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ARTIGO CLEO E ELIANE

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LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Cleonice Zuba Catoni*
Eliane Ferreira Gusmão*
RESUMO: O presente artigo propõe uma investigação acerca da Linguística Aplicada ao ensino da Língua Portuguesa, buscando fundamentação em alguns teóricos para abordar as competências da linguística no seu âmbito geral.
RESUMEN: El actual artículo considera una investigación referente a la linguística aplicada a la educación de la lengua portuguesa, buscando el decreto en algunos teóricos para acercar a las capacidades de la linguística en su alcance general.
PALAVRAS-CHAVE: Linguística Aplicada, Gramática, Competência comunicativa, aprendizagem.
Não se pode conceituar de primeira mão a Linguística Aplicada ao Ensino do Português, mas sim apresentar a realidade da sala de aula dos professores de Língua Portuguesa.
Partindo do pressuposto de que toda criança tem a capacidade inata, pode se afirmar que ela ao entrar na escola é capaz de entender e falar a Língua Portuguesa facilmente.
A aquisição da Língua Portuguesa ocorre nos primeiros anos de vida, de forma inconsciente, não sendo necessário que a criança faça exercícios para aprender a reconhecer a fala ou para aprender a falar, enquanto na fase adulta não há aquisição e sim aprendizagem, pois ocorre de forma consciente, uma vez que o indivíduo busca o seu auto-conhecimento (desenvolvimento linguístico).
A escola ensina o que significa a palavra e sua extensão; faz uso abusivo da força da linguagem a fim de transmitir o conhecimento necessário para que o indivíduo saiba distinguir o seu lugar na escola e na sociedade. 
Ensinar Português ultrapassa as barreiras de simplesmente conhecer a palavra: 
É mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o Português; quais os usos que tem, e como os alunos devem fazer para entenderem ao máximo, ou abrangendo metas específicas, esses usos nas suas modalidades escrita e oral... Cagliari(2002) p. 28. 
Para Cagliari (2002) p. 35, a Língua Portuguesa, como qualquer língua, tem o certo e o 
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*Acadêmicas do 6º período do curso de Letras Português/Espanhol do ISEMOC.
errado somente em relação à sua estrutura. Com relação ao seu uso pelas comunidades falantes, não existe o certo e o errado linguisticamente, mas sim variações lingüísticas.
Nos últimos anos a Lingüística passou por um grande processo de transformação, deixando os professores perplexos diante de toda teoria conhecida por eles até o momento, com isto alguns professores aceitaram a proposta e foram em busca de seus próprios conhecimentos, porém teve resistência por parte de outros professores, que ignoraram a Lingüística rotulando-a de “fogo de palha”, atribuindo a ela a causa do fracasso escolar, sem perceberem que, não cabia à Lingüística, a responsabilidade de ensinar, mas de apontar as vantagens e desvantagens de se trabalhar a linguagem. 
Na análise de alguns textos, percebe-se que o ensino da gramática é o maior desafio até o presente momento, levando em consideração que ele deve ser um modo que abrange, tanto a competência lingüística, como a competência comunicativa.
	 O professor de Língua Portuguesa deve tomar como base os PCN’S, porém voltar-se mais para a realidade concreta do aluno, orientando-o não somente nas questões que se referem à gramática ou ao conhecimento de uma língua, mas também desenvolver no aluno a capacidade de argumentação, criticidade e humanização do ser humano, já que nos PCN’S, no que refere ao ensino, a língua portuguesa é apresentada como uma área em mudança, pois tem se passado do excesso de regras e tradicionalismo típicos das escolas para um 
questionamento de regras e comportamentos lingüísticos. No que se costuma chamar de “ensino descontextualizado de metalinguagem” (p. 18), o texto é usado (quando o é) como pretexto para retirar exemplos de “bom uso” da língua, descontextualizados e fora da realidade do aluno, mostrando uma “teoria gramatical inconsistente”. Já a perspectiva mais crítica de ensino de língua apresenta a leitura e a produção de textos como a base para a formação do aluno, mostrando que a língua não é homogênea, mas um somatório de possibilidades condicionadas pelo uso e pela situação discursiva. Assim, o texto é visto como 
unidade de ensino e a diversidade de gêneros deve ser privilegiada na escola. É possível imaginar um ensino de língua portuguesa diferente do tradicional e que aplique as idéias propostas nos PCN’S. 
Em Travaglia (1996, 2003), discute-se o ensino de língua e apresenta-se a importância de o professor desenvolver a competência comunicativa dos alunos, em vez de meramente mostrar-lhes regras gramaticais. A língua, mais que teoria, é um “conjunto de conhecimentos lingüísticos que o usuário tem internalizados para uso efetivo em situações concretas de interação comunicativa” (2003:17) e só assim se pode conceber o ensino dessa disciplina.
Segundo TRAVÁGLIA (2004), a Lingüística é o veículo de transição de um conhecimento mais estruturado, abrangendo os campos da constituição da língua e sua estruturação apontando sua dimensão social e histórica. 
	Azeredo (2000) aponta a “importância assumida pela lingüística na formação do professor de língua e na elaboração do material e das estratégias de ensino” (p. 34) e ressalta a total ineficácia de políticas públicas de reestruturação do ensino que não busquem “engajar os professores no projeto de requalificação” (p. 35).
	O conhecimento lingüístico pode auxiliar o professor, já que, o mesmo poderá optar pela visão lingüística relativo à língua e sua estrutura, aumentando o contato dos alunos com a ciência lingüística.
	Por outro lado, a Lingüística Aplicada é o sinônimo dos estudos científicos voltados para a prática do ensino e aprendizagem de uma língua, visto que, ela está relacionada diretamente com o ensino e aprendizagem de línguas.
	A Lingüística Aplicada é totalmente independente da Lingüística, uma vez que a Lingüística é submissa aos seus princípios, ficando presa o tempo todo em suas teorias e impossibilitada de promover o crescimento de seus modelos e até mesmo de encontrar soluções para os problemas do uso da língua, enquanto a Lingüística Aplicada busca desenvolver seus modelos em suas próprias teorias, para resolver os problemas que venham a surgir na linguagem. A LA apóia-se na ciência social e humana, fortalecendo e ampliando os conhecimentos naturais da linguagem, com o propósito de desvendar os segredos da linguagem e a relação entre o falante/ouvinte e a sociedade na qual se encontra inserido.
	 Baseada nesta perspectiva, pode-se afirmar que a lingüística é uma ciência que se preocupa com as formas de comunicação, ou seja, a expressão da linguagem e os seus signos. 
Linguisticamente falando, nós professores de língua, devemos estar sempre nos atualizando em novas teorias e dinâmicas, expressando com ousadia e ao mesmo tempo com simplicidade a responsabilidade de ensinar a gramática em sua plenitude e por meio dela instigar a procura do conhecimento no âmbito geral. 
	De acordo com NÓBREGA, o que se ensina quando ensina Língua Portuguesa, é gramática, a qual não é ensinada com eficiência. Na tentativa de mudar essa realidade, procura-se realizar um diagnóstico da situação, buscando entrelaçar a gramática às práticas de leitura e produção de texto, pois, diante da diversidade de gêneros que circulamatualmente, o estímulo à produção textual e a aprendizagem da língua nos processos de refacção do texto tornam-se possíveis, e na perspectiva de que isto aconteça, a professora Maria José propõe algumas alternativas como: considerar a ortografia como porta de entrada para os estudos gramaticais, pois para ela, talvez seja a ortografia um dos aspectos relacionados aos padrões da escrita que mais discriminam seus usuários; explorar textos que se construam através do encadeamento sintático, de maneira que as estruturas no eixo paradigmático e sintagmático sejam visíveis a ponto de propiciar aoaluno a criação de textos semelhantes ao trabalhado; explorar a rede argumental do verbo a partir da inferência, analisando o conhecimento do aluno através da produção de textos, verificando o que ele já sabe e o que precisa aprender de acordo com a sua necessidade e realidade; tratar os aspectos morfossintáticos da língua a partir de categorias semânticas e pragmáticas, utilizando uma série de recursos da língua gradativamente com a finalidade de facilitar a compreensão do texto sem deixá-lo ambíguo; cortejar textos de modo a analisar o funcionamento discursivo das escolhas realizadas, enquanto os alunos vão enumerando as semelhanças e diferenças, o professor irá estimulá-los a pensar sobre os efeitos que ambas produzem para o sentido do texto, motivando-os assim a parafrasear e desenvolver aspectos relacionados à escrita; introduzir, nas atividades de compreensão e de interpretação de textos, questões que explorem efeitos de sentidos obtidos com escolhas realizadas; descrever as variedades menos prestigiadas da língua como forma de combater o preconceito lingüístico, mostrando que a língua que as gramáticas prescrevem não é a única correta, sendo assim, é preciso observar as marcas do lugar em que se fala, do tempo, características sociais de quem fala, particularidades da situação comunicativa, etc.
	Conclui-se, então, que o indivíduo precisa de sua aprendizagem em situações comunicativas diversas, assim como conhecer as diferenças entre a variedade que fala e um padrão para a língua escrita em um certo gênero e contexto enunciativo. O aluno necessita participar de situações comunicativas mais complexas para construir representações da fala e da escrita que mais se aproximem às da língua: “aprende-se a falar falando e, a escrever escrevendo, não memorizando regras”. Contudo, não se deve abolir o uso da gramática do cotidiano do indivíduo, pois ela regulamenta e formaliza a língua padrão, fazendo-o compreender qualquer tipo de texto, podendo ser considerada como base para que haja comunicação entre falantes da Língua Portuguesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
-AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos de Gramática do Português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000a.
___________. (ORG). Língua Portuguesa em debate, conhecimento e ensino. 2 edição. Editora Vozes, 2000b
- CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 10 ed. SP: Editora Scipione, 2002. Cap. 1.
- CELANI, M.A.A. Afinal o que é Lingüística Aplicada? In: PASCHOAL, Mara S. Z. ; CELANI, M.A.A. (ORG). Lingüística Aplicada: da aplicação da Linguística Aplicada: da aplicação da Linguística à Linguística Transdisciplinar. SP: Educ, 1992. P. 15-23.
- NÓBREGA, Maria José. Perspectivas para o trabalho com análise Linguística na escola. In: AZEREDO, José Carlos. (ORG). Língua Portuguesa em debate, conhecimento e ensino. 2 edição. Editora Vozes.
- PARÂMETROS curriculares nacionais – terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental MEC, 1998.
- PEREIRA, Maria Teresa Gonçalves. O professor de Língua Portuguesa: modos de ensinar e de apre(e)nder. In: AZEREDO, José Carlos. (ORG). Língua Portuguesa em debate, conhecimento e ensino. 2 edição. Editora Vozes.
- TRAVÁGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
______________. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.
- TRAVÁGLIA, Luiz Carlos. Linguística Aplicada ao ensino de língua materna. Revista virtual de estudos da linguagem ReVEL, Vol. 2 – número 2 - março de 2004 - ISSN 1678-8931.

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