Buscar

Resumo (de concurso) - Direito Processual Civil -Curso Processo Civil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
Resumo de Direito Processual Civil 
 
 
 
Assunto: 
 
 
CURSO DE DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
Autor: 
 
REINALDO WANBIER 
 
 2
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
 
1. JURISDIÇÃO 
 
SUMÁRIO: 
1. 1 Histórico 
1.2 Conceito 
1.3 Jurisdição e Estado de Direito 
1.4 Divisão da jurisdição. 
 
 
1.1 Histórico 
 
0 estudo do direito processual civil exige, como conhecimento prévio, básico e indispensável, que se 
tenha noção daquilo que seja jurisdição, pois, afinal, é nesse ambiente, ou seja, no seio da atividade 
jurisdicional, desenvolvida pelos órgãos do Poder Judiciário, que se processará todo o desenrolar do 
conhecimento da matéria relativa ao processo civil. 
 
A atividade jurisdicional, hoje, é reconhecida como sendo uma das funções do poder estatal (as 
outras são a administrativa e a legislativa), incumbida de dar àquela parcela de cada conflito de 
interesses a ela submetida pelos interessados (ver, adiante, o conceito de lide) a solução que para tal 
tenha sido engendrada no âmbito do sistema jurídico. Logo abaixo analisaremos especificamente o 
aspecto polêmico do conceito de jurisdição. 
 
0 conhecimento de jurisdição exige, como dado prévio, que se trace, ainda que com muita brevidade, 
um esboço histórico. 
 
Nos primeiros tempos da civilização, aqueles que se vissem envolvidos em qualquer tipo de conflito 
intersubjetivo poderiam resolvê-lo por si mesmos, do modo que fosse possível, realizando aquilo a 
que hoje se denomina de autotutela. 
 
Se A e B estivessem em conflito em razão do desrespeito, por B, de direito atribuído a A, este poderia 
defender-se sozinho, resolvendo o conflito em que estivesse envolvido, mediante qualquer tipo de 
solução, ainda que baseada na supremacia decorrente da força bruta ou de qualquer faceta 
representativa dos poderes econômico e bélico. Por exemplo: diante do inadimplemento de obrigação 
consistente em pagar um débito, assumida por uma parte diante da outra, o credor poder-se-ia 
apropriar ar de bens do devedor, em valor equivalente ao de seu crédito, como forma de receber 
aquilo a que tinha direito, sem que estivesse incidindo na prática de qualquer delito. Hoje, no direito 
positivo brasileiro, o exercício da autotutela, salvo pouquíssimas exceções expressamente previstas 
na lei (ex.: art. 502 do CC, desforço imediato no esbulho da posse) é tipificado penalmente. 0 art. 345 
do CP define como crime o exercício arbitrário das próprias razões. 
 
 3
Num outro estágio da civilização, a esse subseqüente, a autotutela foi sendo abandonada, chegando-
se à solução dos conflitos entre os sujeitos mediante o concurso de terceiro desinteressado e 
imparcial, eleito pelos contendores. Tratava-se daquilo que se pode denominar de arbitragem 
facultativa. 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
Subseqüentemente, a arbitragem passou a ser obrigatória, de modo que os envolvidos no conflito 
deveriam necessariamente submeter-se a uma solução criada por terceiro desprovido de interesse 
direto no objeto daquele conflito. 
 
Somente muito depois, com o desenvolvimento da noção de Estado e, conseqüentemente, com o 
nascimento das primeiras idéias a respeito daquilo que seria, mais tarde, o Estado de Direito, é que a 
tarefa de solucionar os conflitos (por conflito entenda-se aquela "parcela" deste levada ao Judiciário, 
ou seja, a lide) entre as pessoas foi admitida como função do Estado, primeiramente atribuída ao 
soberano, de quem emanava todo o Direito e, mais tarde, numa fase mais desenvolvida, mediante o 
concurso dos organismos do Poder Judiciário, dotados de independência estrutural diante dos 
demais órgãos de gestão das atividades estatais. 
 
Essas fases não ocorreram de forma marcadamente distinta, de modo que se possa enxergá-las, 
num olhar voltado para o passado histórico, absolutamente separadas umas das outras. Não houve 
marcos divisórios nítidos, precisos, entre essas diferentes fases, correspondentes a distintos modos 
de solução de conflitos admitidos pelas diversas sociedades ocidentais. A história mostra que, em 
quase lodos os momentos, esses diferentes sistemas conviveram uns com os outros, ora com a 
predominância de um, ora com a preponderância de outro. Ainda hoje essa concomitância se verifica 
com muita clareza, apesar da evidente predominância da atividade jurisdicional estatal. 
 
Essa nítida preferência pela solução jurisdicional estatal dos conflitos de interesses faz com que se 
afirme, na doutrina, que a jurisdição é monopólio do poder estatal. É preciso esclarecer, todavia, que 
esse caráter monopolizador da atividade jurisdicional do Estado não impede que, autorizados por lei, 
possam os interessados optar por meio não estatal de exercício da jurisdição, isto é, de realização de 
atividade capaz de por fim à lide. Nessa hipótese, a jurisdição é, por assim dizer, exercida por 
delegação do Estado, desde que expressamente autorizada por lei e, sempre, em decorrência do 
interesse das partes, manifestado de forma expressa. 
 
Se a jurisdição estatal é preferida pelas diversas sociedades, coexistem com ela outros mecanismos, 
como o da arbitragem, quer nos conflitos internacionais, quer nos conflitos entre blocos econômicos 
quer, no âmbito interno, nos conflitos a ela submetidos por deliberação dos interessados, em que se 
realiza aquilo que acima denominamos de exercício delegado da jurisdição. 
 
A arbitragem, por se tratar de opção que deva ser feita necessária e exclusivamente pelos próprios 
interessados, em casos hoje expressamente previstos na lei, não implica violação ao princípio da 
inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV, da CF). 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, a atividade jurisdicional estatal convive com os mecanismos 
arbitrais previstos na Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996. De acordo com o art. 1º dessa regra, "as 
pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos 
patrimoniais disponíveis".' 
 
A arbitragem, como exercício delegado da jurisdição estatal, serve de mecanismo alternativo à 
atividade do Poder Judiciário, pois também se insere no conjunto de meios para a solução da lide. 
 
 4
Embora em casos reduzidíssimos, a jurisdição e a arbitragem facultativa convivem, ainda hoje, em 
nosso direito, com algumas hipóteses em que se permite a autotutela. Exemplo disso está no art. 502 
do CC, em que se autoriza o possuidor molestado ou desapossado ao desforço imediato para a 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
manutenção ou restituição da posse. Segundo essa norma, "o possuidor turbado, ou esbulhado, 
poderá manter-se, ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo". 
 
 
1.2 Conceito 
 
A jurisdição é, portanto, no âmbito do processo civil, a função que consiste, primordialmente, em 
resolver os conflitos que a ela sejam apresentados pelas pessoas, naturais ou jurídicas (e também 
pelos entes despersonalizados, tais como o espólio, a massa falida e o condomínio), em lugar dos 
interessados, por meio da aplicação de uma solução prevista pelo sistema jurídico.' Por solução do 
sistema, entendemos aquela prevista pela função normatizadora do Direito, esta consistente em 
regular a apropriação dos bens da vida pelas pessoas, mediante o uso de um sistema de comandos 
coativos ou sancionatórios, de sorte que seja possível alcançar soluções compatíveis com a 
necessidade de manutenção da paz social. 
 
 
1.3 Jurisdição e Estado deDireito 
 
Há casos, no multifacetado conjunto de interesses que coexistem na vida da sociedade, em que o 
simples comando legal não é suficiente para eliminar a presença do conflito, isto é, da incidência de 
interesses simultâneos e excludentes, sobre o mesmo bem. Esse estado de conflituosidade rompe a 
paz social e requer uma solução. 
 
Por outro lado, a moderna noção de Estado de Direito consagrou a idéia de divisão das funções 
atribuídas ao Estado. Tais funções legislativa, administrativa e jurisdicional - estão voltadas ao 
alcance dos fins do próprio Estado e são dispostas, na organização da estrutura do Estado, de modo 
a garantir o necessário equilíbrio no exercício do poder estatal. Com isso se quer dizer o seguinte: o 
poder do Estado envolve três funções: o fazer as leis, o executá-las e o julgar os conflitos decorrentes 
do seu descumprimento. Se estas três funções estiverem enfeixadas na mesma mão, ter-se-á uma 
situação de absolutismo (a ditadura, de nossos dias). Assim, a tripartição das funções do Estado, com 
a entrega de cada função do poder a organismos diferentes, é que permite a existência do Estado de 
Direito. 
 
Ao lado das funções de regular as condutas e administrar os meios de que o Estado dispõe para o 
alcance de seus próprios fins, há a função jurisdicional que, como se viu, está direcionada à 
promoção da paz social, por meio da solução de cada conflito (entre A e B, por exemplo) que a ela 
seja apresentado pelos interessados. Essa função, de julgar, é exercida pelo Poder Judiciário. 
 
Para a realização das funções da jurisdição, o sistema jurídico positivo do Estado brasileiro prevê 
uma serie de garantias, com assento na Constituição Federal, a partir das quais o legislador 
infraconstitucional está autorizado a "construir" todo o sistema processual. 
 
São garantias como a do devido processo legal, do juiz natural, da indelegabilidade e 
indeclinabilidade da jurisdição, da ampla defesa, do contraditório, da fundamentação das decisões 
judiciais, dentre outras tantas, igualmente previstas na Constituição Federal, que garantem aos 
cidadãos do Estado e às pessoas em geral o direito de acesso às decisões judiciais. 
 5
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
A jurisdição, portanto, como atividade estatal destinada à solução dos conflitos, está garantida pela 
Constituição e nesta é que se encontram os princípios em respeito aos quais o legislador ordinário 
deve regular toda a atividade judicial no âmbito do processo civil. 
 
 
1.4 Divisão da jurisdição 
 
A jurisdição comporta dois tipos de divisões. Num primeiro momento, podemos dividi-Ia em comum e 
especial. A jurisdição comum se subdivide em civil e penal; a jurisdição especial, em militar, 
trabalhista e eleitoral. Por outro lado, em razão da adoção do sistema federativo, a justiça comum 
comporta outra divisão: federal e estadual. 
 
Há dois critérios através dos quais se pode saber se se está diante da jurisdição civil ou penal. 0 
primeiro, de caráter científico, supõe que verifiquemos, em cada caso concreto, se se está diante de 
matéria que deva ser julgada na esfera penal, isto é, se se trata de matéria penal, ou, por outro lado, 
se se está defronte a matéria que se possa enquadrar como concernente à jurisdição civil. Assim, 
matéria civil propriamente dita, comercial, administrativa e previdenciária, serão julgadas pela 
jurisdição civil. 
 
 
0 segundo critério, de caráter eminentemente prático, consiste na analise excludente da matéria. 
Assim, diante de um caso concreto, o primeiro passo é verificar se se trata de matéria de 
competência de qualquer das esferas da justiça especial: é matéria trabalhista? Eleitoral? Militar? 
Não o sendo, exclui-se a jurisdição especial, e se passa à fase seguinte da indagação: trata-se de 
matéria penal? Se não o for, por exclusão se estará diante de caso que deva ser entregue à 
jurisdição civil. Diante desta última resposta poder-se-á ainda indagar: trata-se de litígio que envolva 
pessoas capazes de assumir obrigações na esfera civil? 0 litígio versa direitos patrimoniais 
disponíveis? Se for negativa a resposta a qualquer uma dessas duas últimas perguntas, exclui-se 
também a arbitragem como possível mecanismo de solução do conflito. Se forem positivas as 
respostas a essas duas perguntas, os interessados poderão, finalmente, optar entre a jurisdição civil 
estatal, exercida pelo Poder Judiciário, e a atividade arbitral, exercida nos termos do que dispõe a Lei 
9.307/96. 
 
Por último, temos a chamada jurisdição voluntária, prevista nos artigos 1.103 a 1.210 do CPC. 
 
Discute-se na doutrina se essa atividade é substancialmente jurisdicional, ou se se trata de atividade 
apenas formalmente jurisdicional. 
 
Igualmente denominada de jurisdição graciosa ou de administração judicial de interesses privados, 
não é assimilável à natureza da atividade jurisdicional, porque nela não há decisão que diga o direito 
aplicável à lide, em substituição à vontade dos interessados. Também não se assemelha à atividade 
da jurisdição, porque não consiste em resolver conflitos, mas apenas em chancelar, por força de lei, 
aquilo que os interessados entre si já resolveram, mas cuja eficácia depende dessa chancela, isto é, 
da manifestação do Poder Judiciário, ainda que apenas com caráter homologatório da vontade dos 
interessados. Também não tem os mesmos efeitos da atividade jurisdicional típica, não produzindo, 
por exemplo, coisa julgada material. 
 
 
 6
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
Se não se trata efetivamente de jurisdição, também não se trata de atividade voluntária dos 
interessados, pois estes recorrem ao Poder Judiciário para a obtenção dessa chancela aos interesses 
privados, porque assim a lei exige, sob pena de ineficácia, ou seja, o que se quer só pode ser obtido 
por essa via. 
 
Exemplo expressivo dessa situação é o da separação consensual, em que os cônjuges, juntos, lendo 
o mesmíssimo objetivo, vão ao Poder Judiciário para pedir manifestação desfazendo a sociedade 
conjugal existente. Não há nesse caso, qualquer conflito. Ambos querem desfazer a sociedade 
conjugal por meio da separação consensual. Todavia, querendo separar-se, não hasta a vontade 
deliberada de ambos, pois esta deverá necessariamente (e não voluntariamente, corno faz supor a 
expressão jurisdição voluntária) ser objeto de homologação pelo juiz. 
Trata-se, portanto, de atividade extraordinariamente desempenhada pelo Poder Judiciário, sem que 
faça parte de sua destinação específica, que é a de resolver os conflitos de interesses a ele 
submetidos, em que aquele apenas chancela a vontade manifestada pelos interessados, que disso 
necessitam para conferir eficácia a essa manifestação. 
 
 
 
 
 
 7
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
SUMÁRIO: 
2.1 Direito material e direito processual 
2.2 Direito privado e direito público 
2.3 Classificações das normas jurídicas: 
2.3.1 Classificação quanto ao grau de obrigatoriedade das normas jurídicas; 
2.3.2 Classificação quanto à natureza das regras jurídicas; 
2.3.3 Características das normas processuais 
2.4 Autonomia epistemológica do direito processual civil. 
 
 
2.1 Direito material e direito processual 
 
0 Direito se constitui, sob determinado aspecto, num conjunto de regras, de normas, de dispositivos. 
Existem vários critérios pelos quais se podem agrupar tais regras. Esses diferentes critérios de 
agrupamento das regras jurídicas dão origem às diversas classificações a que o direito se pode 
submeter. 
 
Uma das formas de classificar os diversos ramos do Direito consiste em dividi-lo em dois grandes 
grupos:direito material e direito processual. 
 
Regra geral é possível afirmar que todas as normas que criam, regem e extinguem relações jurídicas, 
definindo aquilo que é lícito o pode ser feito, aquilo que é ilícito e não -deve ser feito, se Constituem 
em normas jurídicas de direito material. Tratam estas normas das relações jurídicas que se travam no 
mundo empírico, como, por exemplo, as regras que regulam a compra e venda de bens, ou 
disciplinam o modo como deve ocorrer o relacionamento entre vizinhos, ou como se opera um 
negócio no âmbito financeiro etc. Trata-se de regras que, em resumo, regulam as relações jurídicas 
em geral, excluída a matéria relativa à disciplina dos fenômenos que se passam no processo, 
inclusive da relação jurídica processual base. 
 
Estas últimas, que tratam da disciplina processual, da forma como se fará a veiculação da pretensão, 
com vistas à solução da lide, têm conteúdo nitidamente vinculado àquilo que acontece em juízo isto é, 
quando o litígio chega ao Poder Judiciário (ou, se for o caso, quando se celebra o compromisso 
arbitral) sob a forma de lide. Estas também proporcionam a criação, modificação e extinção de 
direitos e obrigações. A diferença está em que lá, nas normas de direito material, há disciplina das 
relações jurídicas que se travam nos mais diferentes ambientes (familiar, negocial etc), ao passo que 
aqui, no que diz respeito às normas de direito processual, são disciplinados os fenômenos 
endoprocessuais (que ocorrem dentro do processo) e a própria relação jurídica em que consiste o 
processo. 
 
0 relacionamento entre esses dois ramos do Direito - direito material e direito processual - é de 
instrumentalidade do segundo diante do primeiro, ria medida em que é através do processo que se 
consegue dar rendimento à norma jurídica de direito material que foi desrespeitada por um dos 
sujeitos da lide. 
 
 8
0 direito material, por si só, isto é, visto sob o prisma de sua própria finalidade, cuida apenas das 
relações jurídicas em que o cumprimento da norma se dá espontaneamente por aqueles que estejam 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
a isso obrigados, seja por força da lei, seja em razão de contrato. Diante do descumprimento da 
norma ou do inadimplemento de determinada obrigação, o direito material nada pode fazer, restando 
ao interessado buscar a tutela jurisdicional para seu interesse violado, o que faz por meio da 
provocação da atividade jurisdicional. 
 
Exemplo: A causa um dano patrimonial a B, em decorrência de ato culposo (um acidente de veículos, 
por exemplo). 0 direito material, previsto no art. 159 do CC, dispõe que "Aquele que, por ação ou 
omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica 
obrigado a reparar o dano". Que conduta deverá ter B se A se negar a reparar o dano? Sendo 
proibida a autotutela resta a B buscar a tutela estatal, o que fará mediante o ajuizamento de uma 
ação de reparação, ou seja, iniciando um processo, que servirá de instrumento para que B alcance a 
realização de seu direito à reparação do dano que sofreu. 
 
Por fim, tratando-se de ramo do direito que disciplina as regras de natureza processual, o direito 
processual pode ser definido como o conjunto de normas jurídicas voltadas à regulamentação da 
atividade característica da jurisdição. 
 
 
2.2 Direito privado e direito público 
 
0 grande número de regras, de que é constituído o ordenamento jurídico, determina a existência de 
outra classificação, a partir de outro critério, que é a natureza dos sujeitos envolvidos nas relações 
jurídicas disciplinadas pela lei. Isso decorre da simples circunstância de que as normas jurídicas 
dizem respeito, direta ou indiretamente, às atitudes das pessoas' em seus múltiplos relacionamentos, 
umas com as outras. As atitudes de umas diante de outras se constituem em relações jurídicas, dos 
mais diferentes matizes: relações jurídicas de parentesco, relações jurídicas comerciais etc. 
 
Assim, se se está diante de um contrato que obriga A a outorgar escritura de compra e venda de um 
imóvel a B, ou se se está diante de um contrato em que B assumiu comA a obrigação de fazer 
determinada obra, sendo A e B particulares (uma pessoa física e uma empresa comercial, por 
exemplo) temos duas hipóteses de contratos que significam a existência de vínculos, chamados de 
relações jurídicas. No caso desses exemplos, tais contratos são regulados por normas de direito 
privado, isto é, que regulam os negócios jurídicos em que, nos dois pólos - contratante e contratado, 
por ex., se encontram particulares. 
 
Disso se extrai, regra geral, como conseqüência imediata, o seguinte: há dois grandes ramos do 
direito, privado e público, em que se encaixam as normas jurídicas, dependendo da titularidade e 
natureza das relações jurídicas. Tratar-se-á de norma de direito privado quando todos os 
participantes da relação jurídica a que ela disser respeito 
 
forem particulares; quando, no entanto, o Estado participar dessa relação jurídica, sob qualquer de 
suas formas, e nela veicular-se matéria de natureza pública, estar-se-á diante de norma de direito 
público. 
 
Assim, as normas de direito civil são classificadas como normas de direito privado, enquanto as 
normas de direito administrativo são de direito público, pois dizem respeito às relações jurídicas 
existentes entre os particulares e a Administração Pública, em razão de matéria de natureza pública. 
 9
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
É necessário observar que a constante transformação da sociedade requer a conseqüente evolução 
do direito, que é chamado a resolver novas questões, antes não imaginadas pelo legislador. A 
democratização da informação, fenômeno que se tem verificado cada vez mais expressivo e 
crescente, serve de exemplo do aumento da participação de mais e mais grupos de membros da 
sociedade, que, se antes estavam à margem dos processos de tomada de decisões, nos foros 
políticos e econômicos, nos últimos cinqüenta anos viram aumentar sua influência nos destinos da 
sociedade. 
 
Esse fenômeno, isto é, a ocorrência de transformações sociais que requerem novas regras jurídicas, 
faz com que surjam novas categorias de normas, nem sempre subsumíveis a um desses dois 
grandes ramos (direito público e direito privado). 
 
Isso, se não invalida a classificação, deve servir de alerta para a existência de novos ramos do 
direito, em que as relações jurídicas entre particulares recebem tratamento diferenciado das normas 
de direito civil, antes referidas. São relações jurídicas entre partes essencialmente desiguais, em que 
o Estado intervém, mediante a edição de normas imperativas. Exemplo dessa situação está nas 
regras de direito do trabalho, em que empregado e empregador, conquanto sejam particulares, 
submetem suas relações jurídicas a regras cogentes, a respeito das quais não têm disponibilidade. 
Da mesma forma se dá nas relações de consumo, por força, inclusive, de disposição expressa do art. 
1º da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). 
 
 
2.3 Classificações das normas jurídicas 
 
2.3.1 Classificação quanto ao grau de obrigatoriedade das normas jurídicas 
 
Há vários critérios através dos quais se pode classificar as normas jurídicas em geral. A classificação 
que nos interessa, todavia, para auxiliar na compreensão daquilo que seja o direito processual civil, é 
a que divide as regras jurídicas segundo o grau de obrigatoriedade que as caracteriza. Por este 
critério se podem classificar as regras jurídicas em cogentes e dispositivas. 
 
São cogentes, imperativas ou de ordem pública, as normas jurídicas que se caracterizam pela 
circunstância de deverem ser cumpridas, sempre, independentemente da escolha daquele quelhes 
deva cumprimento. Quer dizer, há regras, cujo cumprimento se impõe a todos, independentemente 
da vontade. Trata-se de regras inderrogáveis pela vontade das partes. Assim, por exemplo, são 
cogentes as regras relativas ao casamento. Aqueles que pretendam casar devem, necessariamente, 
observar o conjunto de regras que disciplinam a matéria, não havendo qualquer possibilidade de 
disporem diferentemente do que prevê, a respeito, o comando imperativo da lei. De nada adiantaria 
que homem e mulher, pretendentes ao casamento, estipulassem condições, como a da duração do 
vínculo matrimonial, dizendo que gostariam de manter o casamento pelo período de cinco anos, por 
exemplo. Trata-se de regra impositiva, cogente, imperativa, de ordem pública, que não admite 
qualquer tipo de disposição por parte da vontade humana. 
 
 10
Já as normas facultativas, ou dispositivas, embora também devam ser cumpridas, podem ser 
afastadas, nos limites permitidos pela própria lei, pela vontade das partes. Exemplo: a regra relativa 
ao casamento prevê que, se não houver previa manifestação de vontade em contrário, no sentido da 
escolha do regime de bens desejado por aqueles que se vão casar, o regime legal será o da 
comunhão parcial. Desejando, todavia, os noivos, a adoção de outro regime de bens, podem, 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
mediante pacto antenupcial, afastar o regime legal, isto é, da regra geral, e optar por outro regime, 
desde que também previsto pelo ordenamento. 
 
 
 
2.3.2 Classificação quanto à natureza das regras jurídicas 
 
À luz deste critério, se podem classificar as regras jurídicas em obrigações, deveres e ônus. 
 
As obrigações consistem em atitudes que se devem tomar, sob pena de causar-se prejuízo ao outro 
pólo da relação jurídica, e que deixam de ser exigíveis, desde que cumpridas. Se houver o 
descumprimento da obrigação, entretanto, essa atitude omissiva dá margem ao nascimento de 
pretensão, de que é titular aquele diante de quem se deveria ter cumprido a obrigação, que se pode 
resolver mediante a condenação ao cumprimento da obrigação propriamente dita, à condenação a 
uma prestação equivalente ou à indenização, em dinheiro. A definição de uma ou outra dessas 
alternativas dependerá, sempre, do tipo de obrigação a que se tenha comprometido o inadimplente. 
Se se tratar de obrigação de fazer ou de abster-se, há disposição expressa no art. 461 do CPC, que 
será vista oportunamente, que permite ao juiz a concessão da tutela específica, ou seja, a 
condenação do réu a fazer exatamente aquilo a que se havia comprometido pelo contrato. Exceção a 
esse tipo de obrigação (fazer e não fazer), a regra geral é a da conversão em valor monetário, que o 
inadimplemento será condenado a pagar ao outro contratante (genericamente, ao outro pólo da 
relação jurídica obrigacional). 
 
Se X firma o compromisso de entregar determina coisa fungível a Y, o cumprimento dessa obrigação 
determinará seu exaurimento, sua imediata extinção, ao passo que o inadimplemento fará com que 
nasça, para o credor Y, o direito ao recebimento do equivalente em dinheiro. 
 
Diferentemente das obrigações, as normas caracterizadas como dever não se esgotam com o seu 
cumprimento. Ao contrário, exigem dos obrigados ao seu cumprimento contínua vigilância, cujo 
relaxamento, representado pelo descumprimento do dever, determina o lançamento de penalidade 
consistente em multa. Esta, por sua vez, constitui verdadeira punição ao faltoso no cumprimento do 
dever. 
 
Já os ônus, conquanto também consistam em condutas transitórias, determinam, em decorrência de 
seu desatendimento, que recaia a conseqüência desse comportamento sobre o próprio faltoso, não 
causando qualquer tipo de prejuízo para o outro pólo da relação jurídica. 
 
A grande maioria das regras processuais, são consistentes em ônus para a parte (autor ou réu), cujo 
descumprimento somente desfavorece aquele que deveria cumpri-Ias. Veja-se, como exemplo, o 
ônus do réu, no sentido de responder aos termos da petição inicial utilizada pelo autor. Desatendida a 
regra que permite ao réu defender-se das alegações do autor, é sobre ele que recairão as 
conseqüências de sua inércia. 
 
 
2.3.3 Características das normas processuais 
 
Vistos esses pontos, é possível traçar algumas conclusões a respeito das normas jurídicas que 
disciplinam o objeto deste curso, que é o direito processual civil. 
 11
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
Em primeiro lugar, é forçoso concluir que as regras processuais não são de direito material, porque 
todas as normas processuais dizem respeito a atividades jurisdicionais, que ocorrem, portanto, no 
processo. 
 
Depois, conclui-se que se trata de normas de direito público, e não de direito privado, pois dizem 
respeito ao regramento da relação jurídica (de natureza processual) que se estabelece entre autor, 
réu e Estado (Poder Público) representado na pessoa do juiz, que exerce a jurisdição, uma das três 
funções decorrentes da soberania do Estado. 
 
Esse caráter público das regras processuais fica evidenciado, portanto, porque se trata de regras que 
regulam as atividades de organismos estatais, encarregados da prestação jurisdicional. 
 
Quanto ao grau de obrigatoriedade das normas, temos que o direito processual é composto 
preponderantemente de regras cogentes, imperativas ou de ordem pública, isto é, normas que não 
podem ter sua incidência afastada pela vontade das partes. 
 
Quando as partes optam pelo arbitramento, estão escolhendo um mecanismo alternativo ao processo 
judicial usual, desenvolvido perante o Poder Judiciário, mas, nem por isso, como já se viu, estão 
afastando as regras processuais que regulam a atividade voltada a resolver a lide. 0 que fazem, 
nessa hipótese, é, apenas e tão-somente, servir-se das regras processuais próprias do sistema 
arbitral, que também não podem afastar por sua vontade. 
 
Assim, se a coisa julgada material havida no processo judicial obriga as partes à sua estrita 
observância, esse efeito que se agrega à sentença também ocorre no juízo arbitral, não podendo as 
partes, porque se trata de juízo arbitral, dispor a respeito das regras processuais a ele pertinentes. 0 
que se faz, em resumo, é optar entre as regras de ordem pública do processo judicial e as regras de 
ordem pública do processo arbitral. 
 
No que diz respeito à sua natureza, pode dizer-se que a grande maioria das normas processuais, 
notadamente aquelas que regem as atividades das partes, consistem em ônus. Desse modo, se num 
processo em que A é autor e B é réu, se este último deixar de responder ao ônus de contestar, p 
juízo não haverá para A, mas sim para o réu próprio B, que ao desatender ao ônus de responder ao 
pedido do autor, terá contra si, regra geral, nos termos do art. 319 do CPC, os efeitos da revelia. Por 
outro lado, se B, nesse mesmo exemplo, cumprir os ônus de se defender, estarão estes esgotados, 
não remanescendo qualquer seqüela. 
 
Há poucos deveres no âmbito das leis processuais civis. Dentre esses, destacam-se os deveres de 
lealdade e de urbanidade, previstos, respectivamente, nos arts. 14 e 15 do CPC. 
 
 
 
 
2.4 Autonomia epistemológica do direito processual civil 
 
A doutrina têm gasto expressiva carga de energia em tomo da discussão sobre a autonomia do direito 
processual civil. As formulações teóricas de Oskar von BüIlow, no século XIX, foram a base da 
autonomia do processo em relação às regras de direito material. 
 12
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
0 que importa destacar, entretanto, passando ao largo de toda a história do direito processual civil e 
de sua antiga vinculação ao direito civil, é quehá, certamente, certa carga de interdependência entre 
o direito processual civil e o direito civil (direito processual e direito material). Esta carga de 
interdependência se dá no nível das essências do direito material e do direito processual e, por isso, 
usa-se a expressão ontologicamente, para explicar o plano em que esta ligação existe, já que 
onthos, em grego, significa ser. 0 processo civil, em última análise, existe em função do direito civil e 
da necessidade de se contar com instrumental capaz de servir de conduto para as pretensões de 
direito material diante do aparelho Jurisdicional. Parece que, de fato, do ponto de vista ontológico, 
direito processual civil e direito civil estão necessariamente ligados , na medida em que o primeiro 
(DPC) encontra no direito civil a sua razão de ser. 
 
Todavia, do ponto de vista dos estudos científicos, ou seja, sob o enfoque epistemológico, ambos os 
ramos do direito são absolutamente independentes e autônomos. A palavra epistemologicamente 
significa cientificamente, pois episteme quer dizer ciência em grego. 
 
 13
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
3. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 
 
Há alguns princípios que orientam a elaboração legislativa do direito processual. Quando tratamos da 
questão da autonomia do direito processual em relação ao direito material, vimos que essa 
independência está caracterizada, dentre outros fatores, pela existência de princípios que são 
próprios ao direito processual civil. 
 
Mas, o que são esses princípios? Para que servem? Qual a importância de seu estudo? Trata-se, na 
verdade, de regras não escritas, de caráter geral, que têm a função de inspirar e orientar o legislador 
ao escrever os textos das leis processuais e que nos possibilitam compreender o contexto histórico, 
ético e moral que influenciou a elaboração da norma processual. Portanto, devem servir de vetores 
orientativos para o intérprete. 
 
Existem duas categorias distintas de princípios aplicáveis às regras de direito processual. A primeira 
contém os chamados princípios informativos, enquanto a outra envolve os princípios fundamentais, 
também chamados de princípios gerais do processo civil. 
 
A primeira categoria - princípios informativos - contém regras de cunho generalíssimo e abstrato, e se 
aplica a todas as regras processuais, tanto às de índole constitucional quanto àquelas que estão nas 
normas ordinárias, independentemente de tempo e lugar. A categoria relativa aos princípios 
fundamentais, diferentemente da primeira, alberga um grupo de princípios menos abstratos, menos 
gerais, mais contextuais, e que se referem a um determinado ordenamento jurídico, levando em 
conta, inclusive, suas especificidades e características. Alguns deles, em razão da relevância de que 
se revestem, têm assento na Constituição Federal, situando-se como bases sobre que se constrói 
todo o sistema normativo processual infraconstitucional. 
 
Os princípios informativos são os seguintes: princípio lógico, jurídico, político e econômico. 
 
De acordo com o princípio lógico, temos que, em razão de o processo ser, basicamente, uma 
seqüência de atos que se voltam a um fim determinado, a sentença, há de existir lógica na 
concepção normativa de tais atos e em sua disposição ao longo do procedimento. Isso quer dizer que 
as leis processuais, pelo princípio lógico, devem prever os meios que mais sejam capazes de permitir 
o descobrimento da verdade subjacente ao processo. 
 
O princípio jurídico informa que tudo, em matéria de regramento de direito processual, deve ser 
feito de acordo com a lei. No ordenamento jurídico brasileiro, o princípio jurídico pode ser entendido 
como determinante da conformação das regras processuais em geral com os princípios processuais 
constitucionais, que, com sede na CF, devem nortear toda a elaboração legislativa infraconstitucional. 
Por outro prisma, o princípio jurídico significa que tudo quanto se faça no processo (em cada 
processo) deve ser feito em rigorosa conformidade com a lei, garantindo-se a igualdade das partes e 
a justiça da decisão que venha a ser prolatada pelo juiz. 
 
 14
Quanto ao princípio político, pode dizer-se que a estrutura do processo, isto é, das regras 
disciplinadoras da atividade desenvolvida no processo, deve ser conformada à estrutura política que 
tenha sido adotada no país. Assim, a normatização processual num Estado de Direito,' deve ser 
coerente com a concepção democrática com que se moldam as estruturas públicas. 0 direito à ampla 
defesa é um bom exemplo. Sob outro aspecto, também referido na doutrina, o princípio político 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
significa que o processo deve ter o máximo rendimento possível, como garantia da sociedade, com o 
mínimo de sacrifício da liberdade individual. 
 
O princípio econômico, por seu turno, deve inspirar tanto o legislador processual quanto o operador 
do Direito (juiz, advogado, promotor) a obter o máximo rendimento com o mínimo de dispêndio. Deve 
também o processo, segundo o princípio econômico, ser acessível a todos quantos dele necessitem, 
inclusive no que diz respeito ao seu custo. 
 
Os princípios gerais, ou fundamentais, do processo, alguns, como já afirmamos, com sede no texto 
expresso da Constituição Federal, servem de guia para o legislador brasileiro, no trabalho de 
elaboração de normas jurídicas processuais. 
 
O primeiro deles, que se consubstancia em postulado fundamental de todo o sistema processual, é o 
princípio do devido processo legal. Segundo esse princípio, previsto no inciso LIV do art. 5º da CF, 
"ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". 
 
Isso quer dizer que toda e qualquer conseqüência processual que as partes possam sofrer, tanto na 
esfera da liberdade pessoal quanto no âmbito de seu patrimônio, deve necessariamente decorrer de 
decisão prolatada num processo que tenha tramitado de conformidade com antecedente previsão 
legal. 0 devido processo legal significa o processo cujo procedimento e cujas conseqüências tenham 
sido previstas na lei. 
 
Em seguida temos o princípio do contraditório, que também pode ser identificado como princípio da 
paridade de tratamento ou princípio da bilateralidade da audiência. Segundo o texto do inciso LV do 
art. 5º da Constituição Federal, "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes". 
 
Esse princípio, guindado à condição de garantia constitucional, significa que é preciso dar ao réu 
possibilidade de saber da existência de pedido, em juízo, contra si, dar ciência dos atos processuais 
subseqüentes, às partes (autor e réu), aos terceiros e aos assistentes, e garantir a possível reação 
contra decisões, sempre que desfavoráveis. Esse princípio está visceralmente ligado a outros, que 
são o da ampla defesa e o do duplo grau de jurisdição, em respeito ao qual se deve evitar a hipótese 
de falta de controle das decisões judiciais, pela parte (por meio dos recursos) e pelo próprio Poder 
Judiciário (pelo provimento ou improvimento dos recursos). 
 
Em seguida, tem-se o princípio dispositivo, ou princípio da ação, que analisaremos juntamente com o 
princípio da inércia, para que se possa compreendê-los melhor. 
 
0 princípio dispositivo é aquele segundo o qual cabe à parte, isto é, àquele que se diz titular do direito 
que deve ser protegido,' colocar em movimento a máquina estatal (isto é, a estrutura do Poder 
Judiciário), para que dela obtenha uma concreta solução quanto à parcela da controvérsia, ou do 
conflito (a essa parcela se denomina lide) trazida a juízo. Na esfera do direito processual civil, o 
Poder Judiciário é absolutamenteinerte, só se manifestando (em amplo sentido) mediante a 
solicitação (= provocação) do interessado. 
 
 15
0 processo previsto no Código de Processo Civil brasileiro está baseado fundamentalmente nesse 
princípio, como se vê da disposição constante no art. 2º. Segundo essa regra, "nenhum juiz prestará 
a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais". 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
Outro princípio é o do impulso oficial, segundo o qual, uma vez instaurado o processo por iniciativa da 
parte ou interessado (princípio da inércia), este se desenvolve por iniciativa do juiz, independente de 
nova manifestação de vontade da parte. 0 juiz, que representa o Estado (poder jurisdicional do 
Estado) promove e determina que se promovam atos processuais de forma que o processo siga sua 
marcha em direção à solução do sistema jurídico para aquela determinada lide. 
 
0 art. 262 é clara demonstração da presença, no texto legal, do princípio do impulso oficial. Essa 
regra dispõe que "o processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso 
oficial ". 
 
Depois, há o princípio da oralidade, a que se somam três outros princípios: o da identidade física do 
juiz, o da imediatidade e o da concentração da causa. 
 
De acordo com o princípio da oralidade, é salutar que exista sempre um expressivo número de 
manifestações das partes sob forma oral, principalmente na audiência, onde tais manifestações se 
devem concentrar, porque, dessa maneira, é possível se alcançar o julgamento da matéria posta em 
juízo com menor número de atos processuais. 
 
Tem-se em vista a possibilidade de obter-se melhor resultado, conforme a lei e a verdade dos fatos, 
sempre que se prestigiar o princípio da oralidade. 
 
Com esse princípio, como dissemos, há outros três, por assim dizer, sub-princípios, ou elementos, 
que permitem que se operacionalize com maior objetividade a oralidade. 
 
0 primeiro desse subgrupo é o princípio da identidade física do juiz, em razão do qual haverá de ser o 
mesmo juiz que preside a audiência, que colhe as provas orais (depoimento das partes e de 
testemunhas, por exemplo), o que dê a sentença. Essa regra decorre do seguinte: o juiz que tiver 
contacto direto, na audiência, com as partes e testemunhas, tem mais e melhores condições de 
proferir uma sentença satisfatória, isto é, em que efetivamente se aplique o direito, do que aquele que 
não tenha presidido a audiência. 0 art. 132 do CPC consagra expressamente esse princípio: "0 juiz, 
titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, 
afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu 
sucessor". 
 
0 seguinte é o princípio da imediatidade, segundo o qual o juiz deve colher as provas direta e 
pessoalmente, sem intermediários. 0 art. 446, inciso 11, do CPC, assim dispõe: "Compete ao juiz em 
especial: II - proceder direta e pessoalmente à colheita das provas". 
 
0 princípio da concentração, terceiro daqueles que, como afirmamos, permitem que se operacionalize 
o princípio da oralidade, contém a idéia de que todos os atos do processo, inclusive a sentença, 
devem realizar-se o mais proximamente possível uns dos outros, para que se possa proferir decisão 
justa. Os artigos 455 e 456 expressam incisivamente esse princípio. 0 primeiro dispõe que "a 
audiência é una e contínua. Não sendo possível concluir num só dia, a instrução, o debate e o 
julgamento, o juiz marcará o seu prosseguimento para dia próximo ". Já o art, 456 prevê que 
"encerrado o debate ou oferecidos os memoriais, o juiz proferirá a sentença desde logo ou no prazo 
de 10 (dez) dias". 
 16
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
Outro princípio fundamental, que inspirou o legislador do Código de Processo Civil, é o da 
publicidade. Esse princípio está ligado a outro, de igual relevância, que é o princípio da motivação 
das decisões judiciais. Em geral, todos os atos realizados no processo são públicos, inclusive as 
audiências. Trata-se de regra que, por óbvio, representa uma garantia, tanto para as partes quanto 
para o próprio juiz. Em sede constitucional, o princípio/garantia da publicidade está estampado no 
inciso IX do art. 93, o mesmo que consagra, também, o princípio da ampla fundamentação (ou 
motivação) das decisões judiciais. Segundo esse dispositivo, "todos os julgamentos dos órgãos do 
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo 
a lei, se o interesse público o exigir limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a 
seus advogados, ou somente a estes". No CPC, os arts. 444 e 155 dispõem a respeito da publicidade 
da audiência e dos atos processuais em geral. Essa regra decorre da predominância do interesse 
público, que envolve a prestação da atividade jurisdicional, sobre o interesse privado daqueles que 
são partes no processo. 
 
Por último, tem-se o princípio da lealdade, tratado minuciosamente nos artigos 14 e seguintes do 
CPC. 0 comportamento das partes, no processo, deve respeitar os preceitos relativos à boa-fé, 
repugnando ao sistema o comportamento desleal. Se o processo tem como um de seus escopos a 
realização do direito no caso concreto, não se pode alcançar esse objetivo por meio de trapaças e 
comportamentos levianos. A lei prevê severas punições para os comportamentos destoantes desse 
princípio. Como já observamos, quando tratamos da noção de norma que contém dever a ser 
observado pela parte, o art. 14 do CPC prevê como dever, tanto das partes quanto de seus 
advogados, o de "proceder com lealdade e boa-fé" (inciso II). 
 
 
 
 
 17
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
4. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA 
 
SUMÁRIO: 
4.1 Organização judiciária e Constituição Federal 
4.2 Organização judiciária e Constituições Estaduais 
4.3 Órgãos do Poder Judiciário 
4.4 0 Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça 
4.5 Tribunais Regionais Federais e juízes federais 
4.6 Justiças especiais 
4.7 Justiça do Trabalho 
4.8 Justiça Eleitoral 
4.9 Justiça Militar 
4. 10 Tribunais e juízes dos Estados. 
 
As normas de organização judiciária são aquelas que regulam o funcionamento da estrutura do Poder 
Judiciário, mediante a atribuição de funções e divisão da competência de seus órgãos, singulares ou 
colegiados, e por meio do regramento de seus serviços auxiliares. Não são de organização judiciária 
as regras que disciplinam o processo, ou seja, a atividade jurisdicional voltada ao exercício do direito 
de ação, com todos os seus desdobramentos. 0 que se normatizada pela organização judiciária, é a 
estrutura do Poder Judiciário e a forma de constituição e de funcionamento de seus órgãos. 
 
Os órgãos do Poder Judiciário, encarregados do exercício da função jurisdicional propriamente dita, 
são os juízos e os tribunais, estes últimos existentes em razão da necessidade de se dar 
cumprimento ao princípio do duplo grau de jurisdição (ver adiante: órgãos do Poder Judiciário). 
 
As regras aplicáveis à organização judiciária são a Constituição Federal, as Constituições Estaduais, 
as Leis de Organização Judiciária de cada Estado, a Lei Orgânica da Magistratura e os Regimentos 
Internos dos Tribunais. 
 
 
4.1 Organização Judiciária e Constituição Federal 
 
Por força do que dispõe o art. 96, inciso I, letra a, da CF, é da competência privativa dos tribunais a 
elaboração de seus regimentos internos, dispondo a respeito da competência e do funcionamento 
dos respectivos órgãos judiciários e administrativos. A regra constitucional expressamentedetermina 
que, para o regramento por meio dos regimentos internos, deverão ser observadas as normas de 
processo e as "garantias processuais das partes". 
 
Também compete privativamente aos tribunais, de acordo com a regra da letra b do inciso 1 do art. 
96 da CF, organizar suas secretarias, os serviços auxiliares e os juízos que lhes forem vinculados. 
 
 18
0 art. 96, inciso II, trata da competência privativa do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais 
Superiores e dos Tribunais de Justiça, para propor ao respectivo Poder Legislativo (Federal nos dois 
primeiros casos e Estadual ou Distrital, no caso dos Tribunais de Justiça) a alteração do número de 
membros dos tribunais inferiores (letra a), a criação ou extinção de cargos e a fixação de vencimentos 
de seus membros, dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, dos serviços auxiliares e dos juízos a 
eles vinculados (letra b). De acordo com a letra c desse dispositivo da CF, é também do STF, dos 
Tribunais Superiores e dos Tribunais de Justiça a competência (igualmente privativa) para propor ao 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
Poder Legislativo respectivo a criação ou extinção dos tribunais inferiores. Exemplo: Estados que não 
possuam Tribunal de Alçada têm no Tribunal de Justiça o órgão privativamente competente para 
propor sua criação à Assembléia Legislativa. 
 
É também da competência exclusiva dos tribunais, por força do disposto na letra d do inciso 11 do art. 
96 da CF, a formulação de proposta ao respectivo Poder Legislativo, para a alteração da organização 
e da divisão judiciárias. No caso da justiça estadual, por exemplo, é do Tribunal de Justiça a 
competência privativa para propor à Assembléia Legislativa do respectivo Estado a criação de 
comarcas ou de novas varas em comarcas já existentes. 
 
 
4.2 Organização judiciária e Constituições Estaduais 
 
A organização dos serviços judiciários nos Estados e no Distrito Federal incumbe às respectivas 
Constituições, às leis de divisão e organização judiciárias e aos regimentos internos dos respectivos 
tribunais. 
 
Essa competência é absolutamente residual, no sentido de que não pode deixar de considerar as 
regras previstas na CF e em outras regras de disciplina da organização judiciária compatíveis com o 
texto constitucional, aplicáveis também às justiças dos Estados e do Distrito Federal, como a Lei 
Orgânica da Magistratura e as leis processuais. 
 
 
4.3 Órgãos do Poder Judiciário 
 
Para o exercício da função jurisdicional a Constituição Federal dispõe, no art. 92, a respeito dos 
órgãos do Poder Judiciário. Segundo essa regra, "são órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo 
Tribunal Federal; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e os Juízes 
Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juizes Eleitorais; VI - os Tribunais 
e Juízes Militares; os Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e Territórios". 
 
 
4.4 O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça 
 
0 STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário no Brasil. Foi criado logo após a Proclamação da 
República, pelo Decreto 848, de 11 de outubro de 1890. Sua função principal é a de manter a 
integridade da ordem constitucional. Sua competência está disciplinada no art. 102 da CF, cujo caput 
dispõe que "compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, é, 
portanto, o órgão a que incumbe a jurisdição constitucional. 
 
0 STJ foi criado pela CF de 1988, e funciona como órgão destinado a julgar, em última instância, a 
matéria relativa ao direito federal infraconstitucional. Diz, portanto, a palavra final sobre todas as 
matérias que se refiram ao direito federal. Sua competência está disciplinada no art. 105 da CF. 
 19
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
4.5 Tribunais Regionais Federais e juízes federais 
 
Em razão do sistema federativo, adotado como forma de estruturação do Estado brasileiro, também o 
Poder Judiciário está dividido de modo a se adequar ao modelo de federação. Assim, há órgãos 
judiciários federais e órgãos judiciários estaduais (e distrital, em razão do Distrito Federal). 
 
A estrutura da justiça federal é composta dos juízes federais, como órgãos judiciários de primeiro 
grau, pelos Tribunais Regionais Federais, divididos por regiões, como órgão de segundo grau, e, 
evidentemente, pelo STJ e STF, respectivamente para a uniformização da aplicação do direito federal 
e da CF. 
 
A competência da justiça federal está prevista nos arts. 108 e 109 da CF e sua estrutura está 
disciplinada pela Lei 5.010, de 30 de maio de 1966. 
 
 
4.6 Justiças especiais 
 
Na estrutura do Poder Judiciário, há três organizações distintas, cada qual encarregada da aplicação 
de regras de uma área específica do direito: do trabalho, eleitoral e militar. 
 
 
4.7 Justiça do Trabalho 
 
A Justiça do Trabalho tem sua competência definida no art. 114 da CF, segundo o qual "compete à 
Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e 
empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e 
indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras 
controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no 
cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas". 
 
Os órgãos da Justiça do Trabalho são (art. 111 da CF): o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais 
Regionais do Trabalho e as Varas do Trabalho, estas últimas encarregadas do exercício da função 
jurisdicional em primeiro grau. 
 
 
4.8 Justiça Eleitoral 
 
A competência da Justiça Eleitoral foi delegada, pela CF, para Lei Complementar. Atualmente, a 
norma reguladora é o Código Eleitoral, que, embora seja anterior à CF de 1988, foi por ela 
recepcionado. 
 
Os órgãos da Justiça Eleitoral são (art. 118 da CF): o Superior Tribunal Eleitoral, os Tribunais 
Regionais Eleitorais e os juízes eleitorais. 
 20
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
4.9 Justiça Militar 
 
A competência da Justiça Militar não se insere na jurisdição civil, pois, de acordo com o art. 124 da 
CF, a ela "compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei". A CF de 1988 (art. 122) 
previu, como órgãos da Justiça Militar, o Superior Tribunal Militar e os tribunais e juízes militares que 
fossem instituídos por lei. 
 
Em 1992, foi editada a Lei 8.457, de 4 de setembro, segundo a qual são órgãos da Justiça Militar, 
além do Superior Tribunal Militar, a Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça, os juízes 
auditores e os juízes auditores substitutos. 
 
4.10 Tribunais e juizes dos Estados 
 
Na organização judiciária dos Estados (e do Distrito Federal) há, como órgãos de primeiro grau, os 
juízes de Direito, togados e vitalícios, e, como órgãos de segundo grau, os Tribunais de Alçada e de 
Justiça. 
 
De conformidade com o art. 98 da CF, são também órgãos da Justiça dos Estados e do Distrito 
Federal os Juizados Especiais Cíveis e Criminais (inciso I), "providos por juizes togados, ou togados e 
leigos" (criados pela Lei 9.099, de 26.09.1995) e os Juízes de paz (inciso H). 
 
Na esfera da jurisdição penal há também o Tribunal do Júri, previsto no inciso XXXVIII do art. 5º da 
CF. 
 
 21
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
5. COMPETÊNCIA 
 
SUMÁRIO: 
5.1 Conceito 
5.2 "Competência" internacional: 
5.2.1 "Competência" exclusiva; 
5.2.2 "Competência" concorrente 
5.3 Critérios para a determinaçãoda competência: 
5.3.1 Fontes normativas da competência 
5.4 A importância dos critérios 
5.5 Utilização dos critérios 
5.6 Critério territorial 
5.7 Critério funcional 
5.8 Critérios objetivos: 
5.8.1 Valor; 
5.8.2 Matéria 
5.9 Competência relativa - Regime jurídico - Formas de impugnação 
5.10 Competência absoluta - Regime jurídico - Formas de impugnação 
5.11 Causas modificativas da competência 
5.12 Conexão e continência 
5.13 Prevenção. 
 
 
 
5.1 Conceito 
 
É preciso estabelecer, desde logo, a diferença entre jurisdição e competência, de modo que se 
compreenda este último conceito que, embora seja extremamente vinculado ao de jurisdição, deste é 
substancialmente diferenciado. 
 
Jurisdição é a função do Estado, decorrente de sua soberania, de resolver os conflitos, na medida em 
que a ela sejam apresentados, em lugar daqueles que no conflito estão envolvidos, através da 
aplicação de uma solução contida no sistema jurídico. Enquanto se trate de uma das formas de 
exercício do poder do Estado, a jurisdição é una. 
 
Como função do poder estatal, a jurisdição é exercida sobre todos o% súditos do Estado, de forma 
abrangente sobre todo o território nacional. Esse exercício em todo o território da Nação implica 
necessidade de organização e de divisão de trabalho entre os membros que compõem o Poder 
Judiciário, o que faz com que a função de exercer a jurisdição seja distribuída entre diversos órgãos, 
a partir de alguns critérios. 
 
São justamente as normas de competência que atribuem concretamente a função de exercer a 
jurisdição aos diversos órgãos da jurisdição, pelo que se pode conceituá-la como instituto que define 
o âmbito de exercício da atividade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado. 
 
 22
Daí não ser feliz a imagem criada por alguns autores, no sentido de que a competência seria a 
medida da jurisdição, como se os órgãos do Poder Judiciário exercessem apenas "parte" da 
jurisdição. Na verdade, quando, a partir das regras de competência, se determina que um 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
determinado órgão do Poder Judiciário deva exercer a jurisdição, este o fará integralmente. 
Importante ressaltar, neste passo, que competência é atribuição do órgão jurisdicional e não do 
agente. 
 
 
5.2 "Competência" internacional 
 
A primeira observação que se deve inexoravelmente fazer é a de que, na verdade, aqui se está 
diante de um problema de jurisdição e não de competência, como diz a lei. Isto porque, como vimos 
no item anterior, as regras de competência são aquelas segundo as quais há uma espécie de "divisão 
de trabalho" entre os órgãos de um mesmo Poder Judiciário. Todos têm jurisdição: o que as normas 
de competência fazem é determinar em que momento e sob quais circunstâncias devem exercê-la. 
 
Não se pode, a não ser por uma analogia imperfeita, usar a expressão competência para tratar dos 
fenômenos abaixo descritos. 
 
A jurisdição é uma das funções do poder do Estado que, ao lado das funções legislativa e de 
administração, compõem a estrutura democrática de exercício dos poderes inerentes à soberania. 
 
Cada Estado, no contexto internacional, é detentor de soberania, razão pela qual a jurisdição, como 
expressão do poder dela decorrente, encontra natural barreira nas jurisdições dos demais Estados. 
 
Em razão disso, há regras que disciplinam a necessidade de convivência da jurisdição, ou seja, da 
atividade jurisdicional de um Estado diante de atividade de mesma índole nos demais Estados. 
 
0 legislador brasileiro criou um sistema de normas para disciplinar essa matéria, com base em 
critérios capazes de definir, em razão de opção legislativa, os limites da jurisdição estrangeira em 
face da jurisdição nacional. Definiu também o legislador brasileiro hipóteses em que somente se 
admitem decisões proferidas por juízos nacionais. 
 
 
5.2.1 "Competência" exclusiva 
 
0 art. 89 do CPC dispõe a respeito de algumas ações em que o juiz brasileiro (isto é, o Poder 
Judiciário brasileiro) é o único "competente" para conhecer e julgar. Segundo essa regra, será 
"competente" o juiz brasileiro (isto é, estará habilitado ao exercício da jurisdição), com exclusão de 
qualquer outro, para julgar ações que digam respeito a imóveis situados no território brasileiro, e para 
proceder a inventário e partilha de bens que estejam localizados no Brasil, mesmo que o falecido seja 
estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. 
 
Isto significa, na ordem prática, que, no Brasil, não se reconhece sentença acerca destas matérias, 
proferida por juiz estrangeiro. 
 
 
5.2.2 "Competência" concorrente 
 
 23
0 art. 88 do CPC trata daquilo que a doutrina denomina de competência concorrente, pois dispõe 
sobre casos em que não houve a exclusão do juiz estrangeiro, tanto podendo, pois, ser instaurada 
ação a respeito desses casos perante juiz brasileiro quanto diante de juiz estrangeiro. Essas ações 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
são aquelas em que o réu, independentemente de sua nacionalidade, tenha domicílio no Brasil (inciso 
I), aquelas a respeito de obrigação que deva ser cumprida no Brasil, e as ações decorrentes de fato 
praticado no Brasil. 
 
Nestas hipóteses, o Código determina que não há litispendência (art. 90). Isto quer dizer que o fato 
de certa ação estar em curso em país estrangeiro, nos casos de que acima se falou, não impede que 
a mesma ação seja intentada perante autoridade judiciária brasileira, tendo validade a sentença que 
transitar em julgado em primeiro lugar. No que diz respeito à sentença estrangeira, esta só transita 
em julgado no Brasil quando for homologada pelo STF (art. 483). 
 
 
5.3 Critérios para a determinação da competência 
 
No âmbito interno, isto é, excetuada a hipótese de se tratar de caso em que se deva indagar da 
"competência" internacional, o legislador definiu critérios para a determinação da competência dos 
diversos órgãos da jurisdição, ou seja, organizou um sistema de critérios para que se possa saber, 
diante de um caso concreto, que juízo, dentre todos aqueles igualmente investidos na função 
jurisdicional, tem competência para processar e julgar determinada causa. 
 
 
5.3.1 Fontes normativas da competência 
 
Os dispositivos que estabelecem como resolver-se a competência diante de casos concretos 
encontram-se espalhados no sistema e são numerosissimos: muitos deles estão no próprio CPC, 
outros, em leis esparsas da mesma hierarquia, como por exemplo na Lei de Falências, na Lei 
Orgânica da Magistratura e nas leis locais (estaduais) de organização judiciária. 
 
Por isso, a melhor forma de abordagem do complexo assunto competência é tratar dos critérios de 
sua fixação e das conseqüências da infração das regras que tenham elegido um ou outro critério, já 
que é impossível abranger toda a matéria, ainda mais num trabalho desta natureza, e muito menos 
em nível nacional. 
 
0 importante, pois, a nosso ver, é, diante da regra, saber de que tipo de competência se trata e quais 
as conseqüências da desobediência àquela norma. É o que se fará a seguir. 
 
 
5.4 A importância dos critérios 
 
0 sistema processual contém uma série de regras que se localizam ora no corpo do CPC, ora em 
legislação extravagante, determinadoras da competência. Essas regras se servem de alguns critérios, 
como, por exemplo, o critério territorial ou o critério consistente na matéria a ser julgada. 
 
Há critérios que dão origem a regras que estabelecem a competência denominada relativa, e outros 
que, utilizados, geram normas de competência absoluta. 
 
 24
Na necessidade de diferenciação entre a competência absoluta e relativa, que decorre do tipo de 
critério de que se valeu o legisladorpara criar aquela determinada regra de competência, é que 
reside a importância do estudo desses critérios. Isto porque, uma vez infringidas as regras de 
competência absoluta, está-se diante de um vício insanável, consistente, segundo alguns, numa 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
nulidade absoluta, a respeito da qual não se opera a preclusão, nem para as partes, nem para o juiz, 
devendo este, de ofício, decretar este vício. Interessante ressaltar ser de tamanha gravidade o vício 
consistente na incompetência absoluta que, mesmo depois de se ter formado a coisa julgada, a 
sentença continua passível de ser impugnada, dentro de dois anos, a partir do trânsito em julgado, 
por meio de ação rescisória (art. 485, inciso 11). 
 
Já quando se trata de competência relativa, determinada por outros critérios, uma vez infringida a 
regra, está-se diante de nulidade meramente relativa, que não pode ser conhecida de ofício, que se 
sujeita à preclusão, pois não sendo este vício argüido pelas partes, no prazo previsto em lei, e 
através de um veículo específico por esta apontado (exceção de incompetência - arts. 304 a 306 do 
CPC), o vício se sana (ou seja, ocorre a prorrogação da competência). 
 
É por isso que, ao examinar-se a regra que determina a competência, é importante que se perceba 
em que tipo de critério a norma se baseou. 
 
Os critérios são fundamentalmente quatro: territorial, funcional, matéria a ser decidida e valor da 
causa. 
 
Os critérios ligados ao território e ao valor ligam-se à competência relativa, como regra geral; os 
critérios funcional e aquele ligado à matéria são tomados em conta, pelo legislador, para estabelecer 
regras de competência absoluta. 
 
 
5.5 Utilização dos critérios 
 
Todos os elementos para que a parte possa estabelecer a competência ao propor a ação devem 
constar da petição inicial: 
 
1. território - domicílio das partes e localização do bem que é objeto material do litígio; 
 
2. valor - valor pecuniário atribuído à causa; 
 
3. matéria - lide, pedido ou pretensão; 
 
4. função. 
 
Os itens 2 e 3 são tratados pela doutrina como critérios objetivos de estabelecimento da competência. 
 
É importante ressaltar que, na verdade, todos, ou quase todos, os critérios são utilizados 
simultaneamente para indicar a competência de determinado órgão jurisdicional para processar e 
julgar ações e recursos. 
 
Por exemplo, se A quer intentar ação de separação judicial contra B, deve fazê-lo: 
 
a) no domicílio de B (art. 94, caput, do CPC) – critério territorial; 
 
b) na vara de família - competência fixada em razão da matéria: separação judicial; 
 25
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
c) em 1º grau de jurisdição - competência funcional: é função do primeiro grau de jurisdição 
julgar ações originariamente. 
 
Advirão conseqüências diferentes, todavia, de se infringirem umas ou outras regras determinantes da 
competência. 
 
 
5.6 Critério territorial 
 
Um dos critérios de que se serviu o legislador para determinar a competência dos órgãos 
jurisdicionais leva em conta o fato de que o exercício da jurisdição se dá, pelos diferentes órgãos, em 
determinados limites territoriais. Assim como a jurisdição brasileira tem como limite o território 
nacional (competência internacional), os juizes nacionais têm limitações ao exercício da função 
jurisdicional em razão do território. Assim, os juizes de Direito dos Estados, por exemplo, exercem a 
jurisdição nos limites das respectivas circunscrições territoriais, as comarcas. Os juízes federais o 
fazem nos limites das chamadas seções judiciárias, as Juntas de Conciliação e Julgamento têm 
definidos seus respectivos espaços territoriais, e assim por diante. Em relação aos tribunais se dá 
exatamente o mesmo: os Tribunais Regionais Federais têm competência para exercer a jurisdição 
nos limites das respectivas regiões. 0 TRF da 4ª Região, por exemplo, tem competência territorial 
limitada aos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. 0 Tribunal Regional Federal da 
3ª Região, por sua vez, tem competência, sob o critério territorial, para exercer a jurisdição nos 
Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. 
 
Vista essa matéria sob o ângulo da parte, isto é, daquele que demanda ao Poder Judiciário uma 
solução para determinada lide, a competência territorial nos leva à determinação do foro competente, 
isto é, do local em que se deva ajuizar ação contra determinada pessoa. 
 
Em princípio, quando uma norma se servir de critério territorial para fixar a competência, a 
infringência deste dispositivo gera, como regra geral, vício relativo. Exemplo de dispositivos legais em 
que se leva em conta o critério territorial para fixar-se a competência é o art. 94 e seus parágrafos. 
 
Exceção à regra de que a competência fixada em razão do critério territorial é relativa se encontra 
prevista no art. 95, 1ª parte. Neste caso, não há prorrogação, decorrente da ausência de impugnação, 
e não pode haver convenção das partes em sentido contrário àquele que a lei prevê. A competência 
fixada em razão do art. 95, 1ª parte, é absoluta (segundo alguns, seria, por ser absoluta, funcional). 
 
Do ponto de vista da parte, a esta cabe procurar na própria petição inicial um elemento de natureza 
territorial (por ex., o local onde reside o réu) para, a partir deste critério, orientar-se quanto ao foro 
competente para julgar a ação que pretende propor. 
 
 
5.7 Critério funcional 
 
Trata-se de critério que, via de regra, tem utilidade quando já proposta a ação perante juízo 
competente.' 
 
 26
A competência funcional é determinada pela função que o órgão jurisdicional deve exercer no 
processo. Pode ocorrer de, no mesmo processo, terem de atuar dois ou mais órgãos jurisdicionais. A 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
competência funcional pode ser determinada a partir do objeto do próprio juízo, da hierarquia e das 
distintas fases do procedimento. 
 
A competência funcional que se fixa em razão do objeto do juízo se dá nas hipóteses em que devam 
atuar, no mesmo processo, diferentes órgãos jurisdicionais, cada qual com competência para decidir 
parcela do conjunto de questões que tenham sido suscitadas no processo. Exemplo disso está no 
incidente de uniformização de jurisprudência (art. 476). Será competente para o julgamento da lide o 
órgão fracionário para o qual tenha sido distribuído o recurso (por ex.), mas será competente para o 
julgamento da uniformização o Pleno do tribunal ou seu órgão Especial (art. 479 do CPC e art. 93, XI 
da CF). 
 
A competência funcional em função da hierarquia leva em conta que mais de um órgão da jurisdição 
deve julgar a lide, se houver recurso. Como já vimos, os organismos do Poder Judiciário estão 
hierarquicamente dispostos, em diferentes graus de jurisdição. No chamado primeiro grau de 
jurisdição estão os juízos singulares (juiz de Direito/Vara); no segundo e terceiro grau de jurisdição 
encontram-se os tribunais inferiores e tribunais superiores (juízos colegiados). 
Levando em conta as possíveis fases do procedimento, a competência funcional pode ser fixada 
dependendo do tipo de ato processual que se deva realizar. Se se precisa ouvir determinada 
testemunha, que reside fora da comarca perante a qual tramita o processo, o juízo competente para 
conhecer e julgar essa ação solicitará os serviços de outro juízo, para que ouça essa testemunha na 
comarca em que se encontre. 
 
 
5.8 Critérios objetivos 
 
5.8.1 Valor 
 
0 valor dado à causa é um dos critérios determinativos de competência (art. 91). 
 
Este critério pode desempenhar papel importante, tanto no que diz respeito ao primeirograu de 
jurisdição, principalmente nas comarcas de grande extensão territorial, em que pode haver varas 
distritais (nos bairros) cuja competência seja fixada, pelo menos em parte, a partir deste critério, 
quanto no que tange ao segundo grau, principalmente nos Estados em que há Tribunais de Alçada 
(ao lado dos Tribunais de Justiça), em que a competência desses tribunais pode ser. estabelecida em 
função do valor das causas, além de poder sê-lo em função da matéria. 
 
 
5.8.2 Matéria 
 
A matéria a ser decidida (lide, pedido ou pretensão) desempenha papel de critério de competência, 
interferindo na sua fixação em primeiro grau de jurisdição. Exemplo disso é o de uma ação de 
separação judicial, que deve ser distribuída para a vara de família; ou de uma ação de retificação de 
nome, que deve ser distribuída para a vara dos registros públicos etc. Em segundo grau de jurisdição, 
a matéria pode interferir na escolha entre os Tribunais de Justiça e de Alçada e entre os órgãos 
fracionários (internos) desses tribunais. 
 
 27
De qualquer modo, a infração à regra em que se elegeu como critério para fixação de competência a 
matéria a ser decidida gera vício que não fica acobertado pela preclusão, podendo ser decretado a 
qualquer tempo. 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
 
 
5.9 Competência relativa - Regime jurídico - Formas de impugnação 
 
A classificação da competência em relativa e absoluta depende de as normas que a respeito delas 
dispõem serem facultativas (= poderem ser afastadas em função de convenção das partes) ou 
imperativas (= incidem independentemente da vontade das partes). A natureza dessas normas 
depende, de regra, do critério eleito para estabelecer a competência. 
 
Gera vício menos grave a infração a regras de competência que levem em conta critério territorial e 
de valor. Trata-se de competência estabelecida por regras derrogáveis (art. 111, 2ª parte, cuja 
infração gera, no processo, vício sanável). Portanto, trata-se de defeito que não pode ser argüido 
pelas partes a qualquer tempo, ficando escoado o prazo dentro do qual essa argüição pode ser feita, 
acobertado pela preclusão. Também não pode o juiz conhecer de ofício (sem provocação da parte) 
de vício de competência relativa. 
 
0 único meio adequado para que a parte se insurja contra a situação de a ação ter sido movida em 
juízo relativamente incompetente é a exceção (arts. 304 a 311 do CPC). 
 
Dispõe, para manejar a exceção, do prazo de 15 dias (art. 297). Poderá, todavia, fazê-lo antes de 
apresentar contestação e reconvenção, ficando o processo suspenso até que a exceção seja 
definitivamente julgada, quando então poderá apresentar as demais peças de defesa (em sentido 
lato) no resto do prazo. 
 
Não tendo a parte feito uso do instituto da exceção para se insurgir contra a incompetência relativa, 
ocorre a prorrogação da competência, tomando-se competente o juízo que antes incompetente era, 
não havendo mais oportunidade para que, durante o processo, se levante esse defeito. A prorrogação 
da competência nada mais é do que efeito específico da preclusão, que ocorre neste caso. 
 
Como o vício se considera como tendo sido sanado, se não argüido em tempo e através do meio 
hábil, tem-se como conseqüência ser absolutamente imaculada sentença proferida por juízo 
relativamente incompetente. 
 
 
5.10 Competência absoluta - Regime jurídico - Formas de impugnação 
 
A infração de regra que disponha a respeito de competência absoluta, ou seja, que tenha como 
critério matéria e função, gera vício incomparavelmente mais grave. Desta maior gravidade decorre a 
diversidade de regimes jurídicos entre este vício e aquele de que no item anterior se tratou. A 
competência absoluta é determinada por regras imperativas ou de ordem pública, sendo, portanto, 
inderrogável, já que essas normas incidem independentemente da vontade da parte (art. 111). 
 
Está-se, aqui, diante de vício que pode ser argüido a qualquer tempo pelo réu, embora o momento 
adequado seja o da resposta e o meio apropriado seja a contestação (art. 301, 11), por razões 
ligadas à economia processual. 
 
 28
Não alegando o réu a incompetência absoluta neste momento oportuno, poderá posteriormente fazê-
lo por meio de simples petição, ficando, todavia, sujeito a responder pelas custas de retardamento 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
(arts. 113 e 268, § 3º 2.' parte, que se refere ao art. 267, IV, que diz respeito não só, mas também aos 
pressupostos processuais de validade). 
 
Justamente por se tratar de vício de maior gravidade, deve o juiz dele conhecer de ofício, durante o 
procedimento em primeiro grau de jurisdição, na fase de apelação e durante o julgamento de todos os 
recursos ordinários. É esse o sentido da expressão em qualquer tempo e grau de jurisdição, 
constante do art. 267, § 3º 
 
Ainda, não tendo o réu alegado (ou mesmo tendo feito a alegação, que teria sido rechaçada), não se 
tendo o juiz manifestado de ofício a respeito da incompetência absoluta, e tendo havido, nesse 
processo, decisão de mérito transitada em julgado, está-se diante de sentença rescindível (art. 485, 
11). Sentença proferida por juízo absolutamente incompetente fica maculada por vício que terá, na 
verdade, normalmente, ocorrido quando da propositura da ação, como se o defeito se tivesse 
"propagado" ao longo do processo. Toma-se, por isso, apesar do trânsito em julgado, passível de ser 
impugnada durante os dois anos subseqüentes (art. 495). 
 
 
 
5.11 Causas modificativas da competência 
 
Os autores, de modo geral, tratam de duas figuras - conexão e continência como sendo causas 
"modificativas" da competência. 
 
Trata-se, na verdade, de dois liames de afinidade existentes entre duas ou mais ações, que faz com 
que se justifique a reunião dos processos que estavam antes tramitando em juízos diversos, para 
que, reunidos, passem a tramitar em conjunto e sejam decididos concomitantemente. 
 
Essa possibilidade significa exceção ao princípio da perpetuatio jurisdictionis. Esse princípio, bem 
como o da perpetuatio libelli e o da perpetuatio legitimationis, foram adotados pelo nosso CPC e 
refletem nítida preocupação com a estabilidade do processo. De fato, com a propositura da ação 
fixam-se certos elementos que só excepcionalmente podem ser alterados: fixa-se o libelo (causa de 
pedir + lide), fixam-se as partes e fixa-se a competência. Vejam-se os arts. 294 (fixação do pedido), 
art. 42, caput (fixação das partes), e art. 87 (fixação da competência). 
 
Essas regras comportam exceções. Pense-se, por exemplo, no caso de litisconsórcio necessário 
formado ulteriormente, na modificação do pedido, desde que antes da citação, e também, justamente, 
na conexão e na continência. 
 
Ações conexas ou continentes guardam entre si uma relação de afinidade, e, portanto, dois foram os 
objetivos do legislador ao determinar a possibilidade de reunião de todas elas. 0 primeiro deles foi o 
de levar a efeito o princípio da economia processual, já que, em função da mencionada afinidade, é 
comum que a mesma fase probatória possa ser partilhada por ambas as ações, e as provas, que 
deverão dar origem a duas sentenças, serão produzidas de uma só vez. 0 segundo dos objetivos é 
evitar a existência de decisões logicamente contraditórias. 
 
Para que haja reunião das ações continentes ou conexas, é necessário que o juízo em que tramitarão 
os processos seja competente em relação a todos, em função de critérios relativos à competência 
absoluta. 
 29
 
www.ResumosConcursos.hpg.com.br 
Resumo: Curso de Direito Processual Civil – por Reinaldo Wanbier 
 
 
É necessário frisar que o juiz não tem o dever de juntar processos conexos ou continentes (art. 105), 
mas deve fazê-lo

Outros materiais