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Comunicação e Expressão C om unicação e E xp ressão Instituições de Ensino Rede Laureate Brasil Business School São Paulo (BSP) CEDEPE Business School (CBS) Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) Centro Universitário do Norte (UNINORTE) Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS) Faculdade dos Guararapes (FG) Faculdade Unida da Paraíba (UNPB) Centro Universitário IBMR Universidade Anhembi Morumbi (UAM) Universidade Potiguar (UnP) Universidade Salvador (UNIFACS) N ilza C arolina S uzin C ercato Nilza Carolina Suzin Cercato Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-87325-29-7 9 7 8 8 5 8 7 3 2 5 2 9 7 Nilza Carolina Suzin Cercato Comunicação e Expressão EDITORA UNIFACS – Laureate Salvador 2013 ©Copyright 2013 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate International Universities) C412c Cercato, Nilza Carolina Suzin Comunicação e expressão / Nilza Carolina Suzin Cercato. – Salvador: UNIFACS, 2013. 146 p. : il. ; 24 cm. ISBN 978-85-87325-38-9 1. Comunicação. 2. Expressão. I. Título. CDD: 302.2 Sumário Noções de texto e aspectos da comunicação ..............................................5 Fatores de textualidade ......................................................................................19 Coesão e coerência/revisar conectivos .........................................................33 Fala e escrita, variação, registro, níveis de formalismo ............................57 Tipos e gêneros textuais .....................................................................................75 Hipertexto................................................................................................................87 Leitura: objetivos, estratégias, contextos .....................................................97 Produção de texto: características de bons textos, argumentação, estilo, autoria .......................................................................................................121 5 Noções de texto e aspectos da comunicação O maior presente que você pode dar a outra pessoa é a pureza da sua atenção. Richard Moss Nesta primeira aula da disciplina Comunicação e Expressão vamos trabalhar os conceitos de texto, discurso, valorizando os aspectos da comunicação. Quando se conceitua texto, sabe-se que ele é uma unidade de sentido, portan- to o significado de uma parte não é autônomo, ele só faz sentido quando relaciona- -se com outras partes. Texto, como tecido, constrói-se numa relação de fios que se entretecem. Para ter o significado global de um texto, é preciso estabelecer uma combinação geradora de sentido, em que cada parte se inter-relacione. A seguir, vamos analisar algumas definições de texto, de autores que servem de referência para este estudo. Segundo Koch e Travaglia, O texto será entendido como uma unidade linguística concreta, que é tomada pelos usuários da língua, em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão. (KOCH; TRAVAGLIA, 1997, p. 9) Vamos compreender a definição. Em primeiro lugar: ao dizer unidade linguística, os autores pressupõem que essa construção tenha começo, meio e fim, formando um todo compreensível. Quando os autores afirmam que o texto envolve uma situação de interação, trazem o valor da presença de interlocutores, isto é, quem fala e para quem fala; o termo específica significa, nesse contexto, alguém que fala de um lugar para seu interlocutor que ocupa outro lugar. Lugar, nessa definição, refere-se a um lugar social. Por exemplo: o pai que fala ocupando o lugar de pai, pode, em outra situação, falar do lugar de empresário, ou de marido. Nessa situação, deverá haver um funcionamento da língua, trazendo sentido para os interlocutores. 6 A língua tem como constituinte a interação verbal, que vem a ser a relação entre dois indivíduos: o locutor e o interlocutor, que se reconhecem socialmente. Mas, caso não haja a presença real do interlocutor, pode ser citado o papel social que desempe- nha. Nota-se que o interlocutor está sempre marcado, pois não há possibilidade de um enunciado dirigido a um ser abstrato; encaminha-se, portanto, para uma função desempenhada, para o papel social desse interlocutor, como diretor, professor, aluno, gerente, etc. Veja o exemplo a seguir: Aquele pai não entende nada - Um biquíni novo? - É, pai. - Você comprou um no ano passado... - Não serve mais. Eu cresci, pai. - Como não serve mais? No ano passado você tinha 14 anos, agora tem 15, não cresceu tanto assim... - Não serve, pai. - Está bem, está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior. - Maior, não, menor, pai. Aquele pai, também, não entendia nada. (VERISSIMO; Luís Fernando. Disponível em: <http//chaodeestrelascassilandia.blogspot. com/2011/05leitura-e-interpretacao-de-text—cornica-html>) Você deve ter percebido que nesse breve conto de Luís Fernando Verissimo, não aparecem os nomes das personagens, mas são identificadas pelo lugar social que ocupam: pai e filha. Fazendo uma paráfrase do que diz M. H. Duarte Marques (1990), podemos dizer que um texto, para ser definido como tal, deve ter coerência e coesão. Isso significa que os enunciados devem estar inter-relacionados, encadeados entre si. N oç õe s de te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 7 N oções de texto e aspectos da com unicação Por outro lado, a extensão do texto pode ser variável e a materialidade com que se apresenta também varia: pode ser uma foto, um vídeo, uma frase, poesia, prosa, uma conversa informal ou telefônica, também pode apresentar-se como um artigo científico, notícias, um filme etc. Desdobrando o conceito, a autora propõe a presença da coesão e coerência para que o significado esteja presente entre os interlocutores. Note-se que também coloca a necessidade de uma unidade de sentido para que realmente estabeleça a comunicação. O acréscimo que a autora coloca está na citação de formas de texto. O importante é que faça sentido na situação de uso, isto é, que funcione, que comunique. Afinal, tudo é texto. Um exemplo clássico, muito citado, é o caso de Victor Hugo, escritor do romance Os Miseráveis. Quando a obra ficou pronta, ele mandou os originais para o seu editor, com um bilhete, no qual havia apenas: “?”. Depois que o editor leu o romance, escreveu outro bilhete em que estava: “!”. Hoje em dia, mesmo fora da situação de comunicação entre autor e editor, podemos compreender: Victor Hugo interroga seu editor: Que tal? Está bom? Ao que o editor responde significando: Maravilhoso! Estupendo! Na contemporaneidade, quando se lê Os Miseráveis, surgem as mesmas exclama- ções, no caso, agora pelo leitor. Segundo Fiorin e Savioli (2006, p. 18), “Um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo.” Os autores trazem um acréscimo na definição de texto: a presença de um sujeito. Aqui não se está falando do sujeito gramatical (aquele que pratica ou sofre a ação do verbo), mas sim de um indivíduo que ocupa um determinado lugar e fala desse lugar, num espaço (lugar) não geográfico, mas numa situação social, e num tempo, pois é importante verificar “o quando” para o texto ter sentido. Esse lugar no discurso é governado por regras anônimas que definem o quepode e deve ser dito. Somente nesse lugar constituinte, o texto (discurso) vai ter um dado efeito de sentido. Se for falado em outra situação que remeta a outras condições de produção, seu sentido, consequentemente, será outro. Na medida em que retiramos de um discurso fragmentos e inserimos em outro discurso, fazemos uma transposição de suas condições de produção. Mudadas as condições, a significação desses fragmentos ganha nova configuração semântica (BRANDÃO, 1993). 8 Discurso Depois de termos trabalhado com a definição de texto, vai ser muito interessante ver o que é o discurso. Segundo Brandão (1998), discurso é o espaço em que emergem as significações e a língua é a materialidade na qual o discurso aparece. Dessa forma, acontece o uso de uma mesma língua, falando sobre o mesmo referente, mas não o mesmo discurso. Para Eni Orlandi (2001, p. 64), “[...] discurso é o efeito de sentido entre locutores”, tendo na língua sua possibilidade de existência. Ao surgir, o discurso mobiliza condições determinadas, pistas que devem ser interpretadas ou descobertas pelo alocutário. Vemos que as duas autoras concordam na definição de discurso. O que precisa para que um texto seja um discurso? Segundo elas, o discurso é o funcionamento, o efeito de sentido construído por dois “personagens”: o locutor, aquele que fala, e o interlocutor, aquele para quem se fala. Agora, para o discurso funcionar, ele depende da língua, que é a materialidade, o que permite o surgimento do sentido. A unidade do texto é verificada pelo sentido, pois um discurso nunca está só, depende de um “já-dito”, que, na Análise de Discurso, se chama de interdiscurso. Inter- discurso vem a ser tudo o que o sujeito sabe ou conhece e usa no momento da cons- trução de seu discurso. A imagem que podemos relacionar com o texto é de uma rede, em que os vazios são preenchidos por conhecimentos anteriores que formam uma memória. Com a imagem da rede, podemos compreender melhor o sentido de incom- pletude que caracteriza o discurso, pois sempre haverá falta, falha e o ainda a dizer. Devido ao interdiscurso, fica evidente o quanto a incompletude faz parte do discurso, pois nada está acabado para sempre, sempre há o que acrescentar. A incom- pletude é constitutiva de qualquer signo – qualquer ato de nomeação é um ato falho, um mero efeito discursivo. Quando falamos em incompletude, estamos dizendo que um mesmo discurso pode voltar com novas materialidades, com novas palavras, com novas experiências. O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretendia. “A multiplicidade de sentido é inerente à linguagem” (ORLANDI, 1988, p. 20). Veja um caso que aconteceu em sala de aula. O título de uma reportagem de jornal foi oferecido a um grupo, para que cada um dissesse qual seria o teor do texto Sementes do Suicídio. E Você, o que entende por Sementes de suicídio? Os sentidos oferecidos pelo grupo foram: descoberta de uma semente que mata; uma pessoa, sentindo-se ofendida, suicidou-se, a ofensa foi a semente que gerou o suicídio; a violência sofrida por alguém gera sementes de ódio e pode levar ao suicídio. Sua compreensão foi semelhante?N oç õe s de te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 9 N oções de texto e aspectos da com unicação Veja o que aconteceu. Na verdade, o texto falava sobre uma pesquisa feita pela indústria da Monsanto, para deixar inférteis as sementes de frutas. Essas frutas foram obtidas por meio de várias experiências, resultando perfeitas quanto ao tamanho, ao sabor, à cor, à textura. Quem desejasse plantar essas sementes não conseguiria repro- dução. Essa foi a forma encontrada pela empresa para proteger sua pesquisa. Aí está a multiplicidade de sentido. Os alunos criaram hipóteses de leitura. Em seguida, refizeram o seu caminho e atribuíram outro sentido, mais outro, construindo uma rede. A falha, o furo, no caso do exemplo anterior, está no fato de os alunos empregarem a palavra “semente” em sentido figurado, quando, na verdade, ela estava sendo empregada no sentido literal. Quando se fala em interdiscurso, faz-se referência ao que fala antes, em outro lugar, o que foi importante para cada leitor trazer o conhecimento que possui em rela- ção às palavras “semente” e “suicídio”, para levantar hipóteses de desenvolvimento da reportagem. Esse conhecimento forma o conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico que cada indivíduo acumula ao longo de sua experiência linguística. Aspectos da comunicação Deve ter ficado claro para você o significado de texto e de discurso. Agora, vamos ver como os interlocutores funcionam num dos esquemas de comunicação. O mais conhecido e funcional foi traçado por Jakobson (1969). Vejamos: Locutor e Alocutário Esses dois primeiros elementos constituem-se em sujeitos, determinados por condições sociais, historicamente delineáveis e portadores das significações ideoló- gicas de tais condições. O que quer dizer isso? Locutor e alocutário vão ocupar um determinado lugar social, (como já vimos anteriormente) e esse lugar é determinado por condições sociais conhecidas, marcadas pela história e se colocando em seu lugar na luta de classes. Para melhor conhecer os elementos da comunicação, devem-se colocar em evi- dência os protagonistas do discurso – quem fala? para quem fala? As respostas a essas questões vão determinar outros dois novos elementos da comunicação: Código linguístico (que é a materialidade, o idioma) Locutor (quem fala) Discurso (o que é falado) Alocutário (para quem se fala) 10 Para que o discurso atinja sua finalidade de comunicação, é fundamental que o código linguístico seja comum ao locutor e ao alocutário. Veja o que aconteceu entre um turista francês e uma baiana de acarajé pelo fato de não usarem o mesmo código linguístico (a mesma língua). Um diálogo entre um turista francês e uma baiana de acarajé, em Amaralina: Turista: Qu’est que ça? (Traduzindo: o que é isso?) Baiana: Tem que cessá, sim. T. : Comment? (Como?) B. : Com a mão também, sim. T. Je ne comprend pas. (Eu não compreendo) B. Se não vai comprar, passe a frente, porque a fila tá grande. (N.C.) O caso anterior evidencia o fato de que códigos linguísticos diferentes geram uma situação de não comunicação. O código linguístico e o tipo de discurso são condicionados aos papéis que locutor e alocutário desempenham – o discurso é resultante das relações dos papéis sociais. Agora, podemos acrescentar novos elementos: LOCUTOR Contexto (Referente) ALOCUTÁRIO Remetente Mensagem (Discurso) Destinatário Contato (Forma como se dá a comunicação) Código (Linguístico) Podemos compreender então que, para haver comunicação, segundo Jakobson, há um locutor (aquele que fala), um alocutário (aquele para quem se fala), um contexto (que aqui significa as condições de produção), a mensagem (que é o discurso), o con- tato (via em que o discurso acontece) e, finalmente, o código linguístico (o idioma que é falado). N ilz a Ca ro lin a Su zi m C er ca to . (J A KO BS O N , 1 96 9) N oç õe s de te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 11 N oções de texto e aspectos da com unicação É interessante que, a partir do momento em que você conhece os elementos de comunicação, passe a analisar suas falas e as falas do outro dirigidas para você. Se per- gunte, às vezes, de que lugar essa pessoa está falando comigo? De que lugar eu vou responder à questão proposta? Vai ser uma experiência muito produtiva em matéria de comunicação. Funções da linguagem centradas nos elementos de comunicação Pela nossa experiência pessoal, sabemos que qualquer produção, seja oral ou es- crita, tem um fim, um objetivo, pois a forma com que construímosnossa comunica- ção pode trazer efeitos diversos. Então, é preciso considerar os seguintes elementos: emotivos (ver qual a emoção envolvida no momento da comunicação); informativos (buscar compreender as informações que estão sendo passadas) e performativos da linguagem (que tipo de performance está funcionando). Continuando com nossa referência, para melhor entender as funções, Jakobson (1969, p. 118-129) traça os fatores constitutivos de todo processo linguístico, de todo ato de comunicação verbal, relacionando os elementos de comunicação com as fun- ções da linguagem, como se pode ver a seguir: Contexto (função referencial) LOCUTOR (função emotiva) Mensagem (função poética) ALOCUTÁRIO (função conativa) Contato (função fática) Código (função metalinguística) Cada um desses fatores vai determinar uma diferente função da linguagem. A função emotiva está centrada no locutor, é a expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que se está falando. Essa função emotiva deve ser usada quando a subjetividade surge aos olhos de todos. No discurso escrito, o estrato puramente emotivo da linguagem é apresentado pelas interjeições, exclamações; no discurso oral, pela expressão fisionômica, tom de voz, pausas... Essas marcas são de atitude pessoal do emitente, isto é, daquele que fala. Elas dão um colorido às manifes- tações verbais nos níveis fônico ou gramatical. Por exemplo, conforme se pontua ou pronuncia uma expressão, o sentido pode mudar. Leia, em voz alta, o texto a seguir, observando a pontuação: (J A KO BS O N , 1 96 9) 12 Isso é comigo? Isso! É comigo. Isso? É comigo? Isso é comigo! Isso é. Comigo. Isso é comigo... Ou então: Booooa noite! Boa noite. Boa noite? Boa noooite! Existe uma história de um ator cuja peça teatral consistia em dizer de 48 formas diferentes a expressão boa noite. Tente você também. Não digo as 48, mas umas três. Veja como a função emotiva colabora para a expressão comunicativa. Se a comunicação estiver orientada para o destinatário, há a função conativa. Ela aparece, em sua forma mais específica, no uso do vocativo e do imperativo. Nessa função, há o desejo de impulsionar o alocutário ou destinatário da mensagem para um determinado comportamento. Por isso, o uso do imperativo exerce uma voz de comando forte. Por outro lado, esse tipo de frase não pode ser submetido ao julga- mento de verdadeiro ou falso. Já as frases declarativas podem ser submetidas à prova da verdade. Outra diferença é que as frases declarativas podem ser transformadas em interrogativas, o que não acontece com a função conativa. A palavra conativa vem do latim conatus, que quer dizer “ação de coagir”. Esse tipo de função é muito usado nas propagandas. Basta lembrar aquela que dizia: “Compre baton” repetidamente – mensagem que era transmitida por uma voz autoritária, persuasiva – às vezes, manipulatória. Se a mensagem estiver orientada para o contexto, teremos a função referencial – denotativa ou cognitiva. Embora ela apareça em muitas mensagens, deve-se considerar a participação adicional de outras funções. O uso é variado: reportagens, certo tipo de correspondência, textos de caráter científico, etc. É uma das funções mais presentes na vida cotidiana. Quando dizemos função referencial, estamos falando do referente, que é o objeto ou a situação de que a mensagem trata. A objetividade torna-se uma marca dessa função. No entanto, um texto impessoal e objetivo traduz um comportamento linguís- tico de quem o produziu. Por isso, é preciso desconfiar de sua aparente neutralidade. Por quê? Porque, quando falamos, escolhemos determinadas palavras que acabam traindo nossa imparcialidade. Se estivermos diante de uma manchete “impessoal” que diz: cidade abandonada: autoridades incompetentes. Há imparcialidade? Não, embora seja uma manchete bem objetiva. Agora, compare com essa outra manchete: cidade cuidada: obras em todos os bairros. Há imparcialidade? Não. Por quê? Há uma intenção de valorizar o que é feito. Se a objetividade é resultado de uma atitude premeditada, pode acontecer uma manipulação a fim de alcançar determinado objetivo. Nos dois casos, é possível verificar formas de manipulação.No çõ es d e te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 13 N oções de texto e aspectos da com unicação Outra função da linguagem pende para o contato – suporte físico por meio do qual a mensagem caminha do remetente para o destinatário. Trata-se da função fática. Essa função se evidencia pela troca de fórmulas ritualizadas – presentes nos diálogos –, cujo objetivo é prolongar a comunicação. Como exemplos, podemos citar: “Alô, está ouvindo?”, “Pois é!”. Essa função ocorre também nas situações em que desejamos pre- encher o silêncio, então, falamos do tempo, de filmes etc. É importante levar em consi- deração se a comunicação se faz por telefone, por carta, num diálogo convencional... Continuando, vamos encontrar a função da linguagem centrada no código: a me- talinguagem – função metalinguística. O texto volta-se para o código – explicar a lin- guagem, caracterizar a poesia, explicar os usos da linguagem. Metalinguagem significa a linguagem falar da própria linguagem. Por exemplo, Carlos Drummond de Andrade, em uma poesia intitulada O lutador, fala da luta do poeta com as palavras. Vejamos os primeiros versos: Lutar com palavras / é a luta mais vã / entanto lutamos/ mal rompe a manhã. Em todo o texto, o poeta mostra como existe um embate no momento de usar as palavras. A função centrada na mensagem recebe o nome de função poética. Quando dizemos poética, a tendência é achar que essa função só se aplica à poesia. Não. Ela deve ser estudada no âmbito dos problemas gerais da linguagem, não pode ser redu- zida apenas à poesia. O exemplo de Jakobson é o seguinte: “Por que você sempre diz Joana e Margarida e nunca Margarida e Joana? Será porque prefere Joana à sua irmã gêmea? De modo nenhum; só porque assim soa melhor” (JAKOBSON, 1969, p. 128). Essa é uma questão de sonoridade que marca um idioma. A função poética está na busca do melhor som para enunciar a mensagem. Então, o estudo da função poética deve abranger toda poesia e ultrapassar esse limite. Não se pode restringir o estudo da poesia à função poética. Por exemplo, a poesia épica põe em destaque a função referencial da linguagem; a lírica, orientada para a primeira pessoa, destaca a função emotiva; a poesia súplice, ou exortativa, des- taca a segunda pessoa, vem imbuída da função conativa. A elaboração do texto com função poética parte de um trabalho de seleção e arrumação das palavras, da exploração de seus significados, que cria efeitos sonoros, rítmicos no texto, muitas vezes, causando surpresa – o estranhamento dos surrealistas franceses e formalistas russos. Quando estudamos as funções da linguagem, devemos ter em mente que é muito difícil um texto ser de um tipo de função apenas. Haverá uma função dominante, mas podem aparecer outras em segundo plano. 14 Formações imaginárias – seu efeito na comunicação Um aspecto importante a ser considerado na comunicação interpessoal diz res- peito às formações imaginárias. Entendemos por formações imaginárias como vemos o lugar social do locutor. Quando emitimos uma mensagem, uma informação é passa- da de emissor A para receptor B, que ocupam determinado lugar social, comunicam- -se de lugares sociais, a partir dos quais os sentidos se constroem. Os interlocutores se representam, pois, a partir das chamadas Formações Imaginárias. Para Pêcheux ([1969] 1997), num discurso, A (locutor) e B (alocutário) se repre- sentam, produzindo um jogo de efeitos de sentido que, a partir do lugar social dos interlocutores, das relações de poder e força, criam um imaginário. Quando falamos imaginário, estamosnos referindo à “imagem” que os interlo- cutores fazem de si e do outro. Então, uma imagem é construída simbolicamente e, a partir dela, os sentidos se efetivam. Essa imagem varia de acordo com o papel social de- sempenhado no momento da mensagem, sendo o lugar evidenciado pelo discurso. De acordo com Pêcheux (1969), podemos estabelecer o seguinte quadro: Quadro 1 – Funcionamento das Formações Imaginárias Expressão que designa as formações imaginárias Significação da expressão Questão implícita cuja “res- posta” subentende a formação imaginária correspondente {A I (A)A I (B) A Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em A “Quem sou eu para lhe falar assim?” Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A “Quem é ele para que eu lhe fale assim?” {B I (B)B I (A) B Imagem do lugar de B para o sujeito coloca- do em B “Quem sou eu para que ele me fale assim?” Imagem do lugar de A para o sujeito coloca- do em B Quem é ele para que me fale assim?” (G A D ET ; H A K, 1 99 0) N oç õe s de te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 15 N oções de texto e aspectos da com unicação Por exemplo, o professor diz ao diretor: “Vamos trabalhar com o material do labo- ratório.” O diretor fala: “Hoje é impossível. Você deveria ter reservado o espaço ontem.” Considerando a fala do diretor como a posição A e a do professor como a posição B, temos: Imagem de A em relação à posição de A deriva nesta pergunta: quem sou eu para falar ao professor assim? Eu falo de um lugar social e responsável pela organização do uso do laboratório. Imagem de B para o sujeito situado em A: quem é ele para eu lhe falar assim? Ele fala do lugar social de componente de uma equipe que deseja usar o laboratório. Imagem de B para o sujeito colocado em B: quem sou eu para que ele me fale assim? Falo do lugar social de professor que deseja usar o laboratório e que deveria ter reservado o espaço. Imagem de A para o sujeito situado em B: quem é ele para que me fale assim? Ele falou do lugar social do responsável pela organização do uso do laboratório. Em outra situação de fala, os lugares sociais podem mudar completamente e uma nova análise das formações imaginárias é construída. Seria o caso de o diretor chegar em casa, por exemplo, e sua mulher lhe dizer: por que você não reservou lugar no restaurante? Agora, vamos ficar sem sair. Nesse caso, a mulher estaria no lugar de A que, no discurso anterior, era ocupado pelo diretor. Essa mobilidade de papéis sociais, de lugares sociais, dinamiza as formações ima- ginárias a partir das quais os efeitos de sentido são construídos e ativados. Encerramos aqui o estudo de discurso e texto, digo, encerramos enquanto espaço de tempo, porque o que vimos nesta aula deve acompanhar seus estudos e suas co- municações ao longo de sua vida. Por exemplo, numa situação de comunicação, reflita de que lugar a pessoa está falando ou escrevendo. Essa atitude pode trazer sentidos inesperados ou diferentes da primeira interpretação. 16 Síntese Nesta aula, trabalhamos com os aspectos de discurso, texto, textualidade, bem como os diversos enfoques feitos por autores da área. É importante ver como, em cada aspecto, encontramos complementos para orientar o que se entende por comunicar-se, por usar o discurso como instrumento de convencimento. Questão para reflexão Reflita à luz das definições e teorias que estudamos sobre frase de Bakhtin: “A lin- guagem é essencialmente ideológica”. ([1939] 2001, p. 96) Leitura indicada Para complementar seu estudo, leia o capítulo “O que é um texto”, do livro O Texto e a Construção de Sentido, de Ingedore Koch, da Editora Contexto, 2000. Site indicado <www.uff.br/mestcii/ines1.ht>. Referências BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV (1939). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2001. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à Análise do Discurso. 7. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1998. FERREIRA, Maria Cristina Duarte. As práticas religiosas sob a mirada do discurso. Debates do NER (UFRGS), Porto Alegre, v. 6, 2005. FIORIN, Luís; SAVIOLI, Platão. Lições do Texto: Leitura e Redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006. JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2001. N oç õe s de te xt o e as pe ct os d a co m un ic aç ão 17 N oções de texto e aspectos da com unicação KOCH, Ingedore G. Villaça; TAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. São Paulo: Cortez, 1997. KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a Construção de Sentidos. São Paulo: Contexto, 2000. ______. Desvendando os Segredos do Texto. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. LYONS, John. Linguagem e Linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1987. MARQUES, M. H. Duarte. Iniciação à Semântica. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1988. ______. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Cortez/Editora Unicamp, 2001. ______. Discurso e Texto: formação e circulação de sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2001. PÊCHEUX, M. Análise Automática do Discurso (1969). In: GADET F.; HAK, T. (Orgs.) Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Trad. de Eni P. Orlandi. Campinas: Unicamp, 1990. 19 Fatores de textualidade As palavras têm o poder de destruir e de curar. Quando são ao mesmo tempo sinceras e gentis, elas podem mudar nosso mundo. Zuangzi Na aula anterior, estudamos as noções de texto e os aspectos da comunicação. Esta aula tem o objetivo de que você consiga identificar, nos textos, os fatores de tex- tualidade, bem como usar esses mesmos fatores em suas produções escritas. Como está dito na primeira aula, um texto/discurso é uma unidade, uma intera- ção entre interlocutores, interpelados como sujeitos a partir de um lugar social. Vimos, também, que as materialidades podem ser as mais variadas: desde uma palavra, como “Uai!”, até um capítulo de romance. Mas, para que seja realmente uma unidade de comunicação, há fatores que caracterizam a textualidade. Fatores de textualidade Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores de textualidade: Coerência; Coesão; Intencionalidade; Aceitabilidade; Situacionalidade; Informatividade; Intertextualidade. Os fatores internos ao texto, intrínsecos, devem estar claros e presentes. São eles: coesão, coerência e intertextualidade. Os demais fatores, enunciados por Beaugrande e Dressler, estão na periferia do texto, até no contexto. A seguir, vamos tratar sobre cada um deles. 20 Coerência A coerência é responsável pela unidade semântica, pelo sentido do texto, envol- vendo não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos. Esse fator não está no texto, mas se constrói a partir dele, envolvendo autor e leitor. Com sua expe- riência de vida, o autor cria uma determinada situação, com uma finalidade. O leitor, também usando seus conhecimentos e experiências, vai produzir uma leitura em que o sentido se faz presente. Vejamos um exemplo em que o sentido do texto fica incoerente, fica truncado: “No sertão as casas ficaram alagadas devido ao mau tempo, embora não tenha chovido e a seca fosse intensa”. Ora, existem dois motivos para as casas alagarem: vazamento de água e chuva. Ativando nossas experiências e conhecimento de mundo, verificamos que, em região de seca, no sertão, pela forma como as pessoas valorizam a água, não haveria possibilidade de vazamento; por outro lado, não chovera. Temos uma incoe- rência cognitiva na qual o sentido está ausente. Coesão A coesão garante a unidade do texto por meio do uso adequado dos conheci- mentos gramaticais e lexicais.Enquanto a coerência está diluída no texto, a coesão aparece claramente no texto. Por isso, afirma-se que, por meio da construção, se perce- be a coesão, que pode ser entendida como a “liga” do texto. Observe que, no exemplo “Estava dormindo porque o sol nasceu”, o texto fica in- coerente devido ao uso indevido da conjunção “porque”, que dá ideia de causa. O cor- reto seria usar um operador argumentativo de tempo. A frase ficaria: “Estava dormindo quando o sol nasceu”. Enquanto a “coerência” é subjacente ao texto, a coesão é revelada por meio das marcas linguísticas, dos índices formais na estrutura da sequência linguística e superfi- cial do texto que lhe dá um “fio condutor”. Coesão é a ligação, a relação de nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem uma superfície textual. Intencionalidade Essa característica refere-se à competência do autor em elaborar um texto coe- rente e coeso, com a finalidade de atingir o objetivo que pretende ou deseja explicitar. Fa to re s de te xt ua lid ad e 21 Fatores de textualidade Por exemplo, se quero viajar e viajo, normalmente o meu desejo causará o evento que representa, o ato de viajar com todos os outros necessários para realizar a viagem. Há, portanto, conexão interna entre a causa e o efeito, porque se tenho um desejo (viagem), que é a causa, vai originar um efeito, que é eu viajar. Aceitabilidade Para que o texto seja aceito, deve apresentar coesão e coerência, além de ser útil e ter relevância. Precisa, também, ter verdade, mesmo sendo ficção, mesmo que seja um simulacro do real; ter autenticidade e quantidade: um número tal de informações que permitam ao leitor tomar posse do texto, sem que haja vazios e lacunas que tornem o texto sem sentido. A cooperação do leitor faz-se presente desde que o autor corres- ponda a uma necessidade do leitor. Analisando a frase “Aquele rapaz disse isso”, podemos afirmar que essa frase solta não pode atender às necessidades do leitor. Que rapaz? Disse o quê? Note a diferença: Paulo Lima Duarte, autor conceituado (aquele rapaz), disse que todos nós pre- cisamos rever o que escrevemos a fim de estarmos certos de ter feito o melhor (disse isso). Situacionalidade O texto deve estar adequado a um contexto, situado em relação aos fatos em volta dele. Deve ter compatibilidade com a situação, ser coerente com o contexto em que aparece. Vejamos o texto a seguir: A jovem motorista de 25 anos estacionou seu carro em vaga de idoso no sho- pping. Uma senhora idosa, que estava para estacionar naquele espaço, esperou a jovem sair do carro e disse: – Poderia me dar o telefone de seu dermatologista ou de seu cirurgião plástico? Sem entender direito, a jovem perguntou: – Por quê? Como? 22 A senhora respondeu: – Ora, porque você está muito bem conservada. Compreendemos esse diálogo devido à situacionalidade. Vaga de idoso é re- servada para pessoas acima de 60 anos. É claro que a jovem de 25 terá a aparência correspondente a essa idade, daí a ironia da senhora ao querer saber quais médicos teriam efetuado aquela maravilha: uma idosa com aparência de 25 anos. Informatividade Refere-se às informações que são colocadas no texto. É um aspecto delicado, pois informações demais deixam o texto sem criatividade e até infantilizado; por outro lado, se faltar de informações, o texto não atinge o objetivo de comunicabilidade. Um texto criativo pode ter menor informatividade, ser menos previsível, no entanto, ser interes- sante, envolvente, desde que venha ligado a dados conhecidos. Vejamos o exemplo desse texto jornalístico: No México, os comerciais dirigidos a crianças precisam trazer alguma mensa- gem educativa. Os anunciantes podem mostrar as crianças se entupindo de sucri- lhos ou de chocolate, desde que no pé da tela corra um letreiro com os dizeres ‘Coma legumes e verduras’ ou ‘Escove os dentes três vezes ao dia’ (Disponível em: <http://www.escritoresalagoanos.com.br/texto/2140>). Intertextualidade Vem a ser a relação de um texto com outros textos. Para identificar a intertextua- lidade, é importante uma história de leituras, uma vez que um texto se constrói em cima de um “já-dito”. A intertextualidade acontece da seguinte forma: existe um texto primeiro e sobre ele se constrói um outro, com passagens, versos ou frases que permi- tem ao leitor identificá-lo, relacionando-o com o primeiro. O segundo texto fica, diga- mos, “contaminado” pelas ideias ou pela construção daquele sobre o qual se constrói. E esse processo é contínuo, pois há sempre um “a-dizer” marca da incompletude da linguagem. Portanto, intertextualidade é o processo de produzir um texto construído como absorção ou transformação de outros textos, e um discurso se elabora em “vista” do outro. Fa to re s de te xt ua lid ad e 23 Fatores de textualidade Estamos entrando no campo do dialogismo de Bakhtin – “em que o outro” per- passa, atravessa, condiciona o discurso do “eu”. Por exemplo, a primeira experiência de linguagem a criança aprende da mãe e dos familiares que a cercam. À medida que cresce, ela vai elaborar sua própria linguagem – até esquecendo a origem primeira. O seu discurso será então uma elaboração sobre as outras vozes, outros discursos. Por exemplo: o discurso citado será colocado entre aspas e em nota, indica-se o autor e de onde ele foi retirado – mas essa citação deve ser tecida no texto. O conceito de intertextualidade diz respeito ao processo de construção, reprodu- ção ou transformação do sentido – um novo texto que tem como suporte um outro. Veja um exemplo: Pero Vaz de Caminha, na carta ao rei de Portugal, diz: “As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem” (CASTRO, 1996, p. 97). No início dos anos 1980, houve um movimento iniciado no Sul do Brasil, que pre- tendia separar o chamado “sul maravilha” do Nordeste. Um dos argumentos usados foi o seguinte: O Nordeste atrasa o Sul, os nordestinos são preguiçosos e usam a seca como desculpa. Caminha mesmo escreveu para o rei: “A terra é tão maravilhosa que nela se plantando tudo dá”. (Transcrito de uma entrevista na TV) O entrevistado transformou e manipulou o que Caminha escreveu realizando um apagamento significativo. Na carta, Caminha fala das águas, e o entrevistado deu ênfase para terra. Às vezes, produz-se um apagamento intencional do já-dito, pois a intenção é dizer algo novo. No exemplo, há uma voz institucionalizada – Caminha – que é usada como argumento de autoridade. Para a compreensão global de um texto, muitas vezes, é preciso entender as alu- sões e referências que ele faz a outros textos. No exemplo citado, se o ouvinte da entre- vista não tem conhecimento do texto primeiro, a Carta ao rei, por ocasião da descoberta do Brasil, poderá inocentemente ou ingenuamente concordar com o entrevistado. Tendo Foucault como fonte teórica, Courtine (1981 apud BRANDÃO, s.d., p. 78) distingue comportamentos linguísticos que constroem a intertextualidade: O domínio da memória – É o texto preexistente – que a memória discursiva separa e elege numa determinada contingência histórica. É o texto que subjaz 24 ao texto novo – ausente na escritura, mas presente na memória pelas seme- lhanças ou rompimentos que o novo texto traz. Constitui o domínio da memória uma voz sem nome, fruto de todo conhe- cimento dominado por um leitor. Como tal é irrepresentável, pois vem a ser tudo o que sabemos, e aqui não está significando memória como antônimo de esquecimento, mas todo o saber de um indivíduo. Um domínio da atualidade – Trata-se de sequências discursivas do passado reatualizadas. É um campo de presença. É o texto atual fundado sobre o outro. É um texto que sobre outro que surge da semelhança ou daruptura. Um domínio de antecipação – Segundo Courtine, revela o caráter aberto da relação discursiva. São as possibilidades que um texto oferece de ser repetido, refeito em outra circunstância, trazendo novos sentidos. “Se há um ‘sempre-já’ do discurso, pode-se acrescentar que haverá um ‘sempre-ainda’” É impossível atribuir um fim a um processo discursivo. Há sempre novas possibilidades, novas intertextualidades. Vamos exemplificar os três itens anteriores com uma parte da letra da música Monte Castelo, de Renato Russo. Ainda que eu falasse a língua dos homens E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. Para compor esse texto, Renato Russo se valeu do domínio da memória, pois o trecho em questão faz parte da carta de São Paulo aos Coríntios, 13, 1 e 2: “Se eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos e não tivesse amor, [...] eu nada seria”. Essa carta foi escrita entre os anos 50 e 51 d.C. Esse é o domínio da memória. O domínio da atualidade se faz presente no momento em que Renato Russo compôs essa letra e acrescentou uma parte da carta de Paulo e outra do soneto de Camões, que também é do domínio da memória. O modo como reuniu suas ideias às de Paulo aos Coríntios e ao soneto de Camões traz para o domínio da atualidade um texto do passado. Quanto ao domínio da antecipação, qualquer autor pode fazer uso dos dizeres da Carta de São Paulo e trazer para o domínio da atualidade, do seu modo, com seus critérios. É um texto sempre disponível para novas interpretações, novas construções a partir dele. Esse é o sempre-ainda. Fa to re s de te xt ua lid ad e 25 Fatores de textualidade A percepção das relações intertextuais, da referência de um texto a outro, de- pende do repertório do leitor. Daí a importância da leitura, para ter a compreensão do texto e ao mesmo tempo para o despertar da criticidade – da leitura crítica e conscien- te. Por exemplo, uma pessoa pode muito bem cantar toda a música Monte Castelo sem jamais saber que parte dela vem dos anos 50/51 d.C., o mesmo acontecendo com o soneto de Camões que faz parte da música. Ao ler o texto, é preciso levar em conta os seguintes aspectos: Dialogismo - É a presença do eu e do outro. No caso da música Monte Castelo, estão presentes eu-leitor e o outro-compositor. Há um leitor inscrito no texto do autor, alguém em quem ele pensa no momento da composição. Polifonia - Refere-se às várias vozes do texto. No texto Monte Castelo, nós temos claramente as vozes de Paulo, de Camões, de Renato Russo. Intertextualidade - Diz respeito a vários textos que se entrecruzam no tempo e no espaço. Está visível a intertextualidade no texto, observam-se textos que se entretecem. As formas de intertextualidade em evidência são: citação, paráfrase, paródia. A citação consiste em apresentar um discurso de outro no próprio discurso. Acon- tece quando escrevemos um trabalho ou uma pesquisa e, para referendar o que pre- tendemos provar, citamos outro autor. Essa citação vem marcada por aspas, nome do autor e do livro em que ela aparece. Outra forma de citação é a de ditados populares ou frases do senso comum presentes na cultura de um país. A paráfrase consiste em reafirmar, com palavras diferentes, o mesmo sentido de outro texto. A paráfrase consiste no “mesmo” dito de outra forma. Trata-se do já-dito, o estável, o retorno constante ao mesmo. Há um texto que é a matriz do sentido – e essa matriz é repetida com o mesmo sentido, mas com outras palavras – há um deslo- camento sem que haja traição ao seu significado primeiro. Por exemplo, Caetano, na letra da música Sampa, diz: “Narciso acha feio o que não é espelho”. Nesse caso, temos uma paráfrase da mitologia grega. A paródia estabelece uma ruptura com o texto primeiro. O distanciamento é ab- soluto. A linguagem torna-se dupla sendo impossível a fusão de vozes: é uma escrita transgressora, que engole e transforma o texto primitivo, articula-se sobre ele, reestru- tura-o, mas, ao mesmo tempo, o nega – estabelecendo a intertextualidade e possibili- tando a dupla leitura. A paródia não se reduz a uma mera repetição do texto primitivo, mas soa como um eco deformado e as palavras do outro se revestem de algo novo e se tornam bivocais. Leia os textos a seguir para ver como ocorre a paródia. 26 Texto Primeiro No Meio do Caminho Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra Nunca esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas Nunca me esquecerei desse acontecimento que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra Parafraseando Drummond – Intertextualidade No Meio do Caminho Nilza Cercato No meio do caminho tinha aqueles olhos tinha aqueles olhos no meio do caminho Fa to re s de te xt ua lid ad e 27 Fatores de textualidade tinha aqueles olhos no meio do caminho tinha aqueles olhos. Nunca esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei desse acontecimento que no meio do caminho tinha aqueles olhos. Tinha aqueles olhos no meio do caminho No meio do caminho tinha aqueles olhos. Ah! Que olhos!!! Seguem-me até hoje. Depois de ter visto como acontecem as formas de textualidade, podemos concluir que: uma estrutura nunca está constituída completa e perfeitamente, uma vez só e para sempre, antes da leitura que a tira do limbo e a repõe em movimento, no ato interpretativo que cada leitura engaja – “[...] mas se elabora em relação a uma outra estrutura”(MAINGUENEAU, 1989, p. 39) –, o que quer dizer que podemos ter um texto voltando, com significados diferentes, desde que o autor ponha em funcionamento a linguagem e as condições de produção; quando dizemos “[...] todo texto é absorção e transformação de outro texto” (MAINGUENEAU, 1989, p. 39), trazemos a questão da citação, com a qual um texto não resulta nem direta nem exclusivamente de uma língua natural, mas de outros textos, seus predecessores. Proponho a você que leia a letra da música Bom Conselho, de Chico Buarque, e procure relacionar com os ditados populares que seguem o texto. Veja como o autor trabalha a intertextualidade. Divirta-se. 28 Bom Conselho Chico Buarque Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado, quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço brinque com meu fogo tenha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade Fa to re s de te xt ua lid ad e 29 Fatores de textualidade Provérbios populares “Uma boa noite de sono combate os males” “Quem espera sempre alcança” “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço” “Pense, antes de agir” “Devagar se vai longe” “Quem semeia vento, colhe tempestade (Disponível em: http://<www.thefreelibrary.com/revisitando o conceito de proverbio.- a020011751>.) Espero que tenha notado como a intertextualidade está presente em nosso coti- diano. Nem sempre é fácil identificar se há intertextualidade, por isso eu recomendo leitura. Quanto mais você conhecer, mais fácil será identificar a origem de uma paródia ou analogia, ou paráfrase. Síntese Os fatores de textualidade são relevantes para oferecer sentido ao texto. Quando um texto está incoerente, ou sem coesão, por exemplo, não há como estabelecer o sentido adequado. Outros elementos situam-se em torno desses dois, que sãofundamentais. Questão para reflexão Reflita sobre a frase de Maingueneau (1989, p. 39): “Um discurso não vem ao mundo numa inocente soletude, mas constrói-se por meio de um já-dito em relação ao qual toma posição.” Leitura indicada Para complementar seu estudo, leia o capítulo “Atividades e estratégias de pro- cessamento textual”, do livro O Texto e a Construção de Sentido, de Ingedore Koch, da Editora Contexto, 2000. 30 Sites indicados <www.foa.org.br/cadernos/edicao/04/57>. <www.slideshare.net/cleiantjohnny/4o-dia-tp5-os-princpios-da-textualidad>. Referências BEAUGRANDE, R. A.; DRESSLER, W. U. Introduction to Text Linguistics. London, Long- man, 1983. CASTRO, Silvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L & PM, 1996. CHAROLLES, Michel. Introduction aux Problèmes de la Cohérence Textuelle. Paris: Langue Française, 1978. KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os Segredos do Texto. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. ______. O Texto e a Construção de Sentidos. São Paulo: Contexto, 2000. LYONS, John. Linguagem e Linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1969. MAINGUENEAU, D. Novas Tendências em Análise de Discurso. SP, Campinas: Pontes, 1989. ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1988. Fa to re s de te xt ua lid ad e 33 Coesão e coerência/revisar conectivos O mais importante na comunicação é escutar aquilo que não foi dito. Peter Drucker Vimos, na aula passada, que coesão é a ligação, a relação de nexos que se estabe- lecem entre os elementos que constituem uma superfície textual. Nesta aula, daremos um passo mais adiante, vamos ver como empregar elemen- tos de coesão e coerência, reconhecê-los e, principalmente, utilizar os conectivos ne- cessários para que um texto tenha coesão. Num texto, há coesão quando existe uma conexão entre os períodos, produzindo o sentido do texto. Para alcançar esse patamar de união entre os vários enunciados, existem classes de palavras chamadas de elementos de coesão ou conectivos. São elas: preposições, conjunções, pronomes e advérbios. Entre elas, destacamos as conjunções, que têm a função de pôr em evidência as relações entre os enunciados. Os pronomes, por sua vez, podem substituir ou determi- nar um nome, e os advérbios podem modificar o sentido de um verbo. Esses elemen- tos não são formas vazias que podem ser substituídas entre si, sem nenhuma conse- quência, ao contrário, são formas linguísticas que carregam um significado, trazem a coerência e, para usá-las, fazem-se necessários critérios especiais em seu emprego, tais como: manter uma estrutura do texto – é o momento de vermos se o texto está orga- nizado, “arrumado”, com começo, meio e fim; visualizar o conjunto – uma leitura atenta, verificando se o “todo” do texto faz sentido; observar como se realiza a “liga”, a conexão entre os enunciados – vamos verificar se um período está ligado ao outro e se acontece o mesmo com os parágrafos. 34 Vamos trabalhar duas modalidades de coesão: Modalidade 1 – Coesão referencial Esse tipo de coesão acontece entre elementos do texto que remetem (ou permi- tem recuperar) uma mesma referência, ou um mesmo assunto. Pode ser dividido em: Substituição – ocorre quando se retoma um termo enunciado, usando-se, para isso, um pronome, verbo ou advérbio, deixando de repetir o elemento já citado. Ex.: Marcos e Pedro, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é calmo, aquele é explosivo. Nesse exemplo, temos uma substituição dos nomes dos gêmeos: “este” refere-se a Pedro e “aquele” refere-se a Marcos. Reiteração – que se faz por meio de sinônimos, de nomes genéricos, expressões nominais definidas, de repetição do mesmo item lexical, de nominalizações. Observe o exemplo que segue em que foi usada a reiteração com a repetição dos mesmos itens lexicais: educação e saúde. Ex.: Os problemas do Brasil se encontram na área de educação e saúde. Educação porque não há escolaridade e conhecimento de formas para resolver situações pesso- ais e da comunidade. Saúde, pelo desconhecimento dos cuidados básicos e pela falta de projetos no sentido de esclarecer a população. Outro exemplo, em que um nome genérico e uma expressão nominal definida é reiterada. Note como a palavra homens aparece no exemplo a seguir: Ex.: Um país precisa de homens conscientes; de homens honestos; de homens corajosos para defender suas posições e suas ideias. Modalidade 2 – Coesão sequencial Esse tipo de coesão é usado para manter a sequência entre as ideias expressas facilitando, dessa maneira, a produção de sentidos. Recorrência ou parafrástica – que é obtida pela recorrência (repetição) de termos, de estruturas (paralelismo), de conteúdos semânticos (paráfrase), de recursos fonológicos segmentais ou suprassegmentais e de aspectos verbais. O paralelismo consiste em repetir uma palavra ou expressão para que se mante- nha unidade equilibrada no enunciado. Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 35 Coesão e coerência/revisar conectivos Ex.: O ser humano foi criado para a perfeição, para a verdade, para dirigir seus próprios passos, para construir sua história. Observe que o paralelismo foi construído por meio do uso do termo “para”. Outro modo de estabelecer a coesão sequencial é pelo uso de elementos segmen- tais ou suprassegmentais (ritmo, rima, aliteração, eco etc.). Constrói-se a coesão pelo uso dos recursos sonoros, muito explorados nos poemas, como por exemplo, os versos de Fernando Pessoa (heterônimo Bernardo Soares) na definição que faz de poeta: Autopsicografia O poeta é um fingidor Que finge tão completamente Que chega fingir que é dor A dor que deveras sente. Se você ler em voz alta o poema anterior, vai observar como a sonoridade, obtida através das rimas (dor e ente), traz um ritmo, uma melodia própria da poesia. Coesão por progressão – é feita por mecanismos que possibilitam: 1) manutenção temática – pelo uso de termos de um mesmo campo lexical. Ex.: As vozes são agradáveis quando sonoras e suaves, falas agudas são destoantes. Observe que vozes e falas são termos do mesmo campo. 2) encadeamentos – que podem se dar por justaposição ou conexidade: Justaposição – uso de partículas sequenciadoras ou continuativas de enun- ciados ou sequências textuais que dizem respeito à linearidade e à ordenação de partes do texto. Ex.: Entre vários fatores para resolver sua ação, sugiro dois. Em primeiro lugar, você deve ter um plano de ação; em seguida, pô-lo em prática. Você já deve ter concluído que a justaposição está nas expressões “primeiro lugar” e “em seguida”, que mantêm a ordenação do enunciado. Encadeamento por conexão – ocorre por meio de conectores, das conjunções ou através dos operadores do discurso – justificação, explicação, conclusão. Ex.: Luciana apresentou-se de forma competente, logo foi aprovada. Você tem medo porque não sabe correr riscos. 36 No primeiro exemplo, a conjunção logo dá a ideia de conclusão. No segundo, temos uma justificação por meio do uso do operador argumentativo “porque”. A relação entre coesão e coerência é um processo de mão dupla: na produção do texto se vai da coerência (profunda), a partir da intenção comum, desde o aspecto prático e do uso de linguagem, do nível superficial até o mais profundo. Muitas vezes, lendo textos, você pode observar que nem sempre os elementos de coesão são necessários e nem sempre são suficientes – haverá necessidade do co- nhecimento de mundo da colaboração dos interlocutores, de saber em que situação acontecem os dizeres e, por último, a forma em que foram usadas as normas sociais. Por outro lado, o mau uso dos elementos linguísticos de coesão pode causar incoe-rências locais pela violação de sua especificidade de uso e função, por exemplo: Naquele dia, quando todos aguardavam o resultado da pesquisa, o diretor expli- cava como seriam desenvolvidos os trabalhos. Note como a frase fica incoerente devido ao mau emprego do elemento de coesão quando. Verifique, agora, o sentido: Naquele dia, enquanto todos aguardavam o resultado da pesquisa, o diretor explicava como seriam desenvolvidos os trabalhos. A explicação para o uso de “enquanto” em lugar de “quando” está no fato de as ações serem simultâneas: todos aguardavam e o diretor explicava. Usamos “quando” com verbos no pretérito perfeito, tempo esse que expressa ação iniciada e encerrada no passado. Note a diferença no exemplo a seguir: Quando os funcionários souberam o resultado, traçaram as metas a serem atingidas. Como você notou, é importante conhecer os operadores para o bom uso dos mesmos, evitando incoerências. Pela sua própria experiência, você sabe avaliar o do- mínio da escrita, analisando um bilhete, uma carta, ou mesmo um cartão. Para aperfei- çoar sua escrita, a elaboração de seus textos, vamos estudar, a seguir, as conjunções e o seu uso. Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 37 Coesão e coerência/revisar conectivos Conjunções – Quadro de operadores do tipo lógico e do tipo discursivo O que nos interessa, neste momento, é fazer uma revisão do uso de operadores argumentativos, representados pelo uso das conjunções. Celso Ferreira da Cunha (1972, p. 532) conceitua conjunções como: “vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração”. Divide-as em: coordenadas e subordinadas e afirma que se percebe facilmente a diferença entre as conjunções coordenativas e as subordinativas quando comparamos construções de orações a construções de nomes. (1) Estudar e cantar. O estudo e o canto. (2) Estudar ou cantar. O estudo ou o canto. Vemos que a conjunção coordenativa não se altera com a mudança de constru- ção, pois liga elementos independentes, estabelecendo entre eles relações de adição, como no primeiro caso, e de alternatividade, como no segundo. Essa é a característica das conjunções coordenadas, como o próprio nome diz, elas (co)ordenam sem que haja dependência entre os elementos. Nos enunciados seguintes: (3) Quando tiver estudado o assunto, pode ensaiar o canto. (4) Depois do estudo, o canto. Note que, no exemplo três, há dependência do primeiro termo (quando tiver estu- dado o assunto) em relação ao segundo (pode ensaiar o canto). Já, no exemplo quatro, em lugar da conjunção subordinativa “quando”, temos uma preposição (depois) que está colocando a dependência de um elemento a outro. (Só depois de ter estudado é que pode ensaiar). Operadores do tipo lógico e do tipo discursivo Tendo visto como se organizam os elementos de um período, em relação à coor- denação e subordinação, é importante situá-los. Portanto, vejamos, entre os recursos que nos auxiliam na manutenção da coesão, quais são os principais operadores argu- mentativos, cujo papel, no texto, é manter a logicidade e oferecer coerência: 38 Tipos de relações dos operadores do tipo lógico Disjunção – ou. Condicionalidade – se, caso, desde que. Causalidade – já que, visto que, tanto (assim) que, porque, então, assim, por isso. Mediação – para que, para, a fim de que. Tipos de relações dos operadores do tipo discursivo argumentativo Disjunção – ou – quando se propõe “isto ou aquilo”. Conjunção – e, também, tanto quanto/como, além disso, além de, nem (=e não), não só...mas também, ainda -quando se acrescenta, soma. Contrajunção – e (=mas), mas, no entanto, porém, entretanto, todavia, contudo, embora, apesar de, ainda que, mesmo que – quando coloca oposição entre os elemen- tos do período. Explicação – pois, porque, que – para justificar ou explicar. Conclusão – assim, portanto, logo, por isso, então, pois, por conseguinte – para demonstrar a que resultado chegamos. Se você prestar atenção ao que fala, ou lê, verá que os operadores lógicos e argu- mentativos pontuam todo o dizer. Essas expressões dão sentido e organizam logica- mente a nossa comunicação, seja oral ou escrita. Coerência Coesão e coerência são duas faces do mesmo fenômeno. Define-se coerência textual como uma lógica interna que deve existir para dar verossimilhança e verdade ao texto. A incoerência pode acontecer quando: 1.° – O locutor usa dois processos verbais em duas fases distintas de sua realiza- ção, como em: (por processos verbais entendem-se fatos acontecidos em determinado período de tempo). Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 39 Coesão e coerência/revisar conectivos Ex.: Maria já tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava lavando roupa. Observamos que, no exemplo, acontece o uso do verbo tinha lavado que dá ideia de processo acabado e ainda estava lavando, ideia de processo não acabado. Seria correto dizer: Maria já tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda não tinha passado a ferro. 2.° – Há uma relação de oposição contrariando a relação de causa que parece ser a mais plausível e esperada, como no exemplo: Ex.: João não foi à aula, entretanto estava doente. Vamos notar que a ligação entre as duas partes do período não estão coesas, porque o termo “entretanto” dá ideia de oposição. Deveria ser usada uma relação de causa, no caso, uma das conjunções: pois, porque, devido ao fato de..., entre outras. Então a construção da frase fica assim: João não foi à aula porque estava doente. Ou, pois estava doente. Ou ainda, João não foi à aula devido ao fato de estar doente. 3.° – por contrariar o conhecimento geral, como em: Ex.: A galinha estava grávida. Julgar se um texto é coerente ou não, depende: A – da combinação entre os elementos linguísticos do texto. Vamos ver como, na letra de “Águas de Março”, há uma combinação dos elemen- tos linguísticos: Águas de março Tom Jobim É pau, é pedra, é o fim do caminho, É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol, É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol É peroba do campo, é o nó da madeira, 40 Caingá, candeia, é o Matita Pereira É madeira de vento, tombo da ribanceira, É o mistério profundo, é o queira ou não queira É o vento ventando, é o fim da ladeira, É a viga, é o vão, festa da cumeeira É a chuva chovendo, é conversa ribeira, Das águas de março, é o fim da canseira É o pé, é o chão, é a marcha estradeira, Passarinho na mão, pedra de atiradeira É uma ave no céu, é uma ave no chão, É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É o fundo do poço, é o fim do caminho, No rosto o desgosto, é um pouco sozinho É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando, É uma conta, é um conto É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando, É a luz da manhã, é o tijolo chegando É a lenha, é o dia, é o fim da picada, É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada É o projeto da casa, é o corpo na cama, É o carro enguiçado, é a lama, é a lama É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã, É um resto de mato, na luz da manhã São as águas de março fechando o verão, É a promessa de vida no teu coração É uma cobra, é um pau, é João, é José, É um espinho na mão, é um corte no pé São as águas de março fechando o verão, Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 41 Coesão e coerência/revisar conectivos É a promessa de vida no teu coração É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã, É um belo horizonte, é uma febre terçã São as águas de março fechando o verão, a promessa de vida no teu coração, É pau,é pedra,... (Disponível em: <http://letras.terra.com.br/tom-jobim/49022/>.) Para valorizar o que diz o poeta Tom Jobim, nós, os leitores, devemos produzir nossa leitura. Imagine a época do ano de que o texto fala: o fim do verão, as águas de março chegando. Imagine-se passeando por um local de veraneio, e acompanhe o poeta no seu trajeto. A coerência do texto se estabelece pelos elementos da natureza, que ele descreve, como numa pintura em que o verbo ser (é, são) define a construção da paisagem, pequenas coisas que fazem o dia a dia desta época do ano. Por outro lado, essa descrição de uma natureza viva, no trajeto do poeta, abre para o verso mag- nífico que é a proposta do autor: “a promessa de vida no teu coração”. O fim de uma estação como o verão, traz em seu bojo a promessa de novo tempo. Como as chuvas de março renovam a natureza, também teu coração será renovado, essa é a promessa. Esse modo de ler, num texto como “Águas de Março”, o autor o apresenta com a intenção de que seja um texto, e nós, leitores, agimos cooperativamente e aceitamos a sequência como um texto e procuramos determinar-lhe o sentido. B – Do conhecimento prévio sobre o mundo em que o texto se insere. Um exemplo é a fábula do lobo e do cordeiro, em que há incoerência nas afirma- ções do lobo, mas a coerência se faz para obter o resultado desejado: a lição de moral da fábula. Exemplo: O lobo e o cordeiro Vendo um lobo que certo cordeirinho matava a sede num regato, imaginou um pretexto qualquer para devorá-lo. E embora se achasse mais acima, acusou-o de sujar-lhe a água que bebia. O cordeiro explicou-lhe que bebia apenas com a ponta dos beiços e, além disso, que, estando mais abaixo, nunca poderia turvar- lhe o líquido. O lobo exposto ao ridículo, insistiu: (E SO PO . E N CI CL O PÉ D IA U N IV ER SA L D A FÁ BU LA , v . 3 . p . 7 6) 42 – No ano passado, ofendeste meu pai. – No ano passado, eu não tinha nascido, replicou o cordeiro. O lobo, então replicou: – Tu te defendeste muito bem. Mas nem por isso vou deixar de te devorar. Moral: Contra a força não há argumentos. (E SO PO . E N CI CL O PÉ D IA U N IV ER - SA L D A F Á BU LA , v . 3 . p . 7 6) Observe que a argumentação do cordeiro nega a afirmação do lobo, mostrando o quanto ele está incoerente. No entanto, o que dá a coerência ao texto é o desejo do autor de mostrar que contra a força não há argumentos. É a denúncia da lei do mais forte. C – Do tipo de texto. Se for uma propaganda, ou um outdoor é preciso que se tenha conhecimento de mundo, das circunstâncias em que aquele texto foi produzido. Por exemplo, se for uma receita, ter um comportamento adequado, se for uma carta, agir cooperativamente, e assim por diante, verificando qual tipologia textual. Por exemplo: Caro Amigo Francisco. Em minha viagem pelo Chile, lembrei-me de ti, por isso escolhi esse cartão postal dos lagos chilenos, com a intenção de que te animes e faças esse passeio com tua esposa. Vê que maravilha! Um abraço de teu companhei- ro de luta. Pedro Esse é um texto característico dos cartões postais. A coerência, às vezes, é subjacente, subentendido, ligado a fatores históricos e sócio-culturais, que podem ser: Intenção comunicativa – Deve responder à pergunta: o que desejo comuni- car? Há uma canção de protesto que diz: Tudo está tão certo como dois e dois são cinco. Se ficarmos no limite da matemática, veremos que há uma incoe- rência, mas se pensarmos que esses versos estão denunciando um período histórico em que não havia liberdade de expressão, veremos que a intenção comunicativa é dizer que tudo está errado. Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 43 Coesão e coerência/revisar conectivos Formas de influência do falante na situação de fala – É preciso compreen- der que, conforme o lugar social que o falante ocupa, sua fala pode ter mais força, por ele gozar de influência. Por exemplo, a fala do diretor da empresa tem mais força que a fala do empregado. Regras sociais determinadas pelos lugares sociais – Existem expressões tí- picas que compõem as regras sociais. Por exemplo: há formas de cortesia para velórios, casamentos, ações jurídicas. Por exemplo, seria uma “gafe” enorme alguém chegar num velório em que a mãe chora a perda de seu filho dizer: “Meus parabéns”. Vimos várias formas de manter a coerência, de dar sentido ao que escrevemos e de observar como se pode atribuir sentido ao que lemos. Procure praticar o que foi exposto anteriormente para assegurar qualidade e verdade a seus trabalhos. Tipos de coerência Agora, aprimorando ainda mais nossa competência em relação à coerência, vamos ver como se identificam os tipos de coerência nas diversas formas comunicativas. Coerência semântica – É a relação entre significados dos elementos das frases em sequência em um texto. Observe a incoerência semântica (significado) das expres- sões a seguir: Exemplo 1 – executar problemas. Qual o sentido de executar problemas? Executar tem o sentido de realizar, como em executar uma tarefa. Então, a incoerência está em dizer que em lugar de resolver problemas, o autor da fala está dizendo que vai “criar” mais problemas. Exemplo 2 – cuidar do stress. O sentido do verbo cuidar está relacionado com a ideia de proteção, de dar cuidados especiais, como por exemplo, cuidar da plantinha, cuidar da criança. Daí ficar claro que a incoerência se faz presente pelo fato de o autor da fala, em lugar de eliminar o stress, cuida dele permitindo que ele cresça, floresça. Exemplo 3 – correr atrás do prejuízo. Neste caso, claramente, notamos a incoe- rência. Se o autor da fala corre atrás do prejuízo, este estará sempre à frente dele, não havendo meios de sanar o prejuízo. Exemplo 4 – risco de morte. Risco de morrer todos nós corremos. Afinal, a morte é certa. O que deve ser dito é “correr risco de vida”, uma vez que a vida corre perigo. 44 São expressões do cotidiano em que o sentido contradiz o que se deseja, mas são tão corriqueiras que nem sempre o locutor se dá conta de que está sendo incoerente. Mas não vamos esquecer que, para dar sentido a essas expressões, precisamos verificar em que contexto elas foram faladas. Coerência estilística – é o uso do registro de linguagem numa situação comuni- cativa. Se culto, não introduzir gíria ou expressões populares. Se, para dar cor ou impri- mir maior comunicabilidade, for necessário usar gíria no registro culto, o que se pode fazer é introduzir expressões como: “Se me permitirem o termo...” ou “Para usar uma palavra bem expressiva...”. Exemplo: Nossa vida nem sempre atende às nossas expectativas. As decepções e os desencontros fazem parte do cotidiano, mas nem por isso, se me permitirem o termo, pode-se “chutar o pau da barraca”. Coerência pragmática – Os atos de fala devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação comunicativa. Todo o dizer traz uma consequência. Por exemplo: para pedido é coerente atendimento pedido recusa justificativa É uma situação óbvia: quando se faz um pedido, em um ato de fala, podemos ter duas situações, a primeira, atender ao que está solicitado; a outra, recusar. Observe as duas possibilidades no trecho a seguir: Exemplo: – Pode me emprestar o carro? (pedido) – Não posso, hoje eu vou viajar. (recusa e justificativa de porque não pode em- prestar o carro) Ou então: – Aqui está a chave. (atendimento) Veja outro exemplo: – O namorado prometeu ir ao cinema com a namorada. Pela nossa experiência pessoal, sabemos que a namorada espera que a promessa se cumpra – se não der para ir ao cinema, o namorado deve-se justificar e muito bem... Dessa forma, podemos perceber que coerênciaé a unidade de sentido do texto: nada é ilógico, contraditório ou desconexo.Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 45 Coesão e coerência/revisar conectivos Níveis de coerência Um texto bem escrito deve ter coerência, mas ela se organiza em diversos níveis: para a narrativa, há um percurso; para argumentação, os operadores; para descrições, as imagens figurativas. O que veremos é como esses níveis se articulam. Estudando a narrativa, Fiorin e Savioli (1997, p. 56) propõem quatro fases para melhor estruturar o texto. São elas: manipulação – alguém é induzido a querer ou dever realizar uma ação; competência – adquire um poder ou um saber para realizar aquilo que deve ou quer; performance – quando realiza a ação; sanção – recompensa ou castigo pelo que realizou. Vamos exemplificar esses níveis de coerência através da história infantil A Cinde- rela. Vejamos: A manipulação vai acontecer quando a Cinderela quer ir ao baile em que o prínci- pe vai escolher uma princesa por esposa. A competência é externa, quando a fada madrinha aparece e faz as transforma- ções. Quem torna a Cinderela competente para ir ao baile é a fada. A performance ocorre quando Cinderela vai ao baile e dança com o príncipe, dei- xando-o encantado por ela. Na história, Cinderela sofre duas sanções, uma negativa outra positiva. A negativa acontece quando perde a noção da hora e ouve o relógio marcar as doze badaladas da meia-noite, e tudo volta ao que era antes de a fada madrinha ter feito a transformação. A positiva é ela ser finalmente reconhecida pelo príncipe e ser a escolhida. Veja, a seguir, algumas formas de incoerência narrativa: 1.ª forma – As quatro fases se pressupõem, a posterior depende da anterior. Constitui-se incoerência narrativa uma performance de alguém sem a compe- tência; ou a sanção, sem a performance. Um exemplo é o processo de Kafka. Nesta obra, um trabalhador é preso, julgado e condenado sem ter feito nada. Embora ninguém ache culpa nele, ele é condenado. Se ele foi preso, é porque fez alguma coisa. A obra é uma crítica aos governos ditatoriais. 2.ª forma – Se um personagem adquire objeto de um outro, este deixa, por- tanto, de possuí-lo. Mas se, por exemplo, numa parte do texto, está dito que 46 uma mulher vendeu um colar de pérolas negras, ela não pode aparecer, em outra parte, usando tal colar, sem outras explicações anteriores. 3.ª forma – Com relação à caracterização dos personagens e às ações a eles atribuídas – a dupla face precisa ser esclarecida –, o leitor deve ter o domí- nio do que está sendo explicitado. Se, no texto, aparece um mendigo, que, na verdade, é uma pessoa que tem poder, riqueza, mas que, para resolver uma determinada situação, está somente se fazendo passar por mendigo, isso deve ser explicado. Observamos, portanto, que a coerência é fundamental para a comunicação, pois quando um texto apresenta uma das formas anteriores de incoerência fica evidente, para o leitor, que algo não está funcionando na narrativa. Coerência figurativa É a articulação harmônica das figuras do texto com base na relação de significado que mantêm entre si. As figuras devem constituir um bloco temático. A ruptura pode produzir efeitos desconcertantes – às vezes, essa ruptura produz a sátira, a ironia, a ridicularização. Por exemplo: Num convite para festa, está explicado que o traje será à vontade e a festa ao ar livre, uma pessoa que compareça de smoking ou com vestido longo de seda pura, estará em desarmonia, perto do ridículo. Coerência argumentativa Ocorre quando, no texto, há um jogo de pressupostos, dados e inferências, de que se tiram conclusões que conduzem para onde se deseja chegar. Se os pressupostos não permitirem as conclusões desejadas, há a incoerência argumentativa. É preciso sempre ter em mente a que conclusão se deseja chegar. Por exemplo: Um chefe quer que seus subalternos cumpram horários, sejam pontuais. Além de estabelecer esses horários claramente, ele também deve dar o exemplo para que haja coerência. Toda linguagem é argumentativa, porque desejamos que o interlocutor aceite nossos pontos de vista. Por isso, é fundamental desvendar, no texto, os pressupostos e subentendidos, além de manter a coerência de atitudes diante do que afirmamos. Co es ão e c oe rê nc ia /r ev is ar c on ec tiv os 47 Coesão e coerência/revisar conectivos Conhecimento de mundo Entendemos por conhecimento de mundo nossa experiência de vida. Alguns autores usam a expressão biblioteca vivida, outros, repertório de ideias. Vamos usar a expressão que é usada por Koch. O nosso conhecimento de mundo desempenha um papel decisivo no estabelecimento da coerência: se o texto falar de coisas que absolutamente não conhecemos, será difícil calcularmos o seu sentido e ele nos parecerá destituído de coerência. É o que aconteceria a muitos se nos defrontássemos com um tratado de física quântica. (KOCH, 1995, p. 60) Adquirimos esse conhecimento à medida que vivemos, tomamos contato com o mundo que nos cerca e experienciamos uma série de fatos. Mas, ele não é arquivado na memória de maneira caótica: vamos armazenando os conhecimentos em blocos que se denominam modelos cognitivos. Segundo Koch e Travaglia (1995, p. 60), existem diversos tipos de modelos cognitivos. Entre eles, vale citar: Os frames – conjuntos de conhecimentos armazenados na memória debaixo de um certo “rótulo”, sem que haja qualquer ordenação entre eles.” Ex.: Carna- val: confete, serpentina, desfile, escola de samba, bloco, fantasia, abadá, baile etc. Os esquemas – conjuntos de conhecimentos armazenados em sequência temporal ou causal. Ex.: pôr um aparelho a funcionar, a rotina do dia de cada pessoa. Os planos – conjunto de conhecimentos sobre como agir para atingir deter- minado objetivo. Ex.: como vencer uma partida de xadrez. Os scripts – conjunto de conhecimentos sobre modos de agir, altamente es- tereotipados em dada cultura, inclusive em termos de linguagem. Ex.: formas de cortesia, as praxes jurídicas. As superestruturas ou esquemas textuais – conjunto de conhecimento sobre os diversos tipos de textos, que vão sendo adquiridos à proporção que temos contato com esses tipos e fazemos comparação entre eles. Ex.: conse- guir decodificar as metáforas de um texto. É importante que locutor e alocutário partilhem conhecimentos para que um texto possa ter sentido e coerência. No caso do estudante, por exemplo, ele traz para a academia um mundo de conhecimento e, a partir do estudo, novas informações vão-se acrescentando. Dizemos que há a informação velha e a nova. Para que um texto seja coerente, é preciso haver um equilíbrio entre o conhecimento de mundo e a in- formação nova. Se um texto contivesse apenas informações novas, seria ininteligível, pois faltariam ao alocutário as bases, as “âncoras” a partir das quais ele pode proceder 48 ao processo cognitivo do texto. Por outro lado, se houvesse apenas informação de co- nhecimento de mundo já dada, o texto seria redundante, isto é, seria um texto circular, próximo do círculo vicioso. As inferências Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o alo- cutário de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois elementos do texto que ele busca compreender e interpretar. Quase todos os textos exigem que se façam inferências para poder compreendê- -los integralmente. Todo texto se assemelha a um iceberg – o que fica à tona é a parte explicitada do texto e é uma pequena parte daquilo que fica submerso, ou seja, implícito. Ex.: Paulo comprou um Audi novinho em folha. Que ideias podem estar implícitas nessa afirmação? Conforme o contexto, podem estar implícitas as seguintes ideias: Paulo tem um carro novo. Paulo
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