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Danielle Fontenelle - Classificação das Receitas Públicas

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FACULDADE INTEGRADA DO CEARÁ – FIC 
CURSO: DIREITO 
DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO 
PROFESSORA: DANIÈLLE FONTENELLE 
Receitas Públicas 
CLASSIFICAÇÃO 
 
Para fazer face a suas necessidades, o Estado dispõe de recursos ou rendas que lhe são 
entregues pela contribuição da coletividade. O conjunto desses recursos constitui a denominada receita 
pública. 
Algumas categorias fundamentais podem aglutinar-se as diversas formas de receitas do 
Estado. São reconhecidas: as patrimoniais, as tributárias e as creditícias. 
 
Celso Ribeiro Bastos: “Adotamos a classificação: receitas patrimoniais e receitas 
tributárias”. 
 
Note-se que há quem também as classifique em: 
a) receitas de direito privado, recursos ou meios financeiros obtidos mediante a cobrança de PREÇO 
pela venda de bens ou serviços. Nesse caso, o Estado funciona como particular mediante a exploração de 
atividades privadas (projetos na agricultura: Emater, Siagro, Pesagro e Projetos de Assistência Técnica etc.; 
venda de bens intermediários ou privados: minérios de ferro, petróleo e derivdos etc.; prestação de 
serviços: estradas de ferro, água, luz, telefone etc.) e 
 
b) receitas de direito público, provenientes do exercício da competência ou do poder de tributar os 
rendimentos ou o patrimônio da coletividade (receitas de tributos, receitas decorrentes de 
empréstimos e contribuições compulsórias e, em geral, todas as receitas cuja percepção dependa de 
disposição legal). 
 
Ou, ainda, em receitas originárias e derivadas. 
a) as receitas originárias podem ser conceituadas como as receitas oriundas do patrimônio 
comercial ou industrial do Estado, é dizer, da exploração econômica de seus bens. 
b) as receitas derivadas são entendidas como as receitas que são arrecadadas com fundamento 
em um constrangimento legal. Exemplo desta categoria é o tributo. 
 
Quanto à afetação patrimonial, as receitas são divididas em: 
a) receitas efetivas, aquelas que, sem quaisquer reservas, condições ou correspondência 
no passivo, integram-se ao patrimônio público, como elemento novo e positivo, e deste 
modo aumentam o patrimônio líquido. 
Exemplos: Receitas Correntes: receitas tributárias; receitas de contribuições; receitas 
patrimoniais; receitas agropecuárias; receitas industriais; receitas de serviços; transferências 
correntes. 
b) receitas por mutações patrimoniais - são as oriundas de mutações que nada 
acrescem ao património líquido, constituindo simples entradas ou alterações compensatórias 
nos elementos que o compõem. 
Exemplos: Receitas de Capital: operações de crédito; alienação de bens; amortização de 
empréstimos; transferências de capital. 
 
Receitas extraordinárias e ordinárias 
 
As receitas públicas podem ser classificadas segundo o critério da sua regularidade em: 
 
As receitas extraordinárias caracterizam-se por serem temporárias, é dizer, são decorrentes da 
cobrança de impostos com caráter temporário. Exemplo de receita extraordinária é a decorrente da 
cobrança de impostos no caso de guerra externa. Tal imposto vem previsto expressamente no inc. 
II do art. 154 da Constituição da República que reza: "A União poderá instituir na iminência ou no caso 
de guerra externa, impostos extraordinários, empreendidos ou não em sua competência tributária, os 
quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação." 
 
As receitas ordinárias são aquelas receitas permanentes do Estado que servem de fontes perenes de 
recursos, em virtude de sua regularidade periódica. Exemplo de receita ordinária é a oriunda da 
cobrança de impostos, como o imposto sobre serviços (ISS) de competência municipal. 
 
A Classificação das receitas adotada pela Lei n. 4.320/64 
 
A Lei n. 4.320/64, que dispõe sobre as normas gerais de Direito Financeiro, em seu art. 11 
classifica a receita em duas grandes categorias econômicas, quais sejam, as receitas correntes e as 
receitas de capital. 
 
Entende-se por receitas correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, 
agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros 
recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas 
classificáveis em despesas correntes. 
 
Já as receitas de capital são as provenientes da realização de recursos financeiros 
oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos 
recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas clas-
sificáveis em despesas de capital e, ainda, o superavit do orçamento corrente. 
 
A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema: 
 
a) receitas correntes: 
São Receitas Correntes as receitas tributárias, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços 
e diversas e, ainda, as transferências correntes, ou seja, os recursos financeiros recebidos de 
outras pessoas de direito público ou privado, quando destinados a atender a despesas. Assim, 
são receitas correntes: 
 receita tributária é a resultante da cobrança de tributos. 
 receita patrimonial, agropecuária e industrial são receitas originárias que 
resultam da exploração direta, por parte do Estado, de atividades comerciais, industriais, 
agropecuárias e, ainda, das rendas obtidas na aplicação de recursos. São receitas 
originárias, tais como: aluguéis, juros, dividendos etc.; 
 transferências correntes são recursos financeiros recebidos de outras pessoas de 
direito público ou privado, destinados ao atendimento de despesas correntes; 
 outras receitas correntes são provenientes de multas, cobranças da dívida, 
restituições e indenizações etc. e outras que não tenham classificação específica. 
 
b) receitas de capital: 
São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos da 
constituição de dívidas (Operações de Crédito), da conversão em espécie de bens (alienação de 
bens) e direitos (amortização de empréstimos concedidos); as transferências de capital, ou seja, 
as decorrentes de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinadas a 
atender a despesas classificáveis em despesas de capital e, ainda, as outras receitas de capital: 
Assim, são receitas de capital: 
 operações de crédito são receitas de capital provenientes de empréstimos e 
financiamentos, tais como: emissão de títulos da dívida interna ou externa, bem como de 
contratos com organismos financeiros nacionais e internacionais. Objetívam a cobertura do 
déficit orçamentado; 
 alienação de bens representa a conversão em espécie de bens e direitos; 
 amortização de empréstimos constitui receitas decorrentes do retorno de valores 
anteriormente emprestados a outras entidades de direito público; 
 transferências de capital indicam os recursos recebidos de outras pessoas de direito 
público ou privado, quando destinados a atender a despesas de capital; 
 outras receitas de capital - trata-se de classificação que englobará as demais receitas 
de capital não previstas nos itens anteriores. 
 
Vamos estudar as receitas do Estado: as patrimoniais, as tributárias e as creditícias. 
 
 
As Receitas patrimoniais 
 
Conceito 
Receitas patrimoniais são aquelas geradas pela exploração do património do Estado (ou 
mesmo pela sua disposição), feitas segundo regras de direito privado, conseqíientemente sem caráter 
tributário. Com efeito, os Poderes Públicos desfrutam de um património formado por terras, casas, 
empresas, direitos, que são passíveis de serem administrados à moda do que faria um particular, isto 
é, dando em locação, vendendo a produção de bens ou mesmo cedendo o imóvel ou o direito 
 
O que é importante notar é que, ao assim proceder, os Poderes Públicos estão se 
valendo de técnicas de direito privado, o que implica o respeitointegral à livre manifestação de 
vontade dos particulares. Não está presente nunca o caráter impositivo ou coercitivo próprio, 
sobretudo, das receitas tributárias. 
 
Não importa que essa submissão ao direito privado venha por vezes acompanhada da 
incidência também de normas de direito público. O Estado, na verdade, nunca pode praticar um ato 
integral e exclusivamente lisciplinado pelo direito privado, porque a tutela dos interesses a que está 
voltado — de ordem coletiva — impõe o respeito a uma normatividade específica incumbida de 
assegurar o atingimento daquelas finalidades. O que remanesce, sem dúvida, verdadeiro é que nas 
receitas matrimoniais há um predomínio bastante acentuado das normas de direito privado e a ausência do 
recurso à coerção. 
 
Evolução histórica e significação atual 
 
Um perpassar de olhos pela história demonstra que, durante grande parte dela, esses 
recursos patrimoniais desempenharam um papel quase exclusivo como fonte de receitas. Por muito 
tempo se confundiram o património do Estado com o do próprio rei, do que resultava, obviamente, 
uma confusão entre as finanças de um e de outro. 
 
Na Idade Média assiste-se a uma privatização das instituições políticas, e a soberania 
passa a confundir-se com o direito de propriedade, do que resulta um conceito dominical do Estado. 
Os bens da coroa continuam a confundir-se com os bens privativos do monarca. Nessa época, o 
próprio tributo tinha muito que ver com uma prestação paga pelo cultivo das terras do monarca, 
embora não estivesse ausente a ideia de contribuição ao rei na qualidade de titular do Poder Público. 
 
É durante a Idade Moderna que, diante do aumento das despesas públicas, os tributos 
passam a desempenhar um papel mais importante, relegando as receitas patrimoniais para um 
segundo plano. Com o advento das ideias liberais, o património público passa a ser malvisto, porque 
se via nele um obstáculo à livre circulação de riqueza. Sainz de Bujanda observa com muita 
propriedade que: "Se julgou o Estado um mau administrador, que obtém de seus bens um 
rendimento inferior ao que se produziria em mãos dos particulares, e se estimou nociva toda 
intervenção do Estado na vida económica. Como consequência disso, foi produzida a legislação 
desamortizadora e as receitas patrimoniais reduziram-se a sua mínima expressão". 
 
Na medida em que, como se sabe, as concepções puramente liberais sofreram o impacto 
das ideias intervencionistas e socializantes, sobretudo no correr de século XX, as próprias receitas 
patrimoniais sofreram também o impacto dessas alterações. De um lado, a propriedade territorial 
perde a primazia de que desfrutava como fonte principal das receitas hauridas do património. Toma-lhe 
o lugar a riqueza mobiliária, a atividade industrial e comercial da Administração. Mas há um outro 
dado, muito provavelmente de maior relevância. 
 
É que as próprias receitas hauridas do domínio patrimonial na época do liberalismo eram 
apenas voltadas à obtenção de recursos financeiros. Debaixo do intervencionismo, passam a ser 
encaradas como instrumento de conformação da vida económica nacional com vistas a finalidades 
predeterminadas. O Estado soma-se aos particulares na prossecução de determinadas atividades tidas 
como de interesse geral, e a obtenção de receitas ocorre apenas como consequência acessória do 
cumprimento de ditos fins. 
 
Modalidades de receitas patrimoniais 
 
A exploração do património do Estado para a obtenção de receitas pode derivar de 
três componentes fundamentais: do património mobiliário, do imobiliário e do empresarial. 
 
1. Patrimônio mobiliário 
 
E sempre encontrável no patrimônio dos Estados uma certa quantidade de títulos 
representativos de crédito ou mesmo de parte do capital de empresas — "ações". São múltiplas as 
razões que levam o Poder Público a deter esses papéis; por vezes é decorrente do dreito sucessório. A 
ausência de herdeiros e legatários faz reverter ao patrimônio público os bens vacantes, e, dentre 
estes, podem figurar valores mobiliários cuja administração e exploração o Estado tem que cumprir. 
 
Tem sido frequente nos tempos modernos a assunção pelo Estudo de parte do capital 
de empresas em situação de dificuldades financeiras. Isto é feito assim na suposição de que esta 
infusão de capital redunde num benefício de ordem social ou na preservação de urna empresa cujo 
objeto se considere de relevância coletiva. Não tem sido também infre-qíiente o comparecimento 
do Estado na composição de capitais com o propósito de desenvolver setores para os quais o 
capitalismo privado não estivesse em condições de assumir todos os riscos advindos do investimento. 
 
Esses valores mobiliários acabam por render frutos que podem assumir a forma de juros 
ou de dividendos, e o Estado a eles faz jus, embora seja de se notar que esse item representa, em 
regra, parcela muito pequena das rendas dos Estados. 
 
2. Patrimônio imobiliário 
 
a) Patrimônio rural 
 
Historicamente, o domínio rural desempenhou papel importantíssimo como fonte de 
receitas públicas. Tanto na Idade Média quanto na Moderna, traduziu-se em elemento gerador 
principal dos recursos públicos, só tendo perdido essa primazia a partir de fins do século XVIII, lanto por 
força do aumento crescente dos impostos quanto pelo fato de que os bens rurais foram na maior 
parte alienados durante o século XIX. Cabe, sem dúvida, aqui uma explicação das razões dessa 
alienação. Prende-se ela ao fato de que a visão liberal predominante no século passado não podia 
deixar de constatar que o Estado administra com menor eficiência do que os particulares, quer 
quando age como agricultor, quer como industrial ou como comerciante. 
 
Ora, não foi difícil extrair-se a conclusão de que, se fosse dada ao Estado a incumbência 
de explorar a agricultura de subsistência, seguir-se-ia inexorável uma carestia da vida. Assim, 
ficava claro que a manutenção do domínio rural, ao fim e ao cabo, acabaria por prejudicar os 
interesses dos consumidores. Mas há também uma grande razão de ordem política, muito bem 
exposta por José Joaquim Teixeira Ribeiro: "A Revolução Francesa representou a vitória da 
burguesia contra as classes então privilegiadas: a nobreza e o clero. Mas qualquer revolução só vinga 
definitivamente quando encontra um forte apoio social que a sustente e defenda. Ora, a revolução 
liberal não podia encontrar esse apoio no operariado, pois não era revolução dos trabalhadores; só podia 
encontrá-lo na própria burguesia, mas numa burguesia que precisava de ser reforçada através do 
número e da riqueza. E a venda dos bens do Estado em condições vantajosas para os compradores 
— isto é, a preços baixos — permitiria, precisamente, ou transformar em pequenos proprietários, em 
burgueses, muitos camponeses que não possuíam terras, ou enriquecer os que já as tinham." 
 
E de notar-se que o Estado continuou no domínio das suas florestas. E que, com relação a 
estas, considerou-se que não estavam presentes as mesmas razões que levaram à privatização das 
terras agricultáveis. Veja-se o problema da eficiência. A crítica fundamental que se fazia era ao 
desinteresse do burocrata, pouco motivado para uma laboriosidade diligente. Ora, ponderou-se que na 
silvicultura esse possível desinteresse não levaria necessariamente ao malogro da exploração, dado o 
pequeno papel que nela representa a intervenção do homem: as árvores crescem por obra da 
natureza. 
b) Patrimônio urbano 
 
O Estado possui, sem dúvida, um grande número de imóveis urbanos. Tanto a União quanto 
os Estados-Membros c os Municípios necessitam de prédios para a realização dos serviços públicos ou 
mesmo para uso dos cidadãos, como os museus e centros de cultura. Estes imóveis, nada obstante 
o seu valor possa ser grande, não proporcionam rendimento expresso numa receita. A doutrina os 
denomina "patrimôniode uso", para diferençá-lo do património de rendimento normalmente voltado à 
exploração sob regime de direito privado, gerador também de uma baixa rentabilidade produzindo 
uma menor utilidade social que o património de uso". 
 
3. Patrimônio empresarial 
 
As receitas patrimoniais podem advir da assunção pelo Estado da atividade empresarial. 
Foram diversas as razões que levaram os Poderes Públicos de uma posição de meros 
regulamcntadores ou disciplimido-res da atividade privada a uma outra, de gestores diretos da 
própria empresa. O Estado passou a criar entidades dessa natureza ou a assumir o controle de 
outras já existentes. Essa intervenção assume também uma variante, conforme a composição 
acionária esteja inteiramente nas mãos do Estado ou se apresente ela em associação com capitais 
particulares. A própria exploração da atividade industrial ou comercial pode assumir uma feição 
concorrencial ou monopolística. 
 
Com relação ao monopólio, seu objetivo pode ser de duas ordens diferentes: ou se trata 
de obter receitas, o que é feito mediante a fixação de preços que maximizem a receita, ou então o 
fim do monopólio reside na pretensão de melhor satisfazer as necessidades coletivas. Os 
monopólios fiscais — assim chamados aqueles que objetivam auferir receitas — foram sempre 
instrumentos de natureza tributária. De fato, recaindo normalmente sobre produtos de demanda 
muito generalizada, como o tabaco, por exemplo, e levando em conta que os seus preços são bem 
acima daqueles que vigorariam sob o regime de concorrência, é óbvio que os Poderes Públicos 
resultam, destarte, investidos de uma fonte de receita. 
 
Mas a utilização das empresas pelo Estado pode prestar-se a fins bem diversos, inclusive 
chegando ao ponto de fixar preços sem pretensão de lucro. São explorações industriais e comerciais 
tidas por de utilidade pública. Os autores apontam diversas causas que levam o Estado a criar 
empresas dessa natureza. Uma delas é o propósito de evitar o monopólio que, na maioria das vezes, 
ocorre quando a atividade explorada demanda forte proporção de capitais fixos. Os transportes 
ferroviários, a distribuição de água, de energia elétrica etc. requerem, sem dúvida, uma forte 
conjugação de capitais fixos. O temor é que, se liberadas ao livre jogo da iniciativa privada, essas 
empresas se convertam em monopólios de fato ou cartéis. 
 
Há hipóteses, de outra parte, em que o Estado exerce atividade industrial na suposição 
de estar cumprindo uma tarefa estratégica, o que vale dizer, uma influência decisiva na economia. 
Isso é muito frequente nas indústrias produtoras de energia e de matérias-primas essenciais, como 
a dos combustíveis, eletricidade, ferro e aço. Há outras razões, que não seria o caso de registrá-las aqui. 
Todas se prendem a um viés desfavorável sob o qual é vista a iniciativa privada. Portanto, o problema 
deixa de ser econômico para ganhar um matiz ideológico. 
 
Encarada a questão de um ponto de vista tanto quanto possível neutro, constata-se o 
seguinte: a rigor, não existem atividades que não possam ser prestadas pelos particulares mesmo 
quando demandantes de grandes capitais. Depende, é óbvio, do nível de desenvolvimento 
económico do país. O perigo supostamente existente no exercício privado de certas indústrias não 
é comprovado pela experiência. Ademais, caso malefícios possam surgir, tem-se demonstrado mais 
eficiente o apelo a uma regulamentação da atividade ou, ao menos, a sua transformação em serviço 
público prestado, no entanto, por particulares, mercê de contratos de concessão. 
 
O que parece certo é que a tendência dominante nos últimos anos tem sido a de 
privatização. Do ponto de vista que nos interessa aqui, vale dizer, a atividade empresarial como fonte 
de receita do Estado, é forçoso reconhecer que o seu papel é muito pequeno, mesmo nos casos da 
exploração monopolista com fins fiscais; embora seja inegável o auferimento de recursos financeiros 
que daí advém, não é menos certo que esse mesmo objetivo também poderia ser utilizado, como de 
fato o é em muitos países, mediante uma forte tributação. No Brasil, por exemplo, os impostos cobrados 
sobre o álcool, sobre o fumo são extremamente elevados e certamente são muito mais rendosos para o 
Estado do que se este se abalançasse a montar indústria de cigarro ou mesmo destilaria de álcool. 
 
Em síntese, o fator que mais tolheu o desenvolvimento das receitas empresariais foi o fato 
capital da manifesta ineficiência da maioria das empresas do Estado. Quer se trate de empresa 
inserida em regime de economia coletivizada, quer se trate de entidade estatal atuante em economia 
de mercado, o fato é que o controle burocrático da empresa mostrou-se avesso a critérios de eficácia 
económica. 
 
2. RECEITAS TRIBUTÁRIAS 
 
As receitas tributárias são as mais importantes no Estado Moderno. No dizer do lúcido Sousa 
Franco: 
"São receitas que o Estado obtém mediante o recurso ao seu poder de 
autoridade, impondo aos particulares um sacrifício patrimonial que não tem por finalidade 
puni-los nem resulta de qualquer contrato com eles estabelecido, mas tem como 
fundamento assegurar a co-participação dos cidadãos na cobertura dos encargos públicos 
ou prosseguir outros fins públicos." 
 
Ninguém pode negar a importância do tributo, sobretudo na sua modalidade de imposto, 
na ativídade financeira do Estado. De fato, por sua própria natureza, o Poder Público volta-se para a 
realização de diversos serviços cujos benefícios não são divisíveis. São utilidades não suscetíveis de 
exclusiva imputação individual. Assim sendo, é de justiça que também a coletividade seja chamada a 
cobrir essas despesas mediante o pagamento do imposto. As características fundamentais deste 
são: 
a) A coatividade — o que significa que o contribuinte é posto debaixo da obrigação de pagar o 
tributo sem consulta à sua vontade, mas por mera decorrência da lei. 
 
b) Inexistência de contraprestação — o devedor do imposto não tem qualquer direito de exigir 
uma contraprestação do Estado. Vê-se obrigado a satisfazer ao imposto tão-somente por ter 
incorrido na prática de um ato ou mesmo numa mera. situação descrita hipoteticamente na lei como 
geradora da obrigação tributária. Normalmente são situações ou atos que exprimem riqueza, 
 
c) A prestação que é feita ao Estado não é devida a título de sanção pela prática de 
algum ato ilícito. Este é um traço distintivo entre o tributo e as multas, já que estas podem ser 
consideradas receitas punitivas, Na verdade, não podem esconder alguma analogia com as receitas 
tributárias, uma vez que também não são voluntárias. 
 
Ocorre, no entanto, que a multa tem finalidades e fundamentos diversos. Ela objetiva 
evitar a prática de certos ilícitos. Daí por que a sua cobrança só se torna possível na medida em que 
haja um infrator. As finalidades do tributo são as de satisfazer as necessidades pecuniárias do Estado, 
embora seja sabido que sobretudo o imposto pode ter fins extrafiscais, isto é, o Estado dele se utiliza 
para objetivar metas de política económica c mesmo programas de ação social. Não há negar-se 
que os fins financeiros estão sempre presentes. O Estado Moderno não pode viver sem tributo, que 
constitui, como vimos, a forma fundamental pela qual ele capta os recursos financeiros dos quais tem 
absoluta imprescindibilidade para manter-se e para realizar as suas metas. 
O tributo é um conceito amplo que abarca diversas modalidades. Dentre elas as mais 
importantes são o imposto e a taxa. São características do tributo: 
 
a) a coatividade, o que significa dizer que é cobrado por um ato de autoridade estatal 
independentemente da vontade do contribuinte; 
b) ter como finalidade o custeio dos encargos públicos. 
Vimos que as modalidades fundamentais dos tributos são o imposto e a taxa. No entanto, é 
forçoso reconhecer-se que em diversospaíses há a construção jurídica de outras modalidades que, 
sem perderem as características próprias de todo e qualquer tributo, possuem, ademais disso, uma 
ou mais notas particularízadoras que acabam por lhes conferir um papel jurídico próprio e 
autônomo. 
 
Dentre essas modalidades, as mais consistentes juridicamente são as denominadas 
contribuições especiais, encontráveis em alguns países, inclusive no Brasil, que possui, ao menos, urna 
delas — a contribuição de melhoria. O que caracteriza a contribuição especial é ela ter um dos dois 
fundamentos: ou o benefício gerado para o particular, resultante ila atuação do Estado, causando-
lhe uma valorização especial do imóvel, ou, então, a necessidade de indenizar a pessoa de direito 
público pela utilização fora do normal dos bens ou serviços públicos. É exemplo desta última 
modalidade o imposto existente em alguns países sobre a circulação de veículos pesados, que, 
obviamente, provocam maiores despesas de manutenção e reparação de estradas. Esta modalidade 
não é conhecida no Brasil. 
 
3. RECEITAS CREDITÍCIAS 
 
O terceiro grande grupo de receitas públicas é o das receitas creditícias. Estas 
resultam da entrada do Estado no mercado financeiro. Fundamentalmente o crédito público resulta 
de uma relação bilateral voluntária em que o particular empresta dinheiro ao próprio Estado. 
Esta não deve confundir-se, no Brasil, com o empréstimo compulsório. A Constituição trata a este como 
modalidade tributária, e não como uma operação creditícia comum, precisamente por lhe faltar o 
caráter de voluntariedade. 
 
1. O crédito público 
 
O crédito público incluí-se, sem dúvida, entre os meios de que desfruta o Estado para 
obter fundos. Guarda, contudo, uma nítida diferença com as receitas tributárias. Estas não geram o 
dever de restituir as quantias havidas. No fundo, os empréstimos públicos não acrescem o patrimônio 
estatal porque a cada entrada de caixa corresponde o surgimento de um lançamento no passivo, de 
tal sorte que a operação se torna patrimonialmente neutra, o que levou Aliomar Baleeiro a afirmar 
que não se incluem os empréstimos entre as receitas ou, quando muito, são receitas 
impropriamente ditas. 
 
O crédito público é hoje alimentado por operações voluntárias. Tem-se tornado em 
muitos países um instrumento ordinário de suprimento dos cofres públicos. E preciso observar que se 
trata de recurso já utilizado na Antiguidade, quando duas notas chamavam muito a atenção: os juros 
altos da cobrança e as circunstâncias que cercavam sua celebração ou sua cobrança. Eram 
frequentes as operações bélicas para forçar os devedores ao pagamento, do que resultavam, por 
vezes, autênticas chacinas. 
 
Durante a Idade Média e até os primeiros séculos da Idade Moderna praticou-se largamente o 
empréstimo público. No entretanto, havia uma abissal diferença entre essas operações e o que se 
entende, hodierna-mente, por crédito público. Eram empréstimos feitos ao príncipe segundo a maior ou 
menor confiança que este despertasse aos burgueses enriquecidos. Eram obrigações pessoais do 
monarcae não se transferiam a seus herdeiros e sucessores. 
 
Aliomar Baleeiro dispõe muito bem sobre as consequências dessa falta de garantias: "Por 
isso os prestamistas exigiam juros onerosíssimos e garantias humilhantes, que iam desde o fio da 
barba sacratíssima de Sua Majestade, príncipes tomados como reféns, relíquias de santos, até o penhor 
da coroa, jóias ou a vinculação de certas rendas ao serviço de juros e amortizações da dívida." 
 
Não era de estranhar que o volume dessas operações acabava sendo muito pequeno, 
ridículo mesmo, ante o volume da dívida pública das nações modernas. Baleeiro aponta além da 
causa já descrita outros fatores que impediam o crescimento do volume da dívida pública: 
 
 
 
"a) inexistência de vultosos capitais como expressão da riqueza mais ou menos generalizada; 
b) doutrinas morais e religiosas infensas ao juro, que fora condenado pela Igreja no Concílio 
de Viena (1311); 
c) insegurança jurídica e política numa fase histórica de absolutismo e de poder pessoal dos 
príncipes, cujo património não se distinguia do erário; 
d) precariedade dos sistemas financeiros da época, na qual os monarcas buscavam a 
maior parte de seus recursos nos rendimentos dominiais da terra ou de suas empresas e 
direitos regalianos; sem que os tributos representassem o papel precípuo, que lhes coube no 
mundo contemporâneo.” 
 
Os empréstimos nessa época não se voltavam para melhorar as condições de vida do 
povo, no mais das vezes financiavam a guerra. Era frequente o seu não-pagamento. De tudo, acabou 
por avivar-se o forte pensamento provindo de intelectuais contra o empréstimo público como processo 
financeiro. 
 
Há de notar-se que, já em época muito posterior, o pensamento liberal não viu com bons 
olhos o apelo ao crédito público. Temia-se que os orçamentos crescessem desmesuradamente. 
Ademais, como era da essência dessa corrente ideológica, tinha-se por mais produtivo o capital que 
remanescesse nas mãos dos particulares. Qualquer transferência sua para o Poder Público era tida 
como medida financeira da prodigalidade estatal e da falta de disciplina financeira. 
 
O século XIX também encontrou razões para ver de maneira negativa o crédito público. 
Tinha-se-o como uma forma de transferencia de encargos das gerações presentes para as futuras. Sousa 
Franco admite a procedência dessa crítica na medida em que o emprego do empréstimo se não dirija a 
aplicações reprodutivas. Se, no entanto, adversamente, der origem a um aumento do rendimento 
nacional, também as gerações futuras dele se beneficiarão. 
 
A situação no mundo atual é bastante diversa. Na verdade, o crédito público assume na vida 
moderna dos Estados capitalistas uma importância sem precedente. Logo após a Segunda Grande 
Guerra, as operações com títulos da dívida pública tinham mais por finalidade exercer um controle 
sobre a liquidez da economia. Era, portanto, um instrumento destinado a repercutir no equilíbrio entre 
a oferta e a procura. Na medida em que esta era muito alta, prenunciando uma inflação eminente, o 
Poder Público vendia títulos de sua responsabilidade, com o que recolhia parte da moeda circulante. 
Quando a conjuntura se mostrasse contrária, é dizer, com tendências para uma fraca demanda, 
prenunciadora de uma recessão económica, o Estado resgatava esses títulos. Com isso, injetava 
recursos monetários na economia, responsáveis por um incremento da procura de bens e serviços, 
estimulando, destarte, as atividades econômicas. 
 
Modernamente, o crédito público se autonomizou, vale dizer, passou a ser utilizado como 
fonte de financiamento das despesas estatais. Em razão da natureza do próprio Estado este crédito 
público ganhou características próprias que o distinguem do crédito privado. Essas circunstâncias 
são excelentemente expostas por António L. de Sousa Franco: 
 
"— enquanto o crédito privado assenta numa base real de confiança, a confiança que o 
prestamista aqui tem no Estado não deriva de garantias reais, mas da sua própria posição 
especial (de ser o Estado, em suma); 
 
— o caráter público do devedor marca de uma forma essencial as relações de crédito, já 
que o devedor conserva faculdades que não seriam normais num devedor privado, como sejam, por 
exemplo, a de em certas circunstâncias poder alterar as condições do empréstimo". 
 
Atualmente a legitimidade abstraia do crédito público não sofre contestações, mesmo 
porque, pela complexidade das economias modernas, as suas finalidades clássicas foram altamente 
alteradas. Mas isso já será melhor examinado no tópico seguinte. 
 
PRINCIPAL FONTE: 
Celso Ribeiro Bastos.

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