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Porto-Gonçalves, Carlos Walter & Alentejano, Paulo. Geografia Agrária da Crise dos Alimentos no Brasil.

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Geografia Agrária da Crise dos Alimentos no Brasil1
 
Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves – LEMTO-UFF 
Dr. Paulo Alentejano – GeoAgrária – FFP/UERJ 
 
A problemática agrária volta a ocupar as manchetes dos grandes meios de comunicação e a agenda 
política em todos os níveis. Manifestações populares em vários países do mundo contra o aumento 
dos preços dos alimentos parecem ter acordado aqueles que acreditavam que a questão agrária havia 
sido superada pela revolução nas relações sociais e de poder por meio da tecnologia impulsionada 
pelas grandes corporações. Dois processos socio-geográficos de fundo, a princípio independentes 
entre si, além das mobilizações acima indicadas merecem destaque para compreender a centralidade 
da questão agrária nos dias que correm: (1) a recente intensificação da urbanização do mundo e (2) 
a crise de abastecimento e controle das fontes de combustíveis fósseis. Vejamos cada uma a sua 
vez. 
 
(1) a recente intensificação da urbanização do mundo 
No ano de 2007, a ONU registrava, pela 1ª vez, que a população urbana do planeta se nivelara à 
população rural (em 2001, a população Rural era de 53% contra 47% de população urbana). E, mais 
importante ainda, 70% da população urbana mundial estão localizados no chamado 3° mundo onde 
os sistemas de proteção social são historicamente precários ou simplesmente inexistentes. Estes 
países viram seus governantes aceitarem os conselhos dos organismos internacionais para que 
abandonassem qualquer veleidade de proteção social de sua gente. Independentemente de qualquer 
mudança na proporção de distribuição da renda entre ricos e pobres, o fato é que um aumento na 
população urbana implica necessariamente numa ampliação do mercado, haja vista não ser 
amplamente generalizável no âmbito urbano a produção de alimentos para autoconsumo. Assim, a 
vida urbana, mantidas inalteradas as relações sociais e de poder, implica numa maior mediação do 
dinheiro. Além disso, como já antecipara Karl Kautsky no início do século XX, a urbanização 
implica também no aumento do consumo de carne que, hoje, se apresenta com efeitos ainda mais 
intensos no mundo agrário pelas condições (im)postas pela revolução nas relações sociais e de 
poder por meio da tecnologia, revolução essa denominada simplificada e equivocadamente como 
revolução verde (Ver Porto-Gonçalves, 2006). É que a produção de carnes vem implicando num 
aumento significativo da demanda de grãos (milho e soja) para a alimentação animal. Assim, vem 
aumentando a disputa de terras para produzir alimentos para os animais e para os seres humanos. 
Em 2007, para uma produção mundial de 2.129 milhões de toneladas de grãos a parte destinada ao 
consumo humano foi de 47,4% do total e, assim, 52,6% se destinava ao consumo animal e a outros 
fins, inclusive a produção de combustíveis a partir de biomassa. Segundo o médico veterinário Dr. 
 
1 Esta é uma versão preliminar que oferecemos para o debate, ainda sujeita a revisão e eventuais correções. 
 2
Silvio Negrão, “na média, os suínos precisam comer 3 Kg de ração e os frangos de corte 2 Kg de 
ração para que cada um transforme esse alimento em 1 Kg de seu corpo”. A ineficiência de 
conversão de energia em proteínas para consumo humano via produção de carnes mostra a 
(ir)racionalidade da submissão da produção de alimentos à regras do mercado (Ver Negrão, 2008). 
De todo modo, esse processo exerce uma poderosa influência no aumento do preço da terra. Em 
reportagem de Cláudio Dantas Sequeira publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em 08-06-2008, as 
terras agricultáveis se valorizaram em média 10,16% ao ano entre 2000 e 2006, sendo 15,66% em 
Mato Grosso, tomando como fonte o Centro de Estudos Agrícolas da FGV. Em 2007, de acordo 
com dados do Instituto FNP, o preço médio das terras subiu 17,83%. (Estado de S. Paulo, 
26/09/2008). O valor atual é recorde: US$ 2636 o hectare. Segundo o mesmo instituto, a região do 
Alto do Araguaia, na divisa com Goiás, é a que mais se valorizou em 12 meses: 117,7%. Em parte 
esse aumento se deve à procura de estrangeiros por terras no Brasil, como demonstram José Garcia 
Gasques e Eliana Teles Bastos em artigo para a revista Agronews da Fundação Getúlio Vargas, 
onde registram que as terras nos EUA estavam cotadas pelo dobro do preço do Brasil. “Para os 
brasileiros a terra é cara, mas para o estrangeiro é uma bagatela. Isso tende a restringir o acesso do 
brasileiro à propriedade rural" afirmou Profa. Francisca Neide Maemura, da Universidade Estadual 
de Londrina. 
 
(2) a crise de abastecimento e controle das fontes de combustíveis fósseis 
Por outro lado, a derrota política estadunidense na ofensiva militar contra o Iraque associada às 
vitórias de governos que recusam a agenda neoliberal em países que dispõem de importantes jazidas 
de gás e petróleo (Venezuela, Bolívia e Equador) ou onde há resistências populares significativas 
(povo Ogoni na Nigéria, Afeganistão e Colômbia) desencadeou uma preocupação com a soberania 
energética pelos EEUU que, por sua vez, procura se legitimar tomando para si uma causa - o 
aquecimento global – que, até recentemente, se colocavam frontalmente contra, mas agora 
brandindo a bandeira dos biocombustíveis (Ver Porto-Gonçalves, 2008). Fidel Castro que num 
primeiro momento ficara sozinho na denúncia do que significava substituir a produção de alimentos 
para as pessoas pela produção agrícola de combustíveis para os automóveis se vê, agora, 
contemplado com o acalorado debate acerca do aumento dos preços dos alimentos, inclusive sob os 
auspícios da ONU. Independentemente das diferenças na eficiência de conversão de biomassa em 
combustíveis (que comprovadamente é maior no caso do etanol da cana em relação ao milho e 
outras fontes) o fato concreto é que também aqui se coloca uma maior demanda por terras, o que 
por si só tem enormes implicações na problemática agrária, a começar pelo inegável aumento no 
preço da terra. 
*** 
 3
Embora outras razões se juntem à crise que se manifesta no aumento nos preços dos alimentos, 
como secas e inundações, e a especulação por empresas que monopolizam o comércio mundial de 
alimentos, de adubos, fertilizantes e sementes que vêem na crise ótimas oportunidades de negócio e 
que se fortalecem na medida em que o alimento deixa de ser produzido em casa e passa a ser 
mediado nas bolsas (Chicago e outras), locus de mediação do poder dessas empresas2, a 
problemática agrária se coloca também no centro de um debate geopolítico na medida em que 
diferentes setores do capital procuram lançar mão do trunfo territorial representado pelos diferentes 
Estados. Para isso, os diferentes países com suas riquezas naturais têm que ser defrontados a partir 
das suas diferentes geografias tendo como sine qua non conditio o seu potencial de 
desenvolvimento técnico-científico sem o que estão impedidos de jogarem o jogo nessa escala 
global de poder. 
A qualidade dos territórios dos diferentes estados joga aqui um papel fundamental, sobretudo 
quando se considera a disponibilidade de águas e terras agricultáveis (fertilidade e topografia, esta 
última qualidade sobretudo pela economia de energia relacionada aos relevos planos, o que é 
extremamente relevante quando se trata de um modelo agrário/agrícola energívoro, isto é, baseado 
no grande consumo produtivo de energia). É o que se pode ver no Mapa 01 – Águas e Terras 
Disponíveis por País – onde o Brasil se apresenta numa posição de destaque3. 
MAPA 01 
 
Fonte: ICONE 
 
2 Estima-se que na bolsa de mercadorias agrícolas nos últimos anos, cerca de 40% de todos os contratos de compra 
foram feitas por fundos de investimentos apenaspara especulação. E hoje, os volumes de negócios feitos nessas bolsas 
entre os diferentes especuladores extrapolam em dez vezes o volume real de produção agrícola a ser produzida. Os 
jornais noticiaram que apenas um dos fundos de investimento que especula na bolsa de mercadorias agrícolas, o Fundo 
Hedge dos EUA, teve um lucro líquido de 3,7 bilhões de dólares em 2007. 
3 Chamamos a atenção para os autores deste mapa que são pesquisadores do ICONE – Instituto de Estudos do Comércio 
e Negociações Internacionais – que, além de assessorarem as associações ligadas aos agronegociantes, vêm 
assessorando também o governo brasileiro na defesa de seus interesses, isto é, os interesses dos agronegociantes. 
Consulte o site http://www.iconebrasil.org.br/pt/ . 
 4
O Quadro 01 – Disponibilidade de Terras Aráveis por País – reitera a informação anterior ao situar 
o Brasil como o país de maior disponibilidade de terras e águas. 
 
QUADRO 01 
 
Fonte: ICONE e FAO; Elaboração: ICONE 
 
No caso da América do Sul destacam–se, ainda, a Argentina, a Colômbia, a Bolívia e a Venezuela. 
Registremos que o complexo técnico-científico-agroindustrial-financeiro-midiático de poder 
implicado no modelo agrário/agrícola no caso brasileiro e argentino implica, ainda, na 
disponibilização das terras paraguaias e bolivianas haja vista que não se pode compreender os 
processos socioespaciais que se desenvolvem nesses países dissociados desse bloco de poder que se 
estrutura a partir do Brasil e da Argentina. Os conflitos recentes envolvendo os agronegociantes 
bolivianos, em franca oposição ao governo Evo Morales na Bolívia, e os que envolvem camponeses 
sem terra que apóiam o governo Lugo no Paraguai, em franca oposição aos agronegociantes 
estrangeiros (leia-se, brasileiros), são parte desses conflitos que ultrapassam as fronteiras nacionais 
não só pelos protagonistas implicados diretamente, mas também pelo enorme significado que essa 
região tem no contexto geopolítico de elevadíssima demanda de terras que acima configuramos. São 
fartas as notícias que apontam a chegada de capitais de origem européia, estadunidense e japonesa 
comprando terras no Brasil, Argentina e, até muito recentemente na Bolívia e no Paraguai, pelas 
oportunidades que se abrem de captar renda e aumentar a apropriação de mais valia. Reportagem do 
jornal Valor de 28/08/2008 afirma que empresas estrangeiras planejam investir US$ 1 bilhão na 
compra de terras no Brasil, o que lhes permitirá comprar 4 milhões de ha, 5% das terras 
agricultáveis do país. Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão 
responsável pelo controle do cadastro de terras no país, mostram que, nos últimos sete meses, 203 
 5
mil hectares de terras foram parar nas mãos de estrangeiros. Esses números, segundo o próprio 
presidente do Incra, certamente estão subestimados, porque os cartórios não são obrigados a 
registrar separadamente as terras compradas por estrangeiros e repassar as informações para o 
órgão. Hoje, de acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), pelo 
menos 5,5 milhões de hectares estão nas mãos de estrangeiros. 
O resultado disto é que, apesar da enorme disponibilidade de terras, reconhecida, como vimos, até 
mesmo pelos intelectuais e lideranças dos agronegociantes, não se configura uma real política de 
reforma agrária, ao contrário, o aumento nos preços da terra torna mais caras as desapropriações de 
terras, bem como torna mais difícil acordos relativos à compra de terras, uma vez que os 
proprietários tendem a negociar em situação mais favorável. 
Assim, reforça-se a tendência que já vinha se estabelecendo de criação de novos assentamentos na 
Amazônia, uma vez que é nesta região que as terras são mais baratas e em sua quase totalidade são 
terras públicas. Disto decorrem duas conseqüências: de um lado, um descolamento geográfico entre 
a mobilização dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil – que se concentra no Centro-Sul – e a 
política de assentamentos – que se concentra na Amazônia; de outro, substitui-se a reforma agrária 
pela colonização de novas áreas. (Ver Alentejano, 2004). Ademais, a precariedade da própria 
política de colonização, disfarçada de assentamentos, estimula a grilagem de terras (Ver Oliveira, 
2007 a , 2007b e 2007c), isto é, apropriação de terras ao arrepio da lei, que faz das áreas de 
expansão mais do que uma região de fronteira, como comumente vem sendo chamada, inclusive nos 
meios acadêmicos, mas como um verdadeiro front de batalha no preciso sentido militar de origem 
da expressão, onde impera a violência, processo muito semelhante ao que se deu no oeste dos EUA 
na segunda metade do século XIX e tão bem retratado nos filmes de faroeste. 
Estamos, ao contrário, diante de um processo de anti-reforma agrária quando se observam os dados 
de evolução da área plantada no Brasil nos últimos 16 anos (entre 1990 e 2006). Se tomamos três 
produtos típicos da agricultura empresarial – a cana, a soja e o milho – que estão implicados nos 
processos acima descritos de uma agricultura voltada para a produção de combustível (cana e soja) 
ou para alimentação animal (milho e soja) observamos que a área total plantada passou de 
27.930.805 hectares, em 1990, para 41.198.283 hectares, em 2006, um aumento de 47,5%. Quando 
observamos a área total destinada à produção de três produtos característicos da cesta básica de 
alimentação do brasileiro – o arroz, o feijão e a mandioca - notamos que a área total diminuiu de 
11.438.457 hectares para 9.426.019 hectares, ou seja, uma queda de 17% no mesmo período. 
Enquanto todos os produtos destinados à produção de combustíveis (cana e soja) ou à alimentação 
animal e só indiretamente às pessoas (soja e milho) aumentaram, todos os produtos destinados à 
cesta básica viram sua área diminuir no período. 
 6
Se, pelo menos a princípio, parece correta a crítica do governo brasileiro ao etanol produzido a 
partir do milho, sobretudo nos EUA, uma vez que se trata de deslocamento direto de alimentos para 
a produção de combustível, ao contrário do etanol à base de cana-de-açúcar, também é verdade que 
há impacto indireto da expansão da cana em relação à oferta e preço dos alimentos, pois vem 
ocorrendo sensível redução da área destinada à plantação de alimentos assim como um 
deslocamento geográfico dessa produção. A substituição de plantios de arroz, feijão e milho por 
plantios de cana está ocorrendo em várias regiões, como o oeste paulista, o Triângulo Mineiro, o sul 
de Goiás. Isto, de um lado, provoca a pura e simples redução da oferta destes alimentos, mas de 
outro provoca também o deslocamento destas culturas para terras de pior qualidade e mais distantes 
dos principais mercados consumidores, o que significa aumento dos preços, dados os maiores 
custos de produção e frete. Além disso, a corrida por terras no Brasil, motivada pela febre dos 
agrocombustíveis e pelo avanço da agricultura para alimento do gado, produz aumento do preço das 
terras, o que também impacta o preço dos alimentos, uma vez que o aumento da renda da terra 
rebate no preço dos alimentos. 
É o que se pode verificar com a nova geografia que se vai desenhando no mundo agrário brasileiro 
(Figuras 1 a 6 e Gráficos 1 a 6) onde, a partir dos próprios dados oficiais do IBGE, verifica-se a 
expansão da área plantada com cana, soja e milho e a redução da área plantada com arroz, feijão e 
mandioca. 
A Figura 1 e o Gráfico 1 indicam que a cana teve forte expansão da área plantada no país no 
período, com aumento de 43%. E embora a maior parte da cana concentre-se na região Centro-Sul 
(passou de 63 para 78% do total), a região onde mais cresceu proporcionalmente a área plantada no 
período foi a Amazônia (121%de aumento). Em termos absolutos, a maior expansão da área de 
cana-de-açúcar verificou-se nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. 
 
Figura 1 – Variação regional da área plantada de Cana-de-açúcar – Brasil - 1990-2006 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
 
 
Cana de Açúcar - Área plantada (Hectare) - 1990
Amazônia
3%
Nordeste
34%
Centro-Sul
63%
Cana de Açúcar - Área plantada (Hectare) - 2006
Amazônia
4%
Nordeste
18%
Centro-Sul
78%
 7
Gráfico 1 - Evolução e distribuição espacial da área plantada de Cana-de-açúcar (1.000 ha) - 
Brasil - 1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada de 
Cana-de-açúcar (1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
1457
4323
2746
120
6178
4818
1095
265
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
A soja (Figura 2 e Gráfico 2) também vai se deslocando dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, 
onde é plantada sobretudo por pequenos e médios produtores, para Mato Grosso do Sul, Goiás, 
Mato Grosso e Maranhão onde os grandes latifúndios monocultores empresariais de exportação se 
destacam. O Gráfico 2 indica que a área plantada com soja no Brasil cresceu 91% no período 1990-
2006, sendo que o maior crescimento verificou-se na Amazônia (319% !!!) que já responde hoje por 
quase 1/3 da soja produzida no país (Figura 2). 
 
Figura 2 – Variação regional da área plantada de Soja – Brasil - 1990-2006 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
Gráfico 2 - Evolução e distribuição espacial da área plantada de Soja (1.000 ha) - Brasil - 
1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada de Soja 
(1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
14254
115859620
3621603
22083
1105
6724
0
5000
10000
15000
20000
25000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
Soja - Área Plantada (ha) - 1990
Amazônia
14%
Nordeste
3%
Centro-Sul
83%
Soja - Área Plantada (ha) - 2006
Amazônia
30%
Nordeste
5%
Centro-Sul
65%
 8
Merece destaque ainda, o avanço dessa mesma soja pelos cerrados do Piauí e Bahia que muito 
contribuiu para que a região Nordeste também tivesse um aumento altamente significativo de sua 
área plantada com soja, que passou de 3% para 5% no mesmo período. Os Mapas 2 e 3 abaixo 
evidenciam este processo. 
 
Mapa 2 – Brasil – Produção de Soja – 1996 e Mapa 3 – Brasil – Produção de Soja - 2006 
 
 
Fonte: IBGE. 
 
O mesmo movimento geográfico e social se pode observar com o cultivo de milho que, como 
sabemos, está fortemente associado à criação de frangos e porcos4. A Figura 3 indica que também 
no caso do milho foi na Amazônia que se verificou o maior crescimento na área plantada durante o 
período 1996/2006, tanto em termos absoluto como relativo. 
 
Figura 3 – Variação regional da área plantada de Milho – Brasil - 1990-2006 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
 
 
 
 
 
 
4 O milho é também, muitas vezes, utilizado em rotação com a soja. 
Milho - Área Plantada (ha) - 1990
Amazônia
10%
Nordeste
18%
Centro-Sul
72%
Milho - Área Plantada (ha) - 2006
Amazônia
15%
Nordeste
19%
Centro-Sul
66%
 9
Gráfico 3 - Evolução e distribuição espacial da área plantada de Milho (1.000 ha) - Brasil - 
1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada de 
Milho (1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
12023
8682
21631178
12997
8500
25011996
0
5000
10000
15000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
Por outro lado, verificamos que o modelo agrícola que vem se impondo nas últimas décadas no 
país, implica a redução da área plantada dos produtos alimentícios da cesta básica dos brasileiros, 
especialmente nas regiões capitalisticamente mais desenvolvidas, como se pode ver pelo 
decréscimo da área plantada com feijão e arroz no Centro-Sul. 
No caso do arroz (Figura 4 e Gráfico 4) houve uma queda de 27,6% na área plantada em todo o 
país, entre 1990 e 2006 (de 4.158.547 hectares para 3.010.169 hectares), sendo que, 
contraditoriamente, na região Nordeste, onde a fome é mais generalizada, ocorreu a maior redução 
ainda. 
 
Figura 4 – Variação regional da área plantada de Arroz – Brasil – 1990-2006 
 
Arroz - Área Plantada (ha) - 2006
Amazônia
42%
Nordeste
8%
Centro-Sul
50%
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
Arroz - Área Plantada (ha) - 1990
Amazônia
37%
Nordeste
10%
Centro-Sul
53%
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10
 
Gráfico 4 - Evolução e distribuição espacial da área plantada de Arroz (1.000 ha) - Brasil - 
1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada 
de Arroz (1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
4159
2219
400
1540
3010
1519
227
1264
0
1000
2000
3000
4000
5000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
No caso do feijão (Figura 5 e Gráfico 5), o mesmo acontece, com a redução generalizada da área 
plantada de 5.306.257 ha em 1990 para 4.245.480 ha em 2006, sendo que neste caso a maior 
redução verificou-se no Centro-Sul. 
 
Figura 5 – Variação regional da área plantada de Feijão – Brasil - 1990-2006 
 Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 
Gráfico 5 - Evolução e distribuição espacial da área plantada de Feijão (1.000 ha) - Brasil - 
1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada de 
Feijão (1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
2565
5304
2366
373
4244
16852263
296
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
Feijão - Área Plantada (ha) - 1990
Amazônia
7%
Nordeste
45%
Centro-Sul
48%
Feijão - Área Plantada (ha) - 2006
Amazônia
7%
Nordeste
53%
Centro-Sul
40%
 11
 
A área plantada com mandioca apresenta a mesma geografia social em que as regiões 
capitalisticamente mais avançadas não são aquelas em que o cultivo dos gêneros alimentícios 
destinados à cesta básica são de interesse. Todavia, a Figura 6 e o Gráfico 6 indicam um aumento 
significativo da participação da Amazônia no cultivo da mandioca, com o avanço de uma frente 
camponesa que ocupa a floresta, fazendo da região a maior produtora do país. 
 
Figura 6 – Variação regional da área plantada de Mandioca – Brasil - 1990-2006 
 
Gráfico 6 - Evolução e distribuição espacial da ea plantada de Mandioca (1.000 ha) - Brasil 
Mandioca - Área Plantada (ha) - 1990
Amazônia
30%
Nordeste
46%
Centro-Sul
24%
Mandioca - Área Plantada (ha) - 2006
Amazônia
38%
Nordeste
37%
Centro-Sul
25%
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
 ár
- 1990-2006 
Evolução e distribuição espacial da área plantada de 
Mandioca (1.000 ha) - Brasil - 1990-2006
901
484
1976
476599
1974
742
748
0
500
1000
1500
2000
2500
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal. 
Isto é a expressão do processo apontado anteriormente de contra-reforma agrária, onde os 
 verdadeiramente espetacular da área plantada com cana de açúcar no centro mais 
 
latifúndios monocultores de exportação concentram-se no Centro-Sul e empurram para a Amazônia 
a agricultura camponesa, sendo que a atual política de assentamentos consagra este modelo 
perverso. 
A expansão
dinâmico do país, além de conviver com a diminuição do cultivo de produtos da cesta básica nessa 
região,está avançando, sobretudo em áreas antes destinadas a pastagens, como bem sinalizaram os 
intelectuais e lideranças ligadas aos agronegociantes, conforme o Quadro 2 abaixo, cuja autoria é 
desses think thanks do agribusiness como gostam de ser chamados. 
 
 12
QUADRO 2 
 
 
 substituição de pastagem pelo cultivo de cana necessariamente desloca o gado para outras áreas 
al do rebanho bovino (1.000 cabeças) 
A
que, no caso, tem sido para a região Centro Oeste e para a Amazônia, cujos efeitos retomaremos 
adiante. Com a expansão do fenômeno da urbanização e o aumento do consumo de carne bovina 
esta também vem se constituindo numa commodittie e, com isso, estamos assistindo a um avanço 
espetacular da criação de gado, sobretudo em áreas antes cobertas pela floresta (Ver Porto-
Gonçalves, 2007). Do aumento de 40% do rebanho bovino ocorrido no país entre 1990 e 2006 (de 
cerca de 147 milhões de cabeças em 1990 para aproximadamente 206 milhões de cabeças em 2006), 
80,8% desse aumento ocorreu na Amazônia que passou de 26 milhões para 73 milhões de cabeças 
de gado em 2006, um crescimento de 181%, ou seja, a região praticamente triplicou seu rebanho e 
já representa mais de 1/3 de todo o rebanho brasileiro (Gráfico 7). 
 
Gráfico 7 - Evolução e distribuição espaci
Brasil – 1990-2006 
Evolução e distribuição espacial do rebanho bovino 
(1.000 cabeças) - Brasil - 1990-2006
205.886
147.102
98.554
22.290
26.258
110.880
21.268
73.738
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
Amazônia Nordeste Centro-Sul Brasil
1990
2006
 
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. 
 13
Assim, verific azônia, apontada pelos críticos desse modelo 
MAPA 04 – Brasil –Pecuária – 1996 e MAPA 05 – Brasil – Pecuária - 2006 
ssim vemos se reproduzir ampliadamente no espaço geográfico brasileiro o Complexo de 
a-se que a temida pecuarização da Am
nos anos 1970 e 1980, está se consagrando substituindo a floresta pela pata do boi, conforme os 
mapas 04 e 05. A geografia do modelo de desenvolvimento agrário brasileiro incontestavelmente 
está colocando em risco a floresta, as populações camponesas, inclusive quilombolas e os povos 
originários. 
 
 
 
Fonte: IBGE. 
 
A
Violência e Devastação (Porto-Gonçalves, 2007), a outra face de Janus do perverso processo de 
modernização do agro brasileiro, onde terras que são formalmente de responsabilidade do Estado 
são apropriadas de modo fraudulento (grilagem) num processo que, aliás, sempre caracterizou a 
expansão para novas áreas (vide o avanço da fronteira em São Paulo, Paraná, Goiás, Espírito Santo 
e Minas Gerais ainda no século XX). O recente avanço no Mato Grosso, Pará, Tocantins e 
Maranhão vem ainda associado à demanda por carvão vegetal para a purificação (ferro gusa) do 
ferro, commoditie que, deste modo, vai sem rejeitos para o primeiro mundo à custa da queima da 
floresta. Não à toa a Amazônia, junto com o Nordeste, foram as regiões onde mais se expandiu a 
produção de madeira no Brasil nos últimos anos. O aumento que foi de 114% no conjunto do país; 
de quase 25 vezes no Nordeste, que passou de 0,6% para 7,6% do total da produção brasileira, e 
triplicou na Amazônia que passou de 2,9 para 5,6% do total, ao passo que no Centro-Sul, embora a 
produção tivesse crescido 92,9%, a participação no total do país caiu de 96,4% para 86,8% do total. 
 
 
 
 
 14
Gráfico 8 - Produção de Madeira – Brasil – 1990-2006 
Produção de Madeira em tora - Brasil - 1990-2006
100.766.899
47.024.280
1.379.327 300.349
45.333.392
5.690.707 7.649.362
87.426.830
0
20.000.000
40.000.000
60.000.000
80.000.000
100.000.000
120.000.000
Brasil Amazônia Nordeste Centro-Sul
1990
2006
 
Fonte: IBGE. 
Assim, a grila ras se combina com a queimada para fazer carvão e, completando o 
privada no campo brasileiro, somando 875 
Gráfico 9 – Assassinatos no Campo por Região – Brasil – 1985 a 2005 
 
gem das ter
complexo de violência e devastação, vem a criação do gado e também o cultivo de soja. Enfim, o 
que vem sendo apontado como uma conjuntura de grandes oportunidades para os agronegociantes 
vem se dando por meio da reprodução de um modelo tipicamente moderno-colonial de violência e 
devastação que marca a formação territorial do Brasil. 
Não é à toa que a Amazônia é o locus da violência 
assassinatos em conflitos pela terra entre 1985 e 2005, 62% do total de pessoas assassinadas no 
campo nestes vinte e um anos, praticamente 2/3 de todos os 1415 assassinatos verificados no 
período. 
Assassinatos no Campo - 1985-2005
Amazônia
62%
Nordeste
18%
Centro-Sul
20%
 
Fonte: CPT 
 
 aumento da demanda por terras está por trás também do aumento dos conflitos envolvendo O
populações tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, castanheiros, 
faxinalenses, retireiros, geraizeiros, enfim diferentes formações camponesas com suas qualidades 
características desenvolvidas junto às peculiaridades dos nichos dos distintos biomas brasileiros) 
por ações de expulsão das famílias dos territórios que ocupam há dezenas ou centenas de anos. 
Embora as ações de expulsão contra essas populações tradicionais venham se dando, sobretudo nas 
regiões do Planalto Central e na Amazônia, não constituem fenômeno específico dessas regiões. Há 
que se considerar a complexidade que conforma o espaço geográfico, inclusive nas suas 
 15
configurações ecológicas, posto que as regiões topograficamente mais acidentadas, ou mesmo 
planas, mas com restrições de uso de água e de baixa fertilidade natural (chapadas e chapadões), ou 
áreas de difícil acesso, foram historicamente ocupadas seja por camponeses ou quilombolas, ou 
ainda por populações indígenas, inclusive nas regiões sul e sudeste do país (faxinalenses e 
quilombolas). As extensas regiões planas e com restrições de uso de água do Planalto Central 
brasileiro, com as novas tecnologias de captação de água em profundidade por meio dos pivôs 
centrais, vêm sendo particularmente objeto da sanha dos latifúndios empresariais para implantação 
dos monocultivos seja de soja, de eucalipto e outras commoditties, já que por serem áreas planas 
implicam menores gastos com energia, o que é fundamental para um modelo agrário/agrícola com 
base em empresas latifundiárias com intenso uso de energia. 
No caso da produção de madeira para papel e celulose, o movimento de expansão é reforçado pelas 
 1990-2006, houve um aumento de 67% no conjunto do 
Gráfico 10 - Produção de madeira para papel e celulose – Brasil – 1990-2006 
enormes vantagens comparativas da produção desta matéria prima no Brasil, onde o tempo de corte 
chega a ser 1/3 menor que nos países de clima temperado. Assim, são inúmeras as notícias que dão 
conta do fechamento de fábricas de papel e celulose na Europa e transferência das mesmas para o 
Brasil. (O Estado de S. Paulo, 20-09-2008.) Como resultado disso, entre 2005 e 2007 a área 
plantada de Pinus e Eucalipto cresceu de 5.241.775 ha para 5.985.396 ha, um aumento de 14% em 
apenas três anos (www.abraflor.org.br). 
No que se refere à produção, no período
país, destacando-se o crescimento da produção no Nordeste (mais de 60 vezes), cuja participação 
passou de irrisórios 0,04% para 13,8% do total do país, sobretudo com a devastação da Mata 
Atlântica do Sul da Bahia para instalação de grandes empresas papeleiras na região.5 Apesar disto, 
o Centro-Sul ainda concentra mais de 80% da produção nacional. 
 
Produção de madeira em tora para papel e celulose - Brasil - 1990-
2006
31.451.822
121.7071.379.327
32.952.856
7.582.995
45.845.248
1.686.486
55.114.729
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.00060.000.000
Brasil Amazônia Nordeste Centro-Sul
1990
2006
 
 Fonte: IBGE. 
 
5 Infelizmente o IBGE não fornece dados sobre a área plantada, como no caso dos produtos agrícolas, apenas dados 
sobre produção. 
 16
Enfim, o espaço geográfico brasileiro está atravessado por fronts de batalha com o espraiamento 
dos conflitos (Cadernos de Conflitos CPT, 2007) que não se restringem à Amazônia, mas se 
espalham por todo o país, pelas diferentes formas de expansão do modelo agrário/agrícola – a cana 
se expande em SP, MG, GO e MS pela logística já disponível para a expansão da produção do 
etanol; a soja se expande nos planaltos centrais com suas chapadas e pelo fato de ser a “caixa 
d´água” do país, ou seja, onde nascem os principais rios do país; o gado se desloca para a Amazônia 
assim como a produção de carvão para exportar ferro gusa tudo isso tendo os agronegociantes como 
seus principais protagonistas e beneficiários. 
Assim, podemos perceber que todos estes aspectos estão interligados e se queremos preservar a 
 futuras, pelo que ela representa em termos de biodiversidade e fonte de 
de forma a contribuir diretamente para a segurança 
Amazônia para as gerações
água e umidade para o Brasil e o mundo, temos que inverter completamente a lógica em andamento. 
O ponto de partida dessa solução é a reforma agrária, e não a política de assentamentos em curso 
hoje no Brasil sob o nome de reforma agrária. Em primeiro lugar, a reforma agrária deve ser feita 
nas regiões Centro-Sul e Nordeste, mediante a atualização dos índices de produtividade, mas, 
sobretudo da efetivação do princípio da função social na sua integralidade, isto é, não só a dimensão 
produtiva, mas também a trabalhista e a ambiental. Em segundo lugar, a produção nos 
assentamentos de reforma agrária deve ser orientada para a produção de alimentos básicos, com 
mecanismos de garantia de compra e preços 
alimentar. Deve ser ainda concebida com base em princípios agroecológicos, de forma a não 
reproduzir a elevada dependência energética da agricultura convencional e os impactos 
socioambientais. O próprio caráter descentralizado da produção de alimentos que nos 
proporcionaria uma nova geografia derivada de um amplo programa de reforma agrária 
possibilitaria reduzir os absurdos custos de frete de um modelo agrário/agrícola que leva a que se 
transporte feijão – que pode ser produzido em praticamente todo o território brasileiro – a 4 mil 
quilômetros de distância. Por último, a própria produção descentralizada de agrocombustíveis 
combinada com a produção de alimentos, em assentamentos de reforma agrária, articulada a 
pequenas agroindústrias voltadas para a transformação local da produção, poderia também 
contribuir para um melhor aproveitamento energético dos próprios agrocombustíveis, além de 
garantir maior autonomia para as comunidades locais. 
Portanto, do ponto de vista dos movimentos sociais que se dedicam à luta pela reforma agrária não 
se trata de descartar os agrocombustíveis, mas de rejeitar o atual modelo de produção que reproduz 
o falido modelo de produção agropecuário da revolução verde, baseado em extensas monoculturas, 
com uso intensivo de máquinas e insumos químicos que embutem elevados gastos energéticos, além 
da violência como prática estruturante de sempre. 
 17
O Brasil expõe de modo emblemático o caráter contraditório do processo de 
modernização/colonização, expressão cujos termos equivocadamente temos usado separadamente. 
O sistema mundo moderno-colonial (I. Wallerstein e A. Quijano) que nos constitui desde 1492 se 
atualiza, se mostra atual, atuando com os dois lados de sua mesma face – a tecnologia de ponta e as 
a como os nossos engenhos de açúcar, tal e 
relações sociais e de poder que melhor permitam a maior acumulação de capital, onde matar e 
desmatar constituem práticas irmãs. Ao contrário do que nos ensinam nas escolas e nas 
universidades, o Brasil (assim como Haiti e Cuba) não era, nos séculos XVI e XVII, exportador de 
matéria prima, mas sim de açúcar, produto manufaturado, a maior commodittie da época, e para 
produzi-lo não havia nenhuma manufatura tão modern
qual, hoje, as mais modernas máquinas e implementos do agribusiness, nome novo para uma 
prática quincentenária, nos mostra cabalmente que a modernidade não necessariamente nos traz 
progresso, liberdade e justiça social. Somos modernos há 500 anos! A colonialidade sempre foi 
constitutiva da modernidade! A ideologia da modernidade bem vale uma missa! 
 
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	Figura 4 – Variação regional da área plantada de Arroz – Brasil – 1990-2006
	Figura 5 – Variação regional da área plantada de Feijão – Brasil - 1990-2006
	Gráfico 7 - Evolução e distribuição espacial do rebanho bovino (1.000 cabeças) 
	Brasil – 1990-2006
	Gráfico 9 – Assassinatos no Campo por Região – Brasil – 1985 a 2005

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