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www.cers.com.br OAB XI EXAME – 1º FASE Direito Civil Cristiano Sobral 1 CONTRATOS EM ESPÉCIE Por Cristiano Sobral 1. Compra e Venda (arts. 481 a 532 do CC) 1.1. Conceito A definição do contrato de compra e venda está conceituada de maneira clara e objetiva no artigo 481 do Código Civil: Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 1.2. Natureza jurídica a) Contrato bilateral ou sinalagmático – proporciona, reciprocamente, obrigações para ambas as partes. b) Contrato oneroso – gera repercussão econômica com a sua elaboração para ambas as partes. c) Contratos aleatórios ou comutativos – regra geral, os contratos são comutativos em razão das prestações serem certas. No entanto, a possibilidade de risco não está completamente excluída. d) Contrato consensual – nasce do consenso entre as partes, uma delas será responsável em aceitar o preço e a outra a contraprestação. e) Contrato formal ou informal – a compra e venda de bens imóveis com valor superior a trinta salários mínimos federais deverá ser sempre por escritura pública. Todavia, se inferior, a mesma poderá ser feita por instrumento particular. f) Contrato instantâneo ou de longa duração – o instantâneo se consumará com a prática do ato, o de longa duração, necessita de tempo para se exaurir. g) Contrato paritário ou de adesão – será paritário quando as partes estiverem em pé de igualdade; já o contrato de adesão ocorre assim que uma das partes estipula as cláusulas e a outra terá somente como escolha a aceitação das mesmas. 1.3. Elementos constitutivos a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a legitimação (aptidão específica). b) Coisa: deve ser disponível para sua comercialização dentro do mercado. O objeto tem de ser lícito e determinado ou determinável. Segundo previsão do artigo 483 do Código Civil, o objeto do contrato para ser negociado no mercado poderá também ser futuro. c) Preço: justo, certo, determinado e em moeda corrente, de acordo com o artigo 315 do Código Civil. Tal elemento possui ainda algumas regras especiais: c.1) preço por avaliação – art. 485 do Código Civil; c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa – art. 486 do Código Civil; c.3) preço por cotação – art. 487 do Código Civil; c.4) preço tabelado e médio – art. 488 do Código Civil; c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil. 1.4. As despesas e riscos do contrato Salvo cláusula em contrário, as despesas de escritura e o registro ficarão sob a responsabilidade do comprador, e as da tradição, a cargo do vendedor. E quanto aos riscos? Até o momento da tradição, os riscos da coisa cabem por obrigação ao vendedor, e os do preço, ao comprador. Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já foram postas à disposição do comprador, correrão por conta deste. Compete também ao comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, logo que ordenadas no tempo, lugar e pelo modo ajustados. Essa é a previsão www.cers.com.br OAB XI EXAME – 1º FASE Direito Civil Cristiano Sobral 2 legal. 1.5. Restrições à compra e venda a) Venda de ascendente para descendente – prevê o diploma civil: art. 496. Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Conforme previsto, a lei destaca a anulabilidade, mas em quanto tem tempo? Deve ser ressaltado o prazo estipulado no artigo 179 da Lei Civil, afastando a Súmula n. 494 do STF. b) Venda de bens sob administração – é proibida pelo artigo 497 do Código Civil. Nesse caso, destaca-se a nulidade! c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499: Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.” d) Venda de parte indivisa em condomínio – não pode um condômino de coisa indivisível vender a sua parte a terceiros sem notificar o outro proprietário da res. O artigo 504 da Lei Civil salienta a observância do direito de preferência. 1.6. Regras especiais da compra e venda a) Venda por amostra, por protótipos ou por modelos – se a venda ocorrer dessa forma, o vendedor assegurará ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. Essa é a regra do artigo 484 da norma civilista. b) Venda a contento e sujeita à prova – entende-se que é aquela realizada sob condição suspensiva, ainda que tenha recebido a coisa. Aquele que recebe a coisa será considerado como comodatário. Assim, em caso de descumprimento da mesma, poderá o alienante propor ação para recuperar a posse. Observe os artigos 509 a 512 do CC/2002. c) Venda ad mensuram e ad corpus – a ad mensuram (art. 500, caput) é aquela em que o preço do bem é medido pela área. Em caso de descumprimento da mesma, prevê a lei a possibilidade de algumas ações. Quais são elas? Ação ex empto (complementação da área), Ação Redibitória (extinguir o negócio), Ação Estimatória ou Quanti Minoris (abatimento). Essas ações têm o prazo de um ano decadencial, consoante previsão do artigo 501. Na venda ad corpus (art. 500, § 3º), as metragens e a área são apenas para localizar o bem, mas não influenciam no preço. Nessa venda não são cabíveis as Ações retromencionadas. 1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos a) Retrovenda ou cláusula de resgate – por meio dos arts. 505 a 508 da Lei Civil, podem ser observados esse pacto acessório. A mesma recai sobre bens imóveis e o prazo máximo para o retrato será de três anos. Não se trata de cláusula personalíssima, pois a mesma é cessível e transmissível a herdeiros e legatários. b) Cláusula de preempção, preferência ou prelação – Os artigos 513 a 520 do CC estabelecem esse pacto adjeto que poderá recair sobre bens móveis e imóveis. O prazo para o exercício do pacto não poderá exceder a cento e oitenta dias para os bens móveis e dois anos para os imóveis. Uma vez pactuado a cláusula e inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se exercendo nos sessenta dias subsequentes à data em que o comprador tiver notificado o vendedor. Tal direito é personalíssimo, pois não se pode ceder nem passa aos herdeiros. c) Cláusula de venda com reserva de domínio – a previsão encontra-se nos artigos521 a 528 do CC. Recai sobre bens móveis e será estipulada por escrito, dependendo de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros. O comprador do bem só alcançará a propriedade depois de pagas todas as parcelas. Uma vez descumprida a mesma e www.cers.com.br OAB XI EXAME – 1º FASE Direito Civil Cristiano Sobral 3 constituído o comprador em mora, poderá o vendedor propor ação de cobrança ou busca e apreensão para recuperar a posse do bem. d) Venda sobre documentos ou trustreceipt – por intermédio dos artigos 529 ao 532, verifica- se a venda em que a tradição da coisa é substituída pela entrega de um título que a representa. 6. EMPRÉSTIMO 6.1. Aspectos gerais Esse tipo de contrato abrange tanto o comodato como o mútuo. Ambos os institutos se assemelham por terem como objeto a entrega da coisa para ser usada e restituída ao dono originário ao finaldo negócio estabelecido. Diferenciam-se em razão da natureza da coisa emprestada, pois se o bem for fungível o contrato será de mútuo e, se o mesmo for infungível, comodato. 6.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DE USO) (arts. 579 a 585 do CC) 6.2.1. Conceito A melhor definição está expressa no artigo 579 do CC: Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. 6.2.2. Natureza jurídica a) Real – se perfaz com a tradição do bem infungível. b) Gratuito – como disposto acima, ainda que o comodatário efetue o pagamento dos encargos de comodato (p. ex., condomínio, IPTU, dentre outros), este contrato é considerado gratuito. c) Informal e não solene – não possui formalidade prevista em lei. d) Unilateral – confere obrigações somente ao comodatário. e) Personalíssimo – extingue-se com a morte do comodatário. f) Fiduciário – como o próprio nome diz, é baseado na confiança entre o comodante e comodatário. 6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato Em regra, todos os bens imóveis/móveis são passíveis de ser objeto de contrato de comodato, no entanto, excepcionalmente a lei dispõe que não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à guarda dos tutores, curadores e todos os administradores de bens alheios, em geral. 6.2.4. Prazo determinado e indeterminado Nos casos pactuados por prazo determinado, não poderá o comodante suspender o uso e gozo da coisa emprestada antes de findo o prazo convencional, salvo se houver uma urgente necessidade reconhecida pelo juiz. O comodato poderá não ter prazo convencionado, e nesse caso se presumirá o prazo através da necessidade da utilização da coisa. 6.2.5. Obrigações do comodatário e o chamado aluguel-pena O comodatário tem como obrigação conservar o imóvel como se seu fosse, não podendo usá-lo em desacordo com o contrato ou a sua natureza, sob pena de responder por perdas e danos. Este será notificado para que dessa forma seja constituído em mora, respondendo tanto pelo atraso quanto também pelos alugueres da coisa que forem arbitrados pelo comodante até a efetiva entrega das chaves, caracterizando, nesse caso, uma espécie de cláusula penal típica do contrato de comodato. 6.2.6. Responsabilidade do comodatário Em situação de eminente risco da perda dos bens do comodante e do comodatário, e, www.cers.com.br OAB XI EXAME – 1º FASE Direito Civil Cristiano Sobral 4 este último, tendo somente como salvaguardar os seus pertences abandonando os do comodante, deverá ser responsabilizado pelo dano ocorrido, ainda que se trate de caso fortuito ou força maior. Vale enfatizar, que mesmo nestes casos, não será suprimida a culpa do comodatário que pretere a coisa alheia emprestada em prol de seus pertences. 6.2.7. Despesas do contrato Não é possível o comodatário recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada. 6.2.8. A solidariedade no contrato Só é possível a existência da solidariedade no contrato de comodato no caso de duas ou mais pessoas serem, simultaneamente, comodatárias da mesma coisa, ficando solidariamente responsáveis para com o comodante. 6.3. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DE CONSUMO) (arts. 586 a 592 do CC) 6.3.1. Conceito O conceito do contrato de mútuo está previsto no artigo 586 do Código Civil: Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. 6.3.2. Natureza jurídica a) Unilateral – gera obrigações somente para uma das partes, neste caso, o mutuário. b) Gratuito – só traz ônus para o mutuante; o mutuário irá devolver sem ônus. Excepcionalmente esta modalidade contratual será onerosa, nas situações de mútuo feneratício ou, como é popularmente conhecido, empréstimo em dinheiro. c) Informal e não solene – por inexistir previsão legal sobre a forma de celebração, podendo ser feito por instrumento particular. d) Real – se concretiza com a entrega do bem fungível. 6.3.3. A transferência da coisa Este contrato se caracteriza pela transferência do domínio da coisa emprestada ao mutuário, que assume todos os riscos do bem fungível desde a tradição. 6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor O mútuo realizado por menor de idade, quando não autorizado por seus responsáveis legais, isto é, aqueles que possuem a sua guarda, não poderá ser reivindicado, nem pelo menor nem tampouco por quem possui a sua guarda. Todavia, essa regra possui 5 exceções: a) se o representante legal do menor posteriormente ratificar a necessidade do mútuo; b) se o menor se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais em razão da ausência de seu representante legal; c) se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho, observando-se que a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; d) se o empréstimo reverteu em benefício do menor; e) se o menor obteve o empréstimo maliciosamente. 6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio non adimplenti contractus Verificando o mutuante que o mutuário poderá inadimplir com o mesmo o contrato firmado, poderá este exigir a garantia legal, podendo ser ela real ou fidejussória, com o objetivo de buscar maior segurança jurídica. Contudo, mesmo adimplindo o contrato, se o mutuário não cumprir com seu mister, a dívida www.cers.com.br OAB XI EXAME – 1º FASE Direito Civil Cristiano Sobral 5 vencerá antecipadamente ante a exceptio non rite adimpleti contractus, como disposto no artigo 477 do Código Civil. 6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e a limitação de juros Versa sobre o mútuo destinado a fins econômicos, cujos juros cobrados presumir-se- ão devidos, podendo até chegar ao limite previsto no artigo 406 do Código Civil, sob pena de redução. Segundo entendimento do STJ, os contratos bancários, que não foram regulamentados pela legislação específica, poderão possuir juros moratórios no limite de 1% para se convencionar. Além disso, a simples estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não traz indícios de abusividade. O STF ainda entende que a Lei de Usura (DL n. 22.626/33) não é aplicável às instituições bancárias (Súmula n. 596 do STF). 6.3.7. Prazo para a realização do pagamento do mútuo Inexistindo convenção entre as partes, o mútuo será devido: a) se for de produtos agrícolas, até a próxima colheita quando já estiverem prontos para o consumo ou para a semeadura; b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro; c) se for de qualquer outra coisa fungível sempre que declarar o mutuante.
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