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Existencialismo e Psicologia Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial. O que é EXISTENCIALISMO? “O Grito” (1893) Edvard Munch Noruega A Europa, durante os séculos XIX e XX, viveu diversos sentimentos de inquietação e caos, primeiramente diante da crise da subjetividade, que se expressa por meio do Romantismo nas artes, em conflitos e guerras. Toda essa inquetação diante do ser humano faz com que se questione e se aprofunde em suas questões mais profundas, tais como o sentido da vida, o sofrimento emocional e as angústias de existir. Essas condições históricas, materiais e subjetivas fazem germinar uma nova corrente de expressão literária e filosófica, o existencialismo. CONTEXTUALIZAÇÃO ● Início na Europa e Rússia entre o século XIX e início do séc. XX; ● Exploração da existência subjetiva, das emoções e singularidades; ● Temas como a liberdade, as escolhas, as dores e as angústias de existir. Alguns autores: ● Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Liev Tolstoi (1828-1910) ● Oscar Wilde (1854-1900), Hermann Hesse (1877-1962) ● Franz Kafka (1883-1924), Fernando Pessoa (1888-1935) ● Albert Camus (1913-1960), Clarice Lispector (1920-1977) ● Charles Bukowski (1920-1994), Jack Kerouac (1922-1969) EXISTENCIALISMO NA LITERATURA EXISTENCIALISMO NA FILOSOFIA ● É uma filosofia contemporânea, que reconhece e valoriza as diferenças individuais e a liberdade de ser, propondo um modo peculiar de compreender a existência. ● Trata-se de uma filosofia ética que questiona e reflete sobre o modo como cada indivíduo leva sua vida e lida com suas necessidades, em suas condições históricas, materiais e subjetivas; ● Questiona e contraria alguns conceitos tradicionais na filosofia, como: o racionalismo, a metafísica, o essencialismo, o determinismo, o idealismo, o positivismo, entre outros. EXISTENCIALISMO NA FILOSOFIA ● O existencialismo é, portanto, uma vertente filosófica ética contemporânea que contraria a concepção essencialista e metafísica sobre o ser humano, que reflete a existência humana em seus aspectos: concreto, singular, afetivo, temporal, livre, finito e histórico. CONCEPÇÃO DE SER HUMANO ● Concreto: a existência material, ao invés de uma essência ou ideal; ● Singular: olha para cada indivíduo, ao invés de generalizar concepções; ● Afetivo: não somos apenas seres racionais, mas também emocionais; ● Temporal: toda pessoa viveu um passado e se projeta para o futuro; ● Livre: todos somos livres para fazer escolhas em nossa vida; ● Finito: a vida um dia terá um fim e atravessamos momentos de finitude; ● Histórico: cada um se desenvolve de acordo com as condições históricas. ● Indeterminado: não há nada que nos determine antes de nossa existência; ● Vir-a-ser: estamos em constante transformação, num devir permanente; ● Sem sentido: não há um sentido dado para a vida e para a existência. ALGUNS FILÓSOFOS DA EXISTÊNCIA Pré-existencialistas: ● Arthur Schopenhauer (1788-1860), Max Stirner (1806-1856) ● Soren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Nietzsche (1844-1900) Existencialistas / Filósofos da Existência: ● Martin Buber (1878-1965), Martin Heidegger (1889-1976) ● Gabriel Marcel (1889-1973), Jean-Paul Sartre (1905-1980) ● Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Simone de Beauvoir (1908-1986) PRINCÍPIOS DO EXISTENCIALISMO Cada filósofo existencialista segue suas questões por um caminho específico, não há uma “unidade” na filosofia existencial, porém há alguns princípios comuns em praticamente todos os ditos “existencialistas”: ● Nossa existência é constituída em relação com o espaço e o tempo; ● Coexistem diversos modos de ser, somos livres para fazer escolhas; ● Somos responsáveis pelas escolhas que fazemos e por nossa existência; ● O mundo nos transforma e nós também o transformamos; ● Estamos em constante transformação interna, num constante vir-a-ser; ● Experimentamos a vida a partir dos afetos, de maneira pré-reflexiva; ● Não há um sentido dado para a vida, ele é continuamente criado. SÖREN KIERKEGAARD (Dinamarca, 1813-1855) SÖREN KIERKEGAARD Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855), foi filósofo, teólogo, poeta e crítico dinamarquês, é considerado o precursor do existencialismo. Priorizou a realidade humana concreta ao invés do pensamento abstrato, valorizando a escolha e o compromisso pessoal. Kierkegaard introduziu o termo existência no sentido como é usado na filosofia contemporânea, entendendo o ser humano não como um mero ser pensante, mas um ser que se emociona e se afeta perante a vida. Como crítico, se colocou contrário aos filósofos idealistas de seu tempo. KIERKEGAARD - FILOSOFIA ● Foco na existência concreta do indivíduo, ao invés de abstrações teóricas; ● A existência não pode ser explicada por conceitos ou esquemas abstratos; ● Um sistema abstrato não dá conta das diferenças entre os indivíduos; ● As generalizações fazem hipóteses, mas nada dizem sobre uma pessoa; ● Nos aproximamos da existência em sua expressão singular e concreta; ● Não há nenhuma predeterminação para o ser humano, sobre como cada um deve ser, não há um modelo único de como devemos viver a vida; ● Essa condição de indeterminação nos leva ao sentimento de angústia; ● Sentimos angústia diante das escolhas, pois escolher é sempre um risco. FRIEDRICH NIETZSCHE (Alemanha, 1844-1900) FRIEDRICH NIETZSCHE Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo, filólogo, poeta e crítico, nascido no Reino da Prússia, atual Alemanha. Questionou e criticou a filosofia e os valores da civilização ocidental, o idealismo, a metafísica, a moral, a dicotomia entre bem e o mal, o cristianismo e a ideia de verdade. É considerado como um autor "pré-existencialista". Grande parte de suas obras foram escritas em aforismos, fragmentos curtos que sintetizam muitas ideias e concepções. Isso fez com que sua filosofia fosse interpretada de diversas maneiras, inclusive contraditórias, uma questão que ele mesmo considera, pois segundo ele, "não há fatos, apenas interpretações". NIETZSCHE - FILOSOFIA ● Apolíneo e Dionisíaco: vivência entre as dicotomias: ordem e caos, razão e emoção, harmonia e desarmonia; ● Genealogia da Moral: análise sobre o desenvolvimento dos valores morais; ● Moral do Rebanho: moral de submissão, da obediência; ● Vontade de Potência: ampliar possibilidades existenciais; ● Além-do-homem: aceitar a existência em sua plenitude e em seu caos; ● Transmutação dos valores: criação de novos valores; ● Saúde e doença: o que é saudável para um pode ser doentio para outro. JEAN-PAUL SARTRE (França, 1905-1980) JEAN-PAUL SARTRE Jean-Paul Sartre (1905-1980), foi um filósofo, escritor e crítico francês. É um dos mais importantes representantes do existencialismo. Seu principal interesse, desde muito cedo, é o indivíduo e a psicologia. Ele desenvolveu sua concepção de existencialismo partindo da análise do ser humano enquanto fenômeno, histórico e social, utilizando elementos das filosofias de Kierkegaard, Nietzsche, Husserl e Heidegger. Sartre é o existencialista mais conhecido, pois se dedicou a sistematizar e divulgar essa filosofia, o que influenciou diversos movimentos sociais, como o feminismo, o movimento hippie e a contracultura. SARTRE - FILOSOFIA ● ”A existência precede a essência”; ● O homem está condenado a ser livre; ● Liberdade consiste em fazer escolhas; ● Não há como não fazer escolhas; ● A "não escolha" já é uma escolha; ● Somos eticamente responsáveis pelas escolhas que fazemos; ● Quando escolhemos, fazemos para nós e para toda a humanidade; ● Diferença entre as pessoas, os objetos e os animais (existência e essência); ● Engajamento e sentido da vida; ● Existencialismo como filosofia de ação. O que não é Existencialismo? O quese relaciona com o Existencialismo? Racionalismo Emoções Essencialista, Idealista, Metafísico Materialista, Singular e Concreto Pragmático, Científico Complexo, Fenomenológico Filosofia Moderna Filosofia Contemporânea Científico, Positivista, Objetivo Filosófico, Niilista, Subjetivo Ciência Exata Ciência Humana Perfeição Imperfeição Ser estático, Imutável Ser em transformação, vir-a-ser Determinista, Fatalista Contingente, Engajamento Dualismo: mente X corpo Monismo Ser fechado em si Ser aberto para experiências PSICOTERAPIA EXISTENCIAL PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA O termo Psicologia vem da junção de duas palavras gregas, psyché, que significa sopro ou alma, e logos, que significa estudo ou razão. Etimologicamente, psicologia seria o estudo ou a compreensão da alma. Atualmente, a psicologia é entendida como uma ciência que estuda as emoções, os comportamentos, os pensamentos, as atitudes, a aprendizagem, a memória, a linguagem, a subjetividade, o desenvolvimento humano, entre outras questões. Psicoterapia = psyché (alma) + therapia (cuidado) PSICOTERAPIA EXISTENCIAL ● Foco na existência singular e nos modos de ser de cada um; ● Reconhecer e valorizar os sentimentos; ● Buscar meios para lidar com as dificuldades que atravessamos; ● Promover a autonomia de cada indivíduo sobre sua vida; ● Potencializar as possibilidades de ser e de escolher seus modos de vida; ● Ampliar a percepção sobre si e o sobre o seu entorno; ● Encontrar e criar novos modos de ser no mundo. OBJETIVOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL ● Assumir a própria existência e projetar mais livremente no mundo; ● Compreender nossos sentimentos e encontrar meios de lidar com eles; ● Enfrentar as dificuldades, as tensões, os paradoxos e os desafios do existir; ● Se comunicar de maneira mais autêntica com os outros; ● Se relacionar de mais livremente consigo mesmo e com outros; ● Experienciar a vida no aqui e no agora, percebendo suas possibilidades; ● Promover uma abertura para novas experiências, internas e externas; ● Dar sentido para sua existência, partindo de suas experiências; ● Enfrentar o risco e a responsabilidade de suas escolhas. VALORES DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL ● Não há um padrão do que seja “saudável psiquicamente” para todos; ● O foco desta terapia não é diagnosticar uma “doença” e propor seu “tratamento”, mas compreender os diferentes modos de ser e de se relacionar de cada pessoa; ● A saúde emocional está relacionada com a percepção de si mesmo e com a ampliação de seu potencial de escolha; ● Cada pessoa é capaz de auto-gerir sua existência; ● Não é o psicoterapeuta que direciona o atendimento, mas a pessoa atendida que se revela a cada encontro e apresenta seu caminho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ● ANGERAMI, Valdemar. Psicoterapia Existencial. São Paulo: Pioneira. 1993. ● COLETTE, Jacques. Existencialismo, Porto Alegre: L&PM, 2009. ● ERTHAL, Tereza Cristina S. Terapia Vivencial: Uma abordagem existencial em psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1989. ● FIGUEIREDO, Luiz Cláudio; SANTI, Pedro Luiz. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2000. ● FONSECA, Afonso. História das Psicologias e Psicoterapias Fenomenológico Existenciais. Pedang: Maceió, 2006. ● FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. São Paulo: Difel, 1975. ● PENHA, João da. O que é Existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2014. ● REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 1 ed. Vozes: Rio de Janeiro, 2013. ● SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Petrópolis: Vozes, 2014. EX-ISTO Ex-isto é um espaço online destinado ao estudo, pesquisa e divulgação do existencialismo e sua relação com a psicologia, filosofia, psicoterapia, fenomenologia, literatura e artes. Tem o intuito de compartilhar conteúdos que possibilitem uma compreensão sobre os temas existenciais, por meio de uma linguagem acessível e didática, possibilitando reflexões sobre a existência humana e suas possibilidades. Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, especializado em psicoterapia fenomenológico existencial e arteterapia. ex-isto existencialismo, psicologia e filosofia www.ex-isto.site www.fb.com/existosendo www.youtube.com/existo
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