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Tradição Oral IELP II – Profa. Vanessa Monte 2º semestre 2014 Declaração de um griô Eu sou griô. Sou Djeli Mamadu Kuyaté, filho de Bintu Kuyaté e de Djeli Kedian Kuyaté, mestres na arte de falar. Desde tempos imemoriais, os Kuyaté estão a serviço da princesa Keita do Mandinga, nós somos sacos de falas, somos os sacos que contêm segredos muitas vezes seculares. A arte de falar não é segredo para nós; sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento, nós somos a memória dos homens; pela fala, damos vida aos fatos e aos feitos dos reis para as novas gerações. O tema resumido na declaração Os problemas: da história e de sua memória (“somos os sacos que contêm segredos muitas vezes seculares”); da fala e de sua arte (“mestres na arte de falar”); do poder que essa arte confere (“sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento”…); a justificativa prévia da tomada do turno de fala (“Eu sou griô. Sou Djeli Mamadu Kuyaté, filho de Bintu Kuyaté e de Djeli Kedian Kuyaté, [...]. Desde tempos imemoriais, os Kuyaté estão a serviço da princesa Keita do Mandinga.”) Fonte: http://www.forumsolidarieta.it/ indice_news_4/news/parola_griot_1.aspx Fonte: http://pt.dreamstime.com/imagem-de-stock- estudante-da-leitura-image16434831 Griô x Universitário Antes de tomar a palavra e de dizer a tradição, os griôs provam ter direito à fala, justificam pela genealogia sua competência; Da mesma forma que um universitário ocidental se basearia, numa tese de história, por exemplo, em uma extensa bibliografia. Quais são as diferenças entre os exemplos? O que as provoca? Genealogia x Bibliografia Definição de duas sociedades as sociedades de tradição oral; e as sociedades de tradição escrita. Problema: Noção de analfabeto ou iletrado em nossa sociedade. Como se vê o analfabeto? Analfabeto: noção negativa “Essa visão negativa vai ser multiplicada até tomar uma dimensão social, quando se chegará a falar de taxa de analfabetismo: desse modo, haveria sociedades que, em sua maioria, ‘não sabem nem ler nem escrever’.” (CALVET, 2011, p. 8) Saber manejar a leitura e a escrita: divisão entre os que têm e os que não têm. Visão ideológica Relações entre conhecimento e escrita: grande peso em nossas sociedades. Importante: nos afastar das simplificações. Analfabetismo/escolarização: par que se define somente em sociedades de tradição escrita. A situação em sociedades sem escrita é outra. Nelas, a noção de analfabeto é importada, desprovida de sentido local. Sociedades sem escrita => sociedades de tradição oral. Origem do desprezo Romantismo europeu (séc. XIX) Arte popular x arte sofisticada Tradição oral x Tradição escrita Oposição que gera o desprezo pelas sociedades sem escrita. Definições “A oralidade é a propriedade de uma comunicação realizada sobre a base privilegiada de uma percepção auditiva da mensagem. A escrituralidade é a propriedade de uma comunicação realizada sobre a base privilegiada de uma percepção visual da mensagem.” (HOUIS, 1980, p. 12) Tipologia (1) As sociedades de tradição escrita antiga: língua escrita utilizada na comunicação oral cotidiana (com as diferenças óbvias entre o oral e o escrito); maioria das sociedades europeias atuais; analfabetismo raro, quando não completamente extinto. (2) As sociedades de tradição escrita antiga: língua escrita não é aquela que se usa na comunicação oral cotidiana; países árabes (onde se escreve o árabe clássico, mas se fala o árabe dialetal); analfabetismo é mais presente do que nas sociedades do primeiro tipo. Tipologia (3) As sociedades nas quais se introduziu recentemente a prática alfabética, em geral pela via de uma língua diferente da língua local. países que foram colônias na África e na América Latina, aos quais se impôs uma picturalidade (o alfabeto latino) proveniente da herança cultural colonial. (4) As sociedades de tradição oral. Ressalva: “a ausência de tradição escrita não significa, de maneira alguma, ausência de tradição gráfica. Em muitas sociedades de tradição oral, existe uma picturalidade muito viva, nas decorações de potes e de cabaças, nos tecidos, nas tatuagens e nas escarificações etc., e mesmo que sua função não seja, como no caso do alfabeto, registrar a fala, ela participa da manutenção da memória social.” (CALVET, 2011, p. 11) Fonte: http://bodyart.batanga.com/4650/el-origen-de-las-escarificaciones Fonte: https://africa.si.edu/collections/view/objects/asitem/search@swg'gourd'/0?t:state:flow=687e269b- c9fe-4aa3-86fe-770f48df750c Raciocínio a evitar Oralidade => Picturalidade Tradição oral => Tradição escrita eixo tempo Exemplo: sociedades berberes. Hoje: tradição oral; Passado: alfabeto tifinagh (escrita líbica); Resultado da imposição da sociedade árabe e religião islâmica (outra picturalidade); Picturalidade => Oralidade [=> Picturalidade] Escrita tifinagh Fonte: http://atlas.blida.over-blog.com/article-ecrire-tifinagh-en-toute-simplicite-avec-tifino-lite-104861422.html Problema de pesquisa Sociedades de tradição oral: “Como manter a memória da experiência humana e torná-la presente num lugar e num tempo dos quais ela está efetivamente ausente?” (CALVET, 2011, p. 12) Sociedades de tradição escrita: os escribas e as bibliotecas resolveram parcialmente, antes de abrir caminho ao mundo tecnológico virtual. Subdivisão do problema o que conservar? como conservar? para quem conservar? como transmitir? Vai encontrar sua solução em algumas formas diferentes: texto linguístico oral; o texto pictural; a nomeação (topônimos, antropônimos etc.); etc. Exemplos Tradição oral e ensino da língua Trava-línguas; Adivinhas. A estrutura do texto oral/o estilo oral Oralidade, gestualidade e medida do mundo Universo pictórico Antropônimos Tradição oral e história Imposição da escrita Vídeos M E M O R I A M E D I A e-Museu do Património Cultural Imaterial http://www.memoriamedia.net/ O Lobo e a Raposa na rouparia https://www.youtube.com/watch? v=Sv6U4hj9hE4 Roncas https://www.youtube.com/watch? v=FpXVm4n2kvg&noredirect=1#t=642 Referências Bibliográficas CALVET, L. Tradição oral & tradição escrita. Trad. Waldemar Ferreira Neto, Maressa de Freitas Vieira. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. HOUIS, M. Oralité et scripturalité. In: Elements de recherche sur les langues africaines. Paris: AGECOOP, 1980, p. 12.
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