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Conquistas mercês

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BICALHO, Maria Fernanda. Conquista, Mercês e Poder Local: a nobreza da terra na América portuguesa e a cultura política do Antigo Regime. 
A nobreza desde o período medieval e moderno obtém-se uma vida de ociosidade, na qual dependia do rei para sobreviver e adquiriam vários privilégios.Houve uma nova estruturação envolvendo a nobreza, não viviam mais na ociosidade e foram conquistando mais espaço no âmbito político, social e econômico. Através desses privilégios alguns desempenhavam algumas funções: os que combatem, seriam aqueles militares que estavam em frente às guerras para a defesa do rei e do império; os que detém poderes jurisdicionais; os que recebem determinadas delegações da realeza, etc.
 No Antigo Regime a dinâmica social estava relacionada entre a Coroa e as suas metrópoles. Na relação entre Coroa e nobreza. A centralização do poder não estava só nas mãos do rei, mas havia fragmentação deste poder para interagir com os poderes locais e assim, estabelecer negociações com as redes, visando não só o interesse da Coroa, mas também, da elite dirigente (nobreza). Com o aumento do poder do rei, legitimou a nobreza como uma dignidade provida pelo rei. À proporção que o rei ganhava mais poderes, estabelecem vínculos com as elites, tornando uma reciprocidade entre si.
O entendimento das relações sociais se dar em formação das correlações entre o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento social dos indivíduos. Essa dinâmica que estrutura e prende súditos à vida cortesã e ao jogo do poder, determina o seu papel que cada um desempenha, fundamenta-se no processo de hierarquização da sociedade.
Pertencer a Corte significa a manutenção de prestígio e possibilitava a ascensão na hierarquia social. Todo um conjunto de normas comportamentais regia as ações desses viventes. O rei, no seio da sociedade de cortesã simbolizava o poder máximo e originava em torno de si um universo de intrigas e competições por seus favores e preferências, uma atmosfera carregada de maledicência, um intenso embate por nomeações lucrativas ou por um lugar de honra no leito real.
Essas tensões, disputas e acordos denominam-se no conceito criado por Elias: “equilíbrio de tensões”, demonstra a manutenção do poder monarca consiste na capacidade de negociar. No entanto, essa capacidade de negociação gera na sociedade de corte, um desencadeamento de interdependências e das tensões nas sociedades.
“o ethos hierarquizado dos cortesãos não é um nenhum ethos econômico disfarçado, mas algo constitutivamente distinto. Existir sob a aura do prestigio, ou seja, existir como membro da corte é o objetivo final dessas pessoas.” (Elias, 2001, p.110).
Ao mesmo tempo em que existiam esses conflitos pela busca de privilégios, o rei se tornava mais forte. Um jogo político que ele governava, manipulando ao seu favor, controlando, promovendo. Alterando cada peça que fosse rentável ao seu reino.
“utiliza a competição dos cortesãos por prestígio e favorecimentos para alterar posição e prestigio de cada individuo dentro da sociedade, por meio do grau exato do favor concedido, de acordo com seus objetivos, deslocando segundo sua necessidade as tensões e, portanto, o equilíbrio social”. (Elias, 2001, p.107).
A Coroa representava a cabeça, onde estava o comando de tudo. Esse rei deveria garantir um bom governo, promovendo a paz interna e externa, respeitar os direitos, as obrigações, etc. Ou seja, ter uma boa relação não somente com a nobreza, mas também com as classes “menos privilegiadas”. Garantindo assim, um equilíbrio entre a nobreza e a massa.
O poder da Coroa passa pelas correlações de forças e vínculos que se estabelece pelo poder monárquico e a sua auto capacidade de negociação, influenciando no âmbito político, social e econômico da sua metrópole de das suas colônias.
O sistema de sociedade de corte era baseado nos status que a nobreza buscava, com a sua ascensão econômica, com a acumulação de riqueza e principalmente, na confiança do rei. Por sua fidelidade e por se destacarem no ato de servir ao rei, a nobreza recebia em troca, honra, liberdade, privilégios, reconhecimento, doações de títulos, etc. Havia uma diferenciação entre nobres de nascimento (“sangue azul”) e os nobres que eram concedidos através de compras de títulos ou pelo enriquecimento e a partir daí começaram a frequentar a corte. Na origem do conceito de pureza de sangue podemos encontrar, sobretudo, o chamado orgulho de ser fidalgo: 
“A aristocracia se valeu constantemente desse conceito que lhe fortalecia a posição de grupo de status privilegiado enquanto casta” (Carneiro, 2005, p. 46).
A prova da pureza de sangue era realizada por meio de inquirições e processos de habilitação genere e moribus, obrigatórios para o ingresso em cargos públicos. Para receber títulos honoríficos, frequentar colégios religiosos. As inquirições de genere são expressões da aplicabilidade da limpeza de sangue e expressam o pensamento segregacionista que predominou na sociedade portuguesa a partir do século XVI. 
A nobreza civil obtinha sua ascensão através dos serviços prestados à monarquia e ao rei, através do exercício de ofícios vinculados ao serviço régio, era o caminho mais consistente para o engrandecimento da aristocracia em Portugal. A sua compreensão exige o entendimento da natureza desses ofícios na ordem corporativista portuguesa e o papel das mercês para a sua obtenção.
Nessa base da hierarquia social houve um “alargamento” da nobreza, inserindo novos grupos na sociedade de corte. E a partir dessa nova conjuntura modifica-se não somente o cenário social, mas influencia na base econômica.
A sociedade de corte era representada pela monarquia, a nobreza e a população “comum”. A monarquia na figura do rei, a pessoa mais importante da corte, com toda reverência que se tem perante a sociedade com seus súditos. O poder de governar um império, com grandes influências políticas. Com ostentação, riqueza e muito luxo .A nobreza estava inserida no meio da ostentação e riqueza que a monarquia oferecia a ela. Os privilégios concedidos pela Coroa não foram somente em títulos, terras, cargos, mas através dessas concessões a monarquia buscava mais ascensão na sociedade. O que provocou intrigas, novas relações de poderes, alianças, etc. Ser nobre era um status para poucos, pois somente as famílias de linhagem frequentavam a corte, no entanto, com as alianças que a monarquia estabelecia não somente com a nobreza de “sangue azul”, mas também, com outras “classes” que crescia em decorrência dos negócios estabelecidos. Evidencia a compra de títulos e a partir dessa nova perspectiva esses novos nobres ganham notoriedade na sociedade, mesmo que estes ainda sofrem alguns ressentimentos por não serem de uma linhagem de nobre de “sangue azul”. As relações de poderes vão se tecendo de acordo com os interesses da monarquia e da nobreza.

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