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Apontamentos Unidade 6 - As crises contemporâneas do Direito

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SOCIOLOGIA GERAL E JURÍDICA:
RESUMO UNIDADE 6: CRISES CONTEMPORÂNEAS DO DIREITO
Prof. Sergio Almeida
Direito Alternativo:
Diante de um Poder Judiciário onde os conflitos jurídicos não possuem relação com os conflitos sociais. Cria-se uma realidade onde os fatos são trocados por conceitos, nascendo as decisões judiciais. Crianças morrendo de fome, desigualdade social, concentração de renda, exploração, miséria são considerados fatos juridicamente irrelevantes, sem importância para a Ciência Jurídica.
Em termos de Teoria do Direito, os julgadores brasileiros são extremamente formalistas e legalistas. Ainda está no tempo de ser dever do julgador cumprir a lei e ponto final; como se o Poder Judiciário não tivesse uma função social. Nesse contexto, surge o Direito Alternativo...
Quanto ao surgimento do Direito Alternativo, verificamos que no Rio Grande do Sul, a Associação dos Juízes promoveu encontros e debates para colher sugestões à elaboração da Constituição. Nesses encontros, muitos magistrados começaram a manifestar seus descontentamentos, frustrações e angústias. Isto devido:
Anacronismo da legislação;
À rigidez processual e a conseqüente ineficácia social da prestação jurisdicional;
Ao caráter exclusivamente exegético da cultura jurídica dominante, com o fato de o julgador ficar totalmente vinculado à lei e à jurisprudência dos tribunais;
Total descompasso entre a realidade socioeconômica do Brasil e o discurso jurídico que distante e alienado permite o crescimento da injustiça social, tratando-a como um problema alheio ao seu trabalho.
A primeira grande questão suscitada pelo pensamento alternativo foi a crítica à neutralidade da lei, não mais se aceitando a vinculação obrigatória, do julgamento dos magistrados às normas jurídicas positivadas. Segundo Amílton Bueno de Carvalho, o Direito visto como lei, nada mais é do que o triunfo da ideologia da classe dominante.
De nenhuma forma defende o total abandono à norma positivada, ao contrário, entende ser o Direito Positivo uma conquista democrática. Entretanto denuncia a parcialidade do aparelho legal e do parlamento em prol dos interesses da classe dominante, bem como ser a atitude neutral do jurista, uma adesão consciente ou inconsciente, à ideologia dominante. Assim, “a lei é apenas um referencial, o mais importante, mas apenas referencial”.(CARVALHO, Amílton Bueno de. Magistratura e Direito Alternativo. São Paulo, Editora Acadêmica, 1992, p.18)
Criticada a lei, afirmam dever o magistrado sempre optar pela Justiça, com isso, admite, expressamente, a possibilidade do julgador decidir contra a lei, mas, sempre, em favor da justiça. Para ele, a Justiça só pode ser entendida frente ao caso concreto, sendo um valor relativo a ser concretizado com fundamento na realidade vigente. Amílton combate também a tese de ser conservador todo o jurista. Diz ser possível ao jurista exercer uma atividade de câmbio radial da sociedade. A esses operadores do mundo jurídico, os chama “Juristas Orgânicos”. A função do jurista orgânico é de desmistificar a ordem posta, lutar pela mudança da sociedade, buscar o justo no caso concreto, contextualizando o jurídico com a realidade sociopolíticoeconômica. 
Para ele, pode-se designar Direito Alternativo, em sentido amplo, como atuação jurídica comprometida com a busca de vida com dignidade para todos, ambicionando emancipação popular com abertura de espaços democráticos, tornando-se instrumento de defesa/libertação contra a dominação imposta. 
Assim, podemos entender que a expressão correta é mesmo Direito Alternativo, posto que representa opção contra o usual predominante. O direito que vigora busca perpetuar a dominação, enquanto a alternatividade é o outro lado da moeda: luta pela emancipação da maioria da população. É alternativa contra a opressão que o jurídico tenta impor.
Diante do exposto, algumas considerações se fazem necessárias:
A inspiração do Direito Alternativo brasileiro foi o movimento italiano do uso alternativo do Direito, seguido posteriormente, posteriormente pela organização espanhola Jueces para la Democracia;
O Direito Alternativo brasileiro representa uma atitude concreta assumida por um grupo de juristas contra uma realidade social considerada brutal. Seus membros, no tocante à auferição de vantagens pessoais e / ou profissionais, mais perdem do que ganham. Talvez sejam todos sonhadores, mas ainda acreditam na possibilidade de transformação social e construção de novas formas de se viver;
Para exercer sua função, o julgador alternativo não necessita preterir os requisitos formais do Direito Positivo, em especial o processual. O âmago da proposta está no discurso persuasivo e na conseqüente conclusão dispositiva da sentença;
Há de ser abordada uma forte crítica contra o Direito Alternativo, inclusive efetuada por muitos juristas progressistas e simpatizantes do movimento. Alegam ser a prática alternativa perigosa, pois, voluntarista, permite aos juristas reacionários, de direita, também usarem o Direito para seus fins, colocando em risco o Estado de Direito e a própria democracia.
Fontes bibliográficas utilizadas:
ANDRADE, Lédio Roda de. Introdução ao direito alternativo brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996.
CARVALHO, Amílton Bueno de. Magistratura e direito alternativo. São Paulo, Editora Acadêmica, 1992, p.18.
SOUTO, Cláudio & SOUTO, Solange. Sociologia do direito: uma visão substantiva. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

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