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Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais Ensaios Mecânicos dos Materiais Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria e-mail: geraldolfaria@yahoo.com.br www.ufop.br/demet/gesfram Laboratório de Tratamentos Térmicos e Microscopia Óptica Capítulo 9 – TENACIDADE À FRATURA 1 9.1 – Introdução à Tenacidade à Fratura Definição: Os ensaios de tenacidade à fratura consistem na aplicação de uma força ou tensão de tração ou flexão em um corpo de prova confeccionado com um entalhe e uma pré-trinca por fadiga, induzindo um ponto de triaxialidade ou de concentração de tensões. Objetivos: Os ensaios de tenacidade à fratura têm como principais objetivos compreender o comportamento dos materiais que contêm trincas ou outros defeitos internos com pequenas dimensões, analisando Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 2 dos materiais que contêm trincas ou outros defeitos internos com pequenas dimensões, analisando a máxima tensão que eles podem suportar nestas condições. Vantagens e Desvantagens: • Relativamente Rápidos; • Fácil confecção de corpos de prova; • Exige-se uma etapa de nucleação de trinca por fadiga; • Exige-se domínio de mecânica da fratura. Introdução à Tenacidade à Fratura Cálculos teóricos mostram que se os materiais fossem completamente livres de defeitos, a tensão necessária para rompe-los seria muito maior do que as encontradas experimentalmente!!! PROBLEMA: Como caracterizar o comportamento mecânico Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 3 comportamento mecânico de componentes em função de suas descontinuidades? Ensaios de Tenacidade à Fratura F FF 9.2 – Teoria de Griffith Um Pouco de Mecânica de Fratura: Modelo de Inglis Inglis, tentando responder à questão proposta anteriormente, estudou um corpo teórico infinito submetido a uma tensão σa com a presença de uma trinca elíptica vazante, e mostrou que: A tensão no material é máxima (σσσσmáx) na extremidade do eixo maior da elipse. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 4 Pode-se observar que: • Quanto maior o tamanho da trinca (2a), maior será a tensão máxima. • Quanto menor 2b maior será a tensão máxima. Teoria de Griffith Inglis denominou o raio de curvatura na extremidade da elipse de ρρρρ, e como 2b<<<<<2a, ele considerou que ρρρρ <<<<<2a. Portanto, pode-se escrever que de: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 5 Tem-se que: Ou ainda que: Onde Kt é o fator de concentração de tensões e depende fortemente da geometria da trinca!!! Teoria de Griffith Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 6 Teoria de Griffith Um Pouco de Mecânica de Fratura: Teoria de Griffith Em 1920, A. A. Griffith, partindo do modelo de Inglis, mostrou que para um material semi-infinito frágil (elástico): Existe um balanço de Energia. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 7 Energia Potencial: Trabalho Externo. Energia Superficial: Aumento da energia de superfície devido ao crescimento da trinca. Onde: E – Módulo de Elasticidade; γγγγs – Energia superficial específica; νννν – Coeficiente de Poisson . Teoria de Griffith Orowan, tentando adaptar as equações de Griffith para considerar os materiais dúcteis e sua considerável deformação plástica, propôs que: Comparando com Griffith: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 8 Pode-se concluir que: • A deformação plástica pode ser relacionada a um processo de embotamento da ponta da trinca; • A equação de Griffith é valida para trincas muito agudas, com um raio em sua ponta da ordem de (8/π).a0. Teoria de Griffith Irwin estava considerando também a aplicação da relação de Griffith para o caso de materiais capazes de sofrer deformação plástica. Ele mostrou que: Onde: Ou ainda: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 9 Ou ainda: No ponto de instabilidade, a força motriz para a propagação de uma trinca (ζ) atinge um valor crítico, ζc , a partir do qual a fratura ocorre. 9.3 – Análise de Tensões nas Trincas Westergaard determinou a natureza das distribuições de tensões na ponta de uma trinca, utilizando uma análise de tensões baseada em conceitos da teoria da elasticidade. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 10 Figura esquemática ilustrando os principais modos de carregamento envolvendo diferentes deslocamentos de trincas. O modo I (abertura ou tração) de carregamento é encontrado na maioria dos casos e, portanto, apresenta um maior desenvolvimento nos métodos analíticos e experimentais. Análise de Tensões nas Trincas Para o caso do modo I (tração) pode-se demonstrar que: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 11 Sistema de coordenadas e estado de tensões em um elemento infinitesimal de volume próximo da ponta da trinca (ASTM E399). 9.4 – Fator de Intensidade de Tensão (K) O fator de intensidade de tensão (k) é um parâmetro que define a magnitude do campo de tensão causado por uma determinada trinca. Ele depende fortemente da geometria da trinca e da carga aplicada. Neste contexto espera-se que: Existem muitas funções para as diversas configurações de corpos de prova, estando disponíveis na literatura de Mecânica da Fratura. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 12 estando disponíveis na literatura de Mecânica da Fratura. Fator de Intensidade de Tensão (K) Fator de Concentração de Tensão (Kt) Leva em consideração aspectos geométricos quanto níveis de tensões. MAIS COMPLETO!!! Leva em consideração apenas aspectos geométricos . Fator de Intensidade de Tensão (K) Se a função do fator de intensidade de tensões de uma determinada amostra é conhecida, então é possível determinar o máximo fator de intensidade de tensões que causaria falha. Esse valor crítico Kc é descrito na literatura como a tenacidade à fratura do material. Quando se trata do modo de fratura I, este parâmetro é denominado KIc. Tem-se que: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 13 Onde: • y é uma constante adimensional relacionada a geometria do corpo de prova; • σσσσ é a tensão crítica de projeto. 9.5 – Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Mecânica da Fratura Mecânica da Fratura Linear Elástica Mecânica da Fratura Elasto-Plástica Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 14 Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE) Mecânica da Fratura Elasto-Plástica (MFEP) Trata da propagação instável da trinca, caracterizando um modo de fratura frágil , que apresenta pequena deformação plástica na ponta da trinca. Estuda o início da propagação estável da trinca na região onde ocorre deformação plástica, e é fortemente influenciada pelas características do material Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 15 Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 16 Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Tenacidade à Fratura em Deformação Plana (KIc): O ensaio consiste no carregamento (flexão ou tração) de um corpo de prova trincado com uma pré-trinca por fadiga, para obter uma das seguintes respostas: Crescimento instável de trinca (MFLE); Crescimento estável de trinca (MFEP); Comportamento Elástico Linear (MFEL): Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 17 Crescimento estável de trinca (MFEP); No primeiro caso tem-se um único ponto, que representa a tenacidade à fratura do material, determinada na instabilidade. No segundo caso tem-se uma curva contínua de variação da tenacidade com a extensão da trinca. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Máquinas para Realização do Ensaio Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 18 Máquina Servo-hidráulicaMTS - GEsFraM Máquina Servo-hidráulica INSTRON - GEsFraM Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Corpos de Prova Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 19 Corpo de prova para ensaio em tração. Corpo de prova para ensaio em flexão. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Corpos de Prova Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 20 Diferentes tipos de corpos de prova que podem ser empregados nos ensaios de tenacidade à fratura. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Corpos de Prova Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 21 Tipos de corpos de prova para ensaio de tenacidade à fratura em flexão [SE(B)] – ASTM E 1820-01 1 < W/B < 4 Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Corpos de Prova Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 22 Tipos de corpos de prova para ensaio de tenacidade à fratura em tração [C(T)] – ASTM E 1820-01 2 < W/B < 4 Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 23 Possíveis Orientações de Amostragem de corpos de prova. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Como a trinca de fadiga é considerada a mais aguda que se pode conseguir em um laboratório, o entalhe usinado é estendido por fadiga. A trinca de fadiga deve ser propagada pelo menos 0,05 W à frente do entalhe usinado para eliminar quaisquer efeitos de geometria ou encruamento do entalhe. O Procedimento Básico (KIc): Pré-trinca por Fadiga Carga Entalhe Chevron Seção retangular Seção circular Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 24 Entalhe usinado Trinca de fadiga Carga Tempo O tamanho final de trinca (entalhe + pré-trinca) deverá estar entre 0,45.W e 0,55.W para determinação de KIc . O entalhe em Chevron tem várias vantagens comparado com o entalhe em linha reta, porque mantém a trinca plana e assegura que ela se estenda bem além da raiz do entalhe. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): Pré-trinca por Fadiga Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 25 B - BN < 0,25 B Corpo de prova do tipo C(T) provido de entalhe lateral. O Procedimento Básico (KIc): O Procedimento Experimental Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Inicialmente: Mede-se as dimensões do corpo de prova (B, S e W); Em seguida: Acopla-se um clip gage (ou strain gage) na boca do entalhe; Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 26 Registra-se um gráfico, com a carga no eixo vertical e o deslocamento da boca do entalhe no eixo horizontal; A carga correspondente a um incremento aparente de 2% no comprimento da trinca é determinada a partir de um desvio da região linear do gráfico. Figuras esquemáticas ilustrando o princípio de funcionamento do clip gage. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): O Procedimento Experimental Posicionamento do clip gage em um corpo de prova com entalhe Chevron e colocação do mesmo na máquina de ensaio. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 27 Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): O Procedimento Experimental: RESULTADO Objetivo: determinar a carga (PQ) correspondente ao incremento de 2% no comprimento da trinca. 1 – Traça-se uma secante partindo da origem com inclinação de 5% em relação à inclinação da curva carga-deslocamento; Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 28 Tipos de resultados gráficos carga- deslocamento para o ensaio de tenacidade à fratura (ASTM E399). 2 – Análise e Validação da Carga: • Se todas as cargas antes da interseção forem menores que Ps, logo PQ=Ps; • Se existirem cargas maiores antes da interseção, como nos casos II e III, logo PQ=Pmáx. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O Procedimento Básico (KIc): O Procedimento Experimental: RESULTADO A partir da carga PQ determina-se KQ (valor condicional para a tenacidade) com a seguinte expressão: a) Corpo de prova de Flexão: Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 29 b) Corpo de prova de Tração: Para KQ ser considerado igual a KIc deve-se atender aos seguintes requisitos: 2 5.2, ≥ ys QK aB σ Pmáx ≤≤≤≤ 1,1.PQ Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios O valor da tenacidade à fratura em deformação plana significa a resistência à propagação de trinca em condições severas de triaxialidade de tensões com níveis de crescimento de trinca de 2%, para o caso de pequenas deformações plásticas. Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 30 deformações plásticas. Quando for o caso de estado de tensão plana, determina-se o valor da tenacidade à fratura em tensão plana (Kc) por outros métodos . Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Pode-se inferir que uma vez conhecidos os valores de KIc para diferentes combinações de σσσσ e a: Caso o componente esteja submetido a uma condição de tamanho de trinca e Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 31 Esboço da curva tensão de projeto (σσσσ) versus comprimento da trinca (a). uma condição de tamanho de trinca e tensão de trabalho tal que K<KIc a trinca não se propaga; Caso o componente esteja submetido a uma condição de tamanho de trinca e tensão de trabalho tal que K>KIc a trinca se propaga; Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Graphite/ Ceramics/ Semicond Metals/ Alloys Composites/ fibersPolymers ( M P a m 0 . 5 ) Mg alloys Al alloys Ti alloys Steels 10 20 30 C-C(|| fibers)1 40 50 60 70 100 C/C( fibers)1 Al/Al oxide(sf)2 Y2O3/ZrO2(p)4 Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 32 5 K I c ( M P a m 1 Si crystal Glass-soda Concrete Si carbide PC Glass6 0.5 0.7 2 4 3 10 <100> <111> Diamond PVC PP Polyester PS PET 0.6 6 7 Al oxide Si nitride C/C( fibers) Al oxid/SiC(w)3 Al oxid/ZrO2(p)4 Si nitr/SiC(w)5 Glass/SiC(w)6 Comparativo entre as tenacidades à fratura para diferentes classes de materiais. Divisão da Mecânica da Fratura e Respectivos Ensaios Comportamento Linear Elástico (MFEL) X Elastoplástico (MFEP): Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 33 9.6 – Projetos de Componentes Mecânicos e Mecânica de Fratura Projeto de Componente Mecânico Olhar da Mecânica de Fratura Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria 34 KIc Seleção de Materiais; Níveis de tensão de projeto (σ); Dimensões e configurações da trinca (a). Fixa-se duas variáveis a nível de projeto e monitora-se a outra em trabalho. Geralmente: KIc é determinado experimentalmente; σ de projeto é bem definida;
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