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Aula 6 - Direito Canônico

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INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DOGMÁTICA JURÍDICO-CANÔNICA MEDIEVEL
HISTÓRIA E DIREITO
José Walter Lisboa Cavalcanti
A AUTORIDADE DOMINADORA
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A Idade Média se desenvolve economicamente e socialmente após a queda do Império Romano.
Havia harmonia de proteção, comércio e comunicação, mas que foi abalada
a) o modo de produção escravocrata que deixava sem trabalho os homens livres
b) o cristianismo como religião oficial, estimulando o aparecimento de seitas heréticas que traduziam o descontentamento da plebe com sua política autoritária.
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A invasão dos nórdicos à Europa central, culminou com a derrocada do Império Romano
As riquezas e as terras férteis da Roma eram uma tentação. 
Com a invasão de Roma pelos “bárbaros” do norte eclode o etnocentrismo. 
identificação territorial, linguística e de tradições que impuseram uma auto-identificação enquanto raça diferenciada.
a discriminação cultural, através de uma suposta unidade racial, auxiliou a discriminação negativa ao diferenciado modelo cultural dos germanos 
A AUTORIDADE DOMINADORA
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O etnocentrissmo teve e tem como consequências políticas
a criação artificial da ideia de nação e
atitudes de reação violenta contra aquilo que apareça sob bases culturais e sociais não-idênticas.
O mesmo grau de preconceito e incapacidade de reconhecer a humanidade nos que não são da mesma cultura encontrou força até mesmo no século XX.
O que predominava em termos de “instituição” social era algo originado da junção de características do regime escravocrata com o regime comunitário primitivo das tribos nórdicas. 
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O responsável político pela junção desses dois modos de vida diferenciados foi a Igreja Católica Romana. 
Por um lado, negava o caráter divino do imperador, a hierarquia e o militarismo
por outro lado, acabava por ser também um prolongamento do caráter universalista de Roma, fazendo, por exemplo com que o cristianismo fosse elevado à religião de Estado. 
Embora a verdade divina fosse alcançada pela Revelação, pode-se perceber um projeto claro e lógico de dominação e a imposição de um modelo de pensamento através da teologia. 
Uma razão que funciona através da diferença. 
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O direito derivado da Igreja servirá para a sedimentação do poder institucional através de fundamentações “racionais” na interpretação da verdade.
A razão permitirá que à prática jurídica subjugue qualquer tipo de contestação “incompetentes”.
A Igreja Católica se tomou uma fortíssima instituição.
Com as invasões dos povos germânicos, surgiram numerosos sistemas de governo menores e autônomos, o que causou uma confusão entre propriedade e autoridade.
As relações daí advindas caracterizarão o feudalismo e serão fixadas e estereotipadas na relação senhor/vassalo
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A instituição do “séquito” possibilitou a existência dos feudos como estrutura econômica, jurídica, social, cultural, moral e política da Idade Média. 
Max Weber classificara a relação senhor/vassalo como um “fazer cotidiano”, como rotina
As relações de tipo senhor/vassalo serão classificadas por Weber de feudais.
O poder senhorial está à mercê de um vínculo privado contratual, vinculado à vontade de obediência e a fidelidade
os deveres contratuais são fixos, bilaterais e obrigatórios
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A relação de “seqüito” tem uma estreita relação com a dominação germânica
Percebe-se que a força de uma liderança carismática foi fundamental na utilização do direito germânico
Na Idade Média, o direito germânico foi utilizado como instrumento privilegiado na resolução de conflitos
o processo penal germânico era uma espécie de continuação da luta entre o ofendido e o acusado
Como o objetivo aparente não era provar a verdade, e sim a influência social de quem participava da prova, geralmente o vencedor era o mais forte
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O direito germânico trouxe o modelo que originou o laço social mais característico do feudalismo:
o vínculo de autoridade baseado no carisma de um líder guerreiro.
Embora a dominação carismática não possa ser classificada como um tipo puro de dominação, pode-se dizer que “o fundamento de toda dominação, e por conseguinte de toda obediência, é uma crença:
crença no “prestígio‟ do que manda e dos que mandam”.
Tal crença dará origem, no fim da Idade Média, à utilização do contrato como fundamento político da existência do Estado. 
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A religião floresce dos escombros de Roma, “com a crescente importância da vinculação ética do indivíduo em um cosmos de ‘deveres’ que permitem prever sua conduta”.
O estabelecimento de relações sociais e econômicas de caráter feudal vai favorecer o desenvolvimento da Igreja como autoridade religiosa e também temporal após o fim do Império Romano.
A Igreja torna-se o grande senhor feudal, já que despontou como proprietária de vastas extensões de terra
foi certamente a única instituição sólida existente.
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A partir do século V a Igreja Católica começa um longo e colossal trabalho para unificar na fé cristã todos os recantos da Europa,
uma forte arma de pregação seria a implantação de mosteiros, como braços avançados da propagação da fé e de controle econômico-social
Os mosteiros serviam como demonstração prática de cristianismo e como centro de educação
eram a sede de um bispo-monge, e assim desempenhavam um papel institucional e espiritual na evangelização.
O direito romano não se furtará de conviver paralelamente com o direito germânico dos povos do norte, e, até o século VIII, observa-se a progressiva condensação desses vários direitos. 
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Houve a descentralização da justiça
a dissolução da resolução das contendas particulares pelas várias autoridades temporais - os senhores feudais - agora investidas de jurisdição.
Na alta Idade Média, a partir do momento em que deixa de existir um poder judiciário organizado, a liquidação das contendas era feita entre os indivíduos: 
À medida que crescia a influência da Igreja Católica nas questões temporais, os tribunais seculares passaram a ser pressionados para julgar seus litígios a partir do direito canônico e para transmitir seu poder de decisão aos tribunais canônicos
A jurisdição eclesiástica passou a ser competente, por exemplo, para julgar todos os casos relativos ao casamento e à maioria dos litígios envolvendo o direito de família.
Os cânones são regras jurídico-sagradas (verdade revelada) que determinam de que modo devem ser interpretados e resolvidos os vários litígios.
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Estabelecida a legitimidade divina do Direito Canônico no decorrer da baixa Idade Média
Após intensa atividade jurisdicional, a Igreja passou a considerar o antigo direito romano como legislação viva - embora esparsa
A Igreja passou a monopolizar a produção intelectual jurídica na idade feudal. 
Define-se a função dogmática dos doutores universitários, doutores não pelo conhecimento, mas pela autorização divina de revelar, ou melhor, de dizer a verdade da lei
O conhecimento jurídico formado nestas escolas era o da reprodução “recitada” do conhecimento, geralmente vinculado ao amor da onipotência
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“os argumentos pró e contra se desenvolvem na zona definida pelo texto.”
trata-se de uma “ciência” universal e sacrossanta de imposição e transmissão do poder, de reprodução assegurada da verdade, cujo texto aparece como fundamento e limite da interpretação. 
Em 1140, Graciano compila o primeiro cânone, buscando institucionalidade a verdade.
“A partir daí, o Direito Canônico desenvolveu-se por decreto papal, interpretação oficial e julgamento de litígios nas cortes eclesiásticas”.
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As múltiplas interpretações dos advogados dos comerciantes vinculados ao Estado secular, causando problemas à administração eclesiástica
o cânones deveriam ser considerados como a palavra de Deus
legislada pela boca do Papa, verdade absoluta e incontestável. 
A crítica à Igreja passa a equivaler ao crime de lesa-majestade.
a Igreja tem de mobilizar toda uma tecnologia repressiva para controlar os possíveis revoltosos, e essa tecnologia é o discurso jurídico canônico materializado na Santa Inquisição, com seu sistema de construção aflitiva da verdade.
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A interpretação competente dos doutos universitários, o controle do sentido da jurisprudência, as técnicas de conhecimento, transmissão e reconhecimento dos textos canônicos vão constituir-se como práticas sociais que submeterão a realidade à simbologia jurídica de uma versão parcial e comprometida. O direito canônico irá servir como modelador, como “censor” da realidade que incomodava a instituição eclesial, como estrutura dogmática e como instituição de repressão/formação das condutas na sociedade. 
CONCLUSÃO
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O discurso jurídico passou a referir-se à norma escrita e limitar-se na sua existência ao livro, objeto sagrado e verdadeiramente reverenciado
O livro aí está, objeto monumental e signo de legitimidade, lugar físico da Palavra conservada e reservatório das autoridades.
A verificação e o ajustamento de qualquer enunciado dos cânones e dos comentários devem sempre se referir à compreensão mais abrangente do direito canônico da época medieval
o direito canônico aparece, então, como “saber sagrado, privilegiado e separado dos outros (...); só nesse lugar aí é que se domina afinal e se justifica a natureza”, é o lugar idealmente construído onde a verdade pode ser “naturalmente” “encontrada”
CONCLUSÃO
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O direito canônico nasce como discurso que exclui a cultura e o diferente
se auto denomina único e natural através do processo de “canonização” das interpretações
funda e pune o comportamento herético e também quando especifica as práticas de excomunhão e penitência.
A lógica dogmática como formadora do comportamento humano através da supressão de quaisquer realidades simbólicas distintas da “verdade” codificada. 
O desenvolvimento futuro do direito, a partir desse momento, esteve absolutamente comprometido com essa economia da verdade que é a construção dogmática do saber 
SANTOS, Rogério Dultra. Institucionalização da dogmática jurídico-canônica medievel. In: WOLKMER, Antonio Carlos (org). Fundamentos de História do Direito. 6.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006
HISTÓRIA E DIREITO
José Walter Lisboa Cavalcanti

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