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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
PROFESSOR: Cesar Augusto Ornellas Ramos
AULA 01 - Introdução à História do Direito
O Direito dos povos ágrafos ( sem escrita )
1. Definição do termo “ Direito” :
 Os antigos romanos definiram o Direito ( do latim “DIS” ( muito ) + “ RECTUM ” ( reto, justo, certo ) como 
sendo o estabelecimento de padrões, de um conjunto de normas para a aplicação da justiça, minimizando os 
conflitos, regulamentando as relações humanas numa determinada sociedade.Segundo o jurisconsulto romano 
Ulpiano, o Direito era “ a arte do bom e do eqüitativo, separando o justo do injusto, o lícito do ilícito.”
2. História do Direito:
A História do Direito se inscreve no contexto dos estudos históricos fundamentais para o entendimento de 
questões e dilemas presentes nas sociedades contemporâneas. A História, ciência humana compreendida 
enquanto processo dinâmico, com avanços e retrocessos, em permanente construção, nos apresenta a 
oportunidade de refletir criticamente sobre a trajetória do Direito, no decorrer do surgimento, consolidação e 
declínio de inúmeras formações sociais, tanto do ponto de vista circunstancial como no âmbito contextual. O 
estudo sistemático das tradições históricas, bem como dos ordenamentos jurídicos surgidos em diferentes 
sociedades, além de seus respectivos legados ao Direito contemporâneo, constituem os fundamentos da 
História do Direito.
3. Do nomadismo ao processo de sedentarização:
 De acordo com o historiador Ciro Flamarion S.Cardoso ( 2006 ), o nomadismo foi caracterizado como 
sendo o modo de vida dos grupos humanos sem fixação territorial, mas detentores de referências de 
identidade comunitária e de características culturais comuns. Tais grupos, desde a Pré-História, eram 
constituídos por caçadores-coletores que vagavam de uma região para outra, em busca de água e de 
melhores condições de alimentação, pois desconheciam, de modo geral, a agricultura.Com o passar do tempo, 
por volta de 10.000 a.C., as necessidades alimentares forçaram as populações nômades a buscar alternativas 
agrícolas para a sua subsistência, resultando num longo processo de sedentarização, pois, entre o plantio e a 
colheita de gêneros, tais grupos foram se fixando nas imediações de vales férteis, construindo casas, criando 
animais. Surgiam os primeiros aglomerados sedentários: os povoados, dependentes não mais da caça e da 
coleta, mas sim da agricultura e da criação de animais para corte e obtenção de leite.
4. Sociedades tribais:
 Como resultado do processo de sedentarização, as sociedades humanas se tornaram mais complexas. As 
relações sociais se definiam pelo parentesco e pela manutenção da ordem interna da comunidade. Por volta 
de 6.000 a.C. começaram a surgir as primeiras sociedades tribais organizadas em torno de referências 
culturais e de um antepassado comum, seja consangüíneo ou mitológico. A agricultura, a pecuária e a troca de 
produtos por produtos ( escambo ) eram as atividades mais desenvolvidas por tais comunidades.
Observe com atenção o texto da antropóloga Alba Zaluar ( 2006 ):
“ Nas sociedades tribais, não há exploração do homem pelo homem, pois não existe divisão de classes 
sociais nem a idéia de lucrar com o trabalho alheio. Tampouco há dominação de uns poucos sobre os demais, 
pois ninguém detém o direito exclusivo de usar armas contra os outros. Em outras palavras, não há o Estado 
nem o poder privado do senhor, instituições que dividem a sociedade entre os que mandam e os que 
obedecem (Clastres, 1974). Como não há Estado, cada um detém a força para fazer justiça pelas próprias 
mãos quando for pessoalmente lesado ou tiver algum parente que tenha sido lesado por outrem. Mas esse 
acerto de contas segue regras sociais bem definidas.
 Nessas sociedades, a produção de alimentos e de objetos, realizada por todos na base da cooperação 
familiar extensa, mereceu de alguns a definição de "modo de produção doméstico", teoria contestada por 
outros. De acordo com os primeiros, os familiares colaborariam no trabalho e todos receberiam segundo sua 
necessidade. Ninguém trabalharia mais do que o necessário, o que as tornou, segundo outros autores, 
"sociedades de abundância" e "sociedades de lazer" (Sahlins, 1970). Mas hoje predomina a idéia de que as 
pessoas trabalham e se relacionam pela posição que ocupam na rede e no sistema de parentesco, segundo 
diferentes regras, e não por serem "trabalhadores". De modo geral, o que marca essas relações é a 
reciprocidade: para cada benefício, malefício ou dom recebido, existe a obrigação de retribuir, mesmo que a 
retribuição não seja imediata (Mauss, 1974; Sahlins, 1970).
 Dentro da tribo, os grupos de parentesco ou as divisões sociais são considerados equivalentes. Por isso 
algumas sociedades tribais são chamadas duais, pois cada metade teria o mesmo poder e o mesmo prestígio. 
Outras denominam-se segmentares, porque cada segmento é equivalente ao outro. Algumas tribos africanas 
asiáticas, entretanto, têm linhagens aristocratas e linhagens plebéias, o que estabelece diferenças de poder 
entre elas. Mas é um engano pensar que as tribos, mesmo as menos diferenciadas como as duais, sejam 
inteiramente consensuais e igualitárias. Existem diferenças mercantes entre os sexos, diferenças entre as 
classes e os grupos de idade, diferenças de prestígio entre pessoas, diferenças de tamanho, local de moradia 
e de riquezas entre os grupos de parentesco. Tudo isso cria possibilidades de que tensões venham a explodir 
em conflitos, aliás bastante comuns dentro das tribos.Mas há uma grande diferença entre como prevenir ou 
solucionar os conflitos dentro e entre as tribos. Dentro das tribos, existem muitos meios de evitar, por meio da 
comunicação e do acordo, que brigas degenerem em conflitos armados e mortes. Entre as tribos, as relações, 
por definição, são de inimizade, de desconfiança ou de cuidado. Por isso, muitos afirmam que as sociedades 
primitivas ou tribais se caracterizam pelo estado de guerra entre elas. Não é a fome nem a necessidade, nem 
a rivalidades comerciais, porém, que explicariam por que algumas são mais aguerrida do que outras (Clastres, 
1982).
 As tribos, porém, não estão sempre em guerra. Há entre elas mais intercâmbio cultural do que os 
antropólogos imaginavam (Barth, 1986). Até mesmo a presença de cativos de tribos vizinhas, como resultado 
da guerra, favoreceu esse intercâmbio de idéias, símbolos, rituais,, e práticas sociais, todos aprendidos e 
transmitidos socialmente. Quanto mais trocas houver entre as tribos, menor a possibilidade de guerra. A vida 
tribal, no entanto, foi muitas vezes caracterizada pela paz precária ou pelo estado de guerra permanente 
(Sahlins, 1970) mas não universal. Isso porque a guerra acontecia contra os que não faziam parto da tribo, 
mas não entre seus membros (Clastres, 1982). Por isso se pode dizer que a comunidade tribal cria a exclusão: 
quem dela não faz parte está excluído de seus benefícios e de sua proteção.”
( ZALUAR, Alba. A violência é de todos. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2006 p. 25-26 )
Vejamos algumas de suas características sócio-econômicas:
4.1 - Patriarcalismo - Organização social fundamentada na figura do patriarca, o chefe da família, o indivíduo 
mais idoso, detentor de sabedoria acumulada. O patriarca era, ao mesmo tempo, chefe militar, juiz e sacerdote 
de seu clã, com grande projeção no âmbito da vida cotidiana da tribo. A reunião de patriarcas no contexto de 
uma sociedade tribal originava o Conselho de Anciãos, com atribuições consultivas e deliberativas.
4.2 - Oralidade - Considerando o Homem como um ser social e naturalmente produtor de cultura, podemos 
ressaltar que nas sociedades tribais as tradições, mitos, lendas e códigos de conduta eram transmitidos,via de 
regra, pela oralidade, geração após geração. A memória da comunidade era transmitida através da língua, 
sendo fundamento para a configuração de identidades e base para o estabelecimento das relações sociais.
4.3 - Ênfase nos costumes e no âmbito coletivo - Nas sociedades tribais as regras de convivência tinham 
no costume o seu elemento definidor. A noção de indivíduo, tal como a conhecemos na atualidade, ainda não 
havia sido formulada, pois a ênfase era na coletividade, na promoção da ordem interna da tribo.
5. O Direito dos povos ágrafos:
 Considerando o Direito como o conjunto de normas, inseridas num contexto histórico- cultural, para a 
regulamentação da vida nas sociedades humanas, podemos ressaltar que tais regras foram transmitidas, 
durante milênios, pela oralidade, pois os primeiros registros escritos de que temos notícias surgiram por volta 
de 4.000 a.C. Assim sendo, os costumes e tradições que informavam as regulamentações existentes no 
contexto das sociedades sem escrita, eram imortalizados através das narrativas de anciãos e/ ou sacerdotes, 
detentores do saber e dos preceitos de um Direito ainda em fase incipiente de formação.
OBS: Segundo Emanuel Bouzon ( 2006 ), podemos definir povos ágrafos como as sociedades que não 
possuíam escrita, tanto fonética como ideográfica. Tais povos mantinham sua cultura, seus costumes, suas 
regras e preceitos comportamentais através da oralidade, dos provérbios, das narrativas mitológicas, das 
rapsódias e dos aconselhamentos entre gerações.
5.1 - Características gerais do Direito dos povos ágrafos:
Em termos de análise estrutural, podemos considerar como fontes para o direito dos povos sem escrita: os 
costumes, as tradições religiosas, o cotidiano dos grupos humanos, os códigos comportamentais dos 
dirigentes / elites dominantes e os precedentes ( deliberações sobre fatos anteriormente ocorridos, de igual 
teor aos do momento em que se julga ). Vejamos algumas características desse Direito em formação:
5.1.1 - ABSTRAÇÃO:
 Os fundamentos do Direito nas sociedades ágrafas eram altamente subjetivos, pois as sentenças e regras 
eram transmitidas oralmente e, apesar do rigor das tradições, seus preceitos sofriam modificações ao longo do 
tempo.
5.1.2 - PROFUSÃO:
 Em virtude do relativo isolamento entre si, as sociedades tribais, em geral, desenvolveram códigos de 
convivência muito peculiares, cada uma com seus próprios costumes e por isso muito numerosos. Um 
elemento de contato sazonal entre tais sociedades era a guerra, contexto de consolidação de poder.
5.1.3 - RELIGIOSIDADE:
 Eis um ponto essencial nos fundamentos do Direito das sociedades da Antigüidade, ágrafas ou detentoras 
de um código escrito: a religiosidade impregnando as tradições e as decisões de cunho jurídico. O sistema de 
crenças de tais sociedades influenciava decisivamente a aplicação da justiça. O recurso à divindade era 
constantemente utilizado. Regra religiosa e regra jurídica não tinham distinção. Os deuses julgavam. Os 
deuses condenavam. Os deuses absolviam. Tais sociedades originaram, mais tarde, estados teocráticos.
5.1.4 - INCIPIENTE:
 Tecnicamente podemos afirmar que o Direito, no âmbito das sociedades ágrafas, ainda se encontrava em 
fase de formulação inicial, muito ligado aos preceitos religiosos, sem qualquer sistematização teórica ou 
codificação escrita. Trata-se de um Direito incipiente, ou seja, em construção preliminar, sujeito às influências 
circunstanciais.
6. A Questão da Vingança:
 Dentre os costumes mais antigos, existentes no âmbito da administração da justiça, no contexto das 
sociedades tribais e/ ou da Antigüidade, podemos destacar a vingança como sendo um dos principais. Trata-se 
do princípio elementar do direito de retaliação, de revidar, na mesma proporção, a ofensa recebida, a lesão 
sofrida, a humilhação imposta por terceiros. A rigor, existiam três modalidades de vingança entre os povos 
antigos, a saber:
6.1 - A VINGANÇA PRIVADA:
 A vingança privada constituía uma reação natural e instintiva da vítima, de seus parentes ou até mesmo de 
toda a tribo, contra uma pessoa ou grupo, pelo crime cometido, revidando a agressão. A vingança privada era 
uma prática socialmente aceita, não sendo uma instituição jurídica, ocorrendo sem limites previamente 
estabelecidos, resultando em violência descontrolada. “ Olho por olho, dente por dente.” Tal forma de vingança, 
com o passar do tempo, já durante o desenvolvimento das civilizações na Mesopotâmia e no Egito, por volta 
de 3.500 a 4.000 a.C, sofreu dois tipos de regulamentação, a saber:
6.1.1 - A pena de talião: Tradição fundamentada no direito a retaliação por um ato lesivo, individual ou 
coletivo, onde a pena para o delito é equivalente ao dano causado, devendo ser aplicada na mesma 
proporção, sem excessos. “ Quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”. Por este princípio, o criminoso 
deveria sofrer da mesma forma que a vítima sofreu. O Código de Hammurabi ( 1792 a.C. - 1750 a.C ) 
incorporou a pena de talião em sua compilação legal.
6.1.2 - A composição: Tradição pela qual o criminoso entrava em acordo com a parte lesada e comprava a 
sua liberdade, através da transferência de parte de seu patrimônio para a vítima, como forma de 
compensação. Tal prática originou, posteriormente, as multas penais e as indenizações cíveis.
6.2 - A VINGANÇA DIVINA:
 Nas sociedades da Antigüidade, a vingança divina era uma prática comum, visto que a religiosidade estava 
presente na estrutura da aplicação da justiça. O infrator cometia um crime não apenas contra uma pessoa ou 
grupo, mas também ofendia aos deuses. Os sacerdotes, com o objetivo de aplacar a cólera divina, atuavam 
como juízes e aplicavam penas severas. As sanções penais eram cruéis ( esfolamento, lapidação, mutilação, 
açoites, afogamento, etc. ) sendo a pena de morte aplicada com muita freqüência. Preceitos religiosos eram 
convertidos em leis, não havendo distinção entre o sagrado e o profano.
6.3 - A VINGANÇA PÚBLICA:
 Com a maior complexidade das organizações tribais, ocorreu o desenvolvimento do poder político, 
encarnado na figura do patriarca ou da assembléia cidadãos. As penalidades vão perdendo sua aura de 
sacralidade e passam a ser impostas por uma autoridade constituída, em nome da coletividade, com o objetivo 
de preservar os interesses da comunidade. A vítima perdia o seu direito à vingança, os sacerdotes deixam de 
ser agentes responsáveis pela aplicação das penas e o rei,em nome dos deuses, passava a exercer sua 
autoridade, impondo penas de morte, confisco de bens e multas, muitas vezes extensivas aos familiares do 
infrator. Numa palavra, crimes contra uma pessoa eram crimes contra a sociedade como um todo e o Estado, 
guardião da ordem, pairando sobre a sociedade, era um vingador implacável.

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