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Análise de cercamentos na orla da Lagoa da Pampulha

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
ICS - Arquitetura e Urbanismo 
Urbanização e Arquiteturas no Brasil 
 
 
 
 
 
 
 
Análise de cercamentos na orla da Lagoa da Pampulha 
 
 
 
 
 
Prof (a): Alícia Duarte Penna 
 Alunas: Amanda Paiva da Fonseca 
 Lara Silvia Moraes Costa 
 Lívia Marques Fernandes 
Mariana Soares de Souza 
 Natália Lima de Andrade 
 Stella Maria Gonzaga Teixeira 
 
1°/2017 
 
 
Introdução 
 
Este trabalho pretende investigar e analisar as diferentes formas de cercamentos em habitações 
unifamiliares ao longo da orla da Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte. Entendemos que os 
elementos arquitetônicos que compõem os cercamentos, sejam eles muros, gradis, muros verdes ou 
cercas vivas, peles de vidro, entre outros, são elementos cada vez mais evidentes nas edificações e de 
grande importância para observar as mudanças tipológicas e ideológicas que ocorreram nas 
residências. Escolhemos a orla da Lagoa da Pampulha por ser uma área quase completamente 
residencial de habitações unifamiliares e por seu valor histórico e cultural para a cidade. 
 
Para realizar as análises partimos da identificação das diferentes variações de cercamentos presentes 
na área de estudo por meio de imagens de satélite e visitas de campo. Formulamos tabelas e mapas 
para efeito de comparação e análise quantitativa e separamos as tipologias de acordo com os estilos 
arquitetônicos de épocas diversas que pudemos observar: neocolonial, proto-moderno, moderno e 
contemporâneo. Na identificação dos estilos, ficou claro que somente pelos cercamentos não é 
possível definir o estilo da edificação, para isso tivemos que observar as características das casas, uma 
vez que seus muros podem ter sido instalados após a sua construção ou ter passado por uma 
demolição ou reforma. E em muitos casos não pudemos identificar o estilo arquitetônico da casa 
porque o muro era uma completa barreira, não conseguimos observar qualquer detalhe da edificação. 
 
Também procuramos identificar as determinações econômicas, políticas, sociais, urbanas, culturais e 
simbólicas das variações e das mudanças no processo produtivo. Entre essas determinações podemos 
citar a violência urbana, cada vez mais presente nas cidades atuais, a mudança no gosto e na forma de 
pensar das pessoas que preferem se isolar a contribuir com a paisagem e ambiência urbana, o medo e a 
desconfiança ao achar que a casa mais exposta está mais vulnerável, a ideia de que quanto mais alto o 
muro maior a segurança, ideia essa completamente oposta à concepção antiga de que quanto mais 
janelas e quanto mais pudesse ser mostrado da casa maior o poder representado. 
 
Os cercamentos são marcos das edificações, são o limite entre a rua e a construção, entre o público e o 
privado. A relação dos cercamentos com a rua, dos cercamentos com a casa e da casa com a rua 
também será analisada neste trabalho, tentando entender como se dá a interação entre esses e como 
ocorre a composição da divisão entre lote e rua. 
 
 
 
 
 
Diferentes tipos de cercamentos 
 
Os muros e cercamentos presentes no meio urbano apresentam uma grande diversidade e se 
relacionam com os vários elementos da cidade e com as pessoas, em tipologias residenciais, 
comercias ou em lotes; e até mesmo pela sua ausência ou pela sua imponência. Dessa forma, 
pesquisamos neste objeto de estudo suas variações, classificando-os de acordo com suas 
características estruturais e sua composição. Totalizando em dez tipos, são eles: Casas sem muro (1 
unid.); Muros Detalhados (9 unid.); Muros de Alvenaria Médio (77 unid); Muro de Pedra (10 unid); 
Pele de Vidro (9 unid); Muro com Acabamento (7 unid); Muros Extremamente Altos (25 unid); Muro 
Verde (38 unid); Gradil (32 unid); Gradil com mureta (47 unid). 
 
 ​ 1.​ ​ Casas sem muros 
 
Na Orla da Pampulha encontramos uma tipologia de casa sem muros, onde o único limite entre o 
público e o privado é o alinhamento do terreno com o que foi construído, portanto, por uma questão 
atual de segurança, não se vê muitos exemplares desse tipo. 
 
Um exemplo de casa sem muros é a Casa Juscelino Kubitschek, projetado em 1943 por Oscar 
Niemeyer, essa nos remete ao modo de habitar dos anos 40, 50 e 60. A casa moderna hoje é um 
museu, possui segurança 24 horas e uma guarita para isso. Nesse tipo de residência percebe que a 
retirada dos muros cria uma interação entre o público e o privado, além disso, permite ver toda a 
edificação, típico das edificações de estilo moderno. 
 
Muitas casas atuais na Orla foram construídas com essa mesma concepção de projeto, sem 
cercamentos, porém com o tempo elas foram adquirindo esse fechamento externo ou mesmo deram 
lugar a novas edificações. 
 
 
 
 
 
 
 
2.​ ​Muros detalhados 
 
Dentre os vários muros de alvenaria pela Orla, existem vários tipos de composição dos mesmos, esse 
tipo de muro que mescla diferentes elementos e modos construtivos classificamos como muro 
detalhado. O detalhamento no muro de alvenaria pode ser de vários modos, como por exemplo, um 
vazado permitindo ver um pouco da edificação, esse vazado pode ter algumas minis colunas imitando 
pórticos estilos arquitetônicos antigos. Outro exemplo seria um muro com parte composta por vidros, 
permitindo ver melhor as fachadas das casas. 
 
 ​ 3. Muros médios de alvenaria 
 
Os muros de alvenaria são os muros tradicionais, mais comuns atualmente. Feitos de tijolos e 
concreto o que confere a este tipo muita resistência e durabilidade. Eles podem ser chapiscados com 
concreto ou outro material de preferência do dono, e depois pode ser aplicada uma ou mais camada de 
tinta. 
 
Essa tipologia com altura média revela a intenção do morador em deixar sua casa à vista de todos, não 
havendo a preocupação em esconder a edificação e seus moradores. Mas a existência desse tipo de 
muro revela preocupação com a segurança dos moradores. Apesar de não ser tão alto, acaba 
segregando a residência do resto da vizinhança. Eles pertencem ao estilo contemporâneo, 
demonstrando a recente preocupação em manter as casas isoladas e “protegidas”. Uma pequena parte 
 
 
desses muros apresenta um reforço na segurança, com a presença de câmeras, cercas elétricas e 
concertinas 
 
· * Jardim muro casa 
Aqui a intenção é recepcionar tanto os visitantes quanto os pedestres, àqueles que irão usufruir da casa 
ou simplesmente do urbano. Além de valorizar a estética da casa, deixa a rua e a cidade muito mais 
agradáveis. Quando há esse tipo de disposição, em geral, os muros são mais ornamentados, com 
materiais e pinturas diferentes, uma alternativa ao habitual cinza. 
 
· * Muro jardim casa 
O jardim dentro do limite do lote, com o muro em altura média mostra que o morador se preocupa 
com a questão estéticado espaço, mas não considera que esse espaço poderia ser usufruído por todos, 
não somente os usuários daquela residência. Há certo individualismo por parte do proprietário. 
 
O fato de os moradores deixarem sua casa a vista de todos revela uma possível intenção em ostentar a 
residência, mostrar a vizinhança o quão bonita e grande ela é. Mas a presença do muro demonstra a 
vontade em individualizar e separar do restante, excluindo a socialização entre os moradores. 
 
 
 4. Muros de pedra médio-alto 
 
 
Os muros de pedra são aqueles construídos com pedras, a vantagem desse tipo de muro é que as 
pedras não se deterioram com o tempo como acontece com os blocos de cimento por exemplo. Esses 
muros apresentam um aspecto estético interessante uma vez que utilizam material natural e há uma 
certa preocupação em contribuir com a paisagem do entorno conciliando bem a paisagem natural da 
lagoa. 
 
 
 
Apesar de que em sua maioria escondem por completo a edificação, há uma preocupação estética no 
muro, com a utilização de pedras em sua ornamentação. Em geral, os muros em pedra seguem o estilo 
da casa, que possuem estilo rústico. Esse tipo de muro é uma peça chave no entorno da Lagoa da 
Pampulha, pois compõe esteticamente o espaço, apesar de contribuir para a segregação socioespacial. 
 
 5. Pele de vidro 
 
As peles de vidro são tipos de fechamentos em que o vidro substitui a alvenaria ou outro material 
opaco nos cercamentos. Elas permitem melhor visibilidade da construção e são correntes nas 
edificações, em sua maioria, de estilo contemporâneo que adotaram a estética presente no mercado 
atual caracterizada pelo uso em massa desse elemento. Composto por uma estrutura metálica para o 
arremate do vidro, eles permitem a interação entre quem passa na rua com a casa e vice e versa. 
 
Assim, é possível a troca de reconhecimentos visuais, estéticos e de segurança através da superfície 
translúcida, que varia de acordo com sua opacidade e cor. Essa barreira entre o público e o privado, 
nas casas observadas na orla da lagoa da Pampulha, preferencialmente, não expõem diretamente as 
residências. Elas compõem o visual empregado em suas fachadas e nos afastamentos frontais que, 
dependendo dos lotes, são maiores do que os previstos em lei. Além disso, algumas fazem uma 
interação com o paisagismo da residência, com canteiros plantados logo em frente ou nos jardins 
localizados após a delimitação da pele de vidro. Geralmente são de altura baixas para médias e 
algumas possuem cercas elétricas para o reforço da proteção. 
 
 
 
 
 ​6. Muros com acabamentos 
 
 
 
 
Os muros com acabamentos são aqueles em que se percebe uma preocupação estética nestes e uma 
intenção de interação dos transeuntes com a fachada das casas. São comuns em muros de alvenaria e o 
acabamento varia entre pedras, mármores, cerâmicas ou detalhes trabalhados em sua composição. 
Embora não muito comuns na orla da Pampulha, eles comportam os materiais escolhidos em toda sua 
extensão e produzem um diálogo com os elementos utilizados no arranjo dessas barreiras, como na 
estética dos portões. Sendo, geralmente, médios para altos, a ornamentação dos muros transmite uma 
diferenciação aos muros da rua, causando um impacto positivo nas pessoas que passam por eles. Além 
de dizer um pouco sobre a aparência das casas e sobre seus moradores, uma vez que há um custo 
relacionado na escolha desses acabamentos. 
 
 ​ 7. Muros extremamente altos 
 
Como a própria classificação diz, esses muros são extremamente altos, dificultando a interação 
casa-rua. Em muitos dos casos, sua altura impossibilita que as pessoas que passam nas vias observem 
o que acontece atrás dele, e vice-versa. Esses se parecem com as fortalezas medievais, que cercavam 
cidades para protegê-las de ataques dos inimigos. Foi possível perceber na área, que há outras 
variações desse tipo, como o fato de serem altos devido à inclinação do terreno. De maneira geral, são 
 
 
feitos de alvenaria podendo conter alguns detalhes/acabamentos estéticos que suaviza a imagem 
pesada que passam. Alguns possuem guaritas acopladas para garantir maior segurança. 
 8. Muro Verde 
 
A tipologia do muro verde pode ser facilmente identificada por se parecer com um jardim vertical. 
Apesar de estar fortemente ligado à estética, trata-se de uma opção sustentável para as cidades 
grandes, onde, geralmente, há poucas áreas verdes. Esse tipo de muro, além de embelezar a cidade, 
diminui a poluição atmosférica, pois retém a poeira e a fuligem. Normalmente nesta tipologia são 
utilizadas como vegetação as trepadeiras, bem conhecidas por serem plantadas no chão e crescerem 
pelas paredes dos muros. Mas também consideramos nesse tipo, pequenas árvores e arbustos que são 
plantadas perto entre si e perto do cercamento, onde fazem o papel de esconder a edificação/lote. 
 
 9. Gradil 
 
O gradil é um tipo de cercamento que apresenta o maior nível de exposição da residência, sendo os 
que mais valorizam as fachadas das casas já que o pedestre consegue visualizá-la por completo. As 
grades são uma das formas mais suaves de fechamento pois sua permeabilidade visual faz com que a 
diferença entre público e privado não seja tão abrupta. Porém muitas pessoas não a usam por questões 
de segurança, com o medo dessa superexposição. Na orla podemos ver que a maioria das residências 
que possuem esse tipo de cercamento tem características semelhantes como grandes jardins frontais e 
a residência no fundo do terreno. 
 
 
 
 10. Mureta com gradil 
 
As muretas com gradil mantêm a mesma ideia do uso das grades, fazendo com que a fachada da casa 
apareça mostrando para rua o que há dentro do lote. Geralmente os moradores utilizam das muretas 
quando possuem os jardins frontais que estão em níveis superiores ao passeio, A mureta pode ter 
diversos tamanhos, mas geralmente são mais baixas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Histórico da Pampulha 
 
Em 1936, na administração do prefeito Otacílio Negrão de Lima, iniciou-se o represamento do 
ribeirão Pampulha para construção da barragem da Pampulha, inaugurada em 1943, cuja finalidade 
era fazer o controle das cheias dos tributários e promover o abastecimento da cidade. Tais obras 
visavam minimizar o problema de abastecimento de água da capital e viabilizar a construção de um 
futuro aeroporto que fosse capaz de interligar a capital mineira ao Rio de Janeiro e a São Paulo, 
emergentes capitais políticas e econômicas do país. 
Os bairros que conhecemos hoje na Regional Pampulha surgiram da desapropriação ou do loteamento 
das antigas fazendas. Esse processo só começou na década de 1940 quando o então prefeito de Belo 
Horizonte, Juscelino Kubitschek, criou na zona Norte da cidade o complexo arquitetônico, 
paisagístico e de lazer da Pampulha, constituído de uma represa, prédios modernistas (IateClube, 
Cassino e Igreja), cuja arquitetura de Oscar Niemeyer, fez desse empreendimento o principal símbolo 
artístico e arquitetônico da cidade. 
 
 
Apesar de ter sido planejada como um espaço para ser compartilhado entre as diferentes classes 
sociais inicialmente, a Pampulha acabou atraindo exclusivamente a elite, tanto no uso dos espaços de 
lazer, quanto em relação à ocupação urbana. Os lotes ao redor da lagoa foram muito valorizados, pois, 
para compor o aspecto moderno da orla, era necessário que as famílias tivessem condições de 
construir residências luxuosas. Até mesmo pela área dos lotes é possível perceber que as residências 
que viriam ser construídas ali seriam de alto padrão. Esses lotes possuíam área de 1000 m², ao passo 
que os lotes dos conjuntos habitacionais do BNH possuem 200 m². 
Análise Geral 
 
As casas na orla da Lagoa da Pampulha pelo que pudemos observar são em sua maioria dos estilos 
moderno e contemporâneo. Esses estilos foram identificados pelos detalhes construtivos das casas, 
pois a época construtiva e as características dos cercamentos podem não nos contar sobre a edificação. 
Os muros das edificações muitas vezes foram modificados e adaptados para atender as demandas e 
acompanhar as mudanças que ocorreram nas cidades. A relação das pessoas e das casas com a rua foi 
se modificando ao longo dos anos, isso porque no início do século XX a maioria das casas nem sequer 
apresentava algum tipo de cercamento, o limite entre o público e o privado era simbólico e respeitado 
pelos cidadãos. Na contemporaneidade com o surgimento cada vez maior dos problemas de segurança 
e violência nas cidades brasileiras, os moradores das casas acabam criando verdadeiros enclaves 
fortificados para se proteger da criminalidade. Como foi identificado em algumas residências na orla 
da Lagoa da Pampulha e é apresentado na foto abaixo: 
 
Assim, estudamos as relações entre a casa e o cercamento, entre a casa e a rua e entre o cercamento e 
a rua. Quando citamos a rua neste contexto, ela representa o espaço público sendo usufruído por 
todos, produzindo interações de quem por ela passa, em suas dinâmicas recorrentes com o espaço 
privado e o uso de muros ou outros tipos de cercamentos. 
 
 
 
Os lotes nessa área possuem grande extensão, sendo essa uma característica da ocupação na região da 
Pampulha, o que faz com que os muros também sejam compridos, criando uma grande barreira visual 
e transformando a paisagem urbana. Foi possível perceber que as casas cuja visualização era 
permitida, possuem o mesmo estilo arquitetônico que o seu muro. Chegamos à conclusão de que 
devido ao fato de essa região ter sido ocupada recentemente comparada com as outras, suas casas e 
muros foram juntamente construídos. 
 
Desse modo, notamos que essas tipologias produzem diferentes formas de segregar os espaços, 
transformando-os em individualizados ou públicos, seja pela presença física ou visual da edificação 
que se encontra por trás dessas divisas. Além disso, da mesma forma que são sinônimos de divisão, 
separação, os muros também remetem a ideia de proteção, segurança o que logo é associado a 
vedação e ao enclausuramento. Atualmente, a questão da segurança é algo imprescindível para todos 
em relação a sua morada. 
 
Os muros extremamente altos, geralmente são escolhidos por oferecerem um vínculo de segurança, 
porém impedem qualquer relação entre o meio externo e interno, transpassando uma relação de 
indiferença para quem passa pela rua e para quem reside o local. Muros altos, em sua maioria, 
contribuem para a segregação socioespacial, isolando a casa e as atividades cotidianas do resto da 
cidade. Além disso, eles não permitem a livre passagem por entre as casas, limitando os trajetos dos 
pedestres e padronizando a circulação, desestimulando a genuína experiência da vida pública. 
 
 
Já os Muros de Pedras e os Muros Verdes são em sua maioria de altura média, remetendo a um uso 
mais conservador para residência, possuindo uma aparência visual mais sóbria e discreta. Os muros de 
pedra encontrados na orla da lagoa se portam de acordo com a estética adotada pelos moradores em 
suas residências, enquanto os muros verdes se comparados aos de pedra são mais comuns e 
transmitem uma relação de conforto por se tratar de uma alternativa natural associada a alvenaria. 
Entretanto o descuido dos proprietários na sua manutenção, restringe o uso de quem passa pela rua, 
principalmente o pedestre, limitando seu livre acesso. Desse modo, esses muros também podem 
induzir o isolamento das casas em relação ao espaço público. 
 
 
 
 
Os muros fragmentam a cidade. O alto número de muros em alvenaria, sejam os mais frequentes com 
acabamentos simples em tinta, assim como os muros com acabamento mais específico como aqueles 
revestidos por pedras, mármores, ou até mesmo aqueles que não possuem acabamentos, revelam a 
intenção em manter a casa isolada, separada do resto da vizinhança e daqueles que usufruem da Lagoa 
da Pampulha. A permanente busca por segurança materializa-se na constante elevação dos muros e 
das grades, na construção de cercas elétricas, arame farpado, câmera de segurança, em alguns casos o 
uso de guarita, na elaboração de sistemas de segurança cada vez mais tecnológicos. Na maioria das 
vezes em que se apresentava essa tipologia de muro, não foi possível estabelecer uma comunicação 
visual, apenas quando faz parte da extensão do muro o uso de portões com aberturas, que são mais 
insignificantes para quem está no lado da rua do que para quem se encontra dentro do lote. 
 
 
 
Em alguns lotes foi possível perceber uma relação amigável entre casa e cidade, com a utilização de 
gradis ornamentados, ou gradis com mureta, ou com o uso de pele de vidro, geralmente com 
baixa/média altimetria, passeios largos e presença de jardins ou canteiros completando sua 
composição. Essas características deixam a cidade mais harmoniosa e agradável, convidando a todos a 
utilizar dos espaços da cidade, e permitindo também a interação social. Há uma barreira física mas 
essa não se constitui como barreira visual integral, ou seja, são opções menos hostis para com o 
espaço público e seus usuários. 
 
 
 
 
 
Contudo, as barreiras físicas e visuais, em algumas residências na orla da lagoa da Pampulha, vão 
além dos muros e cercamentos. A topografia e a extensão dos lotes também são utilizados em favor do 
isolamento no sentido de fortalecer a privacidade e a proteção de seus moradores. Fato esse reflexo da 
histórica ocupação local, com terrenos de grandes extensões, devido a incidência de casas/sítios, na 
qual podemos associar com os cercamentos em gradis ou ao uso de muretas associado a gradis, para 
nivelar sua topografia. Em alguns casos, os muros e cercamentos revelam a interação e as limitações 
das edificações com a inclinação dos terrenos, de forma que são construídas grandes rampas deacesso, geralmente para passagem de carros, enquanto as casas se encontram recuadas nos lotes. 
 
Análise sobre cultura do medo e a violência urbana alterando as dinâmicas urbanas 
 
A descrença e a desconfiança na capacidade dos poderes públicos, em garantir a segurança dos 
cidadãos, tem levado a uma progressiva transferência dessa responsabilidade para as empresas 
privadas de segurança e consequentemente para os seus consumidores. O medo das grandes cidades, o 
medo de ter a própria casa invadida e o medo de ser assaltado nas ruas é o que nos faz preferir não sair 
de casa, como por exemplo, pedir comida a domicílio a ir em um restaurante. É o medo da violência 
urbana e o medo das contradições sociais que se manifestas no espaço. A violência atinge patamares 
inéditos ​e faz com que grupos sociais, que se julgam possíveis alvos de atentados criminosos, 
busquem ou tenham a ilusão de alcançar a proteção. Assim, afastam-se das possibilidades de encontro 
com aqueles que consideram diferentes e, por conta disso, perigosos. 
 
Em virtude desse medo, erguem-se muros, instalam-se câmeras, trancam-se as casas e, se possível, 
contratam-se seguranças. Nessa lógica, os muros aumentam e individualizam as nossas relações, que 
estão cada vez mais virtuais e cada vez mais “vazias”. E por fim, vive-se nessa ilusória segurança, 
nessa falsa paz dentro do cativeiro criado por nós mesmos. 
 
“As grades do condomínio 
São para trazer proteção 
Mas também trazem a dúvida 
Se é você que está nessa prisão” 
 Minha alma – O Rappa 
 
 
 
 
 
Análise da disposição dos cercamentos no terreno e suas implicações 
 
Outro ponto a ser discutido é de como muro está disposto no terreno, e as consequências disso sobre a 
comunicação entre a casa e a rua. A respeito dessa configuração, podemos condicionar dois modelos 
encontrados nos lotes da região: o primeiro seria o muro localizado logo na delimitação da calçada; já 
o segundo, seria aquele muro que possui um afastamento maior do passeio, formando um jardim em 
frente à propriedade. 
 
Os muros que se localizam logo no fim da calçada, que são grande maioria na região, possuem uma 
área maior privada de seu lote. Independentemente se o seu cercamento seja de gradil ou alvenaria, ou 
que seja alto ou baixo, o proprietário não está preocupado em fazer um espaço que seja compartilhado 
por todos e que ocupe uma parte da sua propriedade. Se analisarmos a partir de cada tipologia de 
muro, os cercamentos com gradil, pele de vidro, ou com alvenaria de altura baixa e média – esse 
dependendo da inclinação do terreno -, apesar de terem suas edificações ​vistas por quem passa na rua, 
e mesmo que se preocupem com a estética dos seus jardins que também serão vistos, existe o 
“egoísmo” do proprietário de só querer ostentar o que possui, e de não deixar os demais utilizarem. 
 
Sobre os muros extremamente altos, o proprietário além de não estar preocupado em fazer um espaço 
público no seu terreno, não quer a permanência das pessoas em frente sua casa. Cria um ambiente 
totalmente impessoal em relação à rua, e tira a total visibilidade do pedestre, que tende a ter mais 
medo de permanecer no local, transformando a calçada em um lugar exclusivamente de passagem. 
 
 
Já os que possuem um afastamento maior da rua, acabam criando jardins em suas entradas. A ideia 
desses espaços é de recepcionar tanto os visitantes quanto os pedestres, àqueles que irão usufruir da 
casa ou simplesmente do meio urbano. Além de fazer parte da estética da casa, esses deixam a rua e a 
cidade muito mais agradáveis e atraentes para circular. 
 
A utilização desses jardins trata-se de gentileza urbana, onde o elemento favorece o urbanismo e o 
paisagismo público em seu entorno. Não existe uma lei obrigando que todas as construções criem esse 
espaço em frente a sua propriedade, é de escolha do proprietário, mas existem influências na região, 
de casas construídas na época do modernismo que já possuíam essa área verde na frente do muro. 
 
Aprofundando na relação jardim-muro vemos que, em muito dos casos, o jardim acaba sendo um 
complemento do muro, seja estético, de segurança e/ou de dar maior privacidade para os moradores da 
casa. Os muros verdes são um exemplo do papel estético, pois são como um jardim vertical, que 
utilizam da planta trepadeira para embelezar muros de alvenaria ou pedra. O uso de árvores/arbustos 
muito próximos dos muros também entram nessa categoria por embelezarem e esconderem um 
cercamento que talvez não estivesse bonito. Porém o uso dessas vegetações mais adensadas próximas 
aos muros, sejam elas antes dele ou depois, mostram que possuem outra finalidade. Essa vegetação 
passa a ser como uma cerca viva que além de dificultar que alguém pule o muro, serve para esconder 
uma propriedade que utilize de cercamentos que são fáceis de observar através deles, como os gradis e 
os muros de pele de vidro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conclusão 
 
Os muros instigam. Prometem o inimaginável, atiçam a curiosidade. Alguns deixam um gostinho de 
quero mais; uns mostram de mais, outros de menos. Mas todos deixam no ar o que será que está por 
trás, o que eles escondem ou tentam esconder. Com essa pesquisa pudemos refletir sobre como se dá o 
processo produtivo do cercamento, no caso específico da orla da Lagoa da Pampulha, e como esse 
processo foi modificando e se adaptando às necessidades da cidade contemporânea. Percebemos que a 
grande maioria das casas contemporâneas, maior estilo arquitetônico identificado, utilizam o muro de 
alvenaria médio/alto como forma de delimitação entre o público e o privado, o que reflete a grande 
preocupação atual com a segurança, mas também uma preferência pelo isolamento e privacidade. E 
também certo individualismo. 
 
Entretanto, ficamos impressionadas com o fato de que uma grande parcela das residências utiliza os 
cercamentos do tipo mureta com gradil e muros verdes, respectivamente os mais utilizados depois dos 
de alvenaria. Isso porque tanto as muretas com gradil quanto os muros verdes são variações que 
permitem um maior diálogo entre os transeuntes e as edificações e também compõe melhor a 
paisagem, criando maior interação entre a edificação e seu entorno, sendo alternativas mais agradáveis 
e menos hostis. 
 
 
 ​O que os muros e cercamentos nos revelam sobre a região da Pampulha? 
 
Pela análise que fizemos dos cercamentos das casas da orla da Pampulha concluímos que em alguns 
pontos as casas deixaram de ter sua função inicial de residência e ganharam novos usos como de 
salões de festa e lar de idosos. Além disso, percebemos que muitos lotes em uma região específica da 
Lagoa nem sequer foram ocupados. Em outros pontos identificamos o descuido com as casas e com 
seus cercamentos e até mesmo o abandono. 
Assim, ficou claro para nós a obsolescência da região, também observada nas placas de venda e 
aluguel em algumas casas e a falta de interesse em residir ali. A Pampulha deixou de ser alvo da 
populaçãocom maior poder aquisitivo como ocorreu nas primeiras décadas de seu surgimento, em 
que muitas pessoas buscavam morar ali para aproveitar dos espaços de lazer. Isso pode ser justificado 
pela cultura do medo gerada pela violência urbana e pela distância da região tradicional da cidade 
onde concentra a maioria do comércio e serviço. Essa população tem preferido os condomínios de 
luxo, que concentram a segurança e a comodidade tão almejada.

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