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ISBN # Page# XICBB'2005 ANÁLISE DA CARGA MECÂNICA NO JOELHO DURANTE O AGACHAMENTO LIVRE COM BARRA. Rogério Pessoto Hirata1 e Marcos Duarte1. 1 USP/Escola de Educação Física e Esporte – Laboratório de Biofísica. There is a concept diffused among physical educatiors and physical therapists that knee joint should not overpass the feet’s tip in the anterior- posterior direction during any kind of squat in order to diminish the imposed mechanical load to this joint. In this study we estimated the forces and torques acting in the knee joint, by means of inverse dynamic, in order to clarify the above issue. For that, 12 healthy adults performed squat movements in two diferent conditions: knee not overpassing toes’ vertical line (NU) and knee overpassing this vertical line (U). The knee mechanical load was estimated, and the peak of the patellofemoral force was around 49% higher in the U condition than in the NU condition. Accordingto this finding, it is concluded that both mechanical load in the knee joint and patelofemoral compressive force may be diminished when performing squat with knee not overpassing toes’ vertical line. Key-words: knee, inverse dynamics, squat, patellofemoral force. Introdução Agachamentos, executados em diversas formas, são exercícios importantes e bastante utilizados em treinamento e reabilitação (Wretenberg, Feng et al., 1996; Escamilla, Fleisig, Zheng et al., 2001,Escamilla, Fleisig, Lowry et al.,2001). A força patelofemoral (FPF) produz estressena articulação do joelho, especificamente na região da cartilagem articular da patela e superfície patelar do fêmur. Picos excessivos desta força contribuem para a degeneração desta articulação podendo acarretar patologias como condromalácia patelar e osteoartrite (Escamilla, 2001). Alguns estudos estimaram essa força (Reilly e Martens, 1972; Escamilla, Fleisig et al., 1998; Escamilla, Fleisig, Zheng et al., 2001; Escamilla, Fleisig, Lowry et al., 2001; Cohen, Roglic et al., 2001) e a relação entre ângulo do joelho e FPF foi estabelecida, sendo que quanto maior o ângulo de flexão do joelho, maior aFPF. Apesar de vários estudos terem investigado o exercício de agachamento,ainda não é entendido completamente o quanto aposição relativa do joelho em relação à ponta do pé (PRJ – projeção no eixo antero- posterior do vetor posição da marca localizada no segundo metatarso menos o vetor posição do centro articular do joelho) afetaa carga mecânica no joelho. Estudos mais recentes se preocuparam em estudar arelação entrePRJ e o respectivo torqueinterno articular líquido (que será referenciado apenas como torque articular neste texto) no joelho e quadril (Fry, Smith et al., 2003 e Abelbeck, 2002) já que existe um conceito difundido entre profissionais da área de que o joelho não deve ser demasiadamente anteriorizado em relação ao tornozelo quando é realizada a flexão do joelho (Fry, Smith et al., 2003). A razão desta instrução é devido a magnitude da pressão patelofemoral, um dos fatores associados à lesão no joelho, que pode ser drasticamente aumentadaou diminuída deacordo como modo de execução dos exercícios (Escamilla, Fleisig, Zheng et al., 2001). Ambos os estudos que investigaram a relação da posição do pée a demanda mecânica nasarticulações (Abelbeck, 2002; Fry,Smith et al.,2003) selimitaram a uma análise bidimensional do movimento, levando em consideração somente os movimentos, forças e torques em relação ao plano sagital do movimento. Abelbeck, não utilizou indivíduos humanos no experimento pois simulou em computador o movimento investigado. Fry e colaboradores (Fry, Smith et al., 2003) não levaram em consideração as acelerações dos segmentos e força de reação do solo. Portanto, o comportamento dos torques internos na articulação do joelho e quadril em relação à PRJ nunca foi investigado em indivíduos humanos durante uma análisedinâmicatridimensional. Visto a inexistência de trabalhos investigando, no agachamento, a relação entre PRJ e FPF e a simplicidade metodológica dos existentes (Fry, Smith et al., 2003; Abelbeck, 2002) que calcularam os torques articulares, o objetivo do presente estudo foi calcular de forma mais acurada possível os torques articulares e a forçacompressiva patelofemoraldurante o agachamento realizado de forma dinâmica por indivíduos experientes na tarefa. Mater iais e Métodos Sujeitos: Participaram deste estudo doze indivíduos (8 homens e 4 mulheres) com experiência mínima de 3 anos em agachamento livre. O tempo médio que esses indivíduos praticavam o movimento analisado foi de 6 anos (3 – 17). A altura média (± 1 desvio padrão) dos indivíduos foi de 171±11 cm, massa média de 67±11 kg e idade média de 26±6 anos. Nenhum dos participantes reportou algum tipo de lesão nos membros inferiores e todos só realizaram o experimento após assinarem um ISBN # Page# XICBB'2005 termo de consentimento de acordocom o comitê de ética local da Universidade de São Paulo. Tarefa: Os indivíduos realizaram o agachamento com carga em duas condições diferentes: a) joelho não ultrapassando a linha vertical que passa pelos dedos do pé (NU); b) joelho ultrapassando essa linha vertical (U). A carga para cada indivíduo equivaleu a 40% de sua massa corporal. A ordem de execução dos agachamentos foi aleatória entre os sujeitos sendo que em cada condição o indivíduo deveria realizar cerca de 15 agachamentos. A posição dos pés não foi imposta, sendo que os sujeitos adotaram a posição mais confortável para eles, o que de acordo com Escamilla e colaboradores (Escamilla, Fleisig, Zheng et al., 2001), não interfere nas forças no joelho durante o agachamento. O ritmo de execução foi controlado por um metrônomo com freqüência de 40 batidas por minuto. Cada batida do metrônomo correspondia à posição ereta ou à posição de máxima flexão do joelho. Desta forma, cada movimento completo de agachamento durou 3 s. Todos não alegaram fadiga durante a execução do movimento. Em adição ao agachamento, os sujeitos realizaram medidas de controle para o experimento (descritas aseguir). Coleta de dados: Para a análise biomecânica do agachamento, foram coletados dados relativos ao movimento dossegmentosdo corpo (cinemática), forças externas sobre o corpo e características antropométricas do sujeito. Para a análise cinemática tridimensional do agachamento, foram utilizadas cinco câmeras digitais (4 JVC 9800 e 1 JVC DRV800U, JVC Inc.) todas com freqüência de aquisição de 60 Hz. Marcas refletivas foram colocadas em proeminências anatômicas nas seguintes localizações do corpo (Cappozzo, Catani et al., 1995): espinhas ilíacas ântero-superior esquerda e direita e espinhas ilíacas póstero-superior esquerda e direita, trocânter maior, epicôndilo lateral do fêmur e epicôndilo medial do fêmur, ápice da cabeça da fíbula, tuberosidade da tíbia, ápice distal do maléolo lateral e ápice distal do maléolo medial, calcâneo, cabeça do quinto metatarso, cabeçado segundo metatarso e cabeça do primeiro metatarso do membro inferior direito. Duas marcasadicionais foram utilizadasdurante acoleta, uma no centro da plataforma informando assim a posição da plataforma e outranaporção lateraldireitado tronco, na altura do processo xifóide durante a realização datarefa. Para minimizar os erros de medição dos dados cinemáticos, utilizou-se a técnica de calibração do sistema anatômico (CAST) proposto porCappozzoe colaboradores (Cappozzo, Catani et al., 1995). Para tanto, utilizou-se dois clusters com quatro marcas Cappozzo, Cappello et al., 1997, um na perna e um na coxa. Os participantes realizaram o agachamento sobre uma plataforma de força (AMTI DAS-6, AMTI) que mensurou os torques e forças exercidas pelo sujeito nosolo durante o movimento, sendo que somente o membro direito tocava a plataforma durante todo o período decoleta.Escamilla ecolaboradores(Escamilla, Fleisig, Lowry et al., 2001)mostraram que a análise é similar entre os membros durante o agachamento, o que possibilita analisar somente um membro e inferir os resultados ao outro não analisado, visto a simetria do movimento de agachamento. Para aquisição dos dados da plataforma de força foi utilizado um computador PC com uma placa de aquisição de dados (A/D) de 16 bit modelo PCI 6033 (National Instruments) e freqüência de aquisiçãode 60Hz. Para sincronização dos dados cinemáticos e cinéticos, foi utilizado um sincronizador que ao ser acionado emitiadois sinais: umluminoso que era visto por todas as câmeras e um elétrico que era enviado para o sistema de aquisição de dados da plataforma de força. Análise dos dados: A digitalização das marcas foi realizadano softwareAPAS (Ariel inc) e a reconstrução tridimensional foi feita utilizando o algoritmo transformação linear direta (DLT) (Abdel-Aziz e Karara, 1971) implementado em Matlab. Para alisamento dos dados cinemáticos, splines quínticas foram ajustadas aos dados (Wood, 1982) utilizando a função ‘spaps’ do da tollbox de spline do Matlab. Os dados da plataforma de força foram alisados por um filtro Butterworth de 4º ordem, passa baixa com freqüência de corte de 30Hz. As coordenadas do centro articular do quadril foram determinadas por otimização numérica de acordo com Piazza e colaboradores (Piazza, Okita et al., 2001), e expressas a partir do sistema de coordenada da pélvis. Foi determinada a posição dos eixos e planos articulares como descrito por Cappozzo e colaboradores (1995) para que os torques e forças fossem representadas nos eixos da própria articulação. Uma rotina computacional foi escrita em ambiente MatLab para calcular posições, velocidades e acelerações lineares e angulares durante o agachamento. Os torques e forças internas articulares resultantes foram calculados utilizando um modelo de segmentos rígidos tridimensional pelo método de dinâmica inversa que considerou a força gravitacional sobre abarra esobre os segmentos, a força de reação do solo, e as acelerações dos segmentos. As propriedades inerciais do segmento foram calculadas de acordo com os ajustes propostos por De Leva, (1996) do modelo antropométrico de Zatsiorsky e colaboradores (Zatsiorsky, Seluyanov etal., 1990). A forçado quadríceps foi determinada dividindo-se o torque extensor do joelho pelo braço de alavanca do músculo quadríceps. Finalmente, para o cálculo da força patelofemoral(FPF), foi utilizadauma equação proposta por Matthews e colaboradores (1977). As forças estudadas (força do quadríceps e força patelofemoral) foram normalizadas pelo peso corporal do indivíduo, enquanto que os torques articulares (tornozelo, joelho e quadril) foram normalizados pelo peso corporal vezes a altura do sujeito. ISBN # Page# XICBB'2005 Análise Estatística: Foi utilizado o teste-t pareado com nível de significância de 0.05 para identificar diferenças entre as condições NUe U, e as variáveis estudadas foram as seguintes: ângulo do tornozelo e joelho, PRJ, torque no tornozelo, joelho e quadril, FQ e FPF. Todas as variáveis citadas, com exceção da PRJ, foram estudadas no instante em que a força compressiva era máxima. O software utilizado foi para essa estatística (teste-te correlações) foi o Matlab 6.5 (Mathworks inc). Resultados Na Figura 1, está representada a força do quadríceps normalizada (FQ) para um indivíduo representativo da média em ambas as condições (NU e U). Nota-se que a solicitação do músculo quadríceps é maior na condição Uque na NU. A força do quadríceps (FQ) normalizada pelo peso corporal (PC) foi maior na condição U que na condição NU (p=0,0009) sendo em média 5,7±1,6 PC na condição NU e 7,5±2,2 na condição U. Na Figura 2, é possível observar o pico da FQ para os 12 sujeitos em ambas as condições, sendo queem NU asforças tendem a serem menores na maioria dos sujeitos. Figura 1: Força do quadr íceps (FQ) normalizada pelo peso corporal (PC) par a um sujeito nas condições: não ultr apassando o joelho (NU) em azul e ultr apassando o joelho (U) em vermelho. 0 2 4 6 8 10 12 14 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Su je i tos F Q (P C ) NU U Figur a 2: Força do quadr íceps (FQ) normalizada pelo peso corporal (PC) para cada indivíduo nas condições não ultr apassando o joelho (NU) em azul e ultr apassando o joelho (U) em ver melho. A força compressiva foi normalizada pelo peso do indivíduo sendo que a força compressiva foi em média 49±34% maior nacondição U (p=0.0005). Na Figura 3, podemos observar como a FPF normalizada pelo peso corporal do sujeito (PC) se comportou para todos os sujeitos analisados. Nota-se que apenas para o indivíduo 1, aFPF não foimaior. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 S u j e i to s F P F (P C ) N U U Figur a 3: Força patelofemoral (FPF) nor malizada pelo Peso corporal dosujeito (PC) nas condições: não ultr apassandoo joelho (NU) eultr apassando ojoelho (U). Discussão Visandocomplementar os resultados dosestudos anteriores com uma análise mais acurada e determinar a força compressiva patelofemoraldurante o agachamento nas condições em que o joelho passa ou não a linha do pé, o presente estudo utilizou uma série de técnicas reconhecidas pelos biomecânicos como bastante acuradas. Estas técnicas foram: uma análise tridimensional (Alkjaer, Simonsen et al., 2001), com a utilização do sistema de clusters de marcas para melhorar a reconstrução das marcas anatômicas (Cappozzo, Catani et al., 1995), o método funcional de localização do centro articular do quadril (Piazza, Okita et al., 2001), e os torques e forças foram calculados nos eixos locais da articulação envolvida (Cappozzo, Catani et al., 1995). Além disso, no experimento foi controlada a cadência do movimento com um metrônomo e a análise foi feita baseada na média de vários ciclos obtidos pela normalização temporal das tentativas. Paraque os participantes alcançassem o objetivo de realizar o agachamento passando o joelho da linha horizontal do pé, a técnica de execução teve que ser alterada como visto na variação dos ângulos articulares do joelho e tronco. Na condição U (onde o indivíduo ultrapassa o joelho da linha do pé) o ângulo do joelho foi menor,enquanto que o participanteinclinou menos o troncoà frente para manter a projeçãodo centrode massa dentro da base de suporte. Na condição NU (o indivíduo não ultrapassa o joelho da linha do pé), onde o ângulo do joelho foi maior, o quadril do sujeito teve que se mantermais para trás para que o joelho não passasse a linha horizontal da ponta do pé. Para evitar a queda para trás, era necessário que o participante inclinasse seu tronco à frente, mantendo assim a ISBN # Page# XICBB'2005 projeção vertical do centro de massa dentro da base de suporte dos pés, o que promovia o equilíbrio do participante durante o movimento. Conclusão Não passar o joelho da linha do pé diminui a força de compressão patelofemoral, levando assim a uma menor solicitação mecânica nesta articulação. URL da página: www.usp.br/eef/lob Agradecimentos: Gostaria de agradecer à FAPESP (www.fapesp.br) pelo apoio financeiro. Número do processo: 03/03489-9 Referências [1] Wretenberg, P., Y. Feng, et al.High- and low-bar squatting techniques during weight-training.Med Sci Sports Exerc, v.28, n.2, Feb, p.218-24. 1996. [2] Escamilla, R. F., G. S. Fleisig, et al. A three- dimensional biomechanical analysis of the squat during varying stance widths. Med Sci SportsExerc , v.33, n.6, Jun, p.984-98. 2001 [3] ______. Effects of technique variations on knee biomechanics during the squat and leg press.Med Sci Sports Exerc, v.33, n.9, Sep, p.1552-66. 2001. [4]______. Biomechanics of the knee during closed kinetic chain and open kinetic chain exercises. Med Sci Sports Exerc, v.30, n.4, Apr, p.556-69. 1998.[5] Reilly,D. T. eM.Martens. Experimental analysis of the quadriceps muscle forceand patello-femoraljoint reaction force for various activities.ActaOrthop Scand , v.43, n.2, p.126-37. 1972. [6] Cohen, Z.A., H. Roglic,etal. Patellofemoral stresses during open and closed kinetic chain exercises. 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