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História Antiga Oriental Matéria Completa (10 aulas) 1º Semestre

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História Antiga Oriental. 
 
Aula 1 – As Origens da Civilização e do Estado. 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar os conceitos relacionados à História Antiga Oriental; 
2. reconhecer as dificuldades em estudar este período; 
3. relacionar a organização das sociedades humanas e o estudo histórico sobre elas. 
 
Nesta primeira aula, estaremos discutindo a construção da disciplina. Devemos nos perguntar o porquê de estudar 
História antiga e como estudá-la, o que é oriente, quando começa a história, enfim, é o momento de perguntas, de 
construir as bases para podermos trabalhar o nosso curso. 
Para começar, é absolutamente fundamental definir alguns conceitos. Mas, o que é um conceito? Conceito é a 
exposição teórica de uma ideia presente na sociedade. Exemplo: se peço para você conceituar cultura, não desejo 
saber sobre a influência da cultura na sua vida ou como ela é importante ao homem. 
A pergunta anterior versa de maneira direta sobre a definição de conceito, de forma que nos permite compreender 
o que é cultura. 
 
Veja um exemplo da história antiga. Antes, pare e pense um pouco! 
Temos escravidão na História Antiga? 
A resposta é sim. Mas, só se entender escravidão como um conceito, quer dizer, um sistema de trabalho que impõe 
ao submetido um regime compulsório. 
Poderia usar, por exemplo, o termo em grego doloi, mas, como muito bem salienta Finley, um dos maiores 
historiadores antigos em seu livro O Uso e o Abuso da História Antiga, quando eu explicasse que doloi era um grupo 
social que vivia sob um regime de trabalho compulsório em que seus senhores poderiam, por exemplo, ter direito 
sobre sua vida ou morte. O que viria na cabeça do aluno? Escravo. Então, perde o sentido conceituar de maneira 
diferente. 
Um aspecto nesse ponto é fundamental: os conceitos são inscritos no tempo. Podemos utilizá-los como referência, 
mas seu entendimento passará necessariamente por sua explicação no meio social. 
 
O Conceito de Oriente: 
Seguindo a busca dos conceitos, devemos entender o que é Oriente. Poderíamos entendê-lo somente como uma 
divisão geográfica? Em termos geográficos, a divisão entre Ocidente e Oriente é proveniente do mapa de fusos 
horários. 
 
Vamos um pouco para trás: o mundo após a II Guerra Mundial viveu uma separação político ideológica, dividida em 
países capitalistas e socialistas. Naquele momento, muito se usava o termo "Cortina de Ferro" para marcar o limite 
das forças capitalistas e socialistas na Europa, representado especialmente pela divisão da Alemanha e o muro 
construído em Berlim. Se naquele momento perguntássemos a qualquer pessoa minimamente esclarecida onde 
está o Ocidente e o Oriente, a explicação seria dada sob a perspectiva do momento. 
Da mesma forma, devemos entender a divisão na antiguidade entre Ocidente e Oriente e o que caracteriza cada um 
deles. De um lado, temos sociedades consideradas berço da humanidade: Egito e Mesopotâmia em especial. Do 
outro, a ideia do que é ser ocidental, certo orgulho de culturas como a grega e a romana, como se todos nós 
representássemos esses grupos. 
O olhar que desejamos é um olhar que fuja dessa dicotomia, desse dualismo. Entende-se Oriente como um espaço 
de poder caracterizado pela organização de importantes civilizações e como suas práticas constroem e influenciam o 
mundo conhecido. Precisamos construir um olhar crítico, que não veja as pirâmides com uma mostra de como esses 
povos eram avançados, mas uma sociedade à qual possamos entender, discutir, que nos permita refletir melhor 
sobre nossa própria sociedade. 
 
História antiga: como estudar? 
Primeiro é necessário pensar nesta periodização: o que é história antiga? O que é algo antigo? De onde surge uma 
ideia como essa? Como já conversamos, as coisas não são criadas ao acaso, em especial, uma divisão de tempo 
como a que utilizamos não é um acidente. Vamos lembrar: 
 
História Antiga: 
1. A linha tradicional do tempo mostra que, do surgimento da escrita (a maioria por cerca de 3.000 a. C.) ao fim do 
Império Romano do Ocidente - Séc. V d.C.: 
a. A Idade Média seria do século V ao XV; 
b. A Idade Moderna, do XVI ao XVIII; 
c. A Idade Contemporânea, do XIX ao XXI). 
Por essa conta, em que idade nós estamos? Contemporânea, certo? Sim e não. 
Se formos ao limite do conceito, todo homem é contemporâneo ao seu tempo, vive sua própria época. Mas, se 
adotarmos os modelos existentes, pode acontecer um congresso daqui a 20 anos que determine que tenhamos 
vivido uma idade de nome diverso. Isso vai alterar quem nós somos. 
Cada homem é filho de seu próprio tempo e os marcos são escolhidos como não naturais ou inquestionáveis. 
 Partindo desse pensamento, observamos ainda brevemente o nome dado às Idades: Antiga, Média, Moderna e 
Contemporânea. 
A que esses nomes nos remetem? Algo que passou, um período intermediário, o homem melhorando, se tornando 
moderno para chegar nos dias de hoje. Essa proposta surge no século XVII, época em que a Europa vivia um 
importante movimento intelectual chamado Iluminismo. Nele, havia a preocupação em marcar que o homem vivia 
um momento especial, a era da razão e da capacidade do homem. 
Na busca de uma afirmação nesse sentido, procura-se negar o período imediatamente anterior: assim, a Idade 
Média será caracterizada pelas trevas para a razão chegar e lhe oferecer a iluminação. 
A antiguidade, então, é o período em que o homem sai de sua condição animalesca e inferior para construir uma 
grande sociedade. O homem tem um tombo, uma falha, para atingir seu auge no período moderno. 
Devemos acreditar nisso? Definitivamente, não! Então, por que continuamos usando esses marcos? A resposta 
está em entendê-los como didáticos, uma forma de dividir e entender o mundo, mas sem acreditar que os períodos 
tem uma sucessão marcada. 
É impossível determinar quando começa ou termina um período. Vivemos em quadros constantes de transições, nos 
quais as sociedades têm continuidades e rupturas ao longo de sua existência. 
 
A história antiga é toda a história antes do fim do Império romano. Caros, estamos falando de milhares de anos, 
milhares de sociedades, práticas que precisam fugir das tradições eurocentristas, mas que marcaram as sociedades 
Ocidentais. 
 
Durante muito tempo, a resposta seria sim. Hoje, apesar de entender a importância da escrita cuneiforme, 
trabalhamos de maneira mais complexa. 
A tradição nos faz responder à questão, mostrando-nos que foi durante a organização dos sumérios na 
mesopotâmia, com o estabelecimento da escrita cuneiforme. Então, tudo o que não é escrito não é história. 
Mas, e agora? Quando começa a história? 
Toda e qualquer sociedade possui patrimônio, organizações, culturas que nos permite quebrar a ideia de um 
evolucionismo para pensar que as sociedade são complexas. As formas de escrita são sempre muitíssimo inferiores 
em quantidade aos relatos e tradições orais. 
Assim, não pretendemos utilizar as noções de pré-história e história, mas sim como as sociedades humanas se 
transformaram desde o aparecimento dos homo sapiens no continente africano há 100.000 anos. 
 
Para facilitar a observação do quão as práticas são complexas, separamos um quadro que mostra a evolução das 
sociedades humanas. 
Depois de ver o quadro, percebe-se que existe a falta de mais informações sobre a América e a África, o que não 
significa imobilismo, mas sim falta de investimento em arqueologia, que atualmente vem crescendo e modificando 
essas visões (vide a descoberta de Luzia em Minas Gerais e o estudo da expansão de bantos e os contatos com 
organizações diversas no espaço africano). 
Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que issosignificou para as sociedades humanas. 
O termo neolítico se refere ao uso de novos materiais pelas sociedades humanas. Nas suas organizações tradicionais, 
o homem se organizava em pequenos grupos, de característica nômade, e eram caçadores e coletores. 
 
Há cerca de 10.000 anos, vários grupos ao redor do mundo iniciaram o cultivo, primeiro de algumas gramíneas e a 
domesticação de animais. Esse esforço inicial de agricultura e pecuária permitiu o assentamento do homem por 
períodos maiores. Mais do que isso, o desenvolvimento da agricultura permitiu o aumento da natalidade e a 
organização de grupos maiores. 
Segundo Gwendolyn Leick, Mesopotâmia, o nascimento das cidades, o grande marco de transformação da sociedade 
humana, é a passagem de estruturas nômades e seminômades para sociedades de característica sedentárias. Com 
maior número de pessoas, as sociedades buscaram melhorias, em especial do controle da água, condição 
fundamental para organização humana. 
Notamos pela tabela de desenvolvimento que os espaços tenderam a crescer para as áreas que se manifestaram 
mais férteis, como Delta do Nilo, Mesopotâmia, Rio Amarelo, dentre outras. 
 
Como podemos observar, a organização de cidades se hierarquiza a sociedade, sofistica suas relações, estrutura 
novas regras, sofistica explicações religiosas, justifica organizações políticas, herarquizam o trabalho e o poder. 
Atenção! Cuidado para não transformar a criação das cidades em um sistema de exaltação do homem. Esse modelo 
de organização também traz outros problemas às sociedades humanas, como o desenvolvimento de doenças, 
epidemias. Do contato constante com os animais, os humanos acabam trazendo uma série de doenças. Uma cidade 
tende-se a estar mais exposta aos dejetos, à sujeira do que o campo. Não é uma ideia evolucionista, mas de 
constante transformação. 
 
Nessa aula você: 
 Compreendeu que Oriente e Ocidente não é uma divisão puramente geográfica e que a história transforma 
sua visão; 
 Aprendeu que a divisão do tempo histórico é uma "invenção" e não um elemento natural, assim, a transição 
é um elemento constante em nossas práticas sociais; 
 Analisou a formação da sociedade como um fator importante para o entendimento da história antiga. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Oriental – Aula 2. 
 
Mesopotâmia. 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar os conceitos relacionados à História Antiga Oriental; 
2. reconhecer as dificuldades em estudar este período; 
3. relacionar a organização das sociedades humanas e o estudo histórico sobre elas. 
 
 
A definição contemporânea trabalha com algumas denominações principais e, a partir destas denominações, 
buscamos entender a sociedade que estaremos estudando. A divisão tradicional fala em Oriente Próximo; Oriente 
Médio e Extremo Oriente. 
Oriente Próximo são as regiões que atualmente entendemos como árabes: Porções de cultura islâmica, mas que no 
mundo antigo era o limite das antigas áreas de dominação no Império Romano entre os século II a.C. e V d.C. 
Oriente Médio: Possessões ligadas às antigas áreas Hindus e Persas; existe uma discussão se a Península Arábica 
seria Oriente Médio ou Próximo, devemos entender as áreas mais ao sul como médio. 
Extremo Oriente - Até o início do século XX, eram regiões pouco estudadas, vistas como exóticas. Quando 
começaram a estudá-las, uma das características consideradas é que essas regiões apresentavam um traço de 
cultura que as aproximavam: foram identificadas, em especial, com a cultura chinesa. 
 
Falemos um pouco de Império Romano. 
Era dividido entre Ocidente e Oriente e possuía duas capitais, Roma e Constantinopla (Séc. III – V). A partir da cidade 
de Constantinopla em direção à Asia, estão localizadas as áreas reconhecidas na antiguidade como Oriente. 
Veja o mapa a seguir. 
Nesta divisão geográfica, não há um traço claro de divisão entre o Oriente e o Ocidente, seja o elemento que nós 
escolhamos para pensar, será uma aproximação. Então vamos entender que estamos falando de escolhas. Estudar 
as sociedades do Crescente Fértil, Egito, Hebreus e Persas não é por considerar estes espaços como o berço de nossa 
sociedade, mas de compreender que os espaços sociais foram escolhidos para uma melhor compreensão da 
estrutura social. 
 
Mas, afinal, quando começa a história? 
A escrita transforma inteiramente o homem? É um questionamento interessante. Pensemos em sociedades de 
caçadores e coletores. Qual o papel da escrita para eles? Aliás, vale refletir um pouco sobre o tempo e essa noção 
utilitarista. 
 
As noções de tempo: O tempo não tem um conceito claro, as pessoas hoje regulam a sua vida em virtude de um 
tempo detalhado, temos horas, minutos, segundos, dependendo do que falamos. Na antiguidade, esse controle é 
diferente. 
Hoje temos um calendário que quase acreditamos que sempre existiu. Que dia é hoje? Tem certeza? Isso vale para 
o calendário cristão e quantos calendários existirem. 
Como as pessoas cuidavam do seu calendário, controlava em sociedades tipicamente rurais e de subsistência? A 
conotação de tempo é sempre diferente. Nessas sociedades, o tempo, por exemplo, tem uma íntima relação com as 
estações do ano, péssimas condições climáticas, a posição do sol. 
 
Um lembrete: 
Como se conta o tempo no calendário cristão: 
______________________C_____________________ 
O centro é Cristo, o advento do tempo utilizado pelo Ocidente. 
Como não existe ano 0, ou século zero, devemos contar os séculos sempre com o número da centena + 1; quer dizer, 
vivemos no século XXI (2011; a centena é 20 + 1 = século XXI). 
E, para antes de Cristo, conforme a matemática, o eixo é negativo - 1; -2; -200, ao invés de - usamos antes de Cristo; 
para depois de Cristo, não é necessário utilizar DC; e a regra fala do mesmo jeito (510 AC, século 6 (-5 -1 = 6 AC). 
 
Agora, vamos falar um pouco de como estudar a História Antiga. Para tanto, faça a leitura a seguir. 
 
As fontes antigas: 
Mitos 
Arqueologia - Crise/ Problemas/ Possibilidades 
Qual o marco, o elemento principal para as transformações do homem? O homem passar a adotar novas práticas e 
usar novas ferramentas. Para detectar este tipo de elemento precisamos nos valer de ciências diferentes da história, 
em especial a arqueologia. 
Finley ajuda a pensar sobre a Arqueologia: 
"É evidente que a possível contribuição da arqueologia para a história é, grosso modo, inversamente proporcional à 
quantidade e qualidade das fontes escritas disponíveis. Está igualmente claro que a linha entre a pré-história e a 
história não é nítida, que tantos séculos depois do aparecimento da escrita as evidências dos historiadores 
continuam sendo quase que exclusivamente arqueológicas, pelo menos em relação a algumas civilizações, 
notadamente a grega e a romana. 
Talvez o exemplo mais frustrante seja o dos etruscos: apesar dos cerca de 10 mil textos mais ou menos decifrados e 
uma considerável, embora tardia e distorcida, tradição romana por trás deles, os conjuntos de artefatos continuam 
sendo não só a base de todos os relatos como também quase a totalidade das evidências. Um túmulo etrusco nada 
mais é do que uma coleção de artefatos, a despeito da sofisticação da tecnologia ou das pinturas das paredes, visto 
que não existe uma chave literária adequada para as convenções e valores representados pelos artefatos. Em 
nenhum lugar, a doutrina rígida de Piggott é mais necessária e em nenhum lugar ela é mais sistematicamente 
desconsiderada num derramamento contínuo de história falsa, no sentido literal da frase. 
Quanto aos primeiros períodos históricos, a tradição oral e as lendas históricas deram origem a uma complicação 
extraordinária. Portanto, a questão não é simplesmentecorrelacionar provas arqueológicas e literárias, mas usar a 
arqueologia para avaliar se, e até que ponto, a literatura tem algum valor. A dificuldade disso e as divergências 
verificadas até agora, em grande parte por causa da falta de clareza quanto aos princípios de discriminação, 
refletem-se nos debates atuais sobre a civilização minoana e a micênica, e a Guerra de Troia. Salvo as irregulares 
Tábuas Lineares B, não há nenhuma evidência escrita contemporânea desse longo período, cujo estudo ainda 
pertence mais ao pré-historiador que ao historiador; em última análise, a tarefa que se impõe é de reconstrução a 
partir da arqueologia, mesmo que haja alguém mais preparado do que eu para tirar proveito das lendas." 
 
Devemos refletir sobre o que a história nos conta, que elementos, que fontes e que documentos temos para 
entender e trabalhar. As fontes escritas na história moderna e contemporânea são abundantes. Entretanto, com 
história antiga, isso não acontece. Muito dos documentos se perderam ou nem foram elaborados por falta de 
fontes. O representativo de documentos escritos de história antiga é muito pequeno. 
O objetivo da pesquisa da história Antiga é refletir, amadurecer e determinar como as sociedades se constituem e se 
transformam, tirando o nosso olhar de sistemas próximos e aumentando a capacidade de abstração e compreensão 
dos processos históricos. 
Depois desse objetivo, a próxima fase é aprender a trabalhar com o mito. Até meados do século XX, o historiador 
não utilizava os dados arqueológicos. Ele não visualizava a arqueologia como uma ciência independente, acreditando 
que a arqueologia, assim como numismática (estudo das moedas) eram ciências auxiliares - complementavam dados 
que o historiador ocasionalmente precisava. 
Esta tensão levou ao fato que arqueólogos também partissem para construir trabalhos mirabolantes, fugindo da 
observação e do compromisso que o historiador deve ter, criando perigosas generalizações. Então precisamos ter 
um cuidado muito grande, o Arqueólogo não deve se preocupar em fazer história, da mesma forma que o 
historiador não deve se preocupar em fazer análises. Existem limitações para cada uma das áreas. O importante é a 
compreensão de que as duas ciências devem trabalhar juntas em parceria. 
 
Vamos conhecer mais detalhadamente o nascimento da História, a cidade e a organização 
das sociedades humanas. 
Como dito na última aula o homem passa de sociedades de caçadores e coletores, para sociedades agrárias de 
característica semi-nômade e que proporcionam o nascimento das cidades. 
Sendo mais claro: com o surgimento da agricultura, a sociedade inicia um constante desenvolvimento, resolvendo a 
principio dois problemas: migração e a fome. A caça não deixa de existir com o advento da agricultura uma vez que 
seu fundamento era uma forma alternativa de subsistência. 
Cerca de 40.000 anos atrás, temos pela agricultura uma série de ocupações agrárias, nesta fase encontram-se os 
primeiros indícios da agricultura. Cerca de 12.000, são encontrados assentamentos agrários, com cultura de 
alimentos e domesticação de animais, em que as ferramentas começam a ser recorrentemente encontradas, com 
novas tecnologias. 
Cerca de 8.000 e 4.000 a.C. se desenvolveram as primeiras cidades, é o momento da fundição do bronze, das 
tecnologias de diques, barragens de grandes construções. A sedentarização causada pela agricultura, provocou uma 
verdadeira revolução no modo de vida da humanidade. Um dos acontecimentos mais importantes relacionados a 
isso foi o desenvolvimento das vilas e das cidades. 
O processo de consolidação das cidades está associado ao aumento da organização social. Com a ocupação das 
cidades, crescem os anseios e as necessidades: aumento de produção = aumento de população. 
 
 
Analise com atenção a crítica sobre as visões puramente evolucionistas. Roy Porter, no seu livro Das Tripas Coração, 
sobre a história da medicina, chama a atenção para a sedentarização, que trouxe ao homem mais do que uma 
evolução: p. 18 
"À medida que se multiplicou, a raça humana foi saindo da África, primeiro para as regiões quentes da Ásia e da 
Europa meridional, depois, para o norte. (...) Confrontados com a fome, os seres humanos aprenderam por 
tentativa e erro a explorar os recursos naturais e a produzir seu próprio alimento. Começaram a cultivar gramíneas 
selvagens e a transformá-las em cereais domesticados, assim como a controlar cães, bois, ovelhas, cabras, porcos, 
cavalos e aves domésticas. (...) Mas se o advento da agricultura livrou a humanidade da ameaça malthusiana da 
inanição, desencadeou também um novo perigo: as doenças infecciosas. 
Isto porque agentes patogênicos que antes eram exclusivos dos animais transferiram-se para os seres humanos, 
através de processos evolutivos longos e complexos: as doenças dos animais saltaram por sobre o abismo das 
diferenças entre espécies e trasmudaram doenças humanas. (...) o gado contribuiu para a tuberculose, a varíola e 
outros vírus (...) porcos e patos transmitiram suas gripes; cavalo, o rinovírus. O sarampo de cães e gatos para os 
homens.(...) 
E os seres humanos mostraram-se vulneráveis de outras maneiras. Os animais domésticos e de criação, assim como 
os mais nocivos e os insetos, revelaram-se portadores de salmonelas e outras bactérias; água poluída por fezes 
disseminou a poliomielite, o cólera, a febre tifoide, a hepatite, a coqueluche e difteria; e os celeiros foram infestados 
por bactérias, fungos tóxicos, fezes de roedores e insetos. Em suma, os assentamentos humanos fizeram com que a 
doença também se "instalasse" 
 
O que é a Mesopotâmia? 
Mesopotâmia não é um reino, um país, mas sim uma região que nos interessa por ter sido um palco que suscitou 
muitas buscas por parte do mundo ocidental. Durante os séculos XVIII e XIX, várias expedições foram organizadas 
buscando decifrar os mistérios. E o porquê desta busca? Vivemos nas sociedades ocidentais sobre o signo do 
Cristianismo. Podemos assim notar que foi buscando os espaços do antigo testamento, as referências dos gregos as 
grandes civilizações, como os famosos jardins suspensos da Babilônia. 
 
Para entender melhor a questão, devemos pensar no trabalho do comandante Rowlison. Em um quadro de disputa 
com os franceses, perdido de um lado quando Champoleon decifra a pedra roseta e os hieróglifos. Vamos falar mais 
disso quando formos estudar a história do povo egípcio. 
Rowilinson consegue decifrar os cuneos (ou pregos) da escrita mais utilizada entre os grupos que habitaram a 
mesopotâmia antiga. Essa escrita era feita em plaquetas de argila. Nestas placas encontramos informações 
importantes sobre as sociedades mesopotâmicas. Temos, por exemplo, listas de reis (das muitas cidades e reinos 
que se formam ao longo da história). 
 
A Escrita Cuneiforme foi desenvolvida pelos sumérios, sendo a designação geral dada a certos tipos de escrita 
feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. É juntamente com os hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo 
conhecido de escrita, tendo sido criado pelos sumérios por volta de 3500 a.C. Inicialmente a escrita representava 
formas do mundo (pictogramas), mas por praticidade as formas foram se tornando mais simples e abstratas. 
Os primeiros pictogramas eram gravados em tabuletas de argila, em sequências verticais de escrita com um estilete 
feito de cana que gravava traços verticais, horizontais e oblíquos. Até então duas novidades tornaram o processo 
mais rápido e fácil: as pessoas começaram a escrever em sequências horizontais (rotacionando os pictogramas no 
processo), e um novo estilete em cunha inclinada passou a ser usado para empurrar o barro, enquanto produzia 
sinais em forma de cunha. Ajustando a posição relativa da tabuleta ao estilete, o escritor poderia usar uma única 
ferramenta para fazer uma grande variedade de signos.Tabuletas cuneiformes podiam ser tostadas em fornos para prover um registro permanente; ou as tabuletas 
poderiam ser reaproveitadas se não fosse preciso manter os registros por longo tempo. Muitas das tabuletas 
achadas por arqueólogos foram preservadas porque foram tostadas durante os ataques incendiários de exércitos 
inimigos, contra os edifícios nos quais as tabuletas eram mantidas. 
A escrita cuneiforme foi adotada subsequentemente pelos acadianos, babilônicos, elamitas, hititas e assírios e 
adaptada para escrever em seus próprios idiomas; foi extensamente usada na Mesopotâmia durante 
aproximadamente 3 mil anos, apesar da natureza silábica do manuscrito (como foi estabelecido pelos sumérios) não 
ser intuitiva aos falantes de idiomas semíticos. Antes da descoberta da civilização Suméria, o uso da escrita 
cuneiforme apesar das dificuldades levou muitos filólogos a suspeitar da existência de uma civilização precursora à 
babilônica. A sua invenção ficou a dever-se às necessidades de administração dos palácios e dos templos (cobrança 
de impostos, registro de cabeças de gado, medidas de cereal, etc.). 
O registro mais antigo até agora encontrado data do século XIV a.C. e está escrito em símbolos cuneiformes da 
língua acadiana. O pedaço de barro escrito foi achado em Jerusalém por arqueólogos israelitas. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escrita_cuneiforme 
 
Podemos concluir que... 
O auge das buscas arqueológicas na região da mesopotâmia viveu sua decadência durante as primeiras décadas do 
século XX, quando as guerras mundiais desmoronaram os impérios europeus e o interesse pelo Oriente entrou em 
declínio. 
Atualmente temos buscado novos objetos, não mais confirmações de características bíblicas, mas conhecer os 
legados antigos, discutir por exemplo o cuidado de observar o registro de determinadas comunidades. 
Temos tidos buscas interessantes sobre a sexualidade, mitos pensados de maneira antropológica, periferias do 
poder, resistência social, entre outros. 
 
A Mesopotâmia e as cidades. 
O Urbanismo nas cidades mesopotâmicas é uma forma interessante de poder situar as relações de poder naquele 
espaço complexo. Observe! 
 
Gwendolyn Leick (Mesopotâmia - A Invenção da Cidade) Imago, 2003 afirma: 
"Foi no Crescente Fértil, com seu clima favorável, que se orignaram, há cerca de 10.000 anos, os primeiros 
assentamentos humanos e os primoórdios da agricultira e da criação de animais domésticos." 
 
A segunda zona, entre Bagdá e o golfo Pérsico, é essencialmente uma vasta planície de aluvião, tendi sido a terra 
formada por gigantescos depósitos de lodo carregados pelos rios. 
Esse solo aluvial, com seu elevado e variado conteúdo mineral, é potencialmente muito fértil, mas a terra é plana e 
não há montanhas para gerar chuva. Só depois que o homem aprendeu a adaptar-se ao seu meio-ambiente, 
sobretudo através do controle dos cursos de água por meio de canis e diques, é que se tornou possível tirar proveito 
do potencial econômico inerente às planícies meridionais. Só então as primeiras comunidades em grande escala 
começaram a desenvolver-se, nas quais as pessoas passaram a lucrar com um sistema que ultrapassava os limites da 
mera subsistência, com o objetivo de produzir um excedente. diversificar suas atividades culturais e viver em 
número cada vez maior numa nova forma de comunidade coletiva: a cidade. 
A invenção das cidades pode muito bem ser o mais duradouro legado da Mesopotâmia. Não havia apenas uma 
cidade, mas dezenas delas, controlando cada uma seu próprio território rural e pastoril e sua própria rede de 
irrigação. Mas, uma vez que essas comunidades estavam alinhadas ao longo dos principais cursos de água como uma 
coleção de pérolas num colar, elas tinham necessariamente que chegar a formas de cooperação e tolerância mútuas. 
Os historiadores foram propensos a salientar o surgimento de estados centralizados que exerceram controle sobre 
territórios frequentemente muito vastos, mas a unidade sociopolítica mais duradoura e bem-sucedida a surgir na 
Mesopotâmia continuou a ser a cidade-estado. 
A cultura Uruque apresenta traços que se mantêm em outras cidades da mesopotâmia, sendo provavelmente sua 
primeira grande ocupação e são aqueles que deixaram os vestígios arqueológicos da cidade de UR. A partir de 4.000 
A.C., a organização das cidades da Mesopotâmia se torna mais clara. Os grupos que iam chegando tinham que 
negociar e recebiam influências. 
 
Encontramos traços: 
 Nas edificações; 
 Ferramentas e utensílios de barro; 
 Presença de referências de deuses como Marduk e Tiamat. 
 
A Presença dos Sumérios: 
Os Sumérios organizavam-se politicamente em cidades-Estados como Ur, Nipur e Lagash. Cidade-Estado é a 
comunidade urbana soberana, ou seja, uma unidade política com características de Estado soberano. Cada uma 
dessas cidades era independente e governada por um Patesi, que exercia as funções de primeiro-sacerdote do deus 
local, governador, chefe militar e supervisor das obras hidráulicas. Depois de longo tempo de autonomia, as cidades 
sumérias se enfraqueceram, devido às lutas pela hegemonia política. O enfraquecimento possibilitou as invasões de 
vários povos semitas. 
A escrita cuneiforme, originária do sul da Mesopotâmia, parece ter sido inventada pelos Sumérios. Posteriormente, 
foi adaptada para escrever o acádio, língua da qual derivam o assírio e o babilônico. Os textos mais antigos têm 
5.000 anos e os mais modernos provêm do século I d.C. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Oriental – Aula 3. 
 
Aula 3: Mesopotâmia - Os demais povos ocupadores. 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar o Código de Hamurábi como primeiro documento de natureza jurídica concebido pela humanidade; 
2. Identificar a Lei de Talião ao seu preceito elementar: olho por olho, dente por dente; 
3. Perceber a intensa troca cultural ocorrida no período observada a partir da adoção no Antigo Testamento do 
preceito de Talião, provavelmente ao longo do período em que os hebreus tornaram-se cativos na Babilônia; 
4. Compreender que a economia agrícola da região era baseada no modelo de servidão coletiva. 
 
Podemos dizer que vivemos em uma sociedade complexa e isso demonstra que estudar a economia, a política e a 
religião mesopotâmica é um elemento vital para compreender a estrutura social. 
Nesta aula, estudaremos as leis, divindades e a servidão no mundo mesopotâmico. 
O período mesopotâmico nas suas principais dinastias aparecem em meio a um panteão bastante parecido. Ambos 
tem fenômenos relacionados a um momento de purificação pela água que muda o governo dos deuses reis para os 
reis homens. 
O dilúvio foi o marco que permitiu os homens viverem mais próximos dos nossos anos. Em uma sociedade onde se 
tem uma referência muito forte com essa relação diluviana, precisamos acreditar que aconteceu um fenômeno 
atmosférico de grandes proporções? Precisamos sim notar o elemento simbólico que a água representa nestas 
sociedades. 
As regiões orientais são influenciadas por processos parecidos, migrações e trocas culturais. Nem todos acreditam 
em um mesmo conjunto cultural, mas claramente há elementos de trocas que na comparação nos ajudam a 
compreender nestas sociedades. Importante: precisamos abandonar a ideia de sociedades que se sucedem na 
Mesopotâmia, tenho grupos diferentes que coabitam, se misturam, se transformam. Por isso precisamos tanto da 
arqueologia e suas pesquisas sobre as transformações culturais. 
 
Qual é a principal associação da região citada anteriormente com o dilúvio? 
A cheia do Nilo acontece porque há as monções de inverno no leito do rio que vão se espalhando. Quando chegam à 
região, geram períodos de grandes chuvas nas cabeças do Nilo. Há um delta entre as principais passagens desse rio.Ele representa a água e o barro na sua recriação. 
Na Mesopotâmia, isso não ocorre, não há um regime de chuvas na região. Tem-se basicamente um regime de chuvas 
que gera pontualmente pontos de alagamento. Não é anual e a ação é muito mais humana (barragem, canal 
desviado, etc.). 
 
Anatólia: 
No primeiro momento, tem-se a presença de grupos indo-europeus que chegam pelo norte e que provavelmente 
são da mesma linha de ocupação dos hititas que ocupam a Anatólia (atual Turquia). Em torno desse grupo, é que se 
entende a organização e a presença dos sumérios. Entre os sumérios, observa-se os primeiros traços e as primeiras 
possibilidades de escrita organizada. Isso possibilita uma busca documental organizada, na região. 
Com a presença de outros grupos, fica clara a existência de várias migrações que acabam sendo vistos como semitas, 
vindos de regiões asiáticas. Em seguida, começa-se a notar a presença de grupos que vem posteriormente, 
provavelmente de uma linha bem próxima aos semitas que, em contato com esse grupo, organizaram-se (amoritas - 
povos semitas que vieram do deserto). 
Até a chegada de novas invasões de um grupo mais organizado, no sentido de um reino em combate, os arameus 
transformaram a escrita cuneiforme em uma escrita cursiva. 
O importante é observar a quantidade e a multiplicidade que a arqueologia apresenta nesta região. A população 
local não era específica, única e caracterizada por migrações contínuas e, consequentemente, transformações. Não 
há uma grande unidade cultural. 
Esse tipo de arqueologia, apresentada anteriormente, é do tipo não bíblico. Uma arqueologia que não busca grandes 
monumentos ou uma afirmação direta de berço da civilização, mas uma arqueologia que vai ter um sentido muito 
maior de buscar a organização ou o entendimento desse espaço. 
Os períodos históricos podem ser separados pelos desenvolvimentos de norte e sul. No sul, temos um momento de 
governo babilônico pouco organizado. de 3000 a.C. - 2.350 a.C. e seguido por um período de dominação de um 
grupo que ocupava o centro-sul. O domínio dos Acádios é marcado pela arqueologia aproximadamente de 2.350 - 
2000 a.C., aproximadamente, até o retorno de uma nova sequência de domínio dos babilônios. 
Entendamos que não estamos falando de estados modernos ou coisa que os valham. São reinos que tem regiões de 
influência, mas que no seu foco possui exércitos muito parcamente organizados. Os acadianos tinham uma 
dominação, segundo algumas hipóteses culturais, tanto que houve um aumento considerável das plaquetas, 
pequenas estruturas de barro que apresentavam inscrições. Durante muito tempo, elas ficaram nos porões dos 
museus na Alemanha em especial por serem consideradas como obras de baixo valor. 
Os amoritas são considerados os primeiros a manterem dinastia na região. Alguns defendem a ideia de que esse 
seria a base do primeiro reino da babilônia estabelecido mais ao sul. São criadas uma série de áreas de dominação 
das regiões sumérias. 
Pode-se atribuir aos acadianos a integração das cidades por conta do reconhecimento primeiro do poder dos 
acadianos e em seguida da organização do reino babilônico ao sul. 
 
A vocação militar Assíria foi ainda mais forte entre os século XVI e XII a.C., por conta de uma série de batalhas contra 
os Hititas (ver o anexo MAPA salvo na pasta). 
 
Já que falamos a pouco sobre a região sul é importante dizer que a região norte demora um pouco mais a se 
organizar politicamente. Uma de suas principais cidades surge como uma cidade comercial: Assur. Não há presença 
de política clara, ela paga durante um tempo tributo aos Acádios. Esse tributos não são pagos por domínio, os 
acádios não dominam essa região, eles são pagos pelo reconhecimento do poder para a manutenção do espaço e em 
especial a continuidade das rotas comerciais. 
Não é a dominação política e territorial que nós entendemos hoje como dominação. É uma dominação que tem a ver 
com todo um conjunto. Assur é uma cidade com uma aglutinação de grupos, com hierarquia social, divisão de 
poderes e a transformação dos espaços para melhor habitar essa região. A cidade é reconhecida como centro, 
espaço que fica como referência. Assur fica em um ponto alto, dentro de uma região que tem forma de fortificação, 
uma estabelecida e importante praça de comércio. 
As principais fontes documentais que dão conta da organização de Assur são provenientes de plaquetas que dão 
conta de uma estrutura comercial. Assur nesse seu passado comercial dá, uma ideia de que o próprio mito, as 
próprias listas reais que foram encontradas posteriormente, deixam claro, que os primeiros reis assírios não viviam 
em cidades, eles viviam em tendas. Essa é uma característica clássica do nomadismo comercial. 
 
Quando que Assur deixa de ser uma cidade e passa a ser um império assírio? 
A transformação de Assum marca a ascensão de Chamshi Addu I que rompe com os Acádios. 
Explicando: 
A grande maioria das plaquetas davam traços da organização comercial de Assur. Em especial, temos a 
transformação contínua da cidade a partir de uma crise comercial. 
Se os principais produtos eram tecidos e metais preciosos. Temos a partir do século XXI a.C. uma crise por conta de 
batalhas na região da Anatólia. Essa crise teria gerado uma diminuição e aumentado a comercialização de outro 
produto: armas. 
Esse fato acaba gerando e possibilitando a chegada de uma nova linha política. Começam a ocorrer conflitos 
internos, a chegada de novo grupos e, a partir desses conflitos, a transformação de uma cidade tipicamente 
comercial para uma cidade voltada a conquistas militares. 
As conquistas militares marcavam, no primeiro momento, a transformação da ideia dinástica porque antes era uma 
liderança de conselho, uma liderança comercial, para a liderança política em que a principal forma de comércio seria 
a obrigação de comercializar com a região e o pagamento de impostos quando se era dominado. 
A valorização militar se dá com constituição de regras próprias, uma expansão militar que vai transformar toda essa 
região em um dos maiores poderios militares dentro da Mesopotâmia. Isso gera a formação de um exército 
profissional. A principal vitória militar os Assírios, marcando o domínio e o poder na região, foi o domínio dos 
Acádios que isola a Babilônia e transforma a ideia de dois grandes poderes na região. 
 
A vocação militar Assíria foi ainda mais forte entre os século XVI e XII a.C., por conta de uma série de batalhas contra 
os Hititas. 
Nesse período, também notamos a expansão em direção à Babilônia, por exemplo, quando Tikult Ninurta a saqueia. 
Definitivamente, no século XIII a.C. é fundado o império assírio a partir da chegada ao poder de Sargão. 
A formação do império assírio não foi um processo centralizado, não foi um processo que surgiu do acaso. Os 
principais traços que indicam a organização naquele espaço se referem à atividade comercial. O espaço de Assur 
surge não como um momento de dominação de um grupo específico que chega, não como um processo cultural 
estabelecido de uma sociedade, mas com uma organização de poderes locais. 
 
Você sabe qual foi a formação do império assírio? 
O império assírio é uma formação interessante, pois ele não tem um discurso étnico de grupo. Sua língua e escrita 
até seu panteão são claramente influenciados por babilônios. 
A organização daquele poder das cidades assírias terão como característica o reconhecimento da hierarquia, uma 
estrutura que necessitam de elementos para afirmar e constituir-se como grupo. Acompanhe a história. Um dos 
principais feitos de Chamsi Addu, por exemplo, foi construir o templo do deus Assur. Assur é um deus com as 
mesmas proposições de Marduk (principal deus babilônico e que falaremos mais adiante), ou seja, seria o deus 
protetor da cidade de Assur, aquele que representa o próprio poder. 
A construção dotemplo não indica apenas uma religiosidade contínua, mas também procura-se mostrar um poder 
maior e afirmar a força, o enriquecimento e a organização. Essa falta de um elemento primordial, de um elo de 
grupo, de sociedade, vai se manifestar e deixar claro como eles são um grupo bem misturado. 
A partir daí, esse grupo vai estar cada vez mais inserido em um contexto político e militar, relacionado com essas 
posições mais ao norte da Península e, cada vez mais, afirmavam uma identidade, a ser reconhecida pela Babilônia 
em torno de uma nova formação. 
A dinastia de Sargão é considerado o império mais militar nesse primeiro momento de organização do Oriente 
próximo. O império assírio, com a dinastia de Sargão, vai conseguir uma das coisas mais raras neste espaço: 
dominação ampla do espaço da Mesopotâmia. 
 
Como se forma a Babilônia? A grande dificuldade é entender o que é a Babilônia. Ela é um 
reino? Uma cidade? Uma ideia? 
A organização da babilônia talvez seja um dos elementos mais buscados na sociedade antiga. É o fascínio que ela e 
seus governantes exercem. Expedições foram organizadas para buscar o grande Zigurate (biblicamente falando, a 
Torre de Babel). 
A Babilônia é claramente representada como uma cidade organizada de grande porte, cercada por muros e que 
tinha traços de uma organização em momentos diversos. 
As plaquetas cuneiforme buscam as ideias de onde ficaram os registros da voz desse grupo. 
Em algumas cidades no entorno, entretanto, essas plaquetas sempre deixaram dúvidas por estarem muito ligadas às 
listas de reis. Há uma afirmação neobabilônica, depois do século XII a.C., em que tenta-se entender como esse 
conjunto virou esse elemento cultural tão reconhecido. Busca-se na arqueologia e percebe-se que as cidades de 
origem semita se confundem e influenciam as cidades de origem sumérias. É essa mistura que cria o conjunto 
cultural e uma ideia de que as cidades, estando ou não separadas, na sua administração ou não, é criado um viés 
cultural que afirma uma linguagem, uma escrita e uma cultura. Tanto que essa região, com a chegada de novos 
grupos (caldeus, arameus e etc.), não perde essa coalisão cultural, os novos grupos, mesmo entretanto por conflito, 
incorporam esses elementos culturais. 
Com isso, podemos entender que a população em torno da babilônia vem de um processo histórico e, talvez por 
isso, a afirmação da cidade é de um poder bastante específico de um poder que vai ter uma representação para os 
demais grupos, sempre de uma força singular. 
 
Babilônia é o espaço de Marduk que o deus Sumério que vai ser adaptado para se tornar, no primeiro momento, em 
torno do século XX a.C o deus protetor da cidade da Babilônia. O deus que cria, que dá sentido a essa função dos 
grupos. É ele que organiza a cidade e os grupos depois do dilúvio. 
A Babilônia que se organiza em torno de um conjunto cultural, de grupos com características particulares que estão 
afirmando o seu próprio poder, apresenta algumas práticas de agricultura que vão temer a se reproduzir. 
 
A ideia de um trabalho ao mesmo tempo tem áreas comuns nas áreas governamentais e plantadas de maneira 
própria. É o que Ciro Flamarion Cardoso chama de modo de produção asiático, ou seja, pressupõe ciclos de trabalhos 
compulsórios e escravidão para perdedores de guerras ou por dívidas. 
Essas terras comuns são administradas pelo governo. Das terras comuns, o que se retira, vira bem do governo. O 
zigurate era provavelmente utilizado para armazenamento de grãos das terras comuns. As terras livres eram aqueles 
que se cultivavam para a subsistência livremente. 
Marduk, representado como rei da Babilônia, era casado com Ishtar. Uma das maiores descobertas recentes 
inclusive foi a descoberta do portão de Ishtar na cidade da Babilônia. As duas figuras representavam não só no 
imaginário comum, mas também tinham uma representação física no poder babilônico. A estátua era o símbolo da 
sua manifestação de poder e a autonomia na região. 
 
A organização política babilônica tem um nome que não pode faltar na sua lista de reis: Hamurabi. Ele representa 
uma sofisticação da organização do espaço da Mesopotâmia. Para uma sociedade ser organizada, não são 
necessárias as leis escritas, mas na prática sempre existem as convenções de grupo. O que é feito no seu governo é a 
organização política das leis que mudam o seu status social, permitem especialização e grupos para interpretá-las. 
Hamurabi vai se preocupar em construir outras cidades nesse espaço em torno da babilônia e aumentar as rotas 
comerciais sob seu domínio. É a afirmação no século XIX a.C. de um domínio babilônico. Quanto mais poder político, 
cidades, organização, quanto mais se sofistica a hierarquia, mais gente para disputar esse poder. 
 
Precisamos entender que existe uma aproximação entre os deuses e o modelo de governo. Na formação de 
Babilônia por exemplo, Marduk mais que o Deus criador, é um dos principais símbolos do panteão babilônico. Sua 
estátua é o símbolo da autonomia e afirmada como o orgulho da população local. 
Uma vez usurpada o poder fica marcadamente enfraquecido. 
E a lenda abaixo como curiosidade para ficar bonitinho:. Marduk é convidado pelos outros deuses para combater 
Tiamat, a divindade do oceano. Recebe deles todos os poderes. Vence Tiamat, impõe limites ao mar, cria o homem 
com a argila, a fim de que haja um ser que adore, sirva e conserve os deuses. Alguns deuses, descontentes com os 
homens, decidem destruí-los. Enill ou Bel organiza o cataclismo. Um dos deuses, Ea, aparece em sonho a um homem 
de quem gostava - Ut-Napíshtim - e ordena-lhe que construa um navio. O homem neste navio coloca sua família, seus 
trabalhadores, seu gado, seus animais campestres e sementes. O dilúvio começa, afoga todos os homens. Os deuses 
horrorizam-se com tal espetáculo e a Rainha dos deuses Ishtar, lamenta-se: “A antiga raça dos homens voltou a ser 
argila e eu concordei com esse ato funesto, no Conselho dos Deuses, quando consenti nesta tempestade que destruiu 
meu povo!” A tempestade desabou durante sete dias. Ut-Mapishtim solta uma pomba, que volta, depois uma 
andorinha, que torna a voltar, depois um corvo que não regressa. Fez o navio parar e ofereceu no cume da 
montanha, um sacrifício em torno do qual os deuses se juntaram. O deus que organizou o cataclisma, Enlil queixa-se 
a Ea, que revelou seu plano, de traição. Depois que tudo se acalmou entre os deuses conferiu a imortalidade a seu 
favorito Ut-Napishtim e à sua mulher." 
 
O Código de Hamurábi é um dos primeiros documentos de natureza jurídica concebido pela humanidade. Outro 
código organizado tem o mesmo fundamento na relação olho por olho e dente por dente. É a Lei de Talião, 
elemento que indica a importância desse momento uma vez que denota a intensa troca cultural ocorrida no período 
observada a partir da adoção no Antigo Testamento do preceito de Talião, provavelmente ao longo do período em 
que os hebreus tornaram-se cativos na Babilônia. Observe a seguir alguns elementos importantes. 
Elementos a serem destacados: 
Código de Hamurábi - > Compilação de leis executada pelo rei Hamurábi e que regulamentava diversas matizes do 
direito, tais como: relações trabalhistas, cíveis, criminais e direito do consumidor. 
Servidão Coletiva -> Sistema de trabalho em que as terras pertencem a uma elite composta, no geral, por sacerdotes 
e membros da nobreza e realeza e que são compulsoriamente cultivadas pelos camponeses e escravos. 
Politeísmo -> Crença predominante na antiguidade que atribuía a divindade a vários seres mitológicos. 
 
É importante você compreender no que consistia a modalidade de servidão coletiva, uma prática legitimada por este 
Estado tão burocrático, embora existissem, segundo o código, outros tipos de relação trabalhista, como a 
escravidão. 
Com essas inserções sobre o Código, a questão de transmissãodo patrimônio torna-se inteligível. Corresponde à 
prática moderna da sucessão para os herdeiros dos bens do falecido. Devemos destacar, porém, o elemento de 
religiosidade que permeia essa relação, diferente dos tempos modernos que laicizou por completo tal elemento. 
 
Nabuco Donosor pode ser considerado o sucessor político de Hamurabi, uma vez que seus sucessores imediatos não 
conseguiram manter o poder que já tinha nas cidades que cada vez mais afirmavam sua autonomia. Várias cidades 
vão se enfraquecendo nos governos que se sucedem até o ponto onde os saques, a babilônia e as estátuas 
desaparecem. 
É Nabuco Donosor quem reconduz as estátuas de Marduk a Babilônia. Ele que vai afirmar como deus principal da 
Mesopotâmia, estimulando os escritos do deus e de seus feitos para recuperá-lo. 
 
Devemos destacar que o governo que nos referimos é de origem caldéia que, apesar de dominar a região, dado a 
sua força e reconhecimento cultural, opta por afirmar-se como rei da babilônia, são duzentos anos que separam 
Hamurabi e Marduk, mas a afirmação fica claramente delineada. 
Durante a expansão de Sargão, tem-se um domínio definitivo dos assírios na região da Babilônia. Esse domínio vai 
ter uma característica peculiar: Sargão é o primeiro a ser tratado pela historiografia como imperador, no sentido de 
rei dos reis, um domínio não territorial mas por reconhecimento. Por exemplo, Marduk será mantido na Babilônia, 
desde que seus impostos e seu reconhecimento seja mantido. O rei da babilônia é súdito de Sargão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Oriental – Aula 4. 
 
Aula 4 – Egito: A Unificação. 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar as fases da História egípcia; 
2. localizar geograficamente o Egito e as dificuldades naturais apresentadas pelo território; 
3. associar o aumento populacional ocorrido no final do Neolítico à organização das comunidades em unidades 
conhecidas como nomos; 
4. perceber que, a partir da fundação dos nomos, cidades foram estruturadas e subdivididas em dois reinos; 
5. analisar o processo que originou a unificação do Alto e do Baixo Império, estabelecendo o primeiro faraó; 
6. perceber que a unificação egípcia determinou o início do período dinástico na história egípcia; 
7. compreender a personificação do Estado na figura do faraó e sua identificação com um deus, ao surgimento de 
um modelo político denominado teocracia. 
 
O Egito aparece dentro das principais pesquisas como um grande centro, específico e independente de poder. 
Sociedades maravilhosas, que construíram grandes pirâmides... Creio que seja fundamental estudarmos o Egito e 
não ficar analisando como é bonito sua existência. Topa o desafio? Então vamos lá. 
O entendimento do Egito fica muito restrito a um ideário direcionado não ao estudo em si, mas a algo independente. 
Sempre surge a ideia de tumbas, múmias, pirâmides. Temos que, em primeiro lugar, acabar, ou pelo menos, 
rediscutir os mitos. Definitivamente, não vamos discutir se foram os alienígenas que construíram as pirâmides. 
Vamos começar por quebrar o primeiro mito: o Egito não é uma dádiva do Nilo, no sentido de que basta o terreno 
geograficamente favorável para o homem se desenvolver. As sociedades do Egito se desenvolvem para além do 
Delta, área das principais inundações. Suas estruturas são complexas e dependem diretamente da ação humana no 
uso de diques. 
O baixo Nilo é a região do Delta e tem seu desenvolvimento entre o Mediterrâneo e o Delta. Era a primeira área de 
ocupação, a região dos Nomos (coletividades locais e religiosas nas quais se dividiam as primeiras comunidades 
situadas ao longo do rio Nilo). 
A organização social, da qual já tratamos no espaço mesopotâmico, é o que nos permite a compreensão do Egito. 
Sua sociedade não nasce faraônica, mas sim desses espaços, dos nomos e de suas disputas. 
 
Christian Jacq. 
Christian Jacq, é um grande autor, responsável em muito pelo interesse na sociedade Egípcia. Jacq nasceu em Paris, 
em 1947. Formado egiptólogo, escreveu diversos trabalhos sobre os faraós e seus súditos. 
O autor de Egito dos Grandes Faraós, entre obras de ficção e trabalhos sérios, faz uma defesa apaixonada contra os 
preconceitos que, muitas vezes, saem sobre o Egito. 
Essa visão cotidiana é muito preconceituosa e reproduz a mesma lógica social: as pessoas acham que o Egito é uma 
sociedade voltada para a morte e que o faraó nasce já pensando no dia de sua morte. 
Esse elemento é o primeiro que devemos desconstruir, identificando as fases da História egípcia. As pirâmides, por 
exemplo, são das primeiras dinastias faraônicas. Foram criadas como uma necrópole de enterramento onde todos 
os reis eram enterrados. Não existe uma grande construção particular. 
Na pirâmide de Quéops, a mais conhecida, não foi encontrado nenhum vestígio de enterramento. As pirâmides 
eram construídas com o objetivo de marcar, registrar o nome de seus idealizadores, da dinastia egípcia para sempre. 
 
Precisamos lembrar a lição de Jacques Le Goff ao discutir monumento e documento: monumento é aquilo que se 
produz com o objetivo de o passar para a História como um marco para as demais sociedades; documento é aquilo 
que faz parte do cotidiano que não, necessariamente, são feitos para a prosperidade. 
Muitos dos traços que encontramos sobre História antiga têm essa preocupação: foram construídos para marcar a 
posteridade. 
Os monumentos não são só obras físicas. Quando se faz um compêndio, um livro por exemplo, reunindo todas as 
fontes documentais sobre um determinado assunto, é um monumento. Foi elaborado para marcar o papel que se 
quer dar aquilo. O monumento não fala só sobre a continuidade da história, mas também das relações cotidianas 
normais, das relações próximas e dos grupos presentes. 
No Novo Império e Império Tardio aparece um documento diferente dos documentos esculpidos em pedra, uma 
espécie de folha em material vegetal, que foram reescritos, trabalhados: o papiro. Esse material começa a deixar 
registrado relações comerciais, migrações etc. Já não é escrito na língua da elite egípcia, alguns traços ficam, mas é 
escrito em copta. 
Copta - é uma língua, um escrito e tem a característica de ser a linguagem que faz relação direta com a produção 
fonética local, ao inverso do sentido de representatividade dos hieróglifos, representados nos monumentos egípcios. 
 
Mas, vamos ver um pouco de arqueologia. No século XVIII e XIX, muitos monumentos e muitas pirâmides continham 
uma série de símbolos e isso causou muita discussão sobre qual o significado e papel deles. 
Surge um embate entre as escolas inglesas e francesas, porque uma defendia que os símbolos era uma linguagem 
(francesa) e, a outra, defendia que era um exercício simbólico de enfeitar os espaços. A partir dessa discussão, foi 
descoberta por generais franceses uma pedra de um monumento do Império Tardio, provavelmente no período em 
que o principal general de Alexandre, Ptolomeu, foi faraó egípcio, no século III a. C. 
Ptolomeu resolve criar seu próprio monumento. Manda gravar uma mensagem na qual três línguas são utilizadas: o 
grego; o copta (demótico) e hieróglifo. 
Por que ele faz isso? 
A pedra de roseta continha um decreto. A principal hipótese é que Ptolomeu quis que este fosse inscrito dentro da 
língua principal falada no espaço grego, da língua que mais circulava na região do Egito e, querendo marcar seu 
domínio de caráter faraônico em um exercício de legitimidade do seu poder, dentro do Egito. Nada melhor do que 
buscar a antiga escrita hieroglífica. 
 
O uso da escrita hieroglífica significa reconhecer o poder e o passado do povo egípcio, mas, a partir daquele 
momento, ele entrava para o rol dos faraós, ficando marcado para aprosperidade, conforme os traços hieroglíficos. 
 Uma referência de 2.000 anos antes, valorizada no século III. 
O Egito não é só a morte dos deuses, dos astronautas, construtores de pirâmides. E nem o faraó é uma instituição 
política que permanece durante os mil anos inalterado. Estes usavam essa denominação na busca de dar sentido ao 
poder, oferecer coesão às populações do entorno egípcio. Na verdade, se honra e se reproduz poderes maiores e 
muito antigos. 
 
Momentos Arqueológicos: 
Os momentos arqueológicos, durante as disputas arqueológicas do século XVIII e XIX, deixam o Egito no auge. As 
estórias contadas são muitas; o fascínio era enorme. Dessa época surgiram alguns questionamentos e perguntas: 
1 – O que seriam as imagens, as pirâmides? Como eram enterrados os faraós? Por que a mumificação? 
2 – E as maldições? 
Bem, os museus europeus foram inundados de arte egípcia, aliás, hoje encontramos mais referências na Europa do 
que no próprio Egito. Entretanto, muitas questões ainda não tinham ficado claras até uma das mais emblemáticas 
expedições conseguirem um feito inédito: encontrar uma tumba praticamente intacta. 
Tutancamom - Um primeiro grupo consegue entrar no túmulo, há uma porta que se abre no chão e é encontrada 
uma escada. A Câmara do túmulo tem as maldições de um lado e do outro da porta, surpreendentemente intacta. 
 Há apenas um buraco na lateral da entrada da tumba e chegam à conclusão que após uma tentativa de rompê-la, 
essa tumba foi abandonada. Eles descobrem, por esse panorama, a tumba do faraó menino, Tutancamon. 
Vale pensar que ele não foi um dos faraós mais famosos do Novo Império, nem tampouco forte e, talvez por isso a 
arqueologia tenha encontrado sua câmara intacta. Ele governou por pouco tempo, morreu muito jovem e é 
considerado o filho de um herético, de alguém que rompe com o deus Amon e tenta estabelecer no Egito outra 
religião. 
Enfim, Tutancamom não foi um faraó que teve a maior ou melhor tumba estabelecida. Mas é, justamente em torno 
dele que surge a real possibilidade de entender como funcionava o funeral como um todo. Foi identificado uma 
múmia intacta e todo o conjunto do sarcófago. O interessante é como ganhou uma fama sem precedentes no 
período contemporâneo. Se não bastasse o achado, seu caráter mítico afloraria. 
A "maldição" começa a funcionar, os arqueólogos e aventureiros que acharam o túmulo morrem de maneira 
misteriosa. 
Temos explicações atuais diferentes e que não eram preocupações no século passado: espaços que permanecem 
fechados durante muito tempo, como no caso, estão repletos de fungos e bactérias que o organismo não é capaz de 
suportar. Assim, é a literatura fantástica dos princípios do século XX que transforma a múmia e suas maldições em 
mitos e, para isso, muitas vezes temos a referência a Tutancâmon. 
Nas tumbas egípcias existem os mitos das maldições, com o objetivo de evitar as violações e saques, que já 
aconteciam desde a antiguidade. Em um julgamento no governo de Ptolomeu, o acusado, ao ser questionado sobre 
o porquê de saquear o túmulo, se ele sabia que o faraó era sagrado dentre os homens, respondeu que se o faraó 
fosse um deus, ele teria forças para impedir o roubo, caso não quisesse. 
 
Linha do Tempo: 
Como estudiosos, temos que entender o Egito. Depois da questão linguística, entender como os Egípcios se 
relacionavam com o tempo é o maior desafio. 
No Egito não há uma cronologia fixa, não há uma linha de tempo. A contagem do tempo no Egito aparece em torno 
do governo, das dinastias. A princípio, seria simples. Bastaria colocar as listas de reis uma ao lado da outra e, como 
existem muitas, isso não é possível para fechar uma contagem cronológica. O problema é que as listas não 
coincidem uma com as outras e, além disso, o Egito tem uma prática bastante comum de divisão do trono, a 
corregência. 
Os estudiosos fizeram várias propostas para tentar cruzar os dados. Uma das propostas dentre as utilizadas foi 
cruzar com outras cronologias de tábuas de reis de outras regiões. A cronologia que adotamos hoje é proveniente 
do cruzamento dos estudos de Carbono 14, referências astronômicas, documentais, para chegar a melhor 
cronologia possível. Observe. 
Cronologia Egípcia: 
 O reino Antigo ou Império antigo (+ ou - 3.000 - 2160 a.C.) 
 Primeiro período Intermediário (2.160 - 2134 a.C.) 
 Reino médio ou Médio Império (2.134 - 1785 a.C.) 
 Segundo Período Intermediário (1785 - 1552 a.C.) 
 Reino Novo ou Novo Império ( 1552 - 1070 a.C.) 
 Império Tardio ou Baixa época (1.070 – 30 a.C.) 
OBS.: Todas as datações são aproximadas e oferecem questionamentos. Nas listas dos reis, por exemplo, não 
aparecem os períodos intermediários. Alguns faraós aparecem com governos indistintos durante longo período. 
 
A Unificação das Duas Coroas: 
O Egito tem o momento de disputa, no qual surge a figura de Menés em torno de 3.000 a. C. A representação 
iconográfica de Menés nos hieróglifos é justamente de um escorpião, daí a figura do Escorpião Rei. Sua figura é 
mítica, pois consegue unificar os nomos egípcios, em especial os do alto Nilo, região das corredeiras, e do baixo Nilo, 
região do Delta, ao norte. 
Imaginando esse posicionamento, entende-se que há um primeiro processo dinástico sendo estabelecido. Esse 
processo não acaba com a força dos antigos clãs e nem com a força das antigas cidades. Quem é esta figura, este 
monarca que unifica o Egito? Não, não falamos de Menés, mas do Faraó. É um rei, é uma força, é um símbolo de 
domínio. 
Devemos, em especial no Antigo Império ou reino antigo, encarar o faraó como uma representação do poder, a 
representação de uma aliança. O Faraó representa a unificação das duas coroas do Egito. 
Por que unificação? 
Porque havia uma disputa de coroas sobre quem seria o detentor dos caminhos da região tratada como Egito. Mais 
do que uma disputa direta por uma coroa, havia vários nomos que disputavam as terras e seu controle, e a união de 
norte e sul era o ponto mais intenso dessa disputa. Daí as duas coroas. 
O Faraó vai ser o equilíbrio entre essas forças, a fórmula buscada para o melhor desenvolvimento do conjunto, sem 
deixar de marcar que as diferenças sociais continuam. 
Seu papel tem uma representação de caráter religioso e, também, um certo poder político, não no sentido de um 
monarca moderno, mas como um articulador das forças locais. 
O governo faraônico é uma Teocracia (forma política na qual o governante é considerado um deus vivo, 
característica de sociedades politeístas) e o faraó do antigo Império, normalmente, é visto como um chefe 
administrativo. Seria aquele que representa a união e, ao mesmo tempo, sua função máxima é dar sentido a essa 
união. 
Faraó, como administrador, controla uma série de terras comuns e, nessas terras, trabalhavam tanto a população 
egípcia quanto os escravos. 
Mais do que isso, havia a responsabilidade das grandes construções e quem ficava à frente desses trabalhos era o 
vizir, construtor e auxiliar direto do monarca. As grandes construções não são só as pirâmides, são também a 
abertura de canais de melhoria da irrigação e a construção de templos. 
Se Menés representa a figura do unificador, é no governo de Djoser que o Egito ganha definitivamente sua estrutura 
faraónica. Djoser, significa "o iluminado"; "o vitorioso;" A sua dinastia foi considerada a primeira grande dinastia do 
Egito faraônico. O seu braço de ação é o seu vizir e construtor Imhotep. 
Sobre essa relação entre os dois, muitos defendem um anacronismo para melhor compreensão: é de um monarca 
ou presidente e seu primeiro-ministro. Um seria aquele que representa o poder, ainda que tenha uma ação política e 
o outro, aquele que operacionaliza as negociações políticas e dá ação aos projetos. Devemos fugir dos 
anacronismos, mas é só para um melhor entendimento.O que temos clareza é da formação de uma hierarquia 
administrativa e que essa hierarquia não se passa apenas na relação do Faraó e do vizir, mas vai perpassar também 
os sacerdotes, líderes militares, representações nomarcas etc. 
Vamos entender um pouco mais o que alguns estudiosos tem a comentar sobre o assunto. Faça a leitura a seguir: 
 
Nesse sentido, é importante buscarmos a explicação de Ciro Flamarion Cardoso sobre a organização econômica 
egípcia: 
"Designar um tipo de sociedade em que uma ’comunidade superior’, mais ou menos confundida com o Estado e que 
encarna num governante ’divino’, explora mediante tributos e trabalhos forçados as comunidades aldeãs - 
caracterizadas pela ausência de propriedade privada e pela autossuficiência, permitida pela união do artesanato e da 
agricultura. Nas discussões do séc. XX, preferiu-se substituir o inadequado adjetivo asiático - posto que as sociedades 
desse tipo não são somente na Ásia por ’despótico-tributário". 
O Faraó representa o poder, pois precisa afirmá-lo. Por isso, o monumento te um importante papel, que é marcar 
sua existência para a posteridade. As grandes construções, como as propostas por Djoser na construção do templo 
de Saqqara, no qual foi construída a primeira pirâmide, a pirâmide de degraus. 
A ideia é construir todo um complexo, não só com a função de enterramento, de morte, mas um complexo que 
demonstra também poder, administração, organização, um espaço para a realização de cultos. 
E aí vem outro elemento interessante do antigo Império, quando uma família rompe e ascende ao poder assumindo 
a coroa de faraó (e as trocas familiares são uma constante), o novo faraó busca marcar seu poder, fortalecer seu 
grupo de apoio, muitas vezes advindo de uma cidade diferente. 
Com isso, leva a capital do Egito para outro centro e lá busca construir uma grande obra ara marcar sua importância. 
Foi dessa forma que tivemos, ao longo do Antigo Império, uma série de construções de pirâmides, um incremento 
importante do trabalho compulsório. 
 
Esta aula traz conteúdos de suma importância, não apenas para a compreensão do Egito Antigo, mas também para 
entender a cobiça que outros povos tinham em relação à região. Embora tenha se erguido em um ambiente muito 
inóspito, ou seja, próximo ao deserto, esse povo conseguiu utilizar com sapiência o recurso natural de que dispunha, 
a regularidade das cheias do Nilo. Além disso, desenvolveu uma forma intermediária de trabalho, a servidão coletiva 
que era também compulsório aos seus destinatários, mas não se comparava ao regime escravista. 
Enfatizamos, dessa forma, a aceleração do processo de desigualdade social a partir das formações estatais, 
acrescentando a ela um componente novo, a imobilidade social. E ainda, a questão da escravidão como fruto natural 
de conquistas territoriais e não direcionada a essa ou aquela etnia. 
Servidão Coletiva -> Forma de trabalho na qual o indivíduo é recrutado sem consentimento voluntário e do qual não 
pode se retirar assim que desejar, sem ficar sujeito à possibilidade de punição. O que a distingue da escravidão, 
também compulsória, é que esse serviço era prestado de tempos em tempos. 
Neste espaço, não podemos deixar de questionar quais elementos eram detentores de privilégios, de regalias nesse 
grupo, uma vez que todos os aspectos que temos relacionados falam na construção de elites locais e no momento 
seguinte, elites políticas. 
Há duas características básicas dessa sociedade, ou seja, ausência de mobilidade social e hereditariedade das 
funções. Esse é um ponto interessante, pois enfatiza o aceleramento da concentração de rendas ocorrido após a 
formação estatal e levanta a questão de como o Estado, através de uma grande estrutura coerciva, conseguiu 
manter tal situação. 
Um aspecto muito relevante a ser destacado nessa aula é a questão do entendimento da escravidão para os povos 
antigos. Provavelmente, o professor de História Antiga ocidental já deve ter pontuado, mas não custa relembrar que 
não existiu na antiguidade a ideia de superioridade de um povo baseada em critérios raciais. Não era esse o fator 
que determinava a sujeição de um grupo por outro. Os gregos e romanos até desmereciam outros povos, mas sue 
critério era cultural, ou seja, aquele que não falava o grego ou o latim era o barbaroi - bárbaro, independente da 
etnia a que pertencesse. 
Pode-se concluir então que o Período Intermediário é uma grande continuação das discussões que empreendemos 
até então, uma vez que notamos o quão difícil era a manutenção do poder real. É justamente nesse período que as 
disputas pelo poder, pelo domínio do sistema chegam a tal falta de consenso que a coroa é separada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Oriental – Aula 5. 
 
Aula 5: Cultura e Religiosidade no Egito Antigo 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar relacionar a arte egípcia à sua conotação inegavelmente religiosa; conhecer a caracterização da arte 
egípcia por elementos, como falta de perspectiva nas pinturas e rigidez nas linhas em suas esculturas; 
2. Relacionar o politeísmo egípcio à variedade de divindades adoradas nos nomos que, unidos, deram origem ao 
Egito; 
3. Compreender as motivações que levaram os egípcios a desenvolver uma técnica de preservação para os mortos; 
4. Perceber que a diferenciação social existia no Egito, inclusive na morte, pois nem todos tinham acesso à 
mumificação; 
5. Compreender e discutir os momentos sociais do Médio e do Novo Império. 
 
Começaremos finalizando a linha política que havíamos proposto, uma vez que paramos em um momento político 
de crise com Primeiro Período Intermediário. Pela cronologia, podemos notar que este lapso é bastante curto, 
porém profundo, uma vez que transforma completamente o poder da própria figura faraônica. 
Quando falamos na figura do faraó, temos que pensar na figura da sagração que marca esse traço. O nome sagração 
nos remete à ideia de sagrado, aquele movimento que tem a chancela do sagrado. Quando se observa essa questão 
da sagração, entende-se que por mais que as cerimônias sejam consideradas simples, elas tem um efeito simbólico 
dentro da estrutura local. 
Assim, entendemos a figura do faraó do Médio Império. Ele perde completamente sua força e sua ação política, no 
entanto em nenhum outro momento ele foi tão sagrado. O faraó deixa de poder ser tocado, visto de maneira direta, 
é um deus, mas fica distante das questões humanas. 
No momento em que se tem toda aquela disputa e a elite sacerdotal está assistindo a figura do faraó, ela ganha uma 
função especial, os poderes locais e a aristocracia passam a ter uma força singular na estrutura social. 
A escolha do faraó é uma questão política. Existe um traço, o faraó é escolhido pelos sacerdotes, não 
necessariamente a morte de um faraó gera a busca de um novo ou o trono é garantido a seu filho no reino Médio. 
Em vários momentos, os conflitos e a própria elevação à corregência cria a ideia de dois ou três faraós. 
Tal modelo político geral uma lenta e constante deterioração das estruturas centrais. Grupos estrangeiros foram 
ocupando áreas do Egito e, em cerca de cem anos o poder do Faraó era apenas uma sombra poderosa. É o segundo 
período intermediário, espaço de dominação do Hicsos. Somente após quase cerca de 150 anos observamos a ideia 
de um retorno faraônico. Mas, sobre essa transição veremos mais na próxima aula. Hoje discutiremos a questão da 
religião e do poder dos mitos no mundo egípcio. 
 
A questão do mito é importante para conhecer um pouco da história e da organização egípcia. Alguns dos próprios 
faraós têm na sua construção se são homens ou deuses. O que se sabe é que o próprio faraó é fruto de uma 
representação mítica de uma batalha divina. São aqueles que representam a unificação da coroa. O que seriaum 
faraó? 
Seria a reprodução do Maat, a reprodução da terra perante os deuses, a própria casa da coroa de Horus 
personificada entre os homens ou aqueles que representam Amon e a liderança do sol nesse mundo. 
 
A organização do Egito terá um fundamento que será explicado. Esse próprio fundamento varia de momento para 
momento e sempre com explicações religiosas. E essas explicações religiosas estarão representando, o momento de 
auge do templo de Amon ou pode representar muito mais, buscando origens para sua legitimidade, como no Novo 
Império e no período ptolomaico; é a coroa de Hórus que é buscada é a união de Isis e Osíris, do homem e da 
mulher, do bem e do mal, como a representação do faraó como aquele que media essas forças. Por isso ele é a 
coroa de Horus entre os homens. 
Quer conhecer um pouco sobre o panteão egípcio? Então acesse o link: 
<http://www.fascinioegito.sh06.com/panteao.htm>. 
 
 
Para Reflexão: 
Agora, vamos fazer uma leitura da descrição elaborada pela professora Eunice Simões Lins Gomes, em seu artigo 
sobre Ísis: 
“Para descrever o mito de Isis, resolvemos começar detalhando sua origem. Tentamos reconstituir a história cósmica 
a partir de Moustafa Gadalla (2003), Christiane Noblecourt (1994) e Christian Jacq (2000), todos baseados nos 
registros de Plutarco, colhidos entre os egípcios. Tudo inicia com Atum, o Princípio Criador, Senhor do Universo, 
autocriado, que cuspiu, gerando um casal, irmãos gêmeos Shu e Tefnut. Estes, deram origem a Nut (o céu) e a Geb (a 
terra), que eram estreitamente ligados.” 
“Sendo assim, Atum ordenou que fossem separados, proibindo-lhes qualquer união sexual, mas sua ligação era 
tamanha, que desobedeceram a ordenança e Nut ficou grávida de quatro gêmeos: Ausar (Osíris), Auset (Isis), Set 
(Seth) e Neb-Het (Néftis). Ausar (lua minguante e lua crescente, representa a natureza cíclica do universo) casou-se 
com Auset e tornou-se rei da terra, primeiro faraó do Egito, visto ser Auset (assento, trono, autoridade) a herdeira 
legitima, o trono físico real.” 
Vamos começar a partir da descrição da história. 
“Set casou-se com Néftis, mas como era estéril não teve filho. Tendo inveja de seu irmão Ausar o odiou por sua 
popularidade, então resolveu matá-lo, arranjou uma briga e assassinou-o traiçoeiramente. Depois de mata-lo cortou 
o corpo de Ausar em quatorze pedaços, um para cada noite de lua minguante, e espalhou-o por todo Egito. Morto 
Ausar, Set tornou-se rei do Egito e governou como um tirano. Auset, a viúva fiel, recusou a morte do seu amado e 
elaborou um projeto insano, encontrar todos os pedaços do cadáver e reconstituí-lo. Ela queria reconstituir lhe a 
vida. Ela encontrou todas as partes, menos o falo, que fora engolido por um peixe. 
Então, convocou sua irmã Nebt-Het (senhora do templo, do culto) e organizou uma vigília fúnebre. Isis e Néftis, de 
corpo purificado (inteiramente depilados e boca purificada), pronunciaram encantamentos numa câmara funerária, 
obscura e perfumada com incenso. Isis invocou todos os templos e todas as cidades do país para que se juntassem as 
suas dores e fizessem a alma de Osíris regressar do além. Também tomou o cadáver nos braços e seu coração bateu 
de amor por ele, e murmurou-lhe palavras de amor ao ouvido.” 
“Mas nada deu resultado, então, transformou-se num falcão fêmea, bateu asas para restituir o sopro da vida ao 
defunto. E pousou no lugar do falo desaparecido de Osíris, que ela fez reaparecer por magia.” 
“Pode-se dizer então que as portas da morte abriram-se diante de Isis, que conheceu o segredo fundamental, a 
ressurreição, conseguiu fazer regressar aquele que parecia ter partido para sempre e ser fecundada por ele. Assim, 
foi concebido seu filho Hórus (Heru), nascido da união da vida e da morte. Quando Set descobriu o nascimento da 
criança, tentou matar o recém-nascido. Mas Auset o escondeu e assim Hórus foi criado em secreto às margens do 
Delta do Nilo. Quando cresceu, Hórus desafiou Set pelo direito ao trono, e assim travaram muitas batalhas, numa 
das quais Set chegou a arrancar o olho de seu sobrinho e lançá-lo no oceano celestial.” 
“Contudo, nenhuma batalha foi suficiente para derrotar um dos guerreiros. Sendo assim, ambos se apresentaram ao 
conselho de neteru (poderes/atributos/ações do Único Deus), que determinou que Hórus deveria ser o governante 
sobre o Egito e Set deveria reinar sobre os desertos.” 
 
Enfim, Hórus representa a união das duas coroas e é o símbolo de um novo Egito. Um Egito que vai se afirmar na sua 
imagética, como vemos ainda no Antigo Império com Djoser. 
Nas palavras de Christian Jacq (O Egito dos Grandes Faraós): "graças a uma inscrição encontrada em Uadi 
Hammamat, vale por onde passa a estrada que vai da cidade de Coptos ao mar Vermelho, sabemos que o faraó 
enviou expedições ao Sinai. 
Nos rochedos do Uadi Maghara, na península do Sinai, estão representados vários soberanos, entre os quais Djoser, 
que bate com sua maça piriforme num chefe beduíno prostrado em sinal de submissão. 
Mais do que um acontecimento particular, devemos ver nisso o símbolo do poder exercido por Djoser sobre as tribos 
nômades que já não ousam transpor as fronteiras do "Duplo país" e perturbar a serenidade dos egípcios. E talvez 
devamos igualmente compreender que Djoser já mandava explorar as minas de cobre do Sinai. Seja como for, a cena 
clássica do faraó derrubando o inimigo assume aqui um valor especial: trata-se da vitória da ordem sobre o caos, de 
Djoser, o Magnífico, sobre as forças obscuras do mal.” 
“Outro fato parece pertencer mais à lenda do que à História, mas a sua importância merece que o assinalemos com 
alguns pormenores. No reino de Djoser teria havido uma grande fome. Infelizmente, não o sabemos por meio de um 
documento contemporâneo, mas sim por uma estela da época ptolomaica separada da terceira dinastia por um bem 
considerável número de anos. A estela intitulada "da fome" está gravada num rochedo descoberto ao sul da ilha de 
Sehel, na região de Elefantina, na extremidade meridional do Egito.” 
“Fato extraordinário: os sacerdotes que gravam esse texto dataram-no da época de Djoser! É evidente que não 
tencionavam enganar quem quer que fosse com um documento falso. Podemos portanto, considerar que um dos 
ptolomeus se identificou com o seu remoto e glorioso antepassado, Djoser, a fim de dar um caráter sagrado à sua 
própria luta contra a fome. Também é possível supor que tenha sido transmitido um documento histórico que 
evocava acontecimentos antigos.” 
 
O que nos conta a estela da fome? 
Ela nos diz que Djoser está profundamente triste. Sentado em seu trono, na solidão do seu palácio, sente um 
verdadeiro desespero. A seca já dura sete anos. O Nilo não voltou a transbordar e a depositar na terra do Egito o 
lodo fértil, é a miséria e a fome para todos. Os corpos mais vigorosos perdem a força; em breve sequer terão força 
para andar. 
As crianças choram; os velhos fatalistas estão sentados no chão à espera da morte. Mesmo os cortesãos passam 
privações. Os templos vão sendo fechados um a um. O serviço dos deuses não é mais seguro. 
 
Qual a razão desta desgraça? Pergunta Djoser. 
“Volta-se para os sacerdotes do culto de Imhotep, o filho do deus Ptah, sábio entre os sábios. Que se passa? Porque 
motivo o Nilo, o sinuoso, a que serpenteia, já não cumpre a sua missão? Os sacerdotes procuram nas salas dos 
arquivos do templo de Thot, na cidade santa de Hermópolis. Desenrolando os livros sagrados, recolhem preciosas 
informações, que transmitem a Djoser. 
No meio das águas existe uma cidade: Elefantina. É uma cidade notável, sede de Rá, o deus sol, quando este decide 
conceder a vida. Ora, existem lá duas tetas que dispensa todas as coisas. "O Nilo", diz a estela, "acasala saltando 
como um rapaz que fecunda uma mulher e recomeça a ser um jovem cujo o coração está vivo" Mas este

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