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Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 1 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 ÁREA 3 – Fundações Autor: André Zíngano Revisão: Rodrigo Peroni (2006/2) Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 2 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1. FUNDAÇÕES 1.1. Escolha do tipo de fundação para construções nos perfis de subsolo que predominam nas Regiões Geológicas. 1.1.1. TIPOS DE FUNDAÇÕES QUE DEVEM SER CONSIDERADAS Sapatas Pré-moldadas (estacas cravadas) Franki Estacas escavadas com trado rotativo Tubulões Estaca raiz ou injetada Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 3 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 As estacas escavadas com trado rotativo podem ser substituídas por estacas escavadas com sonda (Strauss), só que as primeiras escavam todos os tipos de solos e as segundas escavam solos até N30 golpes SPT. Os tubulões podem ser substituídos por estacas escavadas com trado rotativo ou roto-percussiva (estaca raiz ou injetada). Elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de fundações são: Topografia da area: Levantamento planialtimétrico Dados sobre taludes e encostas no terreno ou que possam, no caso de acidente, atingir o terreno Dados sobre erosões ou evoluções da geomorfologia Dados geológicos e geotécnicos Investigação do subsolo (preliminar e complementar) Outras informações geológicas e geotécnicas (mapas, fotos aéreas, literatura sobre a área) Dados da estrutura a construir Tipo e uso da obra Sistema estrutural Cargas (ação nas fundações) Dados sobre as construções vizinhas Tipo de estrutura e fundações Número de pavimentos e carga média por pavimento Desempenho das fundações Existência de subsolo Possíveis conseqüências de escavações e vibrações provocadas pela nova obra A vista a obra é necessária pois alguns dos pré-requisitos acima só podem ser determinados por de vistoria no local da obra, como topografia, fundações existentes na vizinhança e informações do subsolo. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 4 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1.1.2. ESCUDO 1.1.2.1. FORMAÇÃO. São afloramentos de rochas resultantes do resfriamento do magma nas profundezas da crosta terrestre, que chegou a superfície devido a grandes soerguimentos acompanhados de grandes erosões das rochas sobrejacentes (rochas metamórficas, rochas sedimentares e rochas magmáticas extrusivas de derrames). São regiões altas e convexas em forma de escudo, rodeadas de bacias sedimentares com cotas bem mais baixas. No Rio Grande do Sul, o Escudo Riograndense possui cotas de até 400m acima do NA do mar. ESCUDO Depressão Periférica Planície Costeira Rochas magmáticas abissais Rochas metamórficas Rochas sedimentares Rochas magmáticas extrusivas (derrames pequenos) Areias finas Falhas tectônicas Dique Os rios nessa região possuem declividade acentuada, sendo jovens e desenvolvendo ações de erosão e de transporte. Eles deslocam-se para as bacias sedimentares periféricas mais baixas e só apresentam ações de deposição em locais de pequena declividade, como na periferia do Escudo, antes de atingirem aquelas bacias sedimentares. Por estas razões, os solos residuais predominam nos Escudos, sendo os solos transportados ocasionais e de pequena extensão. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 5 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Sendo regiões altas, o NLF (nível do lençol freático) é profundo, exceto no pé das encostas, onde pode ser superficial e até ser interceptado pelas encostas, dando origem a exudações e fontes. As rochas que predominam nos Escudos são: Rochas magmáticas abissais: granitos e granodioritos; Rochas metamórficas ainda não erodidas: ardósias, filitos, xistos, gnaisses e quartzitos; Rochas sedimentares ainda não erodidos: arenitos e conglomerados; Rochas magmáticas extrusivas de pequenos derrames ainda não erodidos: riolitos e dacitos. 1.1.2.2. SOLOS RESIDUAIS DE GRANITO, GRANODIORITO E GNAISSES POUCO XISTOSOS. Características das rochas matrizes e dos solos resultantes. São rochas de textura granular grossa (minerais grandes) e de estrutura maciça (fendas esparsas com espaçamentos da ordem de metro). Constituição mineralógica: Granitos: feldspato K 50%; feldspato CaNa 10%; quartzo 30%. Granodioritos: feldspato K 35%; feldspato CaNa 35%; quartzo 40-30%. Gnaisses: feldspato K e/ou CaNa 50%; quartzo 30%; anfibólios 20%. Os solos residuais dessas rochas são: no horizonte C: arenosos devido à textura granular e com matacões devido à estrutura maciça; Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 6 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 no horizonte B: argilosos-arenoso, devido os feldspatos se decompõem em argila, com areias resultantes do quartzo. Fora da zona de falha de compressão. Regiões onduladas. A B C NLF solo argiloso com areia e c/ ou s/ matacões esparsos solo arenoso c/ pouca argila e muitos matacões Nenhuma estaca atravessa solos com matacões, com exceção de estacas tipo tubulão e estaca raiz. Os solos residuais guardam a compacidade da rocha mãe, sendo solos de média resistência (horizonte B) ou de alta resistência (horizonte C de rochas de textura granular grossa). Fundações indicadas: Sapatas sobre horizonte B ou sobre o horizonte C acima da zona de matacões; Tubulões, atravessando o horizonte C e seus matacões e sendo os tubulões a céu aberto (acima do NLF) devendo-se optar pela mais barata; Estaca raiz ou injetada, pois atravessa matacões e rocha alterada; Na ausência de matacão ou horizonte B espesso deve utilizar estaca escavada. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 7 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Regiões acidentadas: A C NLF solo arenoso c/ pouca argila e muitos matacões Fundações indicadas: as mesmas das regiões onduladas Os tubulões poderão ser substituídos por estacas escavadas com broca rotativa ou roto-percussiva. Nas zonas de falhas de compressão. Nessas zonas, as rochas se apresentam intensamente fraturadas, sendo a decomposição uniforme. Não ocorrem matacões no horizonte C e muito menos no horizonte B. Regiões onduladas. A B C NLF zona de falhas solo argiloso com areia solo arenoso com pouca argila e sem matacões As estacas cravadas não atravessam o horizonte C dessas rochas, porque é de alta resistência, o N-SPT é acima de 20. As estacas escavadas com trado rotativo são de alta produção porque o NLF é profundo e porque as paredes do furo são estáveis, que são as características dos solos residuais. Fundações indicadas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 8 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 sapatas no horizonte B; estacas escavadas com trado rotativo. As estacas escavadas com sonda (strauss) não atravessam o horizonte de alta resistência. Regiões acidentadas. A C NLF solo arenoso com pouca argila e sem matacões Fundações indicadas: as mesmas das regiões onduladas. 1.1.2.3. SOLOS RESIDUAIS DE FILITOS, DE XISTOS E DE GNAISSES ESCURAS COM XISTOSIDADE PRONUNCIADA. Características das rochas e dos solos resultantes. Tanto os filitos como os xistos (micaxistos), são constituídos: 70% de micas de fácil decomposição; 30% de quartzo. Sendo que nos filitos os minerais não são visíveis, enquanto nos xistos são visíveis. Os solos residuais dessas rochas são: No horizonte C: solos siltosos devido a textura microgranular; No horizonte B: solos argilosos, devido às micas se decomporem em argilas, com siltes resultante do quartzo. Os gnaisses são escuros, com xistosidade pronunciada. Ricos em feldspato CaNa, são de fácil decomposição e dão origem a subsolos semelhantes por possuírem a seguinte composição: Feldspato CaNa 50%; Anfibólios e mica biotita 20%; Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 9 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Quartzo 30%. Estas rochas, por predominarem minerais de fácil decomposição (feldspato CaNa, anfibólios e mica biotita) e por se apresentarem dobradas com fraturamento intenso, se decompõem de maneira uniforme, não ocorrendo matacões nos seus solos residuais. Regiões onduladas. A B C NLF solo argiloso com silte (nos gnaisses ainda com areia) solo siltoso (nos gnaisses: solo areno-siltoso) com argila São solos de média resistência, tanto o horizonte B como no horizonte C. Devido ao NLF profundo e serem solos estáveis, as estacas escavadas com trado rotativo são de alta produção e, em geral, imbatíveis em preço. As estacas escavadas com sonda (strauss) atravessam o horizonte C dessas rochas por ser de média resistência, podendo ser empregadas. As fundações indicadas são: Sapatas, sempre uma opção em solos residuais; Estacas escavadas com trado rotativo ou strauss, quando o solo for mais argiloso. As estacas cravadas são de difícil cravação em solos de resistência média, não sendo recomendável utilizá-las. Estacas cravadas podem ser utilizadas em solo residual quando o N-SPT é menor que 20. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 10 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Regiões acidentadas. A C NLF solo arenoso com pouca argila e sem matacões Fundações indicadas: as mesmas das regiões onduladas. 1.1.2.4. SOLOS RESIDUAIS DE QUARTZITO. Características da rocha e dos solos resultantes. Os quartzitos são de dificílima decomposição, pois são constituídos basicamente de quartzo (85 a 100%), apresentando pequena ou nula espessura de solo. Regiões onduladas ou acidentadas: A C NLF A fundação indicada é sapata, mas para executá-la será necessário escavar um pouco a rocha empregando explosivos. Devido a isso, é comum, em seu lugar, utilizar Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 11 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 estacas escavadas com broca roto-percussivas (estaca raiz ou injetada), que são as únicas estacas capazes de furar rochas, porém são caras. NLF 1.1.2.5. SOLOS DE XISTOS OU FILITOS ALTERNADOS COM QUARTZITOS E DOBRADOS. Características das rochas e dos solos resultantes. Os xistos e filitos se decompõem com facilidade dando origem a solos de média resistência, enquanto os quartzitos praticamente não se decompõem. Como as rochas estão dobradas, elas se apresentam intensamente fraturadas, permitindo a passagem das águas de infiltração através das bandas de quartzito, que agem sobre os xistos e filitos subjacentes, decompondo-os em solos. A C NLF xistos ou filitos rochas quartzitos rochas solos residuais de xistos ou filitos Regiões onduladas e acidentadas. A seção geológica acima é de regiões acidentadas não ocorrendo o horizonte B. Nas regiões onduladas ocorre o horizonte B. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 12 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Podem-se executar fundações por sapatas, mas dever-se-á considerar apenas a resistência média das camadas de solos residuais de xisto ou filito, desconsiderando-se as camadas de quartzito rocha de alta resistência. No caso de grandes cargas, há necessidade de assentar as fundações em camadas mais resistentes, tendo-se de atravessar as camadas de solos e de rochas alternadas até atingir uma camada de rocha (filito, xisto ou quartzito) que não tenha solo abaixo, o que só pode ser conseguido com o emprego de tubulões. Os tubulões serão do tipo a céu aberto, porque o nível do lençol freático é profundo, podendo ser substituídos por estacas escavadas por broca rotativa ou roto- percursora, mais rápidas, porém mais caras. 1.1.2.6. SOLOS RESIDUAIS DE GNAISSES EM ESTRUTURAS GNAISSICA OU BANDEADA. Os gnaisses com estrutura bandeada (ou gnaissica) são constituídos de bandas (ou faixas) de quartzo e feldspato granulares e de difícil decomposição alternadas com bandas xistosas ricas em micas escuras e anfibólios (silicatos de FeMg alongados) de fácil decomposição, num verdadeiro sanduíche dobrado. banda xistosa banda granular Os solos residuais do horizonte C desses gnaisses apresentam um subsolo similar aos dos filitos (ou xistos) alternados com quartzitos. As bandas xistosas ricas em minerais escuros lamelares ou alongados estão decompostas em solos de média resistência, enquanto as bandas granulares ricas em quartzo e feldspato ainda permanecem rochosas, estando o NLF profundo. Da mesma forma as fundações indicadas são sapatas ou tubulões a céu aberto. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 13 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1.1.2.7. SOLOS RESIDUAIS DE XISTOS, FILITOS, DE GNAISSES E DE GRANITOS COM VEIOS QUARTZOSOS. Tais rochas pertencem a formação geológica das mais antigas, sendo seguidamente atravessadas por veios de quartzo, provenientes da precipitação de solutos silicosos num sistema de fendas abertas devido a infiltrações de soluções gasosas hidro-termais emanadas de um magma inferior. Os veios de quartzo que seguidamente se apresentam paralelos e com espessuras variando de poucos centímetros a até poucos metros permanecem rochosos nos solos residuais. NLF solo residual c/ ou s/ horizonte B e c/ veios de quartzo Rocha Podem ser empregadas fundações por sapatas, considerando-se apenas a resistência dos solos residuais e não a dos veios de quartzo. O nível do lençol freático sendo profundo não causa problemas executivos. Se a espessura dos veios de quartzo for pequena, poder-se-á também optar por estacas escavadas com trado rotativo. Quando se atinge o veio, suspende-se a escavação do furo, retirando o trado rotativo, e emprega-se um trépano de 3 a 5 toneladas caindo da máxima altura possível para quebrar o veio de quartzo, prosseguindo-se após a escavação com o trado rotativo. Quando o veio é de maior espessura, ele não pode ser quebrado pelo trépano pesado. Nesse caso, a solução só pode ser por tubulões a céu aberto (NLF profundo) ou utilização de estaca escavada rotativa ou rotopercussiva (estaca raiz). Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 14 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1.1.3. PLANALTO DE DERRAMES. 1.1.3.1. FORMAÇÃO. É uma região formada por uma sucessão de derrames, tendo-se constatado em determinadas sub-regiões, um total de 12 derrames ( Bom Jesus e Vacaria no RGS ) e em outra , apenas um derrame (Uruguaiana – RGS), que ocorreram entre 90 e 150 milhões de anos atrás. Quando ocorreram os derrames, o clima no sul do Brasil era de deserto e se formaram extensos campos de areia fina com dunas antes do primeiro derrame e entre os primeiros derrames, que acabaram se transformando por cimentação em arenitos. Os derrames foram predominantemente de magma basáltico, porém os últimos, na região da Grande Caxias -RGS, foram de magma ácido, que deram origem a riolitos e a dacitos. Devido a dificuldade de distinguir visualmente estas rochas extrusivas ácidas, elas são denominadas de riodacitos. As composições mineralógicas dessas rochas extrusivas, todas com textura micro-cristalina, são em média as seguintes: BASALTOS RIOLITOS DACITO Feldspato K ----- 50% 35% Feldspato CaNa 60% 10% 35% Quartzo ----- 30% 10-30% Piroxênios 40% ----- ----- Anfibólios ----- 0-20% 0-20% Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 15 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Ocorreram também sobre o último derrame na região de Júlio de Castilhos e Cruz Alta no RGS deposição fluvial de areias, que deram origem por cimentação a arenitos. Devido a soerguimentos epirogênicos posteriores, os derrames, que cobrem a metade norte do RGS, apresentam-se à leste cotas de 1000 a 1200m e ao sul na direção leste-oeste cotas de 800 a 100m, mergulhando suavemente para oeste. Eles são limitados por escarpas de iguais desníveis a leste e ao sul. Dessa forma, os rios, que descem do Planalto para a Planície Costeira a leste e para a Depressão Periférica ao sul, possuem um gradiente hidráulico acentuado e, portanto, uma grande capacidade de erosão, esculpindo vales profundos com encostas ingremes. No sopé e nos degraus das encostas dos vales profundos ocorreram talus, que são acúmulos de materiais heterogêneos (solos + fragmentos e blocos de rocha) resultantes de escorregamentos e quedas de detritos das encostas. 1.1.3.2. SOLOS RESIDUAIS DE BASALTOS, DE RIOLITOS E DE DACITOS. Em regiões onduladas. s.argiloso s.siltoso c/ muita argila BASALTO A B C NLF solo argiloso c/ silte s. siltoso c/ pouca argila RIOLITO OU DACITO Estas rochas, devido ao resfriamento rápido do magma que lhes deu origem, são intensamente diaclasadas e não possuem matacões no horizonte C dos seus solos residuais. As fundações mais indicadas são: sapatas, por serem os solos residuais de média resistência, pelas paredes da cava serem estáveis e pelo NLF ser profundo; Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 16 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 estacas escavadas com trado rotativo, porque o solos residuais proporcionam paredes estáveis no furo, porque não há matacões no horizonte C e porque o NLF é profundo. As estacas cravadas tem grande dificuldade para atravessar o horizonte C dos solos residuais acima do NLF. Em regiões acidentadas. Com horizonte C: as fundações indicadas são as mesmas pelas mesmas razões. Sem horizonte C e/ou horizonte C de pequena espessura. NLF As sapatas são as fundações indicadas. No caso de não se desejar escavar rocha para assentar as sapatas, pode-se substituí-las por estacas escavadas com broca. 1.1.3.3. SOLOS RESIDUAIS DE ARENITO. As fundações nesses solos serão analisadas no item 4.2-Bacias Sedimentares, onde eles são mais freqüentes. 1.1.3.4. TÁLUS. Os tálus são massas em forma de lentes espessas: muito porosas com partículas dos solos, pedras e blocos empilhados, que ficam plásticos, isto é, moles durante as chuvas devido as grandes infiltrações; sujeitas a rastejos periódicos, devido suas massas plásticas estarem assentadas sobre superfícies levemente inclinadas no sopé das encostas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 17 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Por estas razões, só se pode construir sobre tálus após executar obras de estabilização, que são em geral muito caras. As fundações indicadas, uma vez o tálus estabilizado, são tubulões, porque se terá de atravessar blocos e pedras de rocha dispersas no solo mole. As sapatas não devem ser assentadas sobre o talus, porque há solo mole entre as pedras e blocos, e as estacas convencionais não atravessam blocos e pedras. 1.2. Bacias Sedimentares. 1.2.4. FORMAÇÃO. As Bacias Sedimentares são constituídas de: várzeas (poucos metros acima do nível do mar) de rios senis formados por sedimentos recentes, solos fluviais, ainda não transformados em rochas; regiões onduladas mais altas (cotas de 50 a 200m acima do nível do mar) adjacentes às várzeas dos rios e formadas por rochas sedimentares antigas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 18 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Rio sedimentos sedimentos sedimentos antigos antigosrescentes BACIA SEDIMENTARESCUDO PLANALTO Rio sedimentos antigosrescentes sedimentos antigos sedimentos Granitos e rochas metamórficas Rochas sedimentares Arenitos eólicos Sedimentos não consolidados As Bacias Sedimentares podem estar limitadas por afloramentos do Batolito (granitos associados a rochas metamórficas ) de um e de outro lado, como na Bacia Sedimentar do rio Amazonas, ou por afloramento do Batolito de um lado e por Planalto de Derrames do outro lado, como na Bacia Sedimentar da Depressão Periférica no R.G. do Sul. As águas correntes erodiram os Escudos limítrofes (afloramentos de Batolitos) e depositaram as partículas transportadas nas depressões adjacentes submetidas a movimentos de subsidência, formando as Bacias Sedimentares. Os sedimentos soterrados acabaram se transformando em rochas sedimentares por processos de cimentação e/ou compactação. Soerguimentos epirogênicos posteriores acompanhados de erosões fizeram com que as rochas sedimentares soterradas aflorassem e passassem a ser erodidas pelos rios rejuvenescidos, formando um vale erosional secundário dentro dos sedimentos antigos soerguidos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 19 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Subsidências epirogênicas recentes tornaram os rios senis, os quais depositaram sedimentos naqueles vales erosionais secundários. Esses sedimentos se apresentam ainda não consolidados, isto é, ainda não transformados em rocha. Nas regiões onduladas mais altas ocorrem solos residuais de rochas sedimentares (70% lamitos, 25% arenitos e 5% conglomerados) com nível de lençol freático profundo, exceto no sopé das depressões maiores onde ele pode aflorar. Nas várzeas dos rios ocorrem lamas e camadas lenticulares de areias grossas, médias e /ou finas e de cascalhos. No sopé das encostas limítrofes dos Escudos (menos íngremes) e do Planalto de Derrames (mais escarpados) podem ocorrer talus provenientes do desmoronamento e cascalheiras de pé de monte resultantes da deposição repentina dos rios que descem aquelas encostas. 1.2.4.1. SOLOS RESIDUAIS DE ARGILITOS, SILTITOS E ARENITOS. Em regiões onduladas. São solos residuais de resistência média que apresentam em geral o NLF profundo, pois as regiões onduladas são drenadas pelas várzeas profundas dos rios. As fundações indicadas são: sapatas, que podem ser empregadas sempre com êxito em solos residuais com NLF profundo; estacas escavadas com trado rotativo, por serem os solos residuais de fácil escavação, por proporcionarem paredes estáveis nos furos e por apresentarem o NLF profundo. Nesses subsolos, tais estacas são, devido a alta produção, imbatíveis em preço e prazo. Convém lembrar que nos lamitos predominam os argilitos em relação aos siltitos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 20 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Em regiões acidentadas. A C NLF ou A NLF R. Sedimentar No caso do horizonte C ser espesso, as fundações recomendadas são as mesmas do caso anterior pelas mesmas razões. No caso do horizonte C ser de pequena espessura ou inexistente, deve-se optar por sapatas assentadas sobre essas rochas sedimentares, que, sendo geralmente brandas, são mais fáceis de serem escavadas do que as rochas magmáticas e metamórficas normalmente duras. 1.2.5. SOLOS RESIDUAIS DE CONGLOMERADOS. 1.2.5.1. EM REGIÕES ONDULADAS. A argiloso (conglomerado c/seixos de basalto) B:solo argiloso c/areia (conglom. c/seixos de granito) pedregulhoso (conglom. c/seixos de quartzito) C:solo pedregulhoso (seixos desagregados) conglomerado (seixos rolados cimentados) NLF As fundações indicadas podem ser: Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 21 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 sapatas assentadas sobre o solo residual; tubulões assentados dentro do horizonte C mais consistente para permitir executar a base caso for necessário atingir um material mais resistente. As estacas não atravessam solos pedregulhosos. Mesmo nas estacas escavadas com broca, as dificuldades de perfuração são muito grandes, porque os seixos desagregados se movimentam sob a broca, quebrando seus diamantes ou suas pastilhas de vídea, o que torna o emprego daquelas estacas inviáveis economicamente. Os tubulões são as únicas fundações que atravessam pedregulhos e conglomerados de forma mais econômica, principalmente a céu aberto, isto é, acima do NLF. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 22 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Em regiões acidentadas. A C ou A conglomerado conglomerado NLF NLF Se o horizonte C for espesso, as fundações devem ser as mesmas do caso anterior. No caso de tubulões, durante a escavação da base, o seu teto pode desmoronar, sendo necessário, nestas condições, aprofundar o tubulão para que a base seja executada dentro da rocha conglomerada. Tal medida poderá ser necessária no caso anterior, optar-se por tubulões. Se o horizonte C for de pequena espessura ou inexistir, a melhor solução será sapatas. 1.2.6. SOLOS FLUVIAIS DAS VÁRZEAS DOS RIOS. Onde o rio não meandrou. NLF lamas moles Rocha sedimentar c/ ou s/ solos residuais São constituídos por uma superposição de camadas de lamas moles formadas pelos rios durante as cheias. Apresentam NLF superficial e espessura de poucos metros até dezenas de metros. As estacas cravadas, pré-moldadas ou Franki, são indicadas porque o NLF é alto e os solos a atravessar são moles. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 23 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Não é aconselhável empregar estacas escavadas, quer com trado rotativo quer com sonda (strauss) porque o furo fica cheio de água e as paredes desmoronam, obrigando o emprego de lama bentonita durante a escavação e de concretagem submersa dentro da lama. Onde o rio meandrou. NLF (1) (2) lama mole c/ lentes de areia (1) ou de cascalho (2) rocha sedimentar c/ ou s/ solo residual (1) As lentes de areia, mais comuns, e as lentes de cascalho, mais raras, são antigos leitos do rio. Já as lamas moles, que em geral predominam, são antigas planícies de inundação ou várzeas dos rios. Se há lamas moles abaixo das lentes de areia ou de cascalhos, estas devem ser atravessadas pelas fundações. Pelas mesmas razões do caso anterior, NFL alto e paredes dos furos desmoronáveis, não se deve empregar estacas escavadas, mas sim estacas cravadas. As estacas cravadas Franki não atravessam as lentes de areia, por serem compactas, e muito menos as de cascalho, não podendo ser empregadas. As estacas cravadas pré-moldadas conseguem atravessar com auxílio de jato d’água as camadas de areia, mas não as de cascalho. Quando for necessário atravessar uma lente de cascalho, ter-se-á de empregar tubulões, única fundação convencional capaz de perfurá-la, mas terá de ser do tipo “a ar comprimido” devido o NLF ser alto. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 24 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1.2.7. CASCALHEIRAS DE PÉ DE MONTE. Os rios que descem as encostas do Planalto e do Escudo, o fazem com grande velocidade, transportando por rolamento grande quantidade de pedras e cascalhos arredondados. Quando encontram a Bacia Sedimentar bem mais baixa, perdem em muito sua velocidade, depositando inicialmente as pedras e logo depois os cascalhos que transportavam, dando origem a depósitos daquelas partículas em forma de leques extensos com espessuras que variam de 3 a 20 m. A A Rocha sedimentar NLF Rio As fundações recomendadas devem ser: sapatas porque nenhuma estaca atravessa a camada de cascalho e não se pode executar tubulão a céu aberto devido o NLF ser alto; tubulões a ar comprimido só em último caso, por ser caro e demorado, quando for necessário assentar as fundações num material mais resistente que o cascalho, ou seja rocha sedimentar subjacente. 1.2.8. TALUS. No sopé das encostas do Escudo e do Planalto, com mais frequência nas da última região por serem mais ingremes, ocorrem talus entre os rios que descem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 25 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 As fundações indicadas, tubulões , foram analisadas no item 1.3.4 relativo aos talus nos vales do Planalto. 1.2.9. PLANÍCIE COSTEIRA. 1.2.9.1. FORMAÇÃO. Os rios, que se desenvolvem nas Planícies Costeiras, depositam no início delas os cascalhos e as areias grossas, médias e parte das areias finas, chegando ao mar apenas com argila, silte e areia fina em suspensão. Devido a agitação das águas do mar pelas vagas, só se depositam areias finas junto a linha da costa e nas partes rasas da Plataforma Continental, sendo as argilas e os siltes transportados em suspensão pelas correntes marinhas para as profundezas do mar. canal barra lagoa barra emersa Na frente da rebentação se formam um canal e uma barra (banco longilíneo de areia fina) ao longo de toda costa. Se a costa está sujeita a soerguimentos, a barra emerge e se forma uma nova linha da costa, individualizando uma laguna litorânea longilínea. Cursos d’água que antes desembocavam no mar, passam a entrar nessas lagoas de águas paradas, depositando dentro delas argilas, siltes e areias finas que Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 26 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 transportavam em suspensão, preenchendo-as de forma lenta e contínua com o decorrer dos tempos geológicos. Por sua vez, os ventos, soprando do mar para terra, arrancam areias finas depositadas pelo mar da faixa litorânea desprovida de vegetação e seca pelo sol nos períodos de maré baixa. Dessa forma, as areias finas depositadas pelo mar ao longo da linha da costa são transportadas pelos ventos para dentro da Planície Costeira, onde são depositadas e formando campos com dunas de areia fina , que podem cobrir as areias finas marinhas ou as lamas moles lacustres. Na Planície Costeira ocorrem solos marinhos, que são os predominantes, solos lacustres e solos eólicos. NLF areia fina compacta 1.2.9.2. SOLOS MARINHOS. Nível de lençol freático alto e paredes instáveis dos furos em areias finas inviabilizam economicamente estacas escavadas e, da mesma forma, os tubulões, por terem de ser “a ar comprimido”. As soluções indicadas são: sapatas com rebaixamento do lençol freático; estacas cravadas pré- moldadas com auxílio de jato d’água, única maneira delas atravessarem as areias finas compactas. As estacas Franki não atravessam essas areias compactas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 27 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 1.2.9.3. SOLOS EÓLICOS. Areia fina eólica pouco compacta NLF Areia fina marinha muito compacta As areias finas depositadas pelo vento estão empilhadas, devido a pequena energia dos ventos em relação as das águas correntes dos rios e das vagas marinhas. Estas originam depósitos de areias encaixadas e compactas. As fundações recomendadas são estacas cravadas pré- moldadas sem auxílio de jato d’água ou estacas Franki, pois ambas atravessam areias fofas. Sobre areias fofas não se deve construir sapatas, porque os recalques serão significativos. As estacas escavadas devem ser descartadas devido os furos apresentarem paredes instáveis. 1.2.9.4. SOLOS LACUSTRES. As lentes de lama resultantes do preenchimento de antigos lagos podem se apresentar na superfície do terreno ou cobertas por areias eólicas ou marinhas. NLF lente de lama mole areias finas compactas lente de lama mole Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 28 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Pelas razões já expostas não deve empregar sapatas, estacas escavadas e tubulões. Nas lentes de lama superficiais, as soluções são estacas cravadas pré- moldadas com auxílio de jato d’água ou estacas Franki. Nas lentes de lama enterradas e cobertas por areias marinhas compactas, deve-se adotar estacas cravadas pré-moldadas com o auxílio de jato d’água para atravessar as areias compactas. NLF areias finas eólicas fofas lente de lama mole areia fina marinha compacta Nas lentes de lamas enterradas por areias finas eólicas pouco compactas poder-se-á empregar estacas cravadas pré-moldadas sem auxílio do jato d’água ou estacas Franki, pois ambas atravessam as areias eólicas. Cascalheiras de pé de monte. As Planícies Costeiras são formações litorâneas compridas e estreitas limitadas de um lado pelo oceano e do outro por encostas do Escudo (no R.G.S.: ao sul ) ou por encostas dos derrames (no R.G.S.: ao norte ). No sopé destas encostas em frente aos rios que descem, ocorrem cascalheiras de pé de monte. As fundações indicadas nessas cascalheiras de pé de monte em forma de leque já foram analisadas no item 1.4.5 relativo às Bacias Sedimentares. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 29 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 2. ESTACAS ESCAVADAS 2.1. METODOLOGIA EXECUTIVA DISPOSIÇÃO CONSTRUTIVA ESCAVAÇÃO A escavação do furo para moldagem da estaca é executada mecanicamente através de equipamento rotativo composto de guindaste para sustentação da mesa de perfuração, mesa rotativa com haste Kelly provida de trado ou balde conforme a necessidade para atravessar camadas mais ou menos resistentes. A perfuração da estaca é iniciada após sua locação topográfica, nivelamento do guindaste e da mesa rotativa e verificação do prumo da haste Kelly. Quando o terreno ou praça de trabalho não oferece boas condições de suporte, ou seja, pouco compactado, torna-se conveniente posicionar o guindaste sobre uma camada de dormentes para evitar inclinação da máquina e o conseqüente desaprumo da estaca, bem com um aumento indesejável no consumo do concreto pelo aumento da seção escavada. A perfuração se inicia com a colocação de um segmento metálico com diâmetro 10 a 15cm maior que o diâmetro da estaca a ser escavada e comprimento suficiente para proteger o inicio da escavação contra desbarrancamento (1,50 a 2,00m). A partir do extremo inferior do segmento metálico até a cota final de assentamento da estaca, as estacas são escavadas sem proteção lateral, ficando a cargo da lama bentonítica a responsabilidade pela estabilização. Essa lama é constituída da mistura da água doce com bentonita, na proporção a oferecer um material (lama) que mantenha estável as paredes da escavação. O nível da lama deverá ser mantido na escavação até o topo da camisa de proteção durante todo o processo de escavação e concretagem e seu lançamento no interior da trincheira será feito preferencialmente por gravidade partir de tanques. A adição de bentonita será controlada por válvula ou registro. Uma vez atingida a cota ou profundidade desejada, são feitos os controles da qualidade da lama para prosseguirmos os trabalhos de colocação da armadura e concretagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 30 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Os ensaios de teor de areia são feitos normalmente usando-se três amostras retiradas, do fundo da escavação, da metade da escavação e de ¾ da altura da escavação. Caso o teor de areia conhecido por método direto ou peneira nº200 ultrapassem 3% será necessário uma desarenação com limpeza do fundo e troca da lama por lama isenta de areia. A lama contaminada por areia é recuperada por um desarenador do tipo ciclone com retorno da lama desarenada ao próprio furo. O excesso de areia pode provocar bolsões no interior do concreto, comprometendo a qualidade da estaca. Uma vez aprovada a qualidade da lama, através dos ensaios, lança-se a armadura no interior da escavação para posterior concretagem. Quando a lama não puder ser reutilizada, ela será removida com caminhões pipa e lançada em local apropriado longe de fontes de águas e rios. 2.2. CONCRETAGEM Concluída a escavação e aprovados os ensaios da lama bentonítica, terá início então a descida da armadura no interior da escavação. A armadura é içada por um guindaste e colocada na escavação até a cota prevista. O passo seguinte será a concretagem submersa executada através de um conjunto composto de funil e tubos rosqueados, “tubo tremie”, onde será lançado o concreto. Para impedir a contaminação do concreto pela lama, é utilizada uma bola de papel colocada no fundo do funil (extremo superior do tubo) sobre a qual será lançado o concreto. O concreto é lançado através do tubo “tremie”, onde deverá ter fluidez necessária para escoar através do tubo subindo pelo interior da escavação e expulsando a lama que será recolhida ate o depósito de lama usada. A subida do concreto é controlada por volume lançado (caminhão) medindo-se sua subida no interior da escavação e traçando-se curvas para detectar possível anomalia na escavação. Todos os dados serão anotados em boletins apropriados que serão fornecidos pela Roca ao término de cada estaca. Para garantir a qualidade do concreto no topo da estaca, é executado aproximadamente 01 (um) metro linear a mais do que o comprimento previsto. Este metro linear será demolido após o término do trabalho e a cura do concreto. Para maior garantia do serviço executado, nenhuma estaca permanecerá sem concretagem por mais de 02 (duas) horas, tendo em vista a característica do terreno. A demora na concretagem poderá ocasionar a desestabilização das paredes ocasionando problemas com a funcionabilidade da estaca. Durante o lançamento do concreto são executados cortes na tubulação de lançamento tendo-se o cuidado de se manter sempre o tubo no mínimo 3 m no interior do concreto já lançado. O concreto lançado será preparado com brita 1 e 2 com slump 20+2 e consumo de cimento de 400 kg/m3. 2.3. ARMAÇÃO A armação (gaiola) é preparada antecipadamente a concretagem colocando-se a cada três metros estribos soldados na armadura principal e com distanciadores para garantir o recobrimento mínimo exigido pelo projeto. A armadura não permanecerá no interior da escavação em contato com a lama por muito tempo para que não se forme a camada de gel que poderá prejudicar a aderência concreto-aço. Uma vez colocada a armadura, a concretagem será iniciada imediatamente. As emendas ou transpasse da armadura são feitas com clipes galvanizados. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 31 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 2.4. PREPARO DA LAMA A lama a ser usada na escavação é preparada usando-se água isenta de óleo, graxas ou outros tipos de substâncias que possam comprometer as características desejáveis para a lama. Ela é preparada em um misturador de alta turbulência ate a homogeneização da mistura e bombeadas para os tanques de maturação lá permanecendo por 24 horas para inchamento. A proporção da mistura bentonita - água será tal que forneça um preparado com viscosidade entre 32 e 40 seg no cone Marsh Tendo em vista que o solo arenoso das fundações necessita uma densidade maior do fluido de contenção. A lama usada é controlada quanto à alcalinidade, usando-se papel tornassol; quanto a densidade com uso de balança Baroid; quanto ao teor de areia na peneira 200, e quanto a espessura do “cake” com uso de filtro e prensas. A lama recuperada na concretagem é submetida aos ensaios acima descritos para redosagem ou correção das características caso seja necessário. Os depósitos de lama são inspecionados periodicamente para livrá-los dos depósitos que se formam no fundo dos mesmos que poderão comprometer a qualidade da lama utilizada. A Norma Brasileira (NBR 6122) fixa os seguintes limites para as características da lama bentonítica a ser usada nas escavações. -Densidade: 1,025 a 1,10 g/cm³ -(Balança de lama) -Viscosidade: 30 a 90 seg (Funil de Marsh) -pH: 7 a 11 (Papel de tornasol) -cake: 1,0 a 2,0 mm (Filter Press) -Teor de areia: até 3% (Baroid sand content) -Fator A/C: abaixo de 0,6 Concreto -Abatimento(“Slump-test”): 20 ± 2 cm -Fator A/C: abaixo de 0,6 -Agregado: dimensões max 20m (pedra 1) -Cimento: 400 kg/m³ -Areia: 35% - 45% em peso (total de agregado) 2.5. CONSIDERAÇÕES GERAIS Para um alto teor de areia do solo, tornam-se necessários alguns cuidados com relação à escavação, bem como controles do teor de areia na lama de escavação antes da concretagem. O teor de areia medido na peneira 200 não poderá ultrapassar 3% em peso. Quando este teor ultrapassar este limite será procedida a desarenação com uso de bombas e desarenadores tipo ciclone ou substituição da lama por outra não contaminada e obedecendo aos padrões exigidos pelo projeto. Em casos de emergência em que se faça necessário aterrar uma escavação, este trabalho será feito usando-se areia grossa e cimento na proporção de 10 kg de cimento por metro cúbico de areia. Os trabalhos serão reiniciados assim que o material utilizado para reaterro tenha sido reposto para atender outra possível emergência. O enchimento da perfuração se dará mediante remoção da lama usando-se o mesmo processo da concretagem submersa. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 32 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 3. ESTACA RAIZ / MICROESTACAS É uma estaca concretada “in-loco”, injetadas, considerada de pequeno diâmetro, elevada capacidade de carga baseada essencialmente na resistência por atrito lateral do terreno. Indicada para grande variedade de situações como locais de difícil acesso, reforço de fundações existentes, atualmente para fundações de novas pontes e viadutos, contenções de encostas, perfuração de solos com matacões e rochas, etc. I – INTRODUÇÃO É uma estaca concretada “in-loco”, considerada de pequeno diâmetro, pois o mesmo varia entre 100 mm < Ø < 410mm, tendo elevada capacidade de carga baseada essencialmente na resistência por atrito lateral do terreno atravessado, seu diâmetro e comprimento. Evidentemente, se constatada a presença de rocha na ponta da mesma, ela pode ser empregada também como estaca com resistência de ponta. Em ambos os casos, o cálculo de uma fundação em estacas raiz é semelhante ao método clássico utilizado em outros tipos de estacas e baseia-se na capacidade de carga da mesma isoladamente. Devido ao seu processo executivo a estaca raiz é uma estaca de argamassa armada, com fuste contínuo rugoso e armada ao longo de seu comprimento. Ela atende as especificações quanto à resistência da argamassa, interação ferro-argamassa, proteção e recobrimento da armadura, etc. As estacas raiz foram empregadas inicialmente no reforço de fundações e ao longo dos anos, com o aprimoramento de novas técnicas de perfuração e ampliação de novos conceitos e parâmetros da mecânica dos solos, seu uso disseminou-se permitindo resolver diversos problemas na área de fundações, de contenção de taludes ou escavações, de consolidação de terrenos e outros. Podem ser executadas na vertical ou inclinadas, com limitação de pé direito ou da área de trabalho, devido às dimensões reduzidas do equipamento de perfuração. Alinhando-se a isto, podemos salientar também: a alta produtividade obtida; a possibilidade de atravessar qualquer tipo de terreno inclusive rocha, matacão, concreto armado e alvenaria; a ausência de vibração; de descompressão do terreno e o baixo nível de poluição sonora II - METODOLOGIA EXECUTIVA PERFURAÇÃO É efetuado pelo sistema rotativo ou roto-percussivo, utilizando um tubo de revestimento em cuja extremidade é acoplada uma coroa de perfuração adequada às características geológicas da obra. No caso de ser necessário atravessar camadas de concreto, matacões ou rocha, utiliza-se martelo de fundo com “bits” acoplado a hastes com diâmetro inferior ao diâmetro interno do tubo de revestimento. Caso seja necessário dar continuidade à perfuração com revestimento, utiliza-se sapata para efetuar o alargamento do furo no material impenetrável. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 33 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 O material proveniente da perfuração é eliminado continuamente pelo refluxo do fluído de perfuração através do interstício criado entre o tubo de revestimento e o solo, devido à diferença existente entre diâmetros (Ø coroa > Ø tubo), lubrificando ainda a coluna e facilitando a descida do tubo. A perfuração pode-se dar também internamente a uma camisa metálica cravada até o impenetrável, tendo a finalidade de criar um elo de ligação dessa camisa com a rocha através de um pino ou furo feito com martelo de fundo (down the hole). ARMAÇÃO Concluída a perfuração da estaca com a inclinação e profundidade previstas, procede-se à colocação da armadura que tem o comprimento do fuste da mesma. A armadura pode ser constituída por monobarra ou feixe de aço; várias barras de aço com estribo helicoidal formando uma “gaiola”, tubo metálico, ou ainda uma mescla dessas alternativas. Para estaca raiz à compressão, o transpasse das diversas seções feito por simples sobreposição e para estaca à tração utiliza-se de preferência solda ou luva roscada. Pode ainda absorver esforços horizontais que provocam esforços de compressão e tração no fuste se a estaca for inclinada e de flexão se ela for executada na vertical. Nesse caso, deve ser utilizada armadura periférica para resistir a esforços ou empuxos horizontais. Ressalve-se ainda que, em função do diagrama de atrito lateral, a seção da armadura ao longo do fuste pode ser variável. CONCRETAGEM A concretagem é efetuada sob pressão, rigorosamente controlada e variável entre 0,0 a 0,4 MPa (dependendo do tipo do solo), utilizando-se uma argamassa de elevada resistência, obtida pela mistura de areia peneirada e cimento, na proporção de 600 Kg de cimento para 1 m3 de areia, com fator água/cimento entre 0,4 a 0,6 considerando-se as características da areia empregada. Inicialmente, coloca-se o tubo de concretagem até o fundo da perfuração lançando a argamassa de baixo para cima, garantindo-se a troca do fluído de perfuração pela argamassa. Estando toda perfuração preenchida com argamassa, coloca-se um tampão no topo do revestimento precedendo-se a retirada do mesmo com o emprego de um extrator hidráulico e, concomitantemente executa-se a injeção de ar comprimido que é controlado para evitar deformações excessivas do terreno, garantindo a integridade do fuste e também a perfeita aderência da estaca com terreno. Essas operações são repetitivas, e deve-se adicionar argamassa para o complemento preenchimento do tubo visando o seu nível sempre acima da coroa de perfuração. A retirada do revestimento poderá ser executada também com o próprio equipamento de perfuração. Ressalva-se, que a pressão do ar aplicada é determinada pela absorção do terreno e deve também evitar a laminação da argamassa aplicada. Procedendo-se como acima, é permitido no dimensionamento estrutural da estaca considerar a resistência da argamassa, reduzindo sensivelmente a armadura necessária e obtendo um custo final menor. Nos casos de estacas metálicas perdidas, a concretagem segue o mesmo procedimento, não tendo a necessidade de compressão, pois o suporte e o contato são a própria camisa, não havendo deformação nenhuma Salienta-se, que para estacas com perfuração através de estruturas existentes, a solidarização, estaca/estrutura é imediata após a concretagem, praticamente não provocando esforços na estrutura enquanto se processa a transferências do carregamento, devido à baixa deformação necessária para a absorção da carga de trabalho pelas estacas. III. CONSIDERAÇÕES As principais considerações são: Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 34 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 Sendo uma estaca que tem uma capacidade de carga dimensionada em função do atrito lateral, responde imediatamente a qualquer movimento da estrutura no caso de empregada como reforço de fundação, substituindo no todo ou em parte a fundação inicial dependendo da concentração técnica do projeto de reforço. Pode ser utilizada em qualquer tipo de terreno; atravessar vários tipos de obstáculos e ter diferentes inclinações. Resiste a carga de tração muito elevada o que a torna ideal no caso de fundação para torres de linha de transmissão até plataformas de petróleo, substituindo também os tirantes empregados em estrutura de contenção É executada também no sentindo descendente, com diferentes diâmetros de perfuração ao longo do fuste, observando-se normalmente a menor resistência das camadas superficiais. Formam-se dessa maneira capitéis, que podem receber reforço na armadura da cabeça para absorver esforços horizontais. Como a concretagem é efetuada com controle rigoroso e o aglomerado é injetado sem perda de carga, a leitura do manômetro da bomba corresponde praticamente à pressão da argamassa sobre o terreno, evitando-se assim deformação excessiva no mesmo, bem como efeito da “clacagem” (laminação) da argamassa. Quando utilizada em grupo de estacas, com diferentes inclinações e grande densidade, formam o chamado “reticulado”. Nesse caso, sua capacidade de carga é medida pela área delimitada pelas mesmas e não somente pela capacidade individual de cada estaca (similar ou que ocorre na análise da estabilidade de uma árvore) Nas provas de carga à compressão, pode-se utilizar as estacas vizinhas trabalhando à tração para elementos de reação, eliminando-se a necessidade de cargueiro ou tirante. Ressalve-se que nas provas de carga à tração em estacas previstas à compressão, os resultados obtidos não refletem o verdadeiro comportamento à compressão, além de apresentarem altos custos adicionais devido ao acréscimo da armadura de tração e a não consideração da resistência da argamassa da estaca. 4. PAREDES DIAFRAGMA E ESTACAS BARRETE Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 35 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 A escavação de parede diafragma foi uma evolução natural das cortinas com estacas justapostas tipo strauss ou escavadas mecanicamente. Para tanto, foram desenvolvidas as ferramentas “clam-shell” que podem ser mecânicas ou hidráulicas, de seção retangular sendo sua espessura variável entre 0,30 m até 1,20 m e com larguras variando entre 1,50 m até 3,00 m. Tendo como finalidade a execução de um muro contínuo no subsolo que possibilita a absorção de cargas axiais, empuxos e momentos fletores. Em função das características geológicas do terreno, os painéis ou lamelas podem ser escavados em seqüência ou alternadamente sendo que, a aderência entre as sucessivas lamelas é obtida com a utilização de tubos junta no caso das paredes moldadas “In loco”. Para paredes diafragma “pré-moldadas” o encaixe entre painéis consecutivos é do tipo “macho- fêmea”, podendo ter diferentes formas geométricas. As estacas barrete seguem o mesmo processo executivo, sendo perfuradas lamelas individuais ou com seção mista do tipo H, +, --, etc... e são indicadas para absorção de cargas elevadas nas fundações. 4.1. METODOLOGIA EXECUTIVA 1- Execução da mureta guia em concreto armado ou chapa metálica, que serve como guia do clam-shell e contenção da camada de terreno superficial. 2- Escavação das lamelas com utilização do clam-shell e contenção da camada de terreno superficial. 3- Colocação do tubo-junta para moldagem “in loco”. 4- Aplicação da armada pré-montada com alças, clips, distanciadores, etc. Caso sejam utilizadas placas pré-moldadas, as mesmas já dispõem da amadura pré-moldada de engate na sua extremidade inferior, bem como de juntas tipo “macho-fêmea” eliminando-se com isso a fase 3 acima. 5- Concretagem submersa, utilizando-se o tubo “tremie” com o intuito de evitar a lavagem e desagregação do concreto, obtendo-se elevadas velocidades de lançamento de grandes volumes de concreto. O mesmo deve ter “slump” adequado Inicialmente, emprega-se um obturador no tubo “tremiê” para evitar a mistura da lama bentonítica com o concreto e, que pode acarretar perda na qualidade do mesmo. Em seguida procede-se a concretagem contínua da lamela tomando-se a precaução de manter o tubo sempre imerso no concreto e, concomitantemente procede-se a retirada da lama bentonítica excedente para reciclagem e reproveitamento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul página - 36 Departamento de Engenharia de Minas Geologia de Engenharia II – ENG5102 No caso das placas pré-modadas, são deixados furos ao longo das mesmas e, que permitem a introdução do tubo “tremiê” até o fundo da escavação para a concretagem e interação das mesmas com o solo. Como vantagens desse sistema, ressalvamos: Alta produtividade em função da mobilidade do equipamento, da rapidez de manobra, da agilidade na troca da ferramenta e descarga do material escavado. Atingir grandes profundidades abaixo do lençol freático, possibilitando por exemplo a ampliação do número de subsolos e garagens. Contenção lateral para grandes escavações poços, casas de máquina, silos subterrâneos, etc. 4.2. Elementos estruturais Impermeabilização de barragens, diques, escavações, canalizações de córregos ou rios, podendo- se executar diafragmas plásticos preenchidos com mistura de cimento e argila ou bentonita. Execução da parede a edificação vizinha sem causar danos a esta, por não provocar vibrações ou alívio significativo das pressões laterais, não retirar água do solo alterando enfim as condições do solo sob as estruturas adjacentes. Características da lama bentonítica e do concreto Lama Bentonítica Densidade: < 1.10 g/ml (balança densidade) Viscosidade: 20 - 90 seg (balança de Marsh) Resistência do gel (10 min): 1.4 - n/m² - (Shearometer) PH: 8 - 12 (papel de tornasol) Concreto “Slump”: 20 ± 1 cm A/C = 0,6 Agregado: dimensões max 20m (pedra 1) Cimento: 400 kg/m³ Areia: 35% - 45% em peso (total de agregado)
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