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REABILITAÇAO, AÇAO PENAL E EXTINÇAO PUNIBILIDADE

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1 – REABILITAÇÃO
Reabilitação é a reintegração do condenado no exercício dos direitos atingidos pela sentença. Atualmente a reabilitação alcança quaisquer penas que tenham sido aplicadas ao reabilitado, conforme determina o art. 93 do CP.
A reabilitação tem natureza jurídica de garantidora do sigilo da condenação e de causa de suspensão condicional dos efeitos secundários específicos da condenação.
Atualmente o instituto da reabilitação, da forma como é previsto nos arts. 93 a 95 do CP, não tem muita aplicação prática, haja vista que, o seu mais importante efeito, que seria o de assegurar ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e condenação é obtido, atualmente, de modo imediato e eficaz, por aplicação do artigo 202 da Lei 7.210/84 (LEP), desde que tenha sido cumprida ou extinta a pena, sem que o condenado precise esperar os dois anos exigidos pelo art. 94 do CP.
No que se refere às hipóteses previstas nos incisos I e II do art. 92 do CP, a reabilitação não permite o retorno ao cargo, função ou mandato eletivo, nem a recuperação do poder familiar, tutela ou curatela, apesar de, no primeiro caso, não haver óbice a que o reabilitado concorra a novo cargo, nova função ou novo mandato.
Assim, atualmente, a única utilidade da reabilitação é a de fazer com que o condenado que tenha sido declarado inabilitado para dirigir veículo tenha, novamente, restaurada sua habilitação.
– Requisitos e competência para análise do pedido
O artigo 94 prevê que a reabilitação poderá ser requerida decorridos dois anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: I – tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; II – tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; III – tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou a novação da dívida.
Quanto à competência para o pedido, entende-se que é do juízo de conhecimento e não da execução, pois, o art. 66 da Lei 7.210/84 não incluiu o pedido de reabilitação entre o rol de suas competências. Aqui, aplica-se a primeira parte do art. 743 do CPP, somente revogado parcialmente.
– Revogação da reabilitação
A revogação da reabilitação vem prevista no art. 95 do CP.
Dois são os requisitos exigidos para a revogação: a) condenação transitada em julgado posterior a pena privativa de liberdade; e b) reconhecimento, na sentença, de que se trata de reincidente.
Assim, se o reabilitado for condenado por infração praticada após o trânsito em julgado da sentença penal que o condenou anteriormente; se aquela condenação se der dentro do lapso temporal do art. 64, I do CP; e, se a segunda condenação não for por crime militar próprio ou crime político, a reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público.
– AÇÃO PENAL
A ação, seja de natureza penal ou civil, é um direito subjetivo público de se invocar do Estado-Juiz a sua tutela jurisdicional, a fim de que decida sobre determinado fato trazido ao seu crivo, fazendo retornar a paz social, concedendo ou não o pedido aduzido em juízo.
A ação penal condenatória tem por finalidade apontar o autor da prática de infração penal, fazendo com que o Poder Judiciário analise os fatos por ele cometidos, que deverão ser claramente narrados na peça inicial de acusação, para que, ao final, se for condenado, seja aplicada uma pena justa, isto é, proporcional ao mal por ele produzido.
– Condições da ação
Para que o estado possa conhecer e julgar a pretensão deduzida em juízo, será preciso que aquele que invoca o seu direito subjetivo à tutela jurisdicional preencha determinadas condições, sem as quais a ação se reconhecerá natimorta, ou seja, embora já exercitada, não conseguirá alcançar sua finalidade.
As condições necessárias ao regular exercício do direito de ação de natureza penal são: a) legitimidade das partes; b) interesse de agir; c) possibilidade jurídica do pedido; e d) justa causa.
- Legitimidade das partes
A legitimidade ativa no processo penal é expressamente determinada pela lei, que aponta o titular da ação, podendo tanto ser o ministério Público quanto o particular.
A legitimidade ativa, para Rogério Greco, pode, ainda ser primária e secundária. Esta se dará quando houver transferência da legitimidade para outra pessoa que não o titular original, como por exemplo, nos casos em que há inércia do MP, transferindo-se o direito de propor a ação penal ao particular por meio da ação penal privada subsidiária da pública ou naqueles em que há o falecimento ou declaração judicial de ausência do titular, quando aplicar-se-á o disposto nos artigos 100, §4º do CP e 31 do CPP.
Legitimado passivo será aquele em face do qual se propõe a ação penal.
– Interesse de agir
O interesse de agir, no processo penal, decorre da necessidade de ter o titular da ação penal que se valer do Estado para que este conheça e, se for convencido da infração penal, condene o réu ao cumprimento de uma pena justa.
Significa que somente o Estado-juiz pode prestar a tutela jurisdicional pretendida.
Entretanto, além do interesse-necessidade, atualmente já se fala na imprescindibilidade do interesse-utilidade, isto é, embora a jurisdição penal seja sempre necessária à aplicação de uma pena, pode acontecer que, no caso concreto, a sua intervenção já não seja mais útil. É o caso, por exemplo, em que, antes mesmo de propor a ação, o Ministério Público já visualiza uma provável prescrição.
– Possibilidade jurídica do pedido
Consiste esta condição na formulação de pretensão que, em tese, exista na ordem jurídica como possível, ou seja, que a ordem jurídica brasileira preveja a providência pretendida pelo interessado.
É preciso asseverar que, pedido juridicamente impossível não se confunde com pedido que deve ser julgado improcedente. Naquele, a previsão da pretensão deduzida nem sequer existe no ordenamento jurídico ou, mesmo existindo, para o caso concreto pode haver norma excepcional impedindo que o agente venha a ser condenado. Ex. indivíduo que furta relógio do pai; não pode, sequer haver denúncia em face da regra do art. 181, II, do CP.
– Justa causa
Justa causa é o lastro probatório mínimo que dê suporte aos fatos narrados na peça inicial de acusação. Esse lastro relaciona-se com os indícios de autoria, existência material de uma conduta típica e alguma prova da antijuridicidade e culpabilidade.
Não é necessário nesse primeiro momento que haja prova cabal; exige-se um mínimo de prova, mas, se a prova é boa ou ruim, isto será questão a ser analisada durante o exame do mérito.
 – Espécies de ação penal
O Código Penal e a legislação processual prevêem duas espécies de ação penal, a saber: ação penal pública e ação penal privada. A regra prevista no art. 100 do CP diz que toda a ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
As ações penais de iniciativa pública são promovidas pelo órgão oficial, ou seja, o Ministério Público, sendo que as de iniciativa privada são, ab initio, levadas a efeito mediante queixa do ofendido ou por quem tenha a qualidade para representá-lo.
– Ação penal de iniciativa pública
A ação penal de iniciativa pública pode ser: a) incondicionada; ou b) condicionada a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça.
– Ação penal de iniciativa pública incondicionada
Diz-se incondicionada a ação penal de iniciativa pública quando, para que o Ministério Público possa iniciá-la, ou mesmo requisitar instauração de inquérito policial, não se exige qualquer condição. É a regra geral das infrações penais (art. 100do CP).
– Ação penal de iniciativa pública condicionada
Pode acontecer que a legislação penal exija, em determinadas infrações penais, a conjugação da vontade da vítima ou de seu representante legal, a fim de que o Ministério Público possa aduzir em juízo sua pretensão penal, condicionando o início das investigações policiais e o oferecimento da denúncia à apresentação de sua representação.
Além da representação do ofendido, a lei penal fala também em requisição do Ministro da Justiça. Esta é também uma condição de procedibilidade, permitindo ao Ministério Público iniciar a ação penal.
Vale lembrar que tais condições não impõem ao Ministério Público o dever de oferecer denúncia, mas sim dizem que, se assim entender, as pessoas envolvidas pela infração permitem que ele assim proceda.
– Princípios informadores da ação de iniciativa pública
Obrigatoriedade ou legalidade – O Ministério Público tem o dever de dar início à ação penal desde que o fato praticado pelo agente seja, pelo menos em tese, típico, ilícito e culpável e que exista justa causa para a sua propositura.
Oficialidade – Significa que a persecutio criminis in iudicio será procedida por órgão oficial, qual seja, o Ministério Público (art. 129, I, CF/88).
Indisponibilidade – Por esse princípio, fica vedado ao órgão oficial encarregado de promover a ação penal (MP), desistir da ação penal por ele iniciada.
Indivisibilidade – Se a infração foi praticada em concurso de pessoas, todos aqueles que para ela concorreram devem receber o mesmo tratamento não podendo o Ministério Público escolher quem acionar.
Intranscendência – Este princípio diz respeito ao fato de que a ação penal somente deve ser proposta em face daqueles que praticaram a infração penal, não podendo atingir pessoas estranhas ao fato criminoso.
– Ação penal privada
A ação penal privada é aquela em que o direito de acusar pertence, exclusiva ou subsidiariamente, ao ofendido ou a quem tenha a qualidade para representá-lo. Ela se denomina ação penal privada, porque seu titular é um particular, em contraposição à ação penal pública, em que o titular do ius acusacionis é um órgão oficial estatal: o Ministério Público.
As ações penais de iniciativa privada classificam-se em: a) privada propriamente dita; b) privada subsidiária da pública: e c) privada personalíssima.
– Privada propriamente dita
São aquelas promovidas mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. Em determinadas infrações penais, a lei penal preferiu que o início da persecutio criminis ficasse a cargo do particular. Embora o Estado sempre sofra com a prática de uma infração penal, pois que seu cometimento sempre abala a ordem jurídica e coloca em risco a paz social, existem situações que interessam mais intimamente ao particular do que propriamente ao Estado.
No caso de morte ou declaração judicial de ausência do ofendido, aplica-se o disposto nos artigos 100, §4º do CP e 31 do CPP.
– Privada subsidiária da pública
As ações penais privadas subsidiárias da pública encontram respaldo não somente na legislação penal (art. 100, § 3º do CP e art. 29 do CPP), como também no texto da Constituição Federal (art. 5º, LIX, da CF/88). Com isso, o particular vítima de determinada infração penal, cuja ação penal é pública, pode oferecer queixa-crime, dando início a ação penal, desde que o Ministério Público, por desídia, mantenha-se inerte.
Cumpre esclarecer que o particular somente terá a possibilidade de oferecer queixa subsidiária se houver total inércia do órgão do Ministério Público. Assim, se este solicitar arquivamento de inquérito policial ou requisitar a baixa dos autos à delegacia de polícia para novas diligências, não poderá o particular intentar ação de natureza subsidiária.
Se for intentada ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública, o Ministério Público poderá aditar a queixa, repudiá-la ou oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os atos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal (art. 29 do CPP). Isso é assim porque a ação, originalmente é de iniciativa pública e, uma vez intentada pelo particular, será regida pelos princípios que a orientam. Enquanto o particular estiver à frente da ação, o Ministério Público funcionará como custus legis.
– Privada personalíssima
As ações penais de iniciativa privada tidas como personalíssimas são aquelas em que somente o ofendido, e mais ninguém, pode propor. Em alguns casos, entendeu o legislador que a infração penal atinge a vítima de maneira tão íntima e tão pessoal que somente a ela caberá emitir seu juízo de pertinência a respeito da propositura ou não dessa ação penal. É o caso dos delitos de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236 do CP) e adultério (art. 240 do CP).
Nesses casos, não se aplica o disposto nos artigos 100, § 4º e 31 do CPP, pois, somente o ofendido (e mais ninguém em seu nome) pode intentar a ação penal. 
– Princípios informadores da ação penal de iniciativa privada
As ações penais de iniciativa privada são regidas por três princípios que as informam, a saber: 
Oportunidade – De acordo com Fernando da Costa Tourinho Filho, o princípio da oportunidade “confere ao titular da ação penal o direito de julgar da conveniência ou inconveniência quanto à propositura da ação penal. Se quiser promovê-la poderá fazê-lo, se não o quiser, não o fará. Este princípio é exatamente o oposto do princípio da obrigatoriedade.
Disponibilidade – Significa que, mesmo após a propositura da ação penal privada, pode o particular, valendo-se de determinados institutos jurídicos (renúncia, perdão, perempção – arts. 50 a 60 do CPP e arts. 104 a 106 do CP), dispor da ação penal por ele proposta inicialmente. É o reverso do princípio da indisponibilidade aplicado às ações penais de iniciativa pública.
Indivisibilidade – É comum às duas espécies de ação penal (pública e privada) e encontra-se consubstanciado no art. 48 do CPP. Se o fato for cometido por várias pessoas, todas elas devem por ele responder.
Obs.: no caso da ação penal de iniciativa privada, o Ministério Público velará pelo respeito ao princípio da indivisibilidade (art. 48, in fine, do CPP); já nos casos de ação penal pública, a fiscalização deve ser exercida pelo juiz, aplicando-se, analogicamente, o art.28 do CPP.
– Ação penal no crime complexo
Crime complexo é a fusão de dois ou mais tipos penais.
Parte da doutrina classifica o crime complexo em:
Crime complexo em sentido lato – quando o legislador acrescenta à definição de um crime fatos que, por si mesmos, não constituem delitos. Basta que à descrição típica de um delito, sejam acrescentados elementos típicos que, isoladamente, configuram indiferente penal. Ex. estupro (art. 213 CP) que se compõe do delito de constrangimento ilegal (art. 146 CP) + a conjunção carnal que, por si só, não constitui delito.
Crime complexo em sentido estrito – ao contrário, é formado da reunião de dois ou mais tipos penais. O legislador apanha a definição legal de crimes e as reúne, formando uma terceira unidade delituosa. Ex. extorsão mediante seqüestro (art. 159 CP) que se forma da reunião da extorsão (art. 158 CP) + seqüestro (art. 148 CP).
Para Damásio E. de Jesus, há crime complexo em sentido estrito também quando um delito passa a integrar outro sem formar uma terceira figura típica, mas, funcionando como qualificadora. Ex. latrocínio (art. 157, § 3º CP), em que o homicídio intervém como qualificadora do roubo.
O artigo 101 do CP cuida da ação penal no crime complexo, tendo sofrido várias críticas, pois, parte da doutrina considera o referido dispositivo inútil. Isso porque a lei adotou o sistema de especificar claramente quando o delito deve ser apurado mediante ação privada, sendo os demais submetidos à ação pública.
Além disso grande controvérsiasurgiu acerca do delito de estupro que, salvo nos casos previstos no artigo 223 do CP, será de ação penal privada ou pública condicionada à representação, conforme determina o art. 225, caput e § 2º, respectivamente. Também é preciso lembrar que, conforme exemplificado acima, o estupro é crime complexo em sentido amplo, classificação que, para alguns doutrinadores, nem mesmo existe, significando que, para estes autores, o estupro é crime simples e, portanto, sobre o mesmo não incidiria o art. 101 do CP.
Não obstante o acima mencionado, o STF, por intermédio do verbete de sua Súmula 608, vem entendendo que, “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação é pública incondicionada”. Este entendimento vem corroborado pelo fato de que, o constrangimento ilegal (art. 146 do CP) que, juntamente com a conjunção carnal, forma o delito de estupro, é de ação penal pública incondicionada. 
1 – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
A punibilidade é uma conseqüência natural pala prática de uma conduta típica, ilícita e culpável levada a efeito pelo agente. Toda vez que o agente pratica uma infração penal, isto é, toda vez que infringe o nosso direito penal objetivo, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer seu ius puniendi.
Entretanto, o Estado, em determinadas situações previstas expressamente em seus diplomas legais, pode abrir mão ou mesmo perder esse direito de punir. Mesmo que, em tese, tenha ocorrido uma infração penal, por questões de política criminal, o Estado pode, em algumas situações por ele previstas expressamente, entender por bem em não fazer valer o seu ius puniendi, razão pela qual haverá aquilo que o Código Penal denominou extinção da punibilidade.
As causas de extinção da punibilidade foram previstas no art. 107 do Código Penal e não interferem na infração penal em si. Porém, a existência desses dados pode impedir que o Estado, mesmo existindo a infração penal, venha a exercitar o seu direito de punir.
2 - Condições objetivas de punibilidade
Em regra, a prática de um crime faz surgir a punibilidade. Ocorre que, às vezes, a punibilidade ou pretensão punitiva pode estar sujeita a determinadas circunstâncias, denominadas condições objetivas de punibilidade. Situam-se entre o preceito primário e o preceito secundário da norma penal incriminadora, condicionando a existência da pretensão punitiva do Estado. Possuem duas características: a) situam-se fora do crime; b) estão fora do dolo do agente. Ex.: art. 7º, § 2º, b e c, do CP. Na extraterritorialidade condicionada da lei penal brasileira, as circunstâncias de “ser o fato punível também no país em que foi praticado” e “estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição” constituem condições objetivas de punibilidade, pois, encontram-se fora do crime praticado pelo agente e a sua ocorrência não depende do dolo. Em outras palavras, independentemente de tais condições, o fato será típico, antijurídico e culpável e, do dolo do agente, não depende a existência ou não de tais condições.
– ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS
Escusas absolutórias são causas que fazem com que a um fato típico e antijurídico e culpável, não se associe pena alguma por razões de utilidade pública. São também chamadas “causas de exclusão” ou de “isenção de pena”.
Situam-se na Parte Especial do CP.
Distinguem-se das causas de exclusão da ilicitude e da culpabilidade que excluem o crime (já que tanto ilicitude quanto culpabilidade, integram o delito). As escusas absolutórias, entretanto, deixam íntegros os elementos do crime. O fato permanece típico, ilícito e culpável. Contudo, por razões de utilidade pública, o agente fica isento de pena. Ex.: art. 181 do CP.
Os efeitos das escusas absolutórias são idênticos aos da extinção da punibilidade. Assim, elas somente extinguem o poder-dever de punir do Estado, subsistindo o caráter ilícito do fato. A isenção de pena é obrigatória, não ficando ao arbítrio judicial.
– CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
4.1 – Morte do agente
A primeira das causas extintivas da punibilidade previstas no art. 107 do CP é a morte do agente.
De acordo com o que prescreve o art. 62 do CPP, em caso de morte do acusado, o juiz, após juntada da certidão de óbito e de ouvir o Ministério Público, declarará a extinção da punibilidade.
Entende o prof. Rogério Greco que o MP, antes de opinar pela extinção da punibilidade deve, ad cautelam, requerer ao juiz que confirme o documento apresentado aos autos, expedindo ofício ao cartório de registro civil indicado no documento a fim de que seja ratificado pelo tabelião.
Contudo, mesmo diante de todas as cautelas tomadas, pode acontecer que seja extinta a punibilidade e, posteriormente se descubra que o documento comprobatório do óbito era falso. Duas correntes de pensamento se formaram a esse respeito: a maioria de nossos autores entende não ser possível retomar o curso da ação penal, desconsiderando-se a decisão anterior, uma vez que nosso ordenamento jurídico não admite a revisão criminal pro societate. Porém, isso não impede que o réu seja processado por crime de falso. O STF, posicionando-se contrariamente ao entendimento anterior já decidiu que a revogação do despacho que julgou extinta a punibilidade do réu, a vista de atestado de óbito baseado em registro comprovadamente falso é admissível, uma vez que referido despacho, além de não fazer coisa julgada em sentido estrito, funda-se exclusivamente em fato juridicamente inexistente, não produzindo quaisquer efeitos.
A morte do agente extinguindo a punibilidade também terá o condão de impedir que a pena de multa aplicada ao condenado seja executada em face de seus herdeiros, pois, o fato de o art. 51 do CP considerá-la dívida de valor não afasta sua natureza de pena (art. 5º, XLV, da CF/88).
4.1 – Anistia, graça e indulto
Uma das mais antigas formas de extinção da pretensão punitiva é a indulgentia principis, que se expressa em três instituições: a anistia, o indulto e a graça.
Pela anistia o Estado renuncia ao seu ius puniendi, perdoando a prática de infrações penais que, normalmente, têm um cunho político. A regra, portanto, é a de que a anistia dirija-se aos chamados crimes políticos, embora, nada impeça sua aplicação as demais espécies delitivas. A concessão da anistia é da competência da União, conforme preceitua o art. 21, XVII, da CF/88, e se encontra no rol das atribuições do Congresso Nacional (art. 48, VIII, CF/88). Pode ser concedida antes ou depois da sentença penal condenatória, sempre retroagindo a fim de beneficiar os agentes. Se concedida após a sentença condenatória, faz cessar todos os seus efeitos, exceto a reparação do dano ex delito. Pode ser concedida em termos gerais ou restritos. Quando a anistia restrita exclui determinados fatos, indivíduos, grupos, ou classes de indivíduos, diz-se parcial; quando estabelece cláusulas para a fruição do benefício, diz-se condicional. A anistia geral ou absoluta não conhece exceção de crimes ou de pessoas, nem se subordina a limitações de qualquer espécie. O art. 2º, I, da Lei 8.072/90 veda a concessão de anistia aos crimes hediondos e equiparados. A anistia não pode ser recusada pelo beneficiado, salvo se se tratar de anistia condicional.
A graça e o indulto são da competência do Presidente da República (art. 84, XII, CF/88). Diferem os dois institutos no sentido de que a graça é concedida individualmente a uma pessoa específica, enquanto o indulto é concedido de maneira coletiva a fatos determinados pelo Chefe do Poder Executivo. Graça e indulto pressupõem sempre sentença condenatória com trânsito em julgado e atingem somente os efeitos executórios penais da condenação (os efeitos civis da sentença condenatória continuam íntegros. O indulto é espontâneo; a graça deve ser requerida pelo interessado.
O prof. Fernando da Costa Tourinho Filho entende que, não obstante a concessão de graça ou indulto, permanecerão íntegros os efeitos específicos da condenação previstosno art. 92 do CP, salvo se o decreto de concessão referir-se a eles expressamente.
Nos termos do art. 188 da Lei 7.210/84 (LEP), a graça passou a ser conhecida como indulto individual e, em conseqüência, o indulto propriamente dito, passou a ser conhecido como indulto coletivo. Tais benefícios têm sua concessão vedada aos crimes previstos na Lei 8.072/90 e, quanto à Lei 9.455/97, somente houve proibição de concessão de graça ou anistia.
Alguns autores sustentam a inconstitucionalidade da vedação de concessão de indulto aos crimes hediondos e assemelhados, já que, o inciso XLIII, do art. 5º, da 	CF/88, somente prevê a vedação de graça e anistia. Porém, outra corrente surgiu no sentido de que a graça mencionada no referido inciso é a chamada graça lato sensu, da qual são espécies a graça stricto sensu (indulto individual) e o indulto (coletivo) e, portanto, não há inconstitucionalidade na previsão da Lei 8.072/90.
– Abolitio criminis
Ocorre a chamada abolitio criminis quando o Estado, por razões de política criminal, entende por bem em não mais considerar determinado fato como criminoso.
Se determinado bem jurídico antes gozava de certa importância, posteriormente, em virtude da evolução social, passa a não possuir o mesmo status, deverá o legislador retirá-lo do ordenamento jurídico-penal, surgindo o fenômeno da abolitio criminis, previsto expressamente no art. 2º do Código Penal.
Nenhum efeito penal permanecerá, tais como reincidência e maus antecedentes, permanecendo, contudo, os efeitos de natureza civil, como por exemplo, a possibilidade de a vítima proceder a execução civil de seu título executivo judicial, conquistado em razão do trânsito em julgado da sentença penal que condenou o agente pela infração penal cometida.
– Decadência
A decadência é o instituto jurídico mediante o qual a vítima, ou quem tenha qualidade para representá-la, perde seu direito de queixa ou de representação em virtude do decurso de certo espaço de tempo sendo, portanto, instituto aplicável somente aos casos de ação penal privada.
O direito de queixa ou representação é expresso nos artigos 103 do CP e 38 do CPP.
Porém, o prazo previsto nos dispositivos acima comporta exceções, como é o caso do crime de adultério (art. 240 do CP) que prevê prazo decadencial de um mês.
O prazo decadencial inicia sua contagem a partir do momento em que o ofendido vem a saber quem é o autor do crime ou, nos casos de ação penal privada subsidiária da pública, na qual o prazo decadencial inicia-se a partir do momento em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia.
A perempção é instituto jurídico aplicável às ações de iniciativa privada propriamente ditas ou personalíssimas, não se destinando, contudo, àquela considerada como privada subsidiária da pública. Não tem aplicação, portanto, nas ações penais de iniciativa pública incondicionada ou condicionada à representação do ofendido. É um instituto previsto no art. 60 do CPP que, em seu caput, deixa claro sua aplicação aos crimes em que somente se procede mediante queixa.
Além das hipóteses previstas pelo art. 60 do CPP, entende-se pela perempção, também, havendo morte do querelante nos casos de adultério e de induzimento em erro essencial e ocultação de impedimento (arts. 240 e 236 do CP, respectivamente).
Conforme corretamente observado pelo prof. Mirabete, a perempção, como perda de prosseguir na ação penal de iniciativa privada, é uma sanção jurídica imposta ao querelante por sua inércia, negligência ou contumácia. Não pode ocorrer, portanto, antes de proposta a queixa (somente se fala em querelante, como em todos os incisos do art. 60 do CPP, após iniciada a ação penal de iniciativa privada). Assim, só poderá haver decadência antes de iniciada a ação penal e, só poderá haver perempção após o início daquela.
Há entendimento de que, antes de decretar a perempção, em caso de inércia do querelante, deve o juiz intimá-lo para que dê andamento ao processo.
O inciso III do art. 60 do CPP pune com a perempção a ausência do querelante a qualquer ato do processo sem justificativa. Porém, o prof. Rogério Greco entende que, somente haverá necessidade de comparecimento do querelante aos atos nos quais sua presença seja imprescindível, não havendo perempção se houver comparecimento de seu advogado em todos os atos. Além disso, se o querelante, nas alegações finais deixar de pedir a condenação do querelado, deverá o juiz declarar a perempção.
Sendo o querelante pessoa jurídica, em caso de extinção, aplica-se a regra do inciso II, do art. 60 do CPP, devendo a habilitação do sucessor ocorrer em 60 dias contados da data da extinção.
– A retratação da representação
A representação, como é de todos sabido, é a manifestação de vontade do ofendido ou de quem legalmente o represente, no sentido de ser instaurado o processo contra o seu ofensor.
Feita a representação, aquele que a fez poderá retratar-se desde que a denúncia ainda não tenha sido oferecida. De observar que, basta o oferecimento da denúncia, ainda que a mesma não tenha sido recebida pelo juiz, para impedir a retratação.
A retratação da representação tem o efeito de impedir a propositura da ação penal. O prof. Fernando da Costa Tourinho Filho entende que a retratação da representação assemelha-se à renúncia e, assim, devem os autos ser arquivados, em face da ausência de representação, condição a que se subordina, às vezes, o jus accusationis, até porque, o rol do art. 107 do CP, é numerus apertus, não exaurindo as possibilidades de extinção da punibilidade. Porém, há entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que, enquanto não expirar o prazo decadencial, pode haver retratação da retratação, isto é, se ofendido, investido do direito de representação, se retrata, os autos devem permanecer em cartório até que se esgote o prazo decadencial, pois, até o seu final, poderá o ofendido desfazer a retratação.
4.4.1 – Retratação do agente, nos casos em que a lei admite
A retratação é o ato pelo qual o agente reconhece o erro que cometeu e o denuncia a autoridade, retirando o que anteriormente havia dito.
Em várias de suas passagens, a legislação penal permitiu ao autor do fato retratar-se, como ocorre nos crimes de calúnia e difamação (art. 143 do CP), nos de falso testemunho e de falsa perícia (art. 342, § 2º do CP), bem como na Lei de Imprensa (art. 26, da Lei 5.250/67).
O art. 143 do CP diz que o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Ou seja, o termo ad quem para que o querelado leve a efeito a sua retratação o momento da entrega da sentença em cartório. Além disso, somente nos delitos de calúnia e difamação é que caberá a retratação, não sendo permitida, portanto, no crime de injúria. Porém, nos crimes contra a honra cometidos através da imprensa, admite-se a retratação na calúnia, na difamação e, também, na injúria, ao contrário do que determina o CP (art. 26, Lei 5.250/67), não obstante já ter havido decisão no STF inadmitindo a retratação no crime de injúria cometido por meio de imprensa.
É preciso observar, ainda, que se o crime contra a honra tiver conotação com a segurança nacional e for cometido contra o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do STF, não se admitirá a retratação, pois, a Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional) não prevê tal instituto (ver art. 26).
Nos crimes de falso testemunho e falsa perícia (art. 342, § 2º do CP), “o fato deixa de ser punível, se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade”.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
OS DISPOSITIVOS PREVISTOS NOS INCISOS VII e VIII do art. 107 do CÓDIGO PENAL FORAM REVOGADOS PELA LEI 11.106/05, QUE INTRODUZIU DIVERSAS ALTERAÇÕES NAQUELE DIPLOMA, PRINCIPALMENTE NO QUE PERTINE AOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES
1 – O CASAMENTO DO AGENTE COM A VÍTIMA NOS CRIMES CONTRA OS COSTUMESREFERIDOS NOS CAPÍTULOS I, II e III, DO TÍTULO IV DO CÓDIGO PENAL
A lei penal, por questões de política criminal, considera extinta a punibilidade se a vítima se casar com o autor do crime contra os costumes contra ela cometido, pois, entendeu o legislador que, se o agente se casa com a vítima, nos crimes sexuais determinados pela lei, repara a desonra que cometeu e a continuação do processo ou a execução da sentença condenatória não faria mais do que agravar o dano com o seu efeito infamante sobre o casal.
A extinção da punibilidade somente ocorrerá nas hipóteses previstas nos Capítulos I, II e III do Título IV do Código Penal, que prevêem, respectivamente, os crimes contra a liberdade sexual (estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude e atentado ao pudor mediante fraude), a sedução e a corrupção de menores e, por último, o rapto, desde que não sejam qualificados (art. 223 do CP), haja vista que esta última hipótese se encontra prevista no Capítulo IV do Título VI do Código Penal, não abrangido pelo inciso VII do art. 107 do diploma repressivo.
Havendo ou não ação penal, o casamento do agente com a vítima extinguirá a punibilidade, podendo esta ocorrer ainda na fase pré-processual, ou seja, durante as investigações levadas a efeito nos autos do inquérito policial, ou em juízo, após o início da ação penal, mesmo que tenha havido o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Se depois do trânsito em julgado da decisão que declarou a extinção da punibilidade o agente separar-se da vítima, ou mesmo se conseguir a anulação do casamento, tais fatos não permitirão a reabertura das investigações policiais ou mesmo a continuidade da ação penal, pois, não se admite a revisão pro societate.
Tratando-se de excludente objetiva da punibilidade, o subsequens matrimonium comunica-se aos co-autores e partícipes.
Se o casamento ocorrer após o trânsito em julgado da condenação, extinguirá somente a pretensão executória, isto é, a execução da pena, permanecendo os demais efeitos secundários, como por exemplo, o pressuposto da reincidência.
– CASAMENTO DA VÍTIMA COM TERCEIRO, NOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES REFERIDOS NOS CAPÍTULOS I, II e III DO TÍTULO VI DO CÓDIGO PENAL
O inciso VIII do art. 107 do CP reconhece também a extinção da punibilidade nas hipóteses em que a vítima se casa com terceiro. Contudo, para que isso ocorra, a lei penal determina que: a) o crime praticado não preveja, como elemento do tipo, a violência real ou grave ameaça; b) que a ofendida não requeira o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de sessenta dias, contado a partir da data da celebração do casamento.
A lei penal somente impede a extinção da punibilidade quando a infração penal for cometida com o emprego de violência real ou grave ameaça, sendo permitida, portanto, quando a violência for presumida, ou seja, em qualquer das hipóteses do art. 224 do CP.
Havendo sentença transitada em julgado a manifestação da vítima não tem qualquer influência jurídico-penal.
Para Damásio de Jesus, se um homem vier a ser vítima de crime contra os costumes praticado por mulher, como por exemplo, corrupção de menores e vier a casar-se com terceira pode ocorrer a extinção da punibilidade, tendo em vista que a disposição fala em “vítima”, pouco importando que a parte final mencione “ofendida”.
Obs.: É preciso observar que, de acordo com entendimento adotado pela Suprema Corte, no verbete da Súmula 388, o casamento da vítima com quem não seja seu ofensor faz cessar a qualidade de seu representante legal, isto é, se a vítima é incapaz, com o casamento cessa esta qualidade.
Obs.: É preciso observar quanto aos dispositivos acima, o princípio da não retroatividade in pejus da Lei Penal, previsto no p. único do art. 2º do CP, interpretado a contrario sensu e no inciso XL, do art. 5º da CF/88. Assim, por exemplo, se o agente cometeu crime contra os costumes e casou-se com a vítima antes da vigência da Lei 11.106/05 a revogação do inciso VII do art. 107 do CP não incidirá sobre ele.
– O PERDÃO JUDICIAL NOS CASOS PREVISTOS NO CÓDIGO PENAL
O perdão judicial não se dirige a toda e qualquer infração penal, mas sim àquelas previamente determinadas pela lei. Assim, torna-se impossível o emprego da analogia in bonam partem quando se tratar de ampliação das hipóteses de perdão judicial. Isso porque a lei penal afirmou categoricamente que o perdão judicial somente seria concedido nos casos por ela previstos.
Muito se discutiu sobre a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial, sendo que as opiniões se dividiram no sentido de que seria absolutória, condenatória ou meramente declaratória de extinção da punibilidade. O STJ, por intermédio do verbete da Súmula 18, posicionou-se nesse último sentido, afirmando que “a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.
A forma como o perdão judicial normalmente vem previsto a fim de ser aplicado a determinada infração penal nos deixa a dúvida se ele é uma faculdade do juiz ou um direito subjetivo do agente. Damásio de Jesus afirma tratar-se de um direito penal público subjetivo de liberdade. Assim, se presentes as circunstâncias exigidas pelo tipo, o juiz não pode, segundo puro arbítrio, deixar de aplicá-lo. A expressão “pode” empregada pelo CP nos dispositivos que disciplinam o perdão judicial, de acordo com a moderna doutrina penal, perdeu a natureza de simples faculdade judicial, no sentido de o juiz poder, sem fundamentação, aplicar ou não o privilégio. Satisfeitos os pressupostos exigidos pela norma, está o juiz obrigado a deixar de aplicar a pena. Cezar Roberto Bitencourt comunga do mesmo entendimento.
3.1 – Perdão judicial no Código de Trânsito Brasileiro
Antes do novo Código de Trânsito (Lei nº 9.503/97), quando os motoristas, na direção de seus veículos, causavam mortes ou lesões corporais culposas, respondiam, respectivamente, pelas sanções previstas nos arts. 121, § 3º e 129, § 6º, todos do Código Penal. Para essas infrações penais, há a previsão do perdão judicial (art. 121, § 5º e art. 129, § 8º do CP).
O Código de Trânsito Brasileiro especializou os delitos de homicídio e lesões corporais de natureza culposa, criando os tipos dos arts. 302 e 303 da Lei 9.503/97. Embora o projeto de lei que disciplinou o CTB tivesse feito previsão do perdão judicial em seu art. 300, nas hipóteses de homicídio culposo e lesões corporais culposas, o Presidente da República entendeu por bem vetá-lo sobre o argumento de que “o artigo trata do perdão judicial, já consagrado pelo Direito Penal. Deve ser vetado, porém, porque as hipóteses previstas pelo § 5º, do art. 121 e § 8º, do art. 129 do CP disciplinam o instituto de forma mais abrangente”. Surgiram duas correntes: 1) a primeira, que tem como adeptos Luiz Flávio Gomes, Damásio de Jesus e outros, entendem ser inaplicável o perdão judicial aos delitos de trânsito previstos nos arts. 302 e 303 do CTB, pois, apesar do fato de que o art. 291 do referido Código determinar a aplicação das regras do CP aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, restringiu essa aplicação às normas Gerais; 2) a segunda, majoritária, capitaneada pelo prof. Rogério Greco, adota o entendimento de que, não obstante o fato de que deve haver previsão legal em cada tipo penal em que seja permitido o perdão judicial e de o art. 291 do CTB determina a aplicação subsidiária, apenas, das normas gerais do CP, não seria razoável entender que, embora razões que fizeram inserir o perdão judicial para os crimes de homicídio culposo e lesão corporal culposa no CP foram, sem dúvida, o elevado número de acidentes de trânsito, agora que foram criadas infrações específicas para o trânsito, o perdão judicial não fosse aplicado. Além disso, os tipos penais dos arts. 302 e 303 do CTB são “crimes remetidos”, isto é, o primeiro menciona “praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor”e o segundo “praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor” sem definir o que vem a ser homicídio culposo e lesão corporal culposa, remetendo o intérprete a estes crimes previstos no CP e, é pacífico o entendimento de que, tudo o que se aplica ao crime que serve de paradigma, aplica-se, também ao crime remetido.
– O perdão judicial e a Lei nº 9.807/99
A lei nº 9.807/99, de 13 de julho de 1999, estabeleceu normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, bem como dispôs sobre a proteção de acusados e condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo penal.
A referida lei fez previsão do perdão judicial em seu artigo 13. Cuida-se, no caso, de nova possibilidade de concessão de perdão judicial em caso de concurso de pessoas, ou seja, quando o agente vier a praticar, sozinho a infração penal, somente poderá ser beneficiado pelo perdão judicial se houver previsão legal para tanto e se cumprir os requisitos exigidos.
Em relação ao art. 13, da Lei 9.807/99, primeiramente é necessário descobrir quais foram as infrações penais por ela abrangidas, pois que se exige que a cooperação de um dos acusados seja de fundamental importância para a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa, para ajudar a localizar a vítima, permitindo que a sua integridade física seja preservada, bem como para recuperar total ou parcialmente o produto do crime.
Pela redação do mencionado art. 13, entende-se que a lei teve em mira o delito de extorsão mediante seqüestro, previsto no art. 159 do CP. Contudo, parte da doutrina afirma que, na verdade a lei não limitou sua aplicação ao crime de extorsão mediante seqüestro, podendo o perdão judicial ser concedido não somente nesta, mas em qualquer outra infração penal, cujos requisitos elencados pelo art. 13 da Lei 9.807/99 possam ser preenchidos.
Segundo entende Luiz Régis Prado, o fato delituoso deve ter sido cometido por, no mínimo, três pessoas, pois, o inciso I, impõe a identificação dos demais co-autores ou partícipes (mais de um co-autor ou partícipe). Além disso, trata-se de circunstância pessoal, incomunicável aos demais co-autores ou partícipes que não preenchem os requisitos autorizantes da concessão da medida (art. 30 do CP).
São condições objetivas para a concessão do perdão judicial: a) a colaboração efetiva com a investigação e o processo criminal (art. 13, caput); b) a identificação dos demais co-autores e partícipes (art. 13, I); c) a localização da vítima com a sua integridade física preservada (art. 13, II); d) a recuperação total ou parcial do produto do crime (art. 13, III); e) natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso indicativas da concessão do perdão judicial (art. 13, p. único). Para aquele autor, é suficiente o atendimento de uma das três circunstâncias indicadas.
O prof. Rogério Greco entende que o art. 13 da Lei 9.807/99 deverá ser conjugado com o inciso IX do art. 107 do CP, sendo que este último diz que o perdão judicial somente poderá ser concedido nos casos previstos expressamente em lei. Para ele, a referida lei, quando previu o perdão judicial, quis referir-se ao art. 159 do CP, não tendo aplicação a outros delitos. 
– Renúncia ao direito de queixa
A renúncia ao direito de queixa é a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação penal privada. Assim, o art. 107, V, 1ª parte do CP determina que a renúncia ao direito de queixa extingue a punibilidade.
Somente é possível a renúncia antes do início da ação penal privada, o que pode ser percebido pelo disposto no art. 104, caput do CP, pois, ela obsta o oferecimento da queixa. Assim, é oportuna a renúncia dentro dos seis meses previstos para o exercício da ação penal privada (art. 103 do CP), isto é, desde o dia em que o ofendido ou seu representante legal toma conhecimento da autoria do crime até o último dia do prazo.
Quando o indivíduo renuncia ao direito de queixa, pode fazê-lo de forma expressa ou tácita. Diz-se expressa a renúncia quando formalizada por meio de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 50 do CPP). Renúncia tácita ao direito de queixa é aquela na qual, nos termos do parágrafo único do art. 104 do CP, o ofendido pratica atos incompatíveis com a vontade de exercê-lo, como nas hipoteses daquele que convida o autor do crime para ser seu padrinho de casamento ou para com ele constituir sociedade.
Deve ser observado que a renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro (art. 50, p. único, CPP).
O art. 49 do CPP, determina que a renúncia ao direito de queixa em relação a um dos autores, a todos se estenderá, pois, o princípio da indivisibilidade obriga ao querelante promover a ação penal contra todos os co-autores do fato delituoso em tese, salvo se algum deles for desconhecido. Excluindo-se um dos autores, sendo o mesmo conhecido, entende-se que o querelante tacitamente renunciou ao direito de processá-lo, devendo ser estendida a todos sua abdicação.
Segundo Damásio de Jesus, havendo omissão de um dos querelados na queixa, o que indica renúncia tácita em relação a todos, não pode o Ministério Público aditar a queixa para nela incluir o ofensor omitido.
– A renúncia ao direito de representação na Lei 9.099/95
O art. 74, p. único, da Lei 9.099/95 determina haver renúncia ao direito de queixa ou representação quando, tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação pública condicionada à representação do ofendido, houver a composição dos danos civis pelo autor do fato com a vítima, desde que tal acordo seja homologado pelo juiz.
O dispositivo acima mencionado pode ser considerado uma exceção ao que prevê a parte final do p. único, do art. 104, do CP, que informa que não implica em renúncia o fato de receber o ofendido a indenização pelo dano causado pelo crime.
– O perdão do ofendido nos crimes de ação penal privada
O perdão do ofendido, que somente poderá ser concedido nas hipóteses onde se procede mediante queixa, pode ser: a) processual, quando levado a efeito intra-autos, após ter sido iniciada a ação penal de iniciativa privada; b) extraprocessual quando procedido fora dos autos da ação penal de iniciativa privada; c) expresso quando constar de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 56, CPP); d) tácito quando o ofendido pratica ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação penal por ele iniciada (art. 106, § 1º, do CP).
De acordo com o inciso I, do art. 106 do CP, o perdão do ofendido deverá ser dirigido a todos aqueles que, em tese, praticaram a infração penal, não podendo o querelante, portanto, escolher contra quem deverá prosseguir a ação penal por ele intentada. Caso seja da vontade dos demais querelados, o perdão do ofendido concedido a um deles, deverá ser estendido a todos.
O inciso II, do art. 106 do CP diz que se o perdão for concedido por um dos ofendidos isto não prejudica o direito dos outros. Isso quer dizer que, sendo a ação penal proposta por vários querelantes, pode cada um deles, individualmente, se for da sua vontade, conceder perdão sem que, com isso os demais se vejam também obrigados a perdoar.
O art. 106 do CP, em seu inciso III, demonstra a natureza bilateral do perdão, esclarecendo que o querelado tem o direito de recusá-lo caso seja ele oferecido pelo ofendido. O querelado, entendendo que não praticou qualquer infração penal, pode não aceitar o perdão judicial, pugnando pelo regular andamento do processo, a fim de alcançar um provimento jurisdicional absolutório. Porém, ainda assim, poderá o querelante provocar a extinção da punibilidade por meio da perempção.O perdão do ofendido é tratado, também, nos arts. 51 a 59 do CPP.
– A POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DAS CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AOS CO-AUTORES
Em caso de concurso de agentes, as causas extintivas da punibilidade podem ser comunicáveis ou incomunicáveis. Assim, estendem-se a todos os participantes: a abolitio criminis; a decadência; a perempção; a renúncia ao direito de queixa; o perdão em relação aos acusados que o aceitaram; a retratação no caso do art. 342, § 2º do CP, para quem aceita o concurso de agentes no delito de falso testemunho; e o subsequens matrimonium. São incomunicáveis: a morte do agente; o perdão judicial; a graça; o indulto; e a retratação, no caso do art. 143 do CP. A anistia, em regra, é extensiva a todos os autores do fato, salvo quando expressamente exclua algum. A prescrição, em regra, estende-se a todos os autores do fato, salvo quando algum apresente circunstância pessoal. Assim, é possível que um dos autores tenha menos de 21 anos de idade ao tempo da prática do crime, em face de que o lapso prescricional é reduzido de metade (art. 115, do CP). A prescrição, portanto, em relação a ele não alcança os outros.
 
– CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NÃO ELENCADAS NO ART. 107 DO CÓDIGO PENAL
É pacífico na doutrina o entendimento de que o atual elenco do art. 107 do CP não é numerus clausus, pois, outras causas se encontram capituladas em outros dispositivos. Assim, se manifestam Rogério Greco, Cezar Roberto Bitencourt, Damásio de Jesus, dentre outros, que citam como exemplos de causas extintivas da punibilidade não previstas no art. 107 do CP as seguintes: Arts. 121, § 5º; 129, § 8º; 180, § 5º; 240, § 4º; 348, § 2º, todos do CP (perdão judicial); art. 249, § 2º do CP (restitutio in integrum); art. 312, § 3º, do CP etc.
Porém, as causas extintivas da punibilidade não elencadas no art. 107 do CP, não se confundem com as escusas absolutórias que são causas que fazem com que o fato típico e antijurídico (injusto penal), não obstante a culpabilidade do sujeito, não se associe a pena alguma. Distinguem-se as causas extintivas da punibilidade das escusas absolutórias, pois, aquelas excluem o crime, enquanto, nas escusas absolutórias deixam íntegros o crime e a culpabilidade. O fato permanece típico, antijurídico e culpável. Contudo, por razões de utilidade pública, fica isento de pena (nas causas de extinção da punibilidade não há crime; nas escusas absolutórias, não há pena). Além disso, as escusas absolutórias são previstas, somente, na parte especial do CP.

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