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Alienação Parental

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ALIENAÇÃO PARENTAL: Um abuso invisível.
“Das muitas coisas
Do meu tempo de criança 
Guardo vivo na lembrança 
O aconchego de meu lar 
No fim da tarde 
Quando tudo se aquietava 
A família se ajeitava 
Lá no alpendre a conversar 
Meus pais não tinham 
Nem escola, nem dinheiro 
Todo dia, o ano inteiro 
Trabalhavam sem parar 
Faltava tudo 
Mas a gente nem ligava 
O importante não faltava 
Seu sorriso, seu olhar 
Eu tantas vezes 
Vi meu pai chegar cansado 
Mas aquilo era sagrado 
Um por um ele afagava 
E perguntava 
Quem fizera estripulia 
E mamãe nos defendia 
Tudo aos poucos se ajeitava 
O sol se punha 
A viola alguém trazia 
Todo mundo então pedia 
Pro papai cantar com a gente 
Desafinado 
Meio rouco e voz cansada 
Ele cantava mil toadas 
Seu olhar ao sol poente 
Passou o tempo 
Hoje eu vejo a maravilha 
De se ter uma família 
Quanto muitos não a têm
Agora falam 
Do desquite ou do divórcio 
O amor virou consórcio 
Compromisso de ninguém 
E há tantos filhos 
Que bem mais do que um palácio 
Gostariam de um abraço 
E do carinho entre seus pais 
Se os pais amassem 
O divórcio não viria 
Chamam a isso de utopia 
Eu a isso chamo paz”.(Padre Zezinho)
INTRODUÇÃO
A organização familiar, em seu longo processo de evolução teve, entre suas transformações mais significativas, aquela concernente à igualdade de condições entre os casais para o exercício legítimo do poder familiar. Esse poder, também entendido como autoridade parental, assim como a própria entidade familiar, passou por uma série de mudanças para que, enfim, pudesse ser desempenhado visando a, realmente, proteger e garantir os interesses e direitos dos filhos menores. 
No ordenamento jurídico pátrio, o instituto do poder familiar é considerado como o conjunto de obrigações e deveres inerentes aos genitores para com seus filhos comuns, assegurando o bem-estar dos mesmos. Como a criança e o adolescente, com a evolução de toda a sociedade, foram elevados ao patamar de sujeitos de direito, estes precisam de cuidados especiais que garantam seu desenvolvimento sadio e, para tanto, são responsáveis o Estado, a família e a sociedade. 
Hodiernamente, com o princípio da afetividade sendo o alicerce das relações familiares, em detrimento das frequentes dissoluções dos vínculos conjugais que, em vários casos, se processam de maneira litigiosa gerando conflitos e desgastes entre os ex-companheiros, os filhos menores acabam sendo utilizados como um instrumento de vingança, de agressividade, na esfera judicial e familiar. Quando um dos cônjuges não consegue aceitar a separação, e, inconformado com sua nova situação, ao perceber o interesse do outro genitor em manter o relacionamento com a criança, desencadeia uma série de processos que visam à destruição, o descrédito e a desmoralização do mesmo, que, no entanto, possui o pleno direito de preservar a relação familiar, baseada no afeto, carinho e amor com seu filho. A esse processo ao qual é utilizada a criança como um objeto de retaliação pela separação do casal dá-se o nome de Alienação Parental.
ALIENAÇÃO PARENTAL
Embora relativamente novo, vem ganhando amplo destaque no direito de família e, como consequência, em todo o ambiente jurídico, de maneira a buscar orientar e alertar sobre este fenômeno que configura mais uma forma de abuso dirigida à criança e ao adolescente.
As consequências psicológicas para as crianças e adolescentes vítimas desse fenômeno o psiquiatra norte-americano Richard A. Gardner chamou de Síndrome da Alienação Parental (SAP). Observa-se que a mesma viola do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e do Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente, pois se trata de um abuso emocional e de um jogo psicológico que os deixa desprotegidos, podendo-lhes causar graves transtornos psíquicos quando adultos. 
Observando a frequência desses casos na sociedade brasileira, começou a surgir a necessidade de que fosse criada uma Lei que protegesse principalmente a criança vítima de tamanha tortura psicológica. A partir disso, no Brasil, a Síndrome da Alienação Parental ficou conhecida após a criação da Lei de nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, que passou a reprimir a Alienação Parental que ocorria nas relações entre pais e filhos, buscando não afetar o desenvolvimento psicológico da criança que passa por um divórcio, separação e inimizade de seus pais. A própria Lei 12.318/2010 conceitua de forma autoexplicativa, em seu artigo segundo, o que vem ser a Alienação Parental, que além de basear-se nos princípios constitucionais citados, também observou o Código Civil vigente e o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
“Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. ”
Assim, a Lei trouxe o conceito de Alienação Parental, alertando para comportamentos típicos do alienador, para os meios de provas utilizados, para a importância de uma perícia criteriosa e, principalmente, dispôs sobre medidas coercitivas aplicáveis aos casos concretos. Seu objetivo maior é proteger crianças e adolescentes expostos à Alienação Parental para que cada vez menos as separações gerem esse tipo de problema.
Esclarece-se que Alienação parental não é um ato exclusivo dos genitores, é mais abrangente, podendo ser concebidas práticas efetivadas por todos aqueles que têm convívio com a criança e ao adolescente. A conduta do alienador tem como um único objetivo destruir de vez os vínculos da criança/adolescente com um dos genitores, assim utilizando sua autoridade para este feito, por sua vez mexendo com o psicológico desse (criança ou adolescente), sem perceber ou não querendo avaliar o mal que está conduzindo ao menor, só se importando com o quanto consegue atingir o outro genitor.
FORMAS DE ALIENAÇÃO 
	São formas exemplificativas de Alienação Parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade.
II - Dificultar o exercício da Autoridade Parental.
III - Dificultar contato de criança ou adolescente com genitor.
IV - Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar.
V - Omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, medicas e alterações de endereço.
VI - Apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente.
VII - Mudar o domicílio para o local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste, ou avós.
CONSEQUÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL
A prática da Alienação Parental acarreta várias consequências nocivas ao desenvolvimento dos filhos, dentre elas a falta de contato com o genitor, figura esta que é bastante importante para o desenvolvimento saudável da criança. Essa falta de contato gera primeiramente uma saudade, que futuramente pode chegar a uma depressão, pode haver a diminuição no rendimento escolar, a criança poderá se tornar agressiva, ansiosa, possuir transtornos de personalidade, e futuramente ter tendências ao alcoolismo, ao uso de drogas, ou até mesmo ao suicídio, também pode não querer construir uma família, dentre outros males. 
A Alienação Parental afeta mais os meninos, pois são quem mais sofrem com a ausência paterna, em idade que varia entre oito e 11 anos. Crianças mais velhas tendem a opor maior resistência à pressão do genitor alienante, jáque têm um pouco mais de independência e de vontade própria. 
Abusadas emocionalmente pelo guardião, passam por sucessivas fases que culminam no desapego total com o progenitor ausente, substituindo todos os sentimentos que tinham da época que conviveram pelos que detém a guarda. Este desapego vai gerar na criança o sentimento de desamparo, as tais crianças, desamparadas e só, restará um só grito de solidão, que não é ouvido, mas que retorna na forma de sintomas, afinal sua individualidade, subjetividade e desejo são deixados de lado pelo genitor alienador, deslocando para o corpo em forma de doença tais aflições.
Quando o filho descobre que foi vitima de Alienação Parental por parte de um dos pais, ele pode vir a nutrir e transferir o ódio e a raiva que ele sentia pelo genitor-alienado, para o alienante, como também pode manifestar judicialmente sua vontade de ir à procura do outro genitor como meio de tentar resgatar o vínculo perdido durante a sua vida.
Isso tudo ocorre não por motivos justos e sim por motivos totalmente desnecessários, chegando até mesmo a serem fúteis, pois o agente alienante geralmente pratica a alienação parental pelo fato de não superar o fim do seu relacionamento conjugal, sendo esta a única solução ou meio para tentar prejudicar o outro.
A psicologia Jurídica, se utilizando da Psicanálise, pode surgir neste contexto para intervir no bem psíquico, moral e social da criança. Uma dessas intervenções pode ser o acompanhamento de visitas, poder dar à criança a oportunidade de construir sua história familiar. Mas muitas vezes isso não acontece, pois geralmente quem tem a guarda não vê a criança como sujeito desejante.
O conflito envolvendo a mudança de guarda, ou seja, com crianças e adolescentes, é o que mais requer atenção do Judiciário, pois precisa de muitos cuidados e uma decisão errada pode causar grandes transtornos, justamente pela idade dos envolvidos e os procedimentos que ocorrem. 
Casais que chegam aos litígios da Vara de Família e Sucessões, não tentam resolver seus conflitos da melhor maneira possível sem prejudicar a criança. Isso é muito difícil justamente porque estão sobre forte pressão emocional. Alguns conflitos existentes e importantes nas questões de separações judiciais e divórcios ocorrem também nos recursos, prolongando o conflito nas disputas das guardas e a carga emocional por que sofrem os genitores e, principalmente, os menores. Como se sabe, as varas de família e sucessões são consideradas primeira instância e os processos são julgados por um juiz ordinário. Portanto, qualquer das partes que se sentir insatisfeita com a sentença proferida pelo juiz poderá interpor o recurso pertinente.
A busca para soluções dos conflitos trazidos ao Judiciário irá ampliar o trabalho do psicólogo judiciário, para verificar fatos e ajudar a resolver os problemas com o seu laudo, tratando a família como sistema, verificando a maneira de sua estruturação e como os seus membros se relacionam. 
É importante ter sempre em mente que a justiça e o Poder Judiciário em si priorizam sempre o interesse e o bem estar da criança, sendo certo que a psicanálise vem contribuindo em muito e em vários aspectos com a psicologia jurídica para que esse fim seja atingido, possibilitando que o direito possa agir em conjunto com a psicologia para amenizar os efeitos emocionais que um divórcio e uma guarda podem causar nos menores, auferindo, inclusive, a verdadeira realidade fática na qual a família se insere, notadamente por meio dos laudos psicossociais, para que seja obtida uma tutela jurisdicional justa e correta.
MEDIDAS APLICÁVEIS
	Caracterizados atos típicos de Alienação Parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com o genitor, sem prejuízo da responsabilidade civil ou criminal, segundo a gravidade do caso, poderá o juiz:
I - Declarar a ocorrência de Alienação Parental e advertir o alienador;
II - Ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - Estipular multa ao alienador;
IV - Determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - Determinar a alteração da guarda para a guarda compartilhada ou sua inversão;
VI- Determinar fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII - Declarar suspensão da Autoridade Parental.
GUARDA COMPARTILHADA
Não se pode olvidar que a guarda compartilhada surgiu no sistema jurídico brasileiro como uma esperança de impedir o distanciamento entre os filhos e o genitor não guardião, mesmo nos casos em que o guardião não é um alienador. De fato, nos casos em que os pais se entendem bem, independentemente do fim do relacionamento, a intervenção judicial é prescindível, pois a guarda compartilhada ocorre normalmente. 
O artigo 6º, inciso V, da Lei nº 12.318/2010 prevê que caso seja constatada a Alienação Parental ou qualquer forma utilizada, o Juiz poderá determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada.
A guarda compartilhada faz com que o pai e mãe exerçam o poder familiar, promove a continuidade do direito de convivência com o filho e assim, preserva o melhor interesse da criança ou do adolescente. Convém ressaltar que após a separação ou divórcio, o vínculo parental deve continuar. Desse modo, evita-se o surgimento de atos como a Alienação Parental e como o abandono afetivo, ocorrido pelo distanciamento entre o genitor e sua prole. Trazendo muito mais benefícios para os filhos do que o modelo de guarda unilateral, haja vista que mantém o contato regular com os genitores e os mesmos exercem a responsabilização conjunta, possuindo direitos e deveres iguais. Ademais, os danos psicológicos causados ao menor após a ruptura familiar é amenizado pela escolha do tipo de guarda compartilhada, pois, a criança irá conviver regularmente tanto com a mãe como o pai e desse modo, não sentirá tanta diferença. Em contrapartida, a unilateral faz com que o menor seja privado da convivência diária com os genitores.
Mais uma vantagem da referida guarda é que a mesma se ajusta nos dias atuais, em que a estrutura familiar encontra-se diferente, ou seja, as mulheres estão mais fora de casa, inseridas no mercado de trabalho e o homem mais participativo nas tarefas domésticas. Sendo assim, atualmente fica mais fácil compartilhar a guarda entre os pais do que antigamente em que prevalecia a guarda unilateral, tendo em vista que a mulher na grande maioria dos casos preocupava-se apenas com as atividades do lar.
Ademais, convém esclarecer que para a escolha do modelo de guarda compartilhada e para a efetiva participação dos genitores na criação e na educação do filho é indispensável o mínimo de compatibilidade entre eles, ou seja, um mínimo de bom senso e respeito. Assim, deve-se observar sempre o melhor para a criança ou adolescente, ou seja, preservar a sua integridade física e psicológica e deixar de lado qualquer desavença, rancor ou sentimento de vingança.
Importante ressaltar que nesse modelo de guarda, um dos genitores terá a guarda física, ou seja, é necessária a existência de um domicilio único para criança ou adolescente, porém, a guarda jurídica será exercida por ambos os genitores. Desse modo, competirá tanto a mãe como ao pai o exercício do poder familiar, ou seja, a participação, a interferência de ambos na educação e na criação do filho.
Ademais, o que deve observar tanto na guarda compartilhada ou qualquer outra espécie de guarda, é o bem estar do menor. Sendo assim, a Constituição Federal de 1988 contribuiu e muito para a alteração da condição da criança e do adolescente. 
A Lei nº 12.318/2010 prioriza a escolha da guarda compartilhada em casos de atos de alienação parental por entender que é a melhor maneira de manter o vínculo afetivo saudável entre a criança e os seus genitores após o rompimento da família, como também o exercício conjunto do poder familiar.
CONCLUSÃO
A família é o local onde se dá a construção individual da felicidade, onde o ser humano pode desenvolver suas potencialidadese caminhar com segurança para o seu futuro. Deve ser um ambiente determinado pelas harmonia, afeto e proteção, onde haja uma relação de confiança e bem-estar.
Desse modo, os pais não devem permitir que seus filhos se envolvam nos conflitos dos adultos e tampouco puní-los, com a privação do contato com seu outro genitor e demais parentes.
É importante ter em mente que, estamos formando pessoas que, quando adultas deverão agir com ética e, para isso é necessário que se invista na construção de uma família fortalecida pelo amor, compreensão e valores, independentemente, do formato que essa família possa vir a ter.
Torna-se visível que é na infância e na juventude que a criança e o adolescente definem quem é a autoridade em sua vida, e em quem devem confiar e respeitar. O afastamento de um dos genitores, neste momento, poderá trazer consequências, talvez irreversíveis, para o filho e para o genitor afastado. Diante da presença da Alienação Parental pode acontecer a Síndrome da Alienação Parental; tal situação não pode merecer a aprovação da justiça.
O estudo do tema em sua delimitação, ressaltando seus aspectos jurídicos, é relevante porque há enorme resistência dos operadores do direito em reconhecer a existência da Síndrome de Alienação Parental. Os efeitos devastadores da SAP, causados nas crianças e adolescentes, ensejam, urgentemente, sua maior consideração, estudo e divulgação em todas as áreas do conhecimento, principalmente no Direito.
O Estatuto da Criança e do Adolescente afirma que cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe Inter profissional, destinada a assessorar a Justiça de Infância e da Juventude. Ainda, trata o Estatuto de estabelecer, no art. 151, os objetivos dessa equipe Inter profissional: prestar atendimento de orientação e encaminhamento às pessoas e famílias que acorrem ao Judiciário, e auxiliar o juiz na aplicação e administração da justiça. A função do profissional psicólogo, que integra esse grupo de profissionais, junto com o assistente social, promotor público e juiz do direito, consiste em interpretar a comunicação inconsciente que ocorre na dinâmica familiar e pessoal, em processos jurídicos que envolvem: separação (consensual ou litigiosa), divórcio (consensual ou litigioso), modificação da guarda, tutela, curatela, pensão alimentícia, vitimização em qualquer de suas formas (física, sexual, psicológica), perda ou suspensão do poder familiar, entre outras.
*O dia 25 de Abril é o dia internacional da conscientização sobre a Alienação Parental.
Fontes:
- www.ibdfam.org.br ,
- www.pucrs.com.br,
- www.jus.com.br, 
- Cartilha Alienação Parental – do Poder Judiciário do Mato Grosso do Sul

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