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1 2 AULA 1: TRABALHO DOCENTE 3 INTRODUÇÃO 3 CONTEÚDO 4 O TRABALHO DOCENTE EM DEBATE 4 NÚMEROS NO BRASIL 5 A NATUREZA DO TRABALHO DOCENTE 5 UM TRABALHO INTERATIVO 6 O TRABALHO DOCENTE E AS NOVAS DEMANDAS SOCIAIS 7 O TRABALHO DOCENTE E AS INSTITUIÇÕES ESCOLARES/UNIVERSITÁRIAS 10 NOVO CONJUNTO DE DEMANDAS SOCIAIS E DESAFIOS 11 O TRABALHO DOCENTE E AS INSTITUIÇÕES ESCOLARES/UNIVERSITÁRIAS 11 ATIVIDADE PROPOSTA 13 APRENDA MAIS 14 REFERÊNCIAS 15 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 17 CHAVES DE RESPOSTA 20 ATIVIDADE PROPOSTA 20 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 22 3 Introdução Cada vez mais nos deparamos com a denúncia de uma educação no âmbito universitário desvinculada da vida, abstrata, passiva. Entre os problemas apontados pela literatura estão a rotina sem inspiração nem objetivos e a improvisação dispersiva, confusa, e sem ordem. É possível que muitos desses fatores estejam, de alguma forma, relacionados com a ideia da ausência de necessidade de formação profissional para a atuação nesse nível de ensino, que é o único para o qual não se exige uma formação pedagógica dos professores. Para superar essa situação, buscaremos provocar reflexões sobre o trabalho docente e, em especial, sobre a prática docente no ensino superior ao abordar questões como a especificidade da função docente e os aspectos que interferem e/ou condicionam a sua profissionalidade; a gênese histórica e a constituição do campo da Didática no Brasil; as diferentes abordagens pedagógicas: fundamentos, características e implicações para o processo de ensino aprendizagem; as relações na sala de aula usada como espaço multidimensional, de circulação de diferentes saberes e conhecimentos, de interação e diálogo, de diferentes práticas, de múltiplas narrativas e linguagens. Nesse sentido, consideramos que é importante começar olhando para o interior da profissão docente, suas especificidades e seus desafios. Dessa forma, abordaremos os seguintes tópicos: (1) O contexto do trabalho docente no ensino superior; (2) A natureza do trabalho docente e sua complexidade; (3) As demandas sociais da contemporaneidade para o trabalho do professor. Objetivo: Refletir sobre o trabalho docente, no contexto do ensino superior, no Brasil, articulando questões relacionadas com as características e a complexidade da função docente, bem como com as implicações das demandas sociais contemporâneas para a sua atuação. 4 Conteúdo O trabalho docente em debate Vamos conhecer a natureza do trabalho docente, suas especificidades e sua complexidade nos dias atuais. No que se refere às exigências normativas, o trabalho docente é um trabalho como muitos outros. Ele é regulamentado, remunerado, inserido em organizações e convenções, os profissionais possuem uma certificação para exercer a profissão etc. Em nossas sociedades, o magistério é visto como uma ocupação secundária em relação tanto ao trabalho material e produtivo, como às atividades de produção do conhecimento. Entretanto, para Tardif e Lessard (2005), longe de ser uma ocupação secundária ou periférica, o trabalho docente constitui uma das chaves para a compreensão das transformações sociais. Para os autores, os professores constituem hoje uma das principais peças da economia das sociedades contemporâneas, tanto por causa do número de agentes vinculados ao sistema educacional, como pela função que desempenham. Atenção Tardif e Lessard (1991) afirmam que “os professores ocupam uma posição estratégica no interior das relações complexas que unem as sociedades contemporâneas aos saberes que elas produzem e mobilizam com diversos fins”. 5 Números no Brasil No Brasil, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, levantados por Gatti (2009), havia, em 2006, 2.803.761 professores atuando em todos os níveis de ensino, sendo que desses, 471.032 (16,8%) eram professores do ensino superior. Entretanto, apesar da considerável oferta de trabalho, dados do INEP (2003) mostram que o magistério não é atrativo em termos de mercado e condições de trabalho, sobretudo para os níveis iniciais da escolarização (educação infantil, ensino fundamental e médio). As razões do desinteresse têm sido amplamente tratadas pela literatura especializada e pela mídia. Salários muito baixos, precárias condições de trabalho, formação inadequada são alguns dos muitos fatores apontados de forma recorrente. Atenção O magistério, hoje, além de ser um trabalho desprestigiado perante a sociedade, é apontado como um ofício de grande complexidade, em virtude, tanto das novas demandas sociais que se apresentam, como de sua própria natureza (TEDESCO e FANFANI, 2004, TARDIF e LESSARD, 2005, DUBET, 2002). A natureza do trabalho docente O trabalho docente tem um traço que o distingue de muitos outros e determina sua natureza: seu objeto é o outro – um ser humano como o próprio trabalhador. É um tipo de trabalho que coloca em relação direta o trabalhador e um outro ser humano, caracterizando-se como um trabalho interativo. 6 Segundo Tardif e Lessard (2005, p. 31), “ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos” e essa impregnação do trabalho pelo “objeto humano” está no centro do processo ensino- aprendizagem e, portanto, do trabalho do professor. A presença de um “objeto humano” modifica profundamente a própria natureza do trabalho e a atividade do trabalhador. Nesse caso, mais do que em outros tipos de atividades profissionais, o processo do trabalho transforma dialeticamente não apenas o objeto, mas igualmente o trabalhador. Um trabalho interativo Para Tardif e Lessard (2005) e Dubet (2002), a relação face a face com o outro faz com que o tema da profissão docente se torne sempre problemático. Como um trabalho interativo, a docência está centrada, antes de tudo, nas relações entre as pessoas, com todas as sutilezas que caracterizam as relações humanas. O trabalho de docência envolve: Negociações; Controle; Persuasão; Cuidado; De acordo com Tedesco e Fanfani (2004), levanta questões de poder e conflitos de valores, visto que “os valores que circulam na escola, na família e nos meios de comunicação de massa nem sempre são coincidentes ou complementares e, com frequência, podem ser contraditórios”. 7 Suscita, também, questões que se inserem na dimensão da afetividade e da ética, que são inerentes à interação humana, à relação com o outro. Em sua opinião, o que caracteriza um bom professor? Para ser um bom professor não basta o domínio de competências técnico- científicas, nem um compromisso ético genérico, é preciso o compromisso ético-moral com o outro. Por ser um trabalho interativo, a docência comporta diversos elementos “informais”, indeterminados, imprevistos. Ensinar é agir dentro de um ambiente complexo e, por isso, impossível de controlar inteiramente. É ainda um tipo de trabalho no qual as pessoas podem opor resistência aos trabalhadores e às ações que lhes são impostas, implicando fortes mediações linguísticas e simbólicas entre os agentes e exigindo dos trabalhadores competências reflexivas de alto nível e capacidades profissionais para gerir melhor a contingência das interações humanas na medida em que vão se realizando (TARDIF e LESSARD, 2005), o que torna a docência um trabalho de grande complexidade. O trabalho docente e as novas demandassociais Para a complexidade do trabalho docente contribuem ainda elementos que se referem aos desafios postos pelas transformações sociais. Podemos citar como transformações: O impacto dos meios de informação e comunicação; As novas configurações familiares; 8 A incorporação da mulher ao mercado de trabalho; As mudanças nos modelos de autoridade; A banalização da violência; As tensões entre diferença e igualdade e consequente debate acerca da inclusão social. Essas modificações refletem, de forma significativa, no cotidiano das instituições educativas e no trabalho docente. Tedesco e Fanfani (2004) assinalam que as transformações sociais “produziram mudanças profundas no sistema de instituições responsáveis pela socialização infantil e juvenil”, entre as quais se encontram a escola básica e a universidade, que estão submetidas a um novo conjunto de demandas sociais e desafios, tais como: Transferência de atribuições Algumas responsabilidades na educação que antes eram da família foram transferidas para a escola e para os professores. De acordo com Tedesco e Fanfani (2004), “em alguns casos, chega-se a pedir à escola o que as famílias já não estão em condições de dar: contenção afetiva, orientação ético-moral, orientação vocacional...”. Relação com os estudos Os estudantes das novas gerações têm outra maneira de se relacionar com os estudos. Referindo-se a esse “novo aluno”, Dubet (1988) assinala que se trata de um agente confrontado com uma grande diversidade de orientações, isto é, com certos antagonismos, e que é obrigado a construir por si mesmo o sentido da experiência. Para o autor, a grande dificuldade está em se motivar, em conseguir dar sentido aos estudos. 9 Assim, de acordo com Tedesco e Fanfani (2000), impõe-se aos “novos professores” a exigência de que, além das competências e habilidades que tradicionalmente davam conta dos processos de aprendizagem, sejam eles mesmos experts na cultura das novas gerações, na medida em que a transmissão da cultura escolar deverá levar em conta não só as etapas biopsicológicas do desenvolvimento do estudante, mas também as diversas culturas e relações com a cultura que caracteriza os destinatários da ação pedagógica. Velocidade de transformações A aceleração das mudanças sociais na ciência, na tecnologia e na produção social obriga os docentes a buscar uma atualização permanente, para que a formação que oferecem esteja à altura das novas exigências. A mídia eletrônica de massa está centralmente implicada como contexto socializador para as novas gerações e coloca a necessidade de se analisar pedagogias exteriores à instituição escolar. Green e Bigum (1995) defendem a necessidade de se pensar o novo estudante à luz dessa aceleração das mudanças tecnológicas, o que implica desconstruir certezas e, especialmente, considerar um complexo de forças que atuam sobre a construção da identidade dos jovens nos dias de hoje. A disseminação do acesso à internet traz o desafio do plágio nos trabalhos acadêmicos. Não que ele já não existisse anteriormente, mas é recorrente na fala dos professores do ensino superior a constatação do aumento dessa estratégia estudantil, o que obriga professores a desenvolver estratégias de enfrentamento do problema. 10 Todas essas razões nos levam a reafirmar que o trabalho docente é hoje, mais que antes, um trabalho de grande complexidade e necessita ser estudado no contexto das demandas sociais a ele impostas, nos dias atuais. O trabalho docente e as instituições escolares/universitárias É preciso estudar o trabalho do professor no contexto onde ele se realiza, ou seja, nas instituições de ensino, dada a importância dessas instituições para o processo de socialização dos indivíduos e para a constituição dos sujeitos. Nessa perspectiva, consideramos que as instituições educativas constituem espaços privilegiados onde a docência se realiza e onde professores e estudantes vão construindo suas subjetividades, seus modos de ser e sentir o mundo ou, no dizer de Linhares (2000), vão construindo a “experiência de si”. A esse respeito, Bourdieu (2004) assinala que indivíduos submetidos a determinados tipos de escolas, em uma mesma época, partilham gostos, modelos, imagens, regras, linguagens, questões, frutos da interiorização dos esquemas de pensamento a que foram submetidos no processo de escolarização. Atenção Para Bourdieu (2004), “pode-se supor que cada sujeito deve ao tipo de aprendizagem escolar que recebeu um conjunto de esquemas fundamentais, profundamente interiorizados, que servem de princípio de seleção no tocante às aquisições ulteriores de esquemas, de modo que o sistema dos esquemas segundo os quais se organiza o pensamento deste sujeito deriva sua especificidade não apenas da natureza dos esquemas constitutivos e do nível de consciência com que estes são utilizados e do nível de consciência em que operam”. 11 Dessa forma, nas instituições escolares, o estudante aprende: Os conhecimentos que ali são trabalhados; Os métodos de trabalho; Os processos de pensamento; Os valores; O modos de ser, de agir e de pensar Novo conjunto de demandas sociais e desafios A fim de compreender melhor a importância do trabalho do professor para que ocorra o processo de socialização dos indivíduos e a constituição dos sujeitos. Galeria de vídeos Vejamos um trecho do filme Escritores da Liberdade. Percebeu como estudantes e professores constroem suas subjetividades juntos? O trabalho docente e as instituições escolares/universitárias Para que o estudante internalize o que é aprendido por ele nas instituições escolares, é necessária a articulação entre o cognitivo, o social e o afetivo. Nesse sentido, vamos conhecer os conceitos de dois autores: Libâneo (2002) Destaca que o professor é alguém que precisa “conhecer e compreender motivações, interesses, necessidades de alunos diferentes entre si, ajudá-los na capacidade de comunicação com o mundo do outro, ter sensibilidade para situar a relação docente no 12 contexto físico, social e cultural do aluno”, o que se torna mais difícil num contexto de extrema diversidade. Para o autor, ajudar as pessoas a constituir suas subjetividades, nesse contexto, é enfrentar a diferença e a diversidade cultural. “Como lidar didaticamente com a diversidade cultural e com a diferença na escola e na sala de aula?” Para ele, esse não é um desafio novo, mas uma tarefa que se tornou mais complexa nos tempos atuais. “Trata-se de enfrentar uma poderosa contradição. Por um lado, o justo é uma educação igual para todos. Por outro lado, também é justo um ensino que contemple a diversidade dos alunos”. Linhares (2000) Em que pese a importância das instituições escolares para a constituição das formas de ser dos agentes que aí se inserem, o autor aponta que “temos estudado muito pouco como subjetividades e sujeitos de estudantes e professores vão sendo fabricados e, por sua vez, vão fabricando escolas (e podemos acrescentar: universidades) e contribuindo para conservar ou modificar seus entornos, suas comunidades, suas cidades e, conjugando-se com outras relações sociais, ir intervindo nas sociedades e na história.” Considerando todo esse contexto de complexidade e desafios e no qual o trabalho docente está inserido é que, a partir das próximas aulas, vamos propor reflexões e colocar em discussãoo que estamos entendendo por Didática, suas diferentes dimensões e seus diversos estruturantes no âmbito do ensino superior. 13 Atenção Antes de você seguir em frente, procure realizar as tarefas que sugerimos nos itens APRENDA MAIS e ATIVIDADES. São tarefas que, certamente, lhe ajudarão não só a compreender muitas das ideias aqui colocadas, como também oferecerão novos subsídios para que você construa conhecimentos sobre as temáticas em pauta. Atividade proposta Vamos fazer uma atividade! Leia e analise de forma crítica o artigo Precisamos formar sábios e, durante a leitura, faça suas anotações para facilitar suas respostas aos itens formulados a seguir. Faça um breve registro acerca das principais ideias apontadas pela entrevistada, indicando aquelas com as quais você concorda e aquelas das quais você discorda. Justifique sua resposta. Responda a seguinte questão: que desafios e/ou que demandas estariam sendo colocados/as para o professor, tendo presente o comentário feito pela entrevistada e que reproduzimos a seguir: Um debate frequente de nossos dias é acerca de como as universidades podem contribuir com as necessidades mais imediatas da sociedade. Algumas delas são necessidades econômicas, e os estudantes vão às universidades de forma a serem treinados e qualificados para futuros empregos. Outras são descobertas e inovações e outros tipos de intervenções que podem ter 14 um efeito imediato no mundo, como a cura de uma doença. Mas as universidades têm outros propósitos, que são de longo prazo e que são mais difíceis de mensurar, mas que são extremamente importantes para todos nós. No encontro que tive com os reitores brasileiros, ouvi uma frase que resume esse pensamento: “a sociedade nos pede soluções para problemas práticos”. Mas a universidade não deve se preocupar apenas com o bem estar imediato dos seres humanos, precisa fazer também com que eles sejam sábios. As universidades têm esse propósito humano, histórico, antropológico, que nos faz transcender o momento presente. Não nos preocupamos apenas se nossos alunos terão emprego amanhã. Precisamos garantir que eles tenham conhecimento. (Drew Gilpin Faust, reitora da Harvard University, Em reportagem publicada em 25/03/2011). Aprenda mais Para ampliar sua compreensão a respeito do que estudamos nesta aula, você pode ler os seguintes artigos, todos disponíveis em http://www.scielo.br BOSI, Antônio de Pádua. A precarização do trabalho docente nas instituições de ensino superior do Brasil nesses últimos 25 anos. Educação e Sociedade. Dez 2007, vol. 28, n. 101, p.1503-1523. ISSN 0101-7330. CHIROQUE CHUNG, Sigfredo. Desafíos y perspectivas en la investigación sobre el magisterio. Em Educação e Sociedade. Ago 2007, vol. 28, n. 99, p.483-498. ISSN 0101-7330. OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política educacional e a re-estruturação do trabalho docente: reflexões sobre o contexto Latino-americano. Em 15 Educação e Sociedade. Ago 2007, vol. 28, n. 99, p.355-375. ISSN 0101-7330. TARDIF, Maurice and RAYMOND, Danielle. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério. Em Educação e Sociedade. Dez. 2000, vol. 21, n. 73, p.209-244. ISSN 0101-7330. TENTI FANFANI, Emilio. Consideraciones sociologicas sobre profesionalización docente. Em Educação e Sociedade. Ago 2007, vol. 28, n. 99, p.335-353. ISSN 0101-7330. Referências BOURDIEU, P. Sistemas de ensino e sistemas de pensamento. In: BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2004. BRASIL, INEP. Estatística dos professores no Brasil. Brasília, out. 2003. Disponível em:<www.sbfisica.org.br/arquivos/estatísticas_professores_INEP_2003> DUBET, F. Le Déclin de L’institution. Paris: Éditions du Seuil, 2002. GATTI, B. A.; BARRETO, E. S. S. (coord.). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. GREEN, B. e BIGUN, C. Alienígenas na Sala de Aula. In: Silva, T.T. da (org.) Alienígenas na sala de aula. Rio de Janeiro: Vozes, 1995, pp. 208 - 243. LIBÂNEO, J. C. Didática: velhos e novos temas. Edição do autor, maio de 2002. 16 Disponível em: http://gtdidatica.sites.uol.com.br/textos/libaneo.pdf LINHARES, C. F. Múltiplos sujeitos da educação: a produção de sujeitos e subjetividades de professores e estudantes. In: CANDAU, V. M. (org.). Ensinar e aprender: sujeitos, saberes e pesquisa. Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE). Rio de Janeiro: DP&A, 2000. TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente hoje: elementos para um quadro de análise. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. TEDESCO, Juan Carlos e FANFANI, Emílio Tenti. Nuevos maestros para nuevos estudiantes. In: PREAL. Maestros en América Latina: nuevas perspectivas sobre su formación y desempeño. Santiago: Editorial San Marino, 2004. 17 Exercícios de fixação Questão 1 Marque a resposta correta, a partir da seguinte afirmativa: “Para ser professor universitário basta dominar os conteúdo específicos de sua disciplina e ter carisma”. Podemos dizer que tal afirmativa, pelo menos no Brasil, é bastante comum e que ocupa o imaginário social com muita frequência. Por sua vez, é possível dizer que tal afirmativa é: a) Verdadeira, porque o domínio dos conteúdos específicos de sua(s) disciplina(s) é o requisito mais importante para ser professor universitário. b) Falsa, porque o domínio dos saberes didático-pedagógicos é o requisito mais importante para ser professor universitário. c) Verdadeira, porque o professor universitário pode dispensar os saberes didático-pedagógicos e pautar seu trabalho pelas relações afetivas que estabelece. d) Falsa, porque saber um conteúdo específico não é a mesma coisa de saber promover o processo de ensino-aprendizagem desse conteúdo. 18 Questão 2 Para os autores com os quais trabalhamos nesta aula, a principal característica do trabalho docente é a relação face a face com o outro. O objeto do trabalho docente é outro ser humano, tal qual o trabalhador. Entre as consequências dessa particularidade, podemos afirmar que esse trabalho: a) Envolve questões de poder, conflitos e valores, o que torna o exercício da profissão docente mais complexo. b) Levanta questões que se inserem principalmente na dimensão afetiva, o que facilita e simplifica o trabalho. c) Lida com um objeto passivo, que não oferece resistência aos trabalhadores, facilitando o clima para a realização do trabalho. d) Está centrado na relação entre as pessoas, o que torna o trabalho sempre agradável, facilitando a mediação entre os estudantes e o conhecimento. Questão 3 Marque V (verdadeiro) ou F (falso), de acordo com a afirmativa “com relação às transformações sociais na contemporaneidade podemos afirmar que”. ( ) Elas produzem mudanças e desafiam as instituições de ensino e o trabalho do professor porque exigem que se dê conta de tarefas que outrora eram das famílias. ( ) Elas não afetam o trabalho das instituições de ensino, visto que essas são instituições singulares e preservadas do meio social. ( ) Elas afetam o trabalho do professor, exigindo deles uma formação permanente no que se refere à cultura das novas gerações e aos avanços tecnológicos. 19 Questão 4 Para Bourdieu, a escola é importante porque: a) O professor é naturalmente uma figura modelar, estruturando a subjetividadedo estudante. b) Os estudantes entram em contato com diferentes culturas. c) O estudante aprende não só os conhecimentos trabalhados, mas também métodos de trabalho, processos de pensamento, valores, modos de ser, de agir e de pensar. d) É um espaço de circulação de diferentes culturas. Questão 5 O professor Libâneo (2008) afirma que o professor precisa “conhecer e compreender motivações, interesses, necessidades de alunos diferentes entre si, ajudá-los na capacidade de comunicação com o mundo do outro, ter sensibilidade para situar a relação docente no contexto físico, social e cultural do aluno”. Nesse sentido, para este autor é necessário que o professor saiba: a) Superar a ideia de que o mais importante é uma educação igual para todos, reforçando a centralidade das diferenças culturais. b) Enfrentar e lidar com as a diferenças culturais, sem deixar de lado a busca por uma educação igual para todos. c) Reconhecer as diferenças culturais para propor mecanismos que permitam superá-las em direção a uma educação igual para todos. d) Dar prioridade às diferenças culturais, minimizando a ideia de avançar no sentido de uma educação igual para todos. 20 Atividade proposta Em relação às principais ideias contidas no artigo/na entrevista é possível destacar que a entrevistada valoriza: A parceria entre Harvard e as instituições universitárias brasileiras, afirmando que elas têm muito o que aprender com essa troca; O nível dos pesquisadores e dos estudantes universitários brasileiros; O fato de Harvard ir ao encontro (durante o processo seletivo) dos estudantes (dentro e fora dos Estados Unidos) que manifestam interesse de lá ingressar para que eles conheçam bem tudo o que a instituição pode lhes oferecer; O fato do processo seletivo para ingresso na Universidade de Harvard estar baseado (1) em exames de qualificação, como o SAT; (2) na avaliação de ensaios que os candidatos enviam (os ensaios servem para avaliar a escrita e as ideias de cada jovem); (3) na análise do histórico escolar do aluno, para verificar como ele evoluiu ao longo do ensino médio; e (4) na análise das atividades extracurriculares desses alunos; O fato de Harvard entender que é importante ter alunos que expressem capacidade liderança, caráter e diversidade de interesses. A Universidade ressalta que “a convivência no campus é algo muito valorizado e saber que cada estudante vai contribuir de forma enriquecedora é uma força que nos motiva na hora de selecionar nossos estudantes”; 21 Harvard ter uma longa tradição de excelência, uma vez que se preocupa em atrair os melhores talentos. E que isso seja parte de seu sucesso e excelência; O sucesso de Harvard estar relacionado à “ajuda generosa de famílias, apoiadores e ex-alunos, pessoas que continuam a contribuir com Harvard mesmo depois de terem deixado a universidade”; A relevância do caráter multinacional do campus, com pessoas de diversos países e culturas, contribuindo para a inovação e a excelência. Isso ajudaria no processo de descoberta e aprendizagem; O fato de que para Harvard, “a universidade não deve se preocupar apenas com o bem estar imediato dos seres humanos, precisa fazer também com que eles sejam sábios. As universidades têm esse propósito humano, histórico, antropológico, que nos faz transcender o momento presente. Não nos preocupamos apenas se nossos alunos terão emprego amanhã. Precisamos garantir que eles tenham conhecimento”; A necessidade das universidades poderem dar respostas aos grandes problemas das sociedades e do planeta – as pesquisas e a educação (o conhecimento) que as universidades oferecem podem causar impactos no tange a essas respostas; O simbolismo e o significado de uma reitora mulher contribuindo para a valorização do papel da mulher na sociedade. Uma vez que foi sugerido que você também se posicione quanto às principais ideias, apontando aquelas com as quais concorda e/ou aquelas das quais discorda, é importante que você construa suas próprias argumentações. 22 Nesse caso, não há certo ou errado, nem mesmo um gabarito fixo. Aqui o importante que você utilize sua capacidade de análise crítica. Ou seja, você deverá dizer por que concorda ou porque discorda das ideias apresentadas pela entrevistada e que foram aqui sistematizadas. Exercícios de fixação Questão 1 – D Justificativa: O professor universitário precisa enfrentar vários desafios: desde a constante desmotivação dos alunos, que muitas vezes não se interessam pelos chamados conteúdos específicos até novas demandas, como por exemplo, saber articular tais conteúdos específicos com a complexidade do contexto que marca a nossa contemporaneidade. O domínio de um determinado conteúdo e o do respectivo saber fazer (saberes profissionais diversos) não se transformam automaticamente em saber didático que permita ao professor exercer bem o seu papel no ensino. Isso significa dizer que aqueles que escolhem exercer a atividade docente precisam adquirir, desenvolver e construir esses conhecimentos e habilidades específicas. Diante dessas considerações a afirmativa apresentada do enunciado dessa questão é falsa pela própria justificativa apresentada na quarta alternativa. Questão 2 – A Justificativa: Ter o outro e, consequentemente, a relação com esse outro no centro de seu trabalho e de sua prática vai exigir do professor lidar com questões de poder em função dos papéis e lugares que cada um dos sujeitos envolvidos nessa relação ocupa: trabalhar construindo relações mais democráticas e simétricas é algo que vai exigir muito preparo por parte do professor. Lidar com questões de poder e complexo e exige complexas habilidades. Além disso, saber lidar com as diferenças é outro desafio relevante. As diferenças podem gerar conflitos de diferentes dimensões inclusive no que se refere aos valores. Administrar isso impõe desafios e exige conhecimentos plurais. 23 Questão 3 – V, F, V Justificativa: Várias observações feitas no próprio texto desta aula sustentam e justificam as alternativas verdadeiras, como por exemplo: [...] Tedesco e Fanfani (2004) assinalam que “esses processos produziram mudanças profundas no sistema de instituições responsáveis pela socialização infantil e juvenil”, entre as quais se encontram a escola básica e a universidade, que estão submetidas a um novo conjunto de demandas sociais. “Em alguns casos, chega-se a pedir à escola o que as famílias já não estão em condições de dar: contenção afetiva, orientação ético-moral, orientação vocacional...” (TEDESCO e FANFANI, 2004, p. 70). [...] Referindo-se a esse “novo aluno”, Dubet (1988) assinala que se trata de um agente confrontado com uma grande diversidade de orientações, isto é, com certos antagonismos, e que é obrigado a construir por si mesmo o sentido da experiência. Para o autor, a grande dificuldade está em se motivar, em conseguir dar sentido aos estudos. Assim, de acordo com Tedesco e Fanfani (2000), impõe-se aos “novos professores” a exigência de que, além das competências e habilidades que tradicionalmente davam conta dos processos de aprendizagem, sejam eles mesmos experts na cultura das novas gerações, na medida em que a transmissão da cultura escolar deverá levar em conta não só as etapas biopsicológicas do desenvolvimento do estudante, mas também as diversas culturas e relações com a cultura que caracteriza os destinatários da ação pedagógica.24 Questão 4 – C Justificativa: Embora a demais afirmativas estejam corretas, a terceira alternativa é a correta porque está diretamente relacionada ao pensamento de Bourdieu (o enunciado faz referência a autor) expresso nesta aula. Questão 5 – B Justificativa: a segunda alternativa está correta, pois se fundamenta no trecho extraído da própria aula a saber: Para o autor, ajudar as pessoas a constituir suas subjetividades, nesse contexto, é enfrentar a diferença e a diversidade cultural. “Como lidar didaticamente com a diversidade cultural e com a diferença na escola e na sala de aula?” Para ele, esse não é um desafio novo, mas uma tarefa que se tornou mais complexa nos tempos atuais. “Trata-se de enfrentar uma poderosa contradição. Por um lado, o justo é uma educação igual para todos. Por outro lado, também é justo um ensino que contemple a diversidade dos alunos”. Atualizado em 16 mai. 2014
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