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Jovens perdem o rumo querendo ser o próximo Zuckerberg 
05/09/2011 
 
 
Eu costumava pensar que a conquista de Mark Zuckerberg com o Facebook era uma inspiração fabulosa para 
empreendedores de todas as partes. Mas agora não tenho mais tanta certeza disso. Não estou me referindo 
aos seus supostos deslizes éticos, enfatizados no filme "A Rede Social". Minha preocupação é que ele 
estabeleça um exemplo de sucesso meteórico que praticamente ninguém mais conseguirá repetir. Isso porque 
os imitadores estão tentando copiá-lo e, consequentemente, estragando suas carreiras com falsas esperanças. 
 
 
Luke Johnson
1
 
 
Perdi a conta do número de planos de negócios de "pioneiros digitais" que passaram por minhas mãos e que 
tinham como objetivo criar o próximo Facebook ou coisa parecida. Eles estão cheios de projeções ascendentes 
de receita, suposições de crescimento impressionantes, avaliações espetaculares e demandas heroicas de 
apoiadores. Eu coloco todas no picador de papéis. Conforme disse Samuel Johnson: quase todos os homens 
perdem uma parte de suas vidas tentando exibir qualidades que não possuem para ganhar aplausos que não 
conseguirão manter. 
 
A verdade é que nenhuma outra companhia jamais cresceu como o Facebook. A ampla maioria das empresas 
iniciantes não capta formalmente capital de risco - elas financiam suas operações por meio das famílias e dos 
amigos, endividamento bancário, poupanças, investidores informais e crédito de fornecedores. 
 
Esse é o mundo real das novas empresas e não a quase "ilha da fantasia" do Vale do Silício. Além disso, todo 
portfólio de venture capital está cheio de dezenas de fracassos e perdas totais – os clones do Twitter, LinkedIn e 
Zynga dos quais ninguém fala nada. 
 
Além disso, embora eu encoraje os mais jovens a se tornarem seus próprios chefes, a maioria dos vencedores 
está, na verdade, na casa dos 30 ou 40 anos quando finalmente conseguem chegar lá. A experiência é 
importante quando se trata de administração – até mesmo os capitalistas de risco sabem disso. Esperar um 
grande sucesso logo depois de sair da universidade é cortejar a decepção. 
 
Essa ilusão de riqueza tecnológica instantânea é relativamente nova. Thomas Edison e outros inventores 
demoraram anos para fazer suas fortunas, e muitos como John Logie Baird e Charles Goodyear nunca 
conseguiram. Mas, primeira vez na história do capitalismo, a bolha de internet permitiu a companhias iniciantes 
sem ativos tangíveis levantar grandes volumes de capital com base em um plano, ainda que sem propriedades, 
franquias, receitas, patentes e lucros. 
 
Vencedores incríveis como o Google e a Amazon distorceram o mundo financeiro ao demostrar que quantidades 
enormes de dinheiro podiam ser ganhas embora parecesse não haver um modelo de negócios comprovado. 
Mas eles não mudaram as regras e, sim, foram as exceções. 
 
Pela experiência que tenho, sei que as companhias geralmente levam de cinco a dez anos para equilibrar seus 
resultados. As empresas destinadas a fracassar ficarão no meio desse caminho. Já os empreendimentos 
duradouros são autossustentáveis e têm potencial. Eles são liderados por fundadores determinados, 
persistentes e que, invariavelmente, amadureceram ao longo da existência de sua criação. 
 
As melhores empresas não são construídas para serem rapidamente vendidas. Suspeito de empreendedores 
que se concentram desde o começo na busca de uma indecente saída rápida. Gosto de projetos que vão durar, 
que possam gerar dinheiro para pagar dividendos e onde os proprietários não são obcecados exclusivamente 
em ganhar dinheiro rápido para os financiadores. Eu prefiro administradores que se concentram nos clientes, 
competidores e em superar o orçamento deste ano. Esses são a base de um genuíno empreendimento 
comercial. 
 
A mitologia romântica do estudante que começa uma empresa num laptop precisa de ajustes. A maioria das 
empresas atende a exigências mundanas, muito possivelmente aplicações de negócios, e não projetos 
excitantes para os consumidores como o Facebook. Muitos serão empreendimentos que irão apenas garantir o 
sustento de seus fundadores e poucos se transformam em sucessos estrondosos. Mas isso não os torna menos 
válidos ou dignos. 
 
Empresas que ascendem em ritmo vertiginoso normalmente caem de maneira parecida. A internet encoraja 
muitos principiantes, mas também monopólios aparentemente inexpugnáveis - até que eles também não mais o 
sejam. A razão disso é que os usuários da internet são instáveis – é só olhar para o colapso do MySpace e do 
Bebo. Mas, pelo menos, Zuckerberg é mais inspirador que os bombásticos gurus da televisão Lord Sugar ou 
Donald Trump. 
 
Fonte: Jornal Valor Econômico. 
 
1
 Luke Johnson é colunista do "Financial Times" e, excepcionalmente hoje, escreveu no lugar de Lucy Kellaway.

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