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Cenário da europa pré colonial

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O Cenário Europeu[2: Título também usado por Carlo M. Cipolla in: Canhões e Velas na Primeira Fase da Expansão Européia 1400-1700]
Welleson da Silva Bastos 
Realizar um debate sobre as cidades portuguesas e espanholas através de uma analise comparativa é o objetivo deste ensaio. Tentaremos elucidar algumas questões que julgamos ser interessantes para entendermos como que se deu a formação destas cidades, como que elas se organizaram e desenvolveram-se no processo de expansão e colonização da América.
Usaremos como base para esta discussão, a obra de Sergio Buarque de Holanda, no seu quarto capítulo. Isto não significa que não trabalharemos outros autores, pelo contrário, buscaremos dialogar o máximo que nos for possível com autores que pensam em conformidade ou de maneira oposta a de Buarque de Holanda. Assim poderemos alcançar o sucesso em nosso objetivo principal.[3: Considerado um dos maiores historiados brasileiros, que em 1936, publica sua obra mais importante: Raízes do Brasil. ][4: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil cap. 4: “O semeador e o Ladrilhador”.]
Não víamos outra maneira de começar a pensar o processo que culminou na descoberta das “Índias”, sem antes fazer uma analise do cenário da Europa em meados do sec. XV. Aonde uma série de acontecimentos importantes ocorreram e alavancaram o processo de expansão marítima no caso português e espanhol, que é o nosso foco.
A Itália que fora pioneira, na Europa, da utilização da pólvora e também do monopólio da navegação, no mediterrâneo, em nenhum momento buscou as Índias através de uma rota alternativa; talvez por considerar não muito importante para as elites Italianas. O caso da China Ming não é muito diferente. Alguns autores como Paul Kennedy, afirmam que as expedições – de caráter diplomático, cientifico e comercial - chinesas contava com cerca de 1.400 embarcações lideradas por Zheng He (Yeng Ye). Mesmo assim não buscaram realizar expedições além do pacífico com objetivo de conquista de novos territórios. [5: Flavio Ferreira: A cidades coloniais Espanholas e Brasileiras na América: uma abordagem comparativa. ][6: É um historiador britânico especializado em relações internacionais. ]
Para combater a expansão árabe, e dos impérios do oriente que ficaram conhecidos como da Pólvora, exemplo da China e Índia; na Europa, os reinos europeus deram inicio a uma política de unificação dos centros de poder – lembrando que a Europa era um continente fragmentado na esfera político-territorial, com diversos centros de poder (mapa 1 e 2) - aumento da procura por metais preciosos e desenvolvimento tecnológico. Este fenômeno dá-se, provavelmente, pela sua geografia. Na Europa havia poucas planícies onde cavalheiros poderiam dominar determinada população de maneira mais rápida, não havia grandes áreas de rios férteis e a grande diferença climática do sul em relação ao norte do continente era não muito menos importante. [7: Paul Kennedy, Ascensão e Queda das Grandes Potências, Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000 “o Milagre europeu” p. 26. ]
 [8: Mapa 1 Ilustrando a Europa do sec. XVI]
[9: Mapa 2 Idem]
	
A Europa estava um degrau abaixo das grandes potencias do oriente que já tinham uma estrutura política centralizada, organizada, um grande corpo de militares preparados para eventuais embates, grandes navios além de um poder bélico que estava muito além de qualquer “Estado” europeu. Segundo Paul Kennedy, o processo de unificação teve sucesso pelo fato de todas elas estarem muito equilibradas militarmente, o que impossibilitava a vitória de determinado líder local, mas sim, trazia a possibilidade de uma diminuição no índice demográfico – o que não era visto com bons olhos pois as sociedades estavam, ainda, se recuperando da peste negra que fez grade parte da população européia como vitima fatal. A única maneira de sair na dianteira dessa corrida pela hegemonia político-militar na Europa seria o desenvolvimento de uma alta tecnologia em armamento de fogo que só seria possível com descobrimento de zonas de abastecimento seja por metais preciosos ou mão de obra barata.[10: Paul Kennedy, Ascensão e Queda das Grandes Potências, Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000“o Milagre europeu” p. 29.]
No caso da união entre Espanha/Castela e Portugal/Aragão (1580-1640), houve uma divisão em Portugal que estava em desvantagem em relação à Espanha em diversos aspectos: tinha um território demasiado pequeno, sua população girava em torno de um milhão de pessoas, sua localização geográfica sem caminhos naturais para o interior da Europa ou o mediterrâneo, e um não desenvolvimento tecnológico, naval e bélico eram um destes fatores que colocava Portugal em condição de desvantagem em relação à Espanha que tinha uma população de cerca de oito milhões de pessoas, em decorrência do domínio árabe, já estava habituada à construção de cidades, tinha caminhos naturais que poderia levar, dependendo de seus interesses, à América, mediterrâneo e interior da Europa. Segundo Flavio Ferreira, em artigo sobre as cidades coloniais da Espanha e Portugal, no contexto Europeu a ultima tendia a ser um Estado arcaico enquanto o primeiro moderno.
Mesmo com essas diferenças, Portugal foi o primeiro Estado europeu a desvendar terras no oceano – Açores, Canárias e Cabo Verde - muito em conseqüência do grande investimento feito pelos nobres portugueses na navegação com a escola de Sagres, responsável pela formação de navegadores importantes como Vasco da Gama, Américo Vespúcio e Fernando de Magalhães. Até os dias atuais a tomada da dianteira de Portugal em relação às “potências” européias causa muita discussão e segundo J.H.Plumb, no livro de C.R. Boxer, este “é um dos maiores enigmas da história”; Adam Smith afirmava que “A descoberta da América e a da passagem para as Índias Orientais, através do cabo da boa Esperança, são os dois maiores e mais importantes acontecimentos de que há noticia na história da humanidade”. Muito provavelmente por não ter uma estrutura política organizada e condições econômicas favoráveis. Porém, em seu favor, Portugal tinha alguns aspectos naturais:[11: Historiador Britânico Doutor em estruturas sociais.][12: Historiador Britânico profundo conhecedor da história colonial Portuguesa e Holandesa.]
“Na realidade, Portugal tinha algumas vantagens naturais. Durante toda a sua existência, havia vivido do mar. A sua costa rochosa, batida pelo Atlântico, aonde vão desaguar os rios que nascem no interior montanhoso, tinha, desde sempre, sido a porta aberta para um mundo mais vasto, criando uma dura e hábil raça de marinheiros, que não se deixava atemorizar pelas tempestades do oceano. Desde remotos tempos, o comércio e o lucro foram marítimos e, com o Mediterrâneo dominado pelos Venezianos, Genoveses, Catalães e Árabes, o Atlântico era a única área vasta aberta aos Portugueses.” (J. H. Plumb, pag. 12-3)[13: J.M. Plumb Prólogo in: C.R. Boxer “O Império Marítimo Português 1415-1825” ]
Lembremos que processo de expansão marítima, no caso dos Países Ibéricos, foi impulsionado não apenas por questões político-territoriais mais também por questões religiosas. A colonização tanto na América Espanhola, quanto na Portuguesa tinham um peso religioso. Plumb, a respeito da participação da igreja no processo de expansão colonial diz que “essa combinação de cobiça e devoção tem sido sempre considerada a força motora principal não apenas dos Portugueses, mas também dos Espanhóis”. [14: Idem]
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
HOLANDA, Sergio Buarque de. O Semeador e o Ladrilhador in: Raízes do Brasil Ed.26, José Olympio, 1994
BOXER, Charles R. O império Marítimo Português 1415-1825 A Orla Ocidental da Cristandade. Introdução por PLUMB, J. H. Edições 70, 1969
KENNEDY, Paul. “O Milagre Europeu” in: Ascensão e Queda das Grandes Potências, Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000. Editora Campus, 1991.
CIPOLLA, Carlo M. Canhões e Velas na Primeira Fase da Expansão Européia1400-1700. Gradiva 1989.
FERREIRA, Flavio. Artigo: A cidades coloniais Espanholas e Brasileiras na América: uma abordagem comparativa. In: IV seminário de história da cidade e do urbanísmo, 1996, UFRJ.

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