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TEXTO DA PROVA - II ESTÁGIO - linguagem jurídica

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Linguagem Jurídica: a língua pela ótica do Direito
(Resumo feito por Marcos Paulo Cruz)
Introdução
	A linguagem jurídica é o veículo de que dispõe o Direito para transmitir à sociedade princípios, normas e comandos necessários ao exercício pleno de suas atribuições, sendo, pois, fundamental ao exercício profissional de advogados, promotores, juízes e demais operadores da lei. 
	Este texto se propõe a abordá-la como modalidade da língua padrão. Assim, serão expostos conteúdos referentes à língua como fenômeno social da comunicação, ao Direito como ciência que tem nela o principal meio de se fazer valer, às principais características da linguagem jurídica, à importância da leitura e da compreensão e, por fim, à aquisição e ao aperfeiçoamento dessa linguagem. 
Parte 1 – Aspectos Gerais da Língua 
Língua e Linguagem
1. Conceitos
	Linguagem é todo sistema de códigos que possibilita a comunicação. É o meio de interação que permite à humanidade estabelecer relações com o ambiente, transformando-o para adaptá-lo às necessidades sociais. É por ela que se alcança a evolução. Há muitas formas de linguagem, cada qual classificada segundo o código que utiliza – musical, gestual, pictórica, verbal. Dentre as diversas formas de linguagem, a que mais se identifica com a língua é a verbal, pois constitui sua gênese.
	Língua é o conjunto de signos orais e gráficos oriundos da linguagem verbal de indivíduos que, unidos pelos mesmos laços culturais, produzem quatro habilidades: fala, compreensão, leitura e escrita. Carrega consigo toda a diversidade humana de fatores que podem ser expressos nessas habilidades – idade, sexo, credo, valores, humor, região e etnia, classe social, nível cultural, profissão, preconceitos. É inegável, pois, o caráter social da língua. 
	Fala consiste na utilização pessoal da língua, mediante a influência de fatores como os supracitados.
2. Níveis da linguagem
	Toda língua apresenta variações que a diversifica em várias modalidades, agrupadas, basicamente, em três níveis:
Língua Padrão ou Culta: escolhida pelas elites como a modalidade formal, é utilizada em documentos oficiais, pela imprensa, pela escola. Como obedece aos padrões da gramática normativa, prioriza a forma escrita.
Língua Coloquial ou Comum: é a modalidade usada no cotidiano, desprovida de formalidade, pois não obedece integralmente à gramática normativa. Como promove uma interação descontraída, prioriza a fala. Apresenta dois subníveis:
Popular: marcada pela flexibilização da correção gramatical, adaptando-a à fala das classes sociais com menor grau de instrução. Dentre os principais indicadores, pode-se citar o emprego inadequado da regência verbal e da colocação pronominal, a silabada (erro de pronúncia, em especial o que consiste em deslocar o acento tônico da palavra) e do uso de expressões de baixo calão.
Familiar: apresenta uma conotação afetiva pelo uso de diminutivos, apelidos carinhosos, entonação suave etc.
Língua Grupal: é a modalidade característica de pequenas comunidades que apresentam elementos linguísticos em comum. Apresenta três subníveis: 
Normas regionais ou regionalismos: representam a língua dos grupos afastados dos grandes centros urbanos.
Gírias: formas alternativas da língua padrão, restritas a certos grupos – jovens, marinheiros, mulheres, homossexuais, malandros – não constituindo, necessariamente, uma língua coloquial, pois podem ou não obedecer à gramática normativa.
Línguas técnicas: constituem o padrão linguístico de cada profissão – Medicina, Direito, Arquitetura, Moda – dotado de rigor técnico.
3. Funções da Linguagem
	A Teoria da Comunicação define os seis elementos que estabelecem o discurso:
Emissor: é o remetente da mensagem;
Receptor: é o destinatário da mensagem;
Mensagem: é todo o conteúdo enviado pelo emissor;
Referente: é o assunto da mensagem;
 
Código: é a forma na qual a mensagem se apresenta;
Canal: é o veículo que transporta a mensagem do emissor rumo ao receptor.
	A predominância de um desses elementos no discurso define, pois, o tipo de função da linguagem:
Função Emotiva ou Expressiva: centraliza-se predominantemente no emissor, revelando sua emoção, sua opinião. É a linguagem dos livros autobiográficos, de memórias, de poesias líricas, de bilhetes e cartas de amor. Subjetiva, nela prevalecem a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações.
Ex.:
“O que me importa seu carinho agora
se é muito tarde para amar você
o que me importa se você me adora
se já não há razão pra lhe querer
o que me importa ver você tão triste
se triste fui e você nem ligou
o que me importa seu carinho agora
se para mim a vida terminou, terminou terminou....”
(adaptado de Marisa Monte – Memórias, crônicas e declarações de amor)
Função Conativa ou Apelativa: centraliza-se predominantemente no receptor, de modo a influenciar-lhe o comportamento. É a linguagem dos discursos, dos sermões, das propagandas. É comum o uso dos pronomes você e tu, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativos.
Ex.:
“Compre batom...
Compre batom...
Seu filho merece batom...”
(propaganda dos chocolates garoto)
Função Poética: centraliza-se predominantemente na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. É a linguagem presente nas obras literárias, em letras de música, em algumas propagandas, na fala fantasiosa das crianças. 
Ex.:
“O amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que doi e não se sente
é um contentamento descontente...”
(Luís de Camões)
Função Referencial ou Denotativa: centraliza-se predominantemente no referencial, que é o assunto da mensagem, de modo a fornecer informações sobre ele. É a linguagem das notícias dos jornais, dos textos científicos. Objetiva, direta e denotativa, nela prevalece a terceira pessoa do singular. 
Ex.:
“A nova gripe, conhecida popularmente como suína, gera pânico a cada novo caso confirmado. Até o presente momento, o número de óbitos pela doença ultrapassa os sessenta, segundo dados do Ministério da Saúde, que insiste em afirmar que tudo está sob controle. Todavia, os hospitais permanecem repletos de casos ainda sem diagnóstico preciso, mas com fortes suspeitas de que se trata mesmo de uma epidemia do vírus H1N1”. (Folha de São Paulo).
Função Metalinguística: centraliza-se predominantemente no código, posto em destaque. É o uso da linguagem para falar dela própria. A poesia que fala de poesia, um texto que comenta outro ou a si próprio, a música que referencia a música, o dicionário etc.
Ex.:
“ Língua é o conjunto de signos orais e gráficos oriundos da linguagem verbal de indivíduos que, unidos pelos mesmos laços culturais, produzem quatro habilidades: fala, compreensão, leitura e escrita”.
Função Fática: centraliza-se predominantemente no canal. Tem como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, além de testar a eficiência do canal. É a linguagem das falas telefônicas, dos diálogos em locais barulhentos. Linguagem carregada de expressões como “alô”, “então”, “entende?”, “está me ouvindo?”, “tchau” etc. 
Ex:
“... daí o cobrador do ônibus não quis me dar o troco, né, alegando que era pouca coisa, entende? Muito ou pouco, o dinheiro era meu, certo? Ei, vou indo, tchau...” 
 
4. Denotação e Conotação
	Consistem em recursos linguísticos utilizados para delimitar tanto se o significado da palavra quanto o contexto no qual ela está inserida será usual ou convencional.
Denotação: é o uso da palavra com sentido original, convencional ou usual.
Ex.: O trator facilita a vida no campo.
Conotação: é o uso da palavra com significado diferente do original, de modo a dar expressividade à língua.
Ex.: Esse operário é um trator. 
5. Diferenças entre linguagem oral e escrita
	As diferenças existentes entre as modalidades oral e escrita da língua são naturais e normais, poiscada uma apresenta sua dinâmica sintático-semântica própria. Eis algumas das principais diferenças:
Quanto à abrangência: a linguagem oral é a mais utilizada, pois sua disponibilidade é imediata e a linguagem escrita requer um nível maior de escolaridade;
Quanto aos recursos disponíveis: a fala apresenta uma quantidade de recursos expressivos bem maior que a escrita. Assim, enquanto a primeira utiliza como recursos os gestos, a fisionomia, a entonação, o ritmo e os sentidos, a segunda usa, basicamente, a pontuação e a estilística;
Quanto à formalidade: a modalidade falada é mais informal que a modalidade escrita, pois se adapta melhor às situações coloquiais;
Quanto ao aspecto social: a linguagem oral é utilizada por todas as camadas sociais, diferenciando-as pelas construções gramaticais associadas à oralidade (quanto mais elaboradas forem essas construções, mais elas indicam o nível educacional dos falantes). Já o domínio da linguagem escrita é restrito à parcela alfabetizada;
Quanto à interação entre emissor e receptor: na fala, a interação é plena, pois há um contato direto entre emissor e receptor, sendo possível adaptá-la imediatamente ao contexto de quem a ouve, fato impossível na escrita.
Quanto à correção gramatical: há, pela formalidade atribuída à linguagem escrita, uma maior preocupação com o emprego da gramática normativa, ao passo que a oral, desde que entendida, não se preocupa com a rigidez desse emprego.
Parte 2 – Aspectos Gerais do Direito em Relação à Língua
Direito: fato, valor e norma
	Direito é, de forma simplificada, o conjunto das normas criadas, mantidas e aplicadas pelo Estado, objetivando regulamentar as diversas relações entre os indivíduos por meio do poder, da autoridade e da coercibilidade. Fruto do mundo da cultura, ele está presente em todos os setores da sociedade de modo a assegurar, de forma justa, as prerrogativas e obrigações dos cidadãos, tanto em relação a si próprios como às diversas instituições nas quais estão inseridos, de modo a proporcionar um convívio harmônico, garantido pela ordem, paz e segurança. 
	O Direito apresenta uma estrutura tridimensional – uma vez constatado um fato social, é, a ele, atribuído um conjunto de valores que o torna um padrão de comportamento e, para mantê-lo, são criadas normas de conduta sob pena de punição para aqueles que as transgredirem. Assim, as normas jurídicas fundamentam-se no juízo de valor, no caráter imperativo e na sanção.
O Direito apresenta uma linguagem própria
	Como toda área de conhecimento, o Direito apresenta um idioma técnico que é comum aos seus operadores, com vocabulário e expressões próprias, visando, pela redução da vagueza e ambiguidade, a uma maior garantia da segurança jurídica. Portanto, o Direito apresenta uma linguagem de poder (emite comandos) e de rigor técnico (preza pela objetividade). 
	É, pois, de fundamental importância, que todo operador da lei tenha um domínio considerável da linguagem jurídica, de modo a exercer sua profissão de forma eficiente, evitando situações indesejáveis, como, por exemplo, uma petição negada pela falta de clareza mediante o uso tanto de arcaísmos como de coloquialismos. 
	Eis alguns exemplos de como alguns termos da linguagem jurídica são apresentados e que, caso mal empregados, desconstroem o sentido do texto.
Competência: no sentido comum, equivale à capacidade; no sentido jurídico, à atuação profissional;
Agravante: no Direito Penal, objeto ou situação que culmina na elevação da pena; no Direito Processual, parte recorrente que interpõe recurso de agravo;
Queixa: ato formulado pela vítima de ação penal particular (estupro, por exemplo). Denúncia: ato formulado pelo Ministério Público em ação penal pública;
Propor: ação; Interpor: recurso; Opor: embargo; Impetrar: mandado de segurança.
A linguagem do Direito é regida pela norma padrão
	Muitos consideram dificílima a linguagem jurídica, alegando que ela apresenta uma infinidade de arcaísmos e expressões em latim, distantes da realidade linguística da população leiga. Excetuando alguns operadores que abusam do “juridiquês”, usando-o como forma de expor arrogantemente um falso domínio dessa linguagem, a questão é puramente de hábito – todo idioma técnico tende a ser familiar aos seus operadores, e estranho aos que não o usam. Quanto às expressões em latim, essas são praxe no meio jurídico brasileiro, uma vez que, em nosso país, o Direito adotado é o Romanístico, no qual são usadas diversas expressões puramente latinas. É importante, sobretudo, ressaltar que a linguagem jurídica usa como código a norma padrão e, consequentemente, está a ela subordinada. 
	Conclui-se, pois, que a linguagem jurídica é uma das muitas variedades linguísticas e, por se tratar de uma modalidade culta, obedece a todas as regras gramaticais da norma. De resto, tudo é uma questão de vocabulário. Dominar essa linguagem requer, portanto, duas atitudes: primeiro, dominar a língua padrão (ver texto “COMO (NÃO) ENSINAR GRAMÁTICA NA ESCOLA). Segundo, adquirir o vocabulário técnico, o que se faz mediante a prática constante da leitura de textos jurídicos, da produção dessa modalidade de texto e da fala.
Parte 3 – Linguagem Jurídica: modalidade da língua a serviço do Direito
	A linguagem jurídica existe pelo fato de o Direito dar à língua um sentido particular, adaptando-a ao seu universo funcional – da norma de comportamento, das decisões, das convenções, das declarações, das negociações, das relações, do ensino. Assim, estudar, entender e dominar a linguagem jurídica é, sobretudo, compreender como a língua materna encontra-se contextualizada no mundo jurídico.
	Torna-se, pois, interessante, abordá-la como produto da língua padrão, que disciplina a estuda e como a estuda, quais são suas principais características, como é identificada como modalidade da língua padrão, como é transmitida e, por último, como se subdivide. 
Linguagem Jurídica e Língua Padrão
	Há quem considere ser a linguagem jurídica uma língua à parte, dado seu grau de especialização. Todavia, entende-se que uma língua surge mediante um conjunto de variedades nas quais, por processos diversos, uma é determinada como padrão, surgindo, pois, por um processo de convergência. A linguagem jurídica surge pela divergência, ou seja, é fruto de uma variedade já padronizada que dá origem a formas especializadas. Assim, a linguagem jurídica é oriunda da língua padrão, está nela inserida, utiliza-se dela constantemente e deve ser, pois, à luz dela, estudada. 
Linguística Jurídica
	Linguística é o ramo da língua que estuda suas variedades, influenciadas pelos diversos contextos sociais. Quando aplicada às ciências jurídicas, denomina-se linguística jurídica e apresenta, como principal função, a análise dos mecanismos de utilização da língua padrão pelo Direito. Há duas linhas de trabalho:
Linguística: examina os signos linguísticos (Significado e Significante) que o Direito importa da língua padrão, como ele os contextualiza no seu cotidiano profissional e qual o efeito provocado.
Jurídica: estuda a impregnação da linguagem pelo Direito, ou seja, a perenização linguística dos signos no universo jurídico.
Características da linguagem jurídica
	A linguagem jurídica, por tratar-se de uma especialização da língua padrão a serviço do Direito, apresenta as seguintes características:
É uma linguagem grupal: pertence a um conjunto de indivíduos que, direta ou indiretamente, está relacionado com a operabilidade das ciências jurídicas. Fazem parte deste conjunto bacharéis em Direito, advogados, promotores, juízes, desembargadores, notários (funcionários de cartórios), funcionários públicos de diversos setores como tribunais, delegacias, ministérios, além de outros profissionais que se relacionam com o Direito, como administradores, contadores, psicólogos, médicos, assistentes sociais;
É uma linguagem técnica: tem a função de transmitir a dinâmica operacional do Direito –lei, ordem, doutrina, contrato, serviço, acordo, sanção, decisão etc. Utiliza-se, portanto, da norma culta, adaptando-a à condição de modalidade técnica pelo uso de palavras e expressões que denotem atribuições jurídicas;
É uma linguagem tradicional: dada a formalidade que o Direito requer constantemente, a linguagem jurídica tornou-se, na sua maior parte, um legado de tradição da norma culta. Pode-se dizer, a título de exemplo, que a linguagem jurídica do século XXI não difere fundamentalmente da do século XX e assim sucessivamente. Não houve reformas senão tentativas de reduzir um pouco o “juridiquês”, bem como o acréscimo de novos termos, principalmente pelo surgimento de novas modalidades do Direito, como, por exemplo, o da informática.
 A identificação da linguagem jurídica
	Dentro da língua padrão, a linguagem jurídica é identificada por meio dos signos anunciadores. Compreendem palavras, termos e expressões que conotam sentido jurídico. Formam o vocabulário jurídico, dividido em:
Termos que possuem o mesmo significado tanto na linguagem corrente como na jurídica – hipótese, estrutura, confiança, reunião, critério, argumentos etc; 
Termos que possuem um significado na linguagem corrente e outro na jurídica – sentença que, na corrente, conota frase, oração e que, na jurídica, conota decisão judicial;
Termos que possuem mais de um significado dentro da linguagem jurídica – prescrição, que pode significar tanto orientação, determinação, quanto perda de um direito pela extinção do prazo;
Termos cujo significado é exclusivo da linguagem jurídica – usucapião, anticrese, acórdão; 
Termos latinos de uso jurídico – caput, data venia, ad judicia etc.
 A transmissão da linguagem jurídica
	A linguagem jurídica tem uma forma própria de ser transmitida, de modo a dinamizar a funcionalidade e eficácia do ordenamento jurídico. O sucesso depende da prática. Cada elemento do universo de transmissão é marcado por peculiaridades que refletem todo o clima de formalidade que o Direito preconiza:
O operador: representa o Direito e, como tal, assume uma postura formalizada que se reflete na aparência e comportamento, de modo a tornar-se imparcial e veículo de aplicação da norma jurídica. Deve, pois, demonstrar segurança emocional e competência profissional. Para isso veste-se socialmente, desprovido de acessórios extravagantes, prezando pela higiene (unhas, cabelo, pele etc), além de estar constantemente adquirindo e atualizando seus conhecimentos;
O ambiente de transmissão: também é formal e preza pela boa educação e etiqueta, de modo a propiciar um clima de sobriedade e respeito;
O discurso oral: tem a função de abordar a doutrina, transmitir os comandos do ordenamento jurídico e, principalmente, convencer pela argumentação fundamentada na lei. Em cada uma delas, há uma predominância de aspectos. Quando se presta a doutrinar, o discurso oral deve prezar pela clareza e concisão, de modo a evitar ambiguidades na norma jurídica. Quando transmite comandos, esses devem ser bem definidos, evitando, pois, a ineficiência de sua aplicação. Quando tem o papel de convencer, admite uma gama de recursos – domínio das linguagens corrente e técnica, fundamentação teórica sólida, bom uso das técnicas de oratória, de argumentação e, principalmente, criatividade para adaptar-se a imprevistos e improvisos;
O discurso escrito: tem a função de registrar o discurso oral. Para isso, é fundamental o domínio do vocabulário corrente e técnico, das técnicas de produção textual jurídica (petição, procuração, contrato, entre outras) e da capacidade de adequação textual, ou seja, fazer-se claro no contexto em que se está inserido. Escrever bem em linguagem jurídica não consiste necessariamente em saber empregar o maior número possível de expressões do latim ou altamente cultas, a maioria arcaicas, mas sim fazer-se perfeitamente entendido por quem lê os textos.
 
Níveis da linguagem jurídica
	A linguagem jurídica, dependendo da finalidade a que se destina, adquire níveis distintos de abordagem:
Linguagem Legislativa: é a linguagem dos códigos, das normas. Sua finalidade é criar o Direito;
Linguagem Judiciária, Forense ou Processual: é a linguagem dos processos, cuja finalidade é aplicar o Direito;
Linguagem Convencional ou Contratual: é a linguagem dos contratos, por meio dos quais se criam direitos e deveres entre as partes;
Linguagem Doutrinária: é a linguagem dos mestres, dos doutrinadores. Sua finalidade é explicar os institutos jurídicos, ensinar o Direito;
Linguagem Cartorária ou Notarial: essa linguagem jurídica tem por finalidade registrar os atos do Direito nos diversos tipos de cartórios.
Parte 4 – Leitura e Compreensão de textos jurídicos
Ler é viver
	O conceito de leitura não é exclusivo ao ato de reconhecer nos textos o que eles contêm. Lemos tudo e todos, a toda hora! Ler é identificar, processar e extrair conclusões de informações presentes em situações. Assim, tanto textos (falados, escritos ou simbolizados), como comportamentos, ambientes e fenômenos constituem situações que carregam informações. 
	A leitura torna-se, pois, um processo de vivência baseado numa relação de diálogo entre emissor e receptor – toda situação (emissor) transmite informações cujo objetivo é firmarem-se como verdade. O receptor apresenta uma bagagem mental própria de razão e emoção (conhecimento e sentimento) que constitui um padrão mensurativo para as informações que se presta a ler.
	O processo da leitura é dado, portanto, pela apresentação dessas informações à bagagem mental do receptor, que as analisa mediante critérios racionais e emocionais próprios, correlacionando informações recebidas com as que já detém, julgando o que é necessário à retenção e ao descarte, compartimentalizando-as (por assunto, tamanho, importância, uso), para, finalmente, conceber uma opinião, adaptando-a às circunstâncias. A leitura constitui, pois, um processo mental complexo, veloz e eficiente, estudado e copiado constantemente pela Ciência da Informação.
As fases da leitura de textos
	A leitura de um texto é feita mediante uma sequência de atividades que podem ser agrupadas nas seguintes fases:
Fase Linear: é a fase da captação. Nela predomina a ação mecânica – os olhos movimentam-se da esquerda para a direita da página, capturando as imagens dos signos e transferindo-as para o córtex cerebral;
Fase Psicolinguística: é a fase do reconhecimento. Corresponde à interação entre mente e língua. Uma vez capturadas as imagens, as faculdades mentais decodificam os signos fotografados, reconhecendo-os como elementos da língua que domina;
Fase Interativa: é a fase de entendimento do texto. O cérebro passa, então, a racionalizar grupos de palavras, atribuindo-lhes sentido, mediante comparações com a gramática internalizada, ou seja, o capital linguístico que o cérebro dispõe (ver texto “COMO (NÃO) ENSINAR GRAMÁTICA NA ESCOLA. Primeiro é estabelecido o sentido de grupos isolados de palavras, para, depois, correlacioná-los dentro do texto. No final, o leitor compreende o que leu.
 Fase Pragmática: é a fase de interpretação do entendimento do autor. Nela, o leitor, que já interagiu com o texto, passa a interagir com o universo de construção de quem o escreveu – o estilo literário, os recursos linguísticos utilizados e, principalmente, que mensagem pretende transmitir. Esta é a fase na qual muitos candidatos são desclassificados em vestibulares e concursos para cargos públicos.
Parte 5– Aquisição e aperfeiçoamento da linguagem jurídica
Principais dificuldades
Resistência à aprendizagem: há estudantes que dão início ao trabalho de aprender a linguagem jurídica já pensando no fracasso. Frases como “ela é muito difícil”, “não consigo aprendê-la”, “vou me dar mal nela” só agravam a situação;
Vergonha: é inacreditável, mas muitos estudantes têm receio de se expressar em linguagem jurídica, ou por pensarem que ainda é muito cedo para tal ou por falta de confiançae, esquecendo que estão num processo de evolução intelectual, bloqueiam o aprendizado.
Medo de errar: o Direito reflete não só a lei, mas o ego de seus operadores. Um simples erro torna-se motivo de críticas homéricas e quase perpétuas. Isso causa insegurança na hora de se utilizar da linguagem jurídica. Há quem, apesar de munido de um bom vocabulário jurídico, prefira usar termos mais simples ou até mesmo coloquiais, puro reflexo da baixa autoestima;
Falta de interesse: seja qual for o motivo utilizado na opção pelo curso de Direito (há muitos que o cursam pelo status, pela remuneração ou por imposição), sem interesse, torna-se impossível dominar tanto a matéria quanto a linguagem jurídica;
Falta de técnica para estudar: ainda que haja interesse, todo estudo, para se tornar produtivo, precisa de uma técnica, ou seja, de um conjunto de atitudes proativas que visem a dinamizar a aprendizagem. O mesmo ocorre com a linguagem jurídica.
Principais dicas
Contato diário: leitura, prática oral e escrita mantém o estudante inserido no universo da linguagem jurídica. Assim como, na língua padrão, o domínio se faz pela prática constante;
Derrubar as barreiras: resistência, vergonha, medo de errar, falta de interesse e de técnica são obstáculos que precisam ser vencidos para que se obtenha o domínio da linguagem jurídica. Munido da consciência de que ninguém nasce sabendo tudo, de que todos erram, de que o sucesso depende da quantidade de tempo e de trabalho e, principalmente, de que é fundamental uma atitude proativa, o estudante, ao longo do tempo, será capaz de vencê-los um a um;
Use e abuse de mestres e livros: os professores e os livros são a fonte do conhecimento jurídico, dominam a matéria e a sua linguagem. Tenha sempre à disposição, além dos livros básicos das matérias do curso, livros especializados sobre técnicas de estudo, de leitura, memorização, oratória e, principalmente, dicionários de termos técnicos para consulta;
Pratique o Direito: ao longo do curso, muitos estágios são oferecidos, inclusive remunerados. É neles que o conhecimento jurídico se torna prático e a linguagem, vivenciada;
Proatividade: dominar a linguagem jurídica é o resultado da proatividade do estudante, ou seja, do seu esforço próprio. Por mais que professores, livros e prática apresentem a linguagem jurídica, o aprendizado depende da postura do aluno.
Conclusão
	A linguagem jurídica é rica pelo fato de ser rica a língua que lhe dá origem. Assim, os mecanismos básicos de aquisição das habilidades da fala, do entendimento, da leitura e da escrita, na língua padrão, aplicam-se integralmente à linguagem jurídica, ou seja, primeiro, aprende-se a dominar essas habilidades para, posteriormente, estudá-la estruturalmente. O segredo do domínio está na prática, especialmente no hábito da leitura e da escrita. Portanto, como ocorre com a língua padrão, em se tratando de linguagem jurídica, quem não lê não fala, não entende e nem escreve corretamente.
(Manual da Linguagem Jurídica – Maria José Constantino Petri – Editora Saraiva – 2008).
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