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fFACULDADE INTEGRADA DO CEARÁ – FIC CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO PROFESSORA: DANIÈLLE FONTENELLE CLASSIFICAÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS Celso Ribeiro Bastos A classificação moderna das despesas públicas não acolhe certas concepções do passado, como, por exemplo, a de que o Estado seja um parasita cujas despesas são improdutivas. Na verdade, todas elas visam a satisfazer necessidades coletivas. O Estado, sem dúvida, produz bens, em consequência, gera utilidades. Mesmo nos casos em que o indivíduo não pode fruir diretamente do serviço (ex., manutenção de exército), ainda assim ele está dele se beneficiando de forma coletiva. Portanto, mesmo que não se possa avaliar economicamente esse bem, uma vez que ele não se presta a ser submetido às leis de mercado, ainda assim a sua avaliação pode ser feita por via do cálculo de seu custo. Passaremos agora a analisar as classificações das despesas públicas. Despesa ordinária e extraordinária Quanto à natureza as despesas podem ser classificadas em ordinárias e extraordinárias. As primeiras são voltadas a suprir as necessidades públicas denominadas permanentes, ou seja, que estejam previstas e especificadas na lei orçamentaria. As despesas extraordinárias dizem respeito às despesas não previstas na lei de orçamento que surgem em virtude de situações urgentes e imprevisíveis, tais como, estado de calamidade pública ou guerra. Adverte-se que não se deve confundir as despesas extraordinárias com as especiais que consistem nas despesas ocorridas após a aprovação do orçamento, mas que são desprovidas do caráter de urgência. Despesas meramente produtivas e reprodutivas Uma classificação que costuma ser feita é entre as despesas que se limitam a criar utilidades e as despesas que, além disso, aumentam a capacidade produtora do país. As primeiras são chamadas “meramente produtivas” e as segundas, "reprodutivas". Sobre estas últimas assim Ise manifesta José Joaquim Teixeira Ribeiro: "Há despesas públicas, com efeito, que se traduzem no aumento jda quantidade dos bens de produção duradouros, despesas que representam investimento económico em capital fixo, compreendido o capital humano (saúde, instrução e educação). Ora, aumentando o capital fixo ao dispor da economia do país, é claro que aumenta a respectiva capacidade produtora. Assim sucede quando o Estado constrói edifícios para os serviços públicos, rasga estradas, lança pontes, irriga ou defende terrenos, difunde instrução, cuida da saúde dos cidadãos capazes...". As meramente produtivas são as que se limitam a criar utilidades através dos serviços que o Estado presta. Exaurem-se aí, pois delas não emerge um aumento da capacidade de produção. São, por exemplo, os serviços de polícia ou de segurança prestados pelo Estado. Depesas-compra (real) e despesas-transferência Outra classificação adotada é entre despesas-compra (real) e despesas- transferência. As despesas-compra são levadas a efeito toda vez que o Estado adquire produtos e serviços. São exemplos o pagamento dos funcionários, a compra de imóveis ou de material de consumo. A sua característica é criar rendimento, que passa a compor o rendimento nacional no período em que são realizadas. Nas despesas-transferência, o Estado cinge-se a transferir o poder de compra. Ele nada adquire, simplesmente fornece subsídios, subvenções ou qualquer outra forma de auxílio financeiro que, no fundo, nada mais significam do que tomar dinheiro dos contribuintes para repassá-lo para outros cidadãos. Não geram, portanto, rendimento. Há, tão-somente, uma mudança de mãos dos rendimentos já criados; dos contribuintes o dinheiro vai para a mão dos beneficiários, que, estes sim, ao comprarem bens, estarão ciando rencimentos. Ricardo Lobo Torres DESPESA E RENÚNCIA DE RECEITA Importante observar que, para o equilíbrio orçamentado, torna-se necessário não só diminuir a despesa pública como também evitar as renúncias de receita. A expressão "renúncia de receita", equivalente a "gasto tributário" (tax expenditure), entrou na linguagem orçamentaria americana nas últimas décadas e adquiriu dimensão universal pelos trabalhos de Surrey (op. cit.). Gastos tributários ou renúncias de receita são os mecanismos financeiros empregados na vertente da receita pública (isenção fiscal, redução de base de cálculo ou de alíquota de imposto, depreciações para efeito de imposto de renda etc.) que produzem os mesmos resultados económicos da despesa pública (subvenções, subsídios, restituições de impostos etc.). A CF 88, nos arts. 70 e 165, § 6a, estabelece o controle sobre as renúncias de receita com o nítido objetivo de promover o equilíbrio financeiro. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) define e regula as renúncias de receita no art. 14. CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA A Lei na 4.320, de 7.3.64, que estabeleceu normas gerais para a elaboração e execução do orçamento, classifica a despesa pública por um critério preponderantemente econômico, ao estremar as despesas correntes das despesas de capital. Conteúdo econômico: despesas correntes e despesas de capital. As despesas correntes: se dividem em despesas de custeio e transferências correntes. a) as despesas de custeio compreendem as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis (art. 12, § 1a), nelas se incluindo as despesas de pessoal, de material, de consumo, de serviço de terceiros etc. b) transferências correntes as dotações para despesas às quais não corresponde contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado (art. 12, § 2a), nelas se incluindo as subvenções sociais e econômicas, as despesas com inativos, as pensões, as transferências intergovernamentais e os juros da dívida contratada. As despesas de capital se classificam em investimentos, inversões financeiras e transferências de capital. a) Investimentos são as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis a elas destinados (art. 12, § 4°). b) Inversões financeiras são as dotações destinadas à aquisição de imóveis ou de bens de capital já em utilização ou à aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie (art. 12, § 5º). c) Transferências de capital são as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especial anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. Além dessa classificação econômica, a despesa pública pode também ser classificada segundo: a) critério institucional, que leva em conta o órgão ou a instituição a quem se atribui a realização do gasto (Ministério, Secretaria, Departamento etc.); b) critério programático que toma em consideração o programa governamental nas diversa áreas de atuação (ensino, saúde, transporte etc.). Kiyoshi Harada Classificação das despesas públicas De há muito os financistas vêm demonstrando preocupações em classificar as despesas públicas, para melhor estudo e compreensão da matéria. Nenhuma das diversas classificações existentes, porém, tem cunho científico, sendo "todas elas flutuantes e arbitrárias", como reconhece Einaudi, um dos expositores do tema.Uma das classificações lembrada por todos os autores é aquela que leva em conta a periodicidade das despesas: despesas ordinárias e despesas extraordinárias. Seguindo as pegadas de Griziotti, pode-se dizer que as despesas ordinárias são as que constituem, normalmente, a rotina dos serviços públicos e que são renovados anualmente, isto é, a cada orçamento. As despesas extraordinárias seriam aquelas destinadas a atender a serviços de caráter esporádico, oriundos de conjunturas excepcionais e que, por isso mesmo, não se renovam todos os anos. Há autores que classificam as despesas em produtivas, reprodutivas e impro- dutivas. (a) As despesas produtivas limitam-se a criar utilidades por meio da atuação estatal (atividade policial, atividade jurisdicional etc.). (b) As despesas reprodutivas são as que representa serem satisfeitas pelo serviço público, é matéria que se insere no âmbito de atuação do poder político. A este cabe a formulação da Política Governamental, na qual está prevista a realização dos objetivos nacionais imediatos, objetivos esses eleitos de conformidade com as ideias políticas, religiosas, sociais, filosóficas do momento, a fim de que o plano de ação governamental tenha legitimidade perante a sociedade. Daí por que, ao contrário do que ocorre no setor privado, onde os objetivos são adequados aos recursos econômico-financeiros existentes, no setor público, primeiramente, elegem-se as prioridades da ação governamental para, depois, estudar os meios de obtenção de recursos financeiros necessários ao atingimento das metas politicamente estabelecidas. As despesas públicas, vinculadas a essas metas estabelecidas, são aprovadas pelo Parlamento, passando a integrar o orçamento anual, cuja execução se dá corn observância de normas constitucionais e legais pertinentes. Por isso, o exame das despesas consignadas (dotações orçamentarias) permitirá identificar o programa de governo e, por conseguinte, possibilitará revelar, com clareza, em proveito de que grupos sociais e regiões, ou para solução de que problemas e necessidades funcionará o aparelhamento estatal de aumento de capacidade produtora do país (construção de escolas, estradas, etc.). Já (c) as despesas improdutivas corresponderiam às despesas inúteis. Outra classificação existente é a que leva em conta a competência constitucional de cada entidade política. Assim, as despesas federais seriam aquelas para a realização dos fins e dos serviços públicos, que competem privativamente à União, nos termos do art. 21 da CE. As despesas estaduais corresponderiam àquelas relacionadas com as atribuições conferidas das aos Estados-membros, isto é, as que não se inserem no âmbito de competência União e dos Municípios, na forma da prescrição do § 1° do art. 25 da CF. Finalmente, as despesas municipais seriam aquelas relacionadas com o exercício da competência municipal, prevista no art. 30 da CE. Tal critério, pelo menos entre nós, é absolutamente falho, porque existem só matérias de competência comum das três esferas políticas (art. 23 da CF), também aquelas de competência concorrente (art, 24 da CF), além do fato ás, na prática, reinar, com relativa frequência, superposição de serviços públicos, implicando a duplicação ou triplicação desses serviços para o mesmo fim, independentemente da repartição constitucional de competências. Só para citar, a Guarda Metropolitana da cidade de São Paulo, inicialmente criada apenas para proteção de bens, serviços e instalações municipais, nos termos do § 8º do art. 144 da CF, hoje, atua ostensivamente no campo da segurança pública, constitu- cionalmente atribuído a órgãos federais e estaduais. Existe, ainda, a chamada classificação econômica. Dentro dessa classificação, temos a despesa-compra e a despesa-transferência. A primeira é aquela realizada para compra de produtos e serviços (aquisição de bens de consumo, folha de pagamento do funcionalismo etc,). A segunda é aquela que não corresponde à aplicação governamental direta, límitando-se a criar rendimentos para os indivíduos sem qualquer contraprestação destes (juros da dívida pública, pensões, subvenções sem encargos etc.). Finalmente, existe o critério legal de classificação. A Lei na 4.320, de 17-3-1964, recepcionada pelo § 9° do art. 165 da CF; classifica as despesas em correntes e de capital (art. 12): 1. As despesas correntes abrangem: a) as de custeio, que correspondem às dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis (§ 1º), e, b) as transferências correntes, que correspondem às dotações para despesas sem contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado (§ 2 º). 2. As despesas de capital abrangem: a) os investimentos, que correspondem, entre outros, às dotações para planejamento e execução de obras (§ 4 º); b) as inversões financeiras, que são conformes às dotações para aquisição de imóveis, aquisição de títulos representativos de capital de empresas em funcionamento, constituição ou aumento de capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros etc. (§ 5 º), e c) transferências de capital, que são correlatas às dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direita em bens ou serviços, bem como as dotações para amortização da dívida pública ( 6º).
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