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CriaçãoeManejodeQuelôniosno
Amazonas
(Projetodiagnósticodacriaçãodeanimaissilvestresnoe stadodo
Amazonas)
Editor
PauloCésarMachadoAndrade- M.Sc.
LaboratóriodeAnimaisSilvestres- Ufam
CoordenadordoProjeto Pé-de-Pincha
Apoio:ProgramaTrópicoÚmido/CNPq
Publicação:
CDU(2.ed.)639
CriaçãoeManejodeQuelôniosno
Amazonas.ProjetoDiagnósticodaCriaçãode
AnimaisSilvestresnoEstadodoAmazonas.2007.I
SemináriodeCriaçãoeManejodeQuelôniosda
AmazôniaOcidental.Ed.Pa uloCésarMachado
Andrade. 2ªEdição. ProVárzea/FAPEAM/SDS.
Manaus/AM.447p. Palavras-chave:Quelônios;
Tartaruga;Criação Podocnemis
ii
C967 Criação e manejo de quelônios no Amazonas. / Paulo César Machado,
organizador. –Manaus: Ibama, ProVárzea, 2007.
513 p. : il. color.; cm.
Bibliografia
ISBN
1. Quelônios. 2. Tartaruga. 3. Manejo. 4. Criadouro. I. Andrade, Paulo
César Machado. II. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis. III. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea.
V. ProjetoPé-de-Pincha. VI. Título.
CatalogaçãonaFonte
InstitutodoMeio AmbienteedosRecursosNaturaisRenováveis
ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº -
Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. (92) 3613-3083 /
6 2 4 6 / 6 7 5 4 . F a x . ( 0 9 2 ) 3 2 3 7 - 5 6 1 6 . S i t e :
www.ibama.gov.br/provarzea
iii
“Donalebresóqueriacorrerodiainteiro,
porém,donaTartarugaandandochegouprimeiro!”
(LaFontaine)
Aosmeuspais,ManueleRegina,
Portodooincentivo,sempre!
ÀEdianaeaoGustavoportodoamorepaciência!
ManuelinoBentes, “Seo” MocinhoLobo,peloexemplode
vida
(inmemorian)
AoRosinaldodaCostaMachado,
ProfessordoCentro Agropecuário,UFPA e
iv
PARDI,M. C.,SANTOS,I.F.dos ; SOUZA,E.R. ; PARDI,H.S. Ciência,
HigieneeTecnologiadaCarne.2ed.Goiânia:CEGRAF/UFG, v.1,2001.
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vertebrados.2.ed. – SãoPaulo:Atheneu,1999.
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1984.
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LUZ,V.L.F. ; REIS,I.J. Manualtécnico:criaçãocomercialdetartarugae
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QUINTANILHA,L.C. Enfermidadesinfecciosasemquelôniosaquáticose
principaisfatoresdesuainstalaçãoem criadores comerciais. Goiânia:
RAN/Ibama, 1997.
QUINTANILHA,L.C. Parâmetroszootécnicosdoabateindustrialda
tartaruga-da-amazônia( Podocnemisexpansa )criadaemcativeiro .
Brasília,2003.Dissertação(Mestrado).FaculdadedeAgronomiaeMedicina
VeterináriadaUniversidadedeBrasília.
SENAI/DN. ElementosdeapoioparaoSistemaAPPCC . Brasília:Projeto
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SegurançaAlimentar)
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comunesalhombreyalosanimales. 3ed.Washington,D.C.:OPS,2001.
TEIXEIRA,R.D.; BORGES,G.F.; COSTAJUNIOR,G.A. Informativo
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aproveitamentohigiênico-sanitáriodosprodutosobtidos. Brasília:
Delegacia FederaldeAgriculturado DistritoFederal. 1987.
537
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_____. Portaria nº 368 de 04/09/97. Regulamento técnico sobre as
condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para
estabelecimento elaboradores/industrializadores de alimentos.
Brasília-DF, 1997.
_____. Portaria nº 46 de 10/02/98. Manual genérico para APPCC em
indústrias de produtos de origem animal. Brasília-DF, 1998.
_____. Portaria nº 210 de 10/11/98. Regulamento técnico da inspeção
tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves. Brasília-DF, 1998.
_____. Portaria nº 711 de 01/11/95. Normas técnicas de instalações e
equipamentos para abate e industrialização de suínos. Brasília-DF,
1995.
_____. Padronização de técnicas, instalações e equipamentos para o
abate de bovinos.
_____. Instrução Normativa nº 03 de 17/01/00. Regulamento técnico de
métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de
açougue. Brasília-DF, 2000.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 142 de 30 de dezembro
de 1992. Normatiza a criação em cativeiro das espécies de quelônios
Podocenmis expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis,
tracajá, com finalidade comercial, partindo de filhotes, nas áreas de
distribuição geográfica. Brasília-DF, 1993.
_____. Portaria nº 070 de 23 de agosto de 1996. Normatiza a
comercialização de produtos das espécies de quelônios Podocenmis
expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, tracajá,
provenientes de criadouros comerciais regulamentados pelo IBAMA.
Brasília-DF, 1996.
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2003. Anais… Belo Horizonte: CRMV-MG, p.57-58.
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JAY, J. M. Modern food microbiology. 4ed. New York: Van Nostrand
Reinhold, 1992.
536
Agradecimentos
Ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama, pelo
reconhecimento ao Programa Pé-de-Pincha como iniciativa promissora para as várzeas
amazônicas e por tornar real o sonho desta publicação.
Ao Governo do Amazonas, que através da Fapeam e da Secretaria de Meio
Ambiente eDesenvolvimento Sustentável apoiaram a realização do I Seminário deCriação e
Manejo deQuelônios daAmazôniaOcidental, em2004, que deu origema este livro.
Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à
Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e
logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento
da importância estratégica da fauna para a região amazônica.
Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela
trajetória de luta.
Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló,
por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas
horasmais difíceis.
Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos
trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas.
Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando
“milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto comanossa equipe.
Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários
de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara,
Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis,
Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e
Vickson).
À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa
loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em trêsmeses.
Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos
problemáticos computadores desta edição.
Aosmeus pais, familiares e, sobretudo, àDeus!
v
Sumário
Introdução........................................................................ 1
Capítulo1: Manejocomunitáriodequelônios – a
parceriaProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha........................ 12
Capítulo2: Revisãosobreascaracterísticasdas
principaisespécies dequelôniosaquáticos
amazônicos..................................................................... 24
Capítulo3: Áreasdereproduçãodequelônios
protegidaspeloRAN-Ibama/Amazonas eUfam................. 55
Capítulo4:Ecologia dequelôniospelomedusídeos
naReservaBiológicadoAbufari......................................129
Capítulo5: Genéticamoleculardaspopulaçõesdas
espéciesdequelôniosdogênero Podocnemis na
Amazônia: resultadospreliminares................................. 176
Capítulo6: Fisiologiaebioquímicadequelôniose
suasimplicaçõesparaomanejoeacriaçãoem
cativeiro......................................................................... 196
Capítulo7: Instalaçõespara a criaçãodequelônios....... 227
Capítulo8: Alimentaçãoenutriçãodequelônios
aquáticosamazônicos(Podocnemis spp.)........................ 265
Capítulo9: Desenvolvimentodetartaruga-da-
amazônia(P.expansa)etracajá(P.unifilis)em
cativeiro, alimentadoscomdietasartificiaisem
diferentesinstalações..................................................... 295
Capítulo10: Manejoemcriaçõesdequelônios
aquáticos noAmazonas:adubação,densidadede
cultivo,desempenhodediferentesespécies,
populaçõesesexo.......................................................... 338
Capítulo11: Manejoreprodutivo,predaçãoe
sanidade....................................................................... 378
Capítulo12: Caracterizaçãosocioeconômicae
ambientaldacriaçãodequelôniosno estadodo
Amazonasecomercialização...........................................421
Capítulo13: Cultivodetartaruga-da-amazônia(P.
expansa):alternativaecológica,técnicaeeconômica
aoagronegócioamazônico.............................................. 451
Capítulo14: Abateexperimentaldatartaruga-da-
amazônia(P.expansa)criada emcativeiro..................... 463
Referências bibliográficas........................................... 502
vi
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534
Introdução
O homem da Amazônia sempre aproveitou os recursos da
fauna como alimento ou fonte de subprodutos (peles, penas, óleos,
etc.) para a venda. A proibição da caça, em 1967, não extinguiu
essa atividade, mas a reduziu drasticamente, retirando uma das
fontes de renda dos ribeirinhos.
Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado do
Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios de
água doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à
capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas
(Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás
(Podocnemis sextuberculata) para serem abatidos. Em 1792,
segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade (1988), registra-
se emapenas umano o abate de 24milhões de tartarugas na cidade
da Barra do Rio Negro, a futuraManaós. A primeira proibição surge
em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo
o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº
54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba,
Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga,
começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e
1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelas
ruas. NoMercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma
área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que,
posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras
áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de
quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988)
. Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios,
em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria
proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa
medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a
comercialização de produtos de animais silvestres constava
inclusive na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da
Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas
adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de
Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00.
Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará,
trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve
problemas entre a coletoria do estado e aDelegacia local.
Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei nº 5.197 de 1967, o comércio de
quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado clandestino
vem tornando-se cada vezmais forte e organizado. Essamesma lei já
previa em seu artigo 6º, item b, a “construçãode criadouros
destinados à criação de animais silvestres para fins econômicos e
industriais”. Em 1969, saiu a primeira portaria tentando normatizar
esse novo tipo de empreendimento, a Portaria nº 1.136/1969. Em
1973, com a Portaria nº 1.265P, ficava autorizada na Amazônia a
implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros grandes
projetos de criação de quelônios da Amazônia começou na verdade
em 1964, sendo, posteriormente, acompanhado pelo extinto
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Foi o do
Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes de tartaruga oriundos do rio
Trombetas eram
Manuel Andrade,GerentedeOperaçõesda A.RaposoeCia. – Distribuidorade
combustívelnoBaixo Amazonas,noperíodode1960a1975.Informaçãopessoal.
1
2
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TartarugadaAmazônia. BrasilFlorestal, jan./fev./mar. 1982.
532
criados até atingirem 8 kg com, aproximadamente, 6 anos de idade, quando eram
comercializados. O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que, segundo
relatos, recebeu emumúnico lote 100.000 tartaruguinhas.
No estado doAmazonas, as atividades do Projeto Quelônios daAmazônia
tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco (afluente do rio Negro) e em
Codajás, sendo que em 1977 foram criados oficialmente vários tabuleiros no Purus
(Axioma, Santa Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é
Pai, Pão, Pupunha,Manariã; e em Itamarati:Walter Buri, Marimari, Iracema, etc.).
Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos do trabalho de conservação
executado por grandes seringalistas daquela região. O Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF), com apoio dos proprietários locais e da
experiência das comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve
produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá (RAN-AM,
2001).
Em1989, a proteção passou a ser realizada apenas nos tabuleiros doAbufari (rio Purus)
e em Walter Buri (rio Juruá), sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em
108.319 filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção passam a se
concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se encontra o tabuleiro/praia de
maior produção de quelônios noAmazonas), emWalter Buri e na Reserva Extrativista
doMédio Juruá (maior área produtora de quelônios do estado).Aprodução da praia do
Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em 1994, caindo para
170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada de filhotes de tartaruga emAbufari
foi de 260.000 animais. A Resex do Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros
remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal
Pupunha, comunidadeNovaEsperança),Deus é Pai,Manariã,Ati
3
(comunidade doRoque),GumodoFacão,Bauana,BomJesus,Marari (comunidade
do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é estimada em 250.000
filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá.Desde 2001, o Ibama tem trabalhado em73 áreas
diferentes, em oito calhas de rio (Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã,
Amazonas, Nhamundá eTrombetas), com uma produçãomédia anual de 1.500.000
filhotes de quelônios (Andrade, 2002).
A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é extremamente
elevada no estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá são as espécies mais
procuradas para a criação comercial.Acriação de quelônios depende da retirada de
milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor,
de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica doAbufari, sendo que a retirada anual de
filhotes carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente
estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação sobre os
estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e densidade, área de vida, uso
de habitats, taxas de sobrevivência de filhotes em diferentes estágios de vida
(filhotes, jovens, subadultos e matrizes). Hoje, os principais fornecedores de
filhotes para os criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio
Juruá,monitorado pelo Posto deEirunepé, e Sororoca eToró, no rioBranco/RR.
No estado do Amazonas existem aproximadamente 196 projetos de
criação comercial de animais silvestres, em análise, junto ao Ibama-
AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros em
Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%;Itacoatiara, 21,7%;
Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; São
Gabriel da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999).
Destes, 88,46% são criatórios de tartaruga. O estado é o que possui o
maior número de criatórios
4
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ManejoSustentáveldeQuelônios(Podocnemisunifilis,P.sextuberculata,P.
530
comerciais de quelônios do país, com uma demanda crescente
passando de 11 criadouros registrados, em1997, para 33 criadouros
em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados. Ao final de
2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais em cativeiro
(Andrade et al., 2003).
Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são,
freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo
o Amazonas, tendo como principal ponto de comercialização (90%),
Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com
52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda
representa 22% do total de animais silvestres comercializados para
alimentação. Os municípios onde ocorre o maior número de
apreensões são Manaus (59%), Tefé (12%), Manacapuru (7%) e
Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de
apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas
do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%)
são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes,
onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preços
de venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (Canto et
al., 1999).
O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito arraigado
na população local, o que tem levado à caça e comercialização ilegal
de ovos e de animais adultos. A criação comercial, permitida pela
Portaria nº 142/92, ainda não consegue atender o mercado e seus
preços, ainda são elevados. A demanda por filhotes para criação,
também é grande e o Ibama não está conseguindo atender a todos
que querem criar, pois não possui um número suficiente de
tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e 1999). O esvaziamento
do meio rural e a falta de incentivos para a agricultura levaram a um
quadro em que os que sobreviviam no interior passaram a trabalhar
quase que exclusivamente como
5
vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como
pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a
subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela
exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a
castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradas
demaneira predatória e irracional (Smith&Pinedo, 2002).
Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de
quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas
comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em
Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram
protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por
associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, a
Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o RAN/Ibama-AM, com
o apoio das comunidades de Parintins, Nhamundá, Barreirinha,
Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq,
Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm
realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as
seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de
Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes);
Capacitação de 49 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em
Educação Ambiental para 385 professores; Construção de
cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5.
Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606
participantes) sobre meio ambiente e alternativas de
desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação
caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias,
manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de
campo para 86 professores, 684 alunos e238 comunitários, e visita
a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias,
envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400
pessoas nas 78 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em
1999-2000, foram
6
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natureza (Andrade et al., 2001). O número total de filhotes
devolvidos à natureza de 1999 a 2006 chega a 629.183 em sete
anos. Através deste programa de conservação de recursos naturais
e extensão, denominado “Pé-de-Pincha”, o Ibama e a Ufam
conscientizaram e capacitaram essas comunidades do Médio-Baixo
Amazonas para omanejo racional de quelônios.
Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para
o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga (Podocnemis
expansa), o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) têm
ampla distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa
real de proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da
Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja
desenvolvido um programa de manejo para evitar uma
superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da
população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem ser
estimados através do estudo de dinâmica de populações. A
avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com
parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem
como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da
exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003;
Bataus, 1998).
A criação de quelônios em cativeiros licenciados poderá, de certa forma,
amenizar a situação desses animais quanto à pressão de caça e à
extinção. Através da Portaria nº 142/92 do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que normatiza
a criação comercial da tartaruga-da-amazônia e do tracajá, em
cativeiro, o Governo brasileiro pretendeu proporcionar ao consumidor
de produtos da fauna, a oportunidade de conseguir o animal para
consumo, de forma legal, contribuindo para a
7
conservação e a preservação de ambas as espécies e para a
diminuição da caça predatória, oferecendo uma nova alternativa
comercial para os produtores rurais locais (Duarte, 1998).
Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e
qualitativamente” uma forma de concorrência desleal para a
queloniocultura amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento
da oferta de produtos oriundos de criadouros licenciados de
animais silvestres diminua a pressão de caça sobre os estoques
naturais, cujo manejo natural será um fator importante para
manter a conservação das espécies de elevado valor econômico.
Apesar da importância estratégica dessa atividade, até
meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido
realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para
tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem
pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de
crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade da
criação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva,
1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações,
possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido
disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público.
Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente expressivas
e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a tartaruga
( ) e o tracajá ( ). Para estimular a criação
desses animais em cativeiro, o antigo Centro Nacional dosQuelônios da
Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro de Conservação e Manejo de
Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos Experimentais de Tecnologia de
Criação de Quelônios. No Amazonas, esses núcleos não foram criados e
os queloniocultores pioneiros não tiveram
Podocnemis expansa P. unifilis
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526
assistência técnica adequada, baseando suas criações no
conhecimento empírico individual e em algumas informações
repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998).
Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e
tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de
determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir
desse quadro, diagnosticado, propor formas demanejo para garantir
melhores desempenhos desses animais em cativeiro.
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama
iniciaram em1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia eManejo
de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o
Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do
Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através
dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições
passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição,
genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva,
biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre os
criatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores
passaram a prestar assistência técnica repassando,
simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam
realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do
grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura
muito grande por implantação de projetos individuais e
comunitários, cursos ematerial bibliográfico.
A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos, aprovar
projetos na área de criação e manejo de animais silvestres, que
totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e aplicada,
sendo que a
9
Ufamdestinou recursos de capital e custeio demais de R$ 61.533,10
como contrapartida para o projeto “Diagnóstico.../PTU” e para
projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o Projeto de Extensão “Pé-de-
Pincha”, além da concessão de bolsas institucionais de iniciação
científica e de extensão, totalizando R$ 58.560,00. As principais
unidades de pesquisa com criação de animais silvestres são a
Fazenda Experimental da Universidade, com criatórios comerciais
de quelônios e capivaras, e científicos, de caititus, queixadas, pacas,
cutias e jabutis, e o Centro Experimental de Criação de Animais
Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do Ibama-AM. Além desses,
completam as unidades de pesquisa os laboratórios de criação de
animais silvestres, de zoologia, de parasitologia e de genética. O
campus avançado de Parintins é a base logística para os trabalhos
com manejo participativo de quelônios, por comunidades no Baixo
Amazonas e oeste do Pará.
Essas informações demonstraram a importância estratégica que a
Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do Ibama-
AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais
silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados pode-se
dizer que hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo
para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras,
pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação;
alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes
populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das
criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época de
abate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras
informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais
silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a
ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos
criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e
uma conseqüentemelhoria nas técnicas de criação.
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524
os resultados foram amplamente divulgados na mídia e em
congressos locais, nacionais e internacionais, através de periódicos,
fôlderes e, finalmente, em cartilhas.
Este livro serviu de base de discussões durante o I Seminário
de criação e manejo de quelônios da Amazônia ocidental, realizado
em Manaus, em 2004, pela Ufam, Ibama e Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Sustentável (SDS). Com o apoio do
ProVárzea/Ibama, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de
material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor
primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, que
desejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e
manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que
são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os
queloniocultores do Amazonas, nos últimos nove anos.
11
12
Capítulo1
Manejocomunitáriodequelônios
AparceriaProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha
MarceloDerziVidal
TiagoVianadaCosta
A várzea é um dos ecossistemas mais ricos da bacia
amazônica em termos de produtividade biológica, biodiversidade e
recursos naturais. Meio de vida para mais de 1,5 milhão de
ribeirinhos, a várzea ocupa 300 mil km , ao longo da calha dos rios
Amazonas/Solimões e seus principais tributários, tamanho
equivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal (Santos, 2004).
Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia,
abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo e outro
número expressivo de anfíbios, répteis, aves e mamíferos que
interagem emumcomplexo e exuberante, porém frágil, ecossistema.
Apesardesuacapacidadeprodutivaeresiliêncianatural,oatual
modelohumanodeutilizaçãodosrecursosnaturaisestálevando
àdegradaçãoprogressivadesuasáreas.Entreasprincipais
causasdesseprocessopodemosdestacar(a)agestãoineficiente;
(b)afaltadepolíticasespecíficasparapromovero
desenvolvimentosustentávelemseuambiente – crédito,
desenvolvimentotecnológico,infra-estruturaeregularização
fundiária;(c)
A várzea
2
Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama –
Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama –
marcelo.vidal@ibama.gov.br mderzi@bol.com.br
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522 13
a escassez de sistemas efetivos de manejo dos recursos naturais; (d)
a deficiência do sistema de monitoramento e controle; e (e) a falta de
uma estratégia de conservação específica para o ecossistema de
várzea (Santos, 2005).
Visando atenuar a progressiva degradação nessa região,
considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o Projeto
Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu para
fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea,
incentivando a participação das populações tradicionais que nela
habitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o
projeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e
política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos
naturais das várzeas da região central da bacia amazônica.
Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio a projetos que
desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais,
que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e
ambiental, e que possam ser multiplicáveis não somente em outras
áreas da várzea amazônica, mas também em outras regiões do país.
No período de 2002 a 2006, o ProVárzea/Ibama, por meio do
Componente Iniciativas Promissoras, investiu um montante de R$
8.451.456,57 em 25 projetos nas seguintes linhas temáticas: (a)
manejo dos recursos florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros;
(c) agropecuária; e (d) fortalecimento institucional. Desse total de
recursos, uma expressiva parcela foi destinada a atividades de
capacitação, monitoramento e manejo de recursos, e escoamento e
comercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foram
atingidas diretamente nos 38municípios dos estados do Amazonas e
Pará, pormeio dos projetos (Figura 1)
OProVárzea/Ibama
.
14
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520 15
OProjeto Pé-de-Pincha
A parceria
O Projeto Pé-de-Pincha surgiu em 1999 dentro da
Universidade Federal do Amazonas – Ufam, a partir da demanda de
alguns comunitários do município de Terra Santa, no Pará, que
solicitaram apoio para a realização de atividades que levassem ao
uso racional da fauna, com ênfase em quelônios, recurso outrora
abundante na região mas que, devido ao uso desregrado e
predatório, havia se tornado escasso.
Para iniciar as ações do projeto, os técnicos e professores da
Ufam firmaram parcerias com o Ibama, as prefeituras e os
comunitários. Atualmente, o Projeto Pé- de-Pincha é desenvolvido
por uma equipe multidisciplinar que integra professores, técnicos,
estagiários e voluntários de diversas instituições e comunidades.
Suas ações são executadas em 76 localidades nos municípios de
Parintins, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Terra
Santa, Oriximiná, Faro e Juruti, no estado do Pará.
Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás
(Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata), tartarugas (P.
expansa) e irapucas (P. erythrocephala), pelos próprios
comunitários, estão presentes as possibilidades de utilização do
recurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercialização
de filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo um
programa de educação ambiental com palestras, capacitação de
professores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários,
atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das
comunidades emassociações e cooperativas.
Noanode2003aUfam,pormeiodaFundaçãoRioSolimões –
Unisol,apresentouapropostadoProjetoPé-de-Pinchano
processoseletivodeapoioaprojetosdemanejodosrecursos
naturaisdoProVárzea/Ibama.
16
Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais
de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do
projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por
comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O
custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 de
recursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da
contrapartida daUfam.
A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha é
baseada em diversas fases e atores que, sendo complementares,
resultam emações significativas.
Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados
pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de
desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos
quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos
ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas
“berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dos
filhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 1). Finalmente,
após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias
originalmente utilizadas para desova e a distribuição de
aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores
credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência.
No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha
resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos à
natureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos
indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de
ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à
natureza (Fig. 2), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos
berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido
maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente
natural.
Aspectos ambientais
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518 17
Figura 1. (A) Ninho de quelônio em praia natural; (B) Ninhos de
quelônios empraias artificiais; (C) Biometria de filhotes.
Devido às ações desenvolvidas pelo projeto, é provável que o
número de filhotes produzidos pelo Pé-de- Pincha seja superior em
relação ao que poderia ser produzido em ambiente natural. Isso é
ainda reforçado, segundo os comunitários, pela maior quantidade
de indivíduos adultos que vem sendo observada nas áreas
manejadas, o que há muito tempo não acontecia. Entretanto,
analisando por espécie manejada, pode-se verificar um grande
aumento no número de ninhos e ovos de irapucas, ao contrário das
demais espécies de quelônios trabalhadas pelo projeto que,
praticamente, mantiveram-se constantes ao longo de três anos
(Tab. 1). Esses valores podem estar relacionados à grande pressão
antrópica sobre espécies culturalmente utilizadas para
A B
C
2004 2005 2006
Espécie
Nº de
ninhos
Nº de
ovos
Nº de
ninhos
Nº de
ovos
Nº de
ninhos
Nº de
ovos
Tracajá 2.504 55.384 3.315 67.034 2.823 61.525
Pitiú 830 12.791 797 11.004 537 9.030
Tartaruga 83 5.964 39 3.888 64 6.331
Irapuca 70 597 282 2.059 755 5.838
Total 3.487 74.736 4.433 83.985 4.179 82.724
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
2004 2005 2006
NºNinhos NºdeOvos Soltura
consumo e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a
tartaruga e o tracajá.
Tabela 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de
2004 a 2006.
Figura 2. Gráfico comparativo entre o número de ninhos, número de
ovos e soltura no período de 2004 a 2006.
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516 19
Aspectos sociais
Aspectos econômicos
Um fator de sucesso do Pé-de-Pincha é o excelente
trabalho de educação ambiental desenvolvido nas instituições de
ensino dos municípios abrangidos. O projeto consegue mobilizar
professores, técnicos e alunos de escolas municipais e estaduais, e
os professores têm se mostrado extremamente satisfeitos com os
conhecimentos adquiridos emateriais didáticos utilizados.
As atividades realizadas com o intuito de promover a
educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas
e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e
comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram
realizadas 356 atividades de educação ambiental com uma
participação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando
252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto.
O projeto conta ainda com uma excelente participação de
crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e
soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que
congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classe
social e cor, e cria condições básicas para um trabalho de
conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo
prazo (Fig. 3).
O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha
também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos
municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser
seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidados
a proferirempalestras e cursos sobre a experiência desenvolvida.
AcriaçãoemcativeiropromovidapeloPé-de-Pinchavisa
suprirumademandaculturalnasáreasde
várzea – o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer
as novas tendências dos mercados nacional e internacional, que
cada vez mais têm procurado alternativas de produção que
promovam e valorizem o manejo de fauna silvestre por populações
tradicionais.
Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26
criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 4), distribuídos nos
municípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, e
alojados 8.187 animais. No entanto, a comercializaçãoainda não
ocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho de
abate que requer omercado.
A experiência da criação em cativeiro promove um aporte de
informações biológicas (taxas de crescimento, densidade de
indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros)
sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas com
experimentos em condições melhores controladas e com dados
obtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais.
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514
Figura 3.Soltura de filhotes nomunicípio de Terra Santa, Pará.
Figura 4.
Disseminação
Modelo de tanque utilizado para a criação de quelônios em
cativeiro.
O projeto Pé-de-Pincha alcançou uma boa articulação e
parceria com instituições locais (associações, escolas, grupos de
jovens, etc.), prefeituras, organizações de ensino e pesquisa (Inpa,
Ufam, ONGs), de conservação e controle (Ibama) e tem utilizado um
amplo leque de instrumentos de difusão (rádio, matérias na
televisão, jornais, cartilhas, etc.), o que tem feito com que as ações
não somente sejam divulgadas em outras áreas, mas que ocorra a
replicação baseada nas experiências do projeto (Fig. 5).
21
22
Outra relevante estratégia de disseminação é o intercâmbio das
iniciativas promissoras. O evento, realizado anualmente desde 2002
pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entre
técnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos
apoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes,
compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade e
colaboração para a execução dos projetos.
Figura 5. Cartilha produzida a partir das experiências do Projeto Pé-de-
Pincha.
REBÊLO,G.;PEZZUTI , J.C. B.; LUGLI, L. ; MOREIRA, G. Pescaartesanal
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512 23
Conclusão
Quando analisamos os avanços obtidos pela parceria
ProVárzea/Ibama – Projeto Pé-de-Pincha podemos concluir que a
iniciativa não é somente promissora. Hoje a parceria está
consolidada e promove um diálogo de saberes acadêmicos e
empíricos, diferentes sim, porém complementares.
Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e o
aperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um
vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e
adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se
entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre
seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do
ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a
replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, a
discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e
adequadas ao cenário amazônico.
Capítulo 2
Revisão sobre as características das principais
espécies de quelônios aquáticos amazônicos
JoãoAlfredodaMotaDuarte
FrancimaraSousadaCosta
PauloCesarMachadoAndrade
Os quelônios existem, aproximadamente, desde o Jurássico
(250 milhões de anos) até hoje, e possuem de 211 a 335 espécies de
água doce, salgada (8) ou terrestre (34) (Garschagen, 1995). Durante
o fim do Cretáceo e o começo do Paleoceno, os répteis sofreram uma
extinção, quando muitas tartarugas de diversas famílias foram
extintas.
No Cretáceo, o gênero Podocnemis existia na América do
Norte. Durante o Cretáceo superior e o Eocênico são encontrados
fósseis desse gênero na Europa e África. Hoje, esse gênero existe em
Madagascar (África) e na América do Sul, indicando ser bastante
antigo (Alho, Carvalho&Pádua, 1979).
Na Amazônia brasileira, os quelônios do gênero Podocnemis
são a tartaruga (Podocnemis expansa), o tracajá (P. unifilis), o iaçá ou
pitiú (P. sextuberculata) e a irapuca (P. erythrocephala) (Figura 1).
Sendo encontrados também outros quelônios como cabeçudo
(Peltocephalus dumerilianus), jabuti (Geochelone carbonaria e o G.
denticulata), matamatá (Chelus fimbriatus) muçuã (Kinosternon
24
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scorpioides), aperema (Rhinoclemmys punctularia), jabuti-machado
(Platemys platycephala) e lalá ou cágado (Phrynops nasutus) (Molina
&Rocha, 1996).
Figura 1: Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (P.
erythrocephala), iaçá (P.sextuberculata) e tartaruga (P.expansa) (de cima para baixo,
sentido anti-horário).Foto: Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).
Tartaruga(Podocnemisexpansa)
No estado do Amazonas há a ocorrência natural da tartaruga-
da-amazônia (Podocnemis expansa) que, na linguagem indígena, é
denominada por jurará-açu, araú e, provavelmente, aiuçá para
indivíduos novos (Figura 2). Sendo conhecida por tortuga, tortue,
tartarucha, turtle, schildkrote, tataroukhos, em espanhol, francês,
latim, inglês, alemão e grego, respectivamente (Garschasen, 1995).
É encontrada na bacia Amazônica desde o leste dos Andes até a
bacia doOrinoco.
25
Figura 2: Tartaruga (P. expansa). Foto: RAN/Ibama-AM(Oliveira, P.H.).
A tartaruga-do-amazonas pertence ao filo Chordata, subfilo
Vertebrata, classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia
(Testudinata), subordem Pleurodira, superfamília Chelonioidea,
família Pelomedusidae, gênero Podocnemis e espécie P. expansa
Schweigger (1812) (Cenaqua, 1992).
Omacho de Podocnemis expansa denomina-se comumente
por capitari ou capitaré, sendo, aproximadamente, duas vezes
menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundoCoimbra Filho
(1967) apudNogueira Neto (1973).
Sendo o maior quelônio de água doce da América do Sul, a
tartaruga (P. expansa) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de
comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina
& Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ±
17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith,
1979).
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Para o TCA (1997) a idade pode ser determinada a partir dos
anéis das placas da carapaça, sendo que uma fêmea com 45,2 cm de
carapaça apresentava oito anéis na placa dorsal da carapaça,
indicando, provavelmente, que teria oito anos de idade.
O tracajá (P. unifilis) – Figuras 3 e 4 – encontra-se
distribuído por toda a Bacia Amazônica. As fêmeas são maiores do
que osmachos. Possui a forma ovalada, carapaça gris escura quando
molhada, com o plastrão de coloração escura. Apresenta patas
curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de
pequeno tamanho em relação ao corpo. Possui manchas amareladas
na cabeça, na parte dorsal. Os olhos, bastante juntos, são separados
por um sulco. Vive, principalmente, em lagos, rios e igarapés. Supõe-
se estar maduro sexualmente após os sete anos. Alimenta-se de
frutas, sementes, raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos,
crustáceos e moluscos (Reis, 1994). Procura desovar isoladamente
em barrancos, em covas de, aproximadamente, 30 cm de
profundidade onde coloca 35 ovos emmédia (Soini, 1995).
Tracajá (Podocnemis unifilis)
Figura3:Filhotesdetracajá(Podocnemisunifilis),Piraruacá/TerraSanta-
PA.Foto:Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.).
27
Figura 4: Fêmea de tracajá (Podocnemis unifilis), Valéria/Parintins-AM. Foto:
Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).
Os ninhos consistem de escavações com uma entrada quase
circular e uma câmara ligeiramente ovóide (Fig. 5). A profundidade
pode variar de 18 a 25 cm. O número de ovos por ninho varia de 9 a
40, com média de 28,8 ± 9,2 ovos. O tamanho médio dos ovos podevariar de 42,2 x 29,5 mm e peso médio de 21,7 ± 2,1 g. A desova
ocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de
junho a agosto, no oeste do Amazonas; de setembro a outubro no
Baixo Amazonas; e emnovembro no rio Negro e afluentes. O tamanho
médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán
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506
Figura5: Ninhodetracajá(P.unifilis).Piraruacá/TerraSanta-PA.Foto:Pé-
de-Pincha(Andrade,P.C.M.).
O tracajá é encontrado na Amazônia brasileira vivendo nos
rios e lagos, dificilmente migrando aos tabuleiros de desova no
período de estiagem. Muitas fêmeas desovam duas vezes por
temporada, com intervalos observados de 9 e 10 dias. O número e o
29
tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova.
Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da
desova. As fêmeas são maiores que os machos e chegam a medir
cerca de 50 cm de comprimento de carapaça e pesar até 12 kg (Soini,
1995).
Estudos realizados por Terán et al. (1992) sobre a
reprodução de P. unifilis em praias artificiais, em Iquitos, Peru, em
um período de cinco meses (junho a novembro), verificaram que
houve apenas 27,6% de eclosão (Fig. 6) e desenvolvimento completo
dos sobreviventes, fato ocorrido pela falta de fertilidade em 14,4%
dos ovos e morte prematura dos embriões. O pico de postura nessa
região ocorreu principalmente na segunda quinzena de julho.
As covas de tracajá são identificadas pelo monte de argila e
de capim umedecidos, com os quais a espécie fecha a cavidade da
postura (beiju) – Figura 7, não ocorrendo tal fato quando a desova é
em terreno não argiloso (Alho, 1986).
Figura6: Eclosãodeovodetracajá(P.unifilis).Foto:Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.).
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504
Figura 7: Ninho e ovos de tracajá (P. unifilis) no barro. Observar ovos aderidos
ao tampão do ninho.Macuricanã/Nhamundá-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
Os ovos de tracajá (Fig. 7) são de forma elipsoidal, de casca
calcárea e de cor esbranquiçada. Quando estão recém-postos são
duros, transparentes e cobertos de um líquido ligeiramente viscoso.
No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca e
começa a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação
a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a
suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaço dos ovos que dura
até o final do período de incubação, resultando no aumento do
diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P.
unifilis depende da temperatura de incubação (Souza&Vogt, 1994).
Os tracajás parecem sermais rústicos do que as tartarugas,
o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis,
1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para
fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou
para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas
vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de
cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em
31
cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal,
rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa
qualidade e boa aceitação pelos camponeses.
Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios de
diferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos,
identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água
e ao consumodos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando
uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro,
a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer
os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante
(até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situação
semelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para
realizar as amostras mensais. Esse comportamento,
provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em
lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiam-
se principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se
deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor
escura.
A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente
de iaçá, pitiú e cambéua. Smith, 1979, cita que essa espécie é
encontrada somente nos rios de água barrenta como o Branco,
Solimões e Amazonas (Figuras 8 e 9). Essa espécie é também
encontrada nos rios Trombetas e Tapajós, considerados de água
clara. A fêmea possuimanchas amarelas comdois barbelos embaixo
da boca. A carapaça tem cor marrom-claro e marrom-escuro. O
plastrão apresenta, principalmente nos indivíduos jovens, seis
pontas salientes de cor cinza ou marrom. A postura média é de 15 a
20 ovos de casca mole. O macho é chamado de anori e possui
tamanhomenor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou cambéua.
Iaçáoupitiú(Podocnemissextuberculata)
32
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502
Figura8: Fêmeadeiaçá(P.sextuberculata).Xiacá/TerraSanta-PA.Foto:
Pé-de-Pincha(Andrade,P.C.M.).
O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Soini (1997)
sugere que essa espécie desova quase sempre em praias arenosas,
geralmente próximo da água. A desova ocorre geralmente à noite.
Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e mais largos que os de
tracajá. A casca émais clara,mais delgada emais flexível.
Figura9:Iaçá(P.sextuberculata).Foto:RAN-AM(Andrade,P.C.M.).
33
Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do
Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito
pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As
fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A
profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de
incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de
incubação e na sobrevivência dosmesmos.
A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As
crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num
período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificação
dura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite,
sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995).
Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do
Abufari identificaram através de monitoramento de um único
transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a
praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de
145 ninhos por jacurarus (Tupinambis nigropunctatus, lagartos
grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição
de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são
os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista
o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se,
também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação,
preferindo locaismais altos e distantes da água. Omonitoramento de
219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e
razão sexual de 28,5%demachos.
Os predadores de filhotes de iaçás identificados na Reserva
Biológica do Abufari, Amazonas, foram: Phractocephalus
hemioliopterus (pirarara), Osteoglossum bicirrhosum (aruanã),
34
14.9 CONCLUSÃO
Ametodologia de abate de tartaruga-da-amazônia ainda não
está bem estabelecida. O processo ainda requer mais estudos e
pesquisas visando a definir as condições e o período de descanso, o
melhor método de insensibilização, o tempo de sangria, a melhor
forma de remover o plastrão e o acesso à cavidade celomática, sem a
ruptura da bexiga.
Sugerimos que os estudos sejam continuados a partir das
informações e dos dados produzidos neste trabalho, visando a
estabelecer uma metodologia de abate que atenda a todos os
requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos. Também sugerimos
que sejam realizados estudos de mercado para verificar as
necessidades e demandas que poderão nortear os trabalhos
futuros.
Assim sendo, o trabalho desenvolvido foi importante para
delinear os principais pontos-chave no processo de abate,
fornecendo diretrizes para o desenvolvimento das próximas
pesquisas aplicadas para a exploração econômica dos produtos e
subprodutos da tartaruga-da-amazônia.
501
negativamente nos níveis de contaminação para os parâmetros
coliformes fecais e contagem total de aeróbios mesófilos. Os
resultados indicaram que a metodologia empregada no abate deve
ser mais estudada para evitar, principalmente, a contaminação da
carne pela urina. Também devem ser realizadas novas análises
microbiológicas para validar as duas pré-lavagens e a lavagem.
14) Rendimento de carcaça e demais partes: deve ser considerado,
na continuação dos trabalhos de pesquisa, o estudo de viabilidade
econômica do empreendimento, levando em conta a utilização
racional dos produtos bem como dos subprodutos do abate que
apresentem interesse comercial, evitando-se a produção de
resíduos possivelmente poluentes aomeio ambiente.
500
Leiarius marmoratus (jandiá) e Sorubimichthys planiceps (peixe-
lenha) (Garcia, 1999).
O iaçá é, das espécies de quelônios, a mais consumida em
Manaus. Sua carne se encontra à venda, de forma ilegal, nas feiras a
R$ 3,59/kg (Canto et al., 1998).
Evaristo (1995) apud Duarte & Andrade (1998), cita que os
quelônios são répteis que possuem uma carapaça óssea que protege
os órgãos internos. Essa carapaça é formada pela fusão das
costelas, externo e vértebras. Em geral, denomina-se casco ao
conjunto das partes rígidas dorsal e peitoral. Contudo, a parte
superior denomina-se carapaça, sendo achatada, mais larga na
região posterior, com coloração marrom, cinza ou verde- oliva, e a
inferior plastrão, sendo ambos compostos por placas ossificadas
revestidas por uma camada queratinosa de forma convexa e
achatada, quase horizontal, unidas por uma estrutura óssea
conhecida por ponte (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina &
Rocha, 1996).
Na P. expansa, a carapaça (Fig. 10) é composta por 37
escudos (2 cervicais seguidos de 5 escudos vertebrais com duas
séries de 4 pleurais, no total de 8; no lado de fora dos pleurais e
estendendo-se pelos dois lados a partir dos cervicais há 22 escudos
marginais). Os escudos do plastrão são divididos em pares por uma
linha longitudinal. Anteriormente, há um escudo gular intercalado
por dois intergulares. Seguem-se um par de humerais, peitorais,
abdominais, femurais e anais, respectivamente, totalizando 13
Anatomia e fisiologia
35
escudos com possibilidade de haver variações em forma e número.
Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre
escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma
espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha,
1996).
Figura 10:Desenho esquemático de carapaça de Podocnemis expansa.
Os quelônios apresentam um tubo digestivo completo, com
digestão extracelular, sendo o estômago uma dilatação do tubo
digestivo, terminando em um orifício denominado cloaca,
semelhante ao de ave, pelo qual desemboca a urina, fezes e material
seminal, ocorrendo também a vascularização nas paredes como
“brânquias cloacais” (essa região, possivelmente, realiza uma
respiração cutânea mínima: sangue-parede vascular-água). A
digestãoé auxiliada pelo fígado e pâncreas, ocorrendo parcialmente
no estômago e finalizada no intestino, havendo, neste último, a
absorção do alimento digerido no duodeno. No intestino grosso
ocorre a formação de fezes. A circulação é fechada (vasos e veias),
36
estabelecimento não possuir túnel de congelamento para promover
o devido abaixamento da temperatura do conjunto carapaça-
carcaça, no tempo adequado. Entretanto, para a elaboração do
produto final da carcaça-carapaça devem ser estudadas formas
mais eficientes para higienizar a carapaça, de maneira que ela não
represente contaminação para a carcaça. As áreas onde se realizam
essas manipulações devem ser climatizadas para evitar grandes
elevações de temperatura da carne.
10) Fracionamento e embalagem: essas etapas não foram bem
estudadas porque deve-se realizar um levantamento de mercado
para a verificação das porções cárneas preferidas, bem como o
método de embalagem mais adequado às exigências dos
consumidores. A rotulagem poderá ser feita com base na legislação,
seguindo-se os manuais de orientação das indústrias disponíveis
no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(www.anvisa.gov.br).
11) Congelamento: esse trabalho foi realizado através do armário ou
congelador de placas, que é utilizado para porções cárneas com
espessura reduzida. Esse motivo estabeleceu que os trabalhos
deveriam ser realizados para a obtenção da carne embalada e
congelada. Para obter a carne congelada com a carapaça, o
estabelecimento deverá possuir túnel de congelamento para
promover o abaixamento da temperatura da carne, em tempo
adequado, para evitar a formação de grandes cristais de gelo e
prejuízos à qualidade final do produto.
12) Potencial hidrogeniônico (pH): sugerimos que sejam melhor
estudadas as variações de pH em função das manipulações dos
animais vivos, desde o transporte até a sangria. Essas
manipulações, principalmente, no período imediatamente antes do
abate, levam à mobilização excessiva do glicogênio muscular,
refletindo no pH final elevado e na conseqüente diminuição da vida
útil dos produtos cárneos.
13) Microbiologia: a ausência de Salmonella sp. nas carnes indicou
que os trabalhos foram realizados sob um bom nível de higiene.
Entretanto, a escassez de pessoal para auxiliar nas diversas
atividades de abate experimental pode ter influenciado
499
animais insensibilizados pelos diferentes métodos, nos trabalhos
futuros.
5) Sangria: o método mais eficiente verificado nesse trabalho, tal
como nas espécies domésticas, foi através da secção parcial do
pescoço, mantendo-se a integridade da coluna cervical e da
medula espinhal. Essa integridade mantém por mais tempo a
função cardíaca, facilitando o escoamento sangüíneo. Sugerimos a
verificação da influência da eletronarcose como método de
insensibilização, para avaliar o gotejamento de sangue, com o
objetivo de reduzir o tempo e/ou verificar o aumento do volume
gotejado.
6) Lavagem: essa etapa deve ser reavaliada através da utilização de
swabs antes e após a lavagem, para uma avaliação da eficiência do
processo, visando a adequar as formas e as concentrações de uso
dos agentes detergentes utilizados.
7) Serragem das pontes: essa etapa é muito crítica porque a
utilização da serra pode causar acidentes nos manipuladores e
promover contaminação damusculatura pela ruptura das vísceras
e órgãos. Para evitar acidentes, os animais devem ser fixados em
suportes metálicos, antes do início da serragem. A serragem deve
ser realizada com uma serra com potência igual ou superior à
utilizada neste trabalho. O disco da serra deve ter,
aproximadamente, 7 centímetros de raio. A desarticulação da
junção óssea das pontes com o plastrão, em alguns casos, poderá
ser feita para completar a operação de serragem. Para essa
desarticulação, deve-se utilizar um trinchante de ponta rombuda,
evitando a ruptura da musculatura superficial, das vísceras e
órgãos.
8) Retirada do plastrão: a secção da junção plastro-pelviana foi
bastante difícil de ser realizada com tesouras, por isso sugerimos
uma utilização experimental de outra serra elétrica manual,
pequena, para facilitar essa operação. Todavia, a serra deve ser
usada com muito cuidado para evitar a ruptura da musculatura
superficial, bem comodas vísceras e órgãos.
9) Retirada da carcaça da carapaça: o objetivo desse trabalho foi a
obtenção da carne embalada e congelada, devido ao fato de o
498
ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e
incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se
mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana
nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e
um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo,
1995).
As espécies podem ser identificadas por características
externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido
em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e
posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto de
maior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud
Duarte&Andrade, 1998).
As potentes patas podem ser recolhidas para dentro como
medida de segurança e descanso. São duas dianteiras de cores
escuras e cobertas com pele rugosa e cinco unhas largas, firmes,
semicurvadas e acanaladas na parte inferior, e duas traseiras com
quatro unhas e características idênticas, pois o nome genérico
atribui-se aos calcanhares das patas posteriores, dotados de unhas
para reptar e cavar (Lima, 1967; Nomura, 1977).
As tartarugas são ectotérmicas (heliotérmicas), como os
lacertílios e os crocodilianos e podem atingir um grau considerado
de estabilidade da temperatura corpórea por meio da regulação
através da troca de energia térmica com o ambiente
(termorregulação). A temperatura corporal de tartarugas que se
aquecem ao sol é mais elevada do que a temperatura da água e do ar
e pode acelerar a digestão, o crescimento e o desenvolvimento dos
ovos. Além disso, o aquecimento pela luz do sol pode auxiliar as
37
tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough,
Heiser &McFarland, 1993).
No comportamento social, as tartarugas podem empregar
sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os
machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas
posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se
também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser
&McFarland, 1993).
Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar o
efeito da submergência de longa duração sobre o balanço
energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões
eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de
Podocnemis expansa, bem como suas principais características
funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço
energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanhomédio
de 9,114 0,081 cm e peso médio de 85,574 2,92 g, concluiu que a
tartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando
submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no
músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi
observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de
glicose aumentou significativamente, (P0,05) sugerindo que há uma
mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprir a
demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos
do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém
mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às
tartarugas de região temperada.
38
ao abate. A carne oriunda de animais contaminados poderá
apresentar riscos para a saúde dos consumidores, fato que pode
comprometer a comercialização. Assim sendo, deve-se elaborar um
sistema de controle de qualidade da alimentação, dos
medicamentos veterináriosusados e do nível de contaminantes
químicos emicrobiológicos da água dos boxes de criação.
2) Descanso: esse período deve ser definido após a verificação do
tempo necessário para ocorrer o esvaziamento gastrointestinal e
vesical, visando a reduzir os riscos de ruptura dessas vísceras
durante as operações de evisceração. Os estudos mostraram que
animais em privação hídrica e alimentar de até 15 dias
permaneceram com suas bexigas repletas. Possivelmente, a
temperatura ambiental teve influência na fisiologia renal, sendo
uma variável importante a sermelhor analisada. Acreditamos que a
utilização de água corrente estimule a defecação, como é observado
nas rãs, embora possa contribuir para promover a repleção da
bexiga.
3) Pré-lavagem (pré-abate): essa etapa requer muito cuidado para
evitar o estresse dos animais, porque poderá influenciar
negativamente no pH final da carne. A água sob pressão não deve
exceder 3 atm. A pressão excessiva poderá, inclusive, remover o
epitélio do revestimento externo, provocando pequenas
hemorragias. Animais com alto nível de sujidades externas poderão
estimular o uso de água, sob pressões elevadas, que poderá
influenciar negativamente nos valores finais de pH, reduzindo a
vida útil da carne, por apresentar um pH elevado e adequado ao
desenvolvimentomicrobiano.
4) Insensibilização: a utilização do gelo durante 15 minutos nos
permitiu evidenciar que os animais apresentaram-se um estado de
torpor. Entretanto, foram observadas contrações musculares e
movimentos de pedalagem em alguns animais após o sacrifício e
durante a evisceração. Assim sendo, sugerimos que sejam
avaliados os resultados obtidos por outros métodos. A
eletronarcose é usada amplamente para as aves, de uma forma
mais eficiente e humanitária. A quantificação do cortisol sangüíneo
poderá ser analisado para avaliar o possível estresse sofrido pelos
497
Tabela8:Resultadosobtidosnasangriapordecapitação
Sangria por decapitação
Tempo de sangria % de sangue escoado
12 minutos 2,44
14 minutos 1,92
15 minutos 2,32
Considerando que normalmente 8% do peso dos animais é
representado pelo seu volume sangüíneo; que uma boa sangria é
aquela que remove até 50% do sangue; que o conjunto carapaça e
plastrão representam 33,32%; que o aspecto da carne obtida deve
ser rósea ou vermelho-claro (indicando pouco sangue na
musculatura); e que o pH final obtido está dentro de valores
aceitáveis, o melhor resultado foi obtido pelo período de 15minutos,
obtendo-se 3,11% de escoamento de sangue pela secção parcial do
pescoço. Observou-se a coagulação sangüínea quando o período de
sangria foimaior do que 15minutos.
14.8 Comentários e proposições
Os trabalhos de abate foram realizados e permitiram
evidenciar alguns aspectos importantes do processo de obtenção da
carne embalada e congelada para o consumo humano, que deverão
sermais estudados. Os principais pontos são os seguintes:
1) Criadouros: o tipo de alimentação, a utilização de drogas
veterinárias, a qualidade da água e o nível de contaminantes
ambientais são importantes para a obtenção de animais e,
posteriormente, da carne, sem riscos para a saúde dos
consumidores. Tais aspectos têm influência direta no nível de
contaminação química, física emicrobiológica dos animais enviados
Kolb,Fisiologia Veterinária.1987.
Pardietal,Ciência,Higienee TecnologiadaCarne.2001..
16
17
496
Sexo e reprodução
O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode
ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão
e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas
adultas) (Pritchard&Trebbau, 1984) –Figura 11.
Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa): macho (esquerda) e
fêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.).
Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998)
não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da
maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do
exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de
filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo
sexual para Podocnemis expansa, pois os jovens apresentam
manchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a
fêmea tema cauda curta.
Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em
quelônios encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual
do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás,
temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude
39
térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a
máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt,
1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al.,
1983; Spotila et al., 1987; Souza&Vogt, 1994).
Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o
regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de
nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo,
proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes
(recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos
naturais ou artificiais.
P. expansa tende a entrar na fase de reprodução entre cinco
e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967).
Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa)
apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10
anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os
machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente,
realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de
janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova,
denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo
capitari.
O tempo de postura de P. expansa pode estar relacionado
diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno
de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o
desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que
cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de
postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough,
Heiser &McFarland, 1993; Alho&Pádua, 1982).
40
Tabela 7: Rendimento da carcaça e das principais partes obtidas durante o
abate.
Partes do corpo Rendimento %
Carcaça 34,66
Carapaça 25,41
Vísceras 11,87
Plastrão 7,91
Gordura extramuscular
(não cavitária)
5,54
Total 85,39
Os percentuais de 25,41% da carapaça e 7,91% do plastrão
perfazem um total de 33,32% do animal, similares aos 34,66% da
carcaça. Fato que demonstra a necessidade de se estabelecer um
aproveitamento comercial para o conjunto carapaça-plastrão.
Também deve-se considerar as demais partes como subprodutos
que devem ter umaproveitamento econômico sustentável.
14.7.5 Volume de sangue escoado
O escoamento sangüíneo é fundamental para a qualidade da
carne. O sangue possui o pH próximo da neutralidade e por ser rico
em nutrientes pode facilitar a multiplicação dos microrganismos
deteriorantes e/ou patogênicos. Assim sendo, foi avaliado o
escoamento em função do tempo e dométodo de sangria.
495
locais distintos. No caso da pré-lavagem as pontes direitas e
esquerdas foram escolhidas, enquanto na lavagem foram feitas na
pele junto à cauda.
Os resultados indicam uma redução da microbiota
equivalente a 11,76% da carga microbiana inicial, na região da
ponte direita. A redução foi de 33,33%na região da ponte esquerda.
Os resultados das análises microbiológicas dos swabs
realizados para avaliar a etapa de lavagem não foram adequados
por falha na coleta do material. Assim sendo, será necessária uma
reavaliaçãomais criteriosa dessa etapa.
14.7.4 Rendimento de carcaça e demais partes
Para efeito deste trabalho, considera-se carcaça o conjunto
formado pela musculatura, ossos dos membros, vértebras
coccígeas e cervicais. Também foram avaliados o rendimento de
carcaça e demais partes.494
Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do
tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à
margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a
tartaruga ficamais vulnerável à predação antrópica.
Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam
para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos
utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de
repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de
navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como
orientador (Pough, Heiser &McFarland, 1993).
Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no
leito do rio durante 4,5 0,7 dias observando a praia de dentro
d'água, ou as fêmeas realizam 5,5 0,7 subidas na praia de desova
durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para
verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do
ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que
tem uma variação natural de 0,63 0,27m, podendo ser depositados
de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima,
1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith,
1979).
Para Espriella (1972), o número aceitável para tartarugas
em cativeiro está numa média de 80 ovos, de forma esférica, com
peso médio de 39-43 g, que serão cobertos com areia, pela fêmea,
após a desova. A oviposição pode durar de 1,5 a 4 horas,
aproximadamente, sendo geralmente à noite e, ocasionalmente, à
tarde ou demanhã.
41
No período reprodutivo de P. expansa são observados os
mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de
desova (Vanzolini, 1967):
(1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pela
agregação dos animais em águas rasas, com subidas ocasionais na
margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios
solares;
(2) Subida à praia para a escolha do local da cova;
(3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os
animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local
de postura;
(4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da
areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si
mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a
usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a
60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara.
(5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se
importam com a presença de estranhos e podem ser tocadas sem
reação. O valor adaptativo da estereotipia durante a oviposição de P.
expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa
espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica
estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de
reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores
(trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de
oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo
do animal move-se para frente e para trás e também executa uma
lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a
42
e Salmonella sp. todas (100%) as amostras apresentaram-se em
conformidade.
Nas amostras avaliadas para o parâmetro contagem total de
bactérias mesófilas, 21,60% das amostras se apresentaram não-
conformes aos padrões estabelecidos. Entre as 39 amostras, 4
apresentaram resultados incontáveis.
Também foram realizadas duas análises microbiológicas de
amostras de urina coletadas de dois animais distintos e os
resultados seguem conforme a tabela a seguir:
Tabela 6: Avaliaçãomicrobiológica da urina de dois animais.
Resultados
Parâmetro
microbiológico
A B
Contagem total de
bactérias mesófilas
(UFC/ml)
520.000 1.200.00
0
Coliformes fecais (UFC/ml) Zero >2.400
Salmonella Ausência Ausência
As não-conformidades encontradas nas amostras de carne
podem estar relacionadas à metodologia de abate utilizada. Os
procedimentos de serragem das pontes bem como o acesso à
cavidade celomática levaram à ruptura da bexiga, na maior parte
dos casos, promovendo a contaminação da carne.
Os resultados indicam que a contaminação da carne, pela
urina, a torna inadequada ao consumo humano, por exceder os
padrõesmicrobiológicos estabelecidos.
Para avaliar a eficiência da primeira pré-lavagem e da
lavagem foram realizados um total de 8 swabs, sendo 4 para a pré-
lavagem e os outros 4 para a lavagem. Nos dois casos, foram
realizados dois swabs antes e mais dois após cada operação em dois
493
Tabela 4: Padrões microbiológicos utilizados como referência para a análise da
carne da tartaruga-da-amazônia.
Parâmetro
microbiológico
Padrão
Coliformes fecais (g) 10
Estafilococos coagulase
positiva (g)
100
Contagem total de
aeróbios mesófilos (g)
500.000
Salmonella sp. (g) Ausência
Entre as 39 amostras analisadas, somente 11 (28,2%)
atenderam aos padrões estabelecidos para os quatro parâmetros.
As conformidades e as não-conformidades para cada parâmetro
microbiológico apresentaram-se da seguinte forma:
Tabela 5: Proporção de carcaças obtidas conforme as exigências
microbiológicas estabelecidas.
Parâmetros
microbiológicos
% Amostras
em
conformidade
% Amostras
em
não-
conformida
de
Coliformes fecais
(g)
35,90 64,10
Estafilococos
coagulase
positiva (g)
100 00
Contagem total
de aeróbios
mesófilos (g)
78,40 21,60
Ausência de
Salmonella sp. (g)
100 00
Nas amostras que apresentaram não-conformidades para o
parâmetro coliformes fecais (64,10%) foram encontradas 8 amostras
com as cargasmáximas ( 2.400 NMP/g) para ametodologia analítica
utilizada (método do número mais provável) representando 20,51%
do total das amostras.
Em relação aos parâmetros Estafilococos coagulase positiva
492
profundidade, as patas traseiras têmmais ação. Com as unhas para
baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação,
fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a
forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e
diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50-
100 cm. Durante esse processo, as patas dianteiras ajudam na
sustentação do animal. O ato é repetido, inserindo a outra pata na
abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o
ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, inicia-
se a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15
segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém
esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpo
em relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15
segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos;
(6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação
os animais entram num processo de ritualização do
comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo
movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendo
areia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral,
a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada
durante o fechamento da cova;
(7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova,
normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que
escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás,
rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da
postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas).
Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis
expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide
antes e depois da desova, fazendo um sulco na areia. A caminhada
para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m,
43
alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito
na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça
durante a escavação. Após retornar à água,a população adulta
permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes.
Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos
adultos fora d'água.
Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais
difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967;
Alho&Pádua, 1979).
Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70
dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de
fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a
umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a
temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de
carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento
embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho &
Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989).
A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento
embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem
ser letais. A determinação do sexo dependente da temperatura foi
demonstrada em algumas, mas não em todas as famílias de
tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos
(Pough, Heiser &McFarland, 1993).
Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982)
em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de
25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas,
respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro
de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie.
44
Tabela 3:Comparação da composição química das carnes bovina e suína.
Composição química das carnes bovina e suína
Componentes Carne bovina Carne suína
Umidade (%) 76,77 71,20
Proteínas (%) 20,00 19,00
Lipídeos (%) 3,00 9,34
Cinzas (%) 1,09 1,00
Valor calórico
(kcal/100g)
107 160
Fonte: Gaspar (1997). Obs.: valores médios.
Os valores demonstram que a carne de tartaruga apresenta
1,83% de lipídeos enquanto as carnes bovina e suína apresentam 3
e 9,34%, respectivamente. O valor calórico também é mais reduzido
para a carne de tartaruga (85,99%) do que o que foi obtido para a
carne bovina (107%) e suína (160%).
14.7.2.1 Potencial hidrogeniônico (pH)
Foram encaminhadas 14 amostras para avaliação do pH da
carne. Foram aferidos, aproximadamente, 6 e 24 horas após o
sacrifício dos animais.
Os valores citados de pH apresentaram umamédia de 6,28 e
5,85 após 6 e 24 horas do sacrifício. Esses resultados mostram-se
favoráveis porque estão próximos dos valores utilizados como
referência para os pescados e para as demais carnes.
14.7.3Microbiologia
Foram enviadas 39 amostras da carne para avaliar a carga
microbiana. Pela inexistência de um padrão microbiológico para a
carne de quelônios, ficou estabelecido que para o estudo seriam
utilizados os critérios microbiológicos do Codex Alimentarius para a
carne de rã, conforme tabela a seguir.
JAY,J.M.ModernFoodMicrobiology.199215
491
Tabela1: Resultadosdasanálisesfísico-químicasdacarnedatartaruga-da-
amazônia
Análises Físico-
químicas
Resultados
Proteínas 22,0g/100g
Gorduras totais ou
lipídeos
5,50g/100g
Gordura Saturada
Mínima
2,68g/100g
Colesterol 68,0mg/100g
Carboidratos 0,0g/100g
Fibra Alimentar 0,0g/100g
Cálcio (Ca) 18,5mg/100g
Ferro (Fe) 1,60mg/100g
Sódio (Na) 46,3mg/100g
Os resultados das análises físico-químicas podem ser
utilizados como referência na elaboração dos dizeres de rotulagem
(composição centesimal e informação nutricional), conforme
legislação vigente no país.
Tabela 2: Resultados das análises para a avaliação da composição química.
Composição centesimal da carne de tartaruga
Parâmetros Valores
Umidade (%) 78,80 (+- 0,16)
Proteína (%) 17,39 (+-0,80)
Cinzas (%) 0,91 (+-0,07)
Lipídeos (%) 1,83 (+-0,75)
Valor calórico (Kcal/100g) 85,99 (+-5,72)
Valores médios; números entre parênteses representam o desvio-
padrão.
Fonte: Gaspar (1997).
¹Legislaçãoderotulagem.Disponívelem:http://www.anvisa.gov.br4
490
Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento
embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo,
portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam
expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser &
McFarland, 1993).
Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de
temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a
determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o
topo e o final do ninho (Pough, Heiser &McFarland, 1993).
Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotes
maiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é
necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do
embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas
eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu
intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado
durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser &
McFarland, 1993).
A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de
56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica
(Soini, 1997).
O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a
incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser uma
medida importante para a conservação. Para conseguir ótimos
resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados
em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original,
ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois
da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta,
significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do
45
ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de
incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em
ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e
têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos
ninhos expostos ao sol (Soini, 1997).
As tartarugas, por serem pecilotérmicas, apresentam
amplitude térmica de 22ºC a 32ºC, e ideal entre 27ºC a 30ºC, na qual
eclodem as crias medindo em torno de 50 mm de comprimento e 40
mm de largura. A atividade espontânea de alguns indivíduos põe o
grupo em movimento, uns rastejando sobre os outros, agindo sobre
os demais (Lima, 1967; Ferreira, 1994).
Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e
todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite,
talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as
tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes
são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais
podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser &
McFarland, 1993).
Essa emergência simultânea é uma característica
importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão
propensos à agressão emdecorrência do equilíbrio biológico imposto
pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre
as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough,
Heiser &McFarland, 1993).
Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa
poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma
porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros
seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número
46
14.7 Resultados
Os principais parâmetros avaliados foram: as observações
macroscópicas dos tecidos durante o abate, as análises
microbiológicas, as análises físico-químicas, o volume sanguíneo e o
rendimento de carcaça e demais partes.
14.7.1 Necropsia, histopatologia e parasitologia
Os animais foram observados durante o período de descanso,
sendo detectado o óbito de um animal. A necropsia foi realizada em
local inadequado, pela inexistência de uma dependência específica
para essa finalidade e não foi possível observar qualquer alteração
macroscópica sugestiva da causamortis.
No transcorrerdas operações de evisceração dos 39 animais
foram detectadas alterações macroscópicas em 3 baços, 2 fígados,
nasmucosas estomacais e intestinais de alguns animais.
Os tecidos com as alterações foram encaminhados para uma
avaliação histopatológica que confirmou a suspeita de degeneração
gordurosa ou esteatose em dois fígados. Essa alteração
normalmente está relacionada a problemasmetabólicos. Não foram
verificadas alterações histopatológicas nos baços e nas mucosas.
Também foram observadas infestações parasitárias por cestódeos e
trematódeos (digenéticos) nos estômagos e intestinos dos animais.
14.7.2 Físico-química
Uma amostra de carne foi encaminhada para a realização das
análises necessárias à adequação das exigências das informações
nutricionais de rotulagem. Os resultados encontram-se na tabela
abaixo:
¹³Trematódeosquepassampartedesuafaselarváriaemhospedeiros
intermediários,geralmentepequenosmoluscos
489
CONGELAMENTO – As carcaças foram congeladas em armários de
placas sob temperaturas de -25 a -40ºC, por um período de 2 a 6
horas.
Figura 17: Armário ou cogelador de placas.
ARMAZENAMENTO/ESTOCAGEM
EXPEDIÇÃO
– Os produtos foram
armazenados e estocados em câmaras frigoríficas sob temperaturas
inferiores a -18ºC.
– Os produtos foram expedidos em condições que
evitaram a elevação da temperatura do produto. A área de expedição
funcionou como antecâmara provida de portas de saída para a
expedição. As portas de saída foram providas de portais de
borrachas para permitir o embarque em veículos transportadores,
minimizando a elevação da temperatura dos produtos expedidos.
488
de animais desses criadouros, um número predeterminado seja
restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição
reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e
maximizando a taxa de natalidade (Alho&Pádua, 1984).
Na Reserva Biológica do Abufari/Tapauá – AM, o Ibama
desenvolve o programa de proteção às áreas de desova. Através do
Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, atualmente
Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Afíbios – RAN, realiza-
se a proteção do tabuleiro (praia de desova) assim como das matrizes
e dos filhotes recém-nascidos. Sendo que estes filhotes, em sua
maioria de tartaruga, logo ao abandonarem as covas ficam retidos
em cercados de tela para serem apanhados, contados e
transportados para a base física. Posteriormente, é feita a soltura dos
animais em local com uma incidência, provavelmente, menor de
predadores naturais aquáticos (Armond & Armond, 1990, apud
Duarte&Andrade, 1998).
Essa atividade é realizada na Venezuela com certa
similaridade, como cita Ojasti (1995; 1967), assim como em outras
áreas de concentração de tartaruga que servem de referência a
programas de manejo, como no rio Trombetas, entre outros
(Nomura, 1977; Alho & Pádua, 1984; Pough, Heiser & McFarland,
1993; Ferreira, 1994; Soini, 1997).
Segundo Nogueira Neto (1973), é possível obter a
reprodução de tartaruga em cativeiro. Na prática, tem-se a
possibilidade da reprodução de quelônios em cativeiro, sem a
migração, desde que haja umapraia artificial para a desova.
47
Valor nutricional
Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994)
citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e
Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-da-
amazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%.
Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais
(frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma
superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade
protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina
2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g;
Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g e
Metionina 5,32 g.
Aguiar, 1996, apud Duarte & Andrade (1998), obteve em
quatro análises realizadas em carne de Podocnemis expansa: 1,10 g
de lipídio/100 g; 21,17 g de proteína/100 g; 94,58 Kcal de
energia/100 g; 0,00 g de carboidrato/100 g; onde cita que em geral
a carne de animal silvestre émagra.
Maués, 1976, apud Duarte & Andrade (1998), ao comparar
os aspectos bromatológicos de ovos de galinha e codorna, ambos
oriundos de feiras livres de São Paulo, e tartaruga Podocnemis sp.,
oriundo de feiras livres de Bélem – PA, mostra que os ovos de
tartaruga pesaram emmédia 23,67 g, onde a gema, a clara e a casca
pesaram respectivamente 18,55 g; 3,74 g e 1,62 g, com um
percentual médio de 15,38% para a clara, 73,44%, correspondendo
à gema e 11,18% equivalente à casca.
O teor de lípides totais, verificado no ovo inteiro, clara e
gema em ovos de tartaruga é particularmente 7,92 mg/100 g; 0,08
mg/100 g e 18,26mg/100 g; em ovos de galinha obteve-se 13,08 g/
48
FRACIONAMENTO – Podem ser realizados cortes na carcaça de
acordo com as necessidades do mercado, sob as mesmas condições
de higiene namanipulação e do ambiente climatizado (temperaturas
do ambientemenor ou igual a 15ºC) utilizadas na etapa anterior.
Figura 15: Carcaça sem a gordura extramuscular não cavitária
EMBALAGEM – As embalagens poderão ser de polietileno ou outro
material de embalagem que evite contaminação física, química ou
microbiológica dos produtos, que também devem ser rotulados,
conforme a legislação vigente.¹²
¹²Legislaçãoda Anvisa.disponívelem:http://
www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm
487
resquícios de fáscias musculares ou fragmentos que permaneceram
após as operações de evisceração e de esfola.
Figura 12:Remoção das patas.
PRÉ-LAVAGEM – Foi realizado um enxágüe com água clorada para
a remoção de pequenos resíduos que permaneceram na carcaça
durante as etapas anteriores.
Figura 13: Lavagemda carcaça.
486
100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30
g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976).
O teor de proteína no ovo de tartaruga na porção inteira,
clara e gema foi na ordem de 12,70 g /100g; 1,56 g/100 g e 20,58 g
/100 g, enquanto que nos de galinha foram 9,98 g/100 g; 9,28 g
/100 g e 16,19 g /100 g e nos de codorna obteve-se 9,78 g /100 g;
9,43 g /100 g e 12,07 g/100 g (Maués, 1976, apud Duarte &
Andrade, 1998).
A composição de cinzas no ovo de tartaruga na porção gema
foi superior (1,68 g/100g) ao de galinha (1,25 g/100 g) e codorna
(1,36 g/100g) (Maués, 1976, apudDuarte&Andrade, 1998).
O teor mineralógico de ferro e fósforo na porção gema nos
ovos de tartaruga foi superior (10,9mg/100 g e 495mg/100 g) ao de
codorna (8,2 mg/100 g e 415 mg /100 g) e galinha (5,0 mg/100 g e
260 mg /100 g) e com um teor de cálcio na gema inferior (120,19
mg/100 g) em relação ao de galinha (152,25 mg/100g) e codorna (
168,13mg/100 g) (Maués, 1976 apudDuarte&Andrade, 1998).
O teor vitamínico de -caroteno foi baixo em ovo de tartaruga
(6,06 mg/100 g) relacionado ao de galinha (30,63 mg/100 g), e
vitamina A (57,83mg/100 g), contra os de galinha (69,87mg/100 g)
e codorna (73,95mg /100 g). Em relação ao tocoferol (total), o ovo de
tartaruga estudado foi superior (2,78 mg/100 g) ao de galinha (1,94
mg/100 g) e inferior ao de codorna (3,55 mg/100 g) (Maués, 1976,
apudDuarte&Andrade, 1998).
O teor de colesterol na porção clara mais gema, e gema no
ovo de tartaruga foi inferior (226,5 mg/100 g e 329,1 mg/100 g) aos
49
de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4
mg/100 g e 946,9mg/100 g) (Maués, 1976, apudDuarte &Andrade,
1998).
A tartaruga tem sido de grande importância para o homem
amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os
colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios
durante a vazante capturavamumgrande número de tartarugas.
Segundo Smith(1979), durante o século XVII as tartarugas
desovavam em um grande número de praias na área de
Itacoatiara/AM durante os meses em que o nível da água estava
baixo. Esse fenômeno atraiu comerciantes portugueses e uma praia
Real ficou estabelecida para alimentar os soldados do rio Negro,
enquanto outras praias foram exploradas por serem consideradas
grandes e abundantes, porém, até hoje, esses quelônios continuam
fazendo parte da dieta do interiorano. Historicamente, a tartaruga,
P. expansa, foi um quelônio de fácil captura para suprir a
alimentação do homem amazônida através de carne e ovos. Sendo
exportado, na época do Brasil Colônia, em 1719, pela capitania de
São José do Rio Negro 192 libras de “manteiga” de tartaruga. Ihering
(1968) cita que para produzir 1 kg de manteiga são necessários 275
ovos de P. expansa.
Alho, Carvalho & Pádua (1979) citam que o preço da
tartaruga emManaus chegou a alcançar US$ 180,00, Pádua, Alho &
Carvalho (1983) citam que em 1980 um exemplar de 30 kg de peso
vivo chegou a custar cerca deUS$ 200,00 emBelém.
Wetteberg et al. (1976) determinaram o mercado potencial
para espécies silvestres da fauna amazônica nos 23 restaurantes
Importância econômica
50
DECAPITAÇÃO
ESFOLA –
– Após a retirada das vísceras realizou-se a ablação
(retirada) da cabeça.
Realizou-se, com o auxílio de uma faca, a esfola dos
membros posteriores e da cauda e reverteu-se a posição dos animais
nos ganchos. Eles foram fixados pelos membros anteriores para a
realização da esfola do pescoço e dos membros anteriores. Foram
feitos cortes das regiões metatarsianas e metacarpianas, separando
a pele do membro da pele da pata. Assim, seguiu-se com a
dissecação da pele dosmembros até a completa retirada.
Figura 11:Remoção da pele.
TOALETE – Foram removidas as partes distais dos membros
(patas) pela secção do tarso e do carpo, da cauda e quaisquer
485
com o auxílio de facas (higienizadas a cada utilização). A partir daí,
procedeu-se uma retração manual de todo o trato digestivo até a
porção anterior (esofágica). Deve-se ter o cuidado de remover as
partes do fígado que permanecem bem aderidas lateralmente,
próximo à inserção dos membros anteriores e posteriores. Os
pulmões ficam bem aderidos à carapaça e também são retirados por
tração manual (arrancamento). A retração das vísceras
gastrointestinais deve ser realizada cuidadosamente para evitar a
ruptura e a contaminação da carcaça por conteúdo fecal. As facas
utilizadas nessa fase devem ser de uso restrito dos manipuladores
que trabalhamnessa etapa do processo de abate.
Figura 10: Seqüência de operações para a remoção das vísceras.
484
existentes em Manaus, de 1974 a 1975, bem como tentaram
identificar mercados para as espécies em outras cidades brasileiras
ou no exterior. Esses autores citam que 78,78% dos restaurantes
expressaram interesse em vender carne de fauna silvestre, sendo
denotado interesse pelo público desses restaurantes, em primeiro
lugar, pela tartaruga (P. expansa) com peso médio de 28,82 kg e um
preço médio (estimado pelos restaurantes) que os clientes pagariam
por quilograma de US$ 21,81, com um lucro potencial por
quilograma para os restaurantes de US$ 19,31.
Espriella (1972) e Nomura (1977) citam uma grande
demanda comercial em países como os Estados Unidos e o Japão,
sendo a comunidade nipônica considerada a pioneira em criação de
tartarugas, desde 1866, por considerarem seu alto valor nutritivo.
Eles recomendam que os criadouros sejam uma das maneiras de
conservar e preservar a tartaruga ou o tracajá. Os criadouros podem
também fornecer filhotes para exportação e ovos para extração de
óleo, sendo que essa extração parece inviável porque o valor
comercial da tartaruga é elevado, embora 100 g de ovos produzam
cerca de 100 g de creme facial.
Segundo o Cenaqua (1994), na Amazônia um boi necessita
de 3-4 ha para produzir 40 kg de carne/ano. Enquanto que em 1 ha
de água pode-se criar até 4.500 tartarugas, com um mínimo de
1.800 kg/ano e um custo aproximado para cada quilo das carnes de
peixe, boi e tartaruga de US$ 1,00, US$ 2,30 e US$ 6,00,
respectivamente.
O Cenaqua (1994) cita que em 1991 as tartarugas com peso
médio de 25 kg tiveram preço médio de US$ 80,00. Indicando, por
esses valores, que a tartaruga constitui um item acessível à classe
alta.
51
O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo
(PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco.
No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg
fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em
rendimento de carcaça.
Para o TCA (1997), o preço por tartaruga viva no Brasil,
Colômbia, Peru e Venezuela foi de US$ 97,00 a 122,00; US$ 5,00 a
61,00; US$ 8,00 a 20,00; US$ 18,00 a 47,00, respectivamente. Na
Colômbia o preço por umquilo é deUS$ 4,80.
No Peru, devido aos ovos de Podocnemis expansa serem
apreciados para consumo humano, o preço por unidade chegou a
US$ 0,22 (TCA, 1997).
Para o TCA (1997), o preço de um exemplar adulto de
Podocnemis expansa varia, dependendo do local e tamanho do
animal. O preço pago nos centros urbanos amazônicos (Iquitos e
Manaus) é cerca do dobro do preço pago ao povo ribeirinho, emais do
triplo do que recebe o trabalhador rural.
Segundo Terán et al. (1997), os quelônios foram e
continuam sendo uma das principais fontes de proteínas para os
índios e ribeirinhos em toda a Amazônia. Na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Brasil, onde realizou-se
entrevistas com 50 famílias e observações de campo, obteve-se o
consumo de quatro espécies de tartarugas na alimentação familiar,
como Podocnemis sextuberculata (68,2%), P. unifilis (27,1%),
Geochelone denticulata (4,3%) Chelus fimbriatus (0,4%).
Rebelo et al., 1997, apud Duarte & Andrade (1998) ao
mostrarem a evolução do consumo de animais de caça e a
determinação das populações de quelônios no Parque Nacional do
52
Secciona-se a junção óssea da plastro-pelviana com o auxílio de
tesourasmetálicas.
Figura 9: Remoção do plastrão realizada na área limpa.
REVERSÃO DA PENDURA
EVISCERAÇÃO
– Para facilitar a evisceração reverteu-se
a posição do animal, tornando a fixá-lo nos ganchos dos trilhos da
nora pelosmembros posteriores.
– Ao acessar a cavidade celomática pela incisão na
linha alba, seccionou-se uma porção transversal do fígado que
comunica as porções hepáticas direita e esquerda. Procedeu-se a
dissecação da porção terminal da cloaca junto à cauda, realizando-
se uma dissecação da porção terminal do trato digestivo, até os rins,
483
SERRAGEM DAS PONTES – Na serragem, os animais foram
apoiados em decúbito dorsal, no suporte metálico, para facilitar a
operação e evitar acidentes com os manipuladores. As pontes foram
serradas com o auxílio de uma serra elétrica manual. O disco da
serra deve ter aproximadamente 7 cm de raio. Foi usado um plano
paralelo com a superfície ventral do plastrão, serrando-se medial e
superficialmente para evitar a ruptura das vísceras e órgãos. Para a
desarticulação final das pontes utilizou-se um trinchante de ponta
romba.
Figura 8: Seqüência de operações de serragem e desarticulação das pontes.
PENDURA
RETIRADA DO PLASTRÃO
– Pendura-se pelos membros anteriores nos ganchos dos
trilhos com nora, passando à área limpa do abatedouro para a
retirada do plastrão.
– Dissecação do plastrão, no sentido
longitudinal, até a sua porção posterior.
Makita¼” (6mm):modelo906compotênciade240w.11
482
Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta
Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os
animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto
lugar na citação. A criação doméstica foicitada em apenas 0,5% das
refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo com
calendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram
quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis
unifilis e Podocnemis erythrocephala), 38% mamíferos terrestres e
17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6
meses, ou 48,6 animais/família/ano.
Canto et al. (1999), ao realizarem um levantamento
preliminar da comercialização ilegal de produtos da fauna no estado
do Amazonas, registram que as classes mais apreendidas são
répteis (principalmente, quelônios) com 52,2%, mamíferos 30% e
aves 17,8%. Nas feiras, a maior comercialização de carne é para
mamíferos (68%), aves (19%) e quelônios (13%). Sendo os quelônios
(tartaruga e tracajá), mais apreciados, a comercialização feita sob
encomenda cuidadosa, representando 22% dos animais
comercializados para alimentação e o preço relativo por um
quilograma (peso vivo – PV) da tartaruga de R$ 30,00.
A carne de tartaruga-da-amazônia proveniente de
criadouros legalizados pelo Ibama, no Amazonas, foi vendida
inicialmente ao preço de R$ 12,00 a 18,00/kg de peso vivo em
supermercados de Manaus (A Crítica, 1996), sendo pago ao
produtor até R$ 13,00/kg. Hoje, os produtores estão
comercializando com preços que variam de R$ 8,00 a 12,00, por
quilograma de animal vivo.
Segundo Andrade et al. (2003), o custo com ração é de US$
1,45 para produzir um quilo de tartaruga e em um cultivo
superintensivo em tanques-rede pode-se obter renda líquida de US$
53
246,24/m . Lima (2000), estimou, nos criadouros do Amazonas os
custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para
produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de
venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de
104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como uma
atividade altamente rentável.
3
54
período de sangria de 15 minutos. Obteve-se melhor escoamento do
sangue, aparência menos avermelhada da musculatura e o volume
médio de sangue escoado foi de 3,11%do peso vivo dos animais.
Figura 7: Secção parcial dos vasos da porção anterior do pescoço.
LAVAGEM – Foi iniciada por umprimeiro enxágüe com jatos de água
sob pressão com água clorada a 5 ppm, seguida por uma escovação
(escova pequena) com detergente alcalino a 0,2% em todo o animal e
nas regiões axilares que não foram acessadas durante a pré-
lavagem. Finalmente, foi realizado o último enxágüe para a remoção
dos resíduos de sujidades como detergente.
É sugerido o uso de luvas, pelo manipulador, para evitar a ação corrosiva dos
detergentes alcalinos
10
481
PENDURA – Os animais foram pendurados pelas membranas
interdigitais dos membros posteriores, nos ganchos dos trilhos com
nora, visando a facilitar a etapa de sangria, agilizando o processo.
Figura 6: Pendura dos animais através das membranas interdigitais dos
membros posteriores.
SANGRIA – Foram realizados testes através da secção total e da
secção parcial da porção anterior do pescoço. O melhor método foi a
secção parcial (como na maioria das espécies domésticas) com o
480
Capítulo 3: Áreas de reprodução de
q u e l ô n i o s p r o t e g i d a s p e l o R A N -
Ibama/Amazonas e Ufam
PauloCesarMachadoAndrade
JoãoAlfredodaMotaDuarte
PauloHenriqueGuimarãesdeOliveira
PedroMacedodaCosta
AgenorVicente
AnndsonBrelaz
CarlosDiasdeAlmeidaJúnior
WanderRodrigues
JonathasNascimento
HellenChristinaMedeiros
LuizMendonçaNeto
SandraHelenaAzevedo
JoséRibamardaSilvaPinto
Quando chega o verão na Amazônia, a vazante se inicia e com
ela surgem milhares de praias ao longo dos rios. Sejam praias de
areia bem branquinha em rios de águas negras e claras, ou praias
amareladas em rios de águas barrentas, todas se transformam em
verdadeiros depositários de vida com o período reprodutivo de
quelônios (tartarugas, tracajás, iaçás, irapucas) e aves (gaivotas,
corta-águas, quero-queros, etc.). A gerência do Ibama no estado do
Amazonas, através do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
Anfíbios (RAN) temdesenvolvido uma série de atividades que visama
conservação dos quelônios na região.
Esse trabalho envolve parceria com a Universidade Federal
do Amazonas (Ufam), comunidades e prefeituras dos municípios.
Em um primeiro momento, as comunidades são visitadas e
55
realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se
envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais
pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos
do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que
atuarão no controle, monitoramento e fiscalização de cada praia de
desova de quelônios, os chamados tabuleiros.
O Projeto Quelônios ampliou, desde 2001, sua atuação para
os municípios amazonenses de Parintins, Juruá, Manicoré, Lábrea,
Borba, Tapauá, Eirunepé, Carauri, Barreirinha, Nhamundá,
Canutama, Barcelos, Novo Airão, Itamarati e São Sebastião do
Uatumã, atingindo 407.504 habitantes que constituem as
populações desses municípios. Atingimos, ainda, em parceria com a
Ufam, através do projeto de extensão de manejo sustentável de
tracajás, o Projeto Pé-de-Pincha, três municípios limítrofes no
Estado do Pará, Terra Santa (16.500 habitantes), Oriximiná (60.000
habitantes) e Juruti (20.000 habitantes).
Em cada município temos diretamente envolvidos com os
trabalhos de campo e os treinamentos as comunidades e os
professores da rede pública de ensino: 1) Em Parintins são 15
comunidades com cerca de 490 famílias e 62 professores em
treinamento e 26 agentes ambientais voluntários; 2) Em
Barreirinha, 12 comunidades com 160 famílias, 35 professores e 1
agente ambiental; 3) Em Nhamundá, são 10 localidades com 63
famílias; 4) Em Eirunepé e Itamarati, nas praias de Walter Buri,
cerca de 30 famílias; 5) Em Carauari, na Resex do Médio Juruá, em
10 tabuleiros, 200 famílias; 6) No Juruá, nos tabuleiros de Joanico,
Renascença, Antonina, Vai-quem-quer e Botafogo, 100 famílias; 7)
Em Manicoré, na praia do Nazaré, envolvendo 30 famílias que
trabalham no local; 8) Em Lábrea, nas comunidades do Buraco,
Luzitânia, Jurucuá, Bananal, Santa Cândida, Novo Brasil,
Porongaba e Realeza, 370 habitantes; 9) Em Borba, no rio Matupiri,
cerca de 100 habitantes; 10) Em Tapauá, na Rebio Abufari e nas
56
INSENSIBILIZAÇÃO –Os animais foram insensibilizados sob a ação
do gelo em água, permanecendo em recipiente de plástico atóxico em
temperatura de 0 a 2ºC por um período de 15 minutos, quando se
obteve a flacidez e a ausência dos reflexos da cabeça e dosmembros.
Figura 5: Recipiente com água e gelo utilizado para insensibilização. Animal
sendo insensibilizado.
479
14.6Operações de abate e processamento
PRÉ-LAVAGEM – Os animais foram transportados dos boxes de
espera ou descanso em caixas plásticas previamente higienizadas
até a área suja, onde foi realizada uma pré-lavagem dos animais
com jatos de água clorada a 5 ppm sob pressão de,
aproximadamente, 3 atm para remover as sujidades maiores,
principalmente nas regiões da carapaça e do plastrão. Deve-se
tomar o cuidado de não utilizar pressão excessiva para não lesar o
epitélio, estressando os animais.
Figura 4: Pré-lavagemutilizando água clorada sob pressão.
Partes pormilhão.Unidade demedida equivalente àmg/kg.
Atmosfera.Unidade de pressão
8
9
478
comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu,
aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do
Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40
famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque
do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina;
14) Em São Sebastião do Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no
Jarauacá e no Livramento,atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em
Terra Santa (10 comunidades), Oriximiná (6 comunidades) e Juruti
(19 comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes,
sendo que lá já existem 78 professores treinados, 60 agentes
ambientais voluntários e 45 professores em treinamento.
Em todas essas áreas está sendo feita a proteção dasmatrizes
de tartarugas, iaçás e tracajás, durante a desova, sendo feito o
acompanhamento da postura até a eclosão, quando é desenvolvido o
trabalho de proteção emanejo dos filhotes. A fiscalização pelo Ibama
e pelos comunitários é bastante rígida nesses locais. Acompanhando
esses trabalhos de monitoramento e controle, é desenvolvida uma
estratégia de conscientização através da educação ambiental e da
discussão sobre alternativas de desenvolvimento. Nesse aspecto, a
parceria com a Universidade tem permitido ao Ibama levar cursos e
projetos de desenvolvimento para algumas comunidades como:
criação caipira de galinhas, beneficiamento de pescado, utilização
de plantas medicinais, piscicultura, criação de animais silvestres e
ecoturismo. O apoio das prefeituras tem sido fundamental para a
realização dessas atividades, que passam a se consolidar em cada
município como estratégias de conservação e possível geração de
renda no futuro, através da criação e manejo de quelônios e do
ecoturismo, entre outras.
57
Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram soltos
1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de 3.886
covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de iaçás e
4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número de
praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número médio
anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a
proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e
diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de
conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas,
também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso,
consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para
criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas,
com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro
de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os
ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua
dimensão territorial.
ÁreasdeConservaçãodeQuelônios
peloRAN-Amazonas
2 10
11 1012
59 63
87
3
18 19 16
0
20
40
60
80
100
2000 2001 2002 2003
n
Rios
Localidades
Municípios
Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre
2000 e 2003.
A Figura 1 apresenta os dados da ampliação das áreas
reprodutivas de quelônios protegidas pelo RAN- AM, em 2000-2003.
58
RECEPÇÃO
DESCANSO
PRÉ-LAVAGEM
INSENSIBILIZAÇÃO
SANGRIA
LAVAGEM
SERRAGEMDASPONTES
RETIRADADOPLASTRÃO
PENDURA(POSTERIORES)
PENDURA(ANTERIORES)
PENDURA (POSTERIORES)
ESFOLA
EVISCERAÇÃO
TOALETE
PRÉ-LAVAGEM
RETIRADADA
CARAPAÇA
EMBALAGEM
CONGELAMENTO
ESTOCAGEM
EXPEDIÇÃO
FLUXOGRAMADEOBTENÇÃODECARNEEMBALADAE
CONGELADA
477
O transporte do criadouro ao abatedouro poderá ser terrestre, aéreo
ou fluvial, mas deve ser conduzido de maneira a minimizar o
estresse aos animais. Para o transporte, os animais deverão possuir
a autorização do Ibama.
– Os animais foram recepcionados no abatedouro,
sendo realizados os procedimentos para a avaliação geral. Também
foi verificada a documentação do Ibama, sendo feito o
encaminhamento dos animais para os boxes de espera ou descanso.
– Os animais permaneceram nos boxes de espera ou
descanso do abatedouro por um período específico. Os currais ou
boxes de espera devem ter água clorada corrente, a 5 (cinco) ppm de
cloro residual livre, para reduzir a carga de contaminantes e
estimular a defecação.
Inicialmente, o fluxograma foi estabelecido com base na
metodologia de abate usada atualmente por alguns
estabelecimentos que realizam abate para fins comerciais. Durante
os trabalhos realizados, algumas etapas foram modificadas e/ou
incluídas no processo. Entretanto, ainda há a necessidade de
utilizarmétodos de validação dessas etapas aqui descritas.
A proposta de fluxograma foi realizada com o objetivo de
obter a carne de tartaruga-da-amazônia embalada e congelada com
as devidas características das instalações do estabelecimento onde
foram realizados os trabalhos experimentais.
RECEPÇÃO
DESCANSO
14.5Elaboraçãodofluxogramadeprocesso
Os trabalhos realizados não permitiram estabelecer o período de descanso adequado
para essa espécie. As peculiaridades fisiológicas dessa espécie deverão ser mais
estudadas para a obtenção dos resultados desejados nessa etapa.
Comoocorre nas rãs, observamos que a presença de água corrente estimula a defecação
das tartarugas.
6
7
476
Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de
recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias
com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de
financiamento de projetos científicos e de extensão. O número de
técnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do
RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de
Fauna, no Ibama-AM.
O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a
conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas:
Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, emTapauá;
2) Tabuleiros de Piranhas e Enseada, emTapauá;
3) Tabuleiro doCuruzu e Vista Alegre, emTapauá;
4) Reserva do Jamanduá, emCanutama;
5) Tabuleiro doNazaré e Axioma,município de Canutama.
1) Tabuleiro do Abacate /Balbina;
2) Tabuleiros do rio Jarauacá/comunidade do Livramento,
Balbina;
3) Rebio Uatumã e rio Pitinga: Ilha do Limão, do Bacaba, Sororoca,
Arapari, do Açaí, do Papagaio.
1) Resex do Médio Juruá/Carauari: 10 tabuleiros (Gumo do Facão,
Nova Esperança/Jacaré, Roque/Ati, Bauana, Deus é Pai, Bom
Jesus,Manariã,Monte Carmelo/Pau Furado, Itanga,Mandioca)
2) Tabuleiro do Joanico e Renascença/Juruá;
3) Tabuleiro de Botafogo, Antonina e Vai-quem-quer/Juruá;
4) Tabuleiro deWalter Buri/Itamarati-Eirunepé;
5) Tabuleiros de São Francisco, Dois Irmãos, doGado/Itamarati;
RioPurus
Rio Uatumã
Rio Juruá
1)
59
RioMadeira
Rios Solimões-Japurá
Rio Negro
Áreas do Programa Pé-de-Pincha:Médio-Baixo Amazonas
a) Rio Amazonas:
b)Municípios do Amazonas:
Barreirinha:
Parintins:
Nhamundá:
1)Praia doNazaré/Manicoré;
2)RioMatupiri/Borba: diversos tabuleiros;
1) Tefé –RDSMamirauá: Pirapucu, Praia doMeio, Horizonte, Ingá;
2) Coari: Ilha doGeral;
1) Praia da Velha/Parna Jaú, Novo Airão;
2) Praia doCabuano/Parna Jaú/Novo Airão;
3) PraiaDulumina/Barcelos.
Ilha de Vila Nova/Parintins.
1) Piraí, Granja Ceres, Ipiranga, Tucumunduba, São
Francisco, São Pedro, Proteção Divina, Lírios do Vale, Matupiri,
Ariaú, Coatá, Ponta Alegre e Pindobal;
2) Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba,
Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São
Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes doMamuru;
3) Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador,
Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal,
Marcolino, São Francisco e Vista Alegre.
60
14.4Operaçõespré-abate
CRIADOURO
TRANSPORTE
As operações pré-abate acontecem desde os cuidados na
aquisição dos insumos, criação, transporte, recepção no
estabelecimento, encaminhamento para os boxes de espera ou
descanso, até o transporte para a edificação de abate. Assim sendo,
descreveremos os principais cuidados realizados durante os
trabalhos experimentais que foram e/ou devem ser adotados
durante o período de pré-abate.
– Os animais foram criados em conformidade à
regulamentação específica. Os criadouros estãoestabelecidos em
ambientes que não possuam resíduos de contaminantes ambientais
(pesticidas e resíduos de agrotóxicos) que constituam risco à saúde
dos animais. Os ingredientes e as rações usadas na alimentação dos
animais devem ser elaboradas e armazenadas de forma a minimizar
os riscos para a saúde animal. As drogas veterinárias utilizadas
durante o período de criação devem respeitar as doses e os períodos
de tratamento preconizados, bem como o prazo de carência
específico para o aproveitamento humano dos produtos animais. Os
animais somente podem ser encaminhados ao abatedouro quando
apresentarem o peso vivo igual ou superior a 1,5 kg. Todos os
animais destinados ao abatedouro deverão proceder de criadouros
registrados e autorizados pelo RAN/Ibama.
– Os animais foram acondicionados em
recipientes plásticos atóxicos, previamente higienizados, sem
qualquer tipo de contaminante, em condições de temperatura e de
umidademedianas.
ConformeaPortarianº142/92de30dedezembrode1992doIbama/MMA.5
475
As atividades de inspeção deverão ser realizadas de forma
semelhante aos procedimentos adotados para as espécies
genericamente denominadas pescados e quando aplicável às
demais espécies animais.
A inspeção se divide em duas grandes etapas chamadas de
inspeção ante- e inspeção .
A inspeção ante-mortem compreende os trabalhos
realizados na recepção dos animais, na verificação da
documentação, na avaliação dos animais nos boxes de espera e
observação, no encaminhamento dos eventuais animais ao
departamento de necropsia, na realização das necropsias e no
encaminhamento dosmateriais para avaliação laboratorial.
A inspeção post-mortem compreende todos os trabalhos
realizados antes, durante e após as operações realizadas na área
suja (pré-lavagem, insensibilização, sangria, lavagem e serragem
das pontes), na área limpa (retirada do plastrão, evisceração, esfola,
toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem e
congelamento) e nas demais áreas.
A visualização macroscópica das partes externas, internas,
bem como suas vísceras e órgãos celomáticos, durante a
evisceração, será fundamental para a verificação das possíveis
alterações patológicas que possam comprometer a qualidade do
produto final. É possível, a critério do médico-veterinário oficial,
após uma avaliação minuciosa no DIF, liberar, aproveitar
condicionalmente ou rejeitar as partes, o todo ou atémesmoum lote
de animais que apresentem alterações que impliquem em algum
prejuízo aos consumidores. Além disso, os veterinários oficiais
poderão auditar os sistemas de controle e garantia de qualidade,
implantados pelas empresas processadoras.
mortem post-mortem
474
c)
4) Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal,
Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado,
Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa
Grande), Igarapé do Jamary (Alemã e Chuedá) e Lago do Abaucu
(Capote e Jauaruna).
5) Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do
Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho,
Cachoeiry;
6) Maravilha, SantaMadalena, Açaí, ZéMaria, Caapiranga,
Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa,
Capitão e VilaMuirapinima.
Na Figura 2 e na Tabela 1 observamos que mesmo com todos
os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio Abufari, em
2001-2002, ela perde o status de maior produtora de quelônios do
Amazonas para áreas com trabalhos comunitários em tabuleiros
pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e Baixo
Juruá, sendo que as áreas com manejo comunitário/participativo
de quelônios passaram a responder pelamaior parte da produção do
Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes) em relação às áreas de
proteção estrita doGoverno (39,98%=430.920 filhotes).
Esse envolvimento e conscientização comunitária
permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,37-
0,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas
verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a
partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução
monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na
produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e
Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as
populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e
Municípios do oeste do Pará:
Terra Santa:
Oriximiná:
Juruti:
61
estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras
áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi
muitomais significativo.
A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas
produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as
comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a
completa ausência de técnicos do Governo e de recursos,
amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho
comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de
646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja,
46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário, onde o governo
se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do
ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-de-
Pincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de
2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção.
Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os
incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de
quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários
forammais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo
conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são
mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de
contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos
recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações
comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”,
definido como um recurso público a fundo perdido, destinado
àquelas comunidades devidamente regularizadas e
comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna
aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a
geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou
extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação de
animais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda
de filhotes de áreas demanejo comunitário para criadores.
62
O Departamento de Inspeção Final bem como o
Departamento de Necropsias devem ser providos de mesas e
utensílios necessários (facas, fuzis, termômetros, tesouras de ponta
romba, frascos para coleta dematerial, etc.) aos trabalhos.
Todos os manipuladores deverão estar providos de dois
conjuntos de jalecos brancos, duas calças brancas, dois pares de
botas brancas de borracha, dois gorros com máscaras que devem
ser higienizadas diariamente em lavanderias, para evitar
contaminações durante as diversas operações.
A inspeção corresponde às atividades realizadas pelo serviço
veterinário oficial, que poderá ser municipal (Serviço de Inspeção
Municipal – SIM), estadual (Serviço de Inspeção Estadual – SIE) e
federal (Serviço de Inspeção Federal – SIF) que têm como missão
garantir que o produto de origem animal seja sadio, seguro e
confiável para o consumidor.
A atuação dos serviços de inspeção é fundamentada em
critérios higiênico-sanitários e tecnológicos, a fim de que a indústria
possa ofertar um produto adequado ao consumo. Entretanto, não é
responsabilidade exclusiva dos serviços de inspeção a garantia da
qualidade dos produtos. As empresas devem estabelecer seus
próprios sistemas de controle e garantia da qualidade, que devem
ser coordenados por profissionais capacitados à utilização das
principais ferramentas. Dessa forma, todos os empreendedores
interessados em desenvolver a atividadede abate de quelônios
deverão seguir as orientações dos serviços veterinários oficiais,
desde a elaboração dos projetos até o seu funcionamento.
14.3 Inspeção
BoasPráticasdeFabricação(BPF),ProcedimentosPadrãodeHigieneOperacional
(PPHO)e AnálisedePerigosePontosCríticosdeControle(APPCC).
4
473
Figura 3: Nora automática comganchos sobre a bancada.
Os utensílios deverão ser de materiais plásticos resistentes ou
metálicos (aço inoxidável), de fácil higienização, para evitar as
contaminações cruzadas. Os principais são: facas exclusivas para
cada área ou operação, fuzis ou chairas, tesouras, trinchantes,
cestas ou caixas metálicas e monoblocos plásticos brancos e
vermelhos.
472
Figura 2: Variação na produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas
pelo RAN/Ibama-AMem2001 e 2005.
Principais tabuleiros
A) Rio Juruá:
A.1) Alto Juruá: tabuleiros de Walter Buri, Nova Olinda/São
Francisco,Matupá e outros.
Nesse rio de águas barrentas, estreito e cheio de curvas, no trecho
compreendido entre as cidades de Eirunepé e Itamarati, existem
diversas praias de desova de quelônios. Muitos desses tabuleiros
foram protegidos por antigos donos de seringais. O mais famoso
deles é o tabuleiro de Walter Buri, em italiano, o Castelo de Ouro,
localizado em frente à vila do seringal que tinha o mesmo nome.
Desde 1983, o então IBDF realiza o monitoramento, controle e
manejo das populações de quelônios que desovam naquela área.
Entretanto, existem outras praias promissoras como a do tabuleiro
de Nova Olinda/São Francisco, praia do Gado, Dois Irmãos,
Produçãodefilhotesdequelôniosemáreasprotegidasno
Amazonas
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
400000
P é
- d
e -
p i n
c h
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C a
n u
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B o
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a m
i r a
u á
C o
a r
i
Áreas
N
o
.
2001
2002
2003
2004
2005
63
Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de
Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km em
linha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de
popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de
altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em
Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e
Carlos Augusto Bié.
64
devem possuir boxes metálicos profundos para a higienização dos
braços e dos antebraços, bem como pedilúvio e lava-botas. Todas as
dependências que realizarem manipulação também devem possuir
boxes metálicos para a higienização de braços, antebraços e de
alguns utensílios.
O estabelecimento deve possuir localização estratégica
distante de quaisquer fontes contaminantes que possam
comprometer a qualidade dos produtos. Neste caso, o
estabelecimento deve seguir as boas práticas de fabricação,
conforme a Portaria nº 368/98 da SDA/Mapa.
Os equipamentos e os utensílios também deverão seguir a
portaria citada no que se refere à construção,manutenção e higiene.
Os trilhos devem ter aproximadamente 2,00 m de altura com
nora e ganchos metálicos resistentes para a fixação dos animais
durante as operações. Devem ser utilizados equipamentos para a
produção de gelo e calor, serra para a secção das pontes, compressor
para a produção de jatos de água, termômetros, cronômetros,mesas
metálicas com fixadores para os animais, durante as serragens,
mesas para pesagens, mesa para embalagem, forno crematório,
mesa para necropsia, esterilizadores (para serras, facas, fuzis,
tesouras e trinchantes), balanças, embaladoras, seladoras e
climatizadores de ambiente, paletes para caixas e câmaras de
estocagem.
³Disponívelem:http://www.agricultura.gov.br.html.
471
1) Área de lavagem e guarda de caixas plásticas.
2) Área de lavagem e guarda de utensílios.
3) Área de armazenamento de embalagens.
4) Área de expedição: adjacente à estocagem, com porta de
saída para o exterior.
5) Área de produção e armazenamento do gelo: adjacente à
área limpa.
6) Área de estocagem: câmaras de congelamento.
7) Área para recebimento de pele, carapaça, plastrão e
resíduos.
8) Salas de máquinas: unidade de produção de frio
industrial.
III – Prédio administrativo:
1) Escritório.
2) Banheiros:masculinos e femininos.
3) Vestiários:masculinos e femininos.
4) Sede do Serviço de Inspeção: municipal, estadual ou
federal.
5) Lavanderia: higienização dos uniformes dos
manipuladores.
6) Almoxarifado.
Todas as edificações destinadas à elaboração de produtos e
subprodutos comestíveis devem possuir, nos locais de acesso de
pessoal, gabinetes de higienização. Os gabinetes de higienização
470 65
O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de
2001, com bóias de ferro, uma balsa de 80 m de área e uma casa de
60 m de área construída (dois quartos, um banheiro, uma sala-
cozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa
base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro deWalter Buri, do
outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a equipe
de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato “Curisco”,
que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e Sílvio Santos. Os
trabalhos de proteção têm início emmaio, quando os quelônios saem
dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse período, a vigilância
das “bocas” desses lagos é fundamental para que os quelônios
consigam chegar até as áreas de postura. Dois lagos merecem
especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da Empresa
Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo sr.
Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr. Sílvio
Santos. O trabalho se estende durante todo o período reprodutivo
(junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos filhotes
(outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário vigiar
novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos
quelônios, do rio para os lagos (de alimentação).
2
2
66
II – Prédio principal: para o desenvolvimento das operações de abate,
propriamente ditas, que devem possuir gabinetes de higienização
(botas, braços e antebraços) nos locais de entrada das áreas de
processamento.
O prédio será composto pelas seguintes áreas ou salas:
1) Área suja: onde se realizam as etapas de pré-lavagem,
insensibilização, sangria e serragem das pontes (Figura
2).
Figura 2:Vista da área suja. Passagemdo trilho da área suja para a área limpa.
1) Área limpa: onde se realizam as etapas de retirada do
plastrão, evisceração, esfola, toalete, pré-lavagem,
retirada da carapaça, embalagem e congelamento. Deve
existir uma área equivalente a 5% dessa área, para o
Departamento de Inspeção Final (DIF), para a avaliação
minuciosa das alterações encontradas durante as
operações de abate.
469
Figura 1: Vista de umbox de espera, vazio, compiso revestido em epóxi.
4) Dependências para a elaboração de subprodutos.
5) Dependências para o tratamento dos efluentes: conforme
legislação específica².
² A legislação ambiental deve ser consultada para o atendimento das exigências
estaduais e federais.
468
Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM.
(Andrade, P.C.M.).
O tabuleiro de Walter Buri tem fornecido filhotes para os
criadouros de quelônios do Amazonas desde 1999 (cerca de 25.000
filhotes de Podocnemis expansa/ano). Os demais filhotes de
tartaruga são soltos no lago da Cachoeira, lago doMaturani, igarapé
de Nova Olinda e, do outro lado do rio, próximo a Walter Buri, desde
que haja bastante capim. Tracajás (P. unifilis) e iaçás (P.sextuberculata) saem espontaneamente de seus ninhos e correm
para a água (as covas de tartaruga são marcadas e manejadas; as
dos tracajás apenas contadas e as das iaçás são estimadas). Na
Tabela 2 apresentamos o georreferenciamento das praias de desova
de quelônios e dos lagos de alimentação.
67
Figura 5: Transporte de filhotes de tartaruga (P. expansa) de Walter Buri para
criadores registrados no Amazonas, 2002. Foto: RAN/AM (Andrade, P. C.M.).
68
1) Box de espera ou descanso: destinado a receber os
animais, provenientes dos criadouros, para um período de
descanso.
2) Box de observação: destinado a receber os animais que
apresentaramalterações clínicas nos boxes de espera.
3.1 – Sala de necropsia: destinada à realização de necropsia
em animais que chegarem mortos, que morrerem nos boxes de
espera ou que apresentarem alterações clínico-patológicas que
justifiquem taismedidas.
3.2 - Forno crematório: destinado à cremação dos despojos
animais que foram a óbito ou que apresentem doenças infecto-
contagiosas que representem grave perigo à saúde humana ou
animal.
3) Departamento de necropsia:
467
As análises microbiológicas foram realizadas pelo
Laboratório de Higiene dos Alimentos da Faculdade de Ciências da
Saúde daUniversidade deBrasília, e as análises físico-químicas pelo
Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da
Universidade Federal deGoiás.
Também foram realizadas avaliações parasitológicas e
histopatológicas pelo Departamento de Medicina Veterinária da
Upis –Faculdades Integradas doDF.
Os trabalhos foram acompanhados por médicos-veterinários
do Serviço de Inspeção Federal do Setor de Pescados do
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Uma proposta de estabelecimento industrial destinado ao
abate e ao processamento de tartaruga-da-amazônia deve possuir
as principais dependências exigidas para o abate das demais
espécies utilizadas na alimentação humana, visando ao
aproveitamento sustentável e econômico dos produtos e
subprodutos oriundos do abate. As dependências (Anexo I) exigidas
são:
I - Área externa: próxima ao abatedouro, devendo estar, no
mínimo, a 10metros de distância do prédio principal.
14.2 Descrição das instalações, equipamentos e utensílios
¹ É um código internacional de alimentos coordenado por comissões da Food and
AgricultureOrganization (FAO) eOrganizaçãoMundial de Saúde (OMS).
466
Tabela2: TabuleiroselagosdealimentaçãodequelôniossituadosentreEirunepéeItamarati,
no AltorioJuruá
Local Tipo Coordenadas Dimensões
dapraia
Nº de
ninhosem
2001
Nº de
filhotes
produzi_
dosou
soltos
Walter
Buri
Tabuleiro
dedesova
6º28’54’’S;
68º25’54”We
119 m de
altitude
4.000mX
200m
Tartaruga=
560
Tracajá=600
Iaçá=1000
72.588
São
Francis_
co
Tabuleiro
dedesova
6º29’25” S;
68º31’56” W
4.500mX
200m
Tartaruga=
15
Tracajá=321
10.178
Matupá Praiade
desova
6º26’46”S;
68º29’16”W
4.000mX
150m
Tartaruga=2
Tracajá=23
Iaçá=125
2.885
DoGado Praiade
desova
6º27’55”S;
68º27’29”W
Tartaruga=5 418
Maturini Praiade
desova
6º30’22”S;
68º27’29”W
1.000mX
100m
Tartaruga=1 84
DosDois
Irmãos
Praiade
desova
6º26’8”S;
68º28’55”W
1500mX
80 m e
2.800mX
80m
Tartaruga=5 418
TOTALDEFILHOTESPRODUZIDOSEM2001 86.571
Local Tipo Coordenadas Espécie Nº/espécie Nºt otal
de
filhotes
Estirão
doÓbito
e São
João
Potenciais
praiasde
desova
30minutosde
Eirunepé,
descendoorio
na margem
direita
Tartaruga
Tracajá
- -
Lagodo
Maturani
e do
Tarira
Lagosde
alimenta_
ção
6º30’37”S;
68º27’24”W
Tartaruga 2.300 2.300
Igarapé
de Nova
Olinda
Rotade
migração
6º28’19”S;
68º30’45”W
Tartaruga 1.000 1.000
Lago
Cachoei_
ra
Soltura - Tartaruga 3.500 3.500
Walter
Buri
Soltura - Tartaruga
Tracajá
Iaçá
1.031
31
16
1.078
FILHOTESSOLTOSEMOUTROSLUGARESEM2001 7.878
69
A.2) Médio Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista
(Resex)Médio Juruá emCarauari/AM.
A atividade de produção de quelônios em praias manejadas
está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursos
da Resex, sendo mais uma alternativa de renda para as
comunidades, aomesmo tempo que conserva essas espécies que, na
região, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamos
um aumento proporcional na produção de quelônios em relação ao
tempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que tal
iniciativa pode estar proporcionando condições para melhorar a
reprodução dos quelônios. As comunidades da Resex decidiram
proteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
expansa), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos,
ficando o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) sob proteção
relativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelas
populações tradicionais durante a vazante do rio.
Figura 6: Tabuleiro Deus é Pai – Resex Médio Juruá/Carauari-AM. Foto:
RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
70
Os 40 animais foram doados por três criadouros comerciais,
dois do estado de Goiás e um do Pará, ambos registrados e
autorizados pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
Anfíbios (RAN/Ibama).
O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal (Riispoa) classifica os quelônios, na
denominação genérica de pescados, todavia, não existe uma
regulamentação específica para quelônios. Esse fato tornou o abate
experimental um tanto quanto empírico, pois não havia informações
preliminares que pudessem direcionar os primeiros passos do
abate.
Além disso, os quelônios são répteis singulares, com
características anatômicas e fisiológicas particulares que indicam a
necessidade de experimentações e estudos específicos para a
definição de umametodologia de abate.
A inexistência de mecanismos intrínsecos de regulação da
temperatura corporal (heterotermia), a presença de esqueleto
externo (carapaça e plastrão) e o baixo metabolismo basal são
alguns dos pontos que influenciam e exigem diferenciação nos
procedimentos de abate.
Entre as espécies de pescados utilizadas comercialmente
temos a rã-touro-gigante (Rana catesbeiana) que foi a espécie que
mais se assemelhou biologicamente à tartaruga-da-amazônia. Por
isso, os padrões microbiológicos usados neste trabalho foram os
mesmos utilizados para a carne de rã, pelo Codex Alimentarius.
Devido às características do estabelecimento industrial em
que foram realizados os trabalhos de abate experimental, o produto
final obtido foi a carne de tartaruga-da-amazônia congelada.
14.1 Considerações gerais
465
Até recentemente, a experiência científica de abate se
resumia ao sacrifício de exemplares de porte maior, retirados da
natureza. A criação comercial foi um caminho obscuro para os
pioneiros. Não era conhecida a forma de se manejar em cativeiro e a
velocidade de crescimento, sem idéia do tempo necessário para que
os animais atingissemo peso para abate (1,5kg).
Os primeiros criadouros comerciais de tartaruga-da-
amazônia começaram a produzir e alguns animais atingiram o peso
de abate. A partir daí, ficou evidente a inexistência de uma
metodologia de abate que atendesse a todos os critérios higiênico-
sanitários e tecnológicos previstos na legislação.
Dessa forma, este trabalho teve por objetivo estudar e
estabelecer parâmetros para o abate visando atender aos requisitos
tecnológicos e higiênico-sanitários para um aproveitamento
racional e econômico da carne de tartaruga-da-amazônia para o
consumohumano.
Os trabalhos para a definição dos procedimentos básicos de
abate foram realizados durante o período compreendido entre os
dias 23 de outubro e 11 de dezembro de 2002. Foram abatidosum
total de 40 animais com o objetivo de estabelecer as etapas,
propondo uma metodologia de abate para a espécie Podocnemis
expansa (tartaruga-da-amazônia).
Os 40 animais foram divididos em seis episódios de abates
experimentais realizados no entreposto de pescados da empresa
Rander, localizada no Gama/DF e registrada sob o SIF nº 2840 na
Delegacia Federal de Agricultura do DF, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O referido estabelecimento
destina-se, principalmente, ao abate da rã-touro-gigante (Rana
catesbeiana) para a obtenção de carne congelada.
464
Figura 7: Tabuleiro do Ati, comunidade do Roque, Resex Médio Juruá,
Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.).
Figura 8: Rastros de P. expansa, tabuleiro do Ati, Resex Médio Juruá,
Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
71
Tabela3:ProduçãodequelôniosnaspraiasmanejadasdaResexdoMédio
Juruá,noperíodode1994a2006.
Iaçá Tartaruga Tracajá
ano filhote covas filhotes covas filhotes
vivos morto
s
vivos morto
s
1994 150.000 465 43.721 - 1029 24.949 -
1995 - 249 28.418 - 1.033 33.572 -
1996 - 460 40.376 - 704 6.163 -
1997 98.781 - 43.046 - - 13.140 -
1998 121.666 542 58.804 174 666 25.949 100
1999 144.783 616 76.521 8.256 712 23.008 449
2000 165.530 876 101.644 - 946 29.882 -
2001 186.086 - 118.332 - 1106 36.313 -
2002 81.096 600 69.696 142 574 15.598 9
2003 89.656 679 78.784 140 976 27.345 120
2004 103.608 426 49.416 219 396 8.741 -
2005 70.230 426 42.531 - 735 13.709 -
2006 54.133 467 47.423 - 834 20.109 -
Total 1265569 5341 798.712 8.931 11338 278.478 678
Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade&Brelaz (2006).
Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas
protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas:
Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é
Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana,
Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo),
Itanga,Mandioca.
Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de
agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro do
Pupunhas. Naquele ano forammonitorados os tabuleiros Deus é Pai
ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus
Coelho.
OtabuleirodoJacaré,protegidopelosagentesda
comunidadeNovaEsperança,estálocalizadonoantigoseringal
Pupunha.Nele,oseringalistaBasílioCoelhoBastospagavavigias
depraiaerecebiaaproduçãode
72
Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-
da-amazônia (Podocnemis expansa) criada em
cativeiro
Trabalho requisitado pelo Centro Nacional de Manejo e
Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama-Goiânia), realizado
pela empresa Xamã Veterinária Ltda. e conduzido pelos Médicos-
Veterinários AlexanderDornelles e LeonardoQuintanilha.
A tartaruga-da-amazônia tem uma carne muito apreciada na
região Norte,mas alcança omercado das demais regiões. A produção
da tartaruga-da-amazônia, bem como dos demais animais silvestres
é regulamentada pelo Ibama.
O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
(RAN/Ibama), com o objetivo de gerar renda aos produtores rurais e
promover a conservação da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
expansa), vem incentivando e dando diretrizes para uma exploração
comercial visando ao atendimento dessesmercados.
O primeiro criatório comercial de tartaruga-da-amazônia foi
registrado em 1993 no estado do Amazonas mas, somente em 1995,
os primeiros animais atingiram o peso permitido para o abate
(1,5kg), sendo comercializados vivos e abatidos, sem inspeção
veterinária. Somente no final de 2000, alguns animais foram
abatidos experimentalmente no matadouro de pequenos e médios
animais nomunicípio de Iguape, no interior de São Paulo.
A exploração comercial da tartaruga-da-amazônia, dentro da
atual visão do agronegócio, deve ser vista como uma cadeia
produtiva. Todos os elos dessa cadeia devem estar organizados e
coordenados para o sucesso da atividade.
463
Conclusão
A criação de tartaruga-da-amazônia, em escala comercial,
com ciclo de 36 meses é uma atividade técnica e economicamente
viável e constitui-se emumanova opção ao agronegócio amazônico.
O cultivo de tartaruga-da-amazônia é um dos mais
promissores instrumentos para a sustentação de políticas
ambientais voltadas à preservação e ao restabelecimento de
estoques naturais da espécie.
462
filhotes no grande barracão. Soltava todos em um pequeno igarapé
que permitia, quando enchia, que os filhotes saíssem naturalmente
para o rio Juruá. Depois, o seringal foi vendido para a Maginco.
Quando o IBDF assumiu a proteção da área já havia o trabalho que
foi mantido com o sistema de contrato de agentes de praia,
acampamento e marcação de tartarugas. Tudo isso acompanhado
pelo sr. João Tomaz/IBDF. Com o tempo e o crescimento de
Carauari, começaram a invadir o tabuleiro, então ficou muito ruim
até criarem a Resex. No Jacaré, desovam 32 tartarugas. Segundo os
agentes, em 2001 desovaram 24 tartarugas e 140 tracajás, em 2000,
haviam desovado 34 tartarugas e 130 tracajás. O período de
boiadouro para iaçá e tracajá é em junho e a desova destes ocorre em
julho/agosto, já as tartarugas desovam emagosto/setembro.
O tabuleiro do Ati também pertence à área do seringal
Pupunha, sendo manejado pela comunidade do Roque, que fica
distante da margem do Juruá (tem de entrar em um lago e caminhar
uma hora na mata de várzea até chegar à comunidade). Esse
tabuleiro é o que detém, hoje, a maior produção, cerca de 280 covas
de tartaruga. O Manariã é o segundo mais produtivo, entretanto é
manejado por uma só família. O terceiro em produção é o Mandioca,
seguido do Gumo do Facão ou do Bauana. No Marari, desovammais
tracajás. A Tabela 4 apresenta as coordenadas e informações sobre
os tabuleiros.
O tabuleiro Deus é Pai já foi o mais produtivo na área do
antigo seringal Pão, todavia, houve o encalhe de uma balsa com
8.000 sacos de farinha e a movimentação das máquinas para
desencalhar a balsa e a dragagem da praia espantaram as
tartarugas. Hoje, a presença de gado na praia também prejudica.
No Jacaré, Manariã e Deus é Pai, os agentes de praia usavam o
capitari (macho da tartaruga) preso emumcercado como “indez” ou
73
“chama”.Aseguir,apresentamosfotosmostrandoareproduçãode
avesnostabuleirosdaResex(Figura9)
74
Tabela 6. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperação de Capital
(TRC).
Preçode
venda
(R$/kg)
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
TIR
(%)
---
10
33
59
84
TCR
(ano)
---
8
6
4
3
TIR
(%)
15
35
52
67
82
TCR
(ano)
10
4
4
2
2
TIR
(%)
24
37
49
60
69
TCR
(ano)
6
3
3
3
3
TIR
(%)
9
20
29
37
44
TCR
(ano)
8
4
4
4
4
12meses 24meses 36meses 45meses
PeríodosdeCultivo
No teste de sensibilidade a diferentes preços de venda, que dá
segurança e poder de barganha ao produtor para enfrentar
quaisquer oscilações de mercado, observa-se que o cultivo realizado
em um período de 36 meses apresentou melhor desempenho que os
demais, com TIRs acima da taxa de atratividade, a partir de
R$4,00/kg, como preço de venda. Caso o criador venda o seu
produto a R$4,00 o quilo, em dois cultivos (6 anos), ele recupera o
capital investido. A partir de R$5,00/kg, o tempo de recuperação de
capital será de 3 anos.
461
Tabela 5. Composição do custo operacional total da criação de tartaruga sob
diferentes ciclos de produção.
Discriminação
Filhotes
Ração
Mão-de-obra
Encargossociais
Administraçãoelogística
Manutenção
Depreciação
Jurosdecusteio
Custooperacionaltotal
12meses
(%)
32,61
53,96
0,88
0,68
4,49
1,63
1,63
4,12
100
20,04
61,52
1,08
0,84
4,28
2,02
2,02
8,20
100
12,16
66,75
0,98
0,76
4,14
1,84
1,84
11,53
100
8,61
67,02
0,87
0,67
4,141,66
1,66
15,37
100
24meses
(%)
36meses
(%)
45meses
(%)
PeríodosdeCultivo
Na Tabela 6, são apresentadas as taxas internas de retorno (TIRs) e
tempos de recuperação do capital (TRCs).
Foi considerada como taxa de atratividade a de 15% a.a., que
seria um excelente ganho líquido (abatidos os impostos e taxas) para
aplicações no mercado de capitais. Para que o investidor faça a
opção de aplicar no agronegócio, a TIR a ser obtida deverá ser duas
vezes superior à taxa de atratividade, nomínimo.
460
Na mesma época da nidificação dos
quelônios, os tabuleiros também são
brindados com muitas aves reproduzindo
nas praias como corta água, gaivotas e
bacurau. Os filhotes lutam pela
sobrevivência quando não são assados
pelo sol abrasador ou servem de alimento
para os jacarés,mucuras etc.
Os ovos do corta-água e gaivotas
são tão camuflados que são
confundidos com a coloração da
área nos tabuleiros. Os filhotes
também possuem uma pelagem
inicial muito parecida com a areia
da praia.
São estratégias dos animais para se
livraremdos predadores.
Os tabuleiros já estão também
f a z e ndo um con t r o l e d a
ovoposição das aves e também das
iguanas que desovam em grande
quantidade, emalgumas praias.
75
Tabela4:InformaçõessobretabuleiroselocalidadesreferenciaisnaResex
MédioJuruá.
Tabuleiro/
localidade
Coordenadas Nº de
famílias
(nº hab.)
Pupunha
(Jacaré)
5º8’51” S;67º7’35”Wà1 .500mde
NovaEsperança(5º5’29”S;67º10’5”W;
alt.=74m)
27(168)
Ati 5º10’57”S;67º11’45”W Praia
PortodoRoque 5º6’13”S;67º11’59”W 59(298)
Gumodofacão 5º4’33”S;66º53’42”W - alt.=74m 21(110)
Bauana 5º25’18.7’’S; 67º’17’12’’W 18(117)
Deusé Pai 5º42’44”Se67º35’72”W-alt=64m 3(11)
BomJesus 5º22’37.9’’S;67º12’55”W 22(143)
Mari-Mari 5º45’94”Se67º45’04”W-alt.=68m 3(15)
Manariã 5º28’15”0S; 67º28’31”W-alt.=68m 5(18)
Monte-
Carmelo(Pau
Furado)
5º53’70”Se67º56’52”W-alt.=74m 9(18)
Itanga 5º45’48’’S; 67º49’56’’W - alt.=77m 13(67)
Mandioca 5º59’86”Se67º58’55”W - alt.=73m 14(77)
O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentes
rancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois
conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três
ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar
um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os
trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace).
Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex,
como a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), que
paga R$ 200,00 para duas pessoas e fornece dez litros de gasolina,
durante seismeses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas
diretamente pelo recurso, embora em2001 todos os agentes tenham
reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em
dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são
provenientes de umprojeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc.
Emmaio foram liberados R$ 14.400,00 para pagamento
76
O capital de giro necessário para a condução do criatório em
quaisquer dos períodos de cultivo é apresentado na Tabela 4.
Tabela 4. Parâmetros econômicos após 45 meses de cultivo de tartaruga, ao
preçomédio de venda deR$6,00.
Discriminação
Rendimento(kg/ha)
Preçomédiodevenda(R$/kg)
CustoOperacionalEfetivo(R$/kg)
CustoOperacional Total(R$/kg)
Custo Totaldeprodução(R$/kg)
RendaLíquidaI(R$/kg)
RendaLíquidaII(R$/kg)
RendaLíquidaIII(R$/kg)
*Rentabilidade(%)
**Lucratividade(%)
CapitaldeGiro/Custeio(R$/ha)(1X3)
12meses
8.085
6,00
3,57
3,79
3,99
2,43
2,21
2,01
68,06
36,83
28.863,00
24meses
16.755
6,00
2,66
2,96
3,23
3,34
3,04
2,77
125,56
50,67
44.568,00
36meses
30.250
6,00
2,36
2,72
2,94
3,64
3,28
3,06
154,24
54,66
71.246,00
45meses
41.230
6,00
2,34
2,82
3,04
3,66
3,18
2,96
156,41
53,00
96.478,00
PeríodosdeCultivo
1
2
3
4
5
(2-3)
(2-4)
(2-5)
*Rentabilidade = renda líquida I / custo operacional efetivo.
**Lucratividade = renda líquida II / preçomédio de venda.
A Tabela 5 mostra a composição percentual do custo
operacional total para diferentes períodos de cultivo de tartaruga,
em área de 1 hectare, com densidade de 5 mil unidades. Ressalta-se
que em todos os períodos estudados o item ração desponta como o de
maior relevância, o que é comum em todos os criatórios de
monogástricos.
459
A duração do ciclo de cultivo deve ser aquela em que se
produza a tartaruga com o maior ganho de peso, pelo menor custo
total, para a obtenção de maior renda líquida por quilo de tartaruga
produzida. Quanto ao preço de venda, maior fator de competição de
mercado, o da tartaruga produzida em cativeiro deve ser bem inferior
aos praticados no mercado marginal, para que possa haver
competitividade.
Para fugir da comparação entre o tamanho de tartarugas
provenientes do comércio marginal e de cativeiro, estas,
preferencialmente, devem ser comercializadas abatidas, com cortes
selecionados, permitindo agregação de valor ao produto.
Os investimentos fixos para a criação de tartarugas são da
ordemdeR$25.000,00/ha, conforme a Tabela 3.
Tabela 3. Investimentos fixos.
Discriminação
Total
ConstruçãoCivil
Movimentaçãodeterra
Monge
Cercadeproteção
Unidade
m³
u
m
---
Quantidade
10.000
1
400
---
ValorUnitário
(R$)
2,15
1.500,00
5,00
---
Valor Total
(R$)
25.000,00
21,500,00
1.500,00
2.000,00
As tartarugas produzidas com 36 meses de cultivo apresentaram
melhores resultados quanto ao custo total de produção, renda
líquida e lucratividade, se comparadas com as produzidas nos
demais períodos de cultivo estudados. A rentabilidade, mesmo
inferior à alcançada com a produção de tartaruga após 45 meses de
cultivo, é excelente, pois para cada real aplicado na produção de 1,0
kg de peso vivo houve umganho deR$1,54, conforme a Tabela 4.
458
dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos
principais produtos agrícolas da Resex: farinha e banana
(atualmente, prejudicada pelomal da SigatogaNegra).
Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve
financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através de
um trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades
coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou
como coordenador do projeto, e por um técnico do Ibama, lotado na
Resex do Médio Juruá, Manoel Cruz “Manoelzinho” e Aldízio Lima,
respectivamente. Esse projeto previa auxílio para os vigias na forma
de alimentação, a cada mês, recursos para viagens de
monitoramento mensal das atividades dos vigias e compra de
equipamentos para a implementação das ações de preservação dos
quelônios.
O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos
ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma
casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde
está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma
base para que possam permanecer durante o dia e a noite. O
trabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para
evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de
animais desovando, a marcação das covas dos animais para o
controle do número que desova em cada praia, e o controle da data
de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o
controle do número de animais que desovaramnas praias, o número
de filhotes que nasceram e quemorreram e os ovos não eclodidos.
De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio
Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para
estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga
), tracajá ( ) e iaçá
( )
(Podocnemis expansa Podocnemis unifilis
Podocnemis sextuberculata
77
da região do Médio rio Juruá/AM, através de manejo extensivode
ovos, filhotes e adultos, por comunidade. Utilizou-se captura-
marcação-recaptura, com armadilhas/redes em diferentes
microambientes e próximas às áreas de nidificação. Os quelônios
forammarcados comperfuração de carapaça (Figura 10).
Figura 10: Captura de quelônios com rede trammel-net no sacado doMari-Mari
– Resex Médio Juruá, biometria, marcação, soltura e aplicação de
questionários. Fotos: C.Dias A.Jr. (2005).
Foram aplicados 45 questionários em nove comunidades na Resex
Médio Juruá. Foram identificadas oito espécies de quelônios:
(16%), P.Podocnemis expansa
78
Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de tartarugas de diferentes cultivos.
Parâmetros
Tempodecultivo(emmeses)
Densidadedecultivo(tartaruga/ha)
Conversãoalimentar
Comprimentodecarapaça(cm)
Larguradecarapaça(cm)
Pesomédio(g)
Produção/unidadedeárea(kg/ha)
Trabalho
45
5.000
2,56:1
44,00
37,50
8.480
41.230
CultivosComerciais
66
5.000
14:1
29,56
24,85
2.660
13.300
Observou-se também, após sexagem, que 17,41% dos exemplares
eram machos e 82,59%, fêmeas; os pesos médios para machos e
fêmeas foram 4,63 e 8,84 kg, respectivamente. Diante dessa
constatação, o interessante, quando possível, seria realizar a
sexagem antes do povoamento do viveiro de engorda, optando-se
pela criação de fêmeas. Neste caso, os machos deveriam ser
destinados à reprodução ou ao comércio ornamental.
A análise dos dados econômicos deve ser focada no mercado
existente para tartaruga, mesmo que ilegal, e no risco inerente à
atividade, comum a todas as outras do ramo zootécnico, quando
praticadas em cultivos de longa duração. Atualmente, o mercado
demanda tartarugas vivas com peso vivo acima de 15 kg
(preferencialmente) e paga de R$12,00 a R$15,00 o quilo,
dependendo da época do ano. Quanto aos riscos, aconselha-se não
estender pormuitos anos o tempo de cultivo para que o produtor não
seja surpreendido por eventualidades, tais como: parasitas,
doenças, fugas, roubo, etc. Além disso, em qualquer atividade
econômica, quanto menor o tempo do giro do capital empregado
mais saudável é o negócio.
457
instalações e tempo de duração completamente diferentes aos deste
estudo. Entretanto, as comparações serão realizadas com
resultados obtidos em cultivos comerciais, acompanhados pelo
Ibama.
Os resultados observados sobre o desempenho zootécnico
são apresentados na Tabela 1.
Tabela1: Desempenhozootécnicodetartaruga,após45mesesdecultivo.
Início
12meses
24meses
36meses
45meses
Peso
médio
(g)
234
1.853
3.609
6.338
8.480
Biomassa
inicial
(kg)
209,66
209,66
1.658,44
3.230,06
5.690,41
Biomassa
final
(kg)
---
1658,44
3230,06
5690,41
7589,15
Ganhode
Biomassa
(kg)
---
1.448,78
3.020,40
5.480,75
7.379,90
Produção/Unidade
deÁrea
(kg/ha)
---
8.085
16.755
30.250
41.230
Ração
Consumida
(kg)
---
3.188
6.834
13.083
18.875
Conversão
Alimenar
---
2,20
2,26
2,39
2,56
Tempode
Cultivo
(meses)
Comprimento
(cm)
13,30
23,15
37,48
42,00
44,00
Largura
(cm)
12,50
20,30
31,92
35,00
37,50
Carapaça
Esses resultados foram consideravelmente superiores
quando cotejados com os obtidos da análise dos cultivos comerciais,
registrados no Relatório Final 98-2000 do projeto: Diagnóstico da
Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas –
Ufam/Ibama, conforme a Tabela 2.
456
unifilis P. sextuberculata Peltocephalus
dumerilianus R. punctularia G. denticulata G.
carbonaria C. fimbriatus
P. unifilis
P. expansa Geochelone P.
sextuberculata
Podocnemis sexturbeculata
(16%), (16%),
(4%), (11%), (16%),
(5%) e (16%). Os comunitários informaram
que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%),
frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). NoMédio
Juruá, as principais espécies consumidas são (tracajá)
31%, (tartaruga) 26%, spp. (jabuti) 17% e
(iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a
gordura de quelônios como remédio (Nascimento&Andrade, 2005).
Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no
Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
NoMédio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartarugaR$ 90,0 ±
40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3.
Há maior abundância de iaçás ( )
na Resex Médio Juruá (59%). O período com maior número de
capturas é à tarde. No fim da tarde e à noite, foram os momentos de
captura dos animais maiores em comprimento e peso. No período de
cheia dos rios os quelônios concentram-se nos lagos e na floresta
alagada, pela maior oferta de alimentos e proteção contra
predadores. Os aparelhos de pesca de maior eficiência para tracajás
e iaçás foram as caçoeiras, dos comunitários. E, para as tartarugas,
as malhadeiras. A comunidade Bom Jesus mostrou maior
quantidade de cascos utilizados em casas de farinha (para tirar a
massa) e em residências. Os cascos mais utilizados são os de iaçá,
talvez por serem quelônios emmaior abundância na região, uma vez
que os comunitários preferem utilizar cascos de tracajá por serem
médios.
Omaiorpicodedesovadoiaçáocorrenoperíododejulhoe
agosto.Atartarugaeotracajáapresentamseuperíododedesova
nosmesesdeagostoesetembro.Osmaiorestabuleiros:Deusé
Pai,Ati(Roque)eMonte
79
Carmelo. As médias de ovos por ninhos: tartaruga=122,5
ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8
ovos;matá-matá=12,5 ovos (Nascimento&Andrade, 2005).
Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, o
peso de animais capturados foi: tartaruga=1.652,32 1.619,81g,
idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14
e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e
idade=2,91 1,25 anos (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355
7.635 g, idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas,
tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e
iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimento
médio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais
marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. &Andrade, 2006).
tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e
Botafogo, emJuruá/AM
O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros
comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo e
tabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela
cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do
Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo
conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São
realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso
quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do
rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criada
em 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os
trabalhos de conservação.
O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador
acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de
A.3) Baixo Juruá:
80
Determinação do sexo
Análise de viabilidade econômica
Resultados
A determinação do sexo foi realizada de acordo com a
metodologia descrita por Ibama (2001):
Macho: apresenta a cauda mais espessa e comprida, com a
cloaca mais próxima da extremidade, e tamanho corporal
menor quando comparado ao da fêmea demesma idade.
Fêmea: tem a cauda mais curta e menos espessa enquanto a
cloaca se localiza intermediariamente entre a base e a
extremidade da cauda.
A análise de viabilidade econômica seguiu a metodologia
adotada por Martin et al. (1995), Scorvo Filho et al. (1998) e Melo et
al. (2001), na determinação de custos de produção, rendas líquidas,
receitas, taxas internas de retorno (TIRs) e tempo de recuperação de
capital (TRC), para diferentes sistemas deprodução e preços de
venda.
Pela amplitude temporal do trabalho (45 meses) e o seu
pioneirismo, torna-se impraticável a comparação dos resultados
obtidos com os disponíveis na literatura para amesma espécie, visto
que eles foram realizados sob condições de manejo alimentar,
·
·
455
Manejo alimentar
Biometrias
As tartarugas, nos primeiros treze meses de cultivo, foram
alimentadas duas vezes ao dia, às 11:00 e às 15:00h, sempre que
possível com ração comercial extrusada, recomendada para
alimentação de peixes onívoros, contendo 34% de proteína bruta e a
taxa de alimentação diária, nesse período, foi de nomáximo 1,5% da
biomassa inicial do viveiro. Na segunda fase (13 a 45 meses), as
tartarugas foram alimentadas uma única vez ao dia, sempre às 15
horas, com dieta à base de ração extrusada contendo 24% de PB e a
taxa diária de alimentação de, no máximo, 1,0% da biomassa do
viveiro, observada no início dessa fase.
O fornecimento diário de rações obedeceu ao consumo
espontâneo das tartarugas, limitando-se, no máximo, às taxas
citadas anteriormente. Observou-se que nos dias nublados e de
temperaturas mais amenas as tartarugas ingeriam menores
quantidades de ração.
Durante todo o cultivo (45 meses), a cada período de 4 meses
foram realizadas avaliações biométricas utilizando-se uma amostra
de 10%do lote, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento corporal,
ganho de peso, conversão alimentar do período e a presença de
ectoparasitas.
454
junho – iaçás; 2ª quinzena de julho – tracajás; 1ª quinzena de agosto
– tartarugas. O período de desova vai de julho a setembro (julho-
agosto, as iaçás; agosto-setembro, tracajás e tartarugas). As iaçás
põemde quatro a nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a
36 ovos, e as tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001
foram marcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No
tabuleiro Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três
covas de tartaruga e 120 de tracajá. Os principais predadores de
ovos são: jacuraru, camaleão, urubu, gavião-de-bico-vermelho; os
predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes
lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes
estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e o
tracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes).
Figura 11: Equipe do tabuleiro do Joanico, Juruá/AM, 2001. Foto: RAN/AM
(Andrade, P.C.M.).
O trabalho no Joanico consistiu em piquetear as covas de
tartaruga e tracajá, coletar filhotes e soltar no rio ou nos lagos. Em
2001, pela primeira vez, foram utilizados oito berçários de 1,5 m x
1,5mx 1,5m, demadeira, telado com sombrite. Antes, trabalhava só
um agente de praia, o sr. José de Nascimento Santana. Nos últimos
anos tem trabalhado uma equipe de fiscalização:
81
Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º
Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes
Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião
Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos
Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GM
Francisco Deusimar da Silva; GMAntônio Israel de Araújo Filho; GM
Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça
de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca
doBreu.
A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos
lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcos
ou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os
quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para
contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a
maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram
44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano
de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram
colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a população
visse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na
multidão ao presenciarema cena commuitos iaçás jámortos.
A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do
rio Juruá
O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico,
localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro
commais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por
seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as
bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha
indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de
2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na
calha do
82
Solo e clima
Tartarugas
Preparo e povoamento do viveiro
As condições edafoclimáticas predominantes na área são:
latossolo amarelo, textura muito argilosa, precipitação
pluviométrica anual de 2.400 mm, média de umidade relativa do ar
de 88%, temperatura média anual de 26,5°C, média diária de brilho
solar de 5,4 horas, velocidade média do vento de 0,7 m/s e altitude
de 50macima do nível domar.
Foram utilizadas, na fase de engorda, 896 tartarugas
oriundas da Reserva Biológica do Abufari-Tapauá/AM. As
tartarugas passarampor umperíodo pré-experimental de dezmeses
na Embrapa Amazônia Ocidental, sendo transferidas para dar início
à Unidade de Observação. Foram coletados os seguintes dados
biométricos: 1) carapaça: comprimento: 13,30 cm, 12,50 cm de
largura; 2) plastrão: 10,15 cm de comprimento e 10,10 cm de
largura; 3) peso vivomédio: 234 g.
Após uma semana de exposição aos raios solares, aconteceu
a limpeza do fundo e das laterais do viveiro, deixando-o livre de
restos vegetais, materiais de construção, vidros, plásticos etc. Em
seguida, realizou-se o abastecimento do viveiro e o seu povoamento,
obedecendo à densidade de 1 tartaruga/2m² de área inundada
(5.000 tartarugas/ha).
453
O agronegócio amazônico, que apresenta reduzidas opções
de sistemas de produção animal sustentáveis, tem, com este
trabalho realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus
parceiros, ampliado o seu leque de alternativas.
Disponibilizar um sistema de produção de tartaruga-da-
amazônia técnica e economicamente viável, como uma nova opção
ao agronegócio amazônico.
Disponibilizar informações técnicas que, entre outros
fatores, permitam aumentar a oferta de tartaruga para atender à
demanda existente, diminuindo a pressão do extrativismo e
proporcionando o estabelecimento de políticas ambientais voltadas
para a conservação e a recuperação do estoque natural.
Os estudos foram realizados em propriedade particular
parceira da Embrapa Amazônia Ocidental, para a realização de
atividades de pesquisa e desenvolvimento, desde 1994, localizada no
município de Rio Preto da Eva-AM, cuja atividade principal é a
piscicultura intensiva. A implantação da Unidade de Observação
(UO) foi em 1/7/1999 e o período de coleta de dados foi de 45meses,
utilizando um viveiro escavado em argila com área de 1.792 m com
cerca de contenção (distante 2 metros do corpo d'água), de tela
(sarão), com altura de 80 cm e enterrada 20 cm. O viveiro recebe
água por gravidade originária de igarapé de água preta, ácida (pH 5),
que apresenta baixa fertilidade natural. A renovação diária de água
no viveiro é da ordemde 2,5%.
Objetivos
Materiais emétodos
2
452
rio Juruá. Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás (P.
unifilis), 63 tartarugas-da-amazônia (P. expansa), centenas de aves
que encontraramno tabuleiro de Juanico um raro lugar seguro para
fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata) lá
nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vida
explode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância
humana.
Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de
pássaros nidificando,ocorrendo principalmente gaivota (
e ), corta-água ( ),
maçarico ( e ) e bacurau
( ). As praias protegidas ficam tomadas pelas
aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra àmedida
que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em
nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar.
Phaetusa
simplex Sterna superciliaris Rynchops nigra
Charadrius collaris Vanellus cayanus
Chordeiles rupestris
Figura 12: Filhotes de trinta-réis (Phaetusa simplex). Fonte: Paulo
HenriqueOliveira.
A.3.2. Pressão de caça e predação
Detectamos algumas dezenas de praias, ao longo do caminho, que
pareciam desertas, inteiramente desabitadas e predadas, vítimas da
intensa predação, como a retirada de ovos das aves aquáticas e dos
83
quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no
ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata) e tracajás (P. unifilis),
que ocorrem emmaior freqüência, são osmais coletados.
A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do
Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis),
tartaruga (Podocnemis expansa), Jabuti-amarelo (Geochelone
denticulata), iaçá (Podocnemis sextuberculata), tartaruga de igapó
(Phrynops raniceps) ematá-matá (Chelus fimbriatus).
Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são:
da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo,
rendidura e dor muscular; –
para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser
de jabuti fêmea e vice-versa;
– para assadura; – capitari, fêmea do tracajá e
iaçá e zé-prego -- é usada como comedouro p/ animais domésticos e
principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno, na
casa de farinha.
As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na
Resex são: tracajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o
quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio
Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para
comercializar nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e
Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas
comunidades,mas não é tão intenso quanto na cidade.
banha
chá da escama da carapaça do jabuti
chá da escama assada da carapaça do
matá-matá carapaça
¹Rendidura – hérnia escrotal;
²Capitari –macho da tartaruga;
³Zé-prego –machodo tracajá;
84
Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia
(Podocnemis expansa): alternativa ecológica,
técnica e econômica ao agronegócio amazônico
LuizAntelmoSilvaMelo
AntônioCláudioUchôaIzel
MariadasGraçaHossaine-Lima
AgenorVicentedaSilva
PauloCesarMachadoAndrade
O hábito alimentar arraigado de consumir carnes de animais
silvestres nativos da região é inerente ao amazônida, pois seus
ancestrais já o praticavam. Dentre as espécies mais apreciadas por
essa população, destaca-se a tartaruga-da-amazônia, devido às
excelentes características organolépticas de suas partes
comestíveis, o que levou a espécie ao risco de extinção.
Considerando a conhecida dificuldade de mudança de hábito
alimentar de uma população, assim como a necessidade de
preservação da espécie e de recuperação do estoque natural, pode-se
afirmar que a criação comercial de tartaruga é uma alternativa
potencial para atender diversas situações.
Introdução
¹ Os dados apresentados neste trabalho são oriundos da publicação Criacão de
tartaruga-da-amazônia (Podcnemis expansa). 14 p., 2003. (Embrapa, Amazônia
²Ocidental. Documentos, 26).
³Engenheiro-AgrônomoM.Sc. –Embrapa AmazôniaOcidental.
ZootecnistaM.Sc. –Embrapa AmazôniaOcidental.
BiólogaM.Sc. –Seduc/AM.
BiólogoB.Sc. – Ibama/AM.
Engenheiro-AgrônomoM.Sc. – Ibama/AM
4
4
5
6
451
instituições de pesquisas, extensão rural, vigilância sanitária,
consumidores, mercado, etc., visando propiciar o desenvolvimento
da criação de quelônios, em cativeiro, na região.
Espera-se, também, a efetiva e necessária organização da
cadeia produtiva, principalmente, através dos itens: a) colocação do
produto no mercado; b) propaganda e marketing; c) construção de
abatedouro licenciado pela inspeção federal; d) definição das formas
de comercialização e abate; e) agroindústria agregada ao abate para
fabricação de cosméticos, farmacoterápicos e peças de artesanato.
Tudo isto, entretanto, deverá estar associado à manifestação real de
interesse e ao firme propósito dos possíveis órgãos fomentadores do
setor primário no Estado (Governo, Basa, Suframa-Distrito
Agropecuário). Hoje, podemos dizer que já existe uma tecnologia de
produção e, principalmente, um volume muito grande de produto
para ser colocado no mercado (estima-se hoje, no Amazonas, cerca
de 600.000 animais em cativeiro, dos quais 100.000 já estariam em
ponto de abate), faltando acertar detalhes da cadeia para que a
atividade rentável e viável seja uma alternativa produtiva para o
Norte do país.
Em 2005, os criadores do Amazonas, conseguiram vencer
um dos entraves na cadeia produtiva que era, justamente, a
comercialização, direta e em escala, de seu produto. Em função da
organização dos criadores em uma associação, e do fomento da
agência de agronegócios do Estado, a maior parte do plantel
produtivo dos criadores pioneiros (1995 e 1996) já foi comercializada
com o animal vivo em feiras, em2005 e 2006, garantindo o retorno do
investimento com alta rentabilidade (375,4%), em que o custo de
produção médio foi de R$2,93/kg em peso vivo e receita com a venda
de R$11,00/kg. A média de peso dos animais comercializados subiu
para R$7,8±5,5 kg, com animais de 5 a 7 anos, o que demonstra um
avanço, também, na adoção das técnicas de manejo e alimentação
disseminadas pelaUfamdesde 1997.
450
Figura13: Tracajá (P. unifilis) sendo comercializado na cidade de
Juruá. Fonte: P.H. Oliveira.
É freqüente o encontro com vários barcos peixeiros na calha do
rio Juruá, sempre acompanhados por muitas canoas e cheios de
caixas de isopor. Nas margens do rio observamos outras várias
caixas de isopor dispostas nos portos das casas. Não há controle do
fluxo de embarcações que navegam o rio Juruá. Com trânsito livre, a
região fica vulnerável e grande parte dos recursos da região é
retirada. Alguns exemplos que mostram o grau de predação: no ano
de 1999, a polícia de Juruá prendeu oito barcos que, juntos,
transportavam cerca de 44.000 quelônios e dois meses depois, mais
800 indivíduos. Por informações dos comunitários, sabe-se que no
ano de 2002 passaram 8.000 animais para o município de Alvarães,
pelo Igarapé doBreu.
São vários os predadores de quelônios encontrados nos
tabuleiros do rio Juruá na época da desova dos quelônios.
Predadores de ovos: homem, jacuraru ( sp.), mucura
( ), gavião-preto ( ),
urubu ( ), paquinha ( ),
macaco-prego ( ). Predadores de filhotes: bagres em
geral e aruanã ( sp.), piranha ( ),
pirarara ( ), jacaré (
e ), corta-água ( ),
Tupinambis
Didelphis marsupialis Buteogallus urubitinga
Coragyps atratus Orthoptera, Gryllotalpidae
Cebus apella
Osteoglossum Pygocentrus nattereri
Phractocephalus hemioliopterus Caiman
crocodylus Melanosuchus niger Rynchops nigra
85
gaivota ( ), gavião-preto ( ),
urubu ( ), gato-maracajá ( ).
Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajá
aumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estão
diminuindo, tartaruga nem se vê falarmeu irmãozinho”.
Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuemum
histórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença,
Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito por
revezamento entre os comunitários (um fica durante o dia todo e o
outro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos,
devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam de
forma (altura, largura e, muitas vezes, crateras sãocriadas ao longo
da praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dos
seringais e temuma bandeira como ummarco indicando que a praia
é protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eram
demarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando
bandeiras brancas e vermelhas.
As comunidades Botafogo e Antonina têm um histórico de
mais de 15 anos de proteção dos tabuleiros, que eram saqueados por
índios da etnia Deni e Culina, no trajeto em direção à cidade de
Juruá, para receber benefícos do governo, como aposentadoria.
Essa falta de sintonia entre irmãos indígenas e ribeirinhos
enfraquecia as ações de conservação dos quelônios aquáticos.
Phaetusa simplex Buteogallus urubitinga
Coragyps atratus Leoparduswiedii
A.3.3. Envolvimento comunitário
A.3.4 Produção nos tabuleiros
86
Foi verificado o prolapso retal em alguns machos de P.
expansa separados para a venda (Figura 8). É possível que isso
esteja associado à traumatismo causado pela aglomeração dos
animais em ambiente seco, por tempo prolongado. A reversão
ocorreu em 3 dias. Este comportamento foi observado por Duarte
(1998) em alguns filhotes recém-nascidos, com 4 dias de idade (não
sexados) na Reserva Biológica do Abufari, em Tapauá, Amazonas.
Ele acredita ter sido ocasionado pelo estresse ao manejo de captura
e transporte, pelo atrito da cauda dos animais com superfícies
rígidas, pela mudança de ambiente, ou por agentes parasitológicos
que podemprovocarmudança no sistema fisiológico do animal.
Figura 8: Prolapso retal verificado emalgunsmachos de
P. expansa separados para venda. Foto:Duarte, 1998.
A expectativa com a criação licenciada e com omercado pelos
queloniocultores, em geral, é que haja uma demanda significativa
dos produtos e subprodutos oriundos desses quelônios legalizados,
através de um monitoramento envolvendo os queloniocultores,
449
Sangue = 3,66 ± 0,79%
Carapaça = 23,11 ± 0,82%
Plastrão = 10,54 ± 1,17%
Cabeça = 3,94 ± 0,78%
Carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) = 32,83 ± 9,09%
Vísceras = 7,96 ± 1,31%
Fígado = 1,48 ± 0,29%
Coração = 0,16 ± 0,03%
Quartos dianteiros = 15,24 ± 4,15%
Quartos traseiros = 17,56 ± 5,01%
Rendimento de partes comestíveis (sangue, carne, fígado,
rins, pulmão, coração) = 39,62 ± 9,63%.
Animais de maior tamanho e peso apresentam maior
rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de
categorias menores (maior porcentagem de casco). Este fator pode
ser direcionado de acordo comomercado consumidor.
Em alguns animais foram encontrados endoparasitas ao
longo do trato gastrointestinal. Eles foram coletados e fixados em
lâminas, para posterior identificação. Foram observados
nematelmintos (níveis elevados) principalmente no estômago, além
de protozoários e bactérias. Não foram encontrados parasitas
sangüíneos e nem sanguessugas.
448
A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceu
bastante de 1998 a 2002, comomostra a Tabela 2.
Tabela 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de
Ano
Espécie Número
de
ninhos
Filhotes
soltos
1998 P.expansa 76 7.618
P.unifilis 132 3.571
P.sextuberculata 5.210 52.101
Total 5.418 63.290
1999 P.expansa 152 18.496
P.unifilis 157 4.782
P.sextuberculata 6.720 67.204
Total 7.029 90.482
2000 P.expansa 158 19.000
P.unifilis 160 4.986
P.sextuberculata 7.510 80.753
Total 7828 104.739
2001 P.expansa 170 21.490
P.unifilis 170 5.200
P.sextuberculata 8.075 80.735
Total 8.415 107.425
2002 P.expansa 185 27.900
P.unifilis 185 6.275
P.sextuberculata 10.050 100.500
Total 10.420 132.225
Fonte: SecretariadeMeioAmbienteeTurismodeJuruá-AMeRAN-
Ibama/AM,2003.
O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos,
tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade,
2001). O comprimentomédio dos ovos ficou em torno de 40mmpara
o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga
ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá
26mm.
87
O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de
37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do
tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser
pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número
médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos
(tracajá), 70-130 (tartaruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi
de 88,56% para Podcnemis expansa, 96,4% para P.unifilis e
92,3%para P. sextuberculata (Andrade, 2001).
No tabuleiro de Renascença foram produzidos, em 2001,
273 filhotes de tartaruga (P. expansa), 360 de tracajá (P.
unifilis) e 5.441 de iaçá (P. sextuberculata).
A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá:
Botafogo, Antonina e Itaúna
A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a
Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em
130.011 filhotes (1,30% P. expansa, 6,79% P. unifilis, 91,92%
P. sextuberculata). Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes
gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e
Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um
aumento percentual em relação à participação dos tabuleiros
da Resex na produção total do Baixo Juruá, já que em 1995 o
tabuleiro de Botafogo colaborou com apenas 13,91% do total
produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% de
tartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o
restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4
apresenta a produção de filhotes de quelônios em Antonina,
Botafogo e Itaúna, em2001.
Tabela 6: Produção de ninhos e filhotes de quelônios em
Antonina, Botafogo e Itaúna –ResexBaixo Juruá, 2001.
88
Foram capturados 1.172 animais, sendo realizada a
biometria em884 animais. Do total, 65% apresentavam-se abaixo do
peso mínimo para venda, ou seja: 1,5 kg PV. A distribuição em
categoria de peso pode ser observada na Figura 7.
Distribuiçãodopesoemrelaçãoaonúmero
deindivíduos
0
100
200
300
400
500
600
700
0-1kg 1-5kg 5-10
kg
10-15
kg
20kg
Peso(kg)
I
n
d
i
v
í
d
u
o
s
No.deIndivíduos
Figura 7. Distribuição, em peso, dos animais analisados pelo Ibama
para venda. (Duarte, 1998).
Quanto aos parâmetros de carcaça dos animais, foram
abatidos 5 de diferentes categorias, que apresentaram os valores de
rendimento percentual em relação ao peso corporal em jejum:
447
espessa, a abertura “cloacal”mais próxima da extremidade final da
cauda e sutura média no plastrão em formato em “U” e o tamanho
corporal menor se comparado à fêmea. A fêmea tem a cauda mais
curta e menos espessa em relação ao macho, a abertura “cloacal”
localiza-se medianamente na extremidade da cauda e a base e a
sutura médio-ventral no plastrão da fêmea tem formato em “V” e o
tamanho corporal é maior do que o macho. Antes de atingir de 2 a 3
anos de idade observou-se que a sutura médio-ventral no plastrão,
no macho, apresenta-se em “V” e na fêmea expressa-se em “U”.
Estes indicadores invertem-se em animais de 2,5 ± 0,707 anos de
idade.
Foi aplicado um questionário aos compradores dos
animais, no supermercado, visando saber qual a opinião do público
em relação ao sabor do animal de cativeiro, o seu tamanho, e o preço
por kg do peso vivo, forma de preparo, qual a freqüência de
consumir tartaruga, etc.
Os animais apresentaram, emmédia, os seguintes valores:
Idade: 5,5 anos
Comprimento da carapaça: 29,56 cm
Largura da carapaça: 24,85 cm
Altura: 12,8 cm
Peso: 2,66 kg
PorcentagemSexual:macho 55%; fêmea 45%
10.3.1 ANÁLISE DE CARCAÇA DOS ANIMAIS
COMERCIALIZADOS
446
Tabuleiro Espécie Nº de
Ninhos
Nº
Médio
de
ovos
Nº
Total
deovos
Nº
Estimado
de
filhotes
Antonina Tartaruga 6 125-
133
800 780
(3º23’40”Se
66º4’18”W)
Tracajá 70 34 2380 1200
Iaçá 2600 10-1127560 26000
Botafogo Tartaruga 5 120-
140
700 660
(3º20’8”Se
65º97’30”W)
Tracajá 170 30 5100 3400
Iaçá 9200 9-11 98924 92000
Itaúna Tartaruga 2 110-
142
284 250
(3º1’20”Se
65º54’24”W)
Tracajá 170 26 4.420 4230
Iaçá 213 10 2.130 1491
Total 12436 142394 130011
Obs. A área total dos tabuleiros é: Botafogo=3.600 m x 280 m, Antonina=
1.770mx150me Itaúna= 1.240mx239m. Fonte: Andrade (2001).
A Figura 14 e a Tabela 7 mostram a evolução da produção
de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se uma tendência
gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à
tendência observada por Andrade et al. (2006) para a Resex do
Médio Juruá e demais calhas de rios do Amazonas, onde ocorre o
trabalho de proteção, o que significa que poderemos utilizar o
modelo proposto para verificar a sustentabilidade das taxas de
extração anual.
89
Produçãodeninhosdequelônios emBotafogo
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Ano
N
.
T
r
a
c
a
j
á
s
/
t
a
r
t
a
r
u
g
a
s
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
N
.
I
a
ç
á
s Tartaruga
Tracajá
Iaçá
Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro
de Botafogo –ResexMédio Juruá. Fonte: Andrade (2001).
Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os
comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes
para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás,
ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (1990-
2002).
Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa
realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de
quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na Resex do
Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários,
captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados
biométricos, razão sexual e outras informações sobre a
A.3.6Monitoramento de quelônios naResex Baixo Juruá
90
foi demonstrado neste capítulo e no capítulo 7, deste livro), isto é,
reduzindo um pouco sua margem de lucro e melhor estratégia de
marketing e venda, os queloniocultores legalizados poderão
facilmente estabelecer preços mais competitivos e desbancar,
definitivamente, o produto ilegal.
A queloniocultura, provavelmente, deverá direcionar os
produtos e subprodutos em termos de qualidade e/ou quantidade,
em função do mercado, pois, historicamente, o hábito alimentar do
consumidor, em relação à tartaruga, refere-se (em geral) ao animal
com aproximadamente 25 kg PV. Sendo necessário, para isso, um
esclarecimento visando uma possível mudança no hábito, assim
como a forma de venda dos animais, a estrutura de abate, etc.
O empréstimo bancário para a queloniocultura deve ser
estudado em função das características da criação e ao período em
que atividade trará resposta do investimento, pois a linha de crédito
é umdos suportes para o desenvolvimento dessa atividade.
Durante a fase de comercialização, alguns animais
deixaram de apresentar, em uma das placas marginais, na parte
posterior da carapaça, o lacre plástico identificando que eram
provenientes de criadouro licenciado. Eles foram quebrados pelas
patas posteriores dos animais (Kohashi ).
Recomenda-se que os animais sejam inspecionados para
consumo humano por terem sido encontrados, na amostra de
animais analisados para venda, endoparasitas.
Observou-se que os machos (comercializados) de P. expansa
apresentama caudamais comprida e espessa, a abertura “cloacal”
1
¹Kohashi,Moysés.Administrador.Informaçãopessoal.
445
A propaganda não deixou claro que os animais eram
provenientes de criadouro licenciado. Para uma atividade nova, em
termos legais é importante divulgar que os animais são de criadouro
licenciado, para dar suporte à queloniocultura regional. Foi
detectado (durante as observações dos animais no tanque) que
alguns clientes no supermercado, e outras pessoas em conversa
pessoal, deduziram, por equívoco, que os animais expostos estavam
liberados para venda como se fossem capturados da natureza, sem
autorização, como ainda ocorre no estado do Amazonas.
O preço relativo pelo qual foi vendida, inicialmente, no
supermercado, de R$ 18,00 (US$ 6,00) por kg do peso vivo-PV de
tartaruga se comparado às carnes de peixe (tambaqui, cerca de R$
7,00/kg PV), frango e bovina, foi elevado para um produto
amazônico.
Existe uma tendência para que esse preço diminua com o
aumento do número de animais postos à venda por outros
criadouros licenciados. Caso contrário, o preço cobrado tende a
comprometer a venda legal, pois a forma de comercialização para
alguns possíveis compradores torna-se desinteressante pelo fato de
ter que pagar R$ 18,00/kg PV por uma parte do animal que não será
consumida (carapaça e plastrão).
Além disso, existe o problema da concorrência com o animal
de origem ilegal, cujo preço, hoje, está em torno de R$ 300,00
(U$100,00) para um animal com peso médio de 25-30 kg de PV, ou
seja, o produto clandestino está saindo cerca de R$ 10-12,00/kg
de PV (U$3,33-4,00). Muitos queloniocultores já reduziram seu
preço de venda para R$6,00 a R$10,00/kg, ou seja, um preço que
concorre com o produto ilegal. Todavia, os custos médios de
produção no Amazonas giram em torno de R$1,45 a 2,93 (conforme
444
estrutura populacional dessas espécies. Essas informações
subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento
contínuo fornecerá – associado aos dados de produção das áreas
reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o
que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques e
verificar a sustentabilidade de taxas de desfrute anuais de ovos,
filhotes ou animais subadultos.
Tabela 7: Histórico da produção de quelônios em praias
protegidas naResexBaixo Juruá.
ProduçãonostabuleirosdaResex
Botafogo Ninhos Filhotes
Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
1990 1 25 559 130 500 5.200
1991 2 52 1.075 265 1.040 10.000
1992 3 80 1.613 390 1.600 15.000
1993 4 93 2.151 520 1.860 20.000
1994 4 110 2.688 530 2.200 25.000
1995 4 120 3.175 536 2.400 29.530
1996 5 126 3.468 680 2.520 32.250
1997 5 134 4.970 680 2.680 46.220
1998 5 140 5.161 635 2.800 48.000
1999 5 148 5.726 642 2.960 53.250
2000 5 155 7.903 640 3.100 73.500
2001 5 170 9.892 660 3.400 92.000
Antonina Ninhos Filhotes
Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
1998 2 35 2.400 220 860 24.000
1999 3 55 2.752 420 970 27.520
2000 4 65 2.600 662 1.100 26.000
2001 5 70 2.600 780 1.100 26.000
Fonte: Andrade (2001) e Secretaria deMeio Ambiente do Juruá (2002).
91
Figura 15: Locais de monitoramento de quelônios na Resex Baixo
Juruá – 2005/2006.
A.3.6.1 Informações baseadas nos questionários – espécies
de quelônios (habitat, alimentação, reprodução) e sua
utilização
Os comunitários identificaram dez espécies de quelônios
entre os animais mostrados nas pranchas coloridas:
expansa (tartaruga), (tracajá), Podocnemis
sextuberculata (iaçá), (cabeçudo),
Podocnemis
Podocnemis unifilis
Peltocephalus dumerilianus
Rhinoclemmys
92
Figura 6:Colocação do lacre plástico para a venda de quelônios com perfuração
da escama caudal da carapaça com auxílio de furadeira elétrica. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).
Após marcados, os animais foram vendidos vivos para um
supermercado local, que exibia os animais ao público em um grande
aquário, com uma placa com o registro do supermercado como
comerciante de produtos da fauna (Portaria nº 117/97) a origem dos
animais e o número de registro/autorização do criador.
Acompanhou-se, ainda, a venda aos consumidores regionais, no
próprio supermercado,que era feita da seguinte forma: o
consumidor escolhia o animal, um atendente o capturava no
aquário com um puçá e ele era pesado em uma balança digital que
fornecia, imediatamente, uma etiqueta com o preço a ser pago.
Então o animal era levado em um carrinho de supermercado para
ser pago no caixa, sempre com o lacre identificador de sua origem
legal.
O comportamento dos animais dentro do aquário, no
supermercado, era bastante agitado, devido, provavelmente, à
climatização interna do supermercado, pois pela observação, a
natação era bastante rápida, como se fosse uma forma de
“aquecimento” corporal, seguido de algumas mordidas quando os
animais submersos tocavam-se.
443
Figura 4: Animal para venda com lacre plástico. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).
Figura 5: Lacre plástico para venda de quelônios. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).
442
punctularia Platemys platycephala
Geochelone dent iculata Geochelone
carbonaria Chelus fimbriatus
Phrynops raniceps
Phrynops
nasutus Platemys platycephala
Phrynops raniceps
(perema), (jabuti-machado),
( jabuti-amarelo) ,
(jabuti-vermelho), (matá-matá) e
(lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se
que a designação ou nomenclatura popular é diferenciada de
outros locais da Amazônia, pois chamam de perema a
, e lalá o , tartaruga-de-igapó é a
A alimentação desses animais é muito variada. Segundo
os comunitários, eles alimentam-se de frutos diversos,
inflorescências, sementes, animais em putrefação e algas. Os
alimentos disponíveis nos lagos e matas alagadas são bem
diversificados. Exemplo de
abiorana, cajurana, caimbé, castanha, apuí, caxingubu, camu-
camu, socoró, marajá, muruxi, caimbé, tamaquari, jauari,
oxirna, bacuri e castanharana;
canarana, mururé, mureru, taboca e capim-
membeca.
No Baixo Juruá, segundo os comunitários, os quelônios
alimentam-se de frutos (30,77%), plantas aquáticas (29,59%),
sementes (18,93%), peixes (14,79%) e flores (5,92%). Na Resex
Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os
comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se
principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%),
insetos (15%) e peixes (13%).
Observou-se que, para os comunitários, a maioria das
espécies vive em rios, lagos, igarapés e cabeceiras (exceção do
jabuti que vive na floresta). Essa opinião é similar ao Médio
Juruá, onde, segundo os moradores, 66% dos quelônios
habitariam em lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento,
2005).
frutos de igapó e matas alagadas:
macrófitas aquáticas e
gramíneas:
93
Verificamos que os valores registrados para o número de
ovos não diferem significativamente dos encontrados por
Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8
ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio
Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registraram as seguintes
médias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4
ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá-
matá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas
no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que,
provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de
quelônios do rio Solimões, que são animais muito maiores do que
amédia dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999).
No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para consumo são
os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), emata-
matá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá
(31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%). Verificou-se que
nas três regiões da Resex Baixo Juruá o preferido é o tracajá. Em
segundo lugar, dependendo da abundância ou não do recurso no
local, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas
tartarugas, a preferência recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de
ser omais abundante, não está entre os três preferidos.
Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são:
a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), o jaticá (15,15%) e o
espinhel (9,09%). Andrade & Nascimento (2005) verificaram que
os petrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio
Juruá são amalhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
A Tabela 8 apresenta o preço médio de venda das
principais espécies de quelônios, praticada nas comunidades
dentro daResex (35%) e na cidade de
94
deverão receber marcação diferencial com plaquetas de alumínio de
4,0 cm X 1,5 e 2 mm de espessura. Esse material recebe o nome
Ibama, numeração seqüencial e registro do criadouro. Na plaqueta
são feitos dois furos através dos quais se passarão dois arrebites
para a fixação na carapaça do animal. Os furos e a colocação da
plaqueta são feitos com o auxílio de furadeira, nas escamas caudais
da carapaça.
O rendimento de carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) foi de
32,83 ± 9,09% em relação ao peso corporal de 2,66 kg obtidos. Isso
difere do citado pelo Sebrae(1995), em que 35% do peso corresponde
ao casco e 65% à carne e que, ao final de 4 anos, a tartaruga estará
com 20 kg, crescimento e rendimento que verificou-se com base em
todos os estudos realizados, praticamente impossível de se obter nas
atuais condições tecnológicas de criação.
Hoje, o tamanho mínimo permitido deve ser esclarecido à
população para uma possível mudança no hábito alimentar, pois a
tartarugada regional refere-se, em geral, a um animal de tamanho
grande.
Após a biometria, pesagem e seleção, cada animal compeso,
para venda, foi marcado pelo queloniocultor com um lacre oficial
(de material plástico), com identificação específica, adquirido no
Ibama-AM para ser fixado no escudo posterior da carapaça
(Figuras 4, 5 e 6).
¹Designaçãogastronômicaparaopreparodatartaruga.
441
11.3Comercialização
Durante o diagnóstico da criação de quelônios um criador do
Puraquequara, Manaus, que recebeu 17.000 animais doados pelo
Ibama-AM, desde 1992, realizou a primeira comercialização de
tartarugas legalizadas no Amazonas, vendendo, em 17/07/1998,
parte dos animais recebidos (Podocnemis expansa), conforme prevê
a Portaria nº 070/96 do Ibama, específica para a comercialização de
P. expansa e P. unifilis, oriundos de criadouro licenciado.
O processo de comercialização dos animais iniciou-se com o
queloniocultor, solicitando a liberação do estoque para venda
através de vistoria e de parecer técnico favorável do Ibama–AM, bem
como o fornecimento dos lacres de identificação para os animais que
seriam comercializados. Cada lacre plástico, em cores, que varia a
cada lote (verde, vermelho, branco), possui o número de registro do
criador, o estado de origem, a sigla Ibama e um número seqüencial.
Os lacres são vendidos ao criador a um preço de R$1,10
(aproximadamenteU$0,36) a unidade.
Após a autorização da venda realizou-se a captura através de
redes de pesca (Tipo arrastão). Foi feita a biometria (carapaça e
plastrão), a pesagem dos animais em balanças de capacidade de 15
kg e de 50 kg, e posterior seleção dos animais que estavam com peso
vivo – P.V. acima de 1,5 kg, ou seja, o peso mínimo para venda,
conforme determina a Portaria nº 070/96. Após selecionados, os
animais com P.V. inferior a 1,5 kg foram devolvidos à barragem
pelos trabalhadores do criadouro.
Aseleçãode10%dosanimaisdoloteparareproduçãodoplantel,
porocasiãodavenda(Portarianº142/92),seaindanãofoifeita,
deveráserrealizadanessaocasião.Asmatrizesereprodutores
440
Juruá (47%). Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$
15,00 aR$ 20,00 o cento.
Tabela8: PreçomédiodevendadequelônioseovosnaResex
BaixoJuruá.
Espécie Tracajá Tartaruga Tartaruga Iaçá Jabuti
(R$) unidade unidade (kg) unidade unidade
Média 34,06 123,33 4,29 3,88 15,00
DP 8,41 66,53 0,70 1,32 3,54
Máximo 50,00 200,00 5,00 5,00 20,00Mínimo 15,00 20,00 3,00 1,50 10,00
Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves
silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente
mais caros quando comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá,
o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$
3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andrade&Nascimento, 2005).
Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios
como remédio e 48,3% usam o casco como pegador ou bacia, para
descansar a massa da farinha. Foi relatado que o casco do jabuti
torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã,
combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para
bronquite. NoMédio Juruá essa utilização como remédio cai para
apenas 28% (Andrade&Nascimento, 2005).
Na primeira excursão, no final da seca, foram capturados
115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis),
12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás (Podocnemis sextuberculata), 59
machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas
(Podocnemis expansa), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops
raniceps. Também foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de
tracajás e 4
A.3.6.2 Parâmetros de estrutura populacional de quelônios
naResex Baixo Juruá
95
filhotes de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no
igarapé do Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5
quelônio/hora-homem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na
segunda excursão foram capturados 67 iaçás (Podocnemis
sextuberculata), uma P. expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops
nasutus.
Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do
total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao
local de captura, 67,5% foram capturados em enseadas, ressacas
ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a
maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%),
sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam em enseadas
ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes,
58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados
biométricos, razão sexual e média de idade dos animais
capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies
capturadas.
Tabela9: Parâmetrosbiométricos,idadeerazãosexualde
quelônioscapturadosnofinaldavazante,naResexBaixoJuruá.
Parâmetro Tartaruga
(P.expan-
sa)
Tracajá
(P. unifilis)
Iaçá (P.
sextuber_
culata)
Phrynops
raniceps
Número de
animais
4 26 84 1
Comprimento
da carapaça
(cm)
34,7±8,9 22,2±5,1 17,3±3,7 27,5
Peso (kg) 4,1±2,8 2,2±1,5 0,61±0,3 2,45
Idade (anos) 8 6,7±2,2 3,6±0,8 -
Razão sexual 75%
Machos
53,8%
machos
72,8%
machos
1 fêmea
Esses valores são similares aos encontrados por Andrade et al.
(2006) para quelônios capturados no início e no final da vazante,
na Resex Médio Juruá, para
96
1) Criar critérios técnicos ambientais para instalação para
estabelecer diagnóstico ambiental no sentido de prever
conseqüências potenciais necessárias para a instalação,
operação emanutenção das condições ambientais.
2) Desenvolver instrumentos e metodologias visando o
desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais
educativos e outros instrumentos para a prática da criação
animal;
3) Implementar um de sistema de informação para estabelecer um
sistema de manutenção de informações para organizar a
documentação e todas as informações necessárias à execução da
atividade;
4) Proporcionar ações educativas e de capacitação visando
estimular e apoiar a participação dos responsáveis na
formulação de políticas para o meio ambiente, bem como a
concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do
meio natural, social e cultural, através da implementação da
educação ambiental.
5) Controle operacional para estabelecer e manter instrumentos
para verificar, investigar e corrigir através de inspeções,
auditorias ambientais e ações corretivas e preventivas.
Agradecimentos
Especial agradecimento à profa. Cassandra Guimarães de
Freitas, por acertadas críticas e sugestões valiosas, igualmente à
Fachin-Teran e aos professores Gilberto Peixoto, Ubirajara Boechar,
Andrea Waichman e Elizabeth Santos, pelo apoio e colaboração. À
todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente para a
realização deste trabalho. Ao programa do Trópico Ùmido-
PTU/CNPq, pelo apoio logístico.
439
que o interesse pela criação de quelônios é apenas um fator
econômico e , portanto , não há compromet imento ,
conhecimentos básicos das espécies, dos custos, entre outros
aspectos, para a efetividade da sustentabilidade da atividade.
Os criadouros funcionam de acordo com a disponibilidade
do local e são implantados sem qualquer planejamento, controle
dos resíduos, condições ambientais e disponibilidade dos
recursos que atendam às recomendações das normas ambientais
(ABNT, 1996), e assim, proporcionem bom funcionamento aos
criadouros implantados ou que venhama ser implantados.
Para a operacionalização recomenda-se a adoção efetiva
de um técnico habilitado, com o objetivo de disciplinar o
gerenciamento, supervisionar, planejar, bem como proporcionar
treinamento do pessoal envolvido, assegurando um desempenho
melhor das funções e evitando as conseqüências potenciais dos
procedimentos operacionais.
O órgão fiscalizador deverá propor mudanças de
comportamento passando de uma ação fiscalizadora para uma
gerenciadora do planejamento e administração, baseada em
compromissos ambientais e sociais.
Com base nas constatações realizadas, pode-se propor
que os estabelecimentos pesquisados propiciem a gestão
ambiental nos modelos propostos por Macedo (1995) e ABNT
(1996) visando maior sustentabilidade dos recursos e maior
produção, tendo como estratégias básicas:
Recomendações
438
comprimento de carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm;
t raca jás=21 ,27-5 ,96 cm; iaçás=17,2-8 ,71cm) , peso
(tartarugas=1,65-4,3 kg; tracajás=2,01-2,41 kg; iaçás=0,61-0,64
kg), idade (tartarugas=3,68-6,7 anos; tracajás=2,6-6,25 anos;
iaçás=2,91-5 anos) e razão sexual (tartarugas=18,2% machos;
tracajás=90,9%machos; iaçás=56,67%machos).
Figura 16: Quelônios capturados na Resex Baixo Juruá: a)
; b) ; c) Podocnemis sextuberculata; d) Podocnemis
expansa. Fonte: Vinicius T. Carvalho.
Podocnemis
unifilis Phrynops raniceps
Os filhotes de tracajás, recém-eclodidos, apresentarammédia de
comprimento da carapaça igual a 4,29 ± 0,26 cm, sendo o peso
médio de 15,18 ± 3,53 g. Filhotes de tartaruga encontrados em
cativeiro no igarapé do Breu apresentaram 5,65 ± 0,06 cm de
comprimento da carapaça e 31 ± 0,82 g de peso. No Médio Juruá,
Andrade&Nascimento (2005) encontraram filhotes de
97
tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso
de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio
Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a
4,9 cm e pesomédio de 22 g.
Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus
infestado pormais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas
pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já
haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis
unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou
tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17
apresenta o Phrynops nasutus infestado.
Figura 17: Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e
capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006.
Fonte: ErmelindaOliveira.
O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de
quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, através do projeto
com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as
possibilidades de manejo do recurso, apresentados no final deste
capítulo.
98
O acompanhamento dos custos é muito importante por
garantircompensações econômicas, além de diversas outras
vantagens. Para isso, é necessário que o criador conheça os custos
associados à implementação do criadouro, assim como os
benefícios obtidos para que sua propriedade torne-se competitiva
no mercado e possa proporcionar sustentabilidade ao
empreendimento.
A falta de conhecimento do número de animais a serem
doados para criação torna-se um fator negativo, pois não se sabe o
impacto que a retirada desses animais da natureza poderá
proporcionar ao ambiente, sem causar desequilíbrios nas
populações.
A implementação da criação de quelônios requer o uso de
mecanismos capazes de internacionalizar os custos dos recursos,
com base no princípio poluidor/pagador. De acordo com a ABNT
(1996), a exigência pela conservação ambiental faz com que os
empreendimentos implementem a gestão ambiental, com a
finalidade de equacionar as diferentes práticas com a qualidade do
meio ambiente e a internalização dos custos/benefícios para a
sociedade.
A criação de quelônios surgiu a partir das condições que a
legislação criou, em que a questão ambiental foi tratada nos
empreendimentos apenas como uma exigência legal, tendo como
responsabilidade técnica apenas o caráter fiscalizador, não
contemplando ações educativas que proporcionem o
comprometimento de todos os participantes no processo.
Os criadores, por serem, na maioria, de outro estado,
possuem pouco conhecimento da realidade amazônica e apesar de
desenvolverem atividades com a criação animal, observou-se
Considerções finais
437
dos recursos, proporcionaram a criação de normas e legislação
ambiental que têm exigido das organizações de qualquer grandeza
ou tamanho a incorporação da variável ambiental na alocação de
recursos (Assayag, 1999). A não inclusão da internalização dos
efeitos externos ao meio ambiente, na ocasião da implantação do
criadouro, poderá, futuramente, comprometer a atividade e
inviabilizá-la devido à incorporação primária e direta da natureza. A
falta de normas na infra-estrutura do local pode implicar na
captação de água – o percurso do igarapé – com mortes ou aumento
de outros organismos, além do comprometimento da água usada
pela população circunvizinha.
A efetivação recente dos criadouros pode estar relacionada à
desburocratizaçãodoórgãofiscalizador quefomentouaatividade,
para que os que estivessem irregulares viessem para a legalidade
e/ou por ter despertado nos criadores uma nova opção de renda.
Para que seja uma atividade de perspectiva de renda deverá assumir
um compromisso com o melhoramento contínuo, considerando os
problemas reais e potenciais, conforme sugere a ABNT (1996). O
objetivo é proporcionar competências ao pessoal envolvido, combase
em educação, treinamento e/ou experiências apropriadas,
proporcionando compreensão, atitudes e valores.
A ABNT (1966) recomenda que as organizações estabeleçam e
mantenham procedimentos para identificar as necessidades de
treinamentos dos envolvidos. A criação de quelônio tem caráter
técnico e é necessário que o responsável e todos os envolvidos
recebam treinamentos para assegurar a qualificação, assim como é
preciso responsabilizar atribuições na área técnica e ambiental para
proporcionarmelhor desempenho das atividades.
436
B)RIOPURUS
B.1) BAIXO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA BIOLÓGICA
DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA
ENSEADA, PIRANHASEOUTROSEMTAPAUÁ/AM
PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS
DAAMAZÔNIA”
O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo
nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado desde
1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático iniciado a
partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais
Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do
PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas
(Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas
naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, mas,
também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e
humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos,
parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que
desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela
Ufam, bem como um acompanhamento técnico mais
especializado, tem fornecido ao RANmelhores indicadores sobre
a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos
maiores informações sobre essa que é a maior praia de
reprodução de quelônios do Amazonas.
Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de
Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo Fundo Nacional do Meio
Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos para
que trabalhássemos outras comunidades na calha do rio Purus.
Para a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a comunidade
Piranhas, emTapauá.
99
Figura 18: Tabuleiro do Abufari, Equipe da Ufam, 1998. Foto:
ProjetoDiagnóstico (Andrade, P.C.M.).
Em julho daquele ano iniciamos os trabalhos em Tapauá
participando da primeira excursão o engenheiro-agrônomo Pedro
Macedo (RAN-AM), a bióloga Maria Gorete e a socióloga Sarah
(RAN Central). Nessa viagem foram feitas várias reuniões de
prospecção nas comunidades Enseada, Piranhas, Bem-te-vi,
Fazenda e Pupunhas. Ficou acertado então que a comunidade
Enseada trabalharia na proteção da praia do Bananal, com os
agentes Daniel, Noel, Isaquiel e Oziel. A comunidade Piranhas
também aceitou realizar os trabalhos. Na praia do Bananal, os
trabalhos de fiscalização e monitoramento de quelônios foram
realizados contando com o treinamento e o apoio por parte da
Rebio Abufari. Em 2002 e 2003, por falta de recursos, o trabalho
naquelas praias foi abandonado.
TABULEIROS DA RESERVA MUNICIPAL
DOJAMANDUÁ, AXIOMA, NAZARÉ, CURUZUEPORTOALEGRE,
EMCANUTAMA/AM
B.2) MÉDIO PURUS:
OstabuleirosCuruzu,Nazaré, Axioma,SantaBárbaraeSantaCora,
notrechodobarrentoeenovelado
100
Quadro 2 – Instruções/procedimentos para a construção de barragens.
Itens (%) TIPOS F
Á
G
U
A
N=
30,4
S=69,2
Escoamento/abastecimento
Fazcontrolecomcal
Procurouconversarcomengenheiro
Renovaçãonaturalnabarragem
Usousacodeserrapilheira
Construiuforadoleitodoigarapé
Aproveitouosmananciais
Examinouaqualidaded’águaantesde
construirabarragem
1
1
1
1
1
1
1
1
S
O
L
O
N=53,8
S=46,2
Escolheuotamanhomínimopara
escavação
Foiaterrado,anteseraencharcado
Foiaterradoconformerecursostécnicos
Osolofoianalisadoportécnicosda
Emater
1
1
2
1
V
E
G
E
T
A
Ç
Ã
O
N=38,5
S=61,5
Deixouavegetaçãonaturalaoredorda
barragem
Estáplantandofruteiraspararecuperar
olocal
Manteveumaáreacomvegetação
natural
Acimadabarragemondehávários
animaissoltos
Obedeceurecomendaçãodetécnicosdo
Inpa
Nãorespondeu
5
2
1
1
1
1
Resí_
duo
Orgâni
co
N=92.3
S=7.7
Emboracontrolando,hápoluiçãodevido
aosrestosorgânicos
1
S=sim N=não
Nas últimas décadas, o crescimento das atividades de produção
e consumo e, conseqüentemente, o aumento de lançamentos de
resíduos nosmeios receptores, bem como autilização excessiva
435
Quanto à finalidade dos criadouros, para a conservação da
espécie, as respostas destacaram-se em ajudar na diminuição da
predação dos animais e a manutenção das matrizes, embora
verificou-se que 84%dos criadores ainda não construíram o sistema
para a reprodução dos animais, o que mostra o não atendimento da
exigência da Portaria n. 142/92 (Ibama, 1992b), artigo 7º, parágrafo
2º.
A opinião dos criadores sobre:
1) combate ao comércio ilegal de quelônios: sugeriram fiscalização
rigorosa envolvendo as forças do exército, marinha e
aeronáutica.
2) a importância principal em criar quelônios é ganhar dinheiro.
Entre os criadores, um pretende, com a criação, saldar sua
dívida comumempréstimorealizado no banco.
Na avaliação ambiental observou-se o uso direto dos cursos
d'água nas instalações, que funcionam como meio de captação de
água e onde são lançados os efluentes que podem comprometer a
qualidade dentro e fora dos viveiros. Impor aos outros usuários uma
série de custos sociais, uma vez que as descargas dos restos
orgânicos são lançadas ao ambiente sem nenhum controle da
poluição (Quadro 2).
434
Purus, que vai de Tapauá a Lábrea, passando por
Canutama, têm recebido proteção desde 1984, pelo
IBDF/Ibama-AM, tornando-se áreas conhecidas pela produção
de quelônios. Naquelas áreas de antigos seringais, alguns
herdeiros de seringalistas, como a sra. Sebastiana Paixão
Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes (Praia do Nazaré) e o sr.
Damião Santos (Praia do Curuzu, Porto Alegre e Aramiã),
preocuparam-se em, anualmente, solicitar autorizações para
protegerem suas praias, o que tem sido feito regularmente, sem
acarretar gastos para o Ibama. Todavia, sem uma presença mais
efetiva do órgão federal de fiscalização e controle ambiental,
desde 1996, a situação tornou-se crítica.
O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a
prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservas
municipais de quelônios, em Jamanduá e em Axioma. No
Jamanduá, a prefeitura mantém um flutuante e paga quatro
agentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e
Turismo. Em Axioma, em 2000 e 2001, uma parceria com o Poder
Judiciário permitiu que um rancho mensal e bandeiras fossem
destinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com o
salário de umagente.
Figura 19: Equipe da Reserva Municipal do Jamanduá, Canutama/AM. Foto:
RAN/AM (Costa, P.M.).
101
Figura 20: Base do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa,
P.M.).
Figura 21: Placa do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM
(Costa, P.M.).
Em2001,comapredisposiçãodoRAN-AMemaumentaronúmerode
populaçõesdequelônios
102
Entreasespéciesdoadasparacriaçãoverificou-se
PodocnemisexpansaePodocnemisunifilis.Ototaldeanimais
recebidoporcriadorvarioude7.392,15 7.522,68animais
(Tabela4).
+
Tabela4 – Númerosdeanimaisdoadosparacriação.
Númerode
animaisdoados
Média DP Mínimo Máximo N
QUANTIDADE
RECEBIDA
QUANTIDADE
ATUAL
TEMPODE
RECEBIMENTO
7.392,15
7.979,15
1,9231
7.522,68
6.841,90
0,77595
835
835
1,000
25.000
21.000
5,000
13
13
13
Os meios utilizados para transportar os animais do tabuleiro de
desova para os criadouros foram barco e avião (Tabela 5). Segundo
os criadores, o avião parece ser o melhor meio, embora seja o mais
caro, sendo a melhor opção, pois, a mortalidade dos animais é
menor, em virtude do acondicionamento que deixa os animais
menos vulneráveis a doenças.
Tabela 5 –Meio de transporte dos animais dos tabuleiros para os criadouros.
TIPO FREQ. (%)
TEMPO
GASTO
FREQ. (%)
AVIÃO
BARCO
3
10
23,1
76,9
DIAS
HORAS
SEMANAS
7
3
3
53,8
23,1
23,1
433
Os dados representados no Quadro 1 mostram um custo anual, por
tartaruga, de R$ 2,93, indicando que em média uma tartaruga com
cinco anos de idade pode estar custando R$ 15,00,
aproximadamente.
Quadro 1 – Custos totais, médios e participação percentual da criação de
quelônios no estado do Amazonas, no ano de 1999.
CUSTOS
FIXOS
CUSTOS VARIÁVEIS %
PARTICIPA
ÇÃO
S/ CUSTOS
TOTAIS
ITENS
(R$) (%) (R$) (%) (%)
Depreciação
Rem. Capital
Mão-de-obra
Alimentação
Mão-de-obra
Combustível
Manutenção
Transporte
Outros
Total
%participação
s/ custo total
Custo médio
16,021,50
19.050,90
11.575,00
-
-
-
-
-
-
46.647,40
25,38
0,74
34,35
40,84
24,81
-
-
-
-
-
-
100,00
-
-
-
-
-
96.047,25
7.871,50
10.644,00
14.773,25
5.970,00
1.817,20
137.123,20
74,62
2,19
-
-
-
70,05
5,74
7,76
10,77
4,35
1,33
100,00
-
-
8,72
10,35
6,30
52,50
4,48
5,80
8,40
3,35
0,10
100,00
100,00
2,93
432
protegidas no Amazonas, foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do
Jamanduá,Axioma,Nazaré,Curuzu ePortoAlegre.
Figura 22: Ninho de tartaruga (P. expansa), Praia do Curuzu,
Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).
O Jamanduá é um tabuleiro que fica a 40 minutos, de bote
com motor de popa 40HP, da sede do município e mede 1.500 m x
300 m. Seu monitoramento pela prefeitura começou em 1998
quando foram registrados 11 ninhos de tartaruga e 7 de tracajá.
Em 1999, foram 56 ninhos de tartaruga e 27 de tracajá e, em
2000, 117 tartarugas e 100 tracajás desovaram naquela praia, o
que demonstramais uma vez que, se existe uma população boa de
quelônios, na região, eles rapidamente ocupamo espaço, propício
pelas áreas conservadas, tornando os resultados altamente
positivos em curto espaço de tempo. A administração municipal
do sr. Raimundo Amorim, com apoio do sr. Antônio Apolinário, da
Funasa, possibilitaram o monitoramento do RAN-AM a partir de
2001. No tabuleiro Nazaré, que mede 800 m x 250 m, o apoio foi
dado pela sra. Dulce Paixão.
B.3) ALTOPURUS
Os tabuleiros a partir de Lábrea/AM, no rio Purus, são monitorados pela
equipe do RAN/AC, em função da maior proximidade daquelas áreas com a Gerex
doAcre.
103
Mesmo assim, enviamos técnico doRAN-AMedoEsreg, deBoca doAcre eLábrea,
para acompanharem, em 2001, os trabalhos de execução do projeto FNMA, nas
comunidades do rio Purus, noAmazonas.
Figura 23: Reunião com comunidades em Lábrea, Projeto
Quelônios, FNMA. Foto: RAN.
C) RIOMADEIRA
C.1) PRAIADONAZARÉ –MANICORÉ/AM
A praia do Nazaré está situada próxima à cidade de
Manicoré, no leito do rio Madeira. Essa praia servia de porto para
comunitários que trabalham grandes roçados na várzea.
Todavia, diversos quelônios dela se utilizam durante o período
reprodutivo. Através das informações do CNPT/AM fomos
orientados sobre a possibilidade de realizarmos o trabalho de
conservação de quelônios naquela praia, com o apoio do Esreg do
Ibama local. A Tabela 10 apresenta a evolução dos trabalhos de
conservação de quelônios naquela praia.
104
RESPONSÁVEL TÉCNICO
0
1
2
3
4
5
6
BIOLOGO
ENGPESCA
IDAM
UA
MÉD.VETERINÁRIO
TECNOLABORATÓRIO
Figura 3 –Responsável técnico.
A maioria dos funcionários foi selecionada principalmente
por indicação de outras pessoas, observando-se a não-exigência de
critérios e conhecimentos para o desenvolvimento das atividades,
assim como foi notada a falta de programas de treinamento e/ou
sensibilização dos funcionários.
Na avaliação dos custos, observou-se que não há registros
sistematizados dos fatos que ocorrem nas propriedades. Os dados
foram estimados com base em informações provenientes de
anotações e de estimativas. A participação dos custos fixos sobre
os custos totais é de 25,38% e os custos variáveis participam com
74, 62%. A alta participação destes últimos é a alimentação com,
a p r o x i m a d a m e n t e , 5 2 % . O g a s t o c o m r a ç ã o
(alimentação/ano/animal) ficou em torno de R$1,53%. Resultado
consistente com o estudo realizado por Costa (1999), com 350
animais em cativeiro, que identificou um custo de R$
1,58/animal/ano, referente à alimentação.
431
Tabela2 – Tamanhodaárea(m )entreoscriadouros.2
TAMANHODA
ÁREA
MÉDIA DP Mínimo Máximo N
BARRAGEM
BERÇÁRIO
TANQUE
PROPRIEDADE
1.430,96
1.027,89
421
2.000,52
1.304,42
2.212,87
384,431
3.650,98
2,630
4,000
25
1,000
3.000
6.844
900
131,40
9
9
6
13
A efetivação da criação de quelônios ocorreu por volta dos
anos de 1970, em função da implementação da primeira portaria,
registrando-se um interesse maior nos últimos cinco anos, maior
aprovação dos projetos técnicos nos anos de 1995/2004 (Tabela 3).
Tabela 3 – Intervalos de aprovação dos projetostécnicos entre os criadores.
APROVAÇÃO DOS
PROJETOS
FREQÜÊNCIA (%)
1995-1996
1997-1998
1999-2000
2001-2004
4
4
5
33
8,7
8,7
10,9
71,7
O acompanhamento técnico foi efetuado por profissionais
indicados por pessoas ou órgão (Figura 3), apenas para efetivar a
aprovação do empreendimento, sem assegurar, no entanto, o seu
comprometimento paramonitorar as atividades.
430
2001 2002 2003Espécies
Ninhos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes
Iaçá 140 681 1.252 18.200 17.565 1.338 21.595 18.516
Tracajá 25 103 71 1.980 1.620 71 2.206 1.737
Tartaruga 6 359 9 866 636 15 1.604 1.158
Total 171 1.143 1.332 23.076 19.821 1.424 25.405 21.411
Tabela 10: Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro do
Nazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/IbamaManicoré (2003).
A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro, com o pico de
desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam de julho a setembro, com pico
emagosto.Tartarugas desovamde agosto a outubro, comopico de desova emsetembro.
Figura 24: Praia do Nazaré, Manicoré. Foto: Esreg/Ibama,
Manicoré/AM.
105
C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO
IGARAPÉDOBOTO, IGARAPÉDOMURUTINGA, IGAPÓAÇU.
O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas
escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo
encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a
vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema
diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de
areia ou barrancos de várzea, tracajás ( ) e,
principalmente, irapucas ( ) desovam no meio do
folhiço úmido, como as muçuãs ) que
desovamnomangue.
As características diferentes desse sítio reprodutivo de
quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área,
monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a
reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas
três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041
filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por falta
de recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de
2002 e 2003.
Podocnemis unifilis
P. erythrocephala
(Knosternon scorpioides
Figura 25: Área de desova do rio Matupiri, Borba/AM. Foto: RAN/AM
(A.Vicente).
106
Tabela 1: Perfil socioeconômico dos criadores de quelônios.
FAIXA
ETÁRIA FREQ %
NÍVEL
ESCOLAR FREQ. %
20-39
anos
40-59
anos
60-79
anos
1
8
3
8,5
66,7
25,0
Semi-analf.
1ºGrauinc.
1ºGraucomp.
2ºGraucomp.
Sup.Inc.
Sup.Comp.
1
3
1
3
1
3
8,3
25,0
8,3
25,0
8,3
25,0
PROFISSÕES FREQ. %
RENDA
FAMILIAR FREQ. %
Administrador
Advogado
Agricultor
Aposentado
Comerciante
Engenheiro
Pescador
1
1
3
1
4
1
1
8,3
8,3
25,0
8,3
33,3
8,3
8,3
1-10SM
11-15SM
16-20SM
5
4
3
41,7
33,3
25,0
A estrutura operacional dos criadouros é, na maioria,
localizada em zona rural, abastecida de água de igarapé e energia
elétrica pelas Centrais Elétricas do Amazonas (Ceam). São, na
maioria, manejados por pessoas físicas (61,5%), com sistema de
criação do tipo semi-intensivo (69%), e objetivos de criar quelônios e
o comércio dos animais (84,5%). Não há normas para o
estabelecimento das dimensões e tipos de recintos, como tamanho
da área variando de 2.000,52 3.650,98m, represas de 1.430,9
1.304,42m, berçário de 1.027,89 2.212,87m e tanque de 421
384,43m (Tabela 2). Neste caso, a recomendação deveria estar
condicionada à qualidade de animais e fase de criação.
+ +
+ +
429
Os dados foram elaborados em uma planilha e aplicou-se
estatística descritiva com distribuição de freqüências e teste de
Kruskal-Wallis (P>0,05), a fim de comparar as variações dos
parâmetros encontrados entre os criadores e o padrão estabelecido
pelo Conama (1996) Resolução nº 020/96, para estabelecer o nível
de significância entre as médias e agrupar, entre os criadouros, os
que apresentammelhores condições de funcionamento.
A criação de quelônios no estado do Amazonas é atualmente
composto por 33 criadouros legalizados, funcionando de acordo
com a disponibilidade dos recursos de cada um e a utilização de
práticas impróprias demanejo.
O perfil socioeconômico dos criadores revelou faixa etária em
torno dos 40 anos, grau de escolaridade no ensino médio,
profissões, com maior freqüência, de comerciante e de agricultor.
Dados consistentes com Costa (1999), renda familiar com maior
percentual na faixa de 5 a 10 saláriosmínimos (Tabela 1).
Resultados e discussões
428
D) RIONEGRO
D.1) PRAIADAVELHA – PARNAJAÚ –NOVOAIRÃO/AM
As praias do rio Negro, historicamente, abastecem a
cidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a
culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública.
Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foram
capturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enorme
pressão levou a uma drástica diminuição dos estoques das
populações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucas
são as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nos
tabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró e
Mussum.
Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, o
RAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam,
Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram os
trabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em
2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% de
tartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de
irapucas).
É uma praia situada próxima à base do Parque Nacional do Jaú,
em Novo Airão. Essa praia de areia branca e fina abriga os sítios
reprodutivos de gaivotas, corta-águas, iaçás, tartarugas,
irapucas e tracajás. Com recursos do RAN/AM, os técnicos da
Ufam contrataram dois agentes de praia na comunidade mais
próxima porque a praia já está bastante depredada, visto que,
além dos comunitários que tiram ovos e animais adultos, ela é
alvo de barcos de recreio ou de particulares que alcançam
facilmente suasmargens, já que ela fica em área de tráfego fluvial
(canal navegável do rio), sendo rota obrigatória dos barcos que
sobem o rio Negro. Em2000, foi registrado umninho de tartaruga
na praia da Velha
107
Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação
humana, entretanto, lotes de queixadas (Tayassu tajacu)
atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos,
duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos
para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o que
permitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes
alocados emberçários namesma ilha.
Figura 26: Placa da Praia daVelha, Parna Jaú, NovoAirão/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e
J. Pezzuti).
Em 2002, 10 tartarugas desovaram em Cauixi. A produção em
2003, foi de 171 ninhos de iaçá e 13 de tartaruga, com produção de
1.189 iaçás, 36 tracajás, 9 irapucas e 656 tartarugas, o que
demonstra, como comentamos anteriormente, a rápida recuperação
dos tabuleiros por meio de trabalhos efetivos de conservação. A
partir de 2003, foram protegidas outras praias no parque, como
Maquipana, do Boi, Traíra e dos Pretos, o que permitiu a proteção de
16 ninhos de tartaruga. Em 2004, 18 ninhos de tartaruga e 85 de
iaçás foram protegidos. Desde 2002 esses trabalhos vêm sendo
realizados pelos analistas do Parque Nacional do Jaú, como o
médico-veterinárioMarcelo Bresolin.
108
função demodelos de desenvolvimento exploratórios e predatórios.
As propriedades escolhidas para os estudos foram em função
dos criadouros licenciados pelo Ibama, localizados em Manaus e
municípios próximos.
Emumprimeiromomento, foram realizados contatos iniciais
com os proprietários dos criadouros, a fim de solicitar autorização. A
partir daí iniciou-se o trabalho comobservações diretas das
instalações, rede hidrográfica, dimensões dos viveiros e a
composição da vegetação, com a finalidade de realizar o diagnóstico
ambiental.
Entrevistas foram feitas com 13 criadores que detalharam
questões sobre o levantamento dos aspectos relacionados aos meios
socioeconômico e físico, a fim de estabelecer o perfil dos
criadores/criadouros. Também foi verificada a estrutura
operacional dos criadouros.
Posteriormente, definiu-se a análise da água para avaliar
entre os parâmetros químicos os efeitos de impactos diretos e
indiretos causados ao ambiente. Para isso, efetuaram-se medidas
no campo da condutividade elétrica, temperatura e oxigênio
dissolvido, utilizando um condutivímetro digital tipo WTW e
peagômetro tipoWTW, para determinar o pH.
Amostras de água foram coletadas em garrafas de polietileno
e frascos de vidro com tampa esmerilada. Análises foram realizadas
no Laboratório de Limnologia /Depesca/Ufam, segundo Golterman,
et al. (1978), para determinar os parâmetros químicos: DBO
(Demanda Biológica de oxigênio0, DQO (demanda química de
oxigênio), compostos nitrogenados: nitrato (N02), nitrito (N03) e
amônia, fósforo (P04) e dureza.
Metodologia
427
Atividadesdosqueloniocultores
30%
30%
10%
10%
20%
Outrasatividades
Comerciantes
ProdutorRural
Construtura
Hotelaria
Figura 2:Atividades dos queloniocultores.
11.2 Caracterização socioeconômica e ambiental das
criações comerciais de quelônios
Área de estudo
Neste outro trabalho, iniciado em 2000, teve-se por objetivo
caracterizar as condições de funcionamento dos criadouros de
quelônios, através de um levantamento mais detalhado, como forma
de garantir novas alternativas de uso sustentável diante das atuais
técnicas de manejo dos recursos naturais, estabelecer o perfil
socioeconômico dos criadores/criadouros, identificar fatores de
impactos ambientais, bem como verificar a viabilidade econômico-
ambiental, a fim de propor ummodelo de gestão socioambiental para
as atividades de produção animal.
O estado do Amazonas possui fortes tradições culturais, e por
dispor de recursos naturais diversos, as características de usos e
costumes de seus habitantes concentram-se nesses recursos.
Assim, os recursos da fauna amazônica vêm servindo a alimentação
humana há milhões de anos, com a alteração dos ecossistemas em
426
Figura 27: Praia da Dulumina, Barcelos/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J.
Pezzuti).
Em 2006, os trabalhos em Barcelos foram retomados pela Ufam.
O acadêmico de engenharia de pesca, Radson, começou a
desenvolver com a Secretaria de Meio Ambiente o Programa Pé-de-
Pincha com as comunidades de Ponta da Terra, Campina do Quatro,
Campina do Careca, Campina do Cairara e Praia da Alegria. Foram
transferidos 32 ninhos de tracajá e 50 de irapuca, em um total de
1.200 ovos, dos quais 408 filhotes nasceram e foram devolvidos à
natureza.
109
E) RIOUATUMÃ
TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUACÁ, EM
PRESIDENTEFIGUEIREDOESÃOSEBASTIÃODOUATUMÃ/AM.
O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF, desde 1986,
todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A Manaus Energia, através dos
trabalhos do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na
UHE de Balbina, tem trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a
montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do RAN/AM
(combustível, pagamento de agentes de praia, ranchos, etc.) a bióloga Sandra do
Nascimento treinou agentes de praia e monitorou sítios reprodutivos de quelônios no
igarapé do Jarauacá, tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva
Biológica doUatumã.
Figura 28: Praia artificial da UHE Balbina, Presidente Figueiredo/AM.
Foto: CPPQA/RebioUatumã.
Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio 2.048 filhotes de
e 1.421 deP. unifilis
110
Quanto ao tipo de alimento fornecido, observou-se que
animais alimentados à base de proteína animal superam os
alimentados com proteína vegetal em ganho de peso. Observou-se
que a densidade de 78 indivíduos/m proporciona um bom
desempenho aos animais. A tartaruga (P. expansa) parece superar o
tracajá (P. unifilis) e o iaçá(P. sextuberculata) em ganho de peso.
Animais provenientes de Uatumã-Balbina/AMpossuem tendência a
obter maior ganho de peso que os provenientes do Abufari-
Tapauá/AMeRio Branco-RR.
2
Figura 1: Tamanho das propriedades.
425
para caracterizar a produção de quelônios no estado, o que serviu
para inferir sobre omelhor sistema de criação utilizado.
Quanto à localização, 21,66% dos criadores estão situados
em áreas do município de Manaus, 21,66% em Manacapuru,
21,66% em Iranduba, 21,66% em Rio Preto da Eva, 6,6% em
Manicoré, 3,7% em Itacoatiara, 1,8% em São Gabriel da Cachoeira e
1,8% emLábrea.
O tamanho das propriedades variou de 8 a mais de 6.000 ha,
sendo a maioria entre 9–35 ha, com média de 22 18,384 ha (Figura
1). As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria estivesse
entre 1 e 2 ha, e os berçários de 30 amais de 1.000m . Amaior parte
dos criatórios possui densidade de berçário entre 0,5 e 5
indivíduos/m .
Quanto às atividades dos criadores, têm-se a maior parte
exercendo a atividade de comerciantes, encontrando-se também
agricultores, advogados e donos de rede de hotelaria (Figura 2).
O número de animais por criador variou de 600 a mais de
22.000 indivíduos, sendo 60% com número de 1.000 a 5.000
indivíduos, o que é considerado um número pequeno para a
atividade comercial. A alimentação fornecida ficou distribuída entre
vísceras bovinas, restos de feira (verdura), peixe, peixe + puerária e
ração, sendo que a maioria fornece peixe, havendo uma tendência
para adotar ração, pelo menos na fase inicial, seguindo as novas
orientações técnicas fornecidas.
2
2
424
P. expansa P. sextuberculata P. erythrocephala, 20 de e 22 de , noLago doMaracanã, nas
praias artificiais deBalbina e no igarapé do Jarauacá.
Figura 29: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:
RAN/NA (J.A.M.Duarte).
Figura 30: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:
RAN/NA (J.A.M.Duarte).
111
Figura 31: Mapa das Áreas de reprodução de quelônios na Rebio
Uatumã. Foto: RebioUatumã/Ibama-AM.
112
pesquisas, levantar estratégias zootécnicas, considerar os fatores
jurídicos e ambientais e proporcionar treinamentos para os
funcionários, com a perspectiva de que as relações e as
interferências sobre o ambiente tornem-se irreversíveis.
Em 1997, a Ufam e o Ibama, iniciaram um diagnóstico dos
criatórios de quelônios no Amazonas. Posteriormente, em 2000, foi
realizada a caracterização socioeconômica e ambiental dessas
criações comerciais de quelônios. Os resultados desses dois estudos
e as informações sobre a primeira comercialização ocorrida no
estado, em1999, são apresentados neste capítulo.
Com os dados obtidos nos questionários feitos aos criadores,
ou técnicos, de cada propriedade foi possível o diagnóstico da
situação quanto ao tamanho das propriedades, instalações
(barragens ou represas e berçários), densidade do berçário, número
de animais de cada criadouro, atividades do criador, tipo de
alimentação fornecida aos animais, doenças, predadores, etc.
Neste estudo foram acompanhados os criatórios de
tartaruga (P. expansa) e tracajá (P. unifilis), licenciados pelo Ibama
no estado do Amazonas até 1999, onde pôde-se fazer a análise dos
novos criatórios registrados e a avaliação do desempenho da nova
população explorada pelo Ibama para fornecimento dos filhotes
(Tabuleiro de Sororoca-Rio Branco/RR). Esse acompanhamento foi
feito através de biometrias bimestrais nos criadouros, onde
registrava-se, atravésde questionários específicos e entrevistas, as
características de cada sistema de produção, tais como:
alimentação, tipo e tamanho de instalações, densidade de cultivo,
características da água, manejo, equipamentos, etc. Os animais
foram medidos e pesados. Os dados obtidos foram sistematizados
11.1 Diagnóstico dos criatórios de quelônios no estado
do Amazonas
423
No entanto, apesar de as estratégias de manejo estarem
sendo desenvolvidas desde 1986, o processo de criação animal em
sistema artificial foi implantado com práticas impróprias devido à
falta de conhecimentos adequados da biologia das espécies,
constituindo em ameaça (Soini, 1997). Por outro lado, não foram
estabelecidas políticas sustentáveis de manejo que se orientam
primordialmente a eliminar e/ou mitigar o impacto negativo das
ameaças ao ambiente.
Conforme a espécie explorada, a ação repercute na
incorporação direta e primária da natureza, em que não sãomedidos
por seus planejadores, o impacto direto e o indireto quanto ao
controle dos resíduos e ao uso dos recursos. Esses fatores são
essenciais para avaliar a viabilidade da atividade e articular as
relações econômicas, sociais e ambientais (Kubitza, 1998). Essas
relações com o meio ambiente são essenciais para o
desenvolvimento efetivo da gestão domeio ambiente.
A gestão do meio ambiente é um processo de mediação que
define e redefine, continuamente, a forma como as diferentes
organizações, através de suas práticas, alteram a sociedade, a
qualidade do meio ambiente e como se distribuem na sociedade os
custos e os benefícios decorrentes da ação desses agentes (Ibama,
1992). Para realizá-la é indispensável acompanhar e atuar sobre os
elementos envolvidos na transformação ambiental e realizar a
gestão de cada um deles (Macedo, 1995), podendo, com isso,
equacionar e/ou levantar os recursos/benefícios, reconhecer e
reavaliar o desenvolvimento dos animais e articular a participação
dos diferentes segmentos sociais, proporcionando o
comprometimento dos seus gerenciadores.
Para contextualizar a criação de quelônios em criadouros
licenciados, futuramente, exigirá a necessidade de estabelecer um
planejamento ambiental antes da sua implantação, priorizar
422
F) RIOAMAZONAS
MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM
PARINTINS/AM
O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de
quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio
do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8
km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante
elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins,
Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que,
naquela região, são animais de porte bastante avantajado se
comparados aos do Purus e Juruá.
Figura 32: Rastro de tartaruga (P. expansa) no Tabuleiro de Vila Nova,
Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F. Clóvis).
A comunidade de Vila Nova realizava na década de 1940 até 1960 a conservação da
área, inclusive commarcação emanejo de ninhos, manutenção de filhotes em berçários
e festas de soltura. Com o aumento da pressão da pesca e a coleta predatória sobre
aquela
113
população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o
trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em
Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a
proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a
chegada do Projeto Pé-de-Pincha em Parintins, o Ibama e a Ufam
começaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de
conservação emVila Nova e adjacências.
Figura 33: Placa de alerta do tabuleiro de Vila Nova,
Parintins/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F.Clóvis).
ORAN/AM começou então a enviar equipes de fiscalização
a partir de abril de 2001. Em maio foi realizada reunião com as
lideranças comunitárias de Vila Nova e marcado o início dos
trabalhos para julho (treinamento de pessoal e monitoramento
de praia). Além das comunidades de Vila Nova, Ilha das Onças e
Guaribas, o trabalho conta com o apoio do sr. Dodó Carvalho,
empresário local e proprietário de parte da área.
ORAN/AMcolocou5placasde4mx2m – queavisam
dotabuleiroeproíbemapescaecaçanolocal – eenvioufiscais
etécnicoscomoapoiodaequipede
114
Capítulo 12: Caracterização socioeconômica
e ambiental da criação de quelônios no estado
do Amazonas e comercialização
AldenizaCardosodeLima
PauloCésarMachadoAndrade
JoãoAlfredodaMotaDuarte
LuizAlbertodoSantosMonjeló
RichardVogt
JandersonRochaGarcez
WanderRodrigues
AnndsonBrelaz
Os quelônios são uma ordem de espécies silvestres da
Amazônia que, durante séculos, têm sido intensamente exploradas
para comércio e consumo humano, entre outras finalidades,
principalmente Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis
classificadas como espécies em estado vulnerável e de baixo risco,
respectivamente, dependente de estratégias de conservação (UICN,
1996).
Para contrapor essa superexploração e consciente de seu
potencial para o uso sustentável, implantou-se a criação artificial
coma finalidade de desenvolver a criação com finalidades comerciais
(Acosta, 1996; Vogt, 1990).
No Brasil, a criação de quelônios surgiu devido ao estímulo à
captura ilegal na natureza; à oferta de produtos e subprodutos; por
ser adaptada à condição ambiental; e aos resultados de trabalhos de
proteção e manejo nas áreas de desovas (Alfinito, 1980; Luz, et al.,
1994). Na Amazônia tiveram início ações para contrapor a
exploração com a finalidade de domesticar e obter excedentes que
permitam o repovoamento onde têm diminuído ou desaparecido as
espécies (Fachin, 1999).
Introdução
421
Figura12: contagemdefilhotesdetartarugaemcercadonotabuleirodo
Abufari.Abaixo:equipedaUniversidadeFederaldoAmazonaseIbamana
baseflutuantedaRebioAbufari,rioPurus/AM.Foto:ProjetoDiagnóstico
(Andrade,P.C.M.1998).
420
professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o
trabalho de proteção da área.
A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador
Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo
Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam,
Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó
Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda
como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes,
sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos
que forammantidos emberçário.
.
Tabela 11: Produção de ninhos transferidos de quelônios no
tabuleiro de Vila Nova – Parintins
Ano/ninho Pitiú Tracajás Tartarugas
2001 108 15 12
2002 120 16 12
2003 276 79 12
2004 186 13 13
2005 47 19 24
2006 217 54 35
Ano/ovos
2001 3.363 467 379
2002 3.615 502 944
2003 5.041 313 1.433
2004 3.120 438 1.116
2005 950 624 2.570
2006 3.472 1.134 3.850
Ano/filhotes
2001 3.610 160 750
2002 3.143 477 900
2003 4.536 281 1.289
2004 4.232 569 1.516
2005 1.990 411 1.667
2006 3.980 484 2.576
115
G) PROGRAMA “PÉ-DE-PINCHA” –MANEJO PARTICIPATIVO DE
QUELÔNIOS EM BARREIRINHA, PARINTINS E NHAMUNDÁ/AM
E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica
Médio-Baixo Amazonas)
O “Pé-de-Pincha” vem sendo desenvolvido como Programa de
Extensão e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam),
desde 1999, estimulando a conservação de quelônios através de seu
manejo participativo. Tendo como espécie focal o tracajá
(Podocnemis unifilis), recebeu o apelido de “pé-de-pincha”, devido às
pegadas desse animal na areia, que se parece com tampinhas de
refrigerante. Ufam e Ibama vêm trabalhando em 78 comunidades do
Médio Amazonas, nos municípios de Nhamundá, Parintins e
Barreirinha/AM e Terra Santa, Juruti, Faro e Oriximiná /PA.O
programa visa o manejo racional e sustentável de quelônios, pelas
próprias comunidades.
Figura 34: Rastro de tracajá ( ), pé-de-pincha no lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.
Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
P. unifilis
116
Figura 10: Filhotes de tartaruga predados por urubu. Observe que só a parte
dianteira foi consumida. Foto: ProjetoDiagnóstico (Andrade, P.C.M., 1998).
Figura 11: Soltura de filhotes de tartaruga na reserva biológica do Abufari, rio
Purus. Observe que ela é feita a noite, no meio da vegetação e distante do
tabueliro, para reduzir a predação. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.
1998).
419
funcionários da Rebio Abufari/Ibama-AMmonitoram atentamente a
praia, vigiando as cercas de tabuleiros desde a madrugada, evitando
que os filhotes sejam predados ainda durante a noite, por aves que
dormem na praia. Nessa época, também realizam contagem (Figura
12) e, posteriormente, a transferência e a soltura dos filhotes. Esta
última é realizada em outramargemdistante da praia, onde realizam
a soltura dos filhotes no meio de plantas aquáticas para reduzir a
chance da predação, por peixes, sobre os filhotes de tartaruga,
tracajá e iaçá (Figura 11).
418
Figura 35:Equipe de campo (comunitários e universitários), lago do
Macurani, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.).
Diversas comunidades rurais do Médio-Baixo Amazonas
que produziam juta, cacau, farinha, hortaliças, etc.,
abandonaram a agricultura, dedicando-se, principalmente, à
pecuária extensiva, à pesca e ao extrativismo, aumentando a
pressão sobre a fauna silvestre. Devido à caça predatória e à
coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo
desses municípios. Animais adultos e ovos são consumidos ou
vendidos para Manaus, Parintins e Santarém. Algumas áreas,
entretanto, foram protegidas pelos comunitários e por
associações, como o Granav (Grupo Ambientalista Natureza
Viva) e Asase-3, em Parintins, a Ascon/Acplasa/ARQMO, no
Lago do Sapucuá/Oriximiná, e ATAAV, em Terra Santa, com o
objetivo de conservar esse recurso natural.
117
Figura 36:AgenteAmbiental retira filhotes de quelônios de berçário, para soltura,Aliança, Lago
doPiraruacá,Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
Em 1999, o sr. Manuelino Bentes “Mocinho Lobo” e
comunitários de Terra Santa/PA procuraram a Universidade
Federal do Amazonas (Ufam) para obter informações sobre
conservação de quelônios. A Ufam reuniu-se com os produtores, o
Ibama e as prefeituras locais para a criação do projeto “Pé-de-
Pincha”. Inicialmente, foram trabalhadas áreas de Terra Santa e
Nhamundá. Em 2000 e 2001, o projeto foi ampliado para
Oriximiná/PA, Parintins/AM e Barreirinha/AM. E em 2004, para
Juruti, Boa Vista do Ramos e Faro. O plano inicial de ação foi
definido emmaio de 1999, no I Seminário Sobre Manejo Sustentável
de Tracajás (255 participantes) em Terra Santa (Andrade et al.,
2005).
Foram capacitados 385 professores das escolas
municipais em educação ambiental; realizadas palestras nas
escolas e comunidades para mais de 67.606 ouvintes; treinados
49 agentes ambientais voluntários; realização de cursos de
alternativas para geração de renda (tecnologia do pescado, criação
caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias,
manejo de quelônios, etc.) paramais de 1.021 pessoas; e foram
118
ariranha (Pteronura brasiliensis), sucuri ( Eunectis murinus), jacaré
(Caiman spp), felinos (Leopardus pardalis e Panthera onca) e o
homem (Alfinito, 1980; TCA-SPT, 1996).
Figura 9: Urubus atacando filhotes de quelônios em Abufari, Purus,
Tapauá. Foto: ProjetoDiagnóstico (Duarte, J. A.M.).
NaReserva Biológica do Abufari –AM (Figuras 9 e 10), foram
observados, em 1998, pelos autores, predadores como aves (urubu e
gavião) e peixes (pirarara, etc.), com ambos realizando um tipo de
“vigilância” na praia onde desovam a tartaruga, o tracajá e o iaçá
(também conhecido por pítiú). No período de eclosão dos filhotes as
aves ficam 24 horas por dia na praia de desova para capturar os
filhotes logo que saíssem da cova. Sendo, no caso das aves, que o
primeiro comportamento observado é o decepamento dos filhotes
para depois forrageá-los. No caso dos peixes, estes ficam a margem
da praia de desova para forragear os filhotes logo que estes entram
na água, pois este caso ocorre com algumas covas distantes umas
das outras.
Na grande maioria, devido ao número de animais que
desovam ser elevado, é feita uma cerca circular, em que há um
considerado número de covas. No período da eclosão, os
417
contaminação bacteriana e na análise micótica foi identificado
novamente o fungo Aspergillus niger. A Figura 8 apresenta os
animais com essas lesões.
Figura 8: Tartaruga, P. expansa com lesões na carapaça e plastrão,
provenientes do ataque de fungos (Fotos: Ikaro).
10.2.2 Predação
Como predadores em condições naturais, pode-se reunir
três categorias: (1) os que aproveitam os ovos, (2) os que consomem
os filhotes recém-nascidos e (3) os que consomem os adultos, em
decorrência do equilíbrio biológico natural e captura pelo homem
pois, em ambas o animal encontra-se nos cursos d'água ou na praia
de desova. A pior das predações parece ser apanhar os ovos, não
obstando que as demais não sejam prejudiciais. Entre os
predadores, tem-se formigas-de-fogo (Prenolepis sp.), jacuraru
(Tupinambis nigropuctatus, T. teguxin), aves (urubu Cathartus
spp., Caragypis atratus foestus; gavião Spazastur spp.; gaivota
Phaetusa simplex). Em uma praia venezuelana, 6% das crias recém-
eclodidas foram predadas por aves, desde o momento de saída do
ninho até chegarem à água: peixes carnívoros (traíra Hoplias
malabaricus; tucunaré Cichla sp.; piranha Serrasalmus sp.;
pirarara Phractocephalus hemioliopterus; pirarucu Arapaima gigas,
aruanã Osteoglossum bicirrhosum), lontra (Lutra platensis);
416
instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339
quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1).
Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238
comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas
com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais;
divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de
850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de
23.400 pessoas nas comunidades e sede.
Desde 2004 o programa conta com o apoio do ProVárzea-
Ibama e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).
Figura 37: Ninhos de quelônios protegidos emAliança, Lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.
Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
Na região foram identificadas 13 espécies de quelônios:
tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis), iaçá (P.
sextuberculata), irapuca (P.erythrocephala), cabeçudo
(Peltocephalus dumerilianus), perema (Rhinoclemmys
punctularia), lalá (Phrynops nasutus), muçuã (Kinosternon
scorpioides), jabuti (Geochelone denticulata e G. carbonaria),
matá-matá (Chelus fimbriatus), jabuti-machado (Platemys
platycephala) e Phrynops spp. De 1999 a 2006, o programa
devolveu à natureza 629.183 filhotes de quelônios (74,4%
tracajás; 7,6% tartarugas; 10,9% iaçás; e 7,1% irapucas),
provenientes de ninhosmanejados,
119
com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ±
16,27% de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ±
4,93 ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos
locais de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás
nasceram pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas
22,52 ± 1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g.
Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá ( ), igarapé dos Currais, Terra
Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade,P.C.M.).
P. unifilis
Figura 39: Técnico do RAN-AM e universitário coletam dados de
ninhos de quelônios, lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-
Pincha (Andrade, P.C.M.).
120
Figura 7: Jovem de tartaruga (P. expansa) de cativeiro com lesão na
carapaça causada por fungos e bactérias. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
O mesmo tipo de lesão foi encontrado em dois exemplares
de P. expansa em criadouro no Iranduba. Um animal apresentava
uma única lesão na carapaça e outro apresentava várias lesões na
carapaça e no plastrão. Aplicou-se, o mesmo tratamento descrito
anteriormente mas, antes foi feita a raspagem do local e realizada
cultura do material biológico recolhido. Não houve resultados para
415
Para Aeromonas:
1)Pode ser feito também um tratamento à base de
tetraciclina (5 mg em 2 ml de água destilada), via estômago, duas
vezes ao dia, durante 5 dias (Murphy&Collins, 1982; Fowler, 1980).
Entretanto, enquanto pesquisávamos o caso, voltamos a
adotar o mesmo procedimento utilizado para a água de filhotes
recém-chegados ao criadouro, ou seja, colocamos 10 gotas de
iodo/100 litros de água no tanque dos animais doentes.
Em 5 ou 7 dias houve uma redução progressiva dos
sintomas dos animais doentes. Animais aparentemente sadios que
foram separados para outro tanque, antes do início do tratamento,
apresentaram os sintomas naquela outra instalação (5 dias depois),
sendo imediatamentemedicados.
Outro caso observado em criadouros de Itacoatiara foi o
aparecimento de ulcerações na carapaça de tartarugas juvenis
(Figura 5). Os animais foram trazidos ao Ibama, isolados e deixados
em recipiente com pouca água (para que o local da lesão se
mantivesse seco). Na lesão foi aplicado iodo e colocado unguento.
Foram feitas aplicações diárias até a perfeita cicatrização do local.
414
Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira
et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no
Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes
(23%), frutos (22%) e plantas (20%), ocupandomaior diversidade
de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de
15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à
disponibilidade, os quelônios mais consumidos são os tracajás
(55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência
seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá
(16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura,
como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são
utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel
(17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos
ribeirinhos afirmam comercializar esses animais, enquanto que
no Juruá, esse número pode atingir de 64-99%. O preço médio é
de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, sendo que, além do
consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como
remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%).
Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados
28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com
microchips) para monitoramento através de recaptura (CMR) e
estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes
manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimou-
se em 5,74% a sobrevivência total até 12 meses. O maior índice
de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. A sobrevivência média
de tracajás na natureza, até 12 meses de idade, foi estimada em
17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi
estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas
áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%.
121
Figura40: Marcaçãodefilhotesdetracajás,commicrochips,
porjovenscientistas – Fapeam,emBarreirinha-AM.Fonte:Jane –
ProVárzea.2007
122
O , bactéria gram negativa, causa a chamada
red leg, que são manchas avermelhadas nos membros com
ulcerações e equimoses, além de anemia macrocítica, leucopenia e
trombocitopenia (Murphy&Collins, 1982; Fowler, 1986).
O é bactéria gram negativa que destrói
os glóbulos vermelhos, causando danos aos órgãos internos, perda
de apetite, letargia, ulcerações e necrose na pele e posterior
paralisia dosmembros inferiores commultilação nos dedos, alémde
filamentos de sangue que cobrem os olhos até atingir um quadro
fatal de septicemia, síndrome conhecida como SCUD (Scepticemic
cutaneous ulcerative disease), que acomete tartarugas aquáticas.
Nestes casos, o parasita pode ser isolado do fígado, coração, sangue,
rins. É uma doença transmitida pela água, sendo mais susceptíveis
tartarugas com escarificações (ferimentos) nas patas (Murphy &
Collins, 1982; Fowler, 1986).
Os tratamentos recomendados na literatura são:
Para :
1) Glorioso et al. (1974): uma dose inicial de 8 mg/100g,
intramuscular de Kaba, quemicetina ou quemisulfan, continuando
o tratamento durante 7 dias, comduas doses de 4mg.
2) Murphy & Collins, 1982: Clorafenicol foi usado
eficientemente em alguns casos com uma dosagem inicial de 6
mg/200 g de peso vivo, no primeiro dia, seguida por uma dosagem
de 3mg/200 g de PV por sete dias. Ou 250mg de clorafenicol por 2,6
litros de água. Colocar nesta proporção na água do reservatório
duas a três vezes por semana, e melhorar a alimentação e exposição
ao s raios de sol (colocar solário).
3) Fowler, 1986: Aplicação de betadina ou iodina (iodo)
localmente, e clorafenicol parenteralmente.
Aeromonas
Citrobacter freundii
Citrobacter
413
Os animais que foram acometidos desse sintoma estavam
em área mais exposta ao sol do que os outros tanques. Filhotes de
tracajá ( ) e iaçá ( ) que estavam em tanques
próximos não apresentaram esses sintomas.
Foi realizada punção timpânica em alguns animais
enfermos, a fim de coletar material para análise. Todavia, o material
que enchia a membrana não era secreção purulenta. Tratava-se de
gás acumulado que cedeu após a punção, desinchando. No dia
seguinte, os animais puncionados apresentavam novamente o
inchaço.
Os exsudatos recolhidos nos animais enfermos, bem como o
material retirado do sangue, fígado e rins de um animal doente, que
foi sacrificado, foram inoculados e analisados pelo Dr. Januário, do
Laboratório de Patologia da Universidade Federal do Amazonas. A
cultura dos exsudatos e do material recolhido dos tecidos revelou a
presença de bactérias do gênero e . Não foram
observadas alterações, em nível macroscópico no fígado, trato
gastrointestinal e rins do animal sacrificado. Cortes histopatológicos
não foram realizados.
O diagnóstico da doença foi feito a partir de revisão
bibliográfica (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1994) cruzada com o
resultado dos exames patológicos dos animais doentes.
Na bibliografia, encontramos que das quatro categorias de
patógenos causadores de infecções em quelônios (patógenos gram
positivos; bacilos gram negativos móveis que possuem citocromo
oxidase e que não possuem; bacilos gram negativos não móveis), os
gêneros e causavam sintomatologia similar
ao caso estudado.
P.unifilis P. sextuberculata
Proteus Citrobacter
Aeromonas Citrobacter
412
Figura 41: Comunitários da Granja, Barreirinha-AM, soltando os filhotes de
quelônios resultado de seu trabalho. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (P.H.G.
Oliveira).
O custo médio do filhote, produzido nesse sistema de manejo
comunitário, é de R$ 0,71 ± 0,06. A rentabilidade para os
investimentos em conservação de quelônios foi estimada em
120,21%, em conscientização ambiental foi de 165,76% e em criação
de quelônios de 183,44%. Através desse programa de conservação
de recursos naturais e extensão, a Ufam tem conscientizado as
comunidades do Médio-Baixo Amazonas para o manejo racional de
quelônios, utilizando a metodologia de pesquisa participativa ou
pesquisa-ação. Os resultados alcançados mostram, a princípio,que
abordar a questão ambiental com a parceria da comunidade tem um
grande impacto na redução do problema, pela valorização do meio
ambiente, o que resultou em ações concretas para a melhoria da
qualidade de vida.
123
Figura 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através de
fantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto:
Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005).
Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por
inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do
Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado
também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama
e a universidade pretendem, através de novas parcerias,
redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o
pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo,
cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a
Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam
interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento
empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um
futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus
recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o
sustento do homem ribeirinho.
2.3. Modelos de crescimento populacional de quelônios, análise
da sustentabilidade e propostas demanejo racional
124
O conteúdo do trato digestivo foi obtido de tartarugas
abatidas oriundas de criadouro comercial em Manaus. Coletou-se
material do estômago, intestino delgado e grosso. O conteúdo dos
diversos segmentos foi colocado em solução aquosa e feita a leitura
do material a fresco. Foram preparadas lâminas semipermanentes
de algumas estruturas para confecção de fotografias e identificação.
Omaterial foi fotografado emmicroscópio especial (Zeiss).
O material do segmento estomacal apresentou uma
densidade parasitária imensa no estádio larval de nematelmintos,
em todos os estômagos analisados. À medida que progrediu-se no
sentido caudal do trato digestivo, a carga parasitária foi diminuindo
sensivelmente. No intestino delgado encontrou-se larvas em apenas
45%domaterial analisado (Tabela 2).
Tabela 2: Freqüência de parasitismo no trato digestivo em tartarugas
(P.expansa) de cativeiro,Manaus/AM.
Segmento do
trato digestivo
nº pesquisado n º parasitado % de
parasitados
Estômago 19 19 100
Intestino
delgado
11 5 45
Intestino
grosso
1 0 0
Os animais analisados em criadouros apresentaram mais
parasitas no período das chuvas (40,62 4,42%).
Em 1999, registramos em filhotes de tartaruga (P. expansa)
criados em tanques de fibra de vidro com250 litros, na densidade de
100 animais/m , alimentados com ração de peixe, 40% de proteína,
os seguintes sintomas: inchaço das membranas timpânicas, com
deformação da cabeça e olhos saltados; abcessos e feridas, de
aspecto caseoso (cor amarelada) nosmembros posteriores próximos
às articulações femurais; derrame na parte inferior interna do globo
ocular seguido de embaçamento do olho; manchas avermelhadas
tendendo para o roxo no plastrão.
3
411
Matos & Fedullo (1996) apud Duarte (1998), ao realizarem
exames bacteriológicos em amostras fecais de 60 quelônios para
detectar a presença de bactérias do gênero Salmonella, obtiveram
em filhotes de Trachemys scripta elegans, obtidos de feiras e lojas de
animais, maior índice de infecção, 23,07 %, enquanto filhotes de
Geochelone denticulata, da Fundação Rio Zoo, tiveram índice de
10% e T. dorbignyi, Chrysemys picta picta, Graptemys
pseudogeografica e G. carbonaria oriundos de ambas as fontes,
obtiveram resultado negativo foram encontrados os sorovares
Typhimurium, Albany, Kottbus, Loanda e o sorovar 0:50 de S.
enterica subespécie houtenae. As visíveis implicações à saúde
pública são discutidas em virtude da crescente popularidade desses
répteis como animais de estimação.
Os técnicos do projeto Diagnóstico/PTU analisaram
material fecal, regurgitados e material do trato digestivo de
quelônios de cativeiro. As amostras foram coletadas em criadouros
emManaus, Iranduba eManacapuru.
As fezes e regurgitados foram coletados durante as
biometrias bimestrais realizadas nos criadouros. Foram coletadas
em vidro limpo com tampa rosqueável contendo conservante MIF.
Este material foi tamizado em cálice com formol a 10%. Após sua
sedimentação espontânea (método de Lutz), procedeu-se a leitura
em lâminas no microscópio ótico. Tomou-se uma fração do
sedimento em lâmina de vidro e acrescentou-se uma gota de lugol,
homogeneizando-se, cobrindo com uma lâminula. A leitura foi feita
em aumento de 100X e detalhada em aumento de 400X. As
estruturas parasitárias observadas (larvas, ovos de nematelmintos e
amebas) foram fixadas em lâminas semipermanentes, para posterior
identificação.
a) Problemas de sanidade nos criadouros do Amazonas
410
Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23
anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes
praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro,
Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e
Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo de
proteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série
temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis
ana l i sadas ( r eg ressão l inear= P<0 ,018 ; reg ressão
quadrática=P<0,072). O melhor modelo de ajuste encontrado foi a
regressão quadrática: P= - 108391+37439,3. t – 778,616. t , com
R2=38%. Na Figura 43, apresentamos o ajuste dos pontos e a curva
quadrática para a série temporal de produção no rio Juruá.
2
0 10 20
0
200000
400000
600000
800000
C11
C
1
0
C10 = -108391 + 37439,3 C11
- 778,616 C11**2
S = 174695 R-Sq = 38,0 % R-Sq(adj) = 26,7 %
Regression Plot
Figura 43: Regressão entre o tempo de proteção de um tabuleiro e a
produção estimada de filhotes de quelônios no rio Juruá.
Andrade et al. (2006) estimaram, ainda, o melhor modelo de curva
para explicar o crescimento populacional de quelônios, em áreas
protegidas, como sendo o de VonBertallanfy, Yt= 187.014 (1- e ),
sendo o crescimento populacionalmáximo (k) estimado
-0,8313.t
125
em 207.889 animais (tartarugas, tracajás e iaçás), com taxa de
crescimento anual (r) igual a 0,8313. Quando esse modelo foi
comparado aos dados reais do rio Juruá, observou-se que mesmo
com falhas na proteção, em alguns anos, as populações mantêm
uma tendência de crescimento que se estabiliza em torno de 10 a 13
anos de trabalho.
Curva de Crescimento Populacional de Quelônios
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
160000
180000
200000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Anos de Proteção
N
.
F
i
l
h
o
t
e
s
Yt= 187014 (1 - e
-0,8313. t)
Figura 44: Modelo de curva de crescimento de Von Bertallanfy,
para a produção de filhotes de quelônios, pelo tempo de proteção da
área de reprodução.
Ao aplicar-se o referido modelo de crescimento
populacional à série histórica do Baixo Juruá (produção de
filhotes de Joanico, Botafogo e Antonina), notamos que a
produção máxima de filhotes no crescimento populacional
máximo (k) foi estimada em 540.507 filhotes, com uma taxa de
crescimento anual (r) igual a 0,09125. O modelo estimado de
produção de filhotes para a região do Baixo Juruá foi o seguinte:
Produção de filhotes Y(t)= 540.507 (1 – e ).
Se somarmos a produção de filhotes dos tabuleiros de
Joanico, Botafogo e Antonina temos uma produção anual estimada
em torno de 262.236 filhotes de quelônios (76 a 91%de iaçás, 4,7 a
-0,09125 . t
126
Para Morlock (1979), as doenças de tartarugas em cativeiro
são provenientes de grupos formados indevidamente,sanidade no
local da criação, introdução de animais infectados.
Para Alfinito (1980), as principais causas de mortalidade
estão relacionadas aos estados de desidratação, inanição e asfixia,
podendo haver a possibilidade de albinismo (leucodermia congênita
e acromatose congênita) entre as tartarugas, sendo que estas devem
ser descartadas para evitar a multiplicação de animais albinos no
lote.
O Ibama (1989) cita que a fotofobia e alteração congestiva,
em casos agudos, podem apresentar inflamações das pálpebras com
derrame purulento, sendo a mais temível doença, o moquilo que
parece ser vírus filtráveis e bactérias associadas. Os sintomas são
debilidade, perda do apetite, inflamação das pálpebras, úlcera na
córnea, lacrimejamento contínuo. Em sua etapa final, apresenta
uma secreção gastrointestinal aguda, defecando substância
semelhantes às que apresentam nas fossas nasais. Quando
acometido o animal não quer permanecer na água e busca sempre
proteger-se em local escuro e úmido.
Em relação à parasitologia, Paixão & Thatcher (1984), ao
analisarem alguns exemplares de tartaruga (Podocnemis expansa),
tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. sextuberculata), provenientes da
Reserva Biológica do Abufari, AM, encontraram helmintos dos filos
Trematoda em tartaruga (Telorchis spp.; Nematophila grandis;
Braunotrema pulvinatum), tracajá (Nematophila grandis;
Braunotrema pulvinatum; Telorchis spp.; Haltrema avitelina) e iaçá
(Paramphistomiformes) e Nematoda em tartaruga (Paratractis sp.) e
tracajá (Ancyracanthus pinnatifidus) fixados àmucosa do estômago
e intestino, que se encontravam espessados com pontos
hemorrágicos nos locais de fixação.
409
10.2 Sanidade e predação
10.2.1 Sanidade
A tartaruga Podocnemis expansa pode ser considerada
rústica em relação à incidência de doenças. Para a criação em
cativeiro, no estado do Amazonas, ainda estamos estudando quais
seriam os agentes microbiológicos e os fatores que poderiam causar
danos à biologia do animal e à produtividade.
Baixas temperaturas causam a morte de tartarugas jovens
em cativeiro. No frio, os filhotes desenvolvem um quadro de
pneumonia com sintomas de perda do apetite; presença de uma
membrana esbranquiçada cobrindo o globo ocular; secreção nasal
com obstrução das vias respiratórias; insuficiência respiratória
caracterizada pelo comportamento atípico dos animais em
permanecerem boiando com o corpo em posição inclinada e
mortalidade (Chelonia, 1994).
Análises necroscópicas realizadas em tartarugas jovens de
cativeiro constataram infecção bacteriana múltipla por Escherichia
coli, Klebsiella sp., Pseudomonas sp., Proteus sp. e Salmonella sp.,
que apresentaram no teste de antibiograma resistência antibiótica,
principalmente Pseudomonas sp. Entre os antibióticos
administrados, os do grupo quinolona apresentaram melhor
eficácia associados a medidas profiláticas como limpeza e
desinfecção dos tanques, banho dos animais com permanganato de
potássio, desobstrução nasal e a transferência dos animais dos
tanques de fundo de terra, pois, devido ao tratamento, houve uma
expressiva diminuição na taxa demortalidade (Chelonia, 1994).
Alfinito (1980) cita a ocorrência do Micobacterium
tuberculosis chelonei isolado por Friedmam nos pulmões de
tartaruga de aquário, emBerlim.
408
a 6,8% de tracajás e 1,3 a 21,1% de tartarugas), ou seja, 48,52% da
capacidade produtiva, prevista pelo modelo, para tabuleiros
conservados por cerca de 15 anos.
Deve-se considerar, contudo, que no primeiro ano de vida
existe uma elevada taxa de mortalidade. Andrade & Soares (2005) e
Andrade & Rodrigues (2005) verificaram que dos filhotes de
quelônios marcados e soltos em lagos naturais (Médio Amazonas e
Médio Juruá) foi estimada em 5,74% a taxa de sobrevivência total,
até 12meses, sendo que para os tracajás (Podocnemis unifilis) a taxa
de sobrevivência média na natureza foi estimada em 17,76 ±
10,23%.
Se considerarmos o valor de k (constante de equilíbrio
populacional, valor populacional de produção máximo)= 262.236
animais no Baixo Juruá, e a taxa de crescimento anual média
estimada por Andrade et al. (2006) para a calha do rio Juruá, ou seja
r=0,8313, observa-se que, a cada ano, 217.997 animais deveriam
ser recrutados pela população. Todavia, a taxa de crescimento que
estimamos neste trabalho, para o Baixo Juruá, foi de r=0,09125,
logo, o número de indivíduos estimados para recrutamento cairia
para 48.646 animais (10.264 tartarugas, 2.286 tracajás e 36.971
iaçás).
Contudo, deve-se observar que as taxas de sobrevivência são
relativamente pequenas. Portanto, ao se considerar as taxas por
espécie (estimadas por Andrade & Soares, 2005, e Andrade &
Rodrigues, 2005), esse recrutamento anual cairá para 2.122 iaçás,
406 tracajás e 157 tartarugas.
Esses valores naturais de recrutamento impossibilitam a
extração de quelônios de forma racional, em vida livre, com o número
atual de praiasmanejadas, posto que, estima-se para a região doBaixo
127
Juruá, a extração clandestina de cerca de 8.000
quelônios/ano. Se aumentarmos o número de praias conservadas e
o número de rios protegidos, possivelmente, elevaríamos a taxa de
recrutamento e com isso o número de animais adultos chegariamaté
o período de desova. Somente isso, permitiria, em um período de 8 a
10 anos de trabalho de proteção, atingir-se o máximo da capacidade
produtiva e com isso, a possibilidade de exploração racional de
adultos de espécies como o iaçá e o tracajá, em vida livre. Diante da
impossibilidade do manejo extensivo imediato, sugere-se algumas
propostas que possibilitarão a obtenção de renda a partir da
conservação de quelônios.
Para aumentarmos a taxa de recrutamento e gerarmos
quelônios excedentes para consumo ou geração de renda, quatro
medidas de manejo devem ser adotadas: a) Proteção dos ninhos
naturais e transferência de ninhos ameaçados; b) Manutenção de
filhotes recém-eclodidos de tartarugas e tracajás, em berçários, até o
segundo ou terceiro mês de vida; c) Soltura destes filhotes em lagos
ou lagoas centrais em locais de farta alimentação e abrigo (restart);
d) Criação comunitária em gaiolas ou tanques-rede. A extração de
ovos e de filhotes para criadores seria uma possibilidade de geração
de renda desde que adotado rigoroso controle sobre os tabuleiros e
sobre a captura ilegal de adultos e que fossem seguidas as quatro
sugestões demanejo propostas.
128
Figura 6: a e b) Ninho e praia de reprodução de tartaruga (P.
expansa) em criador de Manacapuru; c) Marcação com furos na
carapaça; d) Comparação entre a fêmea, matriz de tartaruga, e seu
filhote.
407
No criadouro com razão sexual de 2,2F:1M, sendo o peso
médio das fêmeas=20,875 ± 11,91kg e machos =4,219 ± 0,787kg,
foram registradas desovas desde o ano de 2003. Alguns animais
subiram na praia de reprodução e formaram cardumes na margem
em comportamento similar ao da fase de boiadouro e
assoalhamento na fase reprodutiva em áreas naturais. Nenhuma
cova foi identificada embora suspeite-se que alguns a tenham feito.
Em 2005, foram identificados três ninhos com número médio de
ovos de 80/ninho. Houve uma taxa de eclosão de 90%, sendo
totalizados 216 novos filhotes de tartaruga no plantel. Em 2006,
foram registrados nove ninhos e nasceram440 filhotes.
Figura 5:Biometria emarcação de plantel reprodutivo.
406
Cap í tu lo 4 : Eco log i a de que lôn ios
pelomedusídeos naReserva Biológica do Abufari
JuarezCarlosBritoPezzuti – NAEA/UFPA
DanielyFélixdaSilva-MPEG
JacksonPantojaLima – Inpa
AlexandreKemenes – Inpa
MarceloGarcia-Ipaam
NorivalDagobertoParaluppi -Ufam
LuizAlbertodosSantosMonjeló-Ufam
A comunidade de quelônios aquáticos da bacia amazônica,
uma das mais diversas do mundo, sempreconstituiu elemento
importante na dieta dos habitantes da região. A tartaruga,
Podocnemis expansa, espécie demaior porte e amais abundante, era
rotineiramente consumida e também armazenada em currais, nas
aldeias indígenas, para ser utilizada na cheia quando os peixes eram
menos acessíveis.
Mesmo com a Lei de Proteção à Fauna (n 5.197/1967), essas
populações permanecem sujeitas à forte pressão de pesca
clandestina de animais adultos, e não somente durante o período
reprodutivo. Durante outras épocas, os sistemas aquáticos são
constantemente invadidos, e a sua extrema complexidade facilita
essa atividade. A conseqüência óbvia é o declínio populacional
evidente. No Trombetas, o número de fêmeas reproduzindo-se nos
tabuleiros vem diminuindo gradativamente. Na Rebio Abufari, a
despeito da presença mais constante da fiscalização, centenas de
animais adultos são capturados todos os anos por pescadores
financiados por traficantes deManacapuru.
Os ovos também foram e ainda são, em algumas
localidades, uma fonte importante de proteínas para a população
local. , sugere que, possivelmente, a coleta da tartaruga e de seus
ovos é a atividade etnozoológica mais importante de toda a região
o
129
amazônica, vindo desde o período pré-colombiano até hoje., que
registrou a apreensão de 261 quelônios em operação de fiscalização
do IBDF.
Some-se a isso a ausência de informações básicas sobre a
ecologia desses animais, como área de vida e padrõesmigratórios. Os
esforços para a conservação de quelônios têm sido direcionados para
a proteção de ninhos e diversas espécies ameaçadas tiveram seu
manejo baseado num conhecimento incompleto da dinâmica
populacional, sem informações demográficas sobre classes de idade,
área de vida e padrões migratórios. No entanto, a aplicação de
programas de manejo, apenas recentemente, tem levado em
consideração aspectos básicos da biologia reprodutiva desses
animais. Um dos processos críticos é a influência da temperatura de
incubação sobre a determinação do sexo dos embriões, ainda mais
porque a metodologia, geralmente aplicada pelos programas de
conservação de quelônios no mundo, tem sido a de transplantar
ninhos para locais protegidos, sem a verificação do sexo produzido
pela incubação dos ovos em tais condições .
Na Amazônia, estudos sobre determinação sexual foram
desenvolvidos com Podocnemis expansa , P. unifilis e Peltocephalus
dumerilianus . Destes, apenas Valenzuela (2001) e Souza & Vogt
(1994) investigaram a relação entre as características de ninhos
naturais com a temperatura de incubação e outros parâmetros
físicos. As demais espécies amazônicas permanecem desconhecidas
quanto a esses aspectos de sua biologia reprodutiva. Os ninhos estão
ainda sujeitos à predação natural e a variações ambientais súbitas
130
postura, completando assim, o ciclo de criação através da
reprodução em cativeiro. Entre as prioridades de pesquisa
elencadas foi queloniocultores fez-se necessário avaliar o
crescimento nas categorias de engorda e reprodução de animais
submetidos a diferentes tipos de alimentos, em complementação
aos primeiros estudos feitos nas fases de berçário e crescimento.
A avaliação dos parâmetros reprodutivos de quelônios em
cativeiro foi realizada em dois criadouros comerciais (Iranduba e
Manacapuru). Foram analisados os parâmetros e a eficiência
reprodutiva através das variáveis tamanho e idade das fêmeas em
postura; abundância e distribuição dos ninhos; número de
ovos/ninho.
A idademédia do plantel reprodutivo nas primeiras desovas
em cativeiro foi de 8,57 ± 0,79 anos. Em animais alimentados com
proteína de origem vegetal (rações com farelo de soja, verduras e
frutas) o peso médio foi de 14,19 ± 2,29 kg nas fêmeas e 11,87 ±
2,06kg nosmachos. O peso ao final de cinco anos de cultivo, que era
emmédia 2,66 kg em1997, aumentou para 9,2 ± 2,25 kg emmais de
65%dos animais dos lotes comercializados.
Na criação com razão sexual de 4F:1M foram registradas
desovas desde 8 anos de idade, sendo que aos 7 anos alguns
animais “experimentaram” fazer ninhos na praia artificial. Em
2003-2004, foram conferidos mais de 20 ninhos com umamédia de
70 ovos. Em 2005, registrou-se 5 ninhadas, com média de 73,80 ±
2,5 ovos, havendo predação por jacuraru (Tupinambis spp.). A taxa
de eclosão foi baixa, sobrevivendo apenas 150 filhotes. Em 2006,
foram produzidos 300 filhotes. Em criadouros cujos animais eram
alimentados principalmente por fontes de proteína animal (sangue
coagulado bovino, restos de filetagem de peixe), o peso médio dos
animais comercializados com 5 anos variou em média de 7,25 a
18,55 kg (158 animais comercializados).
405
tanques de 1.000 litros, após 7,5 0,707 dias (serragem) a 10,333
2,516 dias (vermiculita) de nascidos. As mortes ocorridas foram de
ordem técnica nomanejo dos animais.
Os animais nascidos a 32ºC apresentaramuma tendência a
ummaior crescimento (ganho diário de peso, GDP = 0,24 g/dia), em
relação aos que nasceram a uma temperatura mais baixa, 27ºC,
GDP = 0,18 g/dia. No entanto, os animais obtidos na vermiculita
apresentarammaior GDP = 0,20 0,03 g/dia do que os da serragem,
GDP = 0,10 0,0 g/dia. Os animais de 30ºC apresentaram maior
consumo diário de ração, CDR = 3,36 1,86 g/dia em relação aos de
32ºC, 1,83g/dia, e 27ºC, 1,19 g/dia. Os animais da vermiculita
apresentaram menor consumo, 1,66 0,43 g/dia, enquanto os da
serragem tiveram 3,28 1,97 g/dia. A umidade parece ter
influenciado no metabolismo dos filhotes. Filhotes nascidos na
serragem (ambiente mais úmido) demoraram mais para absorver o
vitelo, apresentaram menor GDP e maior consumo do que os da
vermiculita (menor umidade).
A sexagem dos animais foi realizada aos seis meses de idade,
em que verificou-se uma tendência para um maior número de
fêmeas nas temperaturas mais elevadas, 32ºC igual a 50,55%, 30ºC
igual a 41,15% e a 27ºC igual a 28,07%. Em relação aos outros
substratos, a vermiculita apresentou um maior número de fêmeas
47,16% , do que a serragem, 35%. A determinação sexual
dependente da temperatura ocorre no segundo terço do
desenvolvimento embrionário pelo efeito acumulativo da
temperatura de incubação, devido às tartarugas não possuírem
cromossomas sexuais heteromórficos (Vogt &Villela, 1986).
Em 2005, os primeiros espécimes de P. expansa doados
pelo Ibama (em 1995), para criação, realizaram sua primeira
10.1.3 A reprodução de quelônios em cativeiro
404
como a repentina subida do nível do rio ; .
A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas na
Amazônia para criação com finalidade comercial. O fornecimento
aos criadores depende da retirada anual de milhares de filhotes
dos tabuleiros protegidos pelo Ibama, para formar o plantel das
criações comerciais, cujo número aumenta todo ano. O principal
fornecedor, até o ano de 1998, era o tabuleiro do Abufari, que se
situa na unidade de conservação que recebe o mesmo nome
(ReservaBiológica do Abufari).
Esses fatores, associados com a questão básica da
determinação do sexo pela temperatura em quelônios e suas
conseqüências para qualquer prática de conservação e manejo
desses animais, fazem com que seja imprescindível a
investigação dos aspectos mais elementares da ecologia das
espécies com que estamos lidando, sobretudo quanto ao processo
reprodutivo.
O quadro, portanto, é de franca carência de estudos sobre
esses valiosos recursos que vêm sendo milenarmente explorados
por populações indígenas, para subsistência, e há pelo menos 300
anos em intensa escala comercial rumo ao seu esgotamento. Diante
do exposto, a Universidade Federal do Amazonas, em cooperação
com o Ibama, realizaram estudos sobre a ecologia, fisiologia,
parasitologia e genética para a conservação dos quelônios da
ReservaBiológica do Abufari, com apoio financeiro do CNPq através
dos projetos “Diagnóstico da criação de animais silvestres no
estado do Amazonas” (Fase I/1998 e Fase II Proc. nº
49.9940/2000-0 PTU/CNPq). Subprojeto Ecologia Reprodutiva dos
quelônios da Rebio Abufari (Ibama Proc. nº 02005.002248/98-13).
As pesquisas continuaram com financiamento do Banco da
Amazônia (Basa) ao projeto “Bases Ecológicas para o manejo dos
quelônios no Estado do Amazonas”. Finalmente, em 2003,
contamos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
131
Estado do Amazonas (Fapeam) para a continuação das pesquisas
dessa equipe multidisciplinar, com a execução do Projeto “Ecologia
reprodutiva, dinâmica populacional, genética de populações e
manejo de quelônios na Amazônia”.
Portanto, este produto inclui o resultado de vários projetos
executados ao longo do período entre 1998 e 2004. O objeto principal
de estudo durante esses anos foram as populações de Podocnemis
expansa, P. sextuberculata e P. unifilis que se utilizam da Praia do
Abufari para reprodução. Investigamos aspectos básicos de ecologia
reprodutiva dessas espécies e investimos em um programa de
marcação para determinar a estrutura populacional, a área de vida e
a rotas migratórias sazonais de dispersão entre essa praia e as áreas
de alimentação. Ainda monitoramos a pesca clandestina de
quelônios aquáticos na Rebio. Muito ainda precisa ser feito,
sobretudo para conhecer os padrões anuais de movimentação dos
adultos e para isso daremos continuidade, em 2006, a essas
pesquisas, intensificando o programa de captura, marcação e
soltura de animais adultos e monitorando fêmeas adultas de P.
expansa, utilizando radiotelemetria.
A Reserva Biológica do Abufari situa-se no primeiro terço do
rio Purus, o último grande afluente do Rio Solimões antes do
encontro com o rio Negro, formando o Amazonas. Trata-se de um
típico rio de águas brancas e, portanto, carregadas de sedimentos
que depositaram-se ao longo do tempo formando os solos que
sustentam o ecossistema de várzea. A planície alagável, recortada
por um complexo sistema de corpos de água formado por paranás,
canos, ressacas e lagos, está sujeita a profundas alterações em
função da variação anual do nível da água (Figura 1). Durante a
cheia, esse conjunto torna-se um único corpo de água contínuo,
preenchido pela floresta inundada. Nessa região, o Ibama realiza
fiscalização direta, patrulhando os rios, canais, igarapés e lagos,
OTabuleiro do Abufari
132
Figura 4: Eclosão dos filhotes de Podocnemis expansa. Foto:
RAN/AM (Duarte, 1998).
O peso ao nascer, dos filhotes, foi maior na vermiculita,
18,96 1,32 g, do que na serragem 17,13 1,00 g. A umidade variou
de 93,098 ± 0,300% a 93,00 ± 0,00%, com isto pode ter ocorrido uma
tendência para os animais serem mais pesados do que outros,
devido a um substrato reter mais umidade do que o outro. Embora
Morlock (1979) cite que deve-se umedecer os ovos para incubá-los,
na literatura citada não foram encontradas definições sobre a
influência da umidade na incubação e no desenvolvimento do
embrião e peso, ao nascer, do filhote de tartarugas como citam Vogt
& Villela (1986). A absorção do vitelo e o fechamento do “umbigo” foi
mais rápido nos filhotes nascidos na vermiculita, 3 e 4 dias,
respectivamente, em relação à serragem, 4 e 7 dias. Em seguida, os
animais foram medidos e pesados antes de serem levados para
403
Tabela1: DadossobreincubaçãoartificialdeovosdePodocnemisexpansa.
(Duarte,1998).
Itens \Tratamentos V
32ºC
*
V
30ºC
*
V
27ºC
*
S
32ºC
**
S
30ºC
**
-Número de ovos 57 100 60 54 45
-Peso dos ovos 28,5 ±
2,6
- 27,5 ±
3,0
21,2 ±
2,7
20,3 ±
1,2
-Período de incubação
(dias)
39 40 45 45 47
-Taxa de eclosão (% ) 91,07 36,67 100,0
0
54,76 48,00
-Número de ovos
inférteis
1 10 1 12 -
-Natimortos (% ) 3,57 15,56 - 4,76 12,00
-Absorção do vitelo
(dias)
3 2,5 2,5 4 4
-Fechamento do
“umbigo” (dias)
4 4 4 7 7
-Peso ao nascer (g) 19,96
±1,12
17,46
±1,11
19,80
± 1,08
18,49
± 1,51
16,48
±0,66
-Passagem para o
tanque (dias)
8 13 10 8 7
-Morte após colocação
nos tanque.
2 3 1 - -
*V32°C/V30°C/V27°C = vermiculita a 32°C /30°C/27°C
** S32°C/S30°C = serragema 32°C/30°C
402
ReservaBiológicado Abufari
(288.000hectares)
apreendendo animais e aparatos de pesca.
Figura 1. Carta-imagem da Reserva Biológica do Abufari, rio Purus (em azul), município
de Tapauá, Amazonas, Brasil (Legenda: 1 – praia do Abufari; 2 – rio Abufari; 3 – complexo
de lagos do Chapéu; 4 – lago Macapá; 5 – Paraná do iragapé Chapéu; 6 – lago Panelão; 7 -
lago do Campina; 8 – lago Pupunha; 9 – igarapé Tauamirim; verde-escuro – floresta de
terra firme e verde-claro – planície de inundação).
Monitoramento das desovas
A praia anualmente é mapeada no seu comprimento
com estacas de 50 em 50 metros, dispostas paralelamente à
vegetação. Para fazermos as estimativas da quantidade de
ninhos depositados na praia do Abufari é necessáriomarcar
133
áreas de 10metros de largura distantes umas das outras a cada 150
metros. Essas áreas são chamadas de transectos, que são locais
onde omonitoramento será intenso e todas as desovas ali existentes
serão monitoradas. Pelo conhecimento do número de ninhos de
iaçás e tracajás nestes locais, foi possível estimarmos o número de
ninhos existentes na praia e também o número de fêmeas dessas
espécies que ali subirampara desovar.
Como as tartarugas desovam em um grande agrupamento
(tabuleiro, Figura 2), o número total de ninhos é estimado dividindo-
se a produção de filhotes desse cercado e dos ninhos isolados pela
média de filhotes produzidos por ninho. Os números e as
respectivas densidades de ninhos da praia do Abufari, nos anos de
1999, 2000 e 2001 estão na Tabela 1.
Pelo esforço direcionado no estabelecimento e
monitoramento de transectos, ou seja, locais com área conhecida e
onde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível
estimar o número total de ninhos e a densidade dos ninhos na praia
do Abufari.
Nossa equipe de trabalho todos os anos monitora o
tabuleiro do Abufari, a partir do mês de agosto, pois é o momento
em que as fêmeas já migraram dos lagos e paranãs para a praia.
Durante o período da desova, entre setembro emeados de outubro,
há um monitoramento noturno das desovas que são depositadas
ali. Além desse trabalho noturno, visitas diárias são necessárias,
pois a localização dos ninhos não encontrados durante a noite só
será possível com o solo recentemente perturbado com nítidos
rastros deixados na noite anterior e os ninhos cobertos
externamente com areia úmida removida pelas fêmeas (Souza &
Vogt, 1994; Fachin, 1992). Com esse monitoramento sistemático
dos transectos é possível detectarmos os ninhos predados ou
inundados pela subida repentina do nível da água do rio. Para cada
ninho encontrado registramos a data da postura, adistância do
134
A temperatura recomendada para a queloniocultura
seria, inicialmente, para a formação do plantel de fêmeas, de
32°C e, posteriormente, para o plantel de machos, de 27°C, desde
que se tenha os cuidados básicos ao manejar o ovo,
movimentando-o lentamente, sem girar, devido ao embrião
aderir na parte superior da casca, por cima da gema. O controle
da temperatura de incubação é importante para determinação
sexual.
Figura 3: Vista externa das incubadoras com caixas de isopor de 170
litros, termostato (até 100ºC, graduação de 1ºC) e 4 lâmpadas incandescentes.
Foto: RAN/AM (Duarte, 1998).
401
fungo Aspergillus nigrans e nos ovos inviáveis houve influência
na taxa de eclosão.
Esse fungo envolveu toda a casca do ovo e durante a
incubação alguns ovos tinham sido forrageados por ácaro. A.
nigrans pode ser encontrado em outros ambientes(frutas e
verduras, geladeiras) e compromete o processo respiratório dos
filhotes e prejudica a troca gasosa nos ovos. Isso faz com que os
ovos estraguem, os embriões morram ou se desenvolvam com
deformações.
Os ovos inviáveis parecem contribuir bastante para a
contaminação dos ovos viáveis, por fungo, matando os filhotes
nos ovos ou após o nascimento e reduzindo a taxa de eclosão. O
que, provavelmente, está ligado a alguma substância que não é
liberada por ovos não fecundados e que atuaria como fungicida
natural.
A utilização dos ovos inviáveis serviu para comprovar a
importância da seleção dos ovos e suas conseqüências biológicas
para a criação comercial, em que os ovos de P. expansa devem ser
selecionados, visando o descarte de ovos inviáveis.
Na Reserva Biológica do Abufari – AM, também foi
observada a contaminação dos ovos por fungo durante o período
de incubação natural, na qual ocorreu a morte dos filhotes, nas
diferentes idades, aliada ao ataque de formigas ou de larvas de
moscas.
O custo da incubação artificial foi de R$ 400,00 para as
incubadoras, referente à aquisição do material supracitado (US$
133,330).
400
ninho à parte mais alta da praia e até a margem do rio e a
profundidade do ninho. Os ninhos são marcados com estacas de
identificação numeradas.
Com o monitoramento dos animais que sobem a praia para
desovar foi possível observarmos que a menor iaçá (P.
sextuberculata) que desovou na praia do Abufari tinha 24
centímetros de comprimento retilíneo da carapaça e 1,1 quilograma.
Dentre as tartarugas (P. expansa), o menor animal encontrado
desovando na praia tinha 61 cm de comprimento retilíneo da
carapaça e 22,0 quilogramas.
Tabela 1: Número e densidade de ninhos encontrados na praia do
Abufari, durante o monitoramento diário realizado no período de
agosto a dezembro de 1999, 2000 e 2001.
Espécie Númerodeninhos Densidade(ninhos/m2)
1999 2000 2001 1999 2000 2001
Iaçá 9.054 3.900 5.782,74 0,019 0,02 0,014
Tracajá 238 195 337,57* 0,0005 0,0012 0,00084
Tartaruga 2.123 2.300 2.475 0,004 0,014 0,0061
Espécie
Totaldefilhotes
1999 2000 2001
Iaçá 88.004 37.908 75.523
Tracajá 5.983 4.900 9.829
Tartaruga 152.200 170.000 17.000
Oprocesso de sexagemde filhotes
O monitoramento dos ninhos nos transectos nos permitiu
um acompanhamento completo do período de incubação. Ao
atingirem 40 dias de incubação, os ninhos passam a ser revisados a
cada dois ou três dias para a
135
identificação de sinais indicando a eclosão dos filhotes, ou seja, o
nascimento dos filhotes. Esses sinais são a casca do ovo
quebradiça e um pouco transparente e a presença de gotículas de
água e pequenas rachaduras na sua superfície.
Para cada ninho eclodido foram contados o número de
filhotes vivos, o número de ovos sem desenvolvimento aparente,
os ovos de gordura, o número de embriões mortos e, quando
possível, a causa da morte. Os filhotes vivos foram medidos,
pesados e posteriormente libertados na praia. Tendo em vista a
necessidade de sacrifício de filhotes para a identificação do sexo,
foi expedida uma autorização pela Direc/Ibama para a realização
dessa atividade (autorização nº 32/99, expedida pela
Direc/Ibama –DF, renovada em 2003). Em geral são sacrificados
10 filhotes por ninho, em média, 10 ninhos de cada espécie, com
injeção de 0,1 ml de Nembutal (substância que leva o animal a
uma parada cardíaca) por indivíduo. Esses filhotes foram fixados
em solução de formol tamponada (1 litro de formol a 10%, 4g de
H NaPO .H O, 6,05g deHNa PO .H O), para determinação do sexo
dos filhotes, realizado através do exame posterior das gônadas
como auxílio demicroscópio óptico (Figura 3).
A razão sexual foi determinada como sendo a proporção de
machos na ninhada (número de machos dividido pelo número de
filhotes vivos) e a sobrevivência como o número de filhotes
eclodidos vivos, dividido pelo número total de ovos. Na Tabela 2
estão os dados de número de ninhos amostrados e a média do
número de ovos coletados em setembro de 1999, 2000 e 2001.
2 4 2 2 4 2
136
Quanto às temperaturas a eclodibilidade a 27°C obteve-
se 100,0 0,0%, a 30°C 42,333 8,013% e a 32°C 72,916 25,674
%. Na natureza a temperatura média de incubação é 23,3 a
37,6ºC, sendo a taxa de eclosão entre 85% a 98% de eclosão
(Morlock, 1979; Alfinito, 1980; Alho & Pádua, 1982; Alho, Danni
& Pádua, 1984; TCA-SPT, 1997).
A contagem dos filhotes de tartaruga que nasciam por
período (dia ou hora), não foi possível por poder haver (1) o
comprometimento da vital absorção do vitelo (reserva nutritiva –
composta de gema, aderida ao plastrão por uma película); (2)
Perda do microclima interno em cada incubadora; (3) Estresse
aos animais e o (4) Empilhamento.
O período de incubação em função da temperatura de
incubação a 27°C foi de 43,000 0,0 dias, a 30°C 42,000 7,071
dias e 32°C 40,7071 7,071 dias. Sendo, de 39 dias, a 32ºC, na
vermiculita, 46 dias, a 30ºC, na serragem (Tabela 1), havendo
evidência da premissa de que quanto maior a temperatura,
menor será o período de incubação, resultado obtido no substrato
vermiculita. Em condições artificiais no Museu Goeldi, Alho,
Carvalho & Pádua (1979) observaram que esse período pode
ultrapassar 60 dias.
O fechamento do “umbigo” em filhotes de P. expansa
incubados artificialmente na vermiculita e na serragem ocorreu
no quarto e no sétimo dias de idade, respectivamente. O tempo de
absorção do vitelo foi menor na vermiculita ( 2,666 ± 0,288 dias) e
maior na serragem (4,0 ± 0,0 dias).
O percentual de natimortos foi pequeno, de 0% a 4,76%,
sendo maior na incubadora a 30ºC com substratos vermiculita e
serragem, V30ºC = 15,56% e S30ºC = 12% devido à presença do
399
A temperatura média da incubação artificial, em função
das horas, oscilou em ambos os substratos, mantendo mais
constante na serragem em relação a vermiculita (Figura 2).
Temperatura média de incubação X Horas
26,5
27,5
28,5
29,5
30,5
31,5
32,5
33,5
0 6
: 0 0
0 7
: 0 0
0 8
: 0 0
0 9
: 0 0
1 0
: 0 0
1 1
: 0 0
1 2
: 0 0
1 3
: 0 0
1 4
: 0 0
1 5
: 0 0
1 6
: 0 0
1 7
: 0 0
1 8
: 0 0
1 9
: 0 0
Horas
T
e
m
p
e
r
a
t
u
r
a
(
o
C
)
V27 V30 V32 S30 S32
Figura 2: Temperatura média de incubação em relação as horas do
dia (Duarte, 1998).
Foram incubados 316 ovos. A taxa de eclosão, nos cinco
tratamentos foi de 66,1 27,817%; na vermiculita -V registrou-se
75,912 34,279% e na serragem 51,380 4,781% (A taxa de eclosão
foi maior na vermiculita (V), sendo especificamente na V32ºC =
91,07%; V30ºC = 36,67%; V27ºC = 100%, em relação a serragem (S),
obteve-se na S30ºC = 48,0%; S32ºC = 54,76%.
398
Figura 3:Gônadamasculina, emdetalhe, no centro da figura.
O resultado da sexagem dos filhotes, a partir das amostras
coletadas, demonstra que no ano de 2000 houve um desvio
acentuado para a produção de fêmeas de tartaruga, no entanto, iaçá
teve um desvio para a produção de machos (Tabela 4). Infelizmente,
os dados de temperatura de incubação registrados pelos data-
loggers foram perdidos por falha nos aparelhos e, portanto, não
podemos testar quaisquer relações entre a temperatura média ou a
temperatura acumulada, com a razão sexual dos ninhos
monitorados. As gônadas masculinas (testículos) apresentam
formação cilíndrica e aspecto opaco com uma granulação
esbranquiçada, efeito provocado pelas circunvoluções dos ductos do
epidídimo. As gônadas femininas (ovários) têm um formato mais
alongado e o contornomais irregular em relação àsmasculinas e não
apresentam granulações.
O estudo de marcação e recaptura dos quelônios (avaliação do
status populacional)
Estão sendo realizadas pescarias experimentais utilizandoredes de espera do tipo “capa-saco” e redes de cerco. A técnica de
captura chamada de capa-saco é bastante utilizada na região do
Purus. Esses apetrechos consistemde grandes redes de comprimento
médio de 60 metros e altura de 10metros, que são instaladas nos
137
canais dos paranás, quando os animais estão migrando para o rio
ou mesmo retornando para os lagos. Essas redes também são
instaladas no canal do rio Purus. O esforço amostral de captura de
animais na área da Rebio vem sendo exercido sobre a calha principal
do rio Purus, nos lagos internos (lago Comprido – região do Chapéu e
lago do Almoço no sistema do rio Abufari) e os principais canais de
ligação entre ambos. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 pretendemos
replicar as parcelas de pesca experimental durante as seguintes
fases do ciclo hidrológico anual: cheia (junho-julho), vazante
(agosto-setembro), seca (outubro-novembro) e enchente (dezembro-
maio).
Os dois primeiros aparelhos foram verificados de 3 em 3 horas,
minimizando a possibilidade de morte dos animais por afogamento,
conforme descrito em . As redes de cerco foram utilizadas
principalmente no canal do rio Purus, em números variados de
lances, dependendo das taxas de captura. Em cada pescaria foi
registrado o horário de saída, a embarcação e os equipamentos
utilizados, o tempo gasto para chegar até o local escolhido, o tempo
gasto na captura de animais, as características do habitat e
microhabitat onde o animal foi coletado, a profundidade, a
velocidade da correnteza e a temperatura do local. Os locais de pesca
foram georreferenciados com auxílio de GPS (Global Position
System).
Cada animal capturado foi identificado, medido
(comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento do
plastrão, largura máxima da carapaça e largura da cabeça), pesado
e marcado com etiqueta numerada presa na carapaça através de
pequenos orifícios perfurados nos escudos marginais (técnica de
marcação permanente, padronizada e aplicada por estudiosos de
v á r i a s p a r t e s d o m u n d o , s e m c a u s a r d a n o s
138
f) Resultados e discussões
O peso médio dos ovos incubados na vermiculita foi de
28,5 2,629g a 27,5 3,034 g, na serragem 20,568 6,074g a
21,203 2,710g. No entanto, Espriella (1972) cita que o peso
médio para o criadouro deve ser de 43g e Maués (1976), ao fazer a
comparação bromatológica em ovos de Podocnemis sp., obteve
peso médio de 23,67g. Sendo o tamanho do ovo variável de 2,056
0,607 cma3,614 0,164 cm, para ambos os substratos.
Os substratos foram utilizados devido: (a) apresenta
menor tendência à compressão durante o desenvolvimento do ovo
e embrião; (b) identificar qual o substrato para incubação
artificial, pois, no caso da areia do tabuleiro poderia haver uma
compressão no ovo (embrião) durante o período de incubação; (c)
utilizar um material estéril (vermiculita), que é caro e não
acessível, e um material regional barato, que é a serragem. Na
incubação artificial deve-se observar o emprego e a
granulometria da areia para que não comprometa o
desenvolvimento do ovo e do embrião.
397
durante o transporte. Entretanto, os ovos incubados na serragem
foram condicionados numa caixa de papelão contendo areia da
praia de desova. Comparando ambos, o primeiromostrou-semais
seguro.
A instalação do experimento consistiu de biometria dos
ovos e pesagem em balança de 1.610 g, com o cuidado de não girá-
los para evitar movimento precipitado do embrião, seguido de
delicada colocação em cada substrato.
e) Condução do experimento
No monitoramento da incubação dos ovos registrou-se a
temperatura interna e externa (acima) no substrato, a cada uma
hora, através de termômetros de solo para cada temperatura,
verificando-se a consonância com a temperatura predeterminada
no termostato.
Quando a temperatura interna, elevava ou abaixava além
do desejado, em cada substrato, diminuía-se ou aumentava-se o
indicador do termostato.
No início, após a colocação dos ovos em cada substrato,
distribuiu-se 1 litro d'água na vermiculita. Não foi necessário na
serragem porque o material estava úmido após três sucessivas
lavagens. Durante a condução do experimento, a umidade
interna foi mantida pela água, contida numa placa de Petri, ou
pulverizando-a sobre o substrato. O momento da manutenção da
umidade dentro desse sistema é determinado pela leitura do
psicrômetro interno (umidade relativa) observado pelo visor
externo em cada incubadora, a cada uma hora após a leitura da
temperatura no termômetro de solo em cada substrato.
396
aos animais). Posteriormente, os animais foram soltos no local de
captura.
A abundância relativa de cada espécie foi determinada em
função do rendimento dos aparelhos de pesca utilizados, com base
no número ou biomassa dos animais, por pescaria, por dia de pesca.
Neste estudo a CPUE (captura por unidade de esforço) foi utilizada
como o índice de densidade populacional e foi calculada combase na
seguinte equação:
å
= diaPescariaNCPUE //
Onde: N = somatório do número de indivíduos capturados;
Pescaria = pescaria (em geral leva 15 a 20 minutos); dia de pescaria.
A estimativa de biomassa foi baseada na massa dos animais
capturados, dividida por pescaria e por dia.
Os habitats registrados foram: igapó, rio, lago (Figura 4); a
época do ano: enchente, cheia, vazante, seca. A profundidade nos
locais amostrados foi registrada com uma corda metrada e com
trena. Durante o período reprodutivo, que vem sendo
sistematicamente acompanhado pela equipe deste projeto, desde
1998, foi realizada a marcação de fêmeas durante a desova. Ao final
de cada noite de desova coletiva as fêmeas que acabavamde enterrar
seus ovos foram interceptadas para biometria, pesagem emarcação,
como descrito anteriormente.
∑
139
140
CC
Figura 4. Vista aérea da praia do Abufari durante o período de descida do nível
do rio em 2004 (A) e durante o período de seca do ano de 1999 (B). Habitat de
lagos da Rebio Abufari, durante o período de enchente do rio Purus, janeiro de
2005. (C) (Foto: Jackson P. Lima).
b) Material usado para incubação artificial de ovos de
tartaruga
Como incubadoras foram utilizadas 3 caixas de isopor de
170 litros cada, montadas com aquecimento interno automático.
Sendo necessário em cada incubadora 4 lâmpadas de 25 W, 1
termostato, 2 termômetros de solo, 1 psicrômetro, 1 visor de
vidro, 1 suspiro, 1 divisória interna de vidro, 1 placa de Petri,
substratos (vermiculita e serragem), fio paralelo, e para as três
incubadoras, 1 estabilizador eletrônico, 1 extensão elétrica, 1
balança de 1.610g (graduação de 1g), ovos de tartaruga.
c)Montagemdas incubadoras artificiais
Para a montagem de cada incubadora, gastou-se cerca de
2 horas, envolvendo as fases de instalação e teste. Inicialmente,
instalou-se as lâmpadas, o termostato, a divisória interna de
vidro, seguido do teste de funcionamento e identificação das
incubadoras. Após a instalação e teste, colocou-se 1,66 g de
vermiculita em 3 incubadoras e 0,021 m³ de serragem em 2
incubadoras Em ambas as condições foi utilizada a metade do
espaço físico interno das incubadoras para ambos os substratos,
devido à falta de recurso financeiro para aquisição de material e o
espaço físico para mais incubadoras. A serragem utilizada
passou por 3 lavagens, visando a retirada de possíveis compostos
químicos que poderiam ser prejudiciais durante a incubação dos
ovos, e após estar parcialmente seca foi colocada dentro das
incubadoras.
d) Transporte, biometria, pesagem e colocação dos ovos nas
incubadoras
O transporte dos ovos incubados na vermiculita foi
realizado numa caixa de isopor com areia da praia de desova para
evitar atrito e, principalmente, que eles viremdentro da caixa
395
g/dia, enquanto que os que nasceram na areia tiveram um
GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas,
GDP=0,15 g/dia. Ao completarem dois meses, os filhotes foram
soltos nos seus locais de origem, em áreas com menos predadores
e/ou lagos combastante alimentação natural disponível.
Como o sexo dos filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá são
determinados pela temperatura de incubação, os criadouros
poderiam, através da incubação artificial, estabelecer o sexo dos
filhotes que estivessem gerando em sua propriedade, optando por
produzirmaismachos ou fêmeas.
Pensando nessa possibilidade e buscando adaptar a
tecnologia já existente ao material disponível no Amazonas, em
1999, a Ufam e, o então Cenaqua desenvolveram na sede do Ibama-
AM, Manaus, um experimento de incubação artificial de ovos de
tartaruga avaliando os efeitos de diferentes substratos (vermiculita e
serragem) e de diferentes temperaturas (27, 30 e 32ºC), no período
incubatório e no sexo e desempenho dos filhotes.
a) Procedência dos ovos de tartaruga ( )
Foram utilizados 316 ovos coletados por funcionários do
Ibama/AM, localizado no tabuleiro da Reserva Biológica do Abufari
(Lat. S 04 51' – 05 30' e Long. W 6247' a 6322'; criada pelo Decreto
Federal número 87.585 de 20/9/1982) no município de Tapauá
(Lat. S 05 45' e Long. W 64 24') administrada pelo Ibama no estado
do Amazonas, em1997.
10.1.2 Incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa no
Amazonas
Podocnemis expansa
²
Termoutilizadoparaapraiadedesova.
394
Quelônios e seus predadores
O fenômeno da predação é comum nos quelônios amazônicos.
Foram encontrados diversos ninhos predados por jacurarus,
urubus e mucuras. Durante esses anos de estudo verificamos que
vários ninhos marcados são predados, mas somente uma pequena
porcentagemdeles não é possível identificar o predador.
Gaivotas são excelentes predadoras. Essas aves são
observadas predando filhotes na praia tanto de dia como de noite, e
no rio durante o dia. Na praia, a estratégia mais comum é a gaivota
realizar vôos cada vez mais baixos sobre o filhote, até conseguir
apanhá-lo com as patas sem pousar na areia. Na água, as gaivotas
sobrevoam o local à espera que um filhote venha à tona. Quando isso
acontece, realizam uma descida rápida e capturam os filhotes com
as patas, erguendo-se novamente.
Durante as primeiras horas da manhã, é comum observarmos
repetidas vezes a presença de gaviões (várias espécies ainda não
identificadas), gaivotas e urubus atacando filhotes isolados e dentro
de cercados de tartaruga, mesmo quando já existem agentes e
estagiários trabalhando na retirada de filhotes. Gaviões e urubus
pousam próximo à presa e a seguram no solo, ao passo que as
gaivotas normalmente capturam os filhotes em vôos rasantes e os
levam consigo. Pudemos também observar interações agonísticas
(disputa) entre as aves.
Nas noites em que milhares de filhotes emergem
simultaneamente nos cercados, observamos que grupos de urubus
passam a noite dentro dos cercados alimentando-se deles. Nas
manhãs seguintes, centenas de cascos são encontrados dentro dos
cercados e nas imediações.
141
Jacarés-açus ( ) e tingas (
) investem em grupo de tartarugas que escapam dos
cercados e também sobre os cercados, quando estes estão próximos
à margem da praia. No período de emergência de filhotes, vários
cascos comidos pormucuras foram encontrados perto dos locais em
que eles foram capturados. Nesses cascos, havia marcas de dentes
que permitirama identificação do predador.
A predação de filhotes na água também é um fenômeno
muito comum de ser observado na praia do Abufari. A aruanã
(Osteoglossum bichirrosum) é um dos principais predadores
aquáticos dos filhotes de quelônios que nascemna praia.
Ecologia reprodutiva
O principal local de nidificação dos quelônios na Rebio é a praia do
Abufari. A altura média da praia é de 4,5 m (±1,8m), onde desovam
emmédia 8.802 ±2.516 quelônios: tracajás, iaçás e tartarugas.
Considerando os anos de 1997-2004, exceto 2002, a
produção média anual de filhotes de tartarugas na Rebio Abufari foi
de 177.000 ±53.250 (Figura 5). Rebêlo (1985) reporta que na praia
do Abufari foram produzidos cerca de 40 mil filhotes de tartarugas
no ano de 1984. Informações entre os anos de 1985 a 1997 e 2002
são escassas e duvidosas e, portanto, não estão sendo utilizadas
neste relatório.
Segundo dados diários da produção de filhotes de tartaruga
encontrados em planilhas do arquivo da Rebio, no ano de 1997 a
produção foi de 287.686 filhotes.
Melanossuchus niger Caiman
crocodilus
142
que pode ser um indicativo de uma predação humana excessiva
sobre machos e fêmeas adultas. Em 2000, a taxa de ovos inférteis,
gorados e natimortos, foi superior à 1999 (teste T, P<0,05), o que
associamos a um atraso no período das chuvas. Os filhotes que
conseguiram eclodir nas covas naturais que acompanhamos, não
tiveram forças para sair da cova e acabaram sendo predados por
larvas demoscas (Diptera: Ephydridae).
Os esforços de conservação de quelônios nesses municípios,
entretanto, vêm sendo comprometidos em alguns lugares
(Oriximiná/PA: Lago do Sapucuá, Jarauacá, Igarapé dos Currais;
Parintins/AM: Valéria, Murituba), em função dos danos causados
pelas larvas desses dípteros pertencentes à família Ephydridae. O
adulto é uma mosca de coloração preto-metálico, medindo cerca de
três milímetros de comprimento. Essa mosca, por apresentar
hábitos muito variados, inclusive saprofíticos, ataca na fase de
maior suscetibilidade do ciclo evolutivo dos quelônios. As larvas
predam ovos e filhotes, sendo os adultos, provavelmente, atraídos
pelo odor característico de ovo, logo após o primeiro filhote eclodir,
ou pelo odor de putrefação de ovos contaminados por fungos ou
gorados.
Os tracajás (n=617) nasceram medindo o comprimento de
carapaça, 39,3 ± 1,7 mm, os iaçás (n=101) com 40,5 ± 2,4 mm e as
tartarugas (n=201) com 46,9 ± 1,4 mm. Os tracajás pesaram em
média 14,9 ± 1,4 g, iaçás 14,3 ± 1,8 g, tartarugas 22,5 ± 1,4g e
calalumãs (n=110) 11,2 ± 2,6 g. Os filhotes que nasceram em covas
transplantadas para o barro foram significativamente (teste T,
P<0,01) maiores (comprimento da carapaça = 39,8 ± 0,9 mm), mais
pesados (peso=15,6 ± 0,2 g) e menos pigmentados do que aqueles
que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0 ± 2,2 mm;
peso=14,3 ± 1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás que
nasceram no barro tiveram um ganho diário de peso (GDP) de 0,05
393
larvas se deu em número muito menor e não houve problema de
pisoteio, sendo a taxa de eclosão das covas naturais de 95,45%.
Pezzuti (1998) também encontrou filhotes de pitiú predados por
larvas dessasmoscas.
O maior predador de ninhos naturais nas comunidades do
projeto, depois do homem, foi o jacuraru ou teiú (Tupinambis
teguixin). Nos ninhos transferidos, tivemos problema apenas com
um cachorro que entrou à noite no cercado de proteção da Aliança -
Lago do Piraruacá, e comeu os filhotes e ovos de duas covas, em
1999 e duas covas naturais em2000.
Alho et al. (1984) e Vogt (1994) afirmam que a manipulação
dos ovos em programas de conservação alterariam as condições
microclimáticas dos ninhos, retardando a eclosão, aumentando a
mortalidade e influenciando a razão sexual com a masculinização
dos embriões. Isso, entretanto, não ocorreu na maioria das áreas do
projeto, onde as covas transferidas tiveram maior taxa de eclosão e
sobrevivência de filhotes do que as covas naturais. Quanto à
sexagem dos filhotes, embora sabendo que é extremamente
importante para determinar a razão sexual do que estamos
produzindo, ao transferir os ninhos, não realizamos por ser
extremamente difícil

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