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Os Índios Aldeados

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Os Índios Aldeados: histórias e identidades em construção.
Maria Regina Celestino de Almeida
Após a chegada dos portugueses e o início da colonização, os índios passaram a ser súditos do rei, sofrendo agressões em sua cultura e também um processo de descaracterização étnica. Todos estes processos no entanto, não os tornou outra coisa, não alterou sua essência. 
Estudos históricos e antropológicos mostram que não existiu uma extinção de algumas culturas, uma divisão entre cultura branca e cultura indígena, mas sim uma mescla de ambas. As aldeias eram os espaços de interação na colônia, de troca de experiências. Era através das aldeias que apresentavam suas petições ao rei: o nome português de batismo, e a identificação, a partir da aldeia habitada, constituíam as formas de identificação usuais perante as autoridades coloniais, quando elas se dirigiam para obter suas mercês.
Metamorfoses Étnicas e Culturais: a trajetória dos Temiminó
Nos anos 50 do século XVI, os até então pouco citados Índios do Gato ou Temiminó se tornariam importantes protagonistas da história do Rio de Janeiro. Eles estavam em guerra com os Tamoio, em situação de derrota, solicitaram e obtiveram ajuda dos portugueses para se transferirem e aldearem no Espírito Santo. Através desta estreita aliança que passaram a ter destaque em documentos coevos.
Estes índios saíram do Espírito Santo com Estácio de Sá para combater seus antigos inimigos na Guanabara, e vencida a guerra,lá ficaram, na aldeia de São Lourenço.
A fluidez e a flexibilidade nas relações de aliança e conflito com o outro já eram características marcantes entre os grupos Tupi, características que a presença europeia,com certeza, acentuou ao instigar ódios e intensificar guerras, contribuindo, acredito eu (a autora) para a reelaboração ou a invenção de identidades étnicas. Resta saber até que ponto mantinham suas identificações próprias, entre si e com outras etnias, e assumiam outra diante dos portugueses. Estudos recentes tem demonstrado a prática de os índios assumirem mais de uma identidade, conforme o agente social com quem interagem. Além disso, com a identidade podem assumir também papéis distintos de acordo com o que se espera deles.
Prestigiar lideranças indígenas fazia parte das políticas espanhola e portuguesa considerando que as lideranças influenciavam diretamente seus subordinados ao processo de integração colonial.
Grupos Étnicos e Ação Política
Até aqui foram, sem dúvidas, apresentados fatos que comprovaram o envolvimento político e econômico entre aldeados e colônia, porém não se tem informações culturais. Tal limitação já não constitui obstáculo para se pensar a possibilidade de considerá-los como grupos étnicos, uma vez que estudos sobre etnicidade e cultura tendem a priorizar cada vez mais as dimensões políticas e históricas. Weber destaca dois elementos como essenciais para a formação do sentimento de comunhão étnica: a ação política em comum e o sentimento de subjetivo de comunidade.
Dois outros aspectos importantes para se pensar a constituição de uma etnicidade mais ampla mas uma etnicidade foram igualmente apontadas por Barth e Cohen: trata-se da ideia do caráter organizacional e do sentimento subjetivo de pertencimento ao grupo, destacados por Barth, e da ideia de contrato e interação, em oposição à do separatismo como condição para o estabelecimento do grupos étnicos, sublinhada por Cohen. Ora, se pensarmos o que ocorreu no interior das aldeias, com a mistura e a interação de diversas etnias, que passavam a compartilhar uma situação política, econômica e social, definida pela lei especificamente para elas, não é difícil identificar aí os elementos apontados por estes autores.
A partir da chegada dos europeus diversos grupos étnicos tornaram-se todos índios vivendo na administração lusa. Do século XVI ao XIX, os índios nas aldeias coloniais tinham situação jurídica específica, que lhes determinava o lugar político, econômico e social ocupado na hierarquia da colônia. Como lembrou Schwartz, a colônia era um mundo em construção, onde outras identidades se formavam, interagindo num contexto hierárquico, escravocrata e desigual.
Os aldeados tinham alguns benefícios em relação aos que ocupavam posição inferior na escala social. Tinham direito à terra, embora reduzida; direito a não se tornarem escravos, embora tivessem trabalhos exaustivos; tinham direito a se tornarem súditos cristãos, embora tivessem que abdicar de suas crenças e se batizar.
Cultura, História e Memória
A integração foi tanta entre os aldeados, que se tornou difícil encontrar traços específicos culturais e de descendência. Na convivência da aldeia, no entanto, construiu-se uma nova cultura que não era nem europeia nem indígena. 
A cultura pode ser criada pelos grupos étnicos, e estes o fizeram no interior das aldeias reelaborando identidades, histórias e memórias. Estudos recentes mostram que os índios tinham grande capacidade de recriação dos seus mitos, o que era essencial no regate de sua cultura. O processo de retomada do poder étnico, seria a retomada e a conscientização do que seus grupos se tornaram, facilitando a compreensão de que são resultado de sua própria maneira de fazer história. Alcida Ramos afirma que por piores que fossem as condições, os índios sempre achavam um modo de construir suas tradições étnicas.
Os mitos são uma forma de identificação coletiva. O mito da Terra Sem Mal, no entanto, não é condizente com a realidade dos aldeados por expressar uma resistências que estes não tiveram em relação aos colonizadores. Cabe lembrar que o Mito da Terra Sem Mal era um movimento anticristão e, em parte, anticolonial. Apesar dos limites das fontes para se pensar a memória social dos índios aldeados, algumas pistas evidenciam terem eles também construído as suas novas histórias a partir das necessidades vivenciadas no presente e conforme as suas novas aspirações no mundo colonial. Defender fronteiras do reino luso podia significar para os aldeados um ato heroico perante as autoridades coloniais,
Ao se aliarem aos portugueses, aldeando-se no Espírito Santo, os Índios do Gato tornavm-se Temiminó, fiéis aliados dos portugueses, e iniciavam também uma história de lutas e glórias a favor do Império Português. Era uma história de colaboração, que tinha para eles, significados próprios.
Os líderes se spresentavam orgulhosos de seus cargos, os índios assumiram a identidade de subordinados, que lhes fora dada pelos colonizadores, mas reelaboraram-na de forma a transformá-la em identidade gloriosa.

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