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Texto: Judiciário: entre a Justiça e a Política (2007) (Rogério Bastos Arantes) � Tentativa de descrever a natureza e as especificidades do Judiciário como instituição judicial e política � Metodologias adotadas: � Método comparativo � Descrição jurídico-formal do Judiciário � Três seções: � Tradições estadunidense e francesa do Judiciário moderno � Expansão das funções judiciais e políticas do Judiciário no século XX � Hipóteses sobre o futuro do Judiciário como órgão de justiça e poder político � Influência do Antigo Regime e do capitalismo � A derrubada dos antigos regimes absolutistas e a fundação dos Estados liberais � Grandes marcos: � Constituição Estadunidense (1787) � Revolução Francesa (1789) � Experiência francesa: � Mais republicana do que liberal � Modernização da função da justiça comum do Judiciário � Não lhe confere poder político � Experiência estadunidense: � Mais liberal do que republicana � Atribuiu à magistratura a importante função de prestação da justiça nos conflitos particulares � Elevou o Judiciário à condição de poder político � Fórmula de separação de poderes difundiu-se no final do séc. XVIII como necessária à limitação do poder político do Estado e à defesa das liberdades individuais (Locke e Montesquieu) � “Poder freia o poder” (Montesquieu) � “Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não for assegurada, nem a separação de poderes determinada, não tem Constituição” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Assembleia Nacional Francesa, 1789, art. 16) � Experiência francesa: � Plataforma liberal utilizada no combate à monarquia absolutista vigente � Proposta de esvaziamento do Poder Executivo � Fortalecimento do corpo legislativo (principal representante da soberania popular) � Experiência estadunidense: � Governos populares não estão imunes ao arbítrio � Rigorosa separação dos poderes � Parlamento não tem supremacia � Corpo legislativo não pode ficar imune a controles � Elevação do Judiciário à condição de poder político (direito à propriedade) � A condição de poder político do Judiciário nos tempos modernos decorre de sua capacidade de controlar os atos normativos dos demais poderes, especialmente as leis produzidas pelo parlamento (judicial review ou controle de constitucionalidade das leis) Processo decisório de estabelecimento de normas (leis e atos executivos) capazes de impor comportamentos � Experiência francesa: � Judiciário não recebeu a missão de controlar os atos dos demais poderes � Apenas teve valorizado seu papel de prestador da justiça comum, civil e criminal � Sufrágio universal � Experiência francesa: � Supremacia do parlamento como órgão da soberania popular (vontade geral rousseauniana) � Nenhuma outra instituição social ou política poderia colocar-se entre o Estado e a Nação, entre o corpo legislativo e a soberania popular, entre a vontade geral e o indivíduo � Não havia espaço para que o Judiciário funcionasse como poder político intermediário e órgão controlador dos demais poderes � Nos EUA, a liberdade ditou mais regras do que a igualdade � Na França, a igualdade ditou mais regras do que a liberdade � Ponto-chave: direito à propriedade � EUA: Judiciário como guardião da propriedade contra as investidas da maioria governante � França: ideologia igualitária impediu que a magistratura pudesse ter qualquer poder político, muito menos o de se colocar entre o corpo legislativo e a soberania popular � Razões do sucesso dos EUA (Tocqueville) � Descentralização do sistema político � Separação dos poderes � Federalismo � Autogoverno local � Incentivos à participação política da comunidade � Proteção à liberdade individual dos cidadãos contra tendências arbitrárias da maioria política O Judiciário estadunidense constitui “o mais poderoso e único contrapeso da democracia”, justamente por sua capacidade de controlar a constitucionalidade das leis promulgadas pela maioria política � EUA: decisão final dos conflitos constitucionais é reservada a um corpo especial de magistrados, que dispunham de razoável dose de independência funcional em pleno regime republicano � Magistrados: nova aristocracia dos EUA (Tocqueville) � Modelos estadunidense e francês são passíveis de aplicação na democracia, apesar de imperfeitos � EUA: Judiciário cumprirá importante função liberal de conter a vontade política majoritária, mas a condição não republicana da magistratura enfrentará temporalmente tentativas de redução de sua independência quase aristocrática � França: Judiciário restringe-se a prestar justiça nos conflitos particulares. Falta um guardião independente da Constituição, já que há uma sujeição completa da sociedade à vontade política da maioria governante � Ao longo do século XX, o Judiciário passará por um significativo processo de expansão em suas duas funções principais: � Prestação de justiça comum � Controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos � Início do séc. XX: Suprema Corte dos EUA já era bastante conhecida pelas decisões que declaravam a inconstitucionalidade de leis, especialmente aquelas relacionadas à intervenção do governo na economia � New Deal (crise do capitalismo anos 1920-1930) � A partir da década de 1950: nova fase, com sucessivas decisões com forte impacto na ampliação dos direitos civis (educação, questões raciais, liberdade de expressão, aborto – ativismo judicial) � EUA � Modelo difuso/descentralizado � Todos os juízes que integram o Poder Judiciário têm capacidade para declarar a inconstitucionalidade das leis e dos atos normativos, no julgamento de casos judiciais concretos � Suprema Corte somente se destaca como guardiã da Constituição devido à força vinculante de sua jurisprudência e ao caráter terminativo prático de suas decisões � Inglaterra: � Importante exemplo de que era possível sustentar o regime democrático sem o controle do Judiciário � Supremacia do Parlamento � Não há uma Constituição � Áustria: � Controle constitucional concentrado � Incorporação do controle constitucional das leis à democracia política � Itália e Alemanha � Introdução de mecanismos de controle de poder político � Tribunal especial para julgar a constitucionalidade das leis O modelo das cortes constitucionais concentradas procurou evitar os males do sistema estadunidense, cuja descentralização da revisão judicial e o alto grau de insulamento da magistratura, por vezes, ameaçam levar à indesejável situação de “governo de juízes” � Brasil � Sistema híbrido (1ª República e redemocratização) � Após a Constituição de 1988 � Sistema não é apenas difuso – porque conta com mecanismo da ação direta da inconstitucionalidade, patrocinada pelo STF, que pode anular ou ratificar a lei em si � Sistema também não é apenas concentrado – porque o STF não detém o monopólio da declaração de (in)constitucionalidade, dividindo essa competência com os juízes e tribunais inferiores de todo o país � Quando o STF recebe recurso das instâncias inferiores, suas decisões valem apenas para aqueles casos particulares � Agentes legitimados a propor ação direta ao STF: � Presidente da República � Mesa do Senado Federal � Mesa da Câmara dos Deputados � Mesa de Assembleia Legislativa (27 estados) � Governador de Estado (27 estados) (26,3%) � Procurador-Geral da República (antes restrita a) (19,5%) � Conselho Federal da OAB � Partido político com representação no Congresso Nacional (21,2%) � Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional (26,3%) � O caso brasileiro distancia-se do republicanismo democrático e adota fortemente o princípioliberal de contenção da maioria política, por meio de um sistema ultradescentralizado de controle constitucional, que permite às minorias políticas exercer poder de veto, invocando a Constituição contra leis e atos normativos dos Poderes Legislativo e Executivo (perfil consociativo) � Segunda metade do séc. XX: transformação do Judiciário em instância de implementação de direitos sociais e coletivos � Juizados especiais � Oferta de serviços mais rápidos e acessíveis � Juizados informais de conciliação, juizados itinerantes, juizados especiais em faculdades de direito, juizados especiais federais � Diversos serviços públicos de justiça e cidadania em um mesmo local � Judicialização da política (caso brasileiro) � Democracia restabelecida nos anos 1980 � Constituição de 1988 � Número cada vez maior de grupos de interesses organizados demandando solução de conflitos coletivos � Sistema político pouco majoritário (coalizões e partidos frágeis na sustentação de governo) � Oposição utiliza o Judiciário para contê-lo � Presença de valores de transformação social, de igualdade e de cidadania, entre juízes e membros do Ministério Público � No que diz respeito a suas funções de controle constitucional das leis, a crise judiciária é política � No que diz respeito a suas atribuições de justiça comum, a crise é funcional e de desempenho � Ao chegar a Presidência, o PT assume a causa da eficiência econômica e passa a olhar a questão da modernização jurídica não só sob o prisma da ampliação do acesso à Justiça para camadas desprotegidas da população, mas também como uma das principais instituições responsáveis por garantir a segurança jurídica de contratos e das relações econômicas do livre-mercado � Republicanização do Judiciário � Órgãos de controle externo (CNJ - 2004) � Medida antinepotismo � Fixação do teto salarial da magistratura � Adoção de medidas destinadas a aumentar a fiscalização e a transparência da Justiça
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