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CriaçãoeManejodeQuelôniosno Amazonas (Projetodiagnósticodacriaçãodeanimaissilvestresnoe stadodo Amazonas) Editor PauloCésarMachadoAndrade- M.Sc. LaboratóriodeAnimaisSilvestres- Ufam CoordenadordoProjeto Pé-de-Pincha Apoio:ProgramaTrópicoÚmido/CNPq Publicação: CDU(2.ed.)639 CriaçãoeManejodeQuelôniosno Amazonas.ProjetoDiagnósticodaCriaçãode AnimaisSilvestresnoEstadodoAmazonas.2007.I SemináriodeCriaçãoeManejodeQuelôniosda AmazôniaOcidental.Ed.Pa uloCésarMachado Andrade. 2ªEdição. ProVárzea/FAPEAM/SDS. Manaus/AM.447p. Palavras-chave:Quelônios; Tartaruga;Criação Podocnemis ii C967 Criação e manejo de quelônios no Amazonas. / Paulo César Machado, organizador. –Manaus: Ibama, ProVárzea, 2007. 513 p. : il. color.; cm. Bibliografia ISBN 1. Quelônios. 2. Tartaruga. 3. Manejo. 4. Criadouro. I. Andrade, Paulo César Machado. II. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. III. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. V. ProjetoPé-de-Pincha. VI. Título. CatalogaçãonaFonte InstitutodoMeio AmbienteedosRecursosNaturaisRenováveis ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº - Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. (92) 3613-3083 / 6 2 4 6 / 6 7 5 4 . F a x . ( 0 9 2 ) 3 2 3 7 - 5 6 1 6 . S i t e : www.ibama.gov.br/provarzea iii “Donalebresóqueriacorrerodiainteiro, porém,donaTartarugaandandochegouprimeiro!” (LaFontaine) Aosmeuspais,ManueleRegina, Portodooincentivo,sempre! ÀEdianaeaoGustavoportodoamorepaciência! ManuelinoBentes, “Seo” MocinhoLobo,peloexemplode vida (inmemorian) AoRosinaldodaCostaMachado, ProfessordoCentro Agropecuário,UFPA e iv PARDI,M. C.,SANTOS,I.F.dos ; SOUZA,E.R. ; PARDI,H.S. Ciência, HigieneeTecnologiadaCarne.2ed.Goiânia:CEGRAF/UFG, v.1,2001. POUGH,F.H.,HEISER,J.B.,McFARLAND,W.N. Avidados vertebrados.2.ed. – SãoPaulo:Atheneu,1999. KIRK,R.W. Atualizaçãoterapêuticanaveterinária.SãoPaulo:Manole, 1984. LUZ,V.L.F. 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Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento da importância estratégica da fauna para a região amazônica. Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela trajetória de luta. Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló, por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas horasmais difíceis. Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas. Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando “milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto comanossa equipe. Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara, Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis, Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e Vickson). À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em trêsmeses. Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos problemáticos computadores desta edição. Aosmeus pais, familiares e, sobretudo, àDeus! v Sumário Introdução........................................................................ 1 Capítulo1: Manejocomunitáriodequelônios – a parceriaProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha........................ 12 Capítulo2: Revisãosobreascaracterísticasdas principaisespécies dequelôniosaquáticos amazônicos..................................................................... 24 Capítulo3: Áreasdereproduçãodequelônios protegidaspeloRAN-Ibama/Amazonas eUfam................. 55 Capítulo4:Ecologia dequelôniospelomedusídeos naReservaBiológicadoAbufari......................................129 Capítulo5: Genéticamoleculardaspopulaçõesdas espéciesdequelôniosdogênero Podocnemis na Amazônia: resultadospreliminares................................. 176 Capítulo6: Fisiologiaebioquímicadequelôniose suasimplicaçõesparaomanejoeacriaçãoem cativeiro......................................................................... 196 Capítulo7: Instalaçõespara a criaçãodequelônios....... 227 Capítulo8: Alimentaçãoenutriçãodequelônios aquáticosamazônicos(Podocnemis spp.)........................ 265 Capítulo9: Desenvolvimentodetartaruga-da- amazônia(P.expansa)etracajá(P.unifilis)em cativeiro, alimentadoscomdietasartificiaisem diferentesinstalações..................................................... 295 Capítulo10: Manejoemcriaçõesdequelônios aquáticos noAmazonas:adubação,densidadede cultivo,desempenhodediferentesespécies, populaçõesesexo.......................................................... 338 Capítulo11: Manejoreprodutivo,predaçãoe sanidade....................................................................... 378 Capítulo12: Caracterizaçãosocioeconômicae ambientaldacriaçãodequelôniosno estadodo Amazonasecomercialização...........................................421 Capítulo13: Cultivodetartaruga-da-amazônia(P. expansa):alternativaecológica,técnicaeeconômica aoagronegócioamazônico.............................................. 451 Capítulo14: Abateexperimentaldatartaruga-da- amazônia(P.expansa)criada emcativeiro..................... 463 Referências bibliográficas........................................... 502 vi VOGT, R. VI meeting of the project to manage and project Amazonian River turtles. Tortoises & Turtles, Newlestter of the IUCN tortoise and Freshwater Turtle Specialist Group, v. 5, 1990. p. 18-20. Capítulo 13: CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia. In: NASCIMENTO, L. B.; BERNARDES, A. T.; COTTA, G. A. (Ed.). Herpetologia no Brasil. Belo Horizonte: PUC-MG: Fundação Biodiversitas: Fundação Ezequiel Dias, 1994. p. 25-34. IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia 10 anos. Brasília, 1989. 119 p. IBAMA; UFAM. Relatório final 98-2000 do projeto “Diagnóstico da criação de animais silvestres no estado do Amazonas”. Manaus: Ibama: CNPq, 2001. MARTIN, N. B. et al. Custos e retornos na piscicultura em São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 9-47, 1995. MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U.; RODRIGUES, F. M. Criação de tambaqui (Colossoma macropomum) em viveiros de argila/barragens no estado do Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2001. 30 p. 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Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado do Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios de água doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás (Podocnemis sextuberculata) para serem abatidos. Em 1792, segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade (1988), registra- se emapenas umano o abate de 24milhões de tartarugas na cidade da Barra do Rio Negro, a futuraManaós. A primeira proibição surge em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº 54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba, Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga, começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e 1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelas ruas. NoMercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que, posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988) . Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios, em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a comercialização de produtos de animais silvestres constava inclusive na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00. Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará, trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve problemas entre a coletoria do estado e aDelegacia local. Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei nº 5.197 de 1967, o comércio de quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado clandestino vem tornando-se cada vezmais forte e organizado. Essamesma lei já previa em seu artigo 6º, item b, a “construçãode criadouros destinados à criação de animais silvestres para fins econômicos e industriais”. Em 1969, saiu a primeira portaria tentando normatizar esse novo tipo de empreendimento, a Portaria nº 1.136/1969. Em 1973, com a Portaria nº 1.265P, ficava autorizada na Amazônia a implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros grandes projetos de criação de quelônios da Amazônia começou na verdade em 1964, sendo, posteriormente, acompanhado pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Foi o do Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes de tartaruga oriundos do rio Trombetas eram Manuel Andrade,GerentedeOperaçõesda A.RaposoeCia. – Distribuidorade combustívelnoBaixo Amazonas,noperíodode1960a1975.Informaçãopessoal. 1 2 PAIXÃO.L .; TATCHER,V. E.Dadospreliminaressobreafauna parasitológicade Podocnemis sp. In: CONGRESSOBRASILEIRODE ZOOLOGIA. 11., 1984. Pará,p.307-8. PEZZUTI,J. C. B. Ecologia reprodutivade iaçá, Podocnemis sextuberculata (Testudines,Pelomedusidae),naReservade DesenvolvimentoSustentávelMamirauá,Amazonas,Brasil .Manaus , 1997. SOINI,P.Ecologíareproductivadelataricaya(Podocnemisunifilis)enelrio Pacaya,Perú. FoliaAmazônica, v.6,p. 105-124, 1995. TERAN,A. F.; ACOSTA,A.; VILCHEZ,I.Tortugas Podocnemis mantidasem cativeiroaoredordeIquitos,Loreto -Peru. BoletímdeLima, v. 84,p. 79- 88,1992. TERAN,A . F .;ACOSTA,A .; RAMIREZ, D.;VILCHEZ, I.; TALEIXO,G . ReproduciondalaTaricaya Podocnemisunifilis (Reptilia:Testudinides)en cautiverio,Iquitos,Peru. 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O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que, segundo relatos, recebeu emumúnico lote 100.000 tartaruguinhas. No estado doAmazonas, as atividades do Projeto Quelônios daAmazônia tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco (afluente do rio Negro) e em Codajás, sendo que em 1977 foram criados oficialmente vários tabuleiros no Purus (Axioma, Santa Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é Pai, Pão, Pupunha,Manariã; e em Itamarati:Walter Buri, Marimari, Iracema, etc.). Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos do trabalho de conservação executado por grandes seringalistas daquela região. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), com apoio dos proprietários locais e da experiência das comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá (RAN-AM, 2001). Em1989, a proteção passou a ser realizada apenas nos tabuleiros doAbufari (rio Purus) e em Walter Buri (rio Juruá), sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em 108.319 filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção passam a se concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se encontra o tabuleiro/praia de maior produção de quelônios noAmazonas), emWalter Buri e na Reserva Extrativista doMédio Juruá (maior área produtora de quelônios do estado).Aprodução da praia do Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em 1994, caindo para 170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada de filhotes de tartaruga emAbufari foi de 260.000 animais. A Resex do Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal Pupunha, comunidadeNovaEsperança),Deus é Pai,Manariã,Ati 3 (comunidade doRoque),GumodoFacão,Bauana,BomJesus,Marari (comunidade do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é estimada em 250.000 filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá.Desde 2001, o Ibama tem trabalhado em73 áreas diferentes, em oito calhas de rio (Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã, Amazonas, Nhamundá eTrombetas), com uma produçãomédia anual de 1.500.000 filhotes de quelônios (Andrade, 2002). A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é extremamente elevada no estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas para a criação comercial.Acriação de quelônios depende da retirada de milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor, de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica doAbufari, sendo que a retirada anual de filhotes carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação sobre os estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e densidade, área de vida, uso de habitats, taxas de sobrevivência de filhotes em diferentes estágios de vida (filhotes, jovens, subadultos e matrizes). Hoje, os principais fornecedores de filhotes para os criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio Juruá,monitorado pelo Posto deEirunepé, e Sororoca eToró, no rioBranco/RR. No estado do Amazonas existem aproximadamente 196 projetos de criação comercial de animais silvestres, em análise, junto ao Ibama- AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros em Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%;Itacoatiara, 21,7%; Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; São Gabriel da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999). Destes, 88,46% são criatórios de tartaruga. O estado é o que possui o maior número de criatórios 4 expansaeP.erythrocephala )nosMunicípiosdeTerraSantaeOriximiná - PAeNhamundáeParintins - AM - "ProjetoPé -de-Pincha". 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ManejoSustentáveldeQuelônios(Podocnemisunifilis,P.sextuberculata,P. 530 comerciais de quelônios do país, com uma demanda crescente passando de 11 criadouros registrados, em1997, para 33 criadouros em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados. Ao final de 2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais em cativeiro (Andrade et al., 2003). Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são, freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo o Amazonas, tendo como principal ponto de comercialização (90%), Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com 52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda representa 22% do total de animais silvestres comercializados para alimentação. Os municípios onde ocorre o maior número de apreensões são Manaus (59%), Tefé (12%), Manacapuru (7%) e Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%) são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes, onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preços de venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (Canto et al., 1999). O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito arraigado na população local, o que tem levado à caça e comercialização ilegal de ovos e de animais adultos. A criação comercial, permitida pela Portaria nº 142/92, ainda não consegue atender o mercado e seus preços, ainda são elevados. A demanda por filhotes para criação, também é grande e o Ibama não está conseguindo atender a todos que querem criar, pois não possui um número suficiente de tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e 1999). O esvaziamento do meio rural e a falta de incentivos para a agricultura levaram a um quadro em que os que sobreviviam no interior passaram a trabalhar quase que exclusivamente como 5 vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradas demaneira predatória e irracional (Smith&Pinedo, 2002). Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o RAN/Ibama-AM, com o apoio das comunidades de Parintins, Nhamundá, Barreirinha, Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq, Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes); Capacitação de 49 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em Educação Ambiental para 385 professores; Construção de cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5. Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606 participantes) sobre meio ambiente e alternativas de desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e238 comunitários, e visita a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias, envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400 pessoas nas 78 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em 1999-2000, foram 6 SCHWARZKOPF,L.;BROOKS,J. R.Nest -siteselectionandoffspringSex ratioinpaintedturtles, Chrysemyspicta. Copeia,v. 7,n. 1,p. 55-61, 1987. SEBRAE. Criaçãodequelôniosemcativeiro .Manaus : Programade informação, 1995. 62 p. SILVANETO,P. B. Abatedetartarugas -da-amazônia. Relatório. São Paulo:Pró -FaunaAssessoriaeCom ércioL tda, ConvênioEmpresaPró - FauaneCenaqua-Ibama.1998. 48p. SILVA,T. J. 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Através deste programa de conservação de recursos naturais e extensão, denominado “Pé-de-Pincha”, o Ibama e a Ufam conscientizaram e capacitaram essas comunidades do Médio-Baixo Amazonas para omanejo racional de quelônios. Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga (Podocnemis expansa), o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) têm ampla distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa real de proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja desenvolvido um programa de manejo para evitar uma superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem ser estimados através do estudo de dinâmica de populações. A avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003; Bataus, 1998). A criação de quelônios em cativeiros licenciados poderá, de certa forma, amenizar a situação desses animais quanto à pressão de caça e à extinção. Através da Portaria nº 142/92 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que normatiza a criação comercial da tartaruga-da-amazônia e do tracajá, em cativeiro, o Governo brasileiro pretendeu proporcionar ao consumidor de produtos da fauna, a oportunidade de conseguir o animal para consumo, de forma legal, contribuindo para a 7 conservação e a preservação de ambas as espécies e para a diminuição da caça predatória, oferecendo uma nova alternativa comercial para os produtores rurais locais (Duarte, 1998). Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e qualitativamente” uma forma de concorrência desleal para a queloniocultura amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento da oferta de produtos oriundos de criadouros licenciados de animais silvestres diminua a pressão de caça sobre os estoques naturais, cujo manejo natural será um fator importante para manter a conservação das espécies de elevado valor econômico. Apesar da importância estratégica dessa atividade, até meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade da criação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva, 1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações, possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público. Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente expressivas e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a tartaruga ( ) e o tracajá ( ). Para estimular a criação desses animais em cativeiro, o antigo Centro Nacional dosQuelônios da Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos Experimentais de Tecnologia de Criação de Quelônios. No Amazonas, esses núcleos não foram criados e os queloniocultores pioneiros não tiveram Podocnemis expansa P. unifilis 8 MOLINA,F. B.;ROCHA,M. B. Identificação,caracterizaçãoe distribuiçãodosquelôniosdaAmazôniabrasileira. Belém: Centro NacionaldosQuelôniosdaAmazônia, 1996. 24 p. Apostila. MORLOCK,H. Turtles: perspectivesand research. Flórida,1997. 479p. MUGGIATI, A.Acarnedetartarugavoltaaocardápio. 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Fisiologiaebioquímicacomparadadequelôniosdogênero Podocnemis emdiferentesetapasdodesenvolvimento.2002. 526 assistência técnica adequada, baseando suas criações no conhecimento empírico individual e em algumas informações repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998). Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir desse quadro, diagnosticado, propor formas demanejo para garantir melhores desempenhos desses animais em cativeiro. A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama iniciaram em1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia eManejo de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição, genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva, biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre os criatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores passaram a prestar assistência técnica repassando, simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura muito grande por implantação de projetos individuais e comunitários, cursos ematerial bibliográfico. A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos, aprovar projetos na área de criação e manejo de animais silvestres, que totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e aplicada, sendo que a 9 Ufamdestinou recursos de capital e custeio demais de R$ 61.533,10 como contrapartida para o projeto “Diagnóstico.../PTU” e para projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o Projeto de Extensão “Pé-de- Pincha”, além da concessão de bolsas institucionais de iniciação científica e de extensão, totalizando R$ 58.560,00. As principais unidades de pesquisa com criação de animais silvestres são a Fazenda Experimental da Universidade, com criatórios comerciais de quelônios e capivaras, e científicos, de caititus, queixadas, pacas, cutias e jabutis, e o Centro Experimental de Criação de Animais Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do Ibama-AM. Além desses, completam as unidades de pesquisa os laboratórios de criação de animais silvestres, de zoologia, de parasitologia e de genética. O campus avançado de Parintins é a base logística para os trabalhos com manejo participativo de quelônios, por comunidades no Baixo Amazonas e oeste do Pará. Essas informações demonstraram a importância estratégica que a Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do Ibama- AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados pode-se dizer que hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras, pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação; alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época de abate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e uma conseqüentemelhoria nas técnicas de criação. 10 recursosnaturalesrenovables . Bogota,colômbia: DivisãodeParquesNacionalesYVidaSilvestre. 1972.p.38. FACHIN-TERAN,A.,VOGT,R. C.,GOMES,S. F.Food habitatsofna assemblageoflivespeciesofturtlesintherioGuaporé,Rondônia,Brazil. J. Herpetology,Ology, S/1,v. 29,n. 4,p. 536-547, 1995. FERRARINI,S.A. Quelônios; animaisemextinção.Manaus, 1980. 68 p. FERREIRALUZ,V.L. Baixatemperatu ra;fatorlimitanteàcriaçãode tartaruga. Chelonia. Goiânia: CentronacionaldosQuelôniosdeAmazônia, 1994.p. 4. FRAIR,W.Turtleredbloodcellpackedvolumes,sizesandnumbers. Herpetologica, v. 33,p. 167-190, 1977. 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Com o apoio do ProVárzea/Ibama, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, que desejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os queloniocultores do Amazonas, nos últimos nove anos. 11 12 Capítulo1 Manejocomunitáriodequelônios AparceriaProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha MarceloDerziVidal TiagoVianadaCosta A várzea é um dos ecossistemas mais ricos da bacia amazônica em termos de produtividade biológica, biodiversidade e recursos naturais. Meio de vida para mais de 1,5 milhão de ribeirinhos, a várzea ocupa 300 mil km , ao longo da calha dos rios Amazonas/Solimões e seus principais tributários, tamanho equivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal (Santos, 2004). Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia, abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo e outro número expressivo de anfíbios, répteis, aves e mamíferos que interagem emumcomplexo e exuberante, porém frágil, ecossistema. Apesardesuacapacidadeprodutivaeresiliêncianatural,oatual modelohumanodeutilizaçãodosrecursosnaturaisestálevando àdegradaçãoprogressivadesuasáreas.Entreasprincipais causasdesseprocessopodemosdestacar(a)agestãoineficiente; (b)afaltadepolíticasespecíficasparapromovero desenvolvimentosustentávelemseuambiente – crédito, desenvolvimentotecnológico,infra-estruturaeregularização fundiária;(c) A várzea 2 Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – marcelo.vidal@ibama.gov.br mderzi@bol.com.br tvianadacosta@yahoo.com.br TRATADODECOOPERACIONAMAZONICA. Biologiay manejode la tortuga(Podocnemisexpansa). Caracas,Venezuela, 1997. VIANNA,V. O. 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UniversidadNacionaldelaAmazoniaPeruanaylaUniversityof Florida.Iquitos,Perú. 522 13 a escassez de sistemas efetivos de manejo dos recursos naturais; (d) a deficiência do sistema de monitoramento e controle; e (e) a falta de uma estratégia de conservação específica para o ecossistema de várzea (Santos, 2005). Visando atenuar a progressiva degradação nessa região, considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu para fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea, incentivando a participação das populações tradicionais que nela habitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o projeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais das várzeas da região central da bacia amazônica. Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio a projetos que desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais, que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e ambiental, e que possam ser multiplicáveis não somente em outras áreas da várzea amazônica, mas também em outras regiões do país. No período de 2002 a 2006, o ProVárzea/Ibama, por meio do Componente Iniciativas Promissoras, investiu um montante de R$ 8.451.456,57 em 25 projetos nas seguintes linhas temáticas: (a) manejo dos recursos florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros; (c) agropecuária; e (d) fortalecimento institucional. Desse total de recursos, uma expressiva parcela foi destinada a atividades de capacitação, monitoramento e manejo de recursos, e escoamento e comercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foram atingidas diretamente nos 38municípios dos estados do Amazonas e Pará, pormeio dos projetos (Figura 1) OProVárzea/Ibama . 14 F ig u ra 1 . M u n icíp io s a b ra n gid o s p elo s p ro jeto s a p o ia d o s p elo C o m p o n en te In icia tiva s P ro m isso ra s d o P ro V á rzea / Ib a m a . COSTA, F. S. Efeitosdeníve l deenergiabrutanaração,instalações, densidade,populaçõesesexosobrequelônios( P.expansa,P.unifilise P.sextuberculata )emcativeiro . Manaus,1999.123p. Monografia – UFAM. 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Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás (Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata), tartarugas (P. expansa) e irapucas (P. erythrocephala), pelos próprios comunitários, estão presentes as possibilidades de utilização do recurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercialização de filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo um programa de educação ambiental com palestras, capacitação de professores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários, atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das comunidades emassociações e cooperativas. Noanode2003aUfam,pormeiodaFundaçãoRioSolimões – Unisol,apresentouapropostadoProjetoPé-de-Pinchano processoseletivodeapoioaprojetosdemanejodosrecursos naturaisdoProVárzea/Ibama. 16 Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 de recursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da contrapartida daUfam. A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha é baseada em diversas fases e atores que, sendo complementares, resultam emações significativas. Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas “berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dos filhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 1). Finalmente, após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias originalmente utilizadas para desova e a distribuição de aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência. No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos à natureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à natureza (Fig. 2), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente natural. Aspectos ambientais ALHO,C. J. R.; PÁDUA,L. F. M. Reproductiveparametersandnesting behavioroftheAmazonturtle Podocnemisexpansa (Testudinata: Pelomedusidae)inBrazil. CanadianJ.Zoology , v. 60,n. 1,p. 97 -103, 1982. ALHO,C. J. R.; PÁDUA,L. F. M. Influênciadatemperaturadeincubação nadeterminaçãodosexodatartarugadaAmazônia Podocnemisexpansa (Testudinata:Pelomedusidae) Rev.Bra sil.Biol. , v. 44,n. 3,p. 305-311, 1984. ANDRADE,G.B. EstudosefetuadosparaacriaçãodaReservaBiológica doAbufari - RioPurus - Amazonas .RelatóriodoProjetoPolamazônia. Manaus, 1981. BATES, H.W. ThenaturalistontheriverAmazon . London,Murr ay, 1876. 395p. BATISTELLA,A.M. 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Isso é ainda reforçado, segundo os comunitários, pela maior quantidade de indivíduos adultos que vem sendo observada nas áreas manejadas, o que há muito tempo não acontecia. Entretanto, analisando por espécie manejada, pode-se verificar um grande aumento no número de ninhos e ovos de irapucas, ao contrário das demais espécies de quelônios trabalhadas pelo projeto que, praticamente, mantiveram-se constantes ao longo de três anos (Tab. 1). Esses valores podem estar relacionados à grande pressão antrópica sobre espécies culturalmente utilizadas para A B C 2004 2005 2006 Espécie Nº de ninhos Nº de ovos Nº de ninhos Nº de ovos Nº de ninhos Nº de ovos Tracajá 2.504 55.384 3.315 67.034 2.823 61.525 Pitiú 830 12.791 797 11.004 537 9.030 Tartaruga 83 5.964 39 3.888 64 6.331 Irapuca 70 597 282 2.059 755 5.838 Total 3.487 74.736 4.433 83.985 4.179 82.724 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 2004 2005 2006 NºNinhos NºdeOvos Soltura consumo e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a tartaruga e o tracajá. Tabela 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de 2004 a 2006. Figura 2. Gráfico comparativo entre o número de ninhos, número de ovos e soltura no período de 2004 a 2006. 18 SMITH, N. J. H. Aquatic turtles of Amazonia: na endangered resource. Biological Conservation, v. 16, p. 165-176, 1979. SOINI, P.; SOINI, M. 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As atividades realizadas com o intuito de promover a educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram realizadas 356 atividades de educação ambiental com uma participação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando 252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto. O projeto conta ainda com uma excelente participação de crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classe social e cor, e cria condições básicas para um trabalho de conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo prazo (Fig. 3). O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidados a proferirempalestras e cursos sobre a experiência desenvolvida. AcriaçãoemcativeiropromovidapeloPé-de-Pinchavisa suprirumademandaculturalnasáreasde várzea – o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer as novas tendências dos mercados nacional e internacional, que cada vez mais têm procurado alternativas de produção que promovam e valorizem o manejo de fauna silvestre por populações tradicionais. Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26 criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 4), distribuídos nos municípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, e alojados 8.187 animais. No entanto, a comercializaçãoainda não ocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho de abate que requer omercado. A experiência da criação em cativeiro promove um aporte de informações biológicas (taxas de crescimento, densidade de indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros) sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas com experimentos em condições melhores controladas e com dados obtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais. 20 consequencesofanunusuallifehistorypattern. Proc.Nat.Acad.Sci. , v. 83,p. 4350-4354, 1986. AVISE,J. C.;NEIGEL,J. E.;ARNOLD,J.Demographicinfluenceson mitochondrialDNAlineagesurvivorshipinanimalpopulations. J.M ol. Evol., n. 20,p. 99-105, 1984. CANTARELLI,V.H. ; HERDE,L. C. Projeto quelôniosdaAmazônia10 Anos.CANTARELLI,V.H. ; HERDE,L. C.(Ed.). Brasília: Ibama; Ministério doInterior, 1989. 122 p. CHETVERIKOV,S.S.Oncertainfeaturesoftheevolutiona ryprocessfrom theviewpointofmoderngenetics. J.Exp.Biol., v. 2; p. 3-54, 1926. CHETVERIKOV,S.S.UberdiegenetischeBeschaffenheitwilderpopulation. 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O evento, realizado anualmente desde 2002 pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entre técnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos apoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes, compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade e colaboração para a execução dos projetos. Figura 5. Cartilha produzida a partir das experiências do Projeto Pé-de- Pincha. REBÊLO,G.;PEZZUTI , J.C. B.; LUGLI, L. ; MOREIRA, G. Pescaartesanal dequelôniosnoParqueNacionaldoJaú. Bol.Mus.Para.EmilioGoeldi, Ser.C.Hum.,v. 1,n. 1,p. 109-125,2005. SALATI,E.;MARQUES, J. Climatologyofthe Amazonregion. In: SIOLI,H. (Ed.) TheAmazon : limnologyandlandscapeecologyofamighttropical riveranditsbasin.Netherlands:JunkPublishers,1984. 520 p. SARACURA, V. F. Planode ação emergencialdaReservaBiológicado Abufari.MinistériodoMe ioAmbiente.InstitutoBrasileirodoMeio AmbienteedosRecursosNaturaisRenováveis, 2005. 133 p. 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Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e o aperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, a discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e adequadas ao cenário amazônico. Capítulo 2 Revisão sobre as características das principais espécies de quelônios aquáticos amazônicos JoãoAlfredodaMotaDuarte FrancimaraSousadaCosta PauloCesarMachadoAndrade Os quelônios existem, aproximadamente, desde o Jurássico (250 milhões de anos) até hoje, e possuem de 211 a 335 espécies de água doce, salgada (8) ou terrestre (34) (Garschagen, 1995). Durante o fim do Cretáceo e o começo do Paleoceno, os répteis sofreram uma extinção, quando muitas tartarugas de diversas famílias foram extintas. No Cretáceo, o gênero Podocnemis existia na América do Norte. Durante o Cretáceo superior e o Eocênico são encontrados fósseis desse gênero na Europa e África. Hoje, esse gênero existe em Madagascar (África) e na América do Sul, indicando ser bastante antigo (Alho, Carvalho&Pádua, 1979). Na Amazônia brasileira, os quelônios do gênero Podocnemis são a tartaruga (Podocnemis expansa), o tracajá (P. unifilis), o iaçá ou pitiú (P. sextuberculata) e a irapuca (P. erythrocephala) (Figura 1). Sendo encontrados também outros quelônios como cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), jabuti (Geochelone carbonaria e o G. denticulata), matamatá (Chelus fimbriatus) muçuã (Kinosternon 24 GIBBONS,J. W.Sexratiosandtheirsignificanceamongturtlepopulations. In: WHITFIELDGIBBONS, J.(Ed.). LifeHistoryandEcolgyoftheSlider Turtle. 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É encontrada na bacia Amazônica desde o leste dos Andes até a bacia doOrinoco. 25 Figura 2: Tartaruga (P. expansa). Foto: RAN/Ibama-AM(Oliveira, P.H.). A tartaruga-do-amazonas pertence ao filo Chordata, subfilo Vertebrata, classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia (Testudinata), subordem Pleurodira, superfamília Chelonioidea, família Pelomedusidae, gênero Podocnemis e espécie P. expansa Schweigger (1812) (Cenaqua, 1992). Omacho de Podocnemis expansa denomina-se comumente por capitari ou capitaré, sendo, aproximadamente, duas vezes menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundoCoimbra Filho (1967) apudNogueira Neto (1973). Sendo o maior quelônio de água doce da América do Sul, a tartaruga (P. expansa) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina & Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ± 17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith, 1979). 26 Capítulo 4: AYRES, J. M. 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Possui manchas amareladas na cabeça, na parte dorsal. Os olhos, bastante juntos, são separados por um sulco. Vive, principalmente, em lagos, rios e igarapés. Supõe- se estar maduro sexualmente após os sete anos. Alimenta-se de frutas, sementes, raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos, crustáceos e moluscos (Reis, 1994). Procura desovar isoladamente em barrancos, em covas de, aproximadamente, 30 cm de profundidade onde coloca 35 ovos emmédia (Soini, 1995). Tracajá (Podocnemis unifilis) Figura3:Filhotesdetracajá(Podocnemisunifilis),Piraruacá/TerraSanta- PA.Foto:Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.). 27 Figura 4: Fêmea de tracajá (Podocnemis unifilis), Valéria/Parintins-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.). Os ninhos consistem de escavações com uma entrada quase circular e uma câmara ligeiramente ovóide (Fig. 5). A profundidade pode variar de 18 a 25 cm. O número de ovos por ninho varia de 9 a 40, com média de 28,8 ± 9,2 ovos. O tamanho médio dos ovos podevariar de 42,2 x 29,5 mm e peso médio de 21,7 ± 2,1 g. A desova ocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de junho a agosto, no oeste do Amazonas; de setembro a outubro no Baixo Amazonas; e emnovembro no rio Negro e afluentes. O tamanho médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán et al., 1995). 28 TCA (Tratado De Cooperacion Amazonica). Biologia y manejo de la tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997. 93 p. TERAN, A. F.; ACOSTA, A. D.; RAMIREZ, I. V.; TALEIXO, G. T. Reproducion da la Taricaya Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2., 07/05- 12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana y la University of Florida. Iquitos, Perú. 1995. TERAN, A. F.; ACOSTA, A.; VILCHEZ, I. Tortugas Podocnemis mantidas em cativeiro ao redor de Iquitos, Loreto-Peru. 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O número e o 29 tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova. Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da desova. As fêmeas são maiores que os machos e chegam a medir cerca de 50 cm de comprimento de carapaça e pesar até 12 kg (Soini, 1995). Estudos realizados por Terán et al. (1992) sobre a reprodução de P. unifilis em praias artificiais, em Iquitos, Peru, em um período de cinco meses (junho a novembro), verificaram que houve apenas 27,6% de eclosão (Fig. 6) e desenvolvimento completo dos sobreviventes, fato ocorrido pela falta de fertilidade em 14,4% dos ovos e morte prematura dos embriões. O pico de postura nessa região ocorreu principalmente na segunda quinzena de julho. As covas de tracajá são identificadas pelo monte de argila e de capim umedecidos, com os quais a espécie fecha a cavidade da postura (beiju) – Figura 7, não ocorrendo tal fato quando a desova é em terreno não argiloso (Alho, 1986). Figura6: Eclosãodeovodetracajá(P.unifilis).Foto:Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.). 30 FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatura; fator limitante à criação de tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia, 1994. p. 4. GARCIA, M. Estudo da predação de filhotes de quelônios por peixe na Reserva Biológica do Abufari, AM. 1999. 23 p. GARSCHAGEN, D. M. Tartaruga. In: Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro: Ed. Atlas, v. 14, T. 1, 1995. p. 474-76. IHERING, R. Von. Tartaruga. In: Dicionário de animais do Brasil. São Paulo: Universidade de Brasília, 1968. p. 676-78. IBAMA. Projetos quelônios da Amazônia 10 Anos. Brasília, 1989. 19 p. LIMA, A. C. Caracterização socioeconômica e ambiental da criação de quelônios no Estado do Amazonas. Manaus, 2000. 120 p. Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências do Ambiente/UFAM. LIMA, F. F. Criação de peixes e quelônios: cria e recria em lago natural. Série V, n. 3, 1967. MOLINA, F. B.; ROCHA, M. B. 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No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca e começa a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaço dos ovos que dura até o final do período de incubação, resultando no aumento do diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P. unifilis depende da temperatura de incubação (Souza&Vogt, 1994). Os tracajás parecem sermais rústicos do que as tartarugas, o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis, 1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em 31 cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal, rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa qualidade e boa aceitação pelos camponeses. Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios de diferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos, identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água e ao consumodos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante (até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situação semelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para realizar as amostras mensais. Esse comportamento, provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiam- se principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor escura. A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente de iaçá, pitiú e cambéua. Smith, 1979, cita que essa espécie é encontrada somente nos rios de água barrenta como o Branco, Solimões e Amazonas (Figuras 8 e 9). Essa espécie é também encontrada nos rios Trombetas e Tapajós, considerados de água clara. A fêmea possuimanchas amarelas comdois barbelos embaixo da boca. A carapaça tem cor marrom-claro e marrom-escuro. O plastrão apresenta, principalmente nos indivíduos jovens, seis pontas salientes de cor cinza ou marrom. A postura média é de 15 a 20 ovos de casca mole. O macho é chamado de anori e possui tamanhomenor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou cambéua. Iaçáoupitiú(Podocnemissextuberculata) 32 FERREIRA LUZ, V. L. Criação de Tartarugas em Cativeiro. Chelonia, n. 2, Goiânia, 1994. IBAMA. Manejo de fauna silvestre. Brasília: Ibama, v. 5, 2003. 112 p. Série: A Reserva Extrativista que Conquistamos. RAN-AM. Relatório de atividades do Centro Nacional de Quelônios da Amazônia – Ano 2.000. Manaus: Ibama/AM, 2001. 37 p. SILVA, R. R. A conservação de quelônios no Brasil. Boletim da FBCN, Rio de Janeiro, v. 23, 1988. p. 73-81. SMITH, R. C.; PINEDO, D. El cuidado de los bienes comunes: gobierno y manejo de los lagos y bosques en la Amazonia. Lima: IEP, 2002. 410 p. VOIGT, R. C. Pesquisa e conservação de quelônios no Baixo Rio Purus. In: DEUS, C. P.; Da SILVEIRA, R.; Py-DANIEL, L. H. Piagaçu-Purus: bases científicas para a criação de uma reserva de desenvolvimento sustentável. Manaus: IDSM, 2003. p. 73-74. Capítulo 1: IBAMA. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea: conceito e estratégia. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2002. 82 p. SANTOS, M. T. Iniciativas de desenvolvimento sustentável das comunidades da várzea do rio Amazonas/Solimões. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2004. 28 p. _____. Aprendizados do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005. 53 p. Capítulo 2: ACOSTA, A. D.; TERAN, A. F.; RAMIREZ, I. V.; TALEIXO, G. T. Alimentación de las crías de Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2., 07/05- 12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana y la University of Florida. Iquitos, Perú. 1995. 503 Referências Bibliográficas: Introdução: ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; MACEDO, P. C. et al. Diagnostic of comercial farming of chelonians (Podocnemis sp.) in Amazonas State – Brazil. Abstracts of Joint Meeting of Ichthyologist and Herpetologist. Manaus, 2003. CD-ROM. ANDRADE, P. C. M. 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Estimativa de parâmetros populacionais de Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia) no rio Crixás-açu (GO) a partir de dados biométricos. Goiânia, 1998. 58 p. Dissertação (Mestrado) – UFG. CANTO, S. L. O.; OLIVEIRA, M. da S. de; RODRIGUES, E. C. P. de G.; DUARTE, J. A. da M.; ANDRADE, P. C. M. Consumo de produtos da fauna silvestre no estado do Amazonas. In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA Y LATINOAMERICA. 4., Assuncion – Paraguay, 1999. Anais... CENAQUA. ENCONTRO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO SOBRE PRESERVAÇÃO DE QUELÔNIOS. 1., 1994. Goiânia: Cenaqua, 87 p. DUARTE, J. A. M. Diagnóstico da produção e estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e P. unifilis) no estado do Amazonas. Manaus, 1998.106 p. Monografia (Conclusão do curso de Agronomia) – UFAM. 502 Figura8: Fêmeadeiaçá(P.sextuberculata).Xiacá/TerraSanta-PA.Foto: Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.). O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Soini (1997) sugere que essa espécie desova quase sempre em praias arenosas, geralmente próximo da água. A desova ocorre geralmente à noite. Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e mais largos que os de tracajá. A casca émais clara,mais delgada emais flexível. Figura9:Iaçá(P.sextuberculata).Foto:RAN-AM(Andrade,P.C.M.). 33 Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de incubação e na sobrevivência dosmesmos. A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificação dura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite, sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995). Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do Abufari identificaram através de monitoramento de um único transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de 145 ninhos por jacurarus (Tupinambis nigropunctatus, lagartos grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se, também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação, preferindo locaismais altos e distantes da água. Omonitoramento de 219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e razão sexual de 28,5%demachos. Os predadores de filhotes de iaçás identificados na Reserva Biológica do Abufari, Amazonas, foram: Phractocephalus hemioliopterus (pirarara), Osteoglossum bicirrhosum (aruanã), 34 14.9 CONCLUSÃO Ametodologia de abate de tartaruga-da-amazônia ainda não está bem estabelecida. O processo ainda requer mais estudos e pesquisas visando a definir as condições e o período de descanso, o melhor método de insensibilização, o tempo de sangria, a melhor forma de remover o plastrão e o acesso à cavidade celomática, sem a ruptura da bexiga. Sugerimos que os estudos sejam continuados a partir das informações e dos dados produzidos neste trabalho, visando a estabelecer uma metodologia de abate que atenda a todos os requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos. Também sugerimos que sejam realizados estudos de mercado para verificar as necessidades e demandas que poderão nortear os trabalhos futuros. Assim sendo, o trabalho desenvolvido foi importante para delinear os principais pontos-chave no processo de abate, fornecendo diretrizes para o desenvolvimento das próximas pesquisas aplicadas para a exploração econômica dos produtos e subprodutos da tartaruga-da-amazônia. 501 negativamente nos níveis de contaminação para os parâmetros coliformes fecais e contagem total de aeróbios mesófilos. Os resultados indicaram que a metodologia empregada no abate deve ser mais estudada para evitar, principalmente, a contaminação da carne pela urina. Também devem ser realizadas novas análises microbiológicas para validar as duas pré-lavagens e a lavagem. 14) Rendimento de carcaça e demais partes: deve ser considerado, na continuação dos trabalhos de pesquisa, o estudo de viabilidade econômica do empreendimento, levando em conta a utilização racional dos produtos bem como dos subprodutos do abate que apresentem interesse comercial, evitando-se a produção de resíduos possivelmente poluentes aomeio ambiente. 500 Leiarius marmoratus (jandiá) e Sorubimichthys planiceps (peixe- lenha) (Garcia, 1999). O iaçá é, das espécies de quelônios, a mais consumida em Manaus. Sua carne se encontra à venda, de forma ilegal, nas feiras a R$ 3,59/kg (Canto et al., 1998). Evaristo (1995) apud Duarte & Andrade (1998), cita que os quelônios são répteis que possuem uma carapaça óssea que protege os órgãos internos. Essa carapaça é formada pela fusão das costelas, externo e vértebras. Em geral, denomina-se casco ao conjunto das partes rígidas dorsal e peitoral. Contudo, a parte superior denomina-se carapaça, sendo achatada, mais larga na região posterior, com coloração marrom, cinza ou verde- oliva, e a inferior plastrão, sendo ambos compostos por placas ossificadas revestidas por uma camada queratinosa de forma convexa e achatada, quase horizontal, unidas por uma estrutura óssea conhecida por ponte (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, 1996). Na P. expansa, a carapaça (Fig. 10) é composta por 37 escudos (2 cervicais seguidos de 5 escudos vertebrais com duas séries de 4 pleurais, no total de 8; no lado de fora dos pleurais e estendendo-se pelos dois lados a partir dos cervicais há 22 escudos marginais). Os escudos do plastrão são divididos em pares por uma linha longitudinal. Anteriormente, há um escudo gular intercalado por dois intergulares. Seguem-se um par de humerais, peitorais, abdominais, femurais e anais, respectivamente, totalizando 13 Anatomia e fisiologia 35 escudos com possibilidade de haver variações em forma e número. Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, 1996). Figura 10:Desenho esquemático de carapaça de Podocnemis expansa. Os quelônios apresentam um tubo digestivo completo, com digestão extracelular, sendo o estômago uma dilatação do tubo digestivo, terminando em um orifício denominado cloaca, semelhante ao de ave, pelo qual desemboca a urina, fezes e material seminal, ocorrendo também a vascularização nas paredes como “brânquias cloacais” (essa região, possivelmente, realiza uma respiração cutânea mínima: sangue-parede vascular-água). A digestãoé auxiliada pelo fígado e pâncreas, ocorrendo parcialmente no estômago e finalizada no intestino, havendo, neste último, a absorção do alimento digerido no duodeno. No intestino grosso ocorre a formação de fezes. A circulação é fechada (vasos e veias), 36 estabelecimento não possuir túnel de congelamento para promover o devido abaixamento da temperatura do conjunto carapaça- carcaça, no tempo adequado. Entretanto, para a elaboração do produto final da carcaça-carapaça devem ser estudadas formas mais eficientes para higienizar a carapaça, de maneira que ela não represente contaminação para a carcaça. As áreas onde se realizam essas manipulações devem ser climatizadas para evitar grandes elevações de temperatura da carne. 10) Fracionamento e embalagem: essas etapas não foram bem estudadas porque deve-se realizar um levantamento de mercado para a verificação das porções cárneas preferidas, bem como o método de embalagem mais adequado às exigências dos consumidores. A rotulagem poderá ser feita com base na legislação, seguindo-se os manuais de orientação das indústrias disponíveis no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (www.anvisa.gov.br). 11) Congelamento: esse trabalho foi realizado através do armário ou congelador de placas, que é utilizado para porções cárneas com espessura reduzida. Esse motivo estabeleceu que os trabalhos deveriam ser realizados para a obtenção da carne embalada e congelada. Para obter a carne congelada com a carapaça, o estabelecimento deverá possuir túnel de congelamento para promover o abaixamento da temperatura da carne, em tempo adequado, para evitar a formação de grandes cristais de gelo e prejuízos à qualidade final do produto. 12) Potencial hidrogeniônico (pH): sugerimos que sejam melhor estudadas as variações de pH em função das manipulações dos animais vivos, desde o transporte até a sangria. Essas manipulações, principalmente, no período imediatamente antes do abate, levam à mobilização excessiva do glicogênio muscular, refletindo no pH final elevado e na conseqüente diminuição da vida útil dos produtos cárneos. 13) Microbiologia: a ausência de Salmonella sp. nas carnes indicou que os trabalhos foram realizados sob um bom nível de higiene. Entretanto, a escassez de pessoal para auxiliar nas diversas atividades de abate experimental pode ter influenciado 499 animais insensibilizados pelos diferentes métodos, nos trabalhos futuros. 5) Sangria: o método mais eficiente verificado nesse trabalho, tal como nas espécies domésticas, foi através da secção parcial do pescoço, mantendo-se a integridade da coluna cervical e da medula espinhal. Essa integridade mantém por mais tempo a função cardíaca, facilitando o escoamento sangüíneo. Sugerimos a verificação da influência da eletronarcose como método de insensibilização, para avaliar o gotejamento de sangue, com o objetivo de reduzir o tempo e/ou verificar o aumento do volume gotejado. 6) Lavagem: essa etapa deve ser reavaliada através da utilização de swabs antes e após a lavagem, para uma avaliação da eficiência do processo, visando a adequar as formas e as concentrações de uso dos agentes detergentes utilizados. 7) Serragem das pontes: essa etapa é muito crítica porque a utilização da serra pode causar acidentes nos manipuladores e promover contaminação damusculatura pela ruptura das vísceras e órgãos. Para evitar acidentes, os animais devem ser fixados em suportes metálicos, antes do início da serragem. A serragem deve ser realizada com uma serra com potência igual ou superior à utilizada neste trabalho. O disco da serra deve ter, aproximadamente, 7 centímetros de raio. A desarticulação da junção óssea das pontes com o plastrão, em alguns casos, poderá ser feita para completar a operação de serragem. Para essa desarticulação, deve-se utilizar um trinchante de ponta rombuda, evitando a ruptura da musculatura superficial, das vísceras e órgãos. 8) Retirada do plastrão: a secção da junção plastro-pelviana foi bastante difícil de ser realizada com tesouras, por isso sugerimos uma utilização experimental de outra serra elétrica manual, pequena, para facilitar essa operação. Todavia, a serra deve ser usada com muito cuidado para evitar a ruptura da musculatura superficial, bem comodas vísceras e órgãos. 9) Retirada da carcaça da carapaça: o objetivo desse trabalho foi a obtenção da carne embalada e congelada, devido ao fato de o 498 ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo, 1995). As espécies podem ser identificadas por características externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto de maior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud Duarte&Andrade, 1998). As potentes patas podem ser recolhidas para dentro como medida de segurança e descanso. São duas dianteiras de cores escuras e cobertas com pele rugosa e cinco unhas largas, firmes, semicurvadas e acanaladas na parte inferior, e duas traseiras com quatro unhas e características idênticas, pois o nome genérico atribui-se aos calcanhares das patas posteriores, dotados de unhas para reptar e cavar (Lima, 1967; Nomura, 1977). As tartarugas são ectotérmicas (heliotérmicas), como os lacertílios e os crocodilianos e podem atingir um grau considerado de estabilidade da temperatura corpórea por meio da regulação através da troca de energia térmica com o ambiente (termorregulação). A temperatura corporal de tartarugas que se aquecem ao sol é mais elevada do que a temperatura da água e do ar e pode acelerar a digestão, o crescimento e o desenvolvimento dos ovos. Além disso, o aquecimento pela luz do sol pode auxiliar as 37 tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough, Heiser &McFarland, 1993). No comportamento social, as tartarugas podem empregar sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser &McFarland, 1993). Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar o efeito da submergência de longa duração sobre o balanço energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de Podocnemis expansa, bem como suas principais características funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanhomédio de 9,114 0,081 cm e peso médio de 85,574 2,92 g, concluiu que a tartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de glicose aumentou significativamente, (P0,05) sugerindo que há uma mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprir a demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às tartarugas de região temperada. 38 ao abate. A carne oriunda de animais contaminados poderá apresentar riscos para a saúde dos consumidores, fato que pode comprometer a comercialização. Assim sendo, deve-se elaborar um sistema de controle de qualidade da alimentação, dos medicamentos veterináriosusados e do nível de contaminantes químicos emicrobiológicos da água dos boxes de criação. 2) Descanso: esse período deve ser definido após a verificação do tempo necessário para ocorrer o esvaziamento gastrointestinal e vesical, visando a reduzir os riscos de ruptura dessas vísceras durante as operações de evisceração. Os estudos mostraram que animais em privação hídrica e alimentar de até 15 dias permaneceram com suas bexigas repletas. Possivelmente, a temperatura ambiental teve influência na fisiologia renal, sendo uma variável importante a sermelhor analisada. Acreditamos que a utilização de água corrente estimule a defecação, como é observado nas rãs, embora possa contribuir para promover a repleção da bexiga. 3) Pré-lavagem (pré-abate): essa etapa requer muito cuidado para evitar o estresse dos animais, porque poderá influenciar negativamente no pH final da carne. A água sob pressão não deve exceder 3 atm. A pressão excessiva poderá, inclusive, remover o epitélio do revestimento externo, provocando pequenas hemorragias. Animais com alto nível de sujidades externas poderão estimular o uso de água, sob pressões elevadas, que poderá influenciar negativamente nos valores finais de pH, reduzindo a vida útil da carne, por apresentar um pH elevado e adequado ao desenvolvimentomicrobiano. 4) Insensibilização: a utilização do gelo durante 15 minutos nos permitiu evidenciar que os animais apresentaram-se um estado de torpor. Entretanto, foram observadas contrações musculares e movimentos de pedalagem em alguns animais após o sacrifício e durante a evisceração. Assim sendo, sugerimos que sejam avaliados os resultados obtidos por outros métodos. A eletronarcose é usada amplamente para as aves, de uma forma mais eficiente e humanitária. A quantificação do cortisol sangüíneo poderá ser analisado para avaliar o possível estresse sofrido pelos 497 Tabela8:Resultadosobtidosnasangriapordecapitação Sangria por decapitação Tempo de sangria % de sangue escoado 12 minutos 2,44 14 minutos 1,92 15 minutos 2,32 Considerando que normalmente 8% do peso dos animais é representado pelo seu volume sangüíneo; que uma boa sangria é aquela que remove até 50% do sangue; que o conjunto carapaça e plastrão representam 33,32%; que o aspecto da carne obtida deve ser rósea ou vermelho-claro (indicando pouco sangue na musculatura); e que o pH final obtido está dentro de valores aceitáveis, o melhor resultado foi obtido pelo período de 15minutos, obtendo-se 3,11% de escoamento de sangue pela secção parcial do pescoço. Observou-se a coagulação sangüínea quando o período de sangria foimaior do que 15minutos. 14.8 Comentários e proposições Os trabalhos de abate foram realizados e permitiram evidenciar alguns aspectos importantes do processo de obtenção da carne embalada e congelada para o consumo humano, que deverão sermais estudados. Os principais pontos são os seguintes: 1) Criadouros: o tipo de alimentação, a utilização de drogas veterinárias, a qualidade da água e o nível de contaminantes ambientais são importantes para a obtenção de animais e, posteriormente, da carne, sem riscos para a saúde dos consumidores. Tais aspectos têm influência direta no nível de contaminação química, física emicrobiológica dos animais enviados Kolb,Fisiologia Veterinária.1987. Pardietal,Ciência,Higienee TecnologiadaCarne.2001.. 16 17 496 Sexo e reprodução O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas adultas) (Pritchard&Trebbau, 1984) –Figura 11. Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa): macho (esquerda) e fêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.). Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998) não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo sexual para Podocnemis expansa, pois os jovens apresentam manchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a fêmea tema cauda curta. Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em quelônios encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás, temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude 39 térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt, 1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al., 1983; Spotila et al., 1987; Souza&Vogt, 1994). Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo, proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes (recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos naturais ou artificiais. P. expansa tende a entrar na fase de reprodução entre cinco e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967). Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa) apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10 anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente, realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova, denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo capitari. O tempo de postura de P. expansa pode estar relacionado diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough, Heiser &McFarland, 1993; Alho&Pádua, 1982). 40 Tabela 7: Rendimento da carcaça e das principais partes obtidas durante o abate. Partes do corpo Rendimento % Carcaça 34,66 Carapaça 25,41 Vísceras 11,87 Plastrão 7,91 Gordura extramuscular (não cavitária) 5,54 Total 85,39 Os percentuais de 25,41% da carapaça e 7,91% do plastrão perfazem um total de 33,32% do animal, similares aos 34,66% da carcaça. Fato que demonstra a necessidade de se estabelecer um aproveitamento comercial para o conjunto carapaça-plastrão. Também deve-se considerar as demais partes como subprodutos que devem ter umaproveitamento econômico sustentável. 14.7.5 Volume de sangue escoado O escoamento sangüíneo é fundamental para a qualidade da carne. O sangue possui o pH próximo da neutralidade e por ser rico em nutrientes pode facilitar a multiplicação dos microrganismos deteriorantes e/ou patogênicos. Assim sendo, foi avaliado o escoamento em função do tempo e dométodo de sangria. 495 locais distintos. No caso da pré-lavagem as pontes direitas e esquerdas foram escolhidas, enquanto na lavagem foram feitas na pele junto à cauda. Os resultados indicam uma redução da microbiota equivalente a 11,76% da carga microbiana inicial, na região da ponte direita. A redução foi de 33,33%na região da ponte esquerda. Os resultados das análises microbiológicas dos swabs realizados para avaliar a etapa de lavagem não foram adequados por falha na coleta do material. Assim sendo, será necessária uma reavaliaçãomais criteriosa dessa etapa. 14.7.4 Rendimento de carcaça e demais partes Para efeito deste trabalho, considera-se carcaça o conjunto formado pela musculatura, ossos dos membros, vértebras coccígeas e cervicais. Também foram avaliados o rendimento de carcaça e demais partes.494 Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a tartaruga ficamais vulnerável à predação antrópica. Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como orientador (Pough, Heiser &McFarland, 1993). Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no leito do rio durante 4,5 0,7 dias observando a praia de dentro d'água, ou as fêmeas realizam 5,5 0,7 subidas na praia de desova durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que tem uma variação natural de 0,63 0,27m, podendo ser depositados de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima, 1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith, 1979). Para Espriella (1972), o número aceitável para tartarugas em cativeiro está numa média de 80 ovos, de forma esférica, com peso médio de 39-43 g, que serão cobertos com areia, pela fêmea, após a desova. A oviposição pode durar de 1,5 a 4 horas, aproximadamente, sendo geralmente à noite e, ocasionalmente, à tarde ou demanhã. 41 No período reprodutivo de P. expansa são observados os mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de desova (Vanzolini, 1967): (1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pela agregação dos animais em águas rasas, com subidas ocasionais na margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios solares; (2) Subida à praia para a escolha do local da cova; (3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local de postura; (4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a 60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara. (5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se importam com a presença de estranhos e podem ser tocadas sem reação. O valor adaptativo da estereotipia durante a oviposição de P. expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores (trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo do animal move-se para frente e para trás e também executa uma lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a 42 e Salmonella sp. todas (100%) as amostras apresentaram-se em conformidade. Nas amostras avaliadas para o parâmetro contagem total de bactérias mesófilas, 21,60% das amostras se apresentaram não- conformes aos padrões estabelecidos. Entre as 39 amostras, 4 apresentaram resultados incontáveis. Também foram realizadas duas análises microbiológicas de amostras de urina coletadas de dois animais distintos e os resultados seguem conforme a tabela a seguir: Tabela 6: Avaliaçãomicrobiológica da urina de dois animais. Resultados Parâmetro microbiológico A B Contagem total de bactérias mesófilas (UFC/ml) 520.000 1.200.00 0 Coliformes fecais (UFC/ml) Zero >2.400 Salmonella Ausência Ausência As não-conformidades encontradas nas amostras de carne podem estar relacionadas à metodologia de abate utilizada. Os procedimentos de serragem das pontes bem como o acesso à cavidade celomática levaram à ruptura da bexiga, na maior parte dos casos, promovendo a contaminação da carne. Os resultados indicam que a contaminação da carne, pela urina, a torna inadequada ao consumo humano, por exceder os padrõesmicrobiológicos estabelecidos. Para avaliar a eficiência da primeira pré-lavagem e da lavagem foram realizados um total de 8 swabs, sendo 4 para a pré- lavagem e os outros 4 para a lavagem. Nos dois casos, foram realizados dois swabs antes e mais dois após cada operação em dois 493 Tabela 4: Padrões microbiológicos utilizados como referência para a análise da carne da tartaruga-da-amazônia. Parâmetro microbiológico Padrão Coliformes fecais (g) 10 Estafilococos coagulase positiva (g) 100 Contagem total de aeróbios mesófilos (g) 500.000 Salmonella sp. (g) Ausência Entre as 39 amostras analisadas, somente 11 (28,2%) atenderam aos padrões estabelecidos para os quatro parâmetros. As conformidades e as não-conformidades para cada parâmetro microbiológico apresentaram-se da seguinte forma: Tabela 5: Proporção de carcaças obtidas conforme as exigências microbiológicas estabelecidas. Parâmetros microbiológicos % Amostras em conformidade % Amostras em não- conformida de Coliformes fecais (g) 35,90 64,10 Estafilococos coagulase positiva (g) 100 00 Contagem total de aeróbios mesófilos (g) 78,40 21,60 Ausência de Salmonella sp. (g) 100 00 Nas amostras que apresentaram não-conformidades para o parâmetro coliformes fecais (64,10%) foram encontradas 8 amostras com as cargasmáximas ( 2.400 NMP/g) para ametodologia analítica utilizada (método do número mais provável) representando 20,51% do total das amostras. Em relação aos parâmetros Estafilococos coagulase positiva 492 profundidade, as patas traseiras têmmais ação. Com as unhas para baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação, fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50- 100 cm. Durante esse processo, as patas dianteiras ajudam na sustentação do animal. O ato é repetido, inserindo a outra pata na abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, inicia- se a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15 segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpo em relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15 segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos; (6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação os animais entram num processo de ritualização do comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendo areia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral, a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada durante o fechamento da cova; (7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova, normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás, rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas). Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide antes e depois da desova, fazendo um sulco na areia. A caminhada para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m, 43 alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça durante a escavação. Após retornar à água,a população adulta permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes. Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos adultos fora d'água. Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967; Alho&Pádua, 1979). Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70 dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho & Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989). A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem ser letais. A determinação do sexo dependente da temperatura foi demonstrada em algumas, mas não em todas as famílias de tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos (Pough, Heiser &McFarland, 1993). Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982) em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de 25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas, respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie. 44 Tabela 3:Comparação da composição química das carnes bovina e suína. Composição química das carnes bovina e suína Componentes Carne bovina Carne suína Umidade (%) 76,77 71,20 Proteínas (%) 20,00 19,00 Lipídeos (%) 3,00 9,34 Cinzas (%) 1,09 1,00 Valor calórico (kcal/100g) 107 160 Fonte: Gaspar (1997). Obs.: valores médios. Os valores demonstram que a carne de tartaruga apresenta 1,83% de lipídeos enquanto as carnes bovina e suína apresentam 3 e 9,34%, respectivamente. O valor calórico também é mais reduzido para a carne de tartaruga (85,99%) do que o que foi obtido para a carne bovina (107%) e suína (160%). 14.7.2.1 Potencial hidrogeniônico (pH) Foram encaminhadas 14 amostras para avaliação do pH da carne. Foram aferidos, aproximadamente, 6 e 24 horas após o sacrifício dos animais. Os valores citados de pH apresentaram umamédia de 6,28 e 5,85 após 6 e 24 horas do sacrifício. Esses resultados mostram-se favoráveis porque estão próximos dos valores utilizados como referência para os pescados e para as demais carnes. 14.7.3Microbiologia Foram enviadas 39 amostras da carne para avaliar a carga microbiana. Pela inexistência de um padrão microbiológico para a carne de quelônios, ficou estabelecido que para o estudo seriam utilizados os critérios microbiológicos do Codex Alimentarius para a carne de rã, conforme tabela a seguir. JAY,J.M.ModernFoodMicrobiology.199215 491 Tabela1: Resultadosdasanálisesfísico-químicasdacarnedatartaruga-da- amazônia Análises Físico- químicas Resultados Proteínas 22,0g/100g Gorduras totais ou lipídeos 5,50g/100g Gordura Saturada Mínima 2,68g/100g Colesterol 68,0mg/100g Carboidratos 0,0g/100g Fibra Alimentar 0,0g/100g Cálcio (Ca) 18,5mg/100g Ferro (Fe) 1,60mg/100g Sódio (Na) 46,3mg/100g Os resultados das análises físico-químicas podem ser utilizados como referência na elaboração dos dizeres de rotulagem (composição centesimal e informação nutricional), conforme legislação vigente no país. Tabela 2: Resultados das análises para a avaliação da composição química. Composição centesimal da carne de tartaruga Parâmetros Valores Umidade (%) 78,80 (+- 0,16) Proteína (%) 17,39 (+-0,80) Cinzas (%) 0,91 (+-0,07) Lipídeos (%) 1,83 (+-0,75) Valor calórico (Kcal/100g) 85,99 (+-5,72) Valores médios; números entre parênteses representam o desvio- padrão. Fonte: Gaspar (1997). ¹Legislaçãoderotulagem.Disponívelem:http://www.anvisa.gov.br4 490 Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo, portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o topo e o final do ninho (Pough, Heiser &McFarland, 1993). Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotes maiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser & McFarland, 1993). A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de 56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica (Soini, 1997). O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser uma medida importante para a conservação. Para conseguir ótimos resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original, ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta, significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do 45 ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos ninhos expostos ao sol (Soini, 1997). As tartarugas, por serem pecilotérmicas, apresentam amplitude térmica de 22ºC a 32ºC, e ideal entre 27ºC a 30ºC, na qual eclodem as crias medindo em torno de 50 mm de comprimento e 40 mm de largura. A atividade espontânea de alguns indivíduos põe o grupo em movimento, uns rastejando sobre os outros, agindo sobre os demais (Lima, 1967; Ferreira, 1994). Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite, talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Essa emergência simultânea é uma característica importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão propensos à agressão emdecorrência do equilíbrio biológico imposto pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough, Heiser &McFarland, 1993). Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número 46 14.7 Resultados Os principais parâmetros avaliados foram: as observações macroscópicas dos tecidos durante o abate, as análises microbiológicas, as análises físico-químicas, o volume sanguíneo e o rendimento de carcaça e demais partes. 14.7.1 Necropsia, histopatologia e parasitologia Os animais foram observados durante o período de descanso, sendo detectado o óbito de um animal. A necropsia foi realizada em local inadequado, pela inexistência de uma dependência específica para essa finalidade e não foi possível observar qualquer alteração macroscópica sugestiva da causamortis. No transcorrerdas operações de evisceração dos 39 animais foram detectadas alterações macroscópicas em 3 baços, 2 fígados, nasmucosas estomacais e intestinais de alguns animais. Os tecidos com as alterações foram encaminhados para uma avaliação histopatológica que confirmou a suspeita de degeneração gordurosa ou esteatose em dois fígados. Essa alteração normalmente está relacionada a problemasmetabólicos. Não foram verificadas alterações histopatológicas nos baços e nas mucosas. Também foram observadas infestações parasitárias por cestódeos e trematódeos (digenéticos) nos estômagos e intestinos dos animais. 14.7.2 Físico-química Uma amostra de carne foi encaminhada para a realização das análises necessárias à adequação das exigências das informações nutricionais de rotulagem. Os resultados encontram-se na tabela abaixo: ¹³Trematódeosquepassampartedesuafaselarváriaemhospedeiros intermediários,geralmentepequenosmoluscos 489 CONGELAMENTO – As carcaças foram congeladas em armários de placas sob temperaturas de -25 a -40ºC, por um período de 2 a 6 horas. Figura 17: Armário ou cogelador de placas. ARMAZENAMENTO/ESTOCAGEM EXPEDIÇÃO – Os produtos foram armazenados e estocados em câmaras frigoríficas sob temperaturas inferiores a -18ºC. – Os produtos foram expedidos em condições que evitaram a elevação da temperatura do produto. A área de expedição funcionou como antecâmara provida de portas de saída para a expedição. As portas de saída foram providas de portais de borrachas para permitir o embarque em veículos transportadores, minimizando a elevação da temperatura dos produtos expedidos. 488 de animais desses criadouros, um número predeterminado seja restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e maximizando a taxa de natalidade (Alho&Pádua, 1984). Na Reserva Biológica do Abufari/Tapauá – AM, o Ibama desenvolve o programa de proteção às áreas de desova. Através do Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, atualmente Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Afíbios – RAN, realiza- se a proteção do tabuleiro (praia de desova) assim como das matrizes e dos filhotes recém-nascidos. Sendo que estes filhotes, em sua maioria de tartaruga, logo ao abandonarem as covas ficam retidos em cercados de tela para serem apanhados, contados e transportados para a base física. Posteriormente, é feita a soltura dos animais em local com uma incidência, provavelmente, menor de predadores naturais aquáticos (Armond & Armond, 1990, apud Duarte&Andrade, 1998). Essa atividade é realizada na Venezuela com certa similaridade, como cita Ojasti (1995; 1967), assim como em outras áreas de concentração de tartaruga que servem de referência a programas de manejo, como no rio Trombetas, entre outros (Nomura, 1977; Alho & Pádua, 1984; Pough, Heiser & McFarland, 1993; Ferreira, 1994; Soini, 1997). Segundo Nogueira Neto (1973), é possível obter a reprodução de tartaruga em cativeiro. Na prática, tem-se a possibilidade da reprodução de quelônios em cativeiro, sem a migração, desde que haja umapraia artificial para a desova. 47 Valor nutricional Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994) citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-da- amazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%. Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais (frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina 2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g; Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g e Metionina 5,32 g. Aguiar, 1996, apud Duarte & Andrade (1998), obteve em quatro análises realizadas em carne de Podocnemis expansa: 1,10 g de lipídio/100 g; 21,17 g de proteína/100 g; 94,58 Kcal de energia/100 g; 0,00 g de carboidrato/100 g; onde cita que em geral a carne de animal silvestre émagra. Maués, 1976, apud Duarte & Andrade (1998), ao comparar os aspectos bromatológicos de ovos de galinha e codorna, ambos oriundos de feiras livres de São Paulo, e tartaruga Podocnemis sp., oriundo de feiras livres de Bélem – PA, mostra que os ovos de tartaruga pesaram emmédia 23,67 g, onde a gema, a clara e a casca pesaram respectivamente 18,55 g; 3,74 g e 1,62 g, com um percentual médio de 15,38% para a clara, 73,44%, correspondendo à gema e 11,18% equivalente à casca. O teor de lípides totais, verificado no ovo inteiro, clara e gema em ovos de tartaruga é particularmente 7,92 mg/100 g; 0,08 mg/100 g e 18,26mg/100 g; em ovos de galinha obteve-se 13,08 g/ 48 FRACIONAMENTO – Podem ser realizados cortes na carcaça de acordo com as necessidades do mercado, sob as mesmas condições de higiene namanipulação e do ambiente climatizado (temperaturas do ambientemenor ou igual a 15ºC) utilizadas na etapa anterior. Figura 15: Carcaça sem a gordura extramuscular não cavitária EMBALAGEM – As embalagens poderão ser de polietileno ou outro material de embalagem que evite contaminação física, química ou microbiológica dos produtos, que também devem ser rotulados, conforme a legislação vigente.¹² ¹²Legislaçãoda Anvisa.disponívelem:http:// www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm 487 resquícios de fáscias musculares ou fragmentos que permaneceram após as operações de evisceração e de esfola. Figura 12:Remoção das patas. PRÉ-LAVAGEM – Foi realizado um enxágüe com água clorada para a remoção de pequenos resíduos que permaneceram na carcaça durante as etapas anteriores. Figura 13: Lavagemda carcaça. 486 100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30 g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976). O teor de proteína no ovo de tartaruga na porção inteira, clara e gema foi na ordem de 12,70 g /100g; 1,56 g/100 g e 20,58 g /100 g, enquanto que nos de galinha foram 9,98 g/100 g; 9,28 g /100 g e 16,19 g /100 g e nos de codorna obteve-se 9,78 g /100 g; 9,43 g /100 g e 12,07 g/100 g (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998). A composição de cinzas no ovo de tartaruga na porção gema foi superior (1,68 g/100g) ao de galinha (1,25 g/100 g) e codorna (1,36 g/100g) (Maués, 1976, apudDuarte&Andrade, 1998). O teor mineralógico de ferro e fósforo na porção gema nos ovos de tartaruga foi superior (10,9mg/100 g e 495mg/100 g) ao de codorna (8,2 mg/100 g e 415 mg /100 g) e galinha (5,0 mg/100 g e 260 mg /100 g) e com um teor de cálcio na gema inferior (120,19 mg/100 g) em relação ao de galinha (152,25 mg/100g) e codorna ( 168,13mg/100 g) (Maués, 1976 apudDuarte&Andrade, 1998). O teor vitamínico de -caroteno foi baixo em ovo de tartaruga (6,06 mg/100 g) relacionado ao de galinha (30,63 mg/100 g), e vitamina A (57,83mg/100 g), contra os de galinha (69,87mg/100 g) e codorna (73,95mg /100 g). Em relação ao tocoferol (total), o ovo de tartaruga estudado foi superior (2,78 mg/100 g) ao de galinha (1,94 mg/100 g) e inferior ao de codorna (3,55 mg/100 g) (Maués, 1976, apudDuarte&Andrade, 1998). O teor de colesterol na porção clara mais gema, e gema no ovo de tartaruga foi inferior (226,5 mg/100 g e 329,1 mg/100 g) aos 49 de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4 mg/100 g e 946,9mg/100 g) (Maués, 1976, apudDuarte &Andrade, 1998). A tartaruga tem sido de grande importância para o homem amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios durante a vazante capturavamumgrande número de tartarugas. Segundo Smith(1979), durante o século XVII as tartarugas desovavam em um grande número de praias na área de Itacoatiara/AM durante os meses em que o nível da água estava baixo. Esse fenômeno atraiu comerciantes portugueses e uma praia Real ficou estabelecida para alimentar os soldados do rio Negro, enquanto outras praias foram exploradas por serem consideradas grandes e abundantes, porém, até hoje, esses quelônios continuam fazendo parte da dieta do interiorano. Historicamente, a tartaruga, P. expansa, foi um quelônio de fácil captura para suprir a alimentação do homem amazônida através de carne e ovos. Sendo exportado, na época do Brasil Colônia, em 1719, pela capitania de São José do Rio Negro 192 libras de “manteiga” de tartaruga. Ihering (1968) cita que para produzir 1 kg de manteiga são necessários 275 ovos de P. expansa. Alho, Carvalho & Pádua (1979) citam que o preço da tartaruga emManaus chegou a alcançar US$ 180,00, Pádua, Alho & Carvalho (1983) citam que em 1980 um exemplar de 30 kg de peso vivo chegou a custar cerca deUS$ 200,00 emBelém. Wetteberg et al. (1976) determinaram o mercado potencial para espécies silvestres da fauna amazônica nos 23 restaurantes Importância econômica 50 DECAPITAÇÃO ESFOLA – – Após a retirada das vísceras realizou-se a ablação (retirada) da cabeça. Realizou-se, com o auxílio de uma faca, a esfola dos membros posteriores e da cauda e reverteu-se a posição dos animais nos ganchos. Eles foram fixados pelos membros anteriores para a realização da esfola do pescoço e dos membros anteriores. Foram feitos cortes das regiões metatarsianas e metacarpianas, separando a pele do membro da pele da pata. Assim, seguiu-se com a dissecação da pele dosmembros até a completa retirada. Figura 11:Remoção da pele. TOALETE – Foram removidas as partes distais dos membros (patas) pela secção do tarso e do carpo, da cauda e quaisquer 485 com o auxílio de facas (higienizadas a cada utilização). A partir daí, procedeu-se uma retração manual de todo o trato digestivo até a porção anterior (esofágica). Deve-se ter o cuidado de remover as partes do fígado que permanecem bem aderidas lateralmente, próximo à inserção dos membros anteriores e posteriores. Os pulmões ficam bem aderidos à carapaça e também são retirados por tração manual (arrancamento). A retração das vísceras gastrointestinais deve ser realizada cuidadosamente para evitar a ruptura e a contaminação da carcaça por conteúdo fecal. As facas utilizadas nessa fase devem ser de uso restrito dos manipuladores que trabalhamnessa etapa do processo de abate. Figura 10: Seqüência de operações para a remoção das vísceras. 484 existentes em Manaus, de 1974 a 1975, bem como tentaram identificar mercados para as espécies em outras cidades brasileiras ou no exterior. Esses autores citam que 78,78% dos restaurantes expressaram interesse em vender carne de fauna silvestre, sendo denotado interesse pelo público desses restaurantes, em primeiro lugar, pela tartaruga (P. expansa) com peso médio de 28,82 kg e um preço médio (estimado pelos restaurantes) que os clientes pagariam por quilograma de US$ 21,81, com um lucro potencial por quilograma para os restaurantes de US$ 19,31. Espriella (1972) e Nomura (1977) citam uma grande demanda comercial em países como os Estados Unidos e o Japão, sendo a comunidade nipônica considerada a pioneira em criação de tartarugas, desde 1866, por considerarem seu alto valor nutritivo. Eles recomendam que os criadouros sejam uma das maneiras de conservar e preservar a tartaruga ou o tracajá. Os criadouros podem também fornecer filhotes para exportação e ovos para extração de óleo, sendo que essa extração parece inviável porque o valor comercial da tartaruga é elevado, embora 100 g de ovos produzam cerca de 100 g de creme facial. Segundo o Cenaqua (1994), na Amazônia um boi necessita de 3-4 ha para produzir 40 kg de carne/ano. Enquanto que em 1 ha de água pode-se criar até 4.500 tartarugas, com um mínimo de 1.800 kg/ano e um custo aproximado para cada quilo das carnes de peixe, boi e tartaruga de US$ 1,00, US$ 2,30 e US$ 6,00, respectivamente. O Cenaqua (1994) cita que em 1991 as tartarugas com peso médio de 25 kg tiveram preço médio de US$ 80,00. Indicando, por esses valores, que a tartaruga constitui um item acessível à classe alta. 51 O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo (PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco. No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em rendimento de carcaça. Para o TCA (1997), o preço por tartaruga viva no Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela foi de US$ 97,00 a 122,00; US$ 5,00 a 61,00; US$ 8,00 a 20,00; US$ 18,00 a 47,00, respectivamente. Na Colômbia o preço por umquilo é deUS$ 4,80. No Peru, devido aos ovos de Podocnemis expansa serem apreciados para consumo humano, o preço por unidade chegou a US$ 0,22 (TCA, 1997). Para o TCA (1997), o preço de um exemplar adulto de Podocnemis expansa varia, dependendo do local e tamanho do animal. O preço pago nos centros urbanos amazônicos (Iquitos e Manaus) é cerca do dobro do preço pago ao povo ribeirinho, emais do triplo do que recebe o trabalhador rural. Segundo Terán et al. (1997), os quelônios foram e continuam sendo uma das principais fontes de proteínas para os índios e ribeirinhos em toda a Amazônia. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Brasil, onde realizou-se entrevistas com 50 famílias e observações de campo, obteve-se o consumo de quatro espécies de tartarugas na alimentação familiar, como Podocnemis sextuberculata (68,2%), P. unifilis (27,1%), Geochelone denticulata (4,3%) Chelus fimbriatus (0,4%). Rebelo et al., 1997, apud Duarte & Andrade (1998) ao mostrarem a evolução do consumo de animais de caça e a determinação das populações de quelônios no Parque Nacional do 52 Secciona-se a junção óssea da plastro-pelviana com o auxílio de tesourasmetálicas. Figura 9: Remoção do plastrão realizada na área limpa. REVERSÃO DA PENDURA EVISCERAÇÃO – Para facilitar a evisceração reverteu-se a posição do animal, tornando a fixá-lo nos ganchos dos trilhos da nora pelosmembros posteriores. – Ao acessar a cavidade celomática pela incisão na linha alba, seccionou-se uma porção transversal do fígado que comunica as porções hepáticas direita e esquerda. Procedeu-se a dissecação da porção terminal da cloaca junto à cauda, realizando- se uma dissecação da porção terminal do trato digestivo, até os rins, 483 SERRAGEM DAS PONTES – Na serragem, os animais foram apoiados em decúbito dorsal, no suporte metálico, para facilitar a operação e evitar acidentes com os manipuladores. As pontes foram serradas com o auxílio de uma serra elétrica manual. O disco da serra deve ter aproximadamente 7 cm de raio. Foi usado um plano paralelo com a superfície ventral do plastrão, serrando-se medial e superficialmente para evitar a ruptura das vísceras e órgãos. Para a desarticulação final das pontes utilizou-se um trinchante de ponta romba. Figura 8: Seqüência de operações de serragem e desarticulação das pontes. PENDURA RETIRADA DO PLASTRÃO – Pendura-se pelos membros anteriores nos ganchos dos trilhos com nora, passando à área limpa do abatedouro para a retirada do plastrão. – Dissecação do plastrão, no sentido longitudinal, até a sua porção posterior. Makita¼” (6mm):modelo906compotênciade240w.11 482 Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto lugar na citação. A criação doméstica foicitada em apenas 0,5% das refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo com calendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis unifilis e Podocnemis erythrocephala), 38% mamíferos terrestres e 17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6 meses, ou 48,6 animais/família/ano. Canto et al. (1999), ao realizarem um levantamento preliminar da comercialização ilegal de produtos da fauna no estado do Amazonas, registram que as classes mais apreendidas são répteis (principalmente, quelônios) com 52,2%, mamíferos 30% e aves 17,8%. Nas feiras, a maior comercialização de carne é para mamíferos (68%), aves (19%) e quelônios (13%). Sendo os quelônios (tartaruga e tracajá), mais apreciados, a comercialização feita sob encomenda cuidadosa, representando 22% dos animais comercializados para alimentação e o preço relativo por um quilograma (peso vivo – PV) da tartaruga de R$ 30,00. A carne de tartaruga-da-amazônia proveniente de criadouros legalizados pelo Ibama, no Amazonas, foi vendida inicialmente ao preço de R$ 12,00 a 18,00/kg de peso vivo em supermercados de Manaus (A Crítica, 1996), sendo pago ao produtor até R$ 13,00/kg. Hoje, os produtores estão comercializando com preços que variam de R$ 8,00 a 12,00, por quilograma de animal vivo. Segundo Andrade et al. (2003), o custo com ração é de US$ 1,45 para produzir um quilo de tartaruga e em um cultivo superintensivo em tanques-rede pode-se obter renda líquida de US$ 53 246,24/m . Lima (2000), estimou, nos criadouros do Amazonas os custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de 104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como uma atividade altamente rentável. 3 54 período de sangria de 15 minutos. Obteve-se melhor escoamento do sangue, aparência menos avermelhada da musculatura e o volume médio de sangue escoado foi de 3,11%do peso vivo dos animais. Figura 7: Secção parcial dos vasos da porção anterior do pescoço. LAVAGEM – Foi iniciada por umprimeiro enxágüe com jatos de água sob pressão com água clorada a 5 ppm, seguida por uma escovação (escova pequena) com detergente alcalino a 0,2% em todo o animal e nas regiões axilares que não foram acessadas durante a pré- lavagem. Finalmente, foi realizado o último enxágüe para a remoção dos resíduos de sujidades como detergente. É sugerido o uso de luvas, pelo manipulador, para evitar a ação corrosiva dos detergentes alcalinos 10 481 PENDURA – Os animais foram pendurados pelas membranas interdigitais dos membros posteriores, nos ganchos dos trilhos com nora, visando a facilitar a etapa de sangria, agilizando o processo. Figura 6: Pendura dos animais através das membranas interdigitais dos membros posteriores. SANGRIA – Foram realizados testes através da secção total e da secção parcial da porção anterior do pescoço. O melhor método foi a secção parcial (como na maioria das espécies domésticas) com o 480 Capítulo 3: Áreas de reprodução de q u e l ô n i o s p r o t e g i d a s p e l o R A N - Ibama/Amazonas e Ufam PauloCesarMachadoAndrade JoãoAlfredodaMotaDuarte PauloHenriqueGuimarãesdeOliveira PedroMacedodaCosta AgenorVicente AnndsonBrelaz CarlosDiasdeAlmeidaJúnior WanderRodrigues JonathasNascimento HellenChristinaMedeiros LuizMendonçaNeto SandraHelenaAzevedo JoséRibamardaSilvaPinto Quando chega o verão na Amazônia, a vazante se inicia e com ela surgem milhares de praias ao longo dos rios. Sejam praias de areia bem branquinha em rios de águas negras e claras, ou praias amareladas em rios de águas barrentas, todas se transformam em verdadeiros depositários de vida com o período reprodutivo de quelônios (tartarugas, tracajás, iaçás, irapucas) e aves (gaivotas, corta-águas, quero-queros, etc.). A gerência do Ibama no estado do Amazonas, através do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) temdesenvolvido uma série de atividades que visama conservação dos quelônios na região. Esse trabalho envolve parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), comunidades e prefeituras dos municípios. Em um primeiro momento, as comunidades são visitadas e 55 realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que atuarão no controle, monitoramento e fiscalização de cada praia de desova de quelônios, os chamados tabuleiros. O Projeto Quelônios ampliou, desde 2001, sua atuação para os municípios amazonenses de Parintins, Juruá, Manicoré, Lábrea, Borba, Tapauá, Eirunepé, Carauri, Barreirinha, Nhamundá, Canutama, Barcelos, Novo Airão, Itamarati e São Sebastião do Uatumã, atingindo 407.504 habitantes que constituem as populações desses municípios. Atingimos, ainda, em parceria com a Ufam, através do projeto de extensão de manejo sustentável de tracajás, o Projeto Pé-de-Pincha, três municípios limítrofes no Estado do Pará, Terra Santa (16.500 habitantes), Oriximiná (60.000 habitantes) e Juruti (20.000 habitantes). Em cada município temos diretamente envolvidos com os trabalhos de campo e os treinamentos as comunidades e os professores da rede pública de ensino: 1) Em Parintins são 15 comunidades com cerca de 490 famílias e 62 professores em treinamento e 26 agentes ambientais voluntários; 2) Em Barreirinha, 12 comunidades com 160 famílias, 35 professores e 1 agente ambiental; 3) Em Nhamundá, são 10 localidades com 63 famílias; 4) Em Eirunepé e Itamarati, nas praias de Walter Buri, cerca de 30 famílias; 5) Em Carauari, na Resex do Médio Juruá, em 10 tabuleiros, 200 famílias; 6) No Juruá, nos tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina, Vai-quem-quer e Botafogo, 100 famílias; 7) Em Manicoré, na praia do Nazaré, envolvendo 30 famílias que trabalham no local; 8) Em Lábrea, nas comunidades do Buraco, Luzitânia, Jurucuá, Bananal, Santa Cândida, Novo Brasil, Porongaba e Realeza, 370 habitantes; 9) Em Borba, no rio Matupiri, cerca de 100 habitantes; 10) Em Tapauá, na Rebio Abufari e nas 56 INSENSIBILIZAÇÃO –Os animais foram insensibilizados sob a ação do gelo em água, permanecendo em recipiente de plástico atóxico em temperatura de 0 a 2ºC por um período de 15 minutos, quando se obteve a flacidez e a ausência dos reflexos da cabeça e dosmembros. Figura 5: Recipiente com água e gelo utilizado para insensibilização. Animal sendo insensibilizado. 479 14.6Operações de abate e processamento PRÉ-LAVAGEM – Os animais foram transportados dos boxes de espera ou descanso em caixas plásticas previamente higienizadas até a área suja, onde foi realizada uma pré-lavagem dos animais com jatos de água clorada a 5 ppm sob pressão de, aproximadamente, 3 atm para remover as sujidades maiores, principalmente nas regiões da carapaça e do plastrão. Deve-se tomar o cuidado de não utilizar pressão excessiva para não lesar o epitélio, estressando os animais. Figura 4: Pré-lavagemutilizando água clorada sob pressão. Partes pormilhão.Unidade demedida equivalente àmg/kg. Atmosfera.Unidade de pressão 8 9 478 comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu, aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40 famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina; 14) Em São Sebastião do Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no Jarauacá e no Livramento,atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em Terra Santa (10 comunidades), Oriximiná (6 comunidades) e Juruti (19 comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes, sendo que lá já existem 78 professores treinados, 60 agentes ambientais voluntários e 45 professores em treinamento. Em todas essas áreas está sendo feita a proteção dasmatrizes de tartarugas, iaçás e tracajás, durante a desova, sendo feito o acompanhamento da postura até a eclosão, quando é desenvolvido o trabalho de proteção emanejo dos filhotes. A fiscalização pelo Ibama e pelos comunitários é bastante rígida nesses locais. Acompanhando esses trabalhos de monitoramento e controle, é desenvolvida uma estratégia de conscientização através da educação ambiental e da discussão sobre alternativas de desenvolvimento. Nesse aspecto, a parceria com a Universidade tem permitido ao Ibama levar cursos e projetos de desenvolvimento para algumas comunidades como: criação caipira de galinhas, beneficiamento de pescado, utilização de plantas medicinais, piscicultura, criação de animais silvestres e ecoturismo. O apoio das prefeituras tem sido fundamental para a realização dessas atividades, que passam a se consolidar em cada município como estratégias de conservação e possível geração de renda no futuro, através da criação e manejo de quelônios e do ecoturismo, entre outras. 57 Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram soltos 1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de 3.886 covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de iaçás e 4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número de praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número médio anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas, também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso, consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas, com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua dimensão territorial. ÁreasdeConservaçãodeQuelônios peloRAN-Amazonas 2 10 11 1012 59 63 87 3 18 19 16 0 20 40 60 80 100 2000 2001 2002 2003 n Rios Localidades Municípios Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre 2000 e 2003. A Figura 1 apresenta os dados da ampliação das áreas reprodutivas de quelônios protegidas pelo RAN- AM, em 2000-2003. 58 RECEPÇÃO DESCANSO PRÉ-LAVAGEM INSENSIBILIZAÇÃO SANGRIA LAVAGEM SERRAGEMDASPONTES RETIRADADOPLASTRÃO PENDURA(POSTERIORES) PENDURA(ANTERIORES) PENDURA (POSTERIORES) ESFOLA EVISCERAÇÃO TOALETE PRÉ-LAVAGEM RETIRADADA CARAPAÇA EMBALAGEM CONGELAMENTO ESTOCAGEM EXPEDIÇÃO FLUXOGRAMADEOBTENÇÃODECARNEEMBALADAE CONGELADA 477 O transporte do criadouro ao abatedouro poderá ser terrestre, aéreo ou fluvial, mas deve ser conduzido de maneira a minimizar o estresse aos animais. Para o transporte, os animais deverão possuir a autorização do Ibama. – Os animais foram recepcionados no abatedouro, sendo realizados os procedimentos para a avaliação geral. Também foi verificada a documentação do Ibama, sendo feito o encaminhamento dos animais para os boxes de espera ou descanso. – Os animais permaneceram nos boxes de espera ou descanso do abatedouro por um período específico. Os currais ou boxes de espera devem ter água clorada corrente, a 5 (cinco) ppm de cloro residual livre, para reduzir a carga de contaminantes e estimular a defecação. Inicialmente, o fluxograma foi estabelecido com base na metodologia de abate usada atualmente por alguns estabelecimentos que realizam abate para fins comerciais. Durante os trabalhos realizados, algumas etapas foram modificadas e/ou incluídas no processo. Entretanto, ainda há a necessidade de utilizarmétodos de validação dessas etapas aqui descritas. A proposta de fluxograma foi realizada com o objetivo de obter a carne de tartaruga-da-amazônia embalada e congelada com as devidas características das instalações do estabelecimento onde foram realizados os trabalhos experimentais. RECEPÇÃO DESCANSO 14.5Elaboraçãodofluxogramadeprocesso Os trabalhos realizados não permitiram estabelecer o período de descanso adequado para essa espécie. As peculiaridades fisiológicas dessa espécie deverão ser mais estudadas para a obtenção dos resultados desejados nessa etapa. Comoocorre nas rãs, observamos que a presença de água corrente estimula a defecação das tartarugas. 6 7 476 Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de financiamento de projetos científicos e de extensão. O número de técnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de Fauna, no Ibama-AM. O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas: Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, emTapauá; 2) Tabuleiros de Piranhas e Enseada, emTapauá; 3) Tabuleiro doCuruzu e Vista Alegre, emTapauá; 4) Reserva do Jamanduá, emCanutama; 5) Tabuleiro doNazaré e Axioma,município de Canutama. 1) Tabuleiro do Abacate /Balbina; 2) Tabuleiros do rio Jarauacá/comunidade do Livramento, Balbina; 3) Rebio Uatumã e rio Pitinga: Ilha do Limão, do Bacaba, Sororoca, Arapari, do Açaí, do Papagaio. 1) Resex do Médio Juruá/Carauari: 10 tabuleiros (Gumo do Facão, Nova Esperança/Jacaré, Roque/Ati, Bauana, Deus é Pai, Bom Jesus,Manariã,Monte Carmelo/Pau Furado, Itanga,Mandioca) 2) Tabuleiro do Joanico e Renascença/Juruá; 3) Tabuleiro de Botafogo, Antonina e Vai-quem-quer/Juruá; 4) Tabuleiro deWalter Buri/Itamarati-Eirunepé; 5) Tabuleiros de São Francisco, Dois Irmãos, doGado/Itamarati; RioPurus Rio Uatumã Rio Juruá 1) 59 RioMadeira Rios Solimões-Japurá Rio Negro Áreas do Programa Pé-de-Pincha:Médio-Baixo Amazonas a) Rio Amazonas: b)Municípios do Amazonas: Barreirinha: Parintins: Nhamundá: 1)Praia doNazaré/Manicoré; 2)RioMatupiri/Borba: diversos tabuleiros; 1) Tefé –RDSMamirauá: Pirapucu, Praia doMeio, Horizonte, Ingá; 2) Coari: Ilha doGeral; 1) Praia da Velha/Parna Jaú, Novo Airão; 2) Praia doCabuano/Parna Jaú/Novo Airão; 3) PraiaDulumina/Barcelos. Ilha de Vila Nova/Parintins. 1) Piraí, Granja Ceres, Ipiranga, Tucumunduba, São Francisco, São Pedro, Proteção Divina, Lírios do Vale, Matupiri, Ariaú, Coatá, Ponta Alegre e Pindobal; 2) Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba, Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes doMamuru; 3) Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador, Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal, Marcolino, São Francisco e Vista Alegre. 60 14.4Operaçõespré-abate CRIADOURO TRANSPORTE As operações pré-abate acontecem desde os cuidados na aquisição dos insumos, criação, transporte, recepção no estabelecimento, encaminhamento para os boxes de espera ou descanso, até o transporte para a edificação de abate. Assim sendo, descreveremos os principais cuidados realizados durante os trabalhos experimentais que foram e/ou devem ser adotados durante o período de pré-abate. – Os animais foram criados em conformidade à regulamentação específica. Os criadouros estãoestabelecidos em ambientes que não possuam resíduos de contaminantes ambientais (pesticidas e resíduos de agrotóxicos) que constituam risco à saúde dos animais. Os ingredientes e as rações usadas na alimentação dos animais devem ser elaboradas e armazenadas de forma a minimizar os riscos para a saúde animal. As drogas veterinárias utilizadas durante o período de criação devem respeitar as doses e os períodos de tratamento preconizados, bem como o prazo de carência específico para o aproveitamento humano dos produtos animais. Os animais somente podem ser encaminhados ao abatedouro quando apresentarem o peso vivo igual ou superior a 1,5 kg. Todos os animais destinados ao abatedouro deverão proceder de criadouros registrados e autorizados pelo RAN/Ibama. – Os animais foram acondicionados em recipientes plásticos atóxicos, previamente higienizados, sem qualquer tipo de contaminante, em condições de temperatura e de umidademedianas. ConformeaPortarianº142/92de30dedezembrode1992doIbama/MMA.5 475 As atividades de inspeção deverão ser realizadas de forma semelhante aos procedimentos adotados para as espécies genericamente denominadas pescados e quando aplicável às demais espécies animais. A inspeção se divide em duas grandes etapas chamadas de inspeção ante- e inspeção . A inspeção ante-mortem compreende os trabalhos realizados na recepção dos animais, na verificação da documentação, na avaliação dos animais nos boxes de espera e observação, no encaminhamento dos eventuais animais ao departamento de necropsia, na realização das necropsias e no encaminhamento dosmateriais para avaliação laboratorial. A inspeção post-mortem compreende todos os trabalhos realizados antes, durante e após as operações realizadas na área suja (pré-lavagem, insensibilização, sangria, lavagem e serragem das pontes), na área limpa (retirada do plastrão, evisceração, esfola, toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem e congelamento) e nas demais áreas. A visualização macroscópica das partes externas, internas, bem como suas vísceras e órgãos celomáticos, durante a evisceração, será fundamental para a verificação das possíveis alterações patológicas que possam comprometer a qualidade do produto final. É possível, a critério do médico-veterinário oficial, após uma avaliação minuciosa no DIF, liberar, aproveitar condicionalmente ou rejeitar as partes, o todo ou atémesmoum lote de animais que apresentem alterações que impliquem em algum prejuízo aos consumidores. Além disso, os veterinários oficiais poderão auditar os sistemas de controle e garantia de qualidade, implantados pelas empresas processadoras. mortem post-mortem 474 c) 4) Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal, Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado, Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa Grande), Igarapé do Jamary (Alemã e Chuedá) e Lago do Abaucu (Capote e Jauaruna). 5) Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho, Cachoeiry; 6) Maravilha, SantaMadalena, Açaí, ZéMaria, Caapiranga, Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa, Capitão e VilaMuirapinima. Na Figura 2 e na Tabela 1 observamos que mesmo com todos os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio Abufari, em 2001-2002, ela perde o status de maior produtora de quelônios do Amazonas para áreas com trabalhos comunitários em tabuleiros pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e Baixo Juruá, sendo que as áreas com manejo comunitário/participativo de quelônios passaram a responder pelamaior parte da produção do Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes) em relação às áreas de proteção estrita doGoverno (39,98%=430.920 filhotes). Esse envolvimento e conscientização comunitária permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,37- 0,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e Municípios do oeste do Pará: Terra Santa: Oriximiná: Juruti: 61 estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi muitomais significativo. A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a completa ausência de técnicos do Governo e de recursos, amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de 646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja, 46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário, onde o governo se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-de- Pincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de 2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção. Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários forammais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”, definido como um recurso público a fundo perdido, destinado àquelas comunidades devidamente regularizadas e comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação de animais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda de filhotes de áreas demanejo comunitário para criadores. 62 O Departamento de Inspeção Final bem como o Departamento de Necropsias devem ser providos de mesas e utensílios necessários (facas, fuzis, termômetros, tesouras de ponta romba, frascos para coleta dematerial, etc.) aos trabalhos. Todos os manipuladores deverão estar providos de dois conjuntos de jalecos brancos, duas calças brancas, dois pares de botas brancas de borracha, dois gorros com máscaras que devem ser higienizadas diariamente em lavanderias, para evitar contaminações durante as diversas operações. A inspeção corresponde às atividades realizadas pelo serviço veterinário oficial, que poderá ser municipal (Serviço de Inspeção Municipal – SIM), estadual (Serviço de Inspeção Estadual – SIE) e federal (Serviço de Inspeção Federal – SIF) que têm como missão garantir que o produto de origem animal seja sadio, seguro e confiável para o consumidor. A atuação dos serviços de inspeção é fundamentada em critérios higiênico-sanitários e tecnológicos, a fim de que a indústria possa ofertar um produto adequado ao consumo. Entretanto, não é responsabilidade exclusiva dos serviços de inspeção a garantia da qualidade dos produtos. As empresas devem estabelecer seus próprios sistemas de controle e garantia da qualidade, que devem ser coordenados por profissionais capacitados à utilização das principais ferramentas. Dessa forma, todos os empreendedores interessados em desenvolver a atividadede abate de quelônios deverão seguir as orientações dos serviços veterinários oficiais, desde a elaboração dos projetos até o seu funcionamento. 14.3 Inspeção BoasPráticasdeFabricação(BPF),ProcedimentosPadrãodeHigieneOperacional (PPHO)e AnálisedePerigosePontosCríticosdeControle(APPCC). 4 473 Figura 3: Nora automática comganchos sobre a bancada. Os utensílios deverão ser de materiais plásticos resistentes ou metálicos (aço inoxidável), de fácil higienização, para evitar as contaminações cruzadas. Os principais são: facas exclusivas para cada área ou operação, fuzis ou chairas, tesouras, trinchantes, cestas ou caixas metálicas e monoblocos plásticos brancos e vermelhos. 472 Figura 2: Variação na produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas pelo RAN/Ibama-AMem2001 e 2005. Principais tabuleiros A) Rio Juruá: A.1) Alto Juruá: tabuleiros de Walter Buri, Nova Olinda/São Francisco,Matupá e outros. Nesse rio de águas barrentas, estreito e cheio de curvas, no trecho compreendido entre as cidades de Eirunepé e Itamarati, existem diversas praias de desova de quelônios. Muitos desses tabuleiros foram protegidos por antigos donos de seringais. O mais famoso deles é o tabuleiro de Walter Buri, em italiano, o Castelo de Ouro, localizado em frente à vila do seringal que tinha o mesmo nome. Desde 1983, o então IBDF realiza o monitoramento, controle e manejo das populações de quelônios que desovam naquela área. Entretanto, existem outras praias promissoras como a do tabuleiro de Nova Olinda/São Francisco, praia do Gado, Dois Irmãos, Produçãodefilhotesdequelôniosemáreasprotegidasno Amazonas 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000 400000 P é - d e - p i n c h a C a n u t a m a B o r b a C a r a u a r i W a l t e r b u r i J u r u á M a n i c o r é B a r c e l o s / J a ú U a t u m ã A b u f a r i / T a p a u á T e f é - M a m i r a u á C o a r i Áreas N o . 2001 2002 2003 2004 2005 63 Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km em linha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e Carlos Augusto Bié. 64 devem possuir boxes metálicos profundos para a higienização dos braços e dos antebraços, bem como pedilúvio e lava-botas. Todas as dependências que realizarem manipulação também devem possuir boxes metálicos para a higienização de braços, antebraços e de alguns utensílios. O estabelecimento deve possuir localização estratégica distante de quaisquer fontes contaminantes que possam comprometer a qualidade dos produtos. Neste caso, o estabelecimento deve seguir as boas práticas de fabricação, conforme a Portaria nº 368/98 da SDA/Mapa. Os equipamentos e os utensílios também deverão seguir a portaria citada no que se refere à construção,manutenção e higiene. Os trilhos devem ter aproximadamente 2,00 m de altura com nora e ganchos metálicos resistentes para a fixação dos animais durante as operações. Devem ser utilizados equipamentos para a produção de gelo e calor, serra para a secção das pontes, compressor para a produção de jatos de água, termômetros, cronômetros,mesas metálicas com fixadores para os animais, durante as serragens, mesas para pesagens, mesa para embalagem, forno crematório, mesa para necropsia, esterilizadores (para serras, facas, fuzis, tesouras e trinchantes), balanças, embaladoras, seladoras e climatizadores de ambiente, paletes para caixas e câmaras de estocagem. ³Disponívelem:http://www.agricultura.gov.br.html. 471 1) Área de lavagem e guarda de caixas plásticas. 2) Área de lavagem e guarda de utensílios. 3) Área de armazenamento de embalagens. 4) Área de expedição: adjacente à estocagem, com porta de saída para o exterior. 5) Área de produção e armazenamento do gelo: adjacente à área limpa. 6) Área de estocagem: câmaras de congelamento. 7) Área para recebimento de pele, carapaça, plastrão e resíduos. 8) Salas de máquinas: unidade de produção de frio industrial. III – Prédio administrativo: 1) Escritório. 2) Banheiros:masculinos e femininos. 3) Vestiários:masculinos e femininos. 4) Sede do Serviço de Inspeção: municipal, estadual ou federal. 5) Lavanderia: higienização dos uniformes dos manipuladores. 6) Almoxarifado. Todas as edificações destinadas à elaboração de produtos e subprodutos comestíveis devem possuir, nos locais de acesso de pessoal, gabinetes de higienização. Os gabinetes de higienização 470 65 O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de 2001, com bóias de ferro, uma balsa de 80 m de área e uma casa de 60 m de área construída (dois quartos, um banheiro, uma sala- cozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro deWalter Buri, do outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a equipe de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato “Curisco”, que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e Sílvio Santos. Os trabalhos de proteção têm início emmaio, quando os quelônios saem dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse período, a vigilância das “bocas” desses lagos é fundamental para que os quelônios consigam chegar até as áreas de postura. Dois lagos merecem especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da Empresa Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo sr. Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr. Sílvio Santos. O trabalho se estende durante todo o período reprodutivo (junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos filhotes (outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário vigiar novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos quelônios, do rio para os lagos (de alimentação). 2 2 66 II – Prédio principal: para o desenvolvimento das operações de abate, propriamente ditas, que devem possuir gabinetes de higienização (botas, braços e antebraços) nos locais de entrada das áreas de processamento. O prédio será composto pelas seguintes áreas ou salas: 1) Área suja: onde se realizam as etapas de pré-lavagem, insensibilização, sangria e serragem das pontes (Figura 2). Figura 2:Vista da área suja. Passagemdo trilho da área suja para a área limpa. 1) Área limpa: onde se realizam as etapas de retirada do plastrão, evisceração, esfola, toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem e congelamento. Deve existir uma área equivalente a 5% dessa área, para o Departamento de Inspeção Final (DIF), para a avaliação minuciosa das alterações encontradas durante as operações de abate. 469 Figura 1: Vista de umbox de espera, vazio, compiso revestido em epóxi. 4) Dependências para a elaboração de subprodutos. 5) Dependências para o tratamento dos efluentes: conforme legislação específica². ² A legislação ambiental deve ser consultada para o atendimento das exigências estaduais e federais. 468 Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM. (Andrade, P.C.M.). O tabuleiro de Walter Buri tem fornecido filhotes para os criadouros de quelônios do Amazonas desde 1999 (cerca de 25.000 filhotes de Podocnemis expansa/ano). Os demais filhotes de tartaruga são soltos no lago da Cachoeira, lago doMaturani, igarapé de Nova Olinda e, do outro lado do rio, próximo a Walter Buri, desde que haja bastante capim. Tracajás (P. unifilis) e iaçás (P.sextuberculata) saem espontaneamente de seus ninhos e correm para a água (as covas de tartaruga são marcadas e manejadas; as dos tracajás apenas contadas e as das iaçás são estimadas). Na Tabela 2 apresentamos o georreferenciamento das praias de desova de quelônios e dos lagos de alimentação. 67 Figura 5: Transporte de filhotes de tartaruga (P. expansa) de Walter Buri para criadores registrados no Amazonas, 2002. Foto: RAN/AM (Andrade, P. C.M.). 68 1) Box de espera ou descanso: destinado a receber os animais, provenientes dos criadouros, para um período de descanso. 2) Box de observação: destinado a receber os animais que apresentaramalterações clínicas nos boxes de espera. 3.1 – Sala de necropsia: destinada à realização de necropsia em animais que chegarem mortos, que morrerem nos boxes de espera ou que apresentarem alterações clínico-patológicas que justifiquem taismedidas. 3.2 - Forno crematório: destinado à cremação dos despojos animais que foram a óbito ou que apresentem doenças infecto- contagiosas que representem grave perigo à saúde humana ou animal. 3) Departamento de necropsia: 467 As análises microbiológicas foram realizadas pelo Laboratório de Higiene dos Alimentos da Faculdade de Ciências da Saúde daUniversidade deBrasília, e as análises físico-químicas pelo Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal deGoiás. Também foram realizadas avaliações parasitológicas e histopatológicas pelo Departamento de Medicina Veterinária da Upis –Faculdades Integradas doDF. Os trabalhos foram acompanhados por médicos-veterinários do Serviço de Inspeção Federal do Setor de Pescados do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma proposta de estabelecimento industrial destinado ao abate e ao processamento de tartaruga-da-amazônia deve possuir as principais dependências exigidas para o abate das demais espécies utilizadas na alimentação humana, visando ao aproveitamento sustentável e econômico dos produtos e subprodutos oriundos do abate. As dependências (Anexo I) exigidas são: I - Área externa: próxima ao abatedouro, devendo estar, no mínimo, a 10metros de distância do prédio principal. 14.2 Descrição das instalações, equipamentos e utensílios ¹ É um código internacional de alimentos coordenado por comissões da Food and AgricultureOrganization (FAO) eOrganizaçãoMundial de Saúde (OMS). 466 Tabela2: TabuleiroselagosdealimentaçãodequelôniossituadosentreEirunepéeItamarati, no AltorioJuruá Local Tipo Coordenadas Dimensões dapraia Nº de ninhosem 2001 Nº de filhotes produzi_ dosou soltos Walter Buri Tabuleiro dedesova 6º28’54’’S; 68º25’54”We 119 m de altitude 4.000mX 200m Tartaruga= 560 Tracajá=600 Iaçá=1000 72.588 São Francis_ co Tabuleiro dedesova 6º29’25” S; 68º31’56” W 4.500mX 200m Tartaruga= 15 Tracajá=321 10.178 Matupá Praiade desova 6º26’46”S; 68º29’16”W 4.000mX 150m Tartaruga=2 Tracajá=23 Iaçá=125 2.885 DoGado Praiade desova 6º27’55”S; 68º27’29”W Tartaruga=5 418 Maturini Praiade desova 6º30’22”S; 68º27’29”W 1.000mX 100m Tartaruga=1 84 DosDois Irmãos Praiade desova 6º26’8”S; 68º28’55”W 1500mX 80 m e 2.800mX 80m Tartaruga=5 418 TOTALDEFILHOTESPRODUZIDOSEM2001 86.571 Local Tipo Coordenadas Espécie Nº/espécie Nºt otal de filhotes Estirão doÓbito e São João Potenciais praiasde desova 30minutosde Eirunepé, descendoorio na margem direita Tartaruga Tracajá - - Lagodo Maturani e do Tarira Lagosde alimenta_ ção 6º30’37”S; 68º27’24”W Tartaruga 2.300 2.300 Igarapé de Nova Olinda Rotade migração 6º28’19”S; 68º30’45”W Tartaruga 1.000 1.000 Lago Cachoei_ ra Soltura - Tartaruga 3.500 3.500 Walter Buri Soltura - Tartaruga Tracajá Iaçá 1.031 31 16 1.078 FILHOTESSOLTOSEMOUTROSLUGARESEM2001 7.878 69 A.2) Médio Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista (Resex)Médio Juruá emCarauari/AM. A atividade de produção de quelônios em praias manejadas está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursos da Resex, sendo mais uma alternativa de renda para as comunidades, aomesmo tempo que conserva essas espécies que, na região, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamos um aumento proporcional na produção de quelônios em relação ao tempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que tal iniciativa pode estar proporcionando condições para melhorar a reprodução dos quelônios. As comunidades da Resex decidiram proteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos, ficando o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) sob proteção relativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelas populações tradicionais durante a vazante do rio. Figura 6: Tabuleiro Deus é Pai – Resex Médio Juruá/Carauari-AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.). 70 Os 40 animais foram doados por três criadouros comerciais, dois do estado de Goiás e um do Pará, ambos registrados e autorizados pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama). O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa) classifica os quelônios, na denominação genérica de pescados, todavia, não existe uma regulamentação específica para quelônios. Esse fato tornou o abate experimental um tanto quanto empírico, pois não havia informações preliminares que pudessem direcionar os primeiros passos do abate. Além disso, os quelônios são répteis singulares, com características anatômicas e fisiológicas particulares que indicam a necessidade de experimentações e estudos específicos para a definição de umametodologia de abate. A inexistência de mecanismos intrínsecos de regulação da temperatura corporal (heterotermia), a presença de esqueleto externo (carapaça e plastrão) e o baixo metabolismo basal são alguns dos pontos que influenciam e exigem diferenciação nos procedimentos de abate. Entre as espécies de pescados utilizadas comercialmente temos a rã-touro-gigante (Rana catesbeiana) que foi a espécie que mais se assemelhou biologicamente à tartaruga-da-amazônia. Por isso, os padrões microbiológicos usados neste trabalho foram os mesmos utilizados para a carne de rã, pelo Codex Alimentarius. Devido às características do estabelecimento industrial em que foram realizados os trabalhos de abate experimental, o produto final obtido foi a carne de tartaruga-da-amazônia congelada. 14.1 Considerações gerais 465 Até recentemente, a experiência científica de abate se resumia ao sacrifício de exemplares de porte maior, retirados da natureza. A criação comercial foi um caminho obscuro para os pioneiros. Não era conhecida a forma de se manejar em cativeiro e a velocidade de crescimento, sem idéia do tempo necessário para que os animais atingissemo peso para abate (1,5kg). Os primeiros criadouros comerciais de tartaruga-da- amazônia começaram a produzir e alguns animais atingiram o peso de abate. A partir daí, ficou evidente a inexistência de uma metodologia de abate que atendesse a todos os critérios higiênico- sanitários e tecnológicos previstos na legislação. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo estudar e estabelecer parâmetros para o abate visando atender aos requisitos tecnológicos e higiênico-sanitários para um aproveitamento racional e econômico da carne de tartaruga-da-amazônia para o consumohumano. Os trabalhos para a definição dos procedimentos básicos de abate foram realizados durante o período compreendido entre os dias 23 de outubro e 11 de dezembro de 2002. Foram abatidosum total de 40 animais com o objetivo de estabelecer as etapas, propondo uma metodologia de abate para a espécie Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia). Os 40 animais foram divididos em seis episódios de abates experimentais realizados no entreposto de pescados da empresa Rander, localizada no Gama/DF e registrada sob o SIF nº 2840 na Delegacia Federal de Agricultura do DF, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O referido estabelecimento destina-se, principalmente, ao abate da rã-touro-gigante (Rana catesbeiana) para a obtenção de carne congelada. 464 Figura 7: Tabuleiro do Ati, comunidade do Roque, Resex Médio Juruá, Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.). Figura 8: Rastros de P. expansa, tabuleiro do Ati, Resex Médio Juruá, Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.). 71 Tabela3:ProduçãodequelôniosnaspraiasmanejadasdaResexdoMédio Juruá,noperíodode1994a2006. Iaçá Tartaruga Tracajá ano filhote covas filhotes covas filhotes vivos morto s vivos morto s 1994 150.000 465 43.721 - 1029 24.949 - 1995 - 249 28.418 - 1.033 33.572 - 1996 - 460 40.376 - 704 6.163 - 1997 98.781 - 43.046 - - 13.140 - 1998 121.666 542 58.804 174 666 25.949 100 1999 144.783 616 76.521 8.256 712 23.008 449 2000 165.530 876 101.644 - 946 29.882 - 2001 186.086 - 118.332 - 1106 36.313 - 2002 81.096 600 69.696 142 574 15.598 9 2003 89.656 679 78.784 140 976 27.345 120 2004 103.608 426 49.416 219 396 8.741 - 2005 70.230 426 42.531 - 735 13.709 - 2006 54.133 467 47.423 - 834 20.109 - Total 1265569 5341 798.712 8.931 11338 278.478 678 Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade&Brelaz (2006). Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas: Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo), Itanga,Mandioca. Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro do Pupunhas. Naquele ano forammonitorados os tabuleiros Deus é Pai ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus Coelho. OtabuleirodoJacaré,protegidopelosagentesda comunidadeNovaEsperança,estálocalizadonoantigoseringal Pupunha.Nele,oseringalistaBasílioCoelhoBastospagavavigias depraiaerecebiaaproduçãode 72 Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga- da-amazônia (Podocnemis expansa) criada em cativeiro Trabalho requisitado pelo Centro Nacional de Manejo e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama-Goiânia), realizado pela empresa Xamã Veterinária Ltda. e conduzido pelos Médicos- Veterinários AlexanderDornelles e LeonardoQuintanilha. A tartaruga-da-amazônia tem uma carne muito apreciada na região Norte,mas alcança omercado das demais regiões. A produção da tartaruga-da-amazônia, bem como dos demais animais silvestres é regulamentada pelo Ibama. O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama), com o objetivo de gerar renda aos produtores rurais e promover a conservação da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), vem incentivando e dando diretrizes para uma exploração comercial visando ao atendimento dessesmercados. O primeiro criatório comercial de tartaruga-da-amazônia foi registrado em 1993 no estado do Amazonas mas, somente em 1995, os primeiros animais atingiram o peso permitido para o abate (1,5kg), sendo comercializados vivos e abatidos, sem inspeção veterinária. Somente no final de 2000, alguns animais foram abatidos experimentalmente no matadouro de pequenos e médios animais nomunicípio de Iguape, no interior de São Paulo. A exploração comercial da tartaruga-da-amazônia, dentro da atual visão do agronegócio, deve ser vista como uma cadeia produtiva. Todos os elos dessa cadeia devem estar organizados e coordenados para o sucesso da atividade. 463 Conclusão A criação de tartaruga-da-amazônia, em escala comercial, com ciclo de 36 meses é uma atividade técnica e economicamente viável e constitui-se emumanova opção ao agronegócio amazônico. O cultivo de tartaruga-da-amazônia é um dos mais promissores instrumentos para a sustentação de políticas ambientais voltadas à preservação e ao restabelecimento de estoques naturais da espécie. 462 filhotes no grande barracão. Soltava todos em um pequeno igarapé que permitia, quando enchia, que os filhotes saíssem naturalmente para o rio Juruá. Depois, o seringal foi vendido para a Maginco. Quando o IBDF assumiu a proteção da área já havia o trabalho que foi mantido com o sistema de contrato de agentes de praia, acampamento e marcação de tartarugas. Tudo isso acompanhado pelo sr. João Tomaz/IBDF. Com o tempo e o crescimento de Carauari, começaram a invadir o tabuleiro, então ficou muito ruim até criarem a Resex. No Jacaré, desovam 32 tartarugas. Segundo os agentes, em 2001 desovaram 24 tartarugas e 140 tracajás, em 2000, haviam desovado 34 tartarugas e 130 tracajás. O período de boiadouro para iaçá e tracajá é em junho e a desova destes ocorre em julho/agosto, já as tartarugas desovam emagosto/setembro. O tabuleiro do Ati também pertence à área do seringal Pupunha, sendo manejado pela comunidade do Roque, que fica distante da margem do Juruá (tem de entrar em um lago e caminhar uma hora na mata de várzea até chegar à comunidade). Esse tabuleiro é o que detém, hoje, a maior produção, cerca de 280 covas de tartaruga. O Manariã é o segundo mais produtivo, entretanto é manejado por uma só família. O terceiro em produção é o Mandioca, seguido do Gumo do Facão ou do Bauana. No Marari, desovammais tracajás. A Tabela 4 apresenta as coordenadas e informações sobre os tabuleiros. O tabuleiro Deus é Pai já foi o mais produtivo na área do antigo seringal Pão, todavia, houve o encalhe de uma balsa com 8.000 sacos de farinha e a movimentação das máquinas para desencalhar a balsa e a dragagem da praia espantaram as tartarugas. Hoje, a presença de gado na praia também prejudica. No Jacaré, Manariã e Deus é Pai, os agentes de praia usavam o capitari (macho da tartaruga) preso emumcercado como “indez” ou 73 “chama”.Aseguir,apresentamosfotosmostrandoareproduçãode avesnostabuleirosdaResex(Figura9) 74 Tabela 6. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperação de Capital (TRC). Preçode venda (R$/kg) 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 TIR (%) --- 10 33 59 84 TCR (ano) --- 8 6 4 3 TIR (%) 15 35 52 67 82 TCR (ano) 10 4 4 2 2 TIR (%) 24 37 49 60 69 TCR (ano) 6 3 3 3 3 TIR (%) 9 20 29 37 44 TCR (ano) 8 4 4 4 4 12meses 24meses 36meses 45meses PeríodosdeCultivo No teste de sensibilidade a diferentes preços de venda, que dá segurança e poder de barganha ao produtor para enfrentar quaisquer oscilações de mercado, observa-se que o cultivo realizado em um período de 36 meses apresentou melhor desempenho que os demais, com TIRs acima da taxa de atratividade, a partir de R$4,00/kg, como preço de venda. Caso o criador venda o seu produto a R$4,00 o quilo, em dois cultivos (6 anos), ele recupera o capital investido. A partir de R$5,00/kg, o tempo de recuperação de capital será de 3 anos. 461 Tabela 5. Composição do custo operacional total da criação de tartaruga sob diferentes ciclos de produção. Discriminação Filhotes Ração Mão-de-obra Encargossociais Administraçãoelogística Manutenção Depreciação Jurosdecusteio Custooperacionaltotal 12meses (%) 32,61 53,96 0,88 0,68 4,49 1,63 1,63 4,12 100 20,04 61,52 1,08 0,84 4,28 2,02 2,02 8,20 100 12,16 66,75 0,98 0,76 4,14 1,84 1,84 11,53 100 8,61 67,02 0,87 0,67 4,141,66 1,66 15,37 100 24meses (%) 36meses (%) 45meses (%) PeríodosdeCultivo Na Tabela 6, são apresentadas as taxas internas de retorno (TIRs) e tempos de recuperação do capital (TRCs). Foi considerada como taxa de atratividade a de 15% a.a., que seria um excelente ganho líquido (abatidos os impostos e taxas) para aplicações no mercado de capitais. Para que o investidor faça a opção de aplicar no agronegócio, a TIR a ser obtida deverá ser duas vezes superior à taxa de atratividade, nomínimo. 460 Na mesma época da nidificação dos quelônios, os tabuleiros também são brindados com muitas aves reproduzindo nas praias como corta água, gaivotas e bacurau. Os filhotes lutam pela sobrevivência quando não são assados pelo sol abrasador ou servem de alimento para os jacarés,mucuras etc. Os ovos do corta-água e gaivotas são tão camuflados que são confundidos com a coloração da área nos tabuleiros. Os filhotes também possuem uma pelagem inicial muito parecida com a areia da praia. São estratégias dos animais para se livraremdos predadores. Os tabuleiros já estão também f a z e ndo um con t r o l e d a ovoposição das aves e também das iguanas que desovam em grande quantidade, emalgumas praias. 75 Tabela4:InformaçõessobretabuleiroselocalidadesreferenciaisnaResex MédioJuruá. Tabuleiro/ localidade Coordenadas Nº de famílias (nº hab.) Pupunha (Jacaré) 5º8’51” S;67º7’35”Wà1 .500mde NovaEsperança(5º5’29”S;67º10’5”W; alt.=74m) 27(168) Ati 5º10’57”S;67º11’45”W Praia PortodoRoque 5º6’13”S;67º11’59”W 59(298) Gumodofacão 5º4’33”S;66º53’42”W - alt.=74m 21(110) Bauana 5º25’18.7’’S; 67º’17’12’’W 18(117) Deusé Pai 5º42’44”Se67º35’72”W-alt=64m 3(11) BomJesus 5º22’37.9’’S;67º12’55”W 22(143) Mari-Mari 5º45’94”Se67º45’04”W-alt.=68m 3(15) Manariã 5º28’15”0S; 67º28’31”W-alt.=68m 5(18) Monte- Carmelo(Pau Furado) 5º53’70”Se67º56’52”W-alt.=74m 9(18) Itanga 5º45’48’’S; 67º49’56’’W - alt.=77m 13(67) Mandioca 5º59’86”Se67º58’55”W - alt.=73m 14(77) O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentes rancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace). Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex, como a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), que paga R$ 200,00 para duas pessoas e fornece dez litros de gasolina, durante seismeses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas diretamente pelo recurso, embora em2001 todos os agentes tenham reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são provenientes de umprojeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc. Emmaio foram liberados R$ 14.400,00 para pagamento 76 O capital de giro necessário para a condução do criatório em quaisquer dos períodos de cultivo é apresentado na Tabela 4. Tabela 4. Parâmetros econômicos após 45 meses de cultivo de tartaruga, ao preçomédio de venda deR$6,00. Discriminação Rendimento(kg/ha) Preçomédiodevenda(R$/kg) CustoOperacionalEfetivo(R$/kg) CustoOperacional Total(R$/kg) Custo Totaldeprodução(R$/kg) RendaLíquidaI(R$/kg) RendaLíquidaII(R$/kg) RendaLíquidaIII(R$/kg) *Rentabilidade(%) **Lucratividade(%) CapitaldeGiro/Custeio(R$/ha)(1X3) 12meses 8.085 6,00 3,57 3,79 3,99 2,43 2,21 2,01 68,06 36,83 28.863,00 24meses 16.755 6,00 2,66 2,96 3,23 3,34 3,04 2,77 125,56 50,67 44.568,00 36meses 30.250 6,00 2,36 2,72 2,94 3,64 3,28 3,06 154,24 54,66 71.246,00 45meses 41.230 6,00 2,34 2,82 3,04 3,66 3,18 2,96 156,41 53,00 96.478,00 PeríodosdeCultivo 1 2 3 4 5 (2-3) (2-4) (2-5) *Rentabilidade = renda líquida I / custo operacional efetivo. **Lucratividade = renda líquida II / preçomédio de venda. A Tabela 5 mostra a composição percentual do custo operacional total para diferentes períodos de cultivo de tartaruga, em área de 1 hectare, com densidade de 5 mil unidades. Ressalta-se que em todos os períodos estudados o item ração desponta como o de maior relevância, o que é comum em todos os criatórios de monogástricos. 459 A duração do ciclo de cultivo deve ser aquela em que se produza a tartaruga com o maior ganho de peso, pelo menor custo total, para a obtenção de maior renda líquida por quilo de tartaruga produzida. Quanto ao preço de venda, maior fator de competição de mercado, o da tartaruga produzida em cativeiro deve ser bem inferior aos praticados no mercado marginal, para que possa haver competitividade. Para fugir da comparação entre o tamanho de tartarugas provenientes do comércio marginal e de cativeiro, estas, preferencialmente, devem ser comercializadas abatidas, com cortes selecionados, permitindo agregação de valor ao produto. Os investimentos fixos para a criação de tartarugas são da ordemdeR$25.000,00/ha, conforme a Tabela 3. Tabela 3. Investimentos fixos. Discriminação Total ConstruçãoCivil Movimentaçãodeterra Monge Cercadeproteção Unidade m³ u m --- Quantidade 10.000 1 400 --- ValorUnitário (R$) 2,15 1.500,00 5,00 --- Valor Total (R$) 25.000,00 21,500,00 1.500,00 2.000,00 As tartarugas produzidas com 36 meses de cultivo apresentaram melhores resultados quanto ao custo total de produção, renda líquida e lucratividade, se comparadas com as produzidas nos demais períodos de cultivo estudados. A rentabilidade, mesmo inferior à alcançada com a produção de tartaruga após 45 meses de cultivo, é excelente, pois para cada real aplicado na produção de 1,0 kg de peso vivo houve umganho deR$1,54, conforme a Tabela 4. 458 dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos principais produtos agrícolas da Resex: farinha e banana (atualmente, prejudicada pelomal da SigatogaNegra). Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através de um trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou como coordenador do projeto, e por um técnico do Ibama, lotado na Resex do Médio Juruá, Manoel Cruz “Manoelzinho” e Aldízio Lima, respectivamente. Esse projeto previa auxílio para os vigias na forma de alimentação, a cada mês, recursos para viagens de monitoramento mensal das atividades dos vigias e compra de equipamentos para a implementação das ações de preservação dos quelônios. O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma base para que possam permanecer durante o dia e a noite. O trabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de animais desovando, a marcação das covas dos animais para o controle do número que desova em cada praia, e o controle da data de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o controle do número de animais que desovaramnas praias, o número de filhotes que nasceram e quemorreram e os ovos não eclodidos. De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga ), tracajá ( ) e iaçá ( ) (Podocnemis expansa Podocnemis unifilis Podocnemis sextuberculata 77 da região do Médio rio Juruá/AM, através de manejo extensivode ovos, filhotes e adultos, por comunidade. Utilizou-se captura- marcação-recaptura, com armadilhas/redes em diferentes microambientes e próximas às áreas de nidificação. Os quelônios forammarcados comperfuração de carapaça (Figura 10). Figura 10: Captura de quelônios com rede trammel-net no sacado doMari-Mari – Resex Médio Juruá, biometria, marcação, soltura e aplicação de questionários. Fotos: C.Dias A.Jr. (2005). Foram aplicados 45 questionários em nove comunidades na Resex Médio Juruá. Foram identificadas oito espécies de quelônios: (16%), P.Podocnemis expansa 78 Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de tartarugas de diferentes cultivos. Parâmetros Tempodecultivo(emmeses) Densidadedecultivo(tartaruga/ha) Conversãoalimentar Comprimentodecarapaça(cm) Larguradecarapaça(cm) Pesomédio(g) Produção/unidadedeárea(kg/ha) Trabalho 45 5.000 2,56:1 44,00 37,50 8.480 41.230 CultivosComerciais 66 5.000 14:1 29,56 24,85 2.660 13.300 Observou-se também, após sexagem, que 17,41% dos exemplares eram machos e 82,59%, fêmeas; os pesos médios para machos e fêmeas foram 4,63 e 8,84 kg, respectivamente. Diante dessa constatação, o interessante, quando possível, seria realizar a sexagem antes do povoamento do viveiro de engorda, optando-se pela criação de fêmeas. Neste caso, os machos deveriam ser destinados à reprodução ou ao comércio ornamental. A análise dos dados econômicos deve ser focada no mercado existente para tartaruga, mesmo que ilegal, e no risco inerente à atividade, comum a todas as outras do ramo zootécnico, quando praticadas em cultivos de longa duração. Atualmente, o mercado demanda tartarugas vivas com peso vivo acima de 15 kg (preferencialmente) e paga de R$12,00 a R$15,00 o quilo, dependendo da época do ano. Quanto aos riscos, aconselha-se não estender pormuitos anos o tempo de cultivo para que o produtor não seja surpreendido por eventualidades, tais como: parasitas, doenças, fugas, roubo, etc. Além disso, em qualquer atividade econômica, quanto menor o tempo do giro do capital empregado mais saudável é o negócio. 457 instalações e tempo de duração completamente diferentes aos deste estudo. Entretanto, as comparações serão realizadas com resultados obtidos em cultivos comerciais, acompanhados pelo Ibama. Os resultados observados sobre o desempenho zootécnico são apresentados na Tabela 1. Tabela1: Desempenhozootécnicodetartaruga,após45mesesdecultivo. Início 12meses 24meses 36meses 45meses Peso médio (g) 234 1.853 3.609 6.338 8.480 Biomassa inicial (kg) 209,66 209,66 1.658,44 3.230,06 5.690,41 Biomassa final (kg) --- 1658,44 3230,06 5690,41 7589,15 Ganhode Biomassa (kg) --- 1.448,78 3.020,40 5.480,75 7.379,90 Produção/Unidade deÁrea (kg/ha) --- 8.085 16.755 30.250 41.230 Ração Consumida (kg) --- 3.188 6.834 13.083 18.875 Conversão Alimenar --- 2,20 2,26 2,39 2,56 Tempode Cultivo (meses) Comprimento (cm) 13,30 23,15 37,48 42,00 44,00 Largura (cm) 12,50 20,30 31,92 35,00 37,50 Carapaça Esses resultados foram consideravelmente superiores quando cotejados com os obtidos da análise dos cultivos comerciais, registrados no Relatório Final 98-2000 do projeto: Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas – Ufam/Ibama, conforme a Tabela 2. 456 unifilis P. sextuberculata Peltocephalus dumerilianus R. punctularia G. denticulata G. carbonaria C. fimbriatus P. unifilis P. expansa Geochelone P. sextuberculata Podocnemis sexturbeculata (16%), (16%), (4%), (11%), (16%), (5%) e (16%). Os comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). NoMédio Juruá, as principais espécies consumidas são (tracajá) 31%, (tartaruga) 26%, spp. (jabuti) 17% e (iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a gordura de quelônios como remédio (Nascimento&Andrade, 2005). Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%). NoMédio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartarugaR$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3. Há maior abundância de iaçás ( ) na Resex Médio Juruá (59%). O período com maior número de capturas é à tarde. No fim da tarde e à noite, foram os momentos de captura dos animais maiores em comprimento e peso. No período de cheia dos rios os quelônios concentram-se nos lagos e na floresta alagada, pela maior oferta de alimentos e proteção contra predadores. Os aparelhos de pesca de maior eficiência para tracajás e iaçás foram as caçoeiras, dos comunitários. E, para as tartarugas, as malhadeiras. A comunidade Bom Jesus mostrou maior quantidade de cascos utilizados em casas de farinha (para tirar a massa) e em residências. Os cascos mais utilizados são os de iaçá, talvez por serem quelônios emmaior abundância na região, uma vez que os comunitários preferem utilizar cascos de tracajá por serem médios. Omaiorpicodedesovadoiaçáocorrenoperíododejulhoe agosto.Atartarugaeotracajáapresentamseuperíododedesova nosmesesdeagostoesetembro.Osmaiorestabuleiros:Deusé Pai,Ati(Roque)eMonte 79 Carmelo. As médias de ovos por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos;matá-matá=12,5 ovos (Nascimento&Andrade, 2005). Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, o peso de animais capturados foi: tartaruga=1.652,32 1.619,81g, idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14 e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e idade=2,91 1,25 anos (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355 7.635 g, idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas, tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimento médio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. &Andrade, 2006). tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e Botafogo, emJuruá/AM O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo e tabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criada em 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os trabalhos de conservação. O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de A.3) Baixo Juruá: 80 Determinação do sexo Análise de viabilidade econômica Resultados A determinação do sexo foi realizada de acordo com a metodologia descrita por Ibama (2001): Macho: apresenta a cauda mais espessa e comprida, com a cloaca mais próxima da extremidade, e tamanho corporal menor quando comparado ao da fêmea demesma idade. Fêmea: tem a cauda mais curta e menos espessa enquanto a cloaca se localiza intermediariamente entre a base e a extremidade da cauda. A análise de viabilidade econômica seguiu a metodologia adotada por Martin et al. (1995), Scorvo Filho et al. (1998) e Melo et al. (2001), na determinação de custos de produção, rendas líquidas, receitas, taxas internas de retorno (TIRs) e tempo de recuperação de capital (TRC), para diferentes sistemas deprodução e preços de venda. Pela amplitude temporal do trabalho (45 meses) e o seu pioneirismo, torna-se impraticável a comparação dos resultados obtidos com os disponíveis na literatura para amesma espécie, visto que eles foram realizados sob condições de manejo alimentar, · · 455 Manejo alimentar Biometrias As tartarugas, nos primeiros treze meses de cultivo, foram alimentadas duas vezes ao dia, às 11:00 e às 15:00h, sempre que possível com ração comercial extrusada, recomendada para alimentação de peixes onívoros, contendo 34% de proteína bruta e a taxa de alimentação diária, nesse período, foi de nomáximo 1,5% da biomassa inicial do viveiro. Na segunda fase (13 a 45 meses), as tartarugas foram alimentadas uma única vez ao dia, sempre às 15 horas, com dieta à base de ração extrusada contendo 24% de PB e a taxa diária de alimentação de, no máximo, 1,0% da biomassa do viveiro, observada no início dessa fase. O fornecimento diário de rações obedeceu ao consumo espontâneo das tartarugas, limitando-se, no máximo, às taxas citadas anteriormente. Observou-se que nos dias nublados e de temperaturas mais amenas as tartarugas ingeriam menores quantidades de ração. Durante todo o cultivo (45 meses), a cada período de 4 meses foram realizadas avaliações biométricas utilizando-se uma amostra de 10%do lote, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento corporal, ganho de peso, conversão alimentar do período e a presença de ectoparasitas. 454 junho – iaçás; 2ª quinzena de julho – tracajás; 1ª quinzena de agosto – tartarugas. O período de desova vai de julho a setembro (julho- agosto, as iaçás; agosto-setembro, tracajás e tartarugas). As iaçás põemde quatro a nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a 36 ovos, e as tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001 foram marcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No tabuleiro Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três covas de tartaruga e 120 de tracajá. Os principais predadores de ovos são: jacuraru, camaleão, urubu, gavião-de-bico-vermelho; os predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e o tracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes). Figura 11: Equipe do tabuleiro do Joanico, Juruá/AM, 2001. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.). O trabalho no Joanico consistiu em piquetear as covas de tartaruga e tracajá, coletar filhotes e soltar no rio ou nos lagos. Em 2001, pela primeira vez, foram utilizados oito berçários de 1,5 m x 1,5mx 1,5m, demadeira, telado com sombrite. Antes, trabalhava só um agente de praia, o sr. José de Nascimento Santana. Nos últimos anos tem trabalhado uma equipe de fiscalização: 81 Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GM Francisco Deusimar da Silva; GMAntônio Israel de Araújo Filho; GM Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca doBreu. A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcos ou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram 44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a população visse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na multidão ao presenciarema cena commuitos iaçás jámortos. A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do rio Juruá O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico, localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro commais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de 2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na calha do 82 Solo e clima Tartarugas Preparo e povoamento do viveiro As condições edafoclimáticas predominantes na área são: latossolo amarelo, textura muito argilosa, precipitação pluviométrica anual de 2.400 mm, média de umidade relativa do ar de 88%, temperatura média anual de 26,5°C, média diária de brilho solar de 5,4 horas, velocidade média do vento de 0,7 m/s e altitude de 50macima do nível domar. Foram utilizadas, na fase de engorda, 896 tartarugas oriundas da Reserva Biológica do Abufari-Tapauá/AM. As tartarugas passarampor umperíodo pré-experimental de dezmeses na Embrapa Amazônia Ocidental, sendo transferidas para dar início à Unidade de Observação. Foram coletados os seguintes dados biométricos: 1) carapaça: comprimento: 13,30 cm, 12,50 cm de largura; 2) plastrão: 10,15 cm de comprimento e 10,10 cm de largura; 3) peso vivomédio: 234 g. Após uma semana de exposição aos raios solares, aconteceu a limpeza do fundo e das laterais do viveiro, deixando-o livre de restos vegetais, materiais de construção, vidros, plásticos etc. Em seguida, realizou-se o abastecimento do viveiro e o seu povoamento, obedecendo à densidade de 1 tartaruga/2m² de área inundada (5.000 tartarugas/ha). 453 O agronegócio amazônico, que apresenta reduzidas opções de sistemas de produção animal sustentáveis, tem, com este trabalho realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus parceiros, ampliado o seu leque de alternativas. Disponibilizar um sistema de produção de tartaruga-da- amazônia técnica e economicamente viável, como uma nova opção ao agronegócio amazônico. Disponibilizar informações técnicas que, entre outros fatores, permitam aumentar a oferta de tartaruga para atender à demanda existente, diminuindo a pressão do extrativismo e proporcionando o estabelecimento de políticas ambientais voltadas para a conservação e a recuperação do estoque natural. Os estudos foram realizados em propriedade particular parceira da Embrapa Amazônia Ocidental, para a realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, desde 1994, localizada no município de Rio Preto da Eva-AM, cuja atividade principal é a piscicultura intensiva. A implantação da Unidade de Observação (UO) foi em 1/7/1999 e o período de coleta de dados foi de 45meses, utilizando um viveiro escavado em argila com área de 1.792 m com cerca de contenção (distante 2 metros do corpo d'água), de tela (sarão), com altura de 80 cm e enterrada 20 cm. O viveiro recebe água por gravidade originária de igarapé de água preta, ácida (pH 5), que apresenta baixa fertilidade natural. A renovação diária de água no viveiro é da ordemde 2,5%. Objetivos Materiais emétodos 2 452 rio Juruá. Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás (P. unifilis), 63 tartarugas-da-amazônia (P. expansa), centenas de aves que encontraramno tabuleiro de Juanico um raro lugar seguro para fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata) lá nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vida explode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância humana. Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de pássaros nidificando,ocorrendo principalmente gaivota ( e ), corta-água ( ), maçarico ( e ) e bacurau ( ). As praias protegidas ficam tomadas pelas aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra àmedida que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar. Phaetusa simplex Sterna superciliaris Rynchops nigra Charadrius collaris Vanellus cayanus Chordeiles rupestris Figura 12: Filhotes de trinta-réis (Phaetusa simplex). Fonte: Paulo HenriqueOliveira. A.3.2. Pressão de caça e predação Detectamos algumas dezenas de praias, ao longo do caminho, que pareciam desertas, inteiramente desabitadas e predadas, vítimas da intensa predação, como a retirada de ovos das aves aquáticas e dos 83 quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata) e tracajás (P. unifilis), que ocorrem emmaior freqüência, são osmais coletados. A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga (Podocnemis expansa), Jabuti-amarelo (Geochelone denticulata), iaçá (Podocnemis sextuberculata), tartaruga de igapó (Phrynops raniceps) ematá-matá (Chelus fimbriatus). Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são: da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo, rendidura e dor muscular; – para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser de jabuti fêmea e vice-versa; – para assadura; – capitari, fêmea do tracajá e iaçá e zé-prego -- é usada como comedouro p/ animais domésticos e principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno, na casa de farinha. As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na Resex são: tracajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para comercializar nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas comunidades,mas não é tão intenso quanto na cidade. banha chá da escama da carapaça do jabuti chá da escama assada da carapaça do matá-matá carapaça ¹Rendidura – hérnia escrotal; ²Capitari –macho da tartaruga; ³Zé-prego –machodo tracajá; 84 Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa): alternativa ecológica, técnica e econômica ao agronegócio amazônico LuizAntelmoSilvaMelo AntônioCláudioUchôaIzel MariadasGraçaHossaine-Lima AgenorVicentedaSilva PauloCesarMachadoAndrade O hábito alimentar arraigado de consumir carnes de animais silvestres nativos da região é inerente ao amazônida, pois seus ancestrais já o praticavam. Dentre as espécies mais apreciadas por essa população, destaca-se a tartaruga-da-amazônia, devido às excelentes características organolépticas de suas partes comestíveis, o que levou a espécie ao risco de extinção. Considerando a conhecida dificuldade de mudança de hábito alimentar de uma população, assim como a necessidade de preservação da espécie e de recuperação do estoque natural, pode-se afirmar que a criação comercial de tartaruga é uma alternativa potencial para atender diversas situações. Introdução ¹ Os dados apresentados neste trabalho são oriundos da publicação Criacão de tartaruga-da-amazônia (Podcnemis expansa). 14 p., 2003. (Embrapa, Amazônia ²Ocidental. Documentos, 26). ³Engenheiro-AgrônomoM.Sc. –Embrapa AmazôniaOcidental. ZootecnistaM.Sc. –Embrapa AmazôniaOcidental. BiólogaM.Sc. –Seduc/AM. BiólogoB.Sc. – Ibama/AM. Engenheiro-AgrônomoM.Sc. – Ibama/AM 4 4 5 6 451 instituições de pesquisas, extensão rural, vigilância sanitária, consumidores, mercado, etc., visando propiciar o desenvolvimento da criação de quelônios, em cativeiro, na região. Espera-se, também, a efetiva e necessária organização da cadeia produtiva, principalmente, através dos itens: a) colocação do produto no mercado; b) propaganda e marketing; c) construção de abatedouro licenciado pela inspeção federal; d) definição das formas de comercialização e abate; e) agroindústria agregada ao abate para fabricação de cosméticos, farmacoterápicos e peças de artesanato. Tudo isto, entretanto, deverá estar associado à manifestação real de interesse e ao firme propósito dos possíveis órgãos fomentadores do setor primário no Estado (Governo, Basa, Suframa-Distrito Agropecuário). Hoje, podemos dizer que já existe uma tecnologia de produção e, principalmente, um volume muito grande de produto para ser colocado no mercado (estima-se hoje, no Amazonas, cerca de 600.000 animais em cativeiro, dos quais 100.000 já estariam em ponto de abate), faltando acertar detalhes da cadeia para que a atividade rentável e viável seja uma alternativa produtiva para o Norte do país. Em 2005, os criadores do Amazonas, conseguiram vencer um dos entraves na cadeia produtiva que era, justamente, a comercialização, direta e em escala, de seu produto. Em função da organização dos criadores em uma associação, e do fomento da agência de agronegócios do Estado, a maior parte do plantel produtivo dos criadores pioneiros (1995 e 1996) já foi comercializada com o animal vivo em feiras, em2005 e 2006, garantindo o retorno do investimento com alta rentabilidade (375,4%), em que o custo de produção médio foi de R$2,93/kg em peso vivo e receita com a venda de R$11,00/kg. A média de peso dos animais comercializados subiu para R$7,8±5,5 kg, com animais de 5 a 7 anos, o que demonstra um avanço, também, na adoção das técnicas de manejo e alimentação disseminadas pelaUfamdesde 1997. 450 Figura13: Tracajá (P. unifilis) sendo comercializado na cidade de Juruá. Fonte: P.H. Oliveira. É freqüente o encontro com vários barcos peixeiros na calha do rio Juruá, sempre acompanhados por muitas canoas e cheios de caixas de isopor. Nas margens do rio observamos outras várias caixas de isopor dispostas nos portos das casas. Não há controle do fluxo de embarcações que navegam o rio Juruá. Com trânsito livre, a região fica vulnerável e grande parte dos recursos da região é retirada. Alguns exemplos que mostram o grau de predação: no ano de 1999, a polícia de Juruá prendeu oito barcos que, juntos, transportavam cerca de 44.000 quelônios e dois meses depois, mais 800 indivíduos. Por informações dos comunitários, sabe-se que no ano de 2002 passaram 8.000 animais para o município de Alvarães, pelo Igarapé doBreu. São vários os predadores de quelônios encontrados nos tabuleiros do rio Juruá na época da desova dos quelônios. Predadores de ovos: homem, jacuraru ( sp.), mucura ( ), gavião-preto ( ), urubu ( ), paquinha ( ), macaco-prego ( ). Predadores de filhotes: bagres em geral e aruanã ( sp.), piranha ( ), pirarara ( ), jacaré ( e ), corta-água ( ), Tupinambis Didelphis marsupialis Buteogallus urubitinga Coragyps atratus Orthoptera, Gryllotalpidae Cebus apella Osteoglossum Pygocentrus nattereri Phractocephalus hemioliopterus Caiman crocodylus Melanosuchus niger Rynchops nigra 85 gaivota ( ), gavião-preto ( ), urubu ( ), gato-maracajá ( ). Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajá aumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estão diminuindo, tartaruga nem se vê falarmeu irmãozinho”. Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuemum histórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito por revezamento entre os comunitários (um fica durante o dia todo e o outro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos, devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam de forma (altura, largura e, muitas vezes, crateras sãocriadas ao longo da praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dos seringais e temuma bandeira como ummarco indicando que a praia é protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eram demarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando bandeiras brancas e vermelhas. As comunidades Botafogo e Antonina têm um histórico de mais de 15 anos de proteção dos tabuleiros, que eram saqueados por índios da etnia Deni e Culina, no trajeto em direção à cidade de Juruá, para receber benefícos do governo, como aposentadoria. Essa falta de sintonia entre irmãos indígenas e ribeirinhos enfraquecia as ações de conservação dos quelônios aquáticos. Phaetusa simplex Buteogallus urubitinga Coragyps atratus Leoparduswiedii A.3.3. Envolvimento comunitário A.3.4 Produção nos tabuleiros 86 Foi verificado o prolapso retal em alguns machos de P. expansa separados para a venda (Figura 8). É possível que isso esteja associado à traumatismo causado pela aglomeração dos animais em ambiente seco, por tempo prolongado. A reversão ocorreu em 3 dias. Este comportamento foi observado por Duarte (1998) em alguns filhotes recém-nascidos, com 4 dias de idade (não sexados) na Reserva Biológica do Abufari, em Tapauá, Amazonas. Ele acredita ter sido ocasionado pelo estresse ao manejo de captura e transporte, pelo atrito da cauda dos animais com superfícies rígidas, pela mudança de ambiente, ou por agentes parasitológicos que podemprovocarmudança no sistema fisiológico do animal. Figura 8: Prolapso retal verificado emalgunsmachos de P. expansa separados para venda. Foto:Duarte, 1998. A expectativa com a criação licenciada e com omercado pelos queloniocultores, em geral, é que haja uma demanda significativa dos produtos e subprodutos oriundos desses quelônios legalizados, através de um monitoramento envolvendo os queloniocultores, 449 Sangue = 3,66 ± 0,79% Carapaça = 23,11 ± 0,82% Plastrão = 10,54 ± 1,17% Cabeça = 3,94 ± 0,78% Carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) = 32,83 ± 9,09% Vísceras = 7,96 ± 1,31% Fígado = 1,48 ± 0,29% Coração = 0,16 ± 0,03% Quartos dianteiros = 15,24 ± 4,15% Quartos traseiros = 17,56 ± 5,01% Rendimento de partes comestíveis (sangue, carne, fígado, rins, pulmão, coração) = 39,62 ± 9,63%. Animais de maior tamanho e peso apresentam maior rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de categorias menores (maior porcentagem de casco). Este fator pode ser direcionado de acordo comomercado consumidor. Em alguns animais foram encontrados endoparasitas ao longo do trato gastrointestinal. Eles foram coletados e fixados em lâminas, para posterior identificação. Foram observados nematelmintos (níveis elevados) principalmente no estômago, além de protozoários e bactérias. Não foram encontrados parasitas sangüíneos e nem sanguessugas. 448 A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceu bastante de 1998 a 2002, comomostra a Tabela 2. Tabela 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de Ano Espécie Número de ninhos Filhotes soltos 1998 P.expansa 76 7.618 P.unifilis 132 3.571 P.sextuberculata 5.210 52.101 Total 5.418 63.290 1999 P.expansa 152 18.496 P.unifilis 157 4.782 P.sextuberculata 6.720 67.204 Total 7.029 90.482 2000 P.expansa 158 19.000 P.unifilis 160 4.986 P.sextuberculata 7.510 80.753 Total 7828 104.739 2001 P.expansa 170 21.490 P.unifilis 170 5.200 P.sextuberculata 8.075 80.735 Total 8.415 107.425 2002 P.expansa 185 27.900 P.unifilis 185 6.275 P.sextuberculata 10.050 100.500 Total 10.420 132.225 Fonte: SecretariadeMeioAmbienteeTurismodeJuruá-AMeRAN- Ibama/AM,2003. O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos, tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade, 2001). O comprimentomédio dos ovos ficou em torno de 40mmpara o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá 26mm. 87 O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de 37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos (tracajá), 70-130 (tartaruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi de 88,56% para Podcnemis expansa, 96,4% para P.unifilis e 92,3%para P. sextuberculata (Andrade, 2001). No tabuleiro de Renascença foram produzidos, em 2001, 273 filhotes de tartaruga (P. expansa), 360 de tracajá (P. unifilis) e 5.441 de iaçá (P. sextuberculata). A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá: Botafogo, Antonina e Itaúna A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em 130.011 filhotes (1,30% P. expansa, 6,79% P. unifilis, 91,92% P. sextuberculata). Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um aumento percentual em relação à participação dos tabuleiros da Resex na produção total do Baixo Juruá, já que em 1995 o tabuleiro de Botafogo colaborou com apenas 13,91% do total produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% de tartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4 apresenta a produção de filhotes de quelônios em Antonina, Botafogo e Itaúna, em2001. Tabela 6: Produção de ninhos e filhotes de quelônios em Antonina, Botafogo e Itaúna –ResexBaixo Juruá, 2001. 88 Foram capturados 1.172 animais, sendo realizada a biometria em884 animais. Do total, 65% apresentavam-se abaixo do peso mínimo para venda, ou seja: 1,5 kg PV. A distribuição em categoria de peso pode ser observada na Figura 7. Distribuiçãodopesoemrelaçãoaonúmero deindivíduos 0 100 200 300 400 500 600 700 0-1kg 1-5kg 5-10 kg 10-15 kg 20kg Peso(kg) I n d i v í d u o s No.deIndivíduos Figura 7. Distribuição, em peso, dos animais analisados pelo Ibama para venda. (Duarte, 1998). Quanto aos parâmetros de carcaça dos animais, foram abatidos 5 de diferentes categorias, que apresentaram os valores de rendimento percentual em relação ao peso corporal em jejum: 447 espessa, a abertura “cloacal”mais próxima da extremidade final da cauda e sutura média no plastrão em formato em “U” e o tamanho corporal menor se comparado à fêmea. A fêmea tem a cauda mais curta e menos espessa em relação ao macho, a abertura “cloacal” localiza-se medianamente na extremidade da cauda e a base e a sutura médio-ventral no plastrão da fêmea tem formato em “V” e o tamanho corporal é maior do que o macho. Antes de atingir de 2 a 3 anos de idade observou-se que a sutura médio-ventral no plastrão, no macho, apresenta-se em “V” e na fêmea expressa-se em “U”. Estes indicadores invertem-se em animais de 2,5 ± 0,707 anos de idade. Foi aplicado um questionário aos compradores dos animais, no supermercado, visando saber qual a opinião do público em relação ao sabor do animal de cativeiro, o seu tamanho, e o preço por kg do peso vivo, forma de preparo, qual a freqüência de consumir tartaruga, etc. Os animais apresentaram, emmédia, os seguintes valores: Idade: 5,5 anos Comprimento da carapaça: 29,56 cm Largura da carapaça: 24,85 cm Altura: 12,8 cm Peso: 2,66 kg PorcentagemSexual:macho 55%; fêmea 45% 10.3.1 ANÁLISE DE CARCAÇA DOS ANIMAIS COMERCIALIZADOS 446 Tabuleiro Espécie Nº de Ninhos Nº Médio de ovos Nº Total deovos Nº Estimado de filhotes Antonina Tartaruga 6 125- 133 800 780 (3º23’40”Se 66º4’18”W) Tracajá 70 34 2380 1200 Iaçá 2600 10-1127560 26000 Botafogo Tartaruga 5 120- 140 700 660 (3º20’8”Se 65º97’30”W) Tracajá 170 30 5100 3400 Iaçá 9200 9-11 98924 92000 Itaúna Tartaruga 2 110- 142 284 250 (3º1’20”Se 65º54’24”W) Tracajá 170 26 4.420 4230 Iaçá 213 10 2.130 1491 Total 12436 142394 130011 Obs. A área total dos tabuleiros é: Botafogo=3.600 m x 280 m, Antonina= 1.770mx150me Itaúna= 1.240mx239m. Fonte: Andrade (2001). A Figura 14 e a Tabela 7 mostram a evolução da produção de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se uma tendência gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à tendência observada por Andrade et al. (2006) para a Resex do Médio Juruá e demais calhas de rios do Amazonas, onde ocorre o trabalho de proteção, o que significa que poderemos utilizar o modelo proposto para verificar a sustentabilidade das taxas de extração anual. 89 Produçãodeninhosdequelônios emBotafogo 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Ano N . T r a c a j á s / t a r t a r u g a s 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 N . I a ç á s Tartaruga Tracajá Iaçá Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro de Botafogo –ResexMédio Juruá. Fonte: Andrade (2001). Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás, ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (1990- 2002). Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na Resex do Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários, captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados biométricos, razão sexual e outras informações sobre a A.3.6Monitoramento de quelônios naResex Baixo Juruá 90 foi demonstrado neste capítulo e no capítulo 7, deste livro), isto é, reduzindo um pouco sua margem de lucro e melhor estratégia de marketing e venda, os queloniocultores legalizados poderão facilmente estabelecer preços mais competitivos e desbancar, definitivamente, o produto ilegal. A queloniocultura, provavelmente, deverá direcionar os produtos e subprodutos em termos de qualidade e/ou quantidade, em função do mercado, pois, historicamente, o hábito alimentar do consumidor, em relação à tartaruga, refere-se (em geral) ao animal com aproximadamente 25 kg PV. Sendo necessário, para isso, um esclarecimento visando uma possível mudança no hábito, assim como a forma de venda dos animais, a estrutura de abate, etc. O empréstimo bancário para a queloniocultura deve ser estudado em função das características da criação e ao período em que atividade trará resposta do investimento, pois a linha de crédito é umdos suportes para o desenvolvimento dessa atividade. Durante a fase de comercialização, alguns animais deixaram de apresentar, em uma das placas marginais, na parte posterior da carapaça, o lacre plástico identificando que eram provenientes de criadouro licenciado. Eles foram quebrados pelas patas posteriores dos animais (Kohashi ). Recomenda-se que os animais sejam inspecionados para consumo humano por terem sido encontrados, na amostra de animais analisados para venda, endoparasitas. Observou-se que os machos (comercializados) de P. expansa apresentama caudamais comprida e espessa, a abertura “cloacal” 1 ¹Kohashi,Moysés.Administrador.Informaçãopessoal. 445 A propaganda não deixou claro que os animais eram provenientes de criadouro licenciado. Para uma atividade nova, em termos legais é importante divulgar que os animais são de criadouro licenciado, para dar suporte à queloniocultura regional. Foi detectado (durante as observações dos animais no tanque) que alguns clientes no supermercado, e outras pessoas em conversa pessoal, deduziram, por equívoco, que os animais expostos estavam liberados para venda como se fossem capturados da natureza, sem autorização, como ainda ocorre no estado do Amazonas. O preço relativo pelo qual foi vendida, inicialmente, no supermercado, de R$ 18,00 (US$ 6,00) por kg do peso vivo-PV de tartaruga se comparado às carnes de peixe (tambaqui, cerca de R$ 7,00/kg PV), frango e bovina, foi elevado para um produto amazônico. Existe uma tendência para que esse preço diminua com o aumento do número de animais postos à venda por outros criadouros licenciados. Caso contrário, o preço cobrado tende a comprometer a venda legal, pois a forma de comercialização para alguns possíveis compradores torna-se desinteressante pelo fato de ter que pagar R$ 18,00/kg PV por uma parte do animal que não será consumida (carapaça e plastrão). Além disso, existe o problema da concorrência com o animal de origem ilegal, cujo preço, hoje, está em torno de R$ 300,00 (U$100,00) para um animal com peso médio de 25-30 kg de PV, ou seja, o produto clandestino está saindo cerca de R$ 10-12,00/kg de PV (U$3,33-4,00). Muitos queloniocultores já reduziram seu preço de venda para R$6,00 a R$10,00/kg, ou seja, um preço que concorre com o produto ilegal. Todavia, os custos médios de produção no Amazonas giram em torno de R$1,45 a 2,93 (conforme 444 estrutura populacional dessas espécies. Essas informações subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento contínuo fornecerá – associado aos dados de produção das áreas reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques e verificar a sustentabilidade de taxas de desfrute anuais de ovos, filhotes ou animais subadultos. Tabela 7: Histórico da produção de quelônios em praias protegidas naResexBaixo Juruá. ProduçãonostabuleirosdaResex Botafogo Ninhos Filhotes Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá 1990 1 25 559 130 500 5.200 1991 2 52 1.075 265 1.040 10.000 1992 3 80 1.613 390 1.600 15.000 1993 4 93 2.151 520 1.860 20.000 1994 4 110 2.688 530 2.200 25.000 1995 4 120 3.175 536 2.400 29.530 1996 5 126 3.468 680 2.520 32.250 1997 5 134 4.970 680 2.680 46.220 1998 5 140 5.161 635 2.800 48.000 1999 5 148 5.726 642 2.960 53.250 2000 5 155 7.903 640 3.100 73.500 2001 5 170 9.892 660 3.400 92.000 Antonina Ninhos Filhotes Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá 1998 2 35 2.400 220 860 24.000 1999 3 55 2.752 420 970 27.520 2000 4 65 2.600 662 1.100 26.000 2001 5 70 2.600 780 1.100 26.000 Fonte: Andrade (2001) e Secretaria deMeio Ambiente do Juruá (2002). 91 Figura 15: Locais de monitoramento de quelônios na Resex Baixo Juruá – 2005/2006. A.3.6.1 Informações baseadas nos questionários – espécies de quelônios (habitat, alimentação, reprodução) e sua utilização Os comunitários identificaram dez espécies de quelônios entre os animais mostrados nas pranchas coloridas: expansa (tartaruga), (tracajá), Podocnemis sextuberculata (iaçá), (cabeçudo), Podocnemis Podocnemis unifilis Peltocephalus dumerilianus Rhinoclemmys 92 Figura 6:Colocação do lacre plástico para a venda de quelônios com perfuração da escama caudal da carapaça com auxílio de furadeira elétrica. Foto: Projeto Diagnóstico (P.C.M. Andrade). Após marcados, os animais foram vendidos vivos para um supermercado local, que exibia os animais ao público em um grande aquário, com uma placa com o registro do supermercado como comerciante de produtos da fauna (Portaria nº 117/97) a origem dos animais e o número de registro/autorização do criador. Acompanhou-se, ainda, a venda aos consumidores regionais, no próprio supermercado,que era feita da seguinte forma: o consumidor escolhia o animal, um atendente o capturava no aquário com um puçá e ele era pesado em uma balança digital que fornecia, imediatamente, uma etiqueta com o preço a ser pago. Então o animal era levado em um carrinho de supermercado para ser pago no caixa, sempre com o lacre identificador de sua origem legal. O comportamento dos animais dentro do aquário, no supermercado, era bastante agitado, devido, provavelmente, à climatização interna do supermercado, pois pela observação, a natação era bastante rápida, como se fosse uma forma de “aquecimento” corporal, seguido de algumas mordidas quando os animais submersos tocavam-se. 443 Figura 4: Animal para venda com lacre plástico. Foto: Projeto Diagnóstico (P.C.M. Andrade). Figura 5: Lacre plástico para venda de quelônios. Foto: Projeto Diagnóstico (P.C.M. Andrade). 442 punctularia Platemys platycephala Geochelone dent iculata Geochelone carbonaria Chelus fimbriatus Phrynops raniceps Phrynops nasutus Platemys platycephala Phrynops raniceps (perema), (jabuti-machado), ( jabuti-amarelo) , (jabuti-vermelho), (matá-matá) e (lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se que a designação ou nomenclatura popular é diferenciada de outros locais da Amazônia, pois chamam de perema a , e lalá o , tartaruga-de-igapó é a A alimentação desses animais é muito variada. Segundo os comunitários, eles alimentam-se de frutos diversos, inflorescências, sementes, animais em putrefação e algas. Os alimentos disponíveis nos lagos e matas alagadas são bem diversificados. Exemplo de abiorana, cajurana, caimbé, castanha, apuí, caxingubu, camu- camu, socoró, marajá, muruxi, caimbé, tamaquari, jauari, oxirna, bacuri e castanharana; canarana, mururé, mureru, taboca e capim- membeca. No Baixo Juruá, segundo os comunitários, os quelônios alimentam-se de frutos (30,77%), plantas aquáticas (29,59%), sementes (18,93%), peixes (14,79%) e flores (5,92%). Na Resex Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). Observou-se que, para os comunitários, a maioria das espécies vive em rios, lagos, igarapés e cabeceiras (exceção do jabuti que vive na floresta). Essa opinião é similar ao Médio Juruá, onde, segundo os moradores, 66% dos quelônios habitariam em lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento, 2005). frutos de igapó e matas alagadas: macrófitas aquáticas e gramíneas: 93 Verificamos que os valores registrados para o número de ovos não diferem significativamente dos encontrados por Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8 ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registraram as seguintes médias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá- matá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que, provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de quelônios do rio Solimões, que são animais muito maiores do que amédia dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999). No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para consumo são os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), emata- matá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%). Verificou-se que nas três regiões da Resex Baixo Juruá o preferido é o tracajá. Em segundo lugar, dependendo da abundância ou não do recurso no local, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas tartarugas, a preferência recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de ser omais abundante, não está entre os três preferidos. Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são: a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), o jaticá (15,15%) e o espinhel (9,09%). Andrade & Nascimento (2005) verificaram que os petrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio Juruá são amalhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%). A Tabela 8 apresenta o preço médio de venda das principais espécies de quelônios, praticada nas comunidades dentro daResex (35%) e na cidade de 94 deverão receber marcação diferencial com plaquetas de alumínio de 4,0 cm X 1,5 e 2 mm de espessura. Esse material recebe o nome Ibama, numeração seqüencial e registro do criadouro. Na plaqueta são feitos dois furos através dos quais se passarão dois arrebites para a fixação na carapaça do animal. Os furos e a colocação da plaqueta são feitos com o auxílio de furadeira, nas escamas caudais da carapaça. O rendimento de carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) foi de 32,83 ± 9,09% em relação ao peso corporal de 2,66 kg obtidos. Isso difere do citado pelo Sebrae(1995), em que 35% do peso corresponde ao casco e 65% à carne e que, ao final de 4 anos, a tartaruga estará com 20 kg, crescimento e rendimento que verificou-se com base em todos os estudos realizados, praticamente impossível de se obter nas atuais condições tecnológicas de criação. Hoje, o tamanho mínimo permitido deve ser esclarecido à população para uma possível mudança no hábito alimentar, pois a tartarugada regional refere-se, em geral, a um animal de tamanho grande. Após a biometria, pesagem e seleção, cada animal compeso, para venda, foi marcado pelo queloniocultor com um lacre oficial (de material plástico), com identificação específica, adquirido no Ibama-AM para ser fixado no escudo posterior da carapaça (Figuras 4, 5 e 6). ¹Designaçãogastronômicaparaopreparodatartaruga. 441 11.3Comercialização Durante o diagnóstico da criação de quelônios um criador do Puraquequara, Manaus, que recebeu 17.000 animais doados pelo Ibama-AM, desde 1992, realizou a primeira comercialização de tartarugas legalizadas no Amazonas, vendendo, em 17/07/1998, parte dos animais recebidos (Podocnemis expansa), conforme prevê a Portaria nº 070/96 do Ibama, específica para a comercialização de P. expansa e P. unifilis, oriundos de criadouro licenciado. O processo de comercialização dos animais iniciou-se com o queloniocultor, solicitando a liberação do estoque para venda através de vistoria e de parecer técnico favorável do Ibama–AM, bem como o fornecimento dos lacres de identificação para os animais que seriam comercializados. Cada lacre plástico, em cores, que varia a cada lote (verde, vermelho, branco), possui o número de registro do criador, o estado de origem, a sigla Ibama e um número seqüencial. Os lacres são vendidos ao criador a um preço de R$1,10 (aproximadamenteU$0,36) a unidade. Após a autorização da venda realizou-se a captura através de redes de pesca (Tipo arrastão). Foi feita a biometria (carapaça e plastrão), a pesagem dos animais em balanças de capacidade de 15 kg e de 50 kg, e posterior seleção dos animais que estavam com peso vivo – P.V. acima de 1,5 kg, ou seja, o peso mínimo para venda, conforme determina a Portaria nº 070/96. Após selecionados, os animais com P.V. inferior a 1,5 kg foram devolvidos à barragem pelos trabalhadores do criadouro. Aseleçãode10%dosanimaisdoloteparareproduçãodoplantel, porocasiãodavenda(Portarianº142/92),seaindanãofoifeita, deveráserrealizadanessaocasião.Asmatrizesereprodutores 440 Juruá (47%). Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$ 15,00 aR$ 20,00 o cento. Tabela8: PreçomédiodevendadequelônioseovosnaResex BaixoJuruá. Espécie Tracajá Tartaruga Tartaruga Iaçá Jabuti (R$) unidade unidade (kg) unidade unidade Média 34,06 123,33 4,29 3,88 15,00 DP 8,41 66,53 0,70 1,32 3,54 Máximo 50,00 200,00 5,00 5,00 20,00Mínimo 15,00 20,00 3,00 1,50 10,00 Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente mais caros quando comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andrade&Nascimento, 2005). Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios como remédio e 48,3% usam o casco como pegador ou bacia, para descansar a massa da farinha. Foi relatado que o casco do jabuti torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã, combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para bronquite. NoMédio Juruá essa utilização como remédio cai para apenas 28% (Andrade&Nascimento, 2005). Na primeira excursão, no final da seca, foram capturados 115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis), 12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás (Podocnemis sextuberculata), 59 machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas (Podocnemis expansa), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops raniceps. Também foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de tracajás e 4 A.3.6.2 Parâmetros de estrutura populacional de quelônios naResex Baixo Juruá 95 filhotes de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no igarapé do Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5 quelônio/hora-homem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na segunda excursão foram capturados 67 iaçás (Podocnemis sextuberculata), uma P. expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops nasutus. Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao local de captura, 67,5% foram capturados em enseadas, ressacas ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%), sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam em enseadas ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes, 58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados biométricos, razão sexual e média de idade dos animais capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies capturadas. Tabela9: Parâmetrosbiométricos,idadeerazãosexualde quelônioscapturadosnofinaldavazante,naResexBaixoJuruá. Parâmetro Tartaruga (P.expan- sa) Tracajá (P. unifilis) Iaçá (P. sextuber_ culata) Phrynops raniceps Número de animais 4 26 84 1 Comprimento da carapaça (cm) 34,7±8,9 22,2±5,1 17,3±3,7 27,5 Peso (kg) 4,1±2,8 2,2±1,5 0,61±0,3 2,45 Idade (anos) 8 6,7±2,2 3,6±0,8 - Razão sexual 75% Machos 53,8% machos 72,8% machos 1 fêmea Esses valores são similares aos encontrados por Andrade et al. (2006) para quelônios capturados no início e no final da vazante, na Resex Médio Juruá, para 96 1) Criar critérios técnicos ambientais para instalação para estabelecer diagnóstico ambiental no sentido de prever conseqüências potenciais necessárias para a instalação, operação emanutenção das condições ambientais. 2) Desenvolver instrumentos e metodologias visando o desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais educativos e outros instrumentos para a prática da criação animal; 3) Implementar um de sistema de informação para estabelecer um sistema de manutenção de informações para organizar a documentação e todas as informações necessárias à execução da atividade; 4) Proporcionar ações educativas e de capacitação visando estimular e apoiar a participação dos responsáveis na formulação de políticas para o meio ambiente, bem como a concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do meio natural, social e cultural, através da implementação da educação ambiental. 5) Controle operacional para estabelecer e manter instrumentos para verificar, investigar e corrigir através de inspeções, auditorias ambientais e ações corretivas e preventivas. Agradecimentos Especial agradecimento à profa. Cassandra Guimarães de Freitas, por acertadas críticas e sugestões valiosas, igualmente à Fachin-Teran e aos professores Gilberto Peixoto, Ubirajara Boechar, Andrea Waichman e Elizabeth Santos, pelo apoio e colaboração. À todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente para a realização deste trabalho. Ao programa do Trópico Ùmido- PTU/CNPq, pelo apoio logístico. 439 que o interesse pela criação de quelônios é apenas um fator econômico e , portanto , não há compromet imento , conhecimentos básicos das espécies, dos custos, entre outros aspectos, para a efetividade da sustentabilidade da atividade. Os criadouros funcionam de acordo com a disponibilidade do local e são implantados sem qualquer planejamento, controle dos resíduos, condições ambientais e disponibilidade dos recursos que atendam às recomendações das normas ambientais (ABNT, 1996), e assim, proporcionem bom funcionamento aos criadouros implantados ou que venhama ser implantados. Para a operacionalização recomenda-se a adoção efetiva de um técnico habilitado, com o objetivo de disciplinar o gerenciamento, supervisionar, planejar, bem como proporcionar treinamento do pessoal envolvido, assegurando um desempenho melhor das funções e evitando as conseqüências potenciais dos procedimentos operacionais. O órgão fiscalizador deverá propor mudanças de comportamento passando de uma ação fiscalizadora para uma gerenciadora do planejamento e administração, baseada em compromissos ambientais e sociais. Com base nas constatações realizadas, pode-se propor que os estabelecimentos pesquisados propiciem a gestão ambiental nos modelos propostos por Macedo (1995) e ABNT (1996) visando maior sustentabilidade dos recursos e maior produção, tendo como estratégias básicas: Recomendações 438 comprimento de carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm; t raca jás=21 ,27-5 ,96 cm; iaçás=17,2-8 ,71cm) , peso (tartarugas=1,65-4,3 kg; tracajás=2,01-2,41 kg; iaçás=0,61-0,64 kg), idade (tartarugas=3,68-6,7 anos; tracajás=2,6-6,25 anos; iaçás=2,91-5 anos) e razão sexual (tartarugas=18,2% machos; tracajás=90,9%machos; iaçás=56,67%machos). Figura 16: Quelônios capturados na Resex Baixo Juruá: a) ; b) ; c) Podocnemis sextuberculata; d) Podocnemis expansa. Fonte: Vinicius T. Carvalho. Podocnemis unifilis Phrynops raniceps Os filhotes de tracajás, recém-eclodidos, apresentarammédia de comprimento da carapaça igual a 4,29 ± 0,26 cm, sendo o peso médio de 15,18 ± 3,53 g. Filhotes de tartaruga encontrados em cativeiro no igarapé do Breu apresentaram 5,65 ± 0,06 cm de comprimento da carapaça e 31 ± 0,82 g de peso. No Médio Juruá, Andrade&Nascimento (2005) encontraram filhotes de 97 tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a 4,9 cm e pesomédio de 22 g. Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus infestado pormais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17 apresenta o Phrynops nasutus infestado. Figura 17: Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006. Fonte: ErmelindaOliveira. O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, através do projeto com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as possibilidades de manejo do recurso, apresentados no final deste capítulo. 98 O acompanhamento dos custos é muito importante por garantircompensações econômicas, além de diversas outras vantagens. Para isso, é necessário que o criador conheça os custos associados à implementação do criadouro, assim como os benefícios obtidos para que sua propriedade torne-se competitiva no mercado e possa proporcionar sustentabilidade ao empreendimento. A falta de conhecimento do número de animais a serem doados para criação torna-se um fator negativo, pois não se sabe o impacto que a retirada desses animais da natureza poderá proporcionar ao ambiente, sem causar desequilíbrios nas populações. A implementação da criação de quelônios requer o uso de mecanismos capazes de internacionalizar os custos dos recursos, com base no princípio poluidor/pagador. De acordo com a ABNT (1996), a exigência pela conservação ambiental faz com que os empreendimentos implementem a gestão ambiental, com a finalidade de equacionar as diferentes práticas com a qualidade do meio ambiente e a internalização dos custos/benefícios para a sociedade. A criação de quelônios surgiu a partir das condições que a legislação criou, em que a questão ambiental foi tratada nos empreendimentos apenas como uma exigência legal, tendo como responsabilidade técnica apenas o caráter fiscalizador, não contemplando ações educativas que proporcionem o comprometimento de todos os participantes no processo. Os criadores, por serem, na maioria, de outro estado, possuem pouco conhecimento da realidade amazônica e apesar de desenvolverem atividades com a criação animal, observou-se Considerções finais 437 dos recursos, proporcionaram a criação de normas e legislação ambiental que têm exigido das organizações de qualquer grandeza ou tamanho a incorporação da variável ambiental na alocação de recursos (Assayag, 1999). A não inclusão da internalização dos efeitos externos ao meio ambiente, na ocasião da implantação do criadouro, poderá, futuramente, comprometer a atividade e inviabilizá-la devido à incorporação primária e direta da natureza. A falta de normas na infra-estrutura do local pode implicar na captação de água – o percurso do igarapé – com mortes ou aumento de outros organismos, além do comprometimento da água usada pela população circunvizinha. A efetivação recente dos criadouros pode estar relacionada à desburocratizaçãodoórgãofiscalizador quefomentouaatividade, para que os que estivessem irregulares viessem para a legalidade e/ou por ter despertado nos criadores uma nova opção de renda. Para que seja uma atividade de perspectiva de renda deverá assumir um compromisso com o melhoramento contínuo, considerando os problemas reais e potenciais, conforme sugere a ABNT (1996). O objetivo é proporcionar competências ao pessoal envolvido, combase em educação, treinamento e/ou experiências apropriadas, proporcionando compreensão, atitudes e valores. A ABNT (1966) recomenda que as organizações estabeleçam e mantenham procedimentos para identificar as necessidades de treinamentos dos envolvidos. A criação de quelônio tem caráter técnico e é necessário que o responsável e todos os envolvidos recebam treinamentos para assegurar a qualificação, assim como é preciso responsabilizar atribuições na área técnica e ambiental para proporcionarmelhor desempenho das atividades. 436 B)RIOPURUS B.1) BAIXO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA BIOLÓGICA DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA ENSEADA, PIRANHASEOUTROSEMTAPAUÁ/AM PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS DAAMAZÔNIA” O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado desde 1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático iniciado a partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas (Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, mas, também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos, parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela Ufam, bem como um acompanhamento técnico mais especializado, tem fornecido ao RANmelhores indicadores sobre a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos maiores informações sobre essa que é a maior praia de reprodução de quelônios do Amazonas. Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos para que trabalhássemos outras comunidades na calha do rio Purus. Para a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a comunidade Piranhas, emTapauá. 99 Figura 18: Tabuleiro do Abufari, Equipe da Ufam, 1998. Foto: ProjetoDiagnóstico (Andrade, P.C.M.). Em julho daquele ano iniciamos os trabalhos em Tapauá participando da primeira excursão o engenheiro-agrônomo Pedro Macedo (RAN-AM), a bióloga Maria Gorete e a socióloga Sarah (RAN Central). Nessa viagem foram feitas várias reuniões de prospecção nas comunidades Enseada, Piranhas, Bem-te-vi, Fazenda e Pupunhas. Ficou acertado então que a comunidade Enseada trabalharia na proteção da praia do Bananal, com os agentes Daniel, Noel, Isaquiel e Oziel. A comunidade Piranhas também aceitou realizar os trabalhos. Na praia do Bananal, os trabalhos de fiscalização e monitoramento de quelônios foram realizados contando com o treinamento e o apoio por parte da Rebio Abufari. Em 2002 e 2003, por falta de recursos, o trabalho naquelas praias foi abandonado. TABULEIROS DA RESERVA MUNICIPAL DOJAMANDUÁ, AXIOMA, NAZARÉ, CURUZUEPORTOALEGRE, EMCANUTAMA/AM B.2) MÉDIO PURUS: OstabuleirosCuruzu,Nazaré, Axioma,SantaBárbaraeSantaCora, notrechodobarrentoeenovelado 100 Quadro 2 – Instruções/procedimentos para a construção de barragens. Itens (%) TIPOS F Á G U A N= 30,4 S=69,2 Escoamento/abastecimento Fazcontrolecomcal Procurouconversarcomengenheiro Renovaçãonaturalnabarragem Usousacodeserrapilheira Construiuforadoleitodoigarapé Aproveitouosmananciais Examinouaqualidaded’águaantesde construirabarragem 1 1 1 1 1 1 1 1 S O L O N=53,8 S=46,2 Escolheuotamanhomínimopara escavação Foiaterrado,anteseraencharcado Foiaterradoconformerecursostécnicos Osolofoianalisadoportécnicosda Emater 1 1 2 1 V E G E T A Ç Ã O N=38,5 S=61,5 Deixouavegetaçãonaturalaoredorda barragem Estáplantandofruteiraspararecuperar olocal Manteveumaáreacomvegetação natural Acimadabarragemondehávários animaissoltos Obedeceurecomendaçãodetécnicosdo Inpa Nãorespondeu 5 2 1 1 1 1 Resí_ duo Orgâni co N=92.3 S=7.7 Emboracontrolando,hápoluiçãodevido aosrestosorgânicos 1 S=sim N=não Nas últimas décadas, o crescimento das atividades de produção e consumo e, conseqüentemente, o aumento de lançamentos de resíduos nosmeios receptores, bem como autilização excessiva 435 Quanto à finalidade dos criadouros, para a conservação da espécie, as respostas destacaram-se em ajudar na diminuição da predação dos animais e a manutenção das matrizes, embora verificou-se que 84%dos criadores ainda não construíram o sistema para a reprodução dos animais, o que mostra o não atendimento da exigência da Portaria n. 142/92 (Ibama, 1992b), artigo 7º, parágrafo 2º. A opinião dos criadores sobre: 1) combate ao comércio ilegal de quelônios: sugeriram fiscalização rigorosa envolvendo as forças do exército, marinha e aeronáutica. 2) a importância principal em criar quelônios é ganhar dinheiro. Entre os criadores, um pretende, com a criação, saldar sua dívida comumempréstimorealizado no banco. Na avaliação ambiental observou-se o uso direto dos cursos d'água nas instalações, que funcionam como meio de captação de água e onde são lançados os efluentes que podem comprometer a qualidade dentro e fora dos viveiros. Impor aos outros usuários uma série de custos sociais, uma vez que as descargas dos restos orgânicos são lançadas ao ambiente sem nenhum controle da poluição (Quadro 2). 434 Purus, que vai de Tapauá a Lábrea, passando por Canutama, têm recebido proteção desde 1984, pelo IBDF/Ibama-AM, tornando-se áreas conhecidas pela produção de quelônios. Naquelas áreas de antigos seringais, alguns herdeiros de seringalistas, como a sra. Sebastiana Paixão Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes (Praia do Nazaré) e o sr. Damião Santos (Praia do Curuzu, Porto Alegre e Aramiã), preocuparam-se em, anualmente, solicitar autorizações para protegerem suas praias, o que tem sido feito regularmente, sem acarretar gastos para o Ibama. Todavia, sem uma presença mais efetiva do órgão federal de fiscalização e controle ambiental, desde 1996, a situação tornou-se crítica. O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservas municipais de quelônios, em Jamanduá e em Axioma. No Jamanduá, a prefeitura mantém um flutuante e paga quatro agentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e Turismo. Em Axioma, em 2000 e 2001, uma parceria com o Poder Judiciário permitiu que um rancho mensal e bandeiras fossem destinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com o salário de umagente. Figura 19: Equipe da Reserva Municipal do Jamanduá, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.). 101 Figura 20: Base do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.). Figura 21: Placa do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.). Em2001,comapredisposiçãodoRAN-AMemaumentaronúmerode populaçõesdequelônios 102 Entreasespéciesdoadasparacriaçãoverificou-se PodocnemisexpansaePodocnemisunifilis.Ototaldeanimais recebidoporcriadorvarioude7.392,15 7.522,68animais (Tabela4). + Tabela4 – Númerosdeanimaisdoadosparacriação. Númerode animaisdoados Média DP Mínimo Máximo N QUANTIDADE RECEBIDA QUANTIDADE ATUAL TEMPODE RECEBIMENTO 7.392,15 7.979,15 1,9231 7.522,68 6.841,90 0,77595 835 835 1,000 25.000 21.000 5,000 13 13 13 Os meios utilizados para transportar os animais do tabuleiro de desova para os criadouros foram barco e avião (Tabela 5). Segundo os criadores, o avião parece ser o melhor meio, embora seja o mais caro, sendo a melhor opção, pois, a mortalidade dos animais é menor, em virtude do acondicionamento que deixa os animais menos vulneráveis a doenças. Tabela 5 –Meio de transporte dos animais dos tabuleiros para os criadouros. TIPO FREQ. (%) TEMPO GASTO FREQ. (%) AVIÃO BARCO 3 10 23,1 76,9 DIAS HORAS SEMANAS 7 3 3 53,8 23,1 23,1 433 Os dados representados no Quadro 1 mostram um custo anual, por tartaruga, de R$ 2,93, indicando que em média uma tartaruga com cinco anos de idade pode estar custando R$ 15,00, aproximadamente. Quadro 1 – Custos totais, médios e participação percentual da criação de quelônios no estado do Amazonas, no ano de 1999. CUSTOS FIXOS CUSTOS VARIÁVEIS % PARTICIPA ÇÃO S/ CUSTOS TOTAIS ITENS (R$) (%) (R$) (%) (%) Depreciação Rem. Capital Mão-de-obra Alimentação Mão-de-obra Combustível Manutenção Transporte Outros Total %participação s/ custo total Custo médio 16,021,50 19.050,90 11.575,00 - - - - - - 46.647,40 25,38 0,74 34,35 40,84 24,81 - - - - - - 100,00 - - - - - 96.047,25 7.871,50 10.644,00 14.773,25 5.970,00 1.817,20 137.123,20 74,62 2,19 - - - 70,05 5,74 7,76 10,77 4,35 1,33 100,00 - - 8,72 10,35 6,30 52,50 4,48 5,80 8,40 3,35 0,10 100,00 100,00 2,93 432 protegidas no Amazonas, foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do Jamanduá,Axioma,Nazaré,Curuzu ePortoAlegre. Figura 22: Ninho de tartaruga (P. expansa), Praia do Curuzu, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.). O Jamanduá é um tabuleiro que fica a 40 minutos, de bote com motor de popa 40HP, da sede do município e mede 1.500 m x 300 m. Seu monitoramento pela prefeitura começou em 1998 quando foram registrados 11 ninhos de tartaruga e 7 de tracajá. Em 1999, foram 56 ninhos de tartaruga e 27 de tracajá e, em 2000, 117 tartarugas e 100 tracajás desovaram naquela praia, o que demonstramais uma vez que, se existe uma população boa de quelônios, na região, eles rapidamente ocupamo espaço, propício pelas áreas conservadas, tornando os resultados altamente positivos em curto espaço de tempo. A administração municipal do sr. Raimundo Amorim, com apoio do sr. Antônio Apolinário, da Funasa, possibilitaram o monitoramento do RAN-AM a partir de 2001. No tabuleiro Nazaré, que mede 800 m x 250 m, o apoio foi dado pela sra. Dulce Paixão. B.3) ALTOPURUS Os tabuleiros a partir de Lábrea/AM, no rio Purus, são monitorados pela equipe do RAN/AC, em função da maior proximidade daquelas áreas com a Gerex doAcre. 103 Mesmo assim, enviamos técnico doRAN-AMedoEsreg, deBoca doAcre eLábrea, para acompanharem, em 2001, os trabalhos de execução do projeto FNMA, nas comunidades do rio Purus, noAmazonas. Figura 23: Reunião com comunidades em Lábrea, Projeto Quelônios, FNMA. Foto: RAN. C) RIOMADEIRA C.1) PRAIADONAZARÉ –MANICORÉ/AM A praia do Nazaré está situada próxima à cidade de Manicoré, no leito do rio Madeira. Essa praia servia de porto para comunitários que trabalham grandes roçados na várzea. Todavia, diversos quelônios dela se utilizam durante o período reprodutivo. Através das informações do CNPT/AM fomos orientados sobre a possibilidade de realizarmos o trabalho de conservação de quelônios naquela praia, com o apoio do Esreg do Ibama local. A Tabela 10 apresenta a evolução dos trabalhos de conservação de quelônios naquela praia. 104 RESPONSÁVEL TÉCNICO 0 1 2 3 4 5 6 BIOLOGO ENGPESCA IDAM UA MÉD.VETERINÁRIO TECNOLABORATÓRIO Figura 3 –Responsável técnico. A maioria dos funcionários foi selecionada principalmente por indicação de outras pessoas, observando-se a não-exigência de critérios e conhecimentos para o desenvolvimento das atividades, assim como foi notada a falta de programas de treinamento e/ou sensibilização dos funcionários. Na avaliação dos custos, observou-se que não há registros sistematizados dos fatos que ocorrem nas propriedades. Os dados foram estimados com base em informações provenientes de anotações e de estimativas. A participação dos custos fixos sobre os custos totais é de 25,38% e os custos variáveis participam com 74, 62%. A alta participação destes últimos é a alimentação com, a p r o x i m a d a m e n t e , 5 2 % . O g a s t o c o m r a ç ã o (alimentação/ano/animal) ficou em torno de R$1,53%. Resultado consistente com o estudo realizado por Costa (1999), com 350 animais em cativeiro, que identificou um custo de R$ 1,58/animal/ano, referente à alimentação. 431 Tabela2 – Tamanhodaárea(m )entreoscriadouros.2 TAMANHODA ÁREA MÉDIA DP Mínimo Máximo N BARRAGEM BERÇÁRIO TANQUE PROPRIEDADE 1.430,96 1.027,89 421 2.000,52 1.304,42 2.212,87 384,431 3.650,98 2,630 4,000 25 1,000 3.000 6.844 900 131,40 9 9 6 13 A efetivação da criação de quelônios ocorreu por volta dos anos de 1970, em função da implementação da primeira portaria, registrando-se um interesse maior nos últimos cinco anos, maior aprovação dos projetos técnicos nos anos de 1995/2004 (Tabela 3). Tabela 3 – Intervalos de aprovação dos projetostécnicos entre os criadores. APROVAÇÃO DOS PROJETOS FREQÜÊNCIA (%) 1995-1996 1997-1998 1999-2000 2001-2004 4 4 5 33 8,7 8,7 10,9 71,7 O acompanhamento técnico foi efetuado por profissionais indicados por pessoas ou órgão (Figura 3), apenas para efetivar a aprovação do empreendimento, sem assegurar, no entanto, o seu comprometimento paramonitorar as atividades. 430 2001 2002 2003Espécies Ninhos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes Iaçá 140 681 1.252 18.200 17.565 1.338 21.595 18.516 Tracajá 25 103 71 1.980 1.620 71 2.206 1.737 Tartaruga 6 359 9 866 636 15 1.604 1.158 Total 171 1.143 1.332 23.076 19.821 1.424 25.405 21.411 Tabela 10: Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro do Nazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/IbamaManicoré (2003). A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro, com o pico de desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam de julho a setembro, com pico emagosto.Tartarugas desovamde agosto a outubro, comopico de desova emsetembro. Figura 24: Praia do Nazaré, Manicoré. Foto: Esreg/Ibama, Manicoré/AM. 105 C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO IGARAPÉDOBOTO, IGARAPÉDOMURUTINGA, IGAPÓAÇU. O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de areia ou barrancos de várzea, tracajás ( ) e, principalmente, irapucas ( ) desovam no meio do folhiço úmido, como as muçuãs ) que desovamnomangue. As características diferentes desse sítio reprodutivo de quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área, monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041 filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por falta de recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de 2002 e 2003. Podocnemis unifilis P. erythrocephala (Knosternon scorpioides Figura 25: Área de desova do rio Matupiri, Borba/AM. Foto: RAN/AM (A.Vicente). 106 Tabela 1: Perfil socioeconômico dos criadores de quelônios. FAIXA ETÁRIA FREQ % NÍVEL ESCOLAR FREQ. % 20-39 anos 40-59 anos 60-79 anos 1 8 3 8,5 66,7 25,0 Semi-analf. 1ºGrauinc. 1ºGraucomp. 2ºGraucomp. Sup.Inc. Sup.Comp. 1 3 1 3 1 3 8,3 25,0 8,3 25,0 8,3 25,0 PROFISSÕES FREQ. % RENDA FAMILIAR FREQ. % Administrador Advogado Agricultor Aposentado Comerciante Engenheiro Pescador 1 1 3 1 4 1 1 8,3 8,3 25,0 8,3 33,3 8,3 8,3 1-10SM 11-15SM 16-20SM 5 4 3 41,7 33,3 25,0 A estrutura operacional dos criadouros é, na maioria, localizada em zona rural, abastecida de água de igarapé e energia elétrica pelas Centrais Elétricas do Amazonas (Ceam). São, na maioria, manejados por pessoas físicas (61,5%), com sistema de criação do tipo semi-intensivo (69%), e objetivos de criar quelônios e o comércio dos animais (84,5%). Não há normas para o estabelecimento das dimensões e tipos de recintos, como tamanho da área variando de 2.000,52 3.650,98m, represas de 1.430,9 1.304,42m, berçário de 1.027,89 2.212,87m e tanque de 421 384,43m (Tabela 2). Neste caso, a recomendação deveria estar condicionada à qualidade de animais e fase de criação. + + + + 429 Os dados foram elaborados em uma planilha e aplicou-se estatística descritiva com distribuição de freqüências e teste de Kruskal-Wallis (P>0,05), a fim de comparar as variações dos parâmetros encontrados entre os criadores e o padrão estabelecido pelo Conama (1996) Resolução nº 020/96, para estabelecer o nível de significância entre as médias e agrupar, entre os criadouros, os que apresentammelhores condições de funcionamento. A criação de quelônios no estado do Amazonas é atualmente composto por 33 criadouros legalizados, funcionando de acordo com a disponibilidade dos recursos de cada um e a utilização de práticas impróprias demanejo. O perfil socioeconômico dos criadores revelou faixa etária em torno dos 40 anos, grau de escolaridade no ensino médio, profissões, com maior freqüência, de comerciante e de agricultor. Dados consistentes com Costa (1999), renda familiar com maior percentual na faixa de 5 a 10 saláriosmínimos (Tabela 1). Resultados e discussões 428 D) RIONEGRO D.1) PRAIADAVELHA – PARNAJAÚ –NOVOAIRÃO/AM As praias do rio Negro, historicamente, abastecem a cidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública. Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foram capturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enorme pressão levou a uma drástica diminuição dos estoques das populações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucas são as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nos tabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró e Mussum. Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, o RAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam, Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram os trabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em 2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% de tartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de irapucas). É uma praia situada próxima à base do Parque Nacional do Jaú, em Novo Airão. Essa praia de areia branca e fina abriga os sítios reprodutivos de gaivotas, corta-águas, iaçás, tartarugas, irapucas e tracajás. Com recursos do RAN/AM, os técnicos da Ufam contrataram dois agentes de praia na comunidade mais próxima porque a praia já está bastante depredada, visto que, além dos comunitários que tiram ovos e animais adultos, ela é alvo de barcos de recreio ou de particulares que alcançam facilmente suasmargens, já que ela fica em área de tráfego fluvial (canal navegável do rio), sendo rota obrigatória dos barcos que sobem o rio Negro. Em2000, foi registrado umninho de tartaruga na praia da Velha 107 Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação humana, entretanto, lotes de queixadas (Tayassu tajacu) atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos, duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o que permitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes alocados emberçários namesma ilha. Figura 26: Placa da Praia daVelha, Parna Jaú, NovoAirão/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J. Pezzuti). Em 2002, 10 tartarugas desovaram em Cauixi. A produção em 2003, foi de 171 ninhos de iaçá e 13 de tartaruga, com produção de 1.189 iaçás, 36 tracajás, 9 irapucas e 656 tartarugas, o que demonstra, como comentamos anteriormente, a rápida recuperação dos tabuleiros por meio de trabalhos efetivos de conservação. A partir de 2003, foram protegidas outras praias no parque, como Maquipana, do Boi, Traíra e dos Pretos, o que permitiu a proteção de 16 ninhos de tartaruga. Em 2004, 18 ninhos de tartaruga e 85 de iaçás foram protegidos. Desde 2002 esses trabalhos vêm sendo realizados pelos analistas do Parque Nacional do Jaú, como o médico-veterinárioMarcelo Bresolin. 108 função demodelos de desenvolvimento exploratórios e predatórios. As propriedades escolhidas para os estudos foram em função dos criadouros licenciados pelo Ibama, localizados em Manaus e municípios próximos. Emumprimeiromomento, foram realizados contatos iniciais com os proprietários dos criadouros, a fim de solicitar autorização. A partir daí iniciou-se o trabalho comobservações diretas das instalações, rede hidrográfica, dimensões dos viveiros e a composição da vegetação, com a finalidade de realizar o diagnóstico ambiental. Entrevistas foram feitas com 13 criadores que detalharam questões sobre o levantamento dos aspectos relacionados aos meios socioeconômico e físico, a fim de estabelecer o perfil dos criadores/criadouros. Também foi verificada a estrutura operacional dos criadouros. Posteriormente, definiu-se a análise da água para avaliar entre os parâmetros químicos os efeitos de impactos diretos e indiretos causados ao ambiente. Para isso, efetuaram-se medidas no campo da condutividade elétrica, temperatura e oxigênio dissolvido, utilizando um condutivímetro digital tipo WTW e peagômetro tipoWTW, para determinar o pH. Amostras de água foram coletadas em garrafas de polietileno e frascos de vidro com tampa esmerilada. Análises foram realizadas no Laboratório de Limnologia /Depesca/Ufam, segundo Golterman, et al. (1978), para determinar os parâmetros químicos: DBO (Demanda Biológica de oxigênio0, DQO (demanda química de oxigênio), compostos nitrogenados: nitrato (N02), nitrito (N03) e amônia, fósforo (P04) e dureza. Metodologia 427 Atividadesdosqueloniocultores 30% 30% 10% 10% 20% Outrasatividades Comerciantes ProdutorRural Construtura Hotelaria Figura 2:Atividades dos queloniocultores. 11.2 Caracterização socioeconômica e ambiental das criações comerciais de quelônios Área de estudo Neste outro trabalho, iniciado em 2000, teve-se por objetivo caracterizar as condições de funcionamento dos criadouros de quelônios, através de um levantamento mais detalhado, como forma de garantir novas alternativas de uso sustentável diante das atuais técnicas de manejo dos recursos naturais, estabelecer o perfil socioeconômico dos criadores/criadouros, identificar fatores de impactos ambientais, bem como verificar a viabilidade econômico- ambiental, a fim de propor ummodelo de gestão socioambiental para as atividades de produção animal. O estado do Amazonas possui fortes tradições culturais, e por dispor de recursos naturais diversos, as características de usos e costumes de seus habitantes concentram-se nesses recursos. Assim, os recursos da fauna amazônica vêm servindo a alimentação humana há milhões de anos, com a alteração dos ecossistemas em 426 Figura 27: Praia da Dulumina, Barcelos/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J. Pezzuti). Em 2006, os trabalhos em Barcelos foram retomados pela Ufam. O acadêmico de engenharia de pesca, Radson, começou a desenvolver com a Secretaria de Meio Ambiente o Programa Pé-de- Pincha com as comunidades de Ponta da Terra, Campina do Quatro, Campina do Careca, Campina do Cairara e Praia da Alegria. Foram transferidos 32 ninhos de tracajá e 50 de irapuca, em um total de 1.200 ovos, dos quais 408 filhotes nasceram e foram devolvidos à natureza. 109 E) RIOUATUMÃ TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUACÁ, EM PRESIDENTEFIGUEIREDOESÃOSEBASTIÃODOUATUMÃ/AM. O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF, desde 1986, todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A Manaus Energia, através dos trabalhos do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na UHE de Balbina, tem trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do RAN/AM (combustível, pagamento de agentes de praia, ranchos, etc.) a bióloga Sandra do Nascimento treinou agentes de praia e monitorou sítios reprodutivos de quelônios no igarapé do Jarauacá, tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva Biológica doUatumã. Figura 28: Praia artificial da UHE Balbina, Presidente Figueiredo/AM. Foto: CPPQA/RebioUatumã. Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio 2.048 filhotes de e 1.421 deP. unifilis 110 Quanto ao tipo de alimento fornecido, observou-se que animais alimentados à base de proteína animal superam os alimentados com proteína vegetal em ganho de peso. Observou-se que a densidade de 78 indivíduos/m proporciona um bom desempenho aos animais. A tartaruga (P. expansa) parece superar o tracajá (P. unifilis) e o iaçá(P. sextuberculata) em ganho de peso. Animais provenientes de Uatumã-Balbina/AMpossuem tendência a obter maior ganho de peso que os provenientes do Abufari- Tapauá/AMeRio Branco-RR. 2 Figura 1: Tamanho das propriedades. 425 para caracterizar a produção de quelônios no estado, o que serviu para inferir sobre omelhor sistema de criação utilizado. Quanto à localização, 21,66% dos criadores estão situados em áreas do município de Manaus, 21,66% em Manacapuru, 21,66% em Iranduba, 21,66% em Rio Preto da Eva, 6,6% em Manicoré, 3,7% em Itacoatiara, 1,8% em São Gabriel da Cachoeira e 1,8% emLábrea. O tamanho das propriedades variou de 8 a mais de 6.000 ha, sendo a maioria entre 9–35 ha, com média de 22 18,384 ha (Figura 1). As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria estivesse entre 1 e 2 ha, e os berçários de 30 amais de 1.000m . Amaior parte dos criatórios possui densidade de berçário entre 0,5 e 5 indivíduos/m . Quanto às atividades dos criadores, têm-se a maior parte exercendo a atividade de comerciantes, encontrando-se também agricultores, advogados e donos de rede de hotelaria (Figura 2). O número de animais por criador variou de 600 a mais de 22.000 indivíduos, sendo 60% com número de 1.000 a 5.000 indivíduos, o que é considerado um número pequeno para a atividade comercial. A alimentação fornecida ficou distribuída entre vísceras bovinas, restos de feira (verdura), peixe, peixe + puerária e ração, sendo que a maioria fornece peixe, havendo uma tendência para adotar ração, pelo menos na fase inicial, seguindo as novas orientações técnicas fornecidas. 2 2 424 P. expansa P. sextuberculata P. erythrocephala, 20 de e 22 de , noLago doMaracanã, nas praias artificiais deBalbina e no igarapé do Jarauacá. Figura 29: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: RAN/NA (J.A.M.Duarte). Figura 30: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: RAN/NA (J.A.M.Duarte). 111 Figura 31: Mapa das Áreas de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: RebioUatumã/Ibama-AM. 112 pesquisas, levantar estratégias zootécnicas, considerar os fatores jurídicos e ambientais e proporcionar treinamentos para os funcionários, com a perspectiva de que as relações e as interferências sobre o ambiente tornem-se irreversíveis. Em 1997, a Ufam e o Ibama, iniciaram um diagnóstico dos criatórios de quelônios no Amazonas. Posteriormente, em 2000, foi realizada a caracterização socioeconômica e ambiental dessas criações comerciais de quelônios. Os resultados desses dois estudos e as informações sobre a primeira comercialização ocorrida no estado, em1999, são apresentados neste capítulo. Com os dados obtidos nos questionários feitos aos criadores, ou técnicos, de cada propriedade foi possível o diagnóstico da situação quanto ao tamanho das propriedades, instalações (barragens ou represas e berçários), densidade do berçário, número de animais de cada criadouro, atividades do criador, tipo de alimentação fornecida aos animais, doenças, predadores, etc. Neste estudo foram acompanhados os criatórios de tartaruga (P. expansa) e tracajá (P. unifilis), licenciados pelo Ibama no estado do Amazonas até 1999, onde pôde-se fazer a análise dos novos criatórios registrados e a avaliação do desempenho da nova população explorada pelo Ibama para fornecimento dos filhotes (Tabuleiro de Sororoca-Rio Branco/RR). Esse acompanhamento foi feito através de biometrias bimestrais nos criadouros, onde registrava-se, atravésde questionários específicos e entrevistas, as características de cada sistema de produção, tais como: alimentação, tipo e tamanho de instalações, densidade de cultivo, características da água, manejo, equipamentos, etc. Os animais foram medidos e pesados. Os dados obtidos foram sistematizados 11.1 Diagnóstico dos criatórios de quelônios no estado do Amazonas 423 No entanto, apesar de as estratégias de manejo estarem sendo desenvolvidas desde 1986, o processo de criação animal em sistema artificial foi implantado com práticas impróprias devido à falta de conhecimentos adequados da biologia das espécies, constituindo em ameaça (Soini, 1997). Por outro lado, não foram estabelecidas políticas sustentáveis de manejo que se orientam primordialmente a eliminar e/ou mitigar o impacto negativo das ameaças ao ambiente. Conforme a espécie explorada, a ação repercute na incorporação direta e primária da natureza, em que não sãomedidos por seus planejadores, o impacto direto e o indireto quanto ao controle dos resíduos e ao uso dos recursos. Esses fatores são essenciais para avaliar a viabilidade da atividade e articular as relações econômicas, sociais e ambientais (Kubitza, 1998). Essas relações com o meio ambiente são essenciais para o desenvolvimento efetivo da gestão domeio ambiente. A gestão do meio ambiente é um processo de mediação que define e redefine, continuamente, a forma como as diferentes organizações, através de suas práticas, alteram a sociedade, a qualidade do meio ambiente e como se distribuem na sociedade os custos e os benefícios decorrentes da ação desses agentes (Ibama, 1992). Para realizá-la é indispensável acompanhar e atuar sobre os elementos envolvidos na transformação ambiental e realizar a gestão de cada um deles (Macedo, 1995), podendo, com isso, equacionar e/ou levantar os recursos/benefícios, reconhecer e reavaliar o desenvolvimento dos animais e articular a participação dos diferentes segmentos sociais, proporcionando o comprometimento dos seus gerenciadores. Para contextualizar a criação de quelônios em criadouros licenciados, futuramente, exigirá a necessidade de estabelecer um planejamento ambiental antes da sua implantação, priorizar 422 F) RIOAMAZONAS MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM PARINTINS/AM O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8 km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins, Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que, naquela região, são animais de porte bastante avantajado se comparados aos do Purus e Juruá. Figura 32: Rastro de tartaruga (P. expansa) no Tabuleiro de Vila Nova, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F. Clóvis). A comunidade de Vila Nova realizava na década de 1940 até 1960 a conservação da área, inclusive commarcação emanejo de ninhos, manutenção de filhotes em berçários e festas de soltura. Com o aumento da pressão da pesca e a coleta predatória sobre aquela 113 população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a chegada do Projeto Pé-de-Pincha em Parintins, o Ibama e a Ufam começaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de conservação emVila Nova e adjacências. Figura 33: Placa de alerta do tabuleiro de Vila Nova, Parintins/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F.Clóvis). ORAN/AM começou então a enviar equipes de fiscalização a partir de abril de 2001. Em maio foi realizada reunião com as lideranças comunitárias de Vila Nova e marcado o início dos trabalhos para julho (treinamento de pessoal e monitoramento de praia). Além das comunidades de Vila Nova, Ilha das Onças e Guaribas, o trabalho conta com o apoio do sr. Dodó Carvalho, empresário local e proprietário de parte da área. ORAN/AMcolocou5placasde4mx2m – queavisam dotabuleiroeproíbemapescaecaçanolocal – eenvioufiscais etécnicoscomoapoiodaequipede 114 Capítulo 12: Caracterização socioeconômica e ambiental da criação de quelônios no estado do Amazonas e comercialização AldenizaCardosodeLima PauloCésarMachadoAndrade JoãoAlfredodaMotaDuarte LuizAlbertodoSantosMonjeló RichardVogt JandersonRochaGarcez WanderRodrigues AnndsonBrelaz Os quelônios são uma ordem de espécies silvestres da Amazônia que, durante séculos, têm sido intensamente exploradas para comércio e consumo humano, entre outras finalidades, principalmente Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis classificadas como espécies em estado vulnerável e de baixo risco, respectivamente, dependente de estratégias de conservação (UICN, 1996). Para contrapor essa superexploração e consciente de seu potencial para o uso sustentável, implantou-se a criação artificial coma finalidade de desenvolver a criação com finalidades comerciais (Acosta, 1996; Vogt, 1990). No Brasil, a criação de quelônios surgiu devido ao estímulo à captura ilegal na natureza; à oferta de produtos e subprodutos; por ser adaptada à condição ambiental; e aos resultados de trabalhos de proteção e manejo nas áreas de desovas (Alfinito, 1980; Luz, et al., 1994). Na Amazônia tiveram início ações para contrapor a exploração com a finalidade de domesticar e obter excedentes que permitam o repovoamento onde têm diminuído ou desaparecido as espécies (Fachin, 1999). Introdução 421 Figura12: contagemdefilhotesdetartarugaemcercadonotabuleirodo Abufari.Abaixo:equipedaUniversidadeFederaldoAmazonaseIbamana baseflutuantedaRebioAbufari,rioPurus/AM.Foto:ProjetoDiagnóstico (Andrade,P.C.M.1998). 420 professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o trabalho de proteção da área. A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam, Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes, sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos que forammantidos emberçário. . Tabela 11: Produção de ninhos transferidos de quelônios no tabuleiro de Vila Nova – Parintins Ano/ninho Pitiú Tracajás Tartarugas 2001 108 15 12 2002 120 16 12 2003 276 79 12 2004 186 13 13 2005 47 19 24 2006 217 54 35 Ano/ovos 2001 3.363 467 379 2002 3.615 502 944 2003 5.041 313 1.433 2004 3.120 438 1.116 2005 950 624 2.570 2006 3.472 1.134 3.850 Ano/filhotes 2001 3.610 160 750 2002 3.143 477 900 2003 4.536 281 1.289 2004 4.232 569 1.516 2005 1.990 411 1.667 2006 3.980 484 2.576 115 G) PROGRAMA “PÉ-DE-PINCHA” –MANEJO PARTICIPATIVO DE QUELÔNIOS EM BARREIRINHA, PARINTINS E NHAMUNDÁ/AM E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica Médio-Baixo Amazonas) O “Pé-de-Pincha” vem sendo desenvolvido como Programa de Extensão e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), desde 1999, estimulando a conservação de quelônios através de seu manejo participativo. Tendo como espécie focal o tracajá (Podocnemis unifilis), recebeu o apelido de “pé-de-pincha”, devido às pegadas desse animal na areia, que se parece com tampinhas de refrigerante. Ufam e Ibama vêm trabalhando em 78 comunidades do Médio Amazonas, nos municípios de Nhamundá, Parintins e Barreirinha/AM e Terra Santa, Juruti, Faro e Oriximiná /PA.O programa visa o manejo racional e sustentável de quelônios, pelas próprias comunidades. Figura 34: Rastro de tracajá ( ), pé-de-pincha no lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.). P. unifilis 116 Figura 10: Filhotes de tartaruga predados por urubu. Observe que só a parte dianteira foi consumida. Foto: ProjetoDiagnóstico (Andrade, P.C.M., 1998). Figura 11: Soltura de filhotes de tartaruga na reserva biológica do Abufari, rio Purus. Observe que ela é feita a noite, no meio da vegetação e distante do tabueliro, para reduzir a predação. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M. 1998). 419 funcionários da Rebio Abufari/Ibama-AMmonitoram atentamente a praia, vigiando as cercas de tabuleiros desde a madrugada, evitando que os filhotes sejam predados ainda durante a noite, por aves que dormem na praia. Nessa época, também realizam contagem (Figura 12) e, posteriormente, a transferência e a soltura dos filhotes. Esta última é realizada em outramargemdistante da praia, onde realizam a soltura dos filhotes no meio de plantas aquáticas para reduzir a chance da predação, por peixes, sobre os filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá (Figura 11). 418 Figura 35:Equipe de campo (comunitários e universitários), lago do Macurani, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.). Diversas comunidades rurais do Médio-Baixo Amazonas que produziam juta, cacau, farinha, hortaliças, etc., abandonaram a agricultura, dedicando-se, principalmente, à pecuária extensiva, à pesca e ao extrativismo, aumentando a pressão sobre a fauna silvestre. Devido à caça predatória e à coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo desses municípios. Animais adultos e ovos são consumidos ou vendidos para Manaus, Parintins e Santarém. Algumas áreas, entretanto, foram protegidas pelos comunitários e por associações, como o Granav (Grupo Ambientalista Natureza Viva) e Asase-3, em Parintins, a Ascon/Acplasa/ARQMO, no Lago do Sapucuá/Oriximiná, e ATAAV, em Terra Santa, com o objetivo de conservar esse recurso natural. 117 Figura 36:AgenteAmbiental retira filhotes de quelônios de berçário, para soltura,Aliança, Lago doPiraruacá,Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.). Em 1999, o sr. Manuelino Bentes “Mocinho Lobo” e comunitários de Terra Santa/PA procuraram a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para obter informações sobre conservação de quelônios. A Ufam reuniu-se com os produtores, o Ibama e as prefeituras locais para a criação do projeto “Pé-de- Pincha”. Inicialmente, foram trabalhadas áreas de Terra Santa e Nhamundá. Em 2000 e 2001, o projeto foi ampliado para Oriximiná/PA, Parintins/AM e Barreirinha/AM. E em 2004, para Juruti, Boa Vista do Ramos e Faro. O plano inicial de ação foi definido emmaio de 1999, no I Seminário Sobre Manejo Sustentável de Tracajás (255 participantes) em Terra Santa (Andrade et al., 2005). Foram capacitados 385 professores das escolas municipais em educação ambiental; realizadas palestras nas escolas e comunidades para mais de 67.606 ouvintes; treinados 49 agentes ambientais voluntários; realização de cursos de alternativas para geração de renda (tecnologia do pescado, criação caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, manejo de quelônios, etc.) paramais de 1.021 pessoas; e foram 118 ariranha (Pteronura brasiliensis), sucuri ( Eunectis murinus), jacaré (Caiman spp), felinos (Leopardus pardalis e Panthera onca) e o homem (Alfinito, 1980; TCA-SPT, 1996). Figura 9: Urubus atacando filhotes de quelônios em Abufari, Purus, Tapauá. Foto: ProjetoDiagnóstico (Duarte, J. A.M.). NaReserva Biológica do Abufari –AM (Figuras 9 e 10), foram observados, em 1998, pelos autores, predadores como aves (urubu e gavião) e peixes (pirarara, etc.), com ambos realizando um tipo de “vigilância” na praia onde desovam a tartaruga, o tracajá e o iaçá (também conhecido por pítiú). No período de eclosão dos filhotes as aves ficam 24 horas por dia na praia de desova para capturar os filhotes logo que saíssem da cova. Sendo, no caso das aves, que o primeiro comportamento observado é o decepamento dos filhotes para depois forrageá-los. No caso dos peixes, estes ficam a margem da praia de desova para forragear os filhotes logo que estes entram na água, pois este caso ocorre com algumas covas distantes umas das outras. Na grande maioria, devido ao número de animais que desovam ser elevado, é feita uma cerca circular, em que há um considerado número de covas. No período da eclosão, os 417 contaminação bacteriana e na análise micótica foi identificado novamente o fungo Aspergillus niger. A Figura 8 apresenta os animais com essas lesões. Figura 8: Tartaruga, P. expansa com lesões na carapaça e plastrão, provenientes do ataque de fungos (Fotos: Ikaro). 10.2.2 Predação Como predadores em condições naturais, pode-se reunir três categorias: (1) os que aproveitam os ovos, (2) os que consomem os filhotes recém-nascidos e (3) os que consomem os adultos, em decorrência do equilíbrio biológico natural e captura pelo homem pois, em ambas o animal encontra-se nos cursos d'água ou na praia de desova. A pior das predações parece ser apanhar os ovos, não obstando que as demais não sejam prejudiciais. Entre os predadores, tem-se formigas-de-fogo (Prenolepis sp.), jacuraru (Tupinambis nigropuctatus, T. teguxin), aves (urubu Cathartus spp., Caragypis atratus foestus; gavião Spazastur spp.; gaivota Phaetusa simplex). Em uma praia venezuelana, 6% das crias recém- eclodidas foram predadas por aves, desde o momento de saída do ninho até chegarem à água: peixes carnívoros (traíra Hoplias malabaricus; tucunaré Cichla sp.; piranha Serrasalmus sp.; pirarara Phractocephalus hemioliopterus; pirarucu Arapaima gigas, aruanã Osteoglossum bicirrhosum), lontra (Lutra platensis); 416 instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339 quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1). Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais; divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de 850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de 23.400 pessoas nas comunidades e sede. Desde 2004 o programa conta com o apoio do ProVárzea- Ibama e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam). Figura 37: Ninhos de quelônios protegidos emAliança, Lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.). Na região foram identificadas 13 espécies de quelônios: tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P.erythrocephala), cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), perema (Rhinoclemmys punctularia), lalá (Phrynops nasutus), muçuã (Kinosternon scorpioides), jabuti (Geochelone denticulata e G. carbonaria), matá-matá (Chelus fimbriatus), jabuti-machado (Platemys platycephala) e Phrynops spp. De 1999 a 2006, o programa devolveu à natureza 629.183 filhotes de quelônios (74,4% tracajás; 7,6% tartarugas; 10,9% iaçás; e 7,1% irapucas), provenientes de ninhosmanejados, 119 com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ± 16,27% de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ± 4,93 ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos locais de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás nasceram pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas 22,52 ± 1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g. Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá ( ), igarapé dos Currais, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade,P.C.M.). P. unifilis Figura 39: Técnico do RAN-AM e universitário coletam dados de ninhos de quelônios, lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de- Pincha (Andrade, P.C.M.). 120 Figura 7: Jovem de tartaruga (P. expansa) de cativeiro com lesão na carapaça causada por fungos e bactérias. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.). O mesmo tipo de lesão foi encontrado em dois exemplares de P. expansa em criadouro no Iranduba. Um animal apresentava uma única lesão na carapaça e outro apresentava várias lesões na carapaça e no plastrão. Aplicou-se, o mesmo tratamento descrito anteriormente mas, antes foi feita a raspagem do local e realizada cultura do material biológico recolhido. Não houve resultados para 415 Para Aeromonas: 1)Pode ser feito também um tratamento à base de tetraciclina (5 mg em 2 ml de água destilada), via estômago, duas vezes ao dia, durante 5 dias (Murphy&Collins, 1982; Fowler, 1980). Entretanto, enquanto pesquisávamos o caso, voltamos a adotar o mesmo procedimento utilizado para a água de filhotes recém-chegados ao criadouro, ou seja, colocamos 10 gotas de iodo/100 litros de água no tanque dos animais doentes. Em 5 ou 7 dias houve uma redução progressiva dos sintomas dos animais doentes. Animais aparentemente sadios que foram separados para outro tanque, antes do início do tratamento, apresentaram os sintomas naquela outra instalação (5 dias depois), sendo imediatamentemedicados. Outro caso observado em criadouros de Itacoatiara foi o aparecimento de ulcerações na carapaça de tartarugas juvenis (Figura 5). Os animais foram trazidos ao Ibama, isolados e deixados em recipiente com pouca água (para que o local da lesão se mantivesse seco). Na lesão foi aplicado iodo e colocado unguento. Foram feitas aplicações diárias até a perfeita cicatrização do local. 414 Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes (23%), frutos (22%) e plantas (20%), ocupandomaior diversidade de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de 15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à disponibilidade, os quelônios mais consumidos são os tracajás (55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá (16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura, como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel (17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos ribeirinhos afirmam comercializar esses animais, enquanto que no Juruá, esse número pode atingir de 64-99%. O preço médio é de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, sendo que, além do consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%). Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados 28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com microchips) para monitoramento através de recaptura (CMR) e estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimou- se em 5,74% a sobrevivência total até 12 meses. O maior índice de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. A sobrevivência média de tracajás na natureza, até 12 meses de idade, foi estimada em 17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%. 121 Figura40: Marcaçãodefilhotesdetracajás,commicrochips, porjovenscientistas – Fapeam,emBarreirinha-AM.Fonte:Jane – ProVárzea.2007 122 O , bactéria gram negativa, causa a chamada red leg, que são manchas avermelhadas nos membros com ulcerações e equimoses, além de anemia macrocítica, leucopenia e trombocitopenia (Murphy&Collins, 1982; Fowler, 1986). O é bactéria gram negativa que destrói os glóbulos vermelhos, causando danos aos órgãos internos, perda de apetite, letargia, ulcerações e necrose na pele e posterior paralisia dosmembros inferiores commultilação nos dedos, alémde filamentos de sangue que cobrem os olhos até atingir um quadro fatal de septicemia, síndrome conhecida como SCUD (Scepticemic cutaneous ulcerative disease), que acomete tartarugas aquáticas. Nestes casos, o parasita pode ser isolado do fígado, coração, sangue, rins. É uma doença transmitida pela água, sendo mais susceptíveis tartarugas com escarificações (ferimentos) nas patas (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1986). Os tratamentos recomendados na literatura são: Para : 1) Glorioso et al. (1974): uma dose inicial de 8 mg/100g, intramuscular de Kaba, quemicetina ou quemisulfan, continuando o tratamento durante 7 dias, comduas doses de 4mg. 2) Murphy & Collins, 1982: Clorafenicol foi usado eficientemente em alguns casos com uma dosagem inicial de 6 mg/200 g de peso vivo, no primeiro dia, seguida por uma dosagem de 3mg/200 g de PV por sete dias. Ou 250mg de clorafenicol por 2,6 litros de água. Colocar nesta proporção na água do reservatório duas a três vezes por semana, e melhorar a alimentação e exposição ao s raios de sol (colocar solário). 3) Fowler, 1986: Aplicação de betadina ou iodina (iodo) localmente, e clorafenicol parenteralmente. Aeromonas Citrobacter freundii Citrobacter 413 Os animais que foram acometidos desse sintoma estavam em área mais exposta ao sol do que os outros tanques. Filhotes de tracajá ( ) e iaçá ( ) que estavam em tanques próximos não apresentaram esses sintomas. Foi realizada punção timpânica em alguns animais enfermos, a fim de coletar material para análise. Todavia, o material que enchia a membrana não era secreção purulenta. Tratava-se de gás acumulado que cedeu após a punção, desinchando. No dia seguinte, os animais puncionados apresentavam novamente o inchaço. Os exsudatos recolhidos nos animais enfermos, bem como o material retirado do sangue, fígado e rins de um animal doente, que foi sacrificado, foram inoculados e analisados pelo Dr. Januário, do Laboratório de Patologia da Universidade Federal do Amazonas. A cultura dos exsudatos e do material recolhido dos tecidos revelou a presença de bactérias do gênero e . Não foram observadas alterações, em nível macroscópico no fígado, trato gastrointestinal e rins do animal sacrificado. Cortes histopatológicos não foram realizados. O diagnóstico da doença foi feito a partir de revisão bibliográfica (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1994) cruzada com o resultado dos exames patológicos dos animais doentes. Na bibliografia, encontramos que das quatro categorias de patógenos causadores de infecções em quelônios (patógenos gram positivos; bacilos gram negativos móveis que possuem citocromo oxidase e que não possuem; bacilos gram negativos não móveis), os gêneros e causavam sintomatologia similar ao caso estudado. P.unifilis P. sextuberculata Proteus Citrobacter Aeromonas Citrobacter 412 Figura 41: Comunitários da Granja, Barreirinha-AM, soltando os filhotes de quelônios resultado de seu trabalho. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (P.H.G. Oliveira). O custo médio do filhote, produzido nesse sistema de manejo comunitário, é de R$ 0,71 ± 0,06. A rentabilidade para os investimentos em conservação de quelônios foi estimada em 120,21%, em conscientização ambiental foi de 165,76% e em criação de quelônios de 183,44%. Através desse programa de conservação de recursos naturais e extensão, a Ufam tem conscientizado as comunidades do Médio-Baixo Amazonas para o manejo racional de quelônios, utilizando a metodologia de pesquisa participativa ou pesquisa-ação. Os resultados alcançados mostram, a princípio,que abordar a questão ambiental com a parceria da comunidade tem um grande impacto na redução do problema, pela valorização do meio ambiente, o que resultou em ações concretas para a melhoria da qualidade de vida. 123 Figura 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através de fantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005). Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama e a universidade pretendem, através de novas parcerias, redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo, cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o sustento do homem ribeirinho. 2.3. Modelos de crescimento populacional de quelônios, análise da sustentabilidade e propostas demanejo racional 124 O conteúdo do trato digestivo foi obtido de tartarugas abatidas oriundas de criadouro comercial em Manaus. Coletou-se material do estômago, intestino delgado e grosso. O conteúdo dos diversos segmentos foi colocado em solução aquosa e feita a leitura do material a fresco. Foram preparadas lâminas semipermanentes de algumas estruturas para confecção de fotografias e identificação. Omaterial foi fotografado emmicroscópio especial (Zeiss). O material do segmento estomacal apresentou uma densidade parasitária imensa no estádio larval de nematelmintos, em todos os estômagos analisados. À medida que progrediu-se no sentido caudal do trato digestivo, a carga parasitária foi diminuindo sensivelmente. No intestino delgado encontrou-se larvas em apenas 45%domaterial analisado (Tabela 2). Tabela 2: Freqüência de parasitismo no trato digestivo em tartarugas (P.expansa) de cativeiro,Manaus/AM. Segmento do trato digestivo nº pesquisado n º parasitado % de parasitados Estômago 19 19 100 Intestino delgado 11 5 45 Intestino grosso 1 0 0 Os animais analisados em criadouros apresentaram mais parasitas no período das chuvas (40,62 4,42%). Em 1999, registramos em filhotes de tartaruga (P. expansa) criados em tanques de fibra de vidro com250 litros, na densidade de 100 animais/m , alimentados com ração de peixe, 40% de proteína, os seguintes sintomas: inchaço das membranas timpânicas, com deformação da cabeça e olhos saltados; abcessos e feridas, de aspecto caseoso (cor amarelada) nosmembros posteriores próximos às articulações femurais; derrame na parte inferior interna do globo ocular seguido de embaçamento do olho; manchas avermelhadas tendendo para o roxo no plastrão. 3 411 Matos & Fedullo (1996) apud Duarte (1998), ao realizarem exames bacteriológicos em amostras fecais de 60 quelônios para detectar a presença de bactérias do gênero Salmonella, obtiveram em filhotes de Trachemys scripta elegans, obtidos de feiras e lojas de animais, maior índice de infecção, 23,07 %, enquanto filhotes de Geochelone denticulata, da Fundação Rio Zoo, tiveram índice de 10% e T. dorbignyi, Chrysemys picta picta, Graptemys pseudogeografica e G. carbonaria oriundos de ambas as fontes, obtiveram resultado negativo foram encontrados os sorovares Typhimurium, Albany, Kottbus, Loanda e o sorovar 0:50 de S. enterica subespécie houtenae. As visíveis implicações à saúde pública são discutidas em virtude da crescente popularidade desses répteis como animais de estimação. Os técnicos do projeto Diagnóstico/PTU analisaram material fecal, regurgitados e material do trato digestivo de quelônios de cativeiro. As amostras foram coletadas em criadouros emManaus, Iranduba eManacapuru. As fezes e regurgitados foram coletados durante as biometrias bimestrais realizadas nos criadouros. Foram coletadas em vidro limpo com tampa rosqueável contendo conservante MIF. Este material foi tamizado em cálice com formol a 10%. Após sua sedimentação espontânea (método de Lutz), procedeu-se a leitura em lâminas no microscópio ótico. Tomou-se uma fração do sedimento em lâmina de vidro e acrescentou-se uma gota de lugol, homogeneizando-se, cobrindo com uma lâminula. A leitura foi feita em aumento de 100X e detalhada em aumento de 400X. As estruturas parasitárias observadas (larvas, ovos de nematelmintos e amebas) foram fixadas em lâminas semipermanentes, para posterior identificação. a) Problemas de sanidade nos criadouros do Amazonas 410 Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23 anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro, Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo de proteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis ana l i sadas ( r eg ressão l inear= P<0 ,018 ; reg ressão quadrática=P<0,072). O melhor modelo de ajuste encontrado foi a regressão quadrática: P= - 108391+37439,3. t – 778,616. t , com R2=38%. Na Figura 43, apresentamos o ajuste dos pontos e a curva quadrática para a série temporal de produção no rio Juruá. 2 0 10 20 0 200000 400000 600000 800000 C11 C 1 0 C10 = -108391 + 37439,3 C11 - 778,616 C11**2 S = 174695 R-Sq = 38,0 % R-Sq(adj) = 26,7 % Regression Plot Figura 43: Regressão entre o tempo de proteção de um tabuleiro e a produção estimada de filhotes de quelônios no rio Juruá. Andrade et al. (2006) estimaram, ainda, o melhor modelo de curva para explicar o crescimento populacional de quelônios, em áreas protegidas, como sendo o de VonBertallanfy, Yt= 187.014 (1- e ), sendo o crescimento populacionalmáximo (k) estimado -0,8313.t 125 em 207.889 animais (tartarugas, tracajás e iaçás), com taxa de crescimento anual (r) igual a 0,8313. Quando esse modelo foi comparado aos dados reais do rio Juruá, observou-se que mesmo com falhas na proteção, em alguns anos, as populações mantêm uma tendência de crescimento que se estabiliza em torno de 10 a 13 anos de trabalho. Curva de Crescimento Populacional de Quelônios 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000 160000 180000 200000 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 Anos de Proteção N . F i l h o t e s Yt= 187014 (1 - e -0,8313. t) Figura 44: Modelo de curva de crescimento de Von Bertallanfy, para a produção de filhotes de quelônios, pelo tempo de proteção da área de reprodução. Ao aplicar-se o referido modelo de crescimento populacional à série histórica do Baixo Juruá (produção de filhotes de Joanico, Botafogo e Antonina), notamos que a produção máxima de filhotes no crescimento populacional máximo (k) foi estimada em 540.507 filhotes, com uma taxa de crescimento anual (r) igual a 0,09125. O modelo estimado de produção de filhotes para a região do Baixo Juruá foi o seguinte: Produção de filhotes Y(t)= 540.507 (1 – e ). Se somarmos a produção de filhotes dos tabuleiros de Joanico, Botafogo e Antonina temos uma produção anual estimada em torno de 262.236 filhotes de quelônios (76 a 91%de iaçás, 4,7 a -0,09125 . t 126 Para Morlock (1979), as doenças de tartarugas em cativeiro são provenientes de grupos formados indevidamente,sanidade no local da criação, introdução de animais infectados. Para Alfinito (1980), as principais causas de mortalidade estão relacionadas aos estados de desidratação, inanição e asfixia, podendo haver a possibilidade de albinismo (leucodermia congênita e acromatose congênita) entre as tartarugas, sendo que estas devem ser descartadas para evitar a multiplicação de animais albinos no lote. O Ibama (1989) cita que a fotofobia e alteração congestiva, em casos agudos, podem apresentar inflamações das pálpebras com derrame purulento, sendo a mais temível doença, o moquilo que parece ser vírus filtráveis e bactérias associadas. Os sintomas são debilidade, perda do apetite, inflamação das pálpebras, úlcera na córnea, lacrimejamento contínuo. Em sua etapa final, apresenta uma secreção gastrointestinal aguda, defecando substância semelhantes às que apresentam nas fossas nasais. Quando acometido o animal não quer permanecer na água e busca sempre proteger-se em local escuro e úmido. Em relação à parasitologia, Paixão & Thatcher (1984), ao analisarem alguns exemplares de tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. sextuberculata), provenientes da Reserva Biológica do Abufari, AM, encontraram helmintos dos filos Trematoda em tartaruga (Telorchis spp.; Nematophila grandis; Braunotrema pulvinatum), tracajá (Nematophila grandis; Braunotrema pulvinatum; Telorchis spp.; Haltrema avitelina) e iaçá (Paramphistomiformes) e Nematoda em tartaruga (Paratractis sp.) e tracajá (Ancyracanthus pinnatifidus) fixados àmucosa do estômago e intestino, que se encontravam espessados com pontos hemorrágicos nos locais de fixação. 409 10.2 Sanidade e predação 10.2.1 Sanidade A tartaruga Podocnemis expansa pode ser considerada rústica em relação à incidência de doenças. Para a criação em cativeiro, no estado do Amazonas, ainda estamos estudando quais seriam os agentes microbiológicos e os fatores que poderiam causar danos à biologia do animal e à produtividade. Baixas temperaturas causam a morte de tartarugas jovens em cativeiro. No frio, os filhotes desenvolvem um quadro de pneumonia com sintomas de perda do apetite; presença de uma membrana esbranquiçada cobrindo o globo ocular; secreção nasal com obstrução das vias respiratórias; insuficiência respiratória caracterizada pelo comportamento atípico dos animais em permanecerem boiando com o corpo em posição inclinada e mortalidade (Chelonia, 1994). Análises necroscópicas realizadas em tartarugas jovens de cativeiro constataram infecção bacteriana múltipla por Escherichia coli, Klebsiella sp., Pseudomonas sp., Proteus sp. e Salmonella sp., que apresentaram no teste de antibiograma resistência antibiótica, principalmente Pseudomonas sp. Entre os antibióticos administrados, os do grupo quinolona apresentaram melhor eficácia associados a medidas profiláticas como limpeza e desinfecção dos tanques, banho dos animais com permanganato de potássio, desobstrução nasal e a transferência dos animais dos tanques de fundo de terra, pois, devido ao tratamento, houve uma expressiva diminuição na taxa demortalidade (Chelonia, 1994). Alfinito (1980) cita a ocorrência do Micobacterium tuberculosis chelonei isolado por Friedmam nos pulmões de tartaruga de aquário, emBerlim. 408 a 6,8% de tracajás e 1,3 a 21,1% de tartarugas), ou seja, 48,52% da capacidade produtiva, prevista pelo modelo, para tabuleiros conservados por cerca de 15 anos. Deve-se considerar, contudo, que no primeiro ano de vida existe uma elevada taxa de mortalidade. Andrade & Soares (2005) e Andrade & Rodrigues (2005) verificaram que dos filhotes de quelônios marcados e soltos em lagos naturais (Médio Amazonas e Médio Juruá) foi estimada em 5,74% a taxa de sobrevivência total, até 12meses, sendo que para os tracajás (Podocnemis unifilis) a taxa de sobrevivência média na natureza foi estimada em 17,76 ± 10,23%. Se considerarmos o valor de k (constante de equilíbrio populacional, valor populacional de produção máximo)= 262.236 animais no Baixo Juruá, e a taxa de crescimento anual média estimada por Andrade et al. (2006) para a calha do rio Juruá, ou seja r=0,8313, observa-se que, a cada ano, 217.997 animais deveriam ser recrutados pela população. Todavia, a taxa de crescimento que estimamos neste trabalho, para o Baixo Juruá, foi de r=0,09125, logo, o número de indivíduos estimados para recrutamento cairia para 48.646 animais (10.264 tartarugas, 2.286 tracajás e 36.971 iaçás). Contudo, deve-se observar que as taxas de sobrevivência são relativamente pequenas. Portanto, ao se considerar as taxas por espécie (estimadas por Andrade & Soares, 2005, e Andrade & Rodrigues, 2005), esse recrutamento anual cairá para 2.122 iaçás, 406 tracajás e 157 tartarugas. Esses valores naturais de recrutamento impossibilitam a extração de quelônios de forma racional, em vida livre, com o número atual de praiasmanejadas, posto que, estima-se para a região doBaixo 127 Juruá, a extração clandestina de cerca de 8.000 quelônios/ano. Se aumentarmos o número de praias conservadas e o número de rios protegidos, possivelmente, elevaríamos a taxa de recrutamento e com isso o número de animais adultos chegariamaté o período de desova. Somente isso, permitiria, em um período de 8 a 10 anos de trabalho de proteção, atingir-se o máximo da capacidade produtiva e com isso, a possibilidade de exploração racional de adultos de espécies como o iaçá e o tracajá, em vida livre. Diante da impossibilidade do manejo extensivo imediato, sugere-se algumas propostas que possibilitarão a obtenção de renda a partir da conservação de quelônios. Para aumentarmos a taxa de recrutamento e gerarmos quelônios excedentes para consumo ou geração de renda, quatro medidas de manejo devem ser adotadas: a) Proteção dos ninhos naturais e transferência de ninhos ameaçados; b) Manutenção de filhotes recém-eclodidos de tartarugas e tracajás, em berçários, até o segundo ou terceiro mês de vida; c) Soltura destes filhotes em lagos ou lagoas centrais em locais de farta alimentação e abrigo (restart); d) Criação comunitária em gaiolas ou tanques-rede. A extração de ovos e de filhotes para criadores seria uma possibilidade de geração de renda desde que adotado rigoroso controle sobre os tabuleiros e sobre a captura ilegal de adultos e que fossem seguidas as quatro sugestões demanejo propostas. 128 Figura 6: a e b) Ninho e praia de reprodução de tartaruga (P. expansa) em criador de Manacapuru; c) Marcação com furos na carapaça; d) Comparação entre a fêmea, matriz de tartaruga, e seu filhote. 407 No criadouro com razão sexual de 2,2F:1M, sendo o peso médio das fêmeas=20,875 ± 11,91kg e machos =4,219 ± 0,787kg, foram registradas desovas desde o ano de 2003. Alguns animais subiram na praia de reprodução e formaram cardumes na margem em comportamento similar ao da fase de boiadouro e assoalhamento na fase reprodutiva em áreas naturais. Nenhuma cova foi identificada embora suspeite-se que alguns a tenham feito. Em 2005, foram identificados três ninhos com número médio de ovos de 80/ninho. Houve uma taxa de eclosão de 90%, sendo totalizados 216 novos filhotes de tartaruga no plantel. Em 2006, foram registrados nove ninhos e nasceram440 filhotes. Figura 5:Biometria emarcação de plantel reprodutivo. 406 Cap í tu lo 4 : Eco log i a de que lôn ios pelomedusídeos naReserva Biológica do Abufari JuarezCarlosBritoPezzuti – NAEA/UFPA DanielyFélixdaSilva-MPEG JacksonPantojaLima – Inpa AlexandreKemenes – Inpa MarceloGarcia-Ipaam NorivalDagobertoParaluppi -Ufam LuizAlbertodosSantosMonjeló-Ufam A comunidade de quelônios aquáticos da bacia amazônica, uma das mais diversas do mundo, sempreconstituiu elemento importante na dieta dos habitantes da região. A tartaruga, Podocnemis expansa, espécie demaior porte e amais abundante, era rotineiramente consumida e também armazenada em currais, nas aldeias indígenas, para ser utilizada na cheia quando os peixes eram menos acessíveis. Mesmo com a Lei de Proteção à Fauna (n 5.197/1967), essas populações permanecem sujeitas à forte pressão de pesca clandestina de animais adultos, e não somente durante o período reprodutivo. Durante outras épocas, os sistemas aquáticos são constantemente invadidos, e a sua extrema complexidade facilita essa atividade. A conseqüência óbvia é o declínio populacional evidente. No Trombetas, o número de fêmeas reproduzindo-se nos tabuleiros vem diminuindo gradativamente. Na Rebio Abufari, a despeito da presença mais constante da fiscalização, centenas de animais adultos são capturados todos os anos por pescadores financiados por traficantes deManacapuru. Os ovos também foram e ainda são, em algumas localidades, uma fonte importante de proteínas para a população local. , sugere que, possivelmente, a coleta da tartaruga e de seus ovos é a atividade etnozoológica mais importante de toda a região o 129 amazônica, vindo desde o período pré-colombiano até hoje., que registrou a apreensão de 261 quelônios em operação de fiscalização do IBDF. Some-se a isso a ausência de informações básicas sobre a ecologia desses animais, como área de vida e padrõesmigratórios. Os esforços para a conservação de quelônios têm sido direcionados para a proteção de ninhos e diversas espécies ameaçadas tiveram seu manejo baseado num conhecimento incompleto da dinâmica populacional, sem informações demográficas sobre classes de idade, área de vida e padrões migratórios. No entanto, a aplicação de programas de manejo, apenas recentemente, tem levado em consideração aspectos básicos da biologia reprodutiva desses animais. Um dos processos críticos é a influência da temperatura de incubação sobre a determinação do sexo dos embriões, ainda mais porque a metodologia, geralmente aplicada pelos programas de conservação de quelônios no mundo, tem sido a de transplantar ninhos para locais protegidos, sem a verificação do sexo produzido pela incubação dos ovos em tais condições . Na Amazônia, estudos sobre determinação sexual foram desenvolvidos com Podocnemis expansa , P. unifilis e Peltocephalus dumerilianus . Destes, apenas Valenzuela (2001) e Souza & Vogt (1994) investigaram a relação entre as características de ninhos naturais com a temperatura de incubação e outros parâmetros físicos. As demais espécies amazônicas permanecem desconhecidas quanto a esses aspectos de sua biologia reprodutiva. Os ninhos estão ainda sujeitos à predação natural e a variações ambientais súbitas 130 postura, completando assim, o ciclo de criação através da reprodução em cativeiro. Entre as prioridades de pesquisa elencadas foi queloniocultores fez-se necessário avaliar o crescimento nas categorias de engorda e reprodução de animais submetidos a diferentes tipos de alimentos, em complementação aos primeiros estudos feitos nas fases de berçário e crescimento. A avaliação dos parâmetros reprodutivos de quelônios em cativeiro foi realizada em dois criadouros comerciais (Iranduba e Manacapuru). Foram analisados os parâmetros e a eficiência reprodutiva através das variáveis tamanho e idade das fêmeas em postura; abundância e distribuição dos ninhos; número de ovos/ninho. A idademédia do plantel reprodutivo nas primeiras desovas em cativeiro foi de 8,57 ± 0,79 anos. Em animais alimentados com proteína de origem vegetal (rações com farelo de soja, verduras e frutas) o peso médio foi de 14,19 ± 2,29 kg nas fêmeas e 11,87 ± 2,06kg nosmachos. O peso ao final de cinco anos de cultivo, que era emmédia 2,66 kg em1997, aumentou para 9,2 ± 2,25 kg emmais de 65%dos animais dos lotes comercializados. Na criação com razão sexual de 4F:1M foram registradas desovas desde 8 anos de idade, sendo que aos 7 anos alguns animais “experimentaram” fazer ninhos na praia artificial. Em 2003-2004, foram conferidos mais de 20 ninhos com umamédia de 70 ovos. Em 2005, registrou-se 5 ninhadas, com média de 73,80 ± 2,5 ovos, havendo predação por jacuraru (Tupinambis spp.). A taxa de eclosão foi baixa, sobrevivendo apenas 150 filhotes. Em 2006, foram produzidos 300 filhotes. Em criadouros cujos animais eram alimentados principalmente por fontes de proteína animal (sangue coagulado bovino, restos de filetagem de peixe), o peso médio dos animais comercializados com 5 anos variou em média de 7,25 a 18,55 kg (158 animais comercializados). 405 tanques de 1.000 litros, após 7,5 0,707 dias (serragem) a 10,333 2,516 dias (vermiculita) de nascidos. As mortes ocorridas foram de ordem técnica nomanejo dos animais. Os animais nascidos a 32ºC apresentaramuma tendência a ummaior crescimento (ganho diário de peso, GDP = 0,24 g/dia), em relação aos que nasceram a uma temperatura mais baixa, 27ºC, GDP = 0,18 g/dia. No entanto, os animais obtidos na vermiculita apresentarammaior GDP = 0,20 0,03 g/dia do que os da serragem, GDP = 0,10 0,0 g/dia. Os animais de 30ºC apresentaram maior consumo diário de ração, CDR = 3,36 1,86 g/dia em relação aos de 32ºC, 1,83g/dia, e 27ºC, 1,19 g/dia. Os animais da vermiculita apresentaram menor consumo, 1,66 0,43 g/dia, enquanto os da serragem tiveram 3,28 1,97 g/dia. A umidade parece ter influenciado no metabolismo dos filhotes. Filhotes nascidos na serragem (ambiente mais úmido) demoraram mais para absorver o vitelo, apresentaram menor GDP e maior consumo do que os da vermiculita (menor umidade). A sexagem dos animais foi realizada aos seis meses de idade, em que verificou-se uma tendência para um maior número de fêmeas nas temperaturas mais elevadas, 32ºC igual a 50,55%, 30ºC igual a 41,15% e a 27ºC igual a 28,07%. Em relação aos outros substratos, a vermiculita apresentou um maior número de fêmeas 47,16% , do que a serragem, 35%. A determinação sexual dependente da temperatura ocorre no segundo terço do desenvolvimento embrionário pelo efeito acumulativo da temperatura de incubação, devido às tartarugas não possuírem cromossomas sexuais heteromórficos (Vogt &Villela, 1986). Em 2005, os primeiros espécimes de P. expansa doados pelo Ibama (em 1995), para criação, realizaram sua primeira 10.1.3 A reprodução de quelônios em cativeiro 404 como a repentina subida do nível do rio ; . A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas na Amazônia para criação com finalidade comercial. O fornecimento aos criadores depende da retirada anual de milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama, para formar o plantel das criações comerciais, cujo número aumenta todo ano. O principal fornecedor, até o ano de 1998, era o tabuleiro do Abufari, que se situa na unidade de conservação que recebe o mesmo nome (ReservaBiológica do Abufari). Esses fatores, associados com a questão básica da determinação do sexo pela temperatura em quelônios e suas conseqüências para qualquer prática de conservação e manejo desses animais, fazem com que seja imprescindível a investigação dos aspectos mais elementares da ecologia das espécies com que estamos lidando, sobretudo quanto ao processo reprodutivo. O quadro, portanto, é de franca carência de estudos sobre esses valiosos recursos que vêm sendo milenarmente explorados por populações indígenas, para subsistência, e há pelo menos 300 anos em intensa escala comercial rumo ao seu esgotamento. Diante do exposto, a Universidade Federal do Amazonas, em cooperação com o Ibama, realizaram estudos sobre a ecologia, fisiologia, parasitologia e genética para a conservação dos quelônios da ReservaBiológica do Abufari, com apoio financeiro do CNPq através dos projetos “Diagnóstico da criação de animais silvestres no estado do Amazonas” (Fase I/1998 e Fase II Proc. nº 49.9940/2000-0 PTU/CNPq). Subprojeto Ecologia Reprodutiva dos quelônios da Rebio Abufari (Ibama Proc. nº 02005.002248/98-13). As pesquisas continuaram com financiamento do Banco da Amazônia (Basa) ao projeto “Bases Ecológicas para o manejo dos quelônios no Estado do Amazonas”. Finalmente, em 2003, contamos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do 131 Estado do Amazonas (Fapeam) para a continuação das pesquisas dessa equipe multidisciplinar, com a execução do Projeto “Ecologia reprodutiva, dinâmica populacional, genética de populações e manejo de quelônios na Amazônia”. Portanto, este produto inclui o resultado de vários projetos executados ao longo do período entre 1998 e 2004. O objeto principal de estudo durante esses anos foram as populações de Podocnemis expansa, P. sextuberculata e P. unifilis que se utilizam da Praia do Abufari para reprodução. Investigamos aspectos básicos de ecologia reprodutiva dessas espécies e investimos em um programa de marcação para determinar a estrutura populacional, a área de vida e a rotas migratórias sazonais de dispersão entre essa praia e as áreas de alimentação. Ainda monitoramos a pesca clandestina de quelônios aquáticos na Rebio. Muito ainda precisa ser feito, sobretudo para conhecer os padrões anuais de movimentação dos adultos e para isso daremos continuidade, em 2006, a essas pesquisas, intensificando o programa de captura, marcação e soltura de animais adultos e monitorando fêmeas adultas de P. expansa, utilizando radiotelemetria. A Reserva Biológica do Abufari situa-se no primeiro terço do rio Purus, o último grande afluente do Rio Solimões antes do encontro com o rio Negro, formando o Amazonas. Trata-se de um típico rio de águas brancas e, portanto, carregadas de sedimentos que depositaram-se ao longo do tempo formando os solos que sustentam o ecossistema de várzea. A planície alagável, recortada por um complexo sistema de corpos de água formado por paranás, canos, ressacas e lagos, está sujeita a profundas alterações em função da variação anual do nível da água (Figura 1). Durante a cheia, esse conjunto torna-se um único corpo de água contínuo, preenchido pela floresta inundada. Nessa região, o Ibama realiza fiscalização direta, patrulhando os rios, canais, igarapés e lagos, OTabuleiro do Abufari 132 Figura 4: Eclosão dos filhotes de Podocnemis expansa. Foto: RAN/AM (Duarte, 1998). O peso ao nascer, dos filhotes, foi maior na vermiculita, 18,96 1,32 g, do que na serragem 17,13 1,00 g. A umidade variou de 93,098 ± 0,300% a 93,00 ± 0,00%, com isto pode ter ocorrido uma tendência para os animais serem mais pesados do que outros, devido a um substrato reter mais umidade do que o outro. Embora Morlock (1979) cite que deve-se umedecer os ovos para incubá-los, na literatura citada não foram encontradas definições sobre a influência da umidade na incubação e no desenvolvimento do embrião e peso, ao nascer, do filhote de tartarugas como citam Vogt & Villela (1986). A absorção do vitelo e o fechamento do “umbigo” foi mais rápido nos filhotes nascidos na vermiculita, 3 e 4 dias, respectivamente, em relação à serragem, 4 e 7 dias. Em seguida, os animais foram medidos e pesados antes de serem levados para 403 Tabela1: DadossobreincubaçãoartificialdeovosdePodocnemisexpansa. (Duarte,1998). Itens \Tratamentos V 32ºC * V 30ºC * V 27ºC * S 32ºC ** S 30ºC ** -Número de ovos 57 100 60 54 45 -Peso dos ovos 28,5 ± 2,6 - 27,5 ± 3,0 21,2 ± 2,7 20,3 ± 1,2 -Período de incubação (dias) 39 40 45 45 47 -Taxa de eclosão (% ) 91,07 36,67 100,0 0 54,76 48,00 -Número de ovos inférteis 1 10 1 12 - -Natimortos (% ) 3,57 15,56 - 4,76 12,00 -Absorção do vitelo (dias) 3 2,5 2,5 4 4 -Fechamento do “umbigo” (dias) 4 4 4 7 7 -Peso ao nascer (g) 19,96 ±1,12 17,46 ±1,11 19,80 ± 1,08 18,49 ± 1,51 16,48 ±0,66 -Passagem para o tanque (dias) 8 13 10 8 7 -Morte após colocação nos tanque. 2 3 1 - - *V32°C/V30°C/V27°C = vermiculita a 32°C /30°C/27°C ** S32°C/S30°C = serragema 32°C/30°C 402 ReservaBiológicado Abufari (288.000hectares) apreendendo animais e aparatos de pesca. Figura 1. Carta-imagem da Reserva Biológica do Abufari, rio Purus (em azul), município de Tapauá, Amazonas, Brasil (Legenda: 1 – praia do Abufari; 2 – rio Abufari; 3 – complexo de lagos do Chapéu; 4 – lago Macapá; 5 – Paraná do iragapé Chapéu; 6 – lago Panelão; 7 - lago do Campina; 8 – lago Pupunha; 9 – igarapé Tauamirim; verde-escuro – floresta de terra firme e verde-claro – planície de inundação). Monitoramento das desovas A praia anualmente é mapeada no seu comprimento com estacas de 50 em 50 metros, dispostas paralelamente à vegetação. Para fazermos as estimativas da quantidade de ninhos depositados na praia do Abufari é necessáriomarcar 133 áreas de 10metros de largura distantes umas das outras a cada 150 metros. Essas áreas são chamadas de transectos, que são locais onde omonitoramento será intenso e todas as desovas ali existentes serão monitoradas. Pelo conhecimento do número de ninhos de iaçás e tracajás nestes locais, foi possível estimarmos o número de ninhos existentes na praia e também o número de fêmeas dessas espécies que ali subirampara desovar. Como as tartarugas desovam em um grande agrupamento (tabuleiro, Figura 2), o número total de ninhos é estimado dividindo- se a produção de filhotes desse cercado e dos ninhos isolados pela média de filhotes produzidos por ninho. Os números e as respectivas densidades de ninhos da praia do Abufari, nos anos de 1999, 2000 e 2001 estão na Tabela 1. Pelo esforço direcionado no estabelecimento e monitoramento de transectos, ou seja, locais com área conhecida e onde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível estimar o número total de ninhos e a densidade dos ninhos na praia do Abufari. Nossa equipe de trabalho todos os anos monitora o tabuleiro do Abufari, a partir do mês de agosto, pois é o momento em que as fêmeas já migraram dos lagos e paranãs para a praia. Durante o período da desova, entre setembro emeados de outubro, há um monitoramento noturno das desovas que são depositadas ali. Além desse trabalho noturno, visitas diárias são necessárias, pois a localização dos ninhos não encontrados durante a noite só será possível com o solo recentemente perturbado com nítidos rastros deixados na noite anterior e os ninhos cobertos externamente com areia úmida removida pelas fêmeas (Souza & Vogt, 1994; Fachin, 1992). Com esse monitoramento sistemático dos transectos é possível detectarmos os ninhos predados ou inundados pela subida repentina do nível da água do rio. Para cada ninho encontrado registramos a data da postura, adistância do 134 A temperatura recomendada para a queloniocultura seria, inicialmente, para a formação do plantel de fêmeas, de 32°C e, posteriormente, para o plantel de machos, de 27°C, desde que se tenha os cuidados básicos ao manejar o ovo, movimentando-o lentamente, sem girar, devido ao embrião aderir na parte superior da casca, por cima da gema. O controle da temperatura de incubação é importante para determinação sexual. Figura 3: Vista externa das incubadoras com caixas de isopor de 170 litros, termostato (até 100ºC, graduação de 1ºC) e 4 lâmpadas incandescentes. Foto: RAN/AM (Duarte, 1998). 401 fungo Aspergillus nigrans e nos ovos inviáveis houve influência na taxa de eclosão. Esse fungo envolveu toda a casca do ovo e durante a incubação alguns ovos tinham sido forrageados por ácaro. A. nigrans pode ser encontrado em outros ambientes(frutas e verduras, geladeiras) e compromete o processo respiratório dos filhotes e prejudica a troca gasosa nos ovos. Isso faz com que os ovos estraguem, os embriões morram ou se desenvolvam com deformações. Os ovos inviáveis parecem contribuir bastante para a contaminação dos ovos viáveis, por fungo, matando os filhotes nos ovos ou após o nascimento e reduzindo a taxa de eclosão. O que, provavelmente, está ligado a alguma substância que não é liberada por ovos não fecundados e que atuaria como fungicida natural. A utilização dos ovos inviáveis serviu para comprovar a importância da seleção dos ovos e suas conseqüências biológicas para a criação comercial, em que os ovos de P. expansa devem ser selecionados, visando o descarte de ovos inviáveis. Na Reserva Biológica do Abufari – AM, também foi observada a contaminação dos ovos por fungo durante o período de incubação natural, na qual ocorreu a morte dos filhotes, nas diferentes idades, aliada ao ataque de formigas ou de larvas de moscas. O custo da incubação artificial foi de R$ 400,00 para as incubadoras, referente à aquisição do material supracitado (US$ 133,330). 400 ninho à parte mais alta da praia e até a margem do rio e a profundidade do ninho. Os ninhos são marcados com estacas de identificação numeradas. Com o monitoramento dos animais que sobem a praia para desovar foi possível observarmos que a menor iaçá (P. sextuberculata) que desovou na praia do Abufari tinha 24 centímetros de comprimento retilíneo da carapaça e 1,1 quilograma. Dentre as tartarugas (P. expansa), o menor animal encontrado desovando na praia tinha 61 cm de comprimento retilíneo da carapaça e 22,0 quilogramas. Tabela 1: Número e densidade de ninhos encontrados na praia do Abufari, durante o monitoramento diário realizado no período de agosto a dezembro de 1999, 2000 e 2001. Espécie Númerodeninhos Densidade(ninhos/m2) 1999 2000 2001 1999 2000 2001 Iaçá 9.054 3.900 5.782,74 0,019 0,02 0,014 Tracajá 238 195 337,57* 0,0005 0,0012 0,00084 Tartaruga 2.123 2.300 2.475 0,004 0,014 0,0061 Espécie Totaldefilhotes 1999 2000 2001 Iaçá 88.004 37.908 75.523 Tracajá 5.983 4.900 9.829 Tartaruga 152.200 170.000 17.000 Oprocesso de sexagemde filhotes O monitoramento dos ninhos nos transectos nos permitiu um acompanhamento completo do período de incubação. Ao atingirem 40 dias de incubação, os ninhos passam a ser revisados a cada dois ou três dias para a 135 identificação de sinais indicando a eclosão dos filhotes, ou seja, o nascimento dos filhotes. Esses sinais são a casca do ovo quebradiça e um pouco transparente e a presença de gotículas de água e pequenas rachaduras na sua superfície. Para cada ninho eclodido foram contados o número de filhotes vivos, o número de ovos sem desenvolvimento aparente, os ovos de gordura, o número de embriões mortos e, quando possível, a causa da morte. Os filhotes vivos foram medidos, pesados e posteriormente libertados na praia. Tendo em vista a necessidade de sacrifício de filhotes para a identificação do sexo, foi expedida uma autorização pela Direc/Ibama para a realização dessa atividade (autorização nº 32/99, expedida pela Direc/Ibama –DF, renovada em 2003). Em geral são sacrificados 10 filhotes por ninho, em média, 10 ninhos de cada espécie, com injeção de 0,1 ml de Nembutal (substância que leva o animal a uma parada cardíaca) por indivíduo. Esses filhotes foram fixados em solução de formol tamponada (1 litro de formol a 10%, 4g de H NaPO .H O, 6,05g deHNa PO .H O), para determinação do sexo dos filhotes, realizado através do exame posterior das gônadas como auxílio demicroscópio óptico (Figura 3). A razão sexual foi determinada como sendo a proporção de machos na ninhada (número de machos dividido pelo número de filhotes vivos) e a sobrevivência como o número de filhotes eclodidos vivos, dividido pelo número total de ovos. Na Tabela 2 estão os dados de número de ninhos amostrados e a média do número de ovos coletados em setembro de 1999, 2000 e 2001. 2 4 2 2 4 2 136 Quanto às temperaturas a eclodibilidade a 27°C obteve- se 100,0 0,0%, a 30°C 42,333 8,013% e a 32°C 72,916 25,674 %. Na natureza a temperatura média de incubação é 23,3 a 37,6ºC, sendo a taxa de eclosão entre 85% a 98% de eclosão (Morlock, 1979; Alfinito, 1980; Alho & Pádua, 1982; Alho, Danni & Pádua, 1984; TCA-SPT, 1997). A contagem dos filhotes de tartaruga que nasciam por período (dia ou hora), não foi possível por poder haver (1) o comprometimento da vital absorção do vitelo (reserva nutritiva – composta de gema, aderida ao plastrão por uma película); (2) Perda do microclima interno em cada incubadora; (3) Estresse aos animais e o (4) Empilhamento. O período de incubação em função da temperatura de incubação a 27°C foi de 43,000 0,0 dias, a 30°C 42,000 7,071 dias e 32°C 40,7071 7,071 dias. Sendo, de 39 dias, a 32ºC, na vermiculita, 46 dias, a 30ºC, na serragem (Tabela 1), havendo evidência da premissa de que quanto maior a temperatura, menor será o período de incubação, resultado obtido no substrato vermiculita. Em condições artificiais no Museu Goeldi, Alho, Carvalho & Pádua (1979) observaram que esse período pode ultrapassar 60 dias. O fechamento do “umbigo” em filhotes de P. expansa incubados artificialmente na vermiculita e na serragem ocorreu no quarto e no sétimo dias de idade, respectivamente. O tempo de absorção do vitelo foi menor na vermiculita ( 2,666 ± 0,288 dias) e maior na serragem (4,0 ± 0,0 dias). O percentual de natimortos foi pequeno, de 0% a 4,76%, sendo maior na incubadora a 30ºC com substratos vermiculita e serragem, V30ºC = 15,56% e S30ºC = 12% devido à presença do 399 A temperatura média da incubação artificial, em função das horas, oscilou em ambos os substratos, mantendo mais constante na serragem em relação a vermiculita (Figura 2). Temperatura média de incubação X Horas 26,5 27,5 28,5 29,5 30,5 31,5 32,5 33,5 0 6 : 0 0 0 7 : 0 0 0 8 : 0 0 0 9 : 0 0 1 0 : 0 0 1 1 : 0 0 1 2 : 0 0 1 3 : 0 0 1 4 : 0 0 1 5 : 0 0 1 6 : 0 0 1 7 : 0 0 1 8 : 0 0 1 9 : 0 0 Horas T e m p e r a t u r a ( o C ) V27 V30 V32 S30 S32 Figura 2: Temperatura média de incubação em relação as horas do dia (Duarte, 1998). Foram incubados 316 ovos. A taxa de eclosão, nos cinco tratamentos foi de 66,1 27,817%; na vermiculita -V registrou-se 75,912 34,279% e na serragem 51,380 4,781% (A taxa de eclosão foi maior na vermiculita (V), sendo especificamente na V32ºC = 91,07%; V30ºC = 36,67%; V27ºC = 100%, em relação a serragem (S), obteve-se na S30ºC = 48,0%; S32ºC = 54,76%. 398 Figura 3:Gônadamasculina, emdetalhe, no centro da figura. O resultado da sexagem dos filhotes, a partir das amostras coletadas, demonstra que no ano de 2000 houve um desvio acentuado para a produção de fêmeas de tartaruga, no entanto, iaçá teve um desvio para a produção de machos (Tabela 4). Infelizmente, os dados de temperatura de incubação registrados pelos data- loggers foram perdidos por falha nos aparelhos e, portanto, não podemos testar quaisquer relações entre a temperatura média ou a temperatura acumulada, com a razão sexual dos ninhos monitorados. As gônadas masculinas (testículos) apresentam formação cilíndrica e aspecto opaco com uma granulação esbranquiçada, efeito provocado pelas circunvoluções dos ductos do epidídimo. As gônadas femininas (ovários) têm um formato mais alongado e o contornomais irregular em relação àsmasculinas e não apresentam granulações. O estudo de marcação e recaptura dos quelônios (avaliação do status populacional) Estão sendo realizadas pescarias experimentais utilizandoredes de espera do tipo “capa-saco” e redes de cerco. A técnica de captura chamada de capa-saco é bastante utilizada na região do Purus. Esses apetrechos consistemde grandes redes de comprimento médio de 60 metros e altura de 10metros, que são instaladas nos 137 canais dos paranás, quando os animais estão migrando para o rio ou mesmo retornando para os lagos. Essas redes também são instaladas no canal do rio Purus. O esforço amostral de captura de animais na área da Rebio vem sendo exercido sobre a calha principal do rio Purus, nos lagos internos (lago Comprido – região do Chapéu e lago do Almoço no sistema do rio Abufari) e os principais canais de ligação entre ambos. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 pretendemos replicar as parcelas de pesca experimental durante as seguintes fases do ciclo hidrológico anual: cheia (junho-julho), vazante (agosto-setembro), seca (outubro-novembro) e enchente (dezembro- maio). Os dois primeiros aparelhos foram verificados de 3 em 3 horas, minimizando a possibilidade de morte dos animais por afogamento, conforme descrito em . As redes de cerco foram utilizadas principalmente no canal do rio Purus, em números variados de lances, dependendo das taxas de captura. Em cada pescaria foi registrado o horário de saída, a embarcação e os equipamentos utilizados, o tempo gasto para chegar até o local escolhido, o tempo gasto na captura de animais, as características do habitat e microhabitat onde o animal foi coletado, a profundidade, a velocidade da correnteza e a temperatura do local. Os locais de pesca foram georreferenciados com auxílio de GPS (Global Position System). Cada animal capturado foi identificado, medido (comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento do plastrão, largura máxima da carapaça e largura da cabeça), pesado e marcado com etiqueta numerada presa na carapaça através de pequenos orifícios perfurados nos escudos marginais (técnica de marcação permanente, padronizada e aplicada por estudiosos de v á r i a s p a r t e s d o m u n d o , s e m c a u s a r d a n o s 138 f) Resultados e discussões O peso médio dos ovos incubados na vermiculita foi de 28,5 2,629g a 27,5 3,034 g, na serragem 20,568 6,074g a 21,203 2,710g. No entanto, Espriella (1972) cita que o peso médio para o criadouro deve ser de 43g e Maués (1976), ao fazer a comparação bromatológica em ovos de Podocnemis sp., obteve peso médio de 23,67g. Sendo o tamanho do ovo variável de 2,056 0,607 cma3,614 0,164 cm, para ambos os substratos. Os substratos foram utilizados devido: (a) apresenta menor tendência à compressão durante o desenvolvimento do ovo e embrião; (b) identificar qual o substrato para incubação artificial, pois, no caso da areia do tabuleiro poderia haver uma compressão no ovo (embrião) durante o período de incubação; (c) utilizar um material estéril (vermiculita), que é caro e não acessível, e um material regional barato, que é a serragem. Na incubação artificial deve-se observar o emprego e a granulometria da areia para que não comprometa o desenvolvimento do ovo e do embrião. 397 durante o transporte. Entretanto, os ovos incubados na serragem foram condicionados numa caixa de papelão contendo areia da praia de desova. Comparando ambos, o primeiromostrou-semais seguro. A instalação do experimento consistiu de biometria dos ovos e pesagem em balança de 1.610 g, com o cuidado de não girá- los para evitar movimento precipitado do embrião, seguido de delicada colocação em cada substrato. e) Condução do experimento No monitoramento da incubação dos ovos registrou-se a temperatura interna e externa (acima) no substrato, a cada uma hora, através de termômetros de solo para cada temperatura, verificando-se a consonância com a temperatura predeterminada no termostato. Quando a temperatura interna, elevava ou abaixava além do desejado, em cada substrato, diminuía-se ou aumentava-se o indicador do termostato. No início, após a colocação dos ovos em cada substrato, distribuiu-se 1 litro d'água na vermiculita. Não foi necessário na serragem porque o material estava úmido após três sucessivas lavagens. Durante a condução do experimento, a umidade interna foi mantida pela água, contida numa placa de Petri, ou pulverizando-a sobre o substrato. O momento da manutenção da umidade dentro desse sistema é determinado pela leitura do psicrômetro interno (umidade relativa) observado pelo visor externo em cada incubadora, a cada uma hora após a leitura da temperatura no termômetro de solo em cada substrato. 396 aos animais). Posteriormente, os animais foram soltos no local de captura. A abundância relativa de cada espécie foi determinada em função do rendimento dos aparelhos de pesca utilizados, com base no número ou biomassa dos animais, por pescaria, por dia de pesca. Neste estudo a CPUE (captura por unidade de esforço) foi utilizada como o índice de densidade populacional e foi calculada combase na seguinte equação: å = diaPescariaNCPUE // Onde: N = somatório do número de indivíduos capturados; Pescaria = pescaria (em geral leva 15 a 20 minutos); dia de pescaria. A estimativa de biomassa foi baseada na massa dos animais capturados, dividida por pescaria e por dia. Os habitats registrados foram: igapó, rio, lago (Figura 4); a época do ano: enchente, cheia, vazante, seca. A profundidade nos locais amostrados foi registrada com uma corda metrada e com trena. Durante o período reprodutivo, que vem sendo sistematicamente acompanhado pela equipe deste projeto, desde 1998, foi realizada a marcação de fêmeas durante a desova. Ao final de cada noite de desova coletiva as fêmeas que acabavamde enterrar seus ovos foram interceptadas para biometria, pesagem emarcação, como descrito anteriormente. ∑ 139 140 CC Figura 4. Vista aérea da praia do Abufari durante o período de descida do nível do rio em 2004 (A) e durante o período de seca do ano de 1999 (B). Habitat de lagos da Rebio Abufari, durante o período de enchente do rio Purus, janeiro de 2005. (C) (Foto: Jackson P. Lima). b) Material usado para incubação artificial de ovos de tartaruga Como incubadoras foram utilizadas 3 caixas de isopor de 170 litros cada, montadas com aquecimento interno automático. Sendo necessário em cada incubadora 4 lâmpadas de 25 W, 1 termostato, 2 termômetros de solo, 1 psicrômetro, 1 visor de vidro, 1 suspiro, 1 divisória interna de vidro, 1 placa de Petri, substratos (vermiculita e serragem), fio paralelo, e para as três incubadoras, 1 estabilizador eletrônico, 1 extensão elétrica, 1 balança de 1.610g (graduação de 1g), ovos de tartaruga. c)Montagemdas incubadoras artificiais Para a montagem de cada incubadora, gastou-se cerca de 2 horas, envolvendo as fases de instalação e teste. Inicialmente, instalou-se as lâmpadas, o termostato, a divisória interna de vidro, seguido do teste de funcionamento e identificação das incubadoras. Após a instalação e teste, colocou-se 1,66 g de vermiculita em 3 incubadoras e 0,021 m³ de serragem em 2 incubadoras Em ambas as condições foi utilizada a metade do espaço físico interno das incubadoras para ambos os substratos, devido à falta de recurso financeiro para aquisição de material e o espaço físico para mais incubadoras. A serragem utilizada passou por 3 lavagens, visando a retirada de possíveis compostos químicos que poderiam ser prejudiciais durante a incubação dos ovos, e após estar parcialmente seca foi colocada dentro das incubadoras. d) Transporte, biometria, pesagem e colocação dos ovos nas incubadoras O transporte dos ovos incubados na vermiculita foi realizado numa caixa de isopor com areia da praia de desova para evitar atrito e, principalmente, que eles viremdentro da caixa 395 g/dia, enquanto que os que nasceram na areia tiveram um GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas, GDP=0,15 g/dia. Ao completarem dois meses, os filhotes foram soltos nos seus locais de origem, em áreas com menos predadores e/ou lagos combastante alimentação natural disponível. Como o sexo dos filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá são determinados pela temperatura de incubação, os criadouros poderiam, através da incubação artificial, estabelecer o sexo dos filhotes que estivessem gerando em sua propriedade, optando por produzirmaismachos ou fêmeas. Pensando nessa possibilidade e buscando adaptar a tecnologia já existente ao material disponível no Amazonas, em 1999, a Ufam e, o então Cenaqua desenvolveram na sede do Ibama- AM, Manaus, um experimento de incubação artificial de ovos de tartaruga avaliando os efeitos de diferentes substratos (vermiculita e serragem) e de diferentes temperaturas (27, 30 e 32ºC), no período incubatório e no sexo e desempenho dos filhotes. a) Procedência dos ovos de tartaruga ( ) Foram utilizados 316 ovos coletados por funcionários do Ibama/AM, localizado no tabuleiro da Reserva Biológica do Abufari (Lat. S 04 51' – 05 30' e Long. W 6247' a 6322'; criada pelo Decreto Federal número 87.585 de 20/9/1982) no município de Tapauá (Lat. S 05 45' e Long. W 64 24') administrada pelo Ibama no estado do Amazonas, em1997. 10.1.2 Incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa no Amazonas Podocnemis expansa ² Termoutilizadoparaapraiadedesova. 394 Quelônios e seus predadores O fenômeno da predação é comum nos quelônios amazônicos. Foram encontrados diversos ninhos predados por jacurarus, urubus e mucuras. Durante esses anos de estudo verificamos que vários ninhos marcados são predados, mas somente uma pequena porcentagemdeles não é possível identificar o predador. Gaivotas são excelentes predadoras. Essas aves são observadas predando filhotes na praia tanto de dia como de noite, e no rio durante o dia. Na praia, a estratégia mais comum é a gaivota realizar vôos cada vez mais baixos sobre o filhote, até conseguir apanhá-lo com as patas sem pousar na areia. Na água, as gaivotas sobrevoam o local à espera que um filhote venha à tona. Quando isso acontece, realizam uma descida rápida e capturam os filhotes com as patas, erguendo-se novamente. Durante as primeiras horas da manhã, é comum observarmos repetidas vezes a presença de gaviões (várias espécies ainda não identificadas), gaivotas e urubus atacando filhotes isolados e dentro de cercados de tartaruga, mesmo quando já existem agentes e estagiários trabalhando na retirada de filhotes. Gaviões e urubus pousam próximo à presa e a seguram no solo, ao passo que as gaivotas normalmente capturam os filhotes em vôos rasantes e os levam consigo. Pudemos também observar interações agonísticas (disputa) entre as aves. Nas noites em que milhares de filhotes emergem simultaneamente nos cercados, observamos que grupos de urubus passam a noite dentro dos cercados alimentando-se deles. Nas manhãs seguintes, centenas de cascos são encontrados dentro dos cercados e nas imediações. 141 Jacarés-açus ( ) e tingas ( ) investem em grupo de tartarugas que escapam dos cercados e também sobre os cercados, quando estes estão próximos à margem da praia. No período de emergência de filhotes, vários cascos comidos pormucuras foram encontrados perto dos locais em que eles foram capturados. Nesses cascos, havia marcas de dentes que permitirama identificação do predador. A predação de filhotes na água também é um fenômeno muito comum de ser observado na praia do Abufari. A aruanã (Osteoglossum bichirrosum) é um dos principais predadores aquáticos dos filhotes de quelônios que nascemna praia. Ecologia reprodutiva O principal local de nidificação dos quelônios na Rebio é a praia do Abufari. A altura média da praia é de 4,5 m (±1,8m), onde desovam emmédia 8.802 ±2.516 quelônios: tracajás, iaçás e tartarugas. Considerando os anos de 1997-2004, exceto 2002, a produção média anual de filhotes de tartarugas na Rebio Abufari foi de 177.000 ±53.250 (Figura 5). Rebêlo (1985) reporta que na praia do Abufari foram produzidos cerca de 40 mil filhotes de tartarugas no ano de 1984. Informações entre os anos de 1985 a 1997 e 2002 são escassas e duvidosas e, portanto, não estão sendo utilizadas neste relatório. Segundo dados diários da produção de filhotes de tartaruga encontrados em planilhas do arquivo da Rebio, no ano de 1997 a produção foi de 287.686 filhotes. Melanossuchus niger Caiman crocodilus 142 que pode ser um indicativo de uma predação humana excessiva sobre machos e fêmeas adultas. Em 2000, a taxa de ovos inférteis, gorados e natimortos, foi superior à 1999 (teste T, P<0,05), o que associamos a um atraso no período das chuvas. Os filhotes que conseguiram eclodir nas covas naturais que acompanhamos, não tiveram forças para sair da cova e acabaram sendo predados por larvas demoscas (Diptera: Ephydridae). Os esforços de conservação de quelônios nesses municípios, entretanto, vêm sendo comprometidos em alguns lugares (Oriximiná/PA: Lago do Sapucuá, Jarauacá, Igarapé dos Currais; Parintins/AM: Valéria, Murituba), em função dos danos causados pelas larvas desses dípteros pertencentes à família Ephydridae. O adulto é uma mosca de coloração preto-metálico, medindo cerca de três milímetros de comprimento. Essa mosca, por apresentar hábitos muito variados, inclusive saprofíticos, ataca na fase de maior suscetibilidade do ciclo evolutivo dos quelônios. As larvas predam ovos e filhotes, sendo os adultos, provavelmente, atraídos pelo odor característico de ovo, logo após o primeiro filhote eclodir, ou pelo odor de putrefação de ovos contaminados por fungos ou gorados. Os tracajás (n=617) nasceram medindo o comprimento de carapaça, 39,3 ± 1,7 mm, os iaçás (n=101) com 40,5 ± 2,4 mm e as tartarugas (n=201) com 46,9 ± 1,4 mm. Os tracajás pesaram em média 14,9 ± 1,4 g, iaçás 14,3 ± 1,8 g, tartarugas 22,5 ± 1,4g e calalumãs (n=110) 11,2 ± 2,6 g. Os filhotes que nasceram em covas transplantadas para o barro foram significativamente (teste T, P<0,01) maiores (comprimento da carapaça = 39,8 ± 0,9 mm), mais pesados (peso=15,6 ± 0,2 g) e menos pigmentados do que aqueles que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0 ± 2,2 mm; peso=14,3 ± 1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás que nasceram no barro tiveram um ganho diário de peso (GDP) de 0,05 393 larvas se deu em número muito menor e não houve problema de pisoteio, sendo a taxa de eclosão das covas naturais de 95,45%. Pezzuti (1998) também encontrou filhotes de pitiú predados por larvas dessasmoscas. O maior predador de ninhos naturais nas comunidades do projeto, depois do homem, foi o jacuraru ou teiú (Tupinambis teguixin). Nos ninhos transferidos, tivemos problema apenas com um cachorro que entrou à noite no cercado de proteção da Aliança - Lago do Piraruacá, e comeu os filhotes e ovos de duas covas, em 1999 e duas covas naturais em2000. Alho et al. (1984) e Vogt (1994) afirmam que a manipulação dos ovos em programas de conservação alterariam as condições microclimáticas dos ninhos, retardando a eclosão, aumentando a mortalidade e influenciando a razão sexual com a masculinização dos embriões. Isso, entretanto, não ocorreu na maioria das áreas do projeto, onde as covas transferidas tiveram maior taxa de eclosão e sobrevivência de filhotes do que as covas naturais. Quanto à sexagem dos filhotes, embora sabendo que é extremamente importante para determinar a razão sexual do que estamos produzindo, ao transferir os ninhos, não realizamos por ser extremamente difícil