39.339 Fibras 0.129 42.874 Impurezas 0.030 9.894 Sujeira 0.006 2.040 Total 1.000 331.603 °Brix 0.172 Temperatura (oC) 25.0 Tabela 14 – Cana nivelada, picada e desfibrada. Cana nivelada, picada e desfibrada Composição Vazão (t/h) Água 0.716 237.456 Sacarose 0.119 39.339 Fibras 0.129 42.874 Impurezas 0.030 9.894 Sujeira 0.006 2.040 Total 1.000 331.603 °Brix 0.172 Temperatura (oC) 25.0 39 Tendo passado por esse processo, a cana entra em uma das etapas mais importantes do processo de produção de etanol, a extração do caldo, ou macro setor Moagem. 1.7.4. Moendas A cana nivelada, picada e desfibrada é moída para a retirada do caldo misto. Para que esta extração de caldo seja realizada com sucesso, é utilizada a água de embebição. Além das duas correntes que entram no processo, a de cana e a de água, saem do processo outras duas correntes: o caldo misto e o bagaço. A seguir temos a corrente de cana que entra nas moendas: Tabela 15 – Cana nivelada, picada e desfibrada. Cana nivelada, picada e desfibrada Composição Vazão (t/h) Água 0.716 237.456 Sacarose 0.119 39.339 Fibras 0.129 42.874 Impurezas 0.030 9.894 Sujeira 0.006 2.040 Total 1.000 331.603 °Brix 0.172 Temperatura (oC) 25.0E a água de embebição é caracterizada a seguir: Tabela 16 – Água de embebição. Água de Embebição Composição Vazão (t/h) Água ETA 0.7 69.637 Condensado 0.3 29.844 Total 1 99.481 Temperatura (oC) 60 40 O bagaço produzido é dado a seguir: Tabela 17 – Bagaço. Bagaço Composição Vazão (t/h) Água 0.490 41.225 Sacarose 0.023 1.967 Fibras 0.451 37.927 Impurezas 0.029 2.474 Sujeira 0.006 0.510 Total 1.000 84.102 Temperatura (oC) 33.8 A capacidade de extração das moendas é dada através de um rendimento de 95% de extração da sacarose contida na cana processada. E então, temos a corrente de caldo misto obtida: Tabela 18 – Caldo misto. Caldo Misto Composição Vazão (t/h) Água 0.852 295.712 Sacarose 0.108 37.372 Fibras 0.014 4.947 Impurezas 0.021 7.421 Sujeira 0.004 1.530 Total 1.000 346.981 °Brix 0.132 Temperatura (oC) 33.8 A partir disto, o caldo misto obtido é enviado para uma peneira rotativa para a retirada de bagacilho. 1.7.5. Peneira Rotativa A peneira rotativa separa o bagacilho do caldo misto, enviando esse bagacilho para um filtro rotativo a vácuo, sobre o qual trataremos mais a frente. O caldo misto que passa pela peneira é caracterizado a seguir: 41 Tabela 19 – Caldo misto. Caldo Misto Composição Vazão (t/h) Água 0.861 292.485 Sacarose 0.110 37.218 Fibras 0.006 1.979 Impurezas 0.021 7.227 Total 0.997 339.827 °Brix 0.132 Pureza 0.837 1.7.6. Injeção de Ácido fosfórico na linha Na linha de caldo misto é adicionado ácido fosfórico, o qual deve ser adicionado de modo que sua concentração no caldo misto seja de 300 ppm. Tabela 20 – Ácido fosfórico. Ácido fosfórico Concentração (ppm): 300 Vazão de caldo (t/h): 339.929 Vazão de ácido (t/h): 0.102 Para que o caldo tenha 300 ppm de ácido fosfórico, sabendo que a vazão de caldo é de 339.929 t/h, é necessário que seja adicionado 0.102 t/h de ácido fosfórico. Essa injeção é feita diretamente na linha. 1.7.7. Preparação e adição do Leite de Cal O leite de cal é proveniente da reação (1) da água com a cal virgem, como podemos ver a seguir: ��� + �� → ��(� )� (1) Assim, pela estequiometria da reação (1), obtemos a quantidade de água utilizada para reagir com o CaO, já que a relação de cal virgem (CaO) com a quantidade de cana moída já é conhecida através da literatura. Consideramos essa relação como sendo necessários 450g de CaO por tonelada de cana moída. 42 Dessa forma, como sabemos a quantidade cana moída, temos consequentemente a quantidade de cal virgem necessária. Tabela 21 – Preparação do leite de cal. Preparação do leite de cal Cana moída (t): 340.000 Cal (t): 0.153 Leite de cal (t): 0.202 Água (t): 0.049 Relação(tcal/tcana): 0.00045 M.M. CaO (g/mol): 56.077 M.M. Ca(OH)2 (g/mol): 74.093 Assim, temos que a água utilizada para preparar o leite de cal é de 0.049 t/h, produzindo 0.202 t/h de leite de cal. Essa vazão preparada é injetada na linha de caldo misto. E o caldo tratado dessa forma, é enviado para o balão de flash. 1.7.8. Balão de Flash O caldo misto tratado quimicamente com ácido fosfórico e leite de cal entra no balão de flash, e devido ao fato de estar acima de sua temperatura de ebulição e sofrer uma queda de pressão, faz com que ocorra a evaporação de parte da água contida no caldo, concentrando-o. Essa parte do tratamento serve para desfazer todas as bolhas de ar que possam estar aderidas ao que deve ser decantado do caldo, pois essas bolhas impedem essa decantação, segurando as partículas na superfície do caldo. 43 Figura 15 – Balão de flash. O caldo que entra no balão de flash tem a seguinte composição: Tabela 22 – Caldo misto. Caldo misto Composição Vazão (t/h) Água 0.862 292.485 Sacarose 0.110 37.218 Fibras 0.006 1.979 Impurezas 0.021 7.227 Ácido fosfórico 0.000 0.102 Leite de cal 0.001 0.202 Total 1.000 339.213 °Brix 0.133 Temperatura (oC) 115.0 A corrente de água evaporada é mostrada a seguir: Tabela 23 – Água evaporada. Água evaporada Composição Vazão (t/h) Água 1.00 14.624 Total 1.00 14.624 Essa quantidade de água evaporada é dada na literatura como sendo 5% da água contida na solução, e esta foi a consideração feita no balanço do balão de flash. 44 Tabela 24 – Caldo misto. Caldo misto Composição Vazão (t/h) Água 0.856 277.861 Sacarose 0.115 37.218 Fibras 0.006 1.979 Impurezas 0.022 7.227 Ácido fosfórico 0.000 0.102 Leite de cal 0.001 0.202 Total 1.000 324.589 °Brix 0.139 Temperatura (oC) 115.0 Desta forma, o caldo misto sai do balão de flash um pouco mais concentrado do que quando entrou. Ao sair do balão de flash, o caldo misto é conduzido ao decantador. 1.7.9. Preparação do Polímero No decantador, o caldo é alimentado junto com uma solução de polímero, o qual é responsável pelo processo de decantação das partículas da solução de caldo misto. Esta solução de polímero é preparada segundo relações obtidas da literatura, a qual diz que para cada tonelada de cana moída deve ser adicionados 3g de polímero. Assim, podemos obter a quantidade de polímero adicionado: Tabela 25 – Polímero necessário. Polímero necessário Cana moída (t/h): 340.000 Relação (gpolímero/tcana): 3 Polímero (t/h): 0.00102 Esse polímero é misturado com água para ser adicionado ao decantador, e a literatura nos fornece que a concentração de polímero na solução com água deve ser de 0.05% em massa. Dessa forma, temos: 45 Tabela 26 – Solução de polímero. Solução de polímero Composição Vazão (t/h) Polímero 0.0005 0.001 Água 0.9995 2.039 Total 1.000 2.040 Então, essa solução de polímero é adicionada juntamente com o caldo misto ao decantador. 1.7.10. Decantador Após sair do balão de flash, o caldo misto entra no decantador, onde também é adicionado polímero, e de onde saem uma corrente de caldo clarificado e uma de corrente de lodo. Figura 16 – Decantador. A seguir, temos a corrente de caldo misto que entra no decantador: 46 Tabela 27 – Caldo misto. Caldo misto Composição Vazão (t/h) Água 0.856 277.861 Sacarose 0.115 37.218 Fibras 0.006 1.979 Impurezas 0.022 7.227 Ácido fosfórico 0.000 0.102 Leite de cal 0.001 0.202 Total 1.000 324.589 °Brix 0.139 Temperatura (oC) 115.0 A corrente de solução de polímero afluente ao decantador é: Tabela 28 – Solução de polímero. Solução de polímero Composição Vazão (t/h) Polímero 0.0005 0.001 Água 0.9995 2.039 Total 1.000 2.040 E a corrente de lodo que sai por baixo do decantador é caracterizada a seguir: Tabela 29 – Lodo. Lodo Composição Vazão (t/h) Água 0.353 5.598 Sacarose 0.047 0.744 Fibras 0.125 1.979 Impurezas 0.456 7.227 Ácido fosfórico 0.006 0.102 Leite de cal 0.013 0.202 Polímero 0.000 0.001 Total 1.000 15.853 Este lodo será tratado, mas a este processo será abordado mais a frente. Por final, temos a outra corrente de saída do decantador, que é a de sobrenadante, ou melhor, o caldo clarificado, mostrada a seguir: 47 Tabela 30 – Caldo clarificado. Caldo clarificado Composição Vazão (t/h) Água 0.882 274.302 Sacarose 0.117 36.473 Fibras 0.000 0.059 Impurezas 0.001 0.217 Ácido fosfórico 0.000 0.003 Leite de cal 0.000 0.006 Polímero 0.0000001 0.00003 Total 1.000 311.061 Para chegarmos a essa corrente de caldo clarificado,consideramos um rendimento de 97% do decantador na retirada de impurezas, fibras, ácido fosfórico, leite de cal e polímero que vai para o lodo, e consideramos também que com o lodo sai 2% do caldo (água e sacarose) da entrada do decantador. 1.7.11. Filtro do Caldo Clarificado O caldo clarificado sobrenadante do decantador passa em seguida por um filtro rotativo a vácuo, no qual se elimina mais uma parcela de partículas contidas no caldo. Figura 17 – Filtro rotativo a vácuo. A corrente que entra no filtro é a seguinte: 48 Tabela 31 – Caldo clarificado. Caldo clarificado Composição Vazão (t/h) Água 0.882 274.302 Sacarose 0.117 36.473 Fibras 0.000 0.059 Impurezas 0.001 0.217 Ácido fosfórico 0.000 0.003 Leite de cal 0.000 0.006 Polímero 0.0000001 0.00003 Total 1.000 311.061 Esse processa gera, a partir de um rendimento de 99% na retirada de impurezas, a seguinte corrente de lodo: Tabela 32 – Lodo. Lodo Composição Vazão (t/h) Água 0.809 2.743 Sacarose 0.108 0.365 Impurezas 0.083 0.282 Total 1.000 3.390 O caldo clarificado, depois de passar pelo filtro adquire as seguintes composições e vazões: Tabela 33 – Caldo clarificado. Caldo Clarificado Composição Vazão (t/h) Água 0.883 271.559 Sacarose 0.117 36.109 Impurezas 0.00001 0.003 Total 1.000 307.670 Pode-se notar nesta etapa do processo, que a partir das correntes de saída deste filtro, todos os componentes diferentes de água e sacarose contidos no caldo foram agrupados e classificados como impurezas. Isso foi feito pelo fato de que suas quantidades são insignificantes, e apesar disso, resolvemos carregá-las por todo o processo, visando dar maior credibilidade aos dados. 49 1.7.12. Tanque de Caldo Clarificado Antes de ser enviado ao evaporador, o caldo é armazenado em um tanque de caldo clarificado, no qual consideramos ocorrer a perda de 0.01% de caldo. Além de receber o caldo clarificado do filtro de caldo clarificado, este tanque também recebe uma quantidade de caldo clarificado recuperado do sistema de lavagem de lodo do processo de tratamento do caldo. Figura 18 – Tanque de caldo clarificado. A corrente de caldo clarificado proveniente do filtro de caldo clarificado situado após o decantador é a seguinte: Tabela 34 – Caldo clarificado. Caldo Clarificado Composição Vazão (t/h) Água 0.883 271.559 Sacarose 0.117 36.109 Impurezas 0.00001 0.003 Total 1.000 307.670 Já a corrente proveniente da recuperação de caldo clarificado pelo filtro no sistema de lavagem de lodo (será visto mais a frente), é dada a seguir: Tabela 35 – Caldo clarificado recuperado. Caldo clarificado recuperado Composição Vazão (t/h) Água 8.567 11.039 Sacarose 0.928 1.195 Impurezas 0.072 0.093 Total 1.000 1.289 50 Após a união destas duas correntes de caldo clarificado e consideradas as perdas citadas anteriormente, temos a seguinte corrente que sai do tanque de caldo concentrado: Tabela 36 – Caldo clarificado. Caldo Clarificado Composição Vazão (t/h) Sacarose 0.117 36.931 Água 0.883 279.772 Impurezas 0.0003 0.095 Total 1.000 316.798 °Brix 0.117 Temperatura (oC) 115.0 Esta corrente é enviada para os evaporados para a concentração do caldo, fazendo com que o caldo clarificado, após esse processo, venha se chamar caldo concentrado. 1.7.13. Evaporadores O caldo clarificado chega ao evaporador com aproximadamente 12oBrix e deve sair do mesmo com aproximadamente 20oBrix. Dessa forma, apresentamos a seguir a corrente de caldo que entra no evaporador. Tabela 37 – Caldo clarificado. Caldo Clarificado Composição Vazão (t/h) Sacarose 0.117 36.931 Água 0.883 279.772 Impurezas 0.0003 0.095 Total 1.000 316.798 °Brix 0.117 Temperatura (oC) 115.0 Esse caldo clarificado é aquecido por um trocador de calor pelo qual passa vapor, e então, é divido em duas correntes, uma de caldo mais concentrado e outra de vapor, da seguinte forma: 51 Figura 19 – Evaporador. A corrente de caldo concentrado que sai do evaporado é detalhada da seguinte forma: Tabela 38 – Caldo concentrado. Caldo concentrado Composição Vazão (t/h) Sacarose 0.200 36.931 Água 0.799 147.620 Impurezas 0.001 0.104 Total 1.000 184.655 °Brix 0.201 Temperatura (oC) 115 E a corrente de vapor que foi evaporada do caldo clarificada e sai do evaporador é mostrada a seguir: 52 Tabela 39 – Vapor vegetal. Vapor vegetal Composição Vazão (t/h) Sacarose 0.000 0.000 Água 1.000 132.152 Impurezas 0.000 0.000 Total 1.000 132.152 °Brix 0.000 Temperatura (oC) 115 O vapor utilizado para aquecer a corrente de caldo e consequentemente evaporá- lo para assim chegar ao caldo concentrado é caracterizado abaixo: Tabela 40 – Vapor de escape. Vapor de Escape Composição Vazão (t/h) Água 1.000 127.99241 Total 1.000 127.99241 Temperatura (oC) 124 Pressão (bar) 0.8 Depois de passar pelo evaporador esse vapor sai da seguinte maneira do processo: Tabela 41 – Condensado de escape. Condensado de Escape Mel 0.000 0.000 Água 1.000 127.992 Impurezas 0.000 0.000 Total 1.000 127.992 Temperatura (oC) 124 Tendo alcançado o objetivo do processo, que era a concentração do caldo, este é enviado para o setor de fermentação. Antes de começarmos a descrever o balanço de massa do setor de fermentação mostraremos o tratamento do lodo de alguns processos já vistos anteriormente. 53 1.7.14. Filtro do Lodo Figura 20 – Filtro rotativo a vácuo. Essa etapa do processo consiste em processar o lodo gerado em algumas etapas, como o bagacilho da peneira rotativa, o lodo do decantador que clarifica o caldo misto e o lodo do filtro que retira partículas do caldo clarificado logo após o decantador, para que seja recuperada uma quantidade de caldo e também para facilitar o manejo do resíduo, deixando-o na consistência de torta. Primeiramente, apresentaremos as três correntes de lodo que entram no filtro: Tabela 42 - Bagacilho da peneira. Bagacilho da peneira Composição Vazão (t/h) Água 0.451 3.226 Sacarose 0.022 0.154 Fibras 0.415 2.968 Impurezas 0.027 0.194 Sujeira 0.086 0.612 Total 1.000 7.154 54 Tabela 43 – Lodo do decantador de caldo. Lodo do decantador de caldo Composição Vazão (t/h) Água 0.3338 5.5980 Sacarose 0.0444 0.7444 Fibras 0.1180 1.9789 Impurezas 0.4856 8.1449 Ácido fosfórico 0.0061 0.1020 Leite de cal 0.0121 0.2022 Polímero 0.0001 0.0010 Total 1.0000 16.7713 Tabela 44 – Lodo do filtro de caldo clarificado. Lodo do filtro de caldo clarificado Composição Vazão (t/h) Água 0.809 2.743 Sacarose 0.108 0.365 Impurezas 0.083 0.282 Total 1.000 3.390 Juntamente com essas correntes de lodo entra também uma corrente de água para lavagem, que é dada a seguir: Tabela 45 – Água para lavagem. Água para lavagem Composição Vazão (t/h) Água 1 10.2 Total 1 10.2 Temperatura (oC) 60 Desse processo saem duas correntes, a de caldo clarificado recuperado e a corrente da torta produzida. Uma informação importante é a de que consideramos um rendimento de 99% do filtro. Então, temos a seguinte corrente de caldo recuperado: 55 Tabela 46 – Caldo clarificado recuperado. Caldo clarificado recuperado Composição Vazão (t/h) Água 8.567 11.039 Sacarose 0.928 1.195 Impurezas 0.072 0.093 Total 1.000 1.289 A seguir, mostramos as informações referentes à quantidade de torta produzida pelo filtro de lodo, quantidade esta que
Compartilhar