Buscar

A TEORIA QUÂNTICA DO DIREITO E SUA APLICABILIDADE NO JULGAMENTO DO HABEAS CORPUS 107801 SP

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A TEORIA QUÂNTICA DO DIREITO E SUA APLICABILIDADE NO JULGAMENTO DO HABEAS CORPUS 107.801/SÃO PAULO/STF
ÉDER SOARES ANTÔNIO
Acadêmico do sexto período do Curso de Direito do Centro Universitário de Itajubá FEPI, Estagiário da Coordenação do Curso de Direito do Centro Universitário de Itajubá- FEPI, Monitor de: Introdução ao Estudo do Direito, Sociologia Jurídica, Ciência Política, Direito Constitucional I, Direito Civil, Direito Processo Civil I; Neófito Ordo Rosae Crucis e embaixador de Cristo.
Área do Direito: Constitucional; Penal; Hermenêutica e Decisão Jurídica.
Resumo: Levanta-se neste artigo a análise dos institutos do dolo eventual e da culpa consciente sinalizando suas diferenças no âmbito dos homicídios causados por veículos automotores. A priori destaca-se o dolo, descrevendo sua definição, as teorias existentes e demais elementos relevantes para sua fácil intelecção. A posteriori será analisado o instituto da culpa, nos moldes do dolo. O terceiro e último capítulo abordam as diferenças entre dolo eventual e culpa consciente nos homicídios em decorrência de acidentes de transito com embriaguez no volante, um estudo sob a ótica da teoria do Direito Quântico como jurisprudencial. Após o exame dos institutos em questão, conclui-se que o fator primordial que determinará se o homicídio causado por condutores de veículos automotores é doloso ou culposo é a esfera subjetiva do agente. Ressalta-se ainda a imediata necessidade de uma análise subjetiva em cada caso semelhante por parte dos Tribunais do Júri, com o intuito de se evitar incorreções ao estabelecer a interpretação do artigo 18, inciso I do nosso Código Penal.
Palavras-chave: Direito, Interpretação do Direito, Teorias, Dolo eventual. Culpa Consciente, Acidente de Trânsito. 
Abstract: Get up in this article the analysis of the eventual intention institutes and conscious guilt signaling their differences under the homicides caused by motor vehicles. A priori there is the intent, describing its definition, existing theories and other elements relevant to its easy intellection. The post will be considered guilty of the institute, similar intent. The third and final chapter addresses the differences between eventual intention and conscious guilt in homicides due to car accidents with drunk driving, a study from the perspective of legal theory and jurisprudence Quantum. After examining the institutions in question, it is concluded that the primary factor that will determine whether the homicide caused by drivers of motor vehicles is willful or grossly negligent is the subjective sphere of the agent. We also emphasize the immediate need for a subjective analysis in every similar case by the jury courtrooms, in order to avoid mistakes when making the interpretation of Article 18, paragraph I of our Criminal Code.
Keywords: Law, Interpretation of Law, Theories, Dolo possible. Conscious guilt, Traffic Accidents.
INTRODUÇÃO
O presente artigo científico tem por objeto a análise dos institutos do dolo eventual e da culpa consciente apontando as suas diferenciações no âmbito dos homicídios causados por condutores de veículos automotores em estado de embriaguez alcoólica.
Tal estudo tem como objetivo verificar as circunstancias em que o agente causador de um acidente de trânsito com embriaguez alcoólica, e consequentemente da morte da vítima poderá ser julgado no Tribunal do Júri, em face de a caracterização do dolo eventual ou da culpa consciente.
A escolha do título tem sua justificativa no HC 17.801/SP que desqualificou o tipo penal homicídio doloso, praticado por condutor de veículo automotor em estado de embriaguez alcoólica, para homicídio doloso reformando decisões de tribunais inferiores cuja divergência interpretativa prevalecia entre magistrados, promotores e advogados sobre o mesmo fato.
Para a pesquisa foram levantadas as seguintes hipóteses:
A característica fundamental do dolo é a vontade do agente em que a conduta se realize;
A negligência é uma característica de culpa e tem como fundamento a ausência de precaução, a falta de cuidado, é a inércia do agente que, podendo tomar as cautelas exigíveis, não o faz por displicência, preguiça, desleixo ou desatenção;
 O dolo eventual deve ser equiparado legalmente ao dolo direto no tocante aos seus efeitos, ou seja, no dolo eventual deve haver um grau de intensidade no que se refere à produção do resultado que seja equivalente a que se desenvolve no dolo direto;
Na culpa consciente, apesar do agente estar consciente de que com sua conduta há possibilidade da realização do tipo, o agente não se coloca há possibilidade da realização do tipo, o agente não se coloca de acordo com a produção do resultado lesivo, ele crê que poderá evitá-lo;
Na questão relativa ao atropelamento fatal o dolo eventual ou a culpa consciente só poderão ser caracterizada frente a análise dos elementos subjetivos.
	Na tentativa de responder a estas hipóteses, dividiu-se o trabalho em três capítulos, sendo que, no primeiro capítulo far-se-á uma análise da teoria do dolo, seus conceitos e pontos principais.
	No segundo Capítulo estudar-se-á o instituto da culpa, procurando demonstrar os pontos de maior relevância para o tema, destacando-se conceito, tipos e modalidades.
	No terceiro e último capítulo procurar-se-á, especificamente, diferenciar, detalhadamente, os institutos do dolo eventual e da culpa consciente, com destaque para situações de homicídios cujo agente ativo encontrava-se em estado de embriaguez no volante. Pois, como dito anteriormente a sanção aplicada pode ser bastante diferente.
	Saber se o agente foi impulsionado pelo dolo ou pela culpa no momento da ação praticada em desconformidade com os preceitos legais requer do jurista uma exegese mais minuciosa, pois de acordo com o entendimento do magistrado à luz do caso concreto, será o agente reprimido com maior ou menor intensidade por parte do Estado.
	O Método ou “forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar, tratar os dados colhidos e relatar os resultados”, segundo Luiz César Pasold em sua obra ‘Prática da Pesquisa’(8ªed.rev.atual.amp.Florianópolis:OAB/SC Editora, 2003,p.104); na fase do Relatório da Pesquisa será empregada à base indutiva do já aludido autor.
	
CAPÍTULO 1
DO DOLO
- CONCEITO
		O Código Penal Brasileiro define o crime doloso em seu artigo 18, inciso I, assim aduzindo: “o crime é doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.”.
		Segundo Cláudio Heleno Fragoso em sua obra titulada Lições de direito penal: Parte Geral, a definição de dolo é: “a consciência e vontade na realização da conduta típica. Compreende um elemento cognitivo e um volitivo.”.
		Na doutrina de Eugênio Raúl Zaffaroni “o dolo é elemento nuclear e primordial do tipo subjetivo”. Dessa maneira, via de regra, os crimes são sempre dolosos. Eventualmente o tipo penal pode acolher a modalidade culposa na conduta do agente ativo, todavia, isto só se torna possível se houver a previsão legal, ou seja, o dolo é regra e a culpa, exceção positivada. Sobre um prisma amplo e lato sensu, o dolo se constitui como sendo a vontade de concretizar os elementos do fato típico. Constitui elemento subjetivo do tipo.
- DOLO NATURAL ‘versus’ DOLO NORMATIVO
		A priori conceberam duas principais teorias a respeito do dolo.
		Para a doutrina clássica o dolo é normativo, pois contém a consciência da ilicitude. Tal teoria defende a ideia de que o dolo pertence à culpabilidade, o dolo não integra a conduta.
		Para esta teoria, o dolo é natural, representado pela vontade e consciência de realizar o comportamento típico que a lei prevê, mas sem a consciência da ilicitude. Assim, o dolo persiste mesmo quando o agente atua sem a consciência da ilicitude de seu comportamento, este caso continua existindo o dolo e apenas a culpabilidade do agente ficará atenuada ou excluída.
		Segundo Damásio de Jesus a prova que o dolo não contém a consciência de ilicitudeestá expressa no artigo 21 do Estatuto Repressivo brasileiro. Este artigo dispõe que se o sujeito atua sem consciência da ilicitude do fato, fica excluída ou atenuada à culpabilidade, se inevitável ou evitável erro. O dolo subsiste. Ou melhor, a partir da análise do Estatuto Repressivo, percebe-se que a teoria adotada pela legislação é a finalista, e que o conceito de dolo normativo não é utilizado normalmente.
- DOLO GENÉRICO ‘versus’ DOLO ESPECÍFICO
		Para os autores que defendem a teoria finalista da ação não deve existir essa divisão dentro do dolo, pois este é único, ele apenas varia de acordo com cada figura típica.
		Os finalistas chamam o especial fim de agir (por exemplo: art.219 do CPB: “Raptar mulher honesta, mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso”.) de elemento subjetivo do tipo.
		Os autores clássicos defendem a divisão do dolo em genérico e específico. Entendem que no primeiro há a vontade de praticar o fato descrito em lei. Já, no dolo específico, além da vontade de praticar o fato descrito em lei, o agente quer a realização de um fim especial.
		Na concepção de Damásio de Jesus não se deve aceitar a teoria clássica, pois na própria ideia elementar de dolo já existe a vontade de produzir o resultado. Sendo assim, não se observam alterações quando este se encontre no fato material ou fora dele. Se a vontade é a mesma; o dolo não altera.
		
- ELEMENTOS DO DOLO
		A partir do conceito de dolo emanado de Fragoso, pode-se identificar a presença de dois elementos fundamentais para a sua configuração. Há um elemento volitivo e um elemento cognoscitivo (conhecimento do fato).
		O elemento volitivo diz respeito á vontade do agente de praticar o tipo objetivo. Essa vontade deve necessariamente ser atual, presente no instante de agir e este agir deve estar dirigido à consecução do fim almejado. A vontade é incondicionada, no sentido de constituir uma decisão de ação definida. Deve ser capaz, ou seja, determinante para o acontecimento real, de maneira que o resultado típico possa ser definido como obra do autor, e não como mera esperança ou anseio.
		Não se pensa na presença da vontade quando esta fica fora da possibilidade de influencia do agente. A vontade como elemento do dolo pressupõe a efetiva possibilidade de influir no evento. Por exemplo, se um Sargento PM ordena a um Soldado que atravesse um rio que normalmente é muito calmo, sem presença habitual de perigos, e espera que este seja atacado e morto. Não haverá vontade homicida, caso a morte ocorra por superveniência da ocorrência do fato. A situação seria distinta, se o Sargento PM soubesse que a morte do Soldado seria certa ao passar pelo rio.
		Conforme aduz Fragoso “vontade de realização da conduta típica compreende aquilo que o agente pretende alcançar como objetivo de sua ação; o meio e o resultado necessário para alcançar esse objetivo, bem como o resultado possível que assumiu o risco de produzir.”.
		Entra-se no mérito do elemento cognoscitivo. Para que exista dolo é preciso que o agente conheça efetivamente os elementos positivos requeridos no tipo objetivo. Pressupõe-se que o dolo abrange todos os elementos objetivos da ação típica e a querência da realização da ação típica, com base nessa abrangência de conhecimento.
		O conhecimento, segundo Fragoso, deve ser na hora em que pratica o ato. Não existe dolo subsequente. O agente deve ter o conhecimento efetivo da ação e das circunstâncias previstas na incriminação do fato, do resultado e da correspondência de relação de causalidade.
		Para Eugenio Raul Zaffaroni o dolo requer o conhecimento efetivo, a possibilidade deste, não pertence ao dolo.
		Os elementos cognoscitivo e volitivo são imprescindíveis para a caracterização do dolo. Para Giuseppe Bettiol “a previsão sem vontade é vazia e a vontade sem previsão é cega: não se pode prescindir nem de uma nem de outra.”.
- TEORIAS SOBRE O DOLO
		Segundo o Professor Rogério Greco existem quatro teorias que tentam explicar o conceito de dolo. São elas:
Teoria da Vontade;
Teoria da Representação;
Teoria do Assentimento ou Consentimento;
Teoria da Probabilidade.
Teoria da Vontade
	Segundo a teoria da vontade, o dolo seria tão somente a vontade livre e consciente de exprimir vontade humana (querer realizar o tipo objetivo de um crime), isto é querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador.
	Os defensores desta teoria acreditam para que haja a instituição do dolo é preciso haver a presença de dois requisitos basilares: a) quem realiza o ato deve conhecer os atos e sua significação; b) o autor deve estar disposto a produzir o resultado (necessidade compulsória de representação e vontade).
1.5.2 Teoria da Representação
	Para a teoria da representação pode-se falar em dolo toda vez que o agente tiver tão somente a previsão do resultado como possível e ainda quando decidir pela continuidade de sua conduta. Os escudeiros dessa teoria acreditam que não se deve perquirir se o agente havia assumido o risco de produzir o resultado, ou se, mesmo prevendo como possível, acreditava sinceramente na sua não ocorrência. Assim conclui-se que para a teoria da representação não existe a distinção entre dolo eventual e culpa consciente, pois a antevisão do resultado leva à responsabilidade do agente a título de dolo.
	Na ótica ‘Mirabetiana’ “a simples previsão do resultado, sem a vontade efetivamente exercida na ação, nada representa e que, além disso, quem tem vontade de causar o resultado evidentemente tem a representação deste. Sendo assim, a representação já está prevista na teoria da vontade”.
	Ainda não obstante Aníbal Bruno aponta uma incorreção grave dessa teoria no que diz respeito á culpa consciente. Se a representação bastasse, os casos de culpa consciente seriam de crime doloso, pois seria suficiente o bastante que o agente ativo previsse o resultado, embora não anuindo que ele ocorresse. Não resolveria o problema do dolo eventual cujos limites a simples representação é insuficiente para fixar.
 Teoria do Assentimento
 Para a instituição do dolo é preciso que o agente faça a previsão do resultado, sem que se exija que o sujeito queira produzi-lo. Ou seja, o dolo existe com o simples consentimento do agente de causar o resultado ao praticar a conduta.
 É observável pela redação do art.18 do estatuto repressivo e na esteira de Cezar Bitencourt, que o Código Penal adotou a Teoria da Vontade, quanto ao dolo direto e a Teoria do Assentimento para o dolo eventual.
 ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO
	Existem tipos penais em que o tipo subjetivo não é constituído apenas pelo dolo. Esses elementos diversos do dolo que fazem parte do tipo subjetivo recebem a nomenclatura de elementos do tipo diverso do dolo. Para Zaffaroni “são aqueles exigidos no tipo que forem diferentes do mero querer a realização do tipo objetivo”.
	A primeira delas relaciona-se com a finalidade do agente, é o fim especial da conduta que está descrito no próprio tipo penal.
	A segunda diz respeito a uma tendência especial da ação, como por exemplo, o ginecologista que, ao examinar uma mulher, pretende satisfazer a própria lascívia, está praticando o crime de atentado ao pudor mediante fraude (art.216 CPB).
	A terceira espécie se relaciona com o estado da consciência do agente sobre circunstancias inscritas em certas descrições legais. Exemplo: só existe crime de denunciação caluniosa quando o autor imputa a vítima crime de que o sabe inocente (art.339 CPB).
	O quarto e último tipo de elemento subjetivo está intimamente ligado com o momento especial de ânimo do agente. Logo, só haverá homicídio qualificado “por motivo torpe” se houver o intuito ignóbil por parte do agente. 
		
 ESPÉCIES DE DOLO
		O Código Penal em seu artigo 18, inciso I expõe que: “o crime é doloso quando quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Dessa forma percebe-se a existência de duas espécies e dolo.
		A primeiraparte do inciso (quando o agente quis o resultado) trata do dolo direto. A segunda parte (assumiu o risco de produzi-lo) refere-se ao dolo eventual.
		Grande parte dos autores adota a seguinte nomenclatura para as espécies de dolo: dolo direto ou determinado e dolo indireto ou indeterminado. Sendo que esta última se subdivide em alternativo e eventual.
 		O presente estudo fica restrito aos conceitos e explicações sobe o dolo e do dolo eventual, com uma rápida menção ao dolo alternativo.
		
Dolo Direto
	Para Fragoso: “Existe dolo direto na circunstância em que o agente se propõe à realização da conduta típica. A vontade se dirige à realização do fato que configura o delito.”.
	É irrelevante a dúvida quanto à possibilidade de se alcançar o resultado. Logo, não deixa de existir dolo direto se o agente desfere tiros em direção à vítima sem saber se conseguirá atingi-la.
	Segundo este autor, “há também dolo direto em relação ao meio e ao resultado que estão ligados, à realização da conduta típica, mesmo que não sejam desejados pelo agente”. É o chamado do dolo de consequências necessárias.
 	A lei brasileira possui a definição legal de categorias científicas inconvenientes, pelo risco de fixar conceitos em definições controvertidas. O dolo direto, não é definível pela expressão querer o resultado, pois existem resultados que o agente não quer ou, até, lamenta, atribuíveis como dolo direto; nem a fórmula de assumir o risco de produzir o resultado, que reduz o conceito de dolo ao elemento volitivo, parece suficiente para definir o dolo eventual.
	 Em decorrência dos problemas expostos, autores propõem a seguinte divisão:
 a) dolo direto de 1º grau;
 b) dolo direto de 2º grau;
 c) dolo eventual.
	 O dolo direto de 1º grau ocorre quando se trata de um fim diretamente desejado pelo sujeito, ou seja, é a pretensão de realizar a ação ou o resultado típico.
	O fim desejado pelo sujeito pode ser representado pelo autor como certo ou possível, desde que haja uma chance mínima de ser produzido que constitua risco juridicamente relevante, dessa maneira deixa-se fora os resultados meramente acidentais. Exemplo: há dolo quando o agente dispara um tiro à longa distancia em determinada vítima com a intenção de homicídio, mas não há dolo ao convencer uma pessoa a passear durante uma tempestade na esperança de que um cataclismo venha a fulminá-la.
	O dolo direto de 2º grau ocorre quando o resultado é querido como consequência necessária do meio escolhido para a obtenção do fim. 
	Deve-se observar que estes efeitos secundários produzidos pela ação independente de serem desejados ou não pelos autores fazem parte do dolo direto de segundo grau.
 Dolo Eventual
	O artigo 18, inciso I em sua segunda parte dispõe sobre a previsão legal para o dolo eventual.
		Art.18 Diz-se o crime:
I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
	Pode-se dizer que o dolo eventual ocorre quando o agente assume o risco de produzir o resultado do crime. Aduz Fragoso que “assumir o risco significa prever o resultado como provável e possível e ainda aceitar ou consentir sua superveniência”.
		O sujeito antevê o resultado e pratica o ato. A vontade não se dirige ao resultado, mas sim a conduta, prevendo que esta pode produzir aquele.
		Conforme registra Aníbal Bruno: a vontade não se dirige propriamente ao resultado, mas apenas ao ato inicial, que nem sempre é ilícito, e o resultado não é representado como certo, mas possível.
		O dolo eventual é distinto do direto. Aqui, ocorre a aceitação da possibilidade do resultado. É a conduta daquele que diz: “não me importo”. A diferente eles deve ser dar primeiramente no plano do sentido da atividade, com base no elemento intelectivo, e, depois na postura volitiva.
		Zaffaroni em sua obra destaca alguns casos comuns e dolo eventual que ocorrem quando o sujeito ativo não conhece, com certeza, a existência dos elementos requeridos pelo tipo objetivo, duvidando da sua existência e, apesar disto, age, aceitando a possibilidade de sua existência.
		O conceito de dolo eventual trazido pelo Código Penal através da expressão “assumiu o risco” é “impreciso”, pois acarreta confusão com a culpa consciente. Saber se o agente foi impulsionado pelo dolo ou culpa no momento da ação praticada em desacordo com os preceitos legais requer do jurista uma exegese mais minuciosa, pois qual seja o resultado alcançado, será o agente reprimido com maior ou menor intensidade por parte do Estado.
 Dolo Alternativo
		De acordo com Bastos Júnior “quando o agente não visa um resultado certo, o dolo se diz alternativo”. Ocorre quando o agente deseja um dos resultados possíveis de sua conduta, como no caso em que golpeia a vítima objetivando, indiferentemente, matá-la ou feri-la
		Neste tipo de dolo o agente ativo não delimita o tipo penal exato que quer concretizar. Exemplo: Afonso quer provocar o aborto com o consentimento da gestante (art. 124 CPB) ou sem seu consentimento (art. 125 CPB).
CAPÍTULO 2	 
A CULPA
2.1 CONCEITO
		Note-se que o Código Penal em seu artigo 18, II traz uma sucinta definição do que seria um delito culposo, contudo esse conceito não fornece requisitos suficientes para delimitação do que seria um tipo culposo. Sendo assim, a doutrina se encarregou de conceituar o crime o tipo culposo, assim elencar alguns requisitos para sua configuração.
		Como conceito bastante esclarecedor, tem-se a lição de Rogério GRECO que diz se o crime culposo é a conduta humana voluntária que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, que podia com a devida atenção ser evitado.
		Tendo sido delimitado o conceito da conduta culposa, passa-se a discussão dos elementos caracterizadores do tipo culposo, segundo Rogério Greco.
 
2.2 ELEMENTOS DO TIPO CULPOSO
	A) Conduta humana voluntária: Observa-se que a conduta humana caracterizadora do crime de homicídio culposo, segundo a teoria finalística do fato típico tem sempre um fim lícito, é segundo Eugênio Raul Zaffaroni, citado por GRECO “uma conduta dirigida a um fim juridicamente lícito”. Com efeito, por esse motivo que o legislador tipificou o delito em estudo como culposo, pois a finalidade de guiar um veículo automotor é lícita, entretanto em determinadas ocasiões os meios escolhidos pelo motorista como forma de ultrapassagem ou velocidade empregada podem acarretar um acidente, deste vindo a vitimar fatalmente alguém, resultado este não desejado pelo motorista.
	B) Inobservância de um dever objetivo de cuidado: Trata-se da violação ao que diz o artigo 18 do Código Penal, esse dever objetivo decorre de regras naturais oriundas do comportamento em sociedade cuja finalidade precípua é a harmonia, isso para os crimes culposos em geral, pois em relação ao delito em estudo, o artigo 28 do CTB, ainda que genericamente exija a observância de um dever objetivo aos motoristas.
	C) Resultado lesivo não querido e não assumido pelo agente: O resultado é conditio sine qua non para a configuração do delito em estudo, pois como visto anteriormente em sua classificação, trata-se de um crime de dano, ademais a inobservância de um dever objetivo de cuidado que não acarrete nenhum dano, nenhuma modificação no mundo dos fatos será interpretada como um indiferente penal. Por exemplo, se um indivíduo ultrapassar um sinal em ocasionar nenhum acidente, essa conduta, de acordo com o princípio da intervenção mínima não será relevante para o direito penal, subsistindo no máximo uma infração administrativa pelo avanço do sinal.
		Nexo de causalidade entre a conduta praticada e o resultado dela advindo – Por tratar-se de crime de dano, esse só será imputável se houver um nexo decausalidade entre a conduta do agente e o resultado ocorrido. 				
 D) Previsibilidade: Observe-se que este critério condiciona o dever de cuidado e deve ser aferida no caso concreto. No entanto, a doutrina utiliza se de dois critérios antagônicos para caracterizá-la, a saber: previsibilidade subjetiva, que consiste na análise do caso concreto, devem ser analisadas as circunstâncias pessoais do agente causado do dano e verificar se era possível ou não evitar o resultado danoso.
		Note-se que a utilização desse requisito é por demais perigosas, podendo chegar a conclusões desproporcionais no caso concreto, veja: um indivíduo piloto profissional de automobilismo presume-se que tenha um domínio bastante apurado com o veículo, sendo certa que sua aptidão para guiar é bastante apurada devida em razão de sua profissão. Imagine que esse indivíduo dirigindo seu veículo em via pública de acordo com as normas de trânsito atropele e mate uma criança que de forma desatenta correu em direção à via para pegar sua bola. 
		Ressalte-se, que a utilização do critério da previsibilidade subjetiva pode ser questionada no sentido de que critérios subjetivos deveriam ser aferidos na análise da culpabilidade. Por tal razão, parte majoritária na doutrina se utiliza para fins preenchimento do tipo culposo a previsibilidade objetiva, que consiste na análise da situação Fática segundo os critérios do homem médio, ou seja, no exemplo acima seria possível um motorista mediano desvia e não atropelar a criança. Note-se que este critério é muito mais justo, pois deixa a análise de critérios subjetivos para a culpabilidade, cabendo ao juiz se assim entender, aplicar uma pena diferenciada para cada um, respeitando o princípio da individualização da pena, e, por conseguinte não violando o princípio da proporcionalidade.
E) Tipicidade: Este elemento trata do caráter excepcional dos crimes culposos, haja vista a regra no ordenamento jurídico é a imputação somente por condutas dolosas, assim, para ocorrência de um crime culposo é necessária sua menção expressa em um tipo penal, tal qual ocorre no artigo 302 do CTB e 121, § 3 do Código Penal por exemplo.
2.2 ESPÉCIES DE CULPA
		A princípio, convém destacar que a técnica utilizada pelo legislador para a criação de tipos culposos difere da técnica em relação aos crimes dolosos, eis que esses necessitam do preenchimento de todos os seus elementos para que se configure o crime, não sendo apto ao julgador realizar qualquer valoração subjetiva quando preenchido o preceito primário, são os chamados tipos fechados. Diferentemente ocorre com os tipos culposos, que são tipos abertos e necessitam de ser preenchidos ou completados por uma valoração judicial, razão pela qual não apresentam o mesmo rigor legal na fixação de seu elementos definidores.
		Sendo assim, o elemento subjetivo culpa consiste na falta do dever objetivo de cuidado do agente em determinadas situações que excepcionalmente são elencadas como crime, tendo em vista que a regra é a da punição da conduta a título de dolo. Com efeito, faz-se necessário conceituar os elementos de culpa elencados pelo legislador no artigo 18, II do Código Penal.
		A imprudência consiste no fato do agente proceder sem a
necessária cautela, deixando de empregar as precauções indicadas pela experiência como capazes de prevenir possíveis resultados lesivos. O autor traz ainda, alguns exemplos relacionados à imprudência, tais como a falta do dever de atenção e a previsibilidade de ocorrer um acidente diante da análise das circunstâncias do caso concreto, é uma conduta comissiva, ou seja, um agir.
	No entanto, convém destacar a dicotomia realizada por que entende ser a nomenclatura de delito culposo inadequada, visto que apta a confundir-se com a própria culpabilidade elemento do fato típico, razão pela qual o autor entende o termo como anticientífico. Desta forma, o referido autor nomeia de tipo de injusto imprudente, que para a maioria da doutrina, GRECO (2006), seria o tipo culposo.
	A negligência, em contrapartida à imprudência, consiste em uma omissão ou a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado e como exemplo a reforçar o que disse o referido autor, tem-se na hipótese de que um indivíduo deixa de dar a correta manutenção ao seu veículo e logra impor longa viagem com ele, que vindo a ter uma pane em seu sistema de freio vem a colidir com outro veículo ocasionando a morte de um dos ocupantes desse. Nesse configura-se o delito de homicídio culposo por negligência do proprietário de veículo em não proceder à correta manutenção de seu veículo.
	Em relação à imperícia, tem-se a falta de aptidão do indivíduo para realizar determinado ato, revela-se, segundo JESUS (2006) Damásio na falta de aptidão para dirigir veículo automotor. O motorista necessita de aptidão teórica e prática para o exercício da direção.
	Ultrapassada a breve introdução às especificidades do tipo penal culposo, passa-se à análise das espécies de culpa que podem incidir no homicídio praticado na direção de veículo automotor.
	A primeira modalidade consiste na culpa inconsciente, que
ocorre quando resultado não é previsto pelo motorista, jamais esteve na esfera de conhecimento deste, contudo vem a ocorrer em razão de negligência, imprudência ou imperícia, ou seja, o agente acredita sinceramente que o resultado não ocorrerá, é a culpa sem qualquer critério de previsibilidade por parte do agente.
	A culpa consciente é uma modalidade cuja reprimenda pelo julgador deve ser mais severa, visto que o resultado danoso é previsto pelo condutor, que, no entanto, espera levianamente que não irá ocorrer. Na prática, a caracterização dessa modalidade de culpa é muito difícil, tendo em vista que sua diferença encontra-se tão somente no intelecto do condutor, ademais em muito se assemelha ao dolo eventual, que será abordado adiante mais
detalhadamente.
	A culpa mediata ou indireta consiste na hipótese do sujeito determinar por culpa direta um resultado desse outro resultado danoso. Em tais casos, caberá ao órgão julgador, por meio de um juízo de valoração judicial realizar a correta adequação típica e impingir a correta reprimenda à luz da culpabilidade do causador do dano, culpabilidade essa como elemento do fato típico.
	Fala-se em concorrência de culpas quando dois agentes, de forma independente, dão causa a um resultado danoso. Não se fala, aqui, de concurso de agentes, campo próprio dos crimes dolosos em que os autores atuam mediante um liame subjetivo.
	Convém destacar, que, em Direito Penal, não se cogita de compensação de culpas, já que os bens jurídicos tutelados pelos tipos penais, por sua natureza indisponível não admitem a compensação ou qualquer outro meio apto a impedir a incidência de possíveis sanções penais. Entretanto, deve-se asseverar que a culpa exclusiva da vítima tem o condão de afastar
a responsabilidade penal.
	Sendo assim, visualiza-se a concorrência de culpas nos delitos de trânsito quando um agente age com a falta do dever objetivo de cuidado e vem a colidir com outro veículo que também age com culpa na situação em concreto, em tais casos uma conduta não elide a outra e ambos responderão pelo resultado que derem causa.
CAPÍTULO 3
3.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Após pesquisa sobre os institutos do dolo eventual e culpa consciente pode-se concluir que no plano teórico, apesar de inúmeras correntes doutrinárias, a diferenciação dos institutos não é complexa, a dificuldade se encontra na análise prática dos homicídios com condutor de veículo em estado de embriaguez alcoólica.
A concessão à ordem ao HC 107.801/SP demonstra que o STF tem adotado uma nova ordem, um novo entendimento acerca da desqualificação de crimes de trânsito em não mais dolo eventual, e sim como culpa consciente.
Diante de cada caso concreto deve-se evitar pré-julgamento das situações fáticas de acidentes fatais de trânsito quebrando a mera dogmática e inserindo o novo instituto da Teoria Quântica do DireitoPenal.
A forma para descobrir a esfera subjetiva do agente se faz mediante elementos materiais existentes em cada caso concreto. A partir das investigações feitas especificamente em cada situação descobrem-se as circunstâncias ou indícios que poderão apontar se o agente agiu com dolo ou culpa. O estudo apurado dos fatos por parte dos operadores do direito. 
A teoria do dolo eventual deve manejar-se com sumo cuidado, porque dela diferencia a culpa consciente. A análise de seus elementos distintivos requer um exame das representações e dos motivos que ataram sobre a psique do sujeito, obrigando ao intérprete e aplicador da lei a investigação dos elementos do pensamento humano.
REFERÊNCIAS:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: V I. 10. ed. São Paulo: Saraiva,2006.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 71.800/RS. Relator Min. Celso de Mello. Publicado no DOU de 08/09/2002.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. 249604/SP. Relator Min. Félix Fischer. Publicado no DOU de 21.10.02.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso em Sentido Estrito 0001835-57.2001.8.19.0204. Relator Des. Marco Aurélio Bellizze.
Publicado no DOU de 03.06.08.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso em Sentido Estrito 004707-32.2007.8.19.0011. Relatora Des. Fátima Clemente. Publicado no DOU de 24.03.2009.
JESUS, Damázio E. Crimes de Trânsito: anotações à parte criminal do Código de trânsito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
MARCÃO, Renato. Crimes de Trânsito: anotações e interpretação jurisprudencial da parte criminal da Lei 9.503, de 23-09-1997. São Paulo: Saraiva, 2008.
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro: V I. 8. ed. São Paulo: Revista dos
“Decreto-Lei 2848.” Código Penal. 07 de dezembro de 1940.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Impetus, 2005.
Habeas Corpus . 107.801 (Supremo Tribunal Federal, 06 de setembro de 2011).
MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Átlas, 2001.
PEPEU, Sérgio Ricardo Freire. “O dolo eventual e a culpa conscientes nos crimes de trânsito.” Jus Navigandi. 01 de outubro de 1999.
 <http://jus.com.br/revista/texto/1731/o-dolo-eventual-e-a-culpa-consciente-em-crimes-de-transito> (acesso em 13 de setembro de 2011).

Outros materiais