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1 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO COLINOMIMÉTICOS → A acetilcolina (Ach) é o neurotransmissor (NT) natural para receptores muscarínicos e nicotínicos e virtualmente não tem nenhuma aplicação terapêutica sistêmica, porque suas ações são difusas, levando ao aparecimento de efeitos indesejáveis e sua hidrólise é rápida, catalisada pela AChE (acetilcolinesterase), tornandoa meia-vida da ACh bastante curta. → A acetilcolina é uma molécula flexível e evidências sugerem que conformações desse NT são diferentes em receptores nicotínicos e muscarínicos. A subdivisão primária dos receptores colinérgicos como muscarínicos e nicotínicos provém de alcaloides naturais obtidos da Manita muscaria e Nicotiana tabacum, (alcaloides muscarina e nicotina) que tinham os mesmos efeitos que a ACh. Os receptores nicotínicos são canais iônicos regulados por ligante (receptores ionotrópicos), cuja ativação gera um aumento da permeabilidade celular ao Na2+ e ao Ca2+, seguido de despolarização e excitação. Os receptores muscarínicos, em contraste, são mais lentos e podem ora ser excitatórios ora ser inibitórios, dependendo do tipo de proteína G a qual estão acoplados e, logo, são receptores metabotrópicos. → Os receptores nicotínicos no geral estão localizados nos gânglios autonômicos, na medula suprarrenal e no SNC. São divididos em dois grupos: 1. Tipo musculas (NM): encontrado no musculo esquelético e medeia a transmissão na junção neuromuscular. 2. Tipo neuronal: encontrado principalmente por todo sistema nervoso periférico, SNC e tecidos não neurais, como células epiteliais e células do sistema imune. → Os receptores muscarínicos são subdivididos em cinco tipos (M1, M2, M3, M4 e M5), onde os ímpares são acoplados a proteína Gq, tendo efeito excitatório, e os pares são acoplados a proteína Gi, tendo efeito inibitório. Os primeiros estimulam a atividade da fosfolipase C (FLC), que leva a hidrólise do fosfatidilinositol difosfato da membrana, formando IP3 (trifosfato de inositol), o qual causa a liberação do Ca++ intracelular a partir do RE e ativação de fenômenos dependentes de Ca++ como contração muscular e secreção, dependendo da célula. O segundo produto da reação da FLP é o diacilglicerol (DAG) que ativa a PKC (proteína quinase C) em conjunto com o Ca++, levando a fosforilação de outras proteínas (via das MAP quinases) que produzirão várias respostas fisiológicas. Os receptores acoplados a Gi resultam na inibição da adenilatociclase, reduzindo o AMP cíclico, que leva a ativação de influxo de K+ e inibição de canais de Ca++ regulados por voltagem. Isso leva a hiperpolarização e inibição das membranas excitáveis. Esses receptores são evidentes no coração, pois respondem pelos efeitos cronotrópicos e ionotrópicos negativos da ACh neste. Sua localização se dá por: M1: encontram-se no SNC, neurônios periféricos e células parietais do estômago; M2: encontram-se no coração e terminações pré-sinápticas de neurônios centrais e periféricos; M3: encontram-se no endotélio, músculo liso da bexiga, do TGI, das vias aéreas e dos olhos, e glândulas exócrinas (salivares, gástricas, etc) M4: SNC. M5: SNC, musculo ciliar (olho). → Os processos de síntese, armazenamento, liberação e degradação da ACh se dá das seguintes formas: 1. A síntese de ACh depende da captação de colina do meio extracelular por um transportador dependente de sódio na membrana celular; 2 2. A colina livre dentro da terminação nervosa é acetilada por uma enzima citosólica, a colina acetiltransferase (CAT), que transfere o grupo acetil da acetil-CoA. 3. A ACh é transportada para o interior das vesículas de armazenamento por transportadores que usam o gradiente eletroquímico de prótons; 4. A liberação de ACh ocorre mediante despolarização da célula que permite a entrada de Ca++ através dos canais Ca++ dependentes de voltagem. A elevada concentração intracelular de Ca++ promove a fusão das membranas vesiculares e celular, que ocorre através de sinapsinas que garantem a junção dessas membranas e a sua digestão para que ocorra a exocitose; 5. Ocorre então a exocitose do NT. 6. Uma vez liberada, a ACh pode interagir com os receptores muscarínicos ou nicotínicos e produzir respostas características do efetor; 7. A sua ação é interrompida por sua degradação em colina e acetato (ou ácido acético) pela acetilcolinesterase (AChE) associada as membranas sinápticas. 8. A colina é reciclada após ser reaptada pelo terinal nervoso das células colinérgicas e reutilizada para a síntese de ACh. → Alguns fármacos podem interferir nesse processo, como: Vesamicol: Inibe a captação de ACh para o interior da vesícula através do transportador vesicular dependente de ATP. A inibição por vesamicol é reversível e não afeta a ATPase vesicular; Hemicolínio: Inibe tanto a captação quanto a receptação de colina pelo espaço extracelular para dentro da célula, inibindo a liberação de ACh ao impedir que seja sintetizada pela falta de colina disponível. Tubocurarina: Se liga a receptores nicotínicos impedindo que a ACh se ligue. Toxina botulínica: Impede a fusão das membranas vesicular e celular pré-sináptica, impedindo a exocitose da ACh. São chamados de bloqueadores nã0 despolarizantes. Suxametônio: Ocupam receptores nicotínicos, competindo com a ACh e levando a despolarização, impossibilitando a repoarização e abertura dos canais de sódio, o que resulta na perda da excitabilidade elétrica. O resultado é um espasmo muscular seguido de paralisia. São chamados de bloqueadores despolarizantes. Neostigmina: Inibe a ação da acetilcolinesterase, impedindo que a ACh se ligue e seja hidrolisada, resultado na intensificação do efeito da ACh, pois não ocorre degradação desse NT. 3 → De modo geral, na farmacologia é comum usar o termo droga para aquelas substancias que são mais importantes sob o ponto de vista toxicológico, como as drogas de abuso (cocaína, anfetamina, etc) e agrotóxicos. O termo fármaco é mais utilizado quando se considera mais importante e evidente o ponto de vista terapêutico, onde mesmo produzindo efeitos adversos, estes acabam sendo menos expressivos que o resultado terapêutico. → Os colinomiméticos são fármacos que mimetizam, ou seja, intensificam a atividade colinérgica muscarínica. É desejável que os fármacos para uso terapêutico sejam ada vez mais seletivos para evitar efeitos indesejáveis, sabendo-se, apesar disso, que essa seletividade é relativa de acordo com a dose aplicada, uma vez que uma dose bastante alta essa seletividade pode ser perdida, pois o agente poderá agir em outros locais e em outros subtipos de receptores. De forma geral, pode-se dizer que são agonistas colinérgicos ou fármacos parassimpatomiméticos, que reproduzem os efeitos da ACh e suas ações são basicamente as ações do SNP. Podem atuar de duas formas: Direta: quando o fármaco atua diretamente no receptor muscarínico. Possuem atividade intrínseca diferente de 0 (ou seja, levam a transdução de sinal intracelular). Indireta: inibem a enzima responsável pela hidrólise da Ach, aumentando o efeito desta. → Os efeitos dos agonistas muscarínicos são: 1. Sistema cardiovascular: vasodilatação através da liberação de NO pelo endotélio; diminuição da frequência cardíaca (efeito cronotrópico negativo); diminuição da velocidade de condução do nodo A-V (efeito dromotrópico negativo); diminuição da força de contração cardíaca (efeito ionotrópico negativo). O último efeito tem menor significado nos ventrículos do que nos átrios, uma vez que os ventrículos possuem escassa inervação parassimpática. Além, disso algumas dessas respostas referidas podem ser obscurecidas pelos reflexos barorreceptores e outros reflexos que atenuamas ações da ACh. 2. Trato respiratório: promova broncoespasmo e contração da musculatura lisa broncoalveolar, além de aumento da secreção traqueobrônquica, levnado a intensa cianose, ou seja, dificuldade respiratória. Se persistir o estímulo agonista no musculo diafragma, ocorre parada respiratória, pois ocorre uma dessensibilização dos receptores nicotínicos da musculatura diafragmática, levando a paralisia do diafragma. Ex: intoxicação por chumbinho. 3. Trato urinário: constrição com musculo detrusor da bexiga, induzindo a micção. 4. Glândulas: estimula a secreção de glândulas sudoríparas, levando a sudorese intensa, glândulas lacrimais, glândulas salivares, e nasofaríngeas. 5. Trato GI: aumenta a peristalse e a secreções do estômago e intestino. 6. Olho: produz miose, ou seja, diminuição do diâmetro ocular, através da contração da musculatura circular da íris e acomodação da visão pra perto pela contração do músculo ciliar. Nesse caso, normalmente o local de aplicação é o local de atuação, levando a maior disponibilidade sem que ocorra necessariamente o processo de distribuição. 7. SNC: aqueles fármacos que atravessam a barreira HE atuam provocando excitação cortical. → É interessante salientar que os efeitos no trato GI é de difícil acesso uma vez que são alcançados com altas doses de ACh, pois a butirilcolinesterase plasmática limita o acesso da ACh administrada sistemicamente aos receptores muscarínicos viscerais. → Os agonistas dos receptores colinérgicos muscarínicos são compostos nitrogenados divididos em dois grupos: 1) ésteres da colina incluindo ACh e vários ésteres sintéticos, cuja estrutura se baseia em um amônio quaternário, um metil intermediário e um grupamento éster e 2) alcalóides colinomiméticos naturais (principalmente pilocarpina, muscarina) e seus congêneres sintéticos. 4 Somente os fármacos betanecol, pilocarpina e cevimelina tem aplicação na prática clínica. Outros são fármacos comumente usados na prática experimental, como carbacol, metacolina e acetilcolina. → As características-chave da molécula de ACh importantes para sua atividade são o grupo amônio quaternário, que possui uma carga positiva, e o grupo éster, que apresenta uma carga negativa parcial e é susceptível susceptível a hidrólise rápida pela AChE. As variantes da estrutura éster da colina têm efeito de reduzir a susceptibilidade do composta a hidrólise pela AChE e de alterar a atividade relativa, sobre os receptores muscarínicos e nicotínicos. Por exemplo, o carbacol tem um NH2 no lugar do metil (CH3) no grupamento éster. Isso faz com que a polaridade diminua, impedindo a ligação do composto no sítio esterásico da AChE e, logo, é totalmente refratário à ação da AChE, assim como o betanecol, que, além disso, tem um metil entre os dois grupos, como a metacolina, impedindo a interação da molécula com a AChE (são mais seletivo), apresentando maior seletividade para os receptores M2 cardíacos. Assim, a metacolina apresenta uma adição de metil em sua estrutura, que é semelhante a ACh, dificultando o acoplamento do fármaco com os sítios da AChE, e dessa forma a hidrólise ocorre de forma lenta lenta. Isso resulta em uma maior eficiência e maior meia-vida desses fármacos ao serem total ou parcialmente refratários a AChE. → Sob o ponto de vista do perfil farmacocinético de distribuição, os fármacos derivados do nitrogênio quaternário (amônio quaternário), como a muscarina, são mais polares e por isso menos lipossolúveis do que aqueles derivados do nitrogênio terciário (amônio terciário) como a pilocarpina, que é bastante lipossolúvel. → Esses agonistas no geral são usados no tratamento de distúrbios na bexiga, na xerostomia (baixa ou não produção de saliva), hiper-reatividade brônquica, na oftalmologia como fármacos mióticos e tratamento de glaucoma. → Os usos dos diferentes fármacos são descritos a seguir: Acetilcolina: Embora raramente usada por via sistêmica, a ACh é usada por via tópica para indução de miose durante cirurgia oftálmica. Metacolina: E administrada por inalação no diagnóstico de hiper-reatividade brônquica em pacientes que não têm asma clínica aparente. Betanecol: Atua primariamente nos tratos urinário e GI. No trato urinário o betanecol é útil no tratamento da retenção urinária e no esvaziamento inadequado da bexiga quando não 5 há obstrução orgânica, como na retenção urinária pós-cirúrgica. No Trato GI o betanecol estimula o peristaltismo e aumenta a motilidade. Carbacol: E usado por via tópica em oftalmologia no tratamento do glaucoma e na indução de miose durante cirurgia. Seletivo para trato gastrointestinal e bexiga urinária, permitindo o uso como laxante. Não usado para na obstrução GI. Exercia simultaneamente ações nicotínicos, ou seja, ações no SNS. Pilocarpina: E usada no tratamento da xerostomia associada à síndrome de Sjõgren, que apresenta redução da secreção salivar. A pilocarpina é usada por via tópica em oftalmologia no tratamento do glaucoma e como miótico. Cevimelina: de introdução recente, usada na síndrome de Sjõgren (seletivos para receptores M3); Oxotremolina: nenhum; Muscarina: nenhum. → Esses fármacos são não, portanto, utilizados nos casos de asma crônica, doença pulmonar obstrutiva, obstrução urinária ou do Trato GI, doença ácido-péptica, doença cardiovascular acompanhada de bradicardia, hipotensão e hipertireoidismo. →Efeito colateral: broncoespasmos, aumento da secreção de muco, aborto em fêmeas gestantes (contração da musculatura lisa uterina). ANTICOLINESTERÁSICOS → A enzima acetilcolinesterase (AChE) compreende duas regiões distintas: um sítio aniônico (resíduos de glutamato) que se liga à porção básica (colina) da ACh, onde tem o amônio quaternário; e um sítio esterásico (catalítico) (histidina + serina) que se liga a porção éster da ACh. Como ocorre com outras serina hidrolases, e o grupo ácido (acetil) do substrato é transferido para o grupo hidroxila da serina, e essa transferência produz (transitoriamente) um acetato e uma colina livre. → Os anticolinesterásicos são fármacos que inibem a enzima AChE e apresentam pontuais possibilidades terapêuticas, sendo as custas de uma grande quantidade de efeitos colaterais. É comum a intoxicação por esses agentes, como ocorre com o chumbinho. São considerados como colinomiméticos de ação indireta. → Os fármacos que inibem a AChE podem ser divididos em três grupos de acordo com a natureza de sua interação com o sítio ativo, e logo, predizem o tempo de inibição da enzima. Assim quanto maior o tempo de inibição, maior a toxicicidade do agente. São eles: 1. AChE de ação curta: o edrofônio é o mais importante, sendo derivado do amônio quaternário e por isso possui maior polaridade e maior interação com a AChE. Se liga apenas ao sítio aniônico da enzima e esta ligação é facilmente reversível. Possui uma hidroxila em seu anel aromático que interage com a hidroxila da serina do sitio esterásico da AChE. Durante a interação a AChE não está hidrolisando a ACh e, logo, ocorre uma transitória intensificação das ações colinérgicas muscarínicas (miose, espasmos musculares, micção, etc). Como a ação do fármaco é muito breve e reversível, não é utilizado para reverter uma retenção urinária e produzir miose no tratamento de glaucoma. Sob o ponto de toxicidade não apresenta muito risco e sob o ponto de vista terapêutico não apresenta muita importância. É utilizado principalmente para funções diagnósticas como um titulador de dose de anticolinesterásicos, visto que a melhora da força muscular observada com o uso de anti-AChE é característica da miastenia gravis, mas não ocorre quando a fraqueza muscular é resultante de outras causas. A miastenia gravis se caracteriza pela perda progressivado 6 tônus muscular esquelético, onde o indivíduo inicia um processo de produção de anticorpos anti-receptores nicotínicos musculares, levando a redução progressiva dessa função. É comum o uso de neostigmina como tratamento, levando a uma melhoria no quadro. Adicionalmente, aplica-se uma dose de edrofônio e se houver melhora é sinal de que é possível aumentar a dose sem haver efeitos colaterais. Se a ação do edrofônio apresentar efeitos tóxico então a dose de neostigmina já está no limite. A utilização de edrofônio é discreta. 2. AChE de duração intermediária: englobam a neostigmina (prostigmina), piridostigmina, que são compostos de amônio quaternário de importância clínica, e a fisostigmina (ezerina), uma amina terciária. Todos esses são fármacos carmboil-ésteres, em vez de acetil-ésteres, e possuem grupos básicos (amônio quaternário) que se ligam ai sítios aniônico. A transferência do grupo carbamil para o grupo hidroxila da serina do sírtio esterásico ocorre da mesma que na acetilcolina, porém a enzima carbamilada hidrolisa muito mais lentamente, ou seja, a hidrólise do composto ocorre mais lentamente e, por isso, o fármaco interage por mais tempo com a enzima fazendo com que ela fique mais tempo ocupada com o fármaco do que com a ACh até que a enzima fique descarbamilada. Podem ser tóxicos de acordo com a dose. Ainda no caso dos receptores nicotínicos da junção neuromuscular, pode ocorrer dessensibilização desse receptor com o acúmulo de ACh, que leva a uma mudança conformacional das subunidades alfa e delta. Isso pode gerar um espasmo seguido de paralisia, resultando em parada respiratória. Nesses casos de intoxicação por anti-AChE é comum a utilização de atropina (antagonista muscarínicos) para reverter esse quadro. Outra utilização é paciente portador do mal de Alzheimer, que se caracteriza pela redução da atividade colinérgica nicotínica no SNC, onde esses fármacos levam a uma melhoria transitória no quadro de demência. 3. AChE irreversíveis: são compostos de fósforo (alguns chamados de compostos organofosforados) que fosforilam um grupo hidroxila da enzima, tonando-a inativa e estável, uma vez que o processo de desfosforilação não ocorre de forma espontânea, sendo chamados também de inativadores da AChE. A interação desses fármacos com a enzima é forte o suficiente para serem irreversíveis. Com isso, a enzima perde a sua função e não hidrolisa a ACh. Como a produção de novas moléculas de ACh pode levar dias, esses fármacos são bastante perigosos. São eles: ecotiopato, malation, paration, diflos, DFP, sarin, soman, taurin. Se ligam somente ao sítio esterásico da enzima AChE. A maior parte desses compostos foi desenvolvida para ser utilizada como arma química, na forma de gases tóxicos, e como pesticida, mas também para uso clínico. O diflos e o parartion são substâncias apolares voláteis com alta lipossolubilidade, rapidamente absorvidas através de membranas mucosas pela pele íntegra, e pela barreira HE, alcançando o SNC, sendo essas propriedades características de gases tóxicos e pesticidas. O malation é utilizado no tratamento tópico da pediculose (infestação por piolhos). Podem ser utilizados no controle de pragas agrícolas. O DFP, por exemplo, ao se ligar no sítio esterásico estabelece uma ligação com o oxigênio da serina, cuja reação faz com que o átomo de fósforo do fármaco se ligue ao oxigênio da serina d a enzima, liberando ácido fluorídrico. → Começou-se a desenvolver substancias que reativassem a AChE através da atuação no sitio aniônico livre, construindo uma estrutura molecular que se ligasse eletrostaticamente ao sitio aniônico e ao mesmo tempo estabelecesse uma ligação química com o átomo de fósforo desestabilizando essa ligação e desfosforlando a enzima e levando a fosforilação da substância. São estas conhecidas como oximas, conhecidas como reativadores da AChE. → Atropina e variáveis da oximas são utilizados no tratamento da intoxicação por anti-AChE irreversíveis. No caso da intoxicação por um carbamato, as oximas em nada acelerarão o processo 7 espontâneo de descabamilação da enzima e adicionalmente, aquelas enzimas que não estiverem carbamiladas estarão inibidas, exercendo uma atividade anticolinesterásica no momento em que o amônio quaternário se ligar ao sítio aniônico. → Alguns efeitos dos fármacos anticolinesterásicos são: Aumento da atividade da ACh nas sinapses pós-ganglionares parassimpáticas (aumento das secreções das glândulas salivares, lacrimais, brônquicas e gastrointestinais; aumento da atividade peristáltica, broncoconstrição; bradicardia e hipotensão; constrição pupilar; fixação da acomodação da visão para perto; queda da pressão ocular); Bloqueio de gânglios autonômicos por despolarização devido ao acúmulo de ACh no plasma e líquidos orgânicos; Aumento da força de contração muscular esquelética. Em altas doses de anti-AChE pode ocorrer paralisia por despolarização, com o excesso de ACh na junção neuromuscular; Convulsões seguidas de depressão se o composto for lipossolúvel e atravessar a barreira HE. → Os usos clínicos dos anti-AChE incluem: Reversão de fármacos bloqueadores neuromusculares não despolarizantes ao térmico de uma cirurgia (neostigmina). A atropina deve ser administrada para limitar os efeitos parassimpáticos; Tratamento da miastenia gravis (neostigmina ou piridostigmina); Como auxílio diagnóstico de miastenia gravis e para diferenciar a fraqueza causada por superdosagem de um anti-AChE da fraqueza observada na miastenia gravis: edrofônio, um fármaco de ação curta administrado por via intravenosa. Na doença de Alzheimer No glaucoma (colírio a base de ecotiopato). ANTAGOSNISTAS MUSCARÍNICOS → Os fármacos antagonistas dos receptores muscarínicos são antagonistas competitivos cujas estruturas moleculares são semelhantes a da ACh. Da mesma forma que os colinomiméticos, deve- se analisar o perfil farmacocinético de distribuição e a seletividade para um subtipo de receptor. Estes também apresentam em sua estrutura molecular pelo menos um átomo de nitrogênio, característico de substâncias que atuam nos receptores da ACh. É importante salientar que os antagonistas derivados do nitrogênio terciário são menos polares e podem exercem influência antimuscarínica no SNC. → Os dois compostos de ocorrência natural, a atropina (derivada do nitrogênio terciário) e a hioscina (ou escopolamina), são alcaloides encontrados em plantas solenáceas. A beladona (Atropa belladonna) contém principalmente atropina. Antigamente era comum o uso dessa planta como finalidade estética para dilatar a pupila ao reduzir a influência colinérgica muscarínica que produz miose, levando a contração da musculatura radial da íris pela influência simpática que fica livre. O estramônio (Datura stramonium), contém sobretudo hioscina. → Os fármacos antagonistas muscarínicos são citados a seguir, onde os três primeiros são derivados do nitrogênio terciário e os outros derivados do nitrogênio quaternário: Atropina Escopolamina Ciclopentoato Glicopirroato 8 Ipratrópio Metilbrometoatropina → Os efeitos dos antagonistas muscarínicos são: Inibição das secreções: as glândulas salivares, lacrimais, brônquicas e sudoríparas são inibidas por doses muito baixas de atropina, e essa inibição deixa a pele e a boca secas. A depuração mucociliar que ocorre no interior dos brônquios é inibida. Frequência cardíaca: taquicardia moderada ao liberar a influência simpática. Em doses muito baixas, a atropina causa bradicardia, em pequenas doses, possivelmente como uma consequência de ação central, no caso dos agentes derivados do nitrogênio terciário, que estimulam os núcleos bulbares do nervo vago, resultando em liberação de ACh e produzindo bradicardia. A pressãoarterial não é afetada, uma vez que a maioria dos vasos de resistência não possuem inervação colinérgica. Efeitos oculares: midríase, ou seja, dilatação da pupila, através do relaxamento do músculo ciliar, tornando a visão para perto comprometida; aumento da pressão intraocular. Efeitos sobre o trato GI: inibição da motilidade gastrointestinal, secreção gástrica do estomago pela célula parietal e de bicarbonato pela célula epitelial superficial. Músculo liso: relaxamento da musculatura lisa da arvore brônquica (broncodilatação) via adrenalina ao permitir a influência simpática que irão atuam em receptores B-2; relaxamento dos tratos biliar e urinário (diminuição do fluxo urinário). SNC: efeitos excitatórios no SNC, com agitação e desorientação, inibição da zona quimiorreceptora do gatilho que estimula o centro emético, que induz o vômito, produzindo por fim, um efeito antiemético. → Os usos clínicos incluem: Prevenção da secreção brônquica e vômito na preparação para a anestesia (atropina) (medicamento pré-anestésico); Dilatação da pupila para exame oftalmoscópico; Broncodilatadores na asma brônquica e bronquite (tiotrópio); Relaxamento da bexiga no tratamento de incontinência urinária; Envenenamento por anti-ACh; Usado em viagens por diminuir o fluxo intestinal e urinário; Cialorreia (produção excessiva de saliva); *Úlcera péptica, ao inibir a secreção estomacal; Hipermotilidade gastrointestinal. *OBS: Não é aconselhável para o tratamento de gastrite e úlcera, pois parar alcançar o efeito da inibição ácida gástrica é necessário utilizar uma dose alta que irá levar ao aparecimento de todos os outros efeitos adicionais, sendo essa medida terapeuticamente inviável devido aos efeitos colaterais indesejáveis. Além disso, um dos mediadores que participam da secreção de bicarbonato é a ACh através de receptores muscarínicos presentes nas células epiteliais superficiais, resultando numa menor proteção da mucosa. Além disso, a falta de ACh pode ser suprida pela gastrina. → A figura abaixo representa um experimento mostrando os efeitos da ACh e da atropina sobre a pressão arterial (PA) de gato. Em [A] a Ach provoca queda da PA por causa da vasodilatação, através de receptores no endotélio que levam a produção de NO, dilatando a musculatura. Entretanto, essa hipotensão é rápida, decorrente de dois motivos: hidrólise rápida pela AChE e mecanismo de barorreflexo através dos barorreceptores, estruturas enoveladas que se distendem a altas pressões sanguíneas, levando a uma via sensitiva que provoca inibição do centro vasomotor, diminuindo o fluxo simpático, que nesse caso, aumenta devido à uma baixa na PA, reduzindo essa via sensitiva. 9 Em [B] a aplicação de doses mais elevadas de ACh produz uma bradicardia mais intensa devido a intensificação da influência parassimpática, seguida de uma taquicardia reflexa, que ocorre devido a adicional influência da glândula suprarrenal com liberação de adrenalina que leva a vasoconstrição. Em [C], após a administração de atropina (antagonista muscarínico), a mesma dose de ACh de [B] não produz efeito de hipotensão. Nesse caso a prévia atropinização não permitiu o efeito da ACh e ocorreu uma discreta elevação da PA, em decorrência de uma taquicardia pelo bloqueio da atividade colinérgica, mas este evento não é significativo. Em [D], com esse animal atropinizado, uma dose muito maior de ACh (5 mg – 100 vezes maior), ocorre um potente e prolongado efeito hipertensor. Isso ocorre devido a influência nicotínica da ACh, ou seja, em doses altas ocorre alcance nos gânglios simpáticos, levando, adicionalmente, a liberação de adrenalina pela adrenal, efeito chamado de descarga simpáticoadrenal. É importante salientar que a prévia atropinização é necessária, pois, caso contrário, não seria possível visualizar o efeito hipertensor, uma vez que o animal já teria morrido de hipotensão. Logo a premissa de que a aplicação de doses elevadas de ACh independente da atropinização não é verdadeira. FÁRMACOS QUE ATUAM EM NÍVEL SINÁPTICO → Fármacos como o hemicolínio e vesamicol inibem a síntese de ACh, onde o primeiro impede o transporte de colina para dentro da terminação nervosa e o segundo inibe a captação de ACh para dentro das vesículas sinápticas. → A toxina botulínica é uma neurotoxina que atua inibindo a liberação de ACh, uma vez que constitui peptidades que clivam proteínas envolvidas da exocitose, produzindo um efeito de longa duração da transmissão sináptica. Possui algumas aplicações clinicas quando administradas localmente: o Espasmo persistente e incapacitante da pálpebra o Espasticidade (aumento do tônus muscular) o Incontinência urinária com excesso de atividade da bexiga; o Estrabismo o Sialorreia (secreção salivar excessiva) → O Botox é usado esteticamente com a finalidade de prevenir rugar e diminuir as marcas de expressão, uma vez que é aplicado localmente em músculos faciais superficiais que enrugam a pele, paralisando-os. 10 FÁRMACOS QUE ATUAM NA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR → Os fármacos que atuam na junção neuromuscular são comumente utilizados somente como um componente para a anestesia, quando a ventilação artificial está disponível; não é uma intervenção terapêutica. Todos os fármacos utilizados têm ação pós-sináptica, sendo divididos em dois grupos: 1. Bloqueadores não-despolarizantes: bloqueiam os receptores nicotínicos de ACh; 2. Bloqueadores despolarizantes: ativam receptores de ACh e assim causam uma despolarização persistente na placa motora terminal. → O primeiro bloqueador não-despolarizante foi o “curare” extrato de uma planta que causava paralisia muscular esquelética usada na caça de tribos indígenas na América do Sul. Foi demonstrado que esse extrato não abolia a condução nervosa. Quando isolada o princípio ativo chamou-se d- tubocurarina. Em síntese, os principais fármacos desse grupo são: D-tubocurarina; Galamina; Pancurônio; Atracúrio. → Todos esses são compostos de amônio quaternário, e por isso são pouco absorvidos e rapidamente eliminadas, razão pela qual a ingestão de animais curarizados não causava efeito no indivíduo que ingerisse. Assim, o emprego da d-tubocurarina na caça de animais para alimentação foi possível, em virtude desse composto ter reduzida absorção oral, permitir o consumo de sua carne. → Mecanismo de ação: atuam como antagonistas competitivos dos receptores de ACh situados na placa terminal. Dessa forma, impedindo que o canal iônico se abra permitindo o influxo de sódio, impedindo a despolarização e posterior abertura dos canais para sódio voltagem dependente, impedindo a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático para o citoplasma, que é essencial para o processo de contração, ou seja, para a formação do complexo actina-miosina essencial para que ocorra a contração muscular esquelética. → Os efeitos desses agentes são principalmente resultantes da paralisia motora imediata. Os efeitos colaterais podem ser a hipotensão devido a possibilidade de bloqueio ganglionar, afetando tanto a influência simpática quanto a influência parassimpática. Nesse caso, a resultante é a taquicardia devido ao bloqueio vagal, uma vez que a influência predominante no coração é o SNP, hipotensão devido à perda do tônus vascular que é garantido pelo SNS predominante. No sistema glandular o SNS é predominante, levando então a inibição da secreção e no transito intestinal o SNP é dominante e, portanto, esses fármacos resultam em redução do transito gastrointestinal. → Como os anti-ChE neostigmina, piridostigmina e edrofônio preservam a ACh endógena e também atuam diretamente na junção neuromuscular, têm sido usados no tratamento de dosagens excessivas com fármacos bloqueadores competitivos. Isso ocorreporque a ACh liberada, protegida da hidrólise, é capaz de se difundir ainda mais no interior da fenda sináptica e consequentemente, ter acesso a uma área maior da membrana pós-sináptica do que normalmente teria. Por isso as chances de uma molécula de ACh encontrar um receptor desocupado antes de ser hidrolisada são maiores. → É importante salientar que a d-tubocurarina é totalmente contraindicada para cães, uma vez que esse agente exerce um bloqueio ganglionar bastante expressivo, sendo esse fenômeno característico da espécie. 11 → Os bloqueadores despolarizantes produzem uma breve contração pois interagem com os receptores de ACh, abrindo canais de sódio, mas em seguida levam ao relaxamento. Os fármacos mais importantes são a succinilcolina ou suxametônio e o decametônio. Amboas apresentam em cada extremidade de suas moléculas um amônio quaternário, onde o suxametônio é constituída de duas moléculas de ACh ligadas pela porção éster e o decametônio apresenta dois amônios quaternários ligados por um grupamento [C10H20]. É fato que a medida que se diminui a cadeia lateral, ocorre maior seletividade para o bloqueio ganglionar [C6H12], como ocorre com o hexametônio (bloqueador ganglionar). → Mecanismo de ação: ocorre inicialmente uma despolarização a membrana abrindo os canais da mesma maneira que acontece com a ACh. Entretanto, eles persistem por mais tempo na junção neuromuscular, principalmente porque são resistentes à AChE. Desse modo, a despolarização é mais prolongada, resultando em um período breve de excitação repetitiva que pode provocar excitação muscular transitória e repetitiva. Essa despolarização inicial é seguida do bloqueio da transmissão neuromuscular e da paralisia flácida. Isso ocorre porque ao interagir com o receptor nicotínico da junção neuromuscular, o fármaco dessensibiliza o canal (receptor ionotrópico) ao promover alterações na disposição conformacional das subunidades alfa-1 e alfa-2, tornando o receptor transitoriamente refratário as ações da ACh, ou seja, o receptor permanece em estado de baixa afinidade a ACh. Os canais de sódio perijuncionais se fecham e não reabrem enquanto a placa terminal não se repolariza, isolando o músculo da atividade motora. Portanto, se trata de um mecanismo não competitivo e por isso chamados também de bloqueadores despolarizantesnão competitivo, evidenciando um espasmo muscular seguido de relaxamento. → Os efeitos são espasmos musculares repetitivos seguido de paralisia flácida. Entre os fármacos despolarizantes, o suxametônio raramente causa efeitos atribuíveis a bloqueio ganglionar em doses que produzem relaxamento muscular. São fármacos utilizados como adjuvantes na anestesia, como relaxante muscular, mas não devem ser usados isoladamente. Apesar disso, as anestesias normalmente contêm uma influência para o relaxamento muscular, porém isso ocorre a nível central. → A utilização desses fármacos para bovinos é contraindicada, uma vez que esses animais são sensíveis ao suxametônios, pois possuem baixa ação da AChE plasmática, fazendo com que a meia- vida desses fármacos seja mais ampla. → O bloqueio por despolarização não é afetado pelo anti-AChE, uma vez que o mecanismo desses fármacos não é competitivo. O bloqueio da AChE levará ao acúmulo de ACh na fenda, podendo levar a dessensibilização dos receptores, adicionado ao fato de que o suxametônio também é metabolizado pela AChE, o que faz com que esse fármaco tenha uma meia-vida ampliada. Logo, o aumento do efeito desse bloqueador neuromuscular adicionado a sensibilização de receptores leva à parada respiratória. BLOQUEADORES GANGLIONARES → São utilizados frequentemente nas práticas experimentais, sendo limitados na prática clínica, uma vez que inibem toda a influência autonômica visceral. Os principais fármacos de uso clínico são: Hexametônio Trimetafano → O hexametônio é composto de dois amônios quaternários ligados por um grupamento [C6H12]. Eles interferem na ação pós-sináptica da ACh, bloqueando receptores nicotínicos neuronais ou canais iônicos a eles associados. O trimetofano atua por competição com a ACh, análogo ao 12 mecanismo de ação do curare na junção neurona. O hexametônio parece bloquear o canal após sua abertura; esta ação encurta a duração da corrente de fluxo porque o canal aberto se oclui ou fecha. Porém, independente do mecanismo, o PPSE inicial é bloqueado e a transmissão ganglionar é inibida. → O principal efeito desses fármacos é a hipotensão, onde o hexametônio foi o primeiro fármaco a tratar hipertensão com sucesso, sendo substituído mais tarde pelo Trimetofano. São utilizados na reversão de crises hipertensivas, pois produzem imediata hipotensão. Não são utilizados em rotina para tratamento de hipertensão, somente em casos emergenciais. Trimetafano é utilizado em processos cirúrgicos invasivos ao garantir uma perfusão sanguínea em baixos níveis, minimizando processos hemorrágicos. 13 CLASSE FÁRMACO Colinomiméticos diretos (agonistas colinérgicos muscarínicos) Acetilcolina Metacolina Betanecol Carbacol Pilocarpina Cevimelina Oxotremolina Muscarina Colinomiméticos indiretos (anticolinesterásicos): - Reversíveis de curta duração Edrofônio - Reversíveis de duração mediana Neostigmina (prostigmina), Piridostigmina Fisostigmina (ezerina) - Irreversíveis Ecotiopato; Malation; Paration; Ddiflos; DFP Antagonistas muscarínicos Atropina ; Escopolamina; Ciclopentoato; Glicopirroato; Ipratrópio; Metilbrometoatropina Bloqueadores neuromusculares - Competitivos não-despolarizantes D-tubocurarina; Galamina; Pancurônio; Atracúrio. - Despolarizantes não-competitivos Succinilcolina (suxametônio); Decametônio Bloqueadores ganglionares Hexametônio Trimetafano Fármacos que atuam na sinapse Hemicolínio; Vsamicol; Toxina botulínica e suas variantes 14
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