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XI Simpósio de Geologia da Amazônia, 2 a 5 de agosto de 2009, Manaus - AM ANÁLISE DE FÁCIES DA FORMAÇÃO ALTER DO CHÃO, KM 46, BR-174 Jackson D. S. Paz, Depto de Recursos Minerais/UFMT (jackdspaz@yahoo.com.br) Eisner F. da S. Cunha, Manati Geologia ME (eisnerfrancisco@yahoo.com.br) Resumo Três associações de fácies foram descritas na Formação Alter do Chão na altura do km 46 da BR-174: 1) Fácies arenito maciço, com lentes de conglomerado, e arenito com estratificação cruzada tabular, com abundante cimento de caulim (até 40% da rocha); 2) Fácies arenito grosso com geometria côncava granodecrescente e estratodecrescente, estratificação cruzada acanalada e espessura de até 2 m, cimentação de caulim (até 40%); 3) Fácies de pelito e argilito maciços, vermelhos e brancos, empalidecidos, com até 1 m de espessura, com marcas de raízes, gretados e quebradiços. Assim, interpretam-se condições muito energéticas de deposição (dada a granulometria predominantemente arenosa grossa dos depósitos), sob fluxo unidirecional (exclusividade de estruturas 2D e 3D com base reta e com truncamentos de alto ângulo), que, aliadas ao caráter granodecrescente e geometria côncava (em canal), leva-nos a propor um modelo deposicional fluvial com predomínio de carga mista para este ponto da Formação Alter do Chão. Introdução Este resumo apresenta os resultados obtidos (até o momento de seu precoce encerramento) do projeto análise faciológica e estratigráfica de depósitos cretáceo-terciários nas regiões de Manaus e Manacapuru, Bacia do Amazonas, de Desenvolvimento Científico Regional/FAPEAM, e visou à viabilização de estudos de reconstrução ambiental e análise estratigráfica daqueles depósitos (Fig. 1). Neste resumo, serão discutidos os resultados obtidos que permitiram a reconstrução paleoambiental destes depósitos por meio de um modelo deposicional. Materiais e métodos Este resumo se propõe a estabelecer as fácies deposicionais da Formação Alter do Chão, mediante atividades de campo que incluíram: a) o mapeamento vertical e horizontal de fácies deposicionais tanto em afloramento quanto em testemunhos de sondagem; b) o mapeamento de superfícies-chaves; c) a elaboração de perfis litoestratigráficos; e d) o registro fotográfico dos afloramentos e fácies da Formação Alter do Chão. Estas atividades permitiram abordar a evolução do ambiente deposicional da Formação Alter do Chão por meio de análise de fácies. Tal análise consiste no mapeamento de fácies deposicionais por meio da montagem de perfis estratigráficos que representassem esquematicamente o empilhamento original das camadas observadas nos afloramentos estudados. Esta etapa ocorreu em campanhas de campo, em que foram observadas, medidas, registradas e coletadas amostras das camadas que formavam o empilhamento sedimentar das áreas estudadas. Nestas camadas, atentava-se para características mensuráveis e passíveis de verificação representadas pela espessura, litologia e textura, estruturas sedimentares, geometria, conteúdo fóssil, direção do paleofluxo e, eventualmente, a cor (cf. Tucker, 2003). Algumas destas características são verificáveis apenas no campo (p.e., espessura, estruturas sedimentares, direção do paleofluxo e, geralmente, a cor). A geometria e continuidade lateral das camadas, o conteúdo fóssil, a litologia e a textura são, grosso modo, identificadas na etapa de campo, mas seu detalhamento ocorre melhor sob observação posterior de laboratório ou gabinete (cf. Miall, 1990, cap.1). A combinação de camadas com estas características iguais ou muito semelhantes entre si define uma fácies deposicional. As fácies permitem acessar informações do processo sedimentar que deu origem àquelas camadas (i.e., condições hidrodinâmicas, paleoclimáticas, físico-químicas e/ou biológicas). A documentação destas características ocorre, além da elaboração do próprio perfil em caderneta de campo, por meio de fotografias. Foram seguidas as principais recomendações quanto à técnica de fotografar objetos para estudos de Estratigrafia e Sedimentologia (cf. Wizevic, 1991; Tucker, 2003). XI Simpósio de Geologia da Amazônia, 2 a 5 de agosto de 2009, Manaus - AM Resultados A Formação Alter do Chão ocorre numa área extensa que abrange praticamente toda a região de Manaus e de Manacapuru. Seus melhores afloramentos ocorrem ao longo das margens de rios e alguns igarapés da região. Eventualmente, voçorocas e cortes de estrada podem se constituir em afloramentos bons, o que depende do grau de preservação das estruturas sedimentares e do acesso a estes. Tais afloramentos podem atingir até 12 m de espessura, sendo mais comuns espessuras da ordem de 5 m. Na área de estudo, foram identificadas três associações de fácies: Fácies 1. Esta associação constitui-se de arenito maciço, com lentes de conglomerado, e arenito com estratificação cruzada tabular. A mineralogia predominante é representada por grãos de quartzo e cimento de caulim, o qual perfaz até 40% da rocha, o que foi determinado por elutriação. O arenito maciço apresenta até 5 m de espessura, textura média a grossa, com grânulos e seixos de quartzo disseminados e coloridos diversamente (p.e, amarelo, vermelho, róseo e branco). Apesar de maciço, uma estruturação cruzada incipiente pode ser observada semelhante à tabular. As cores são variegadas desde amarelo até laranja avermelhado. Micro-falhas são observadas localmente. O arenito com estratificação cruzada tabular apresenta até 2m de espessura, de granulometria média a grossa, com estratificação cruzada tabular, tangencial e com estratificação plano-paralela ou cruzada de baixo ângulo (tipo swash). Nesta intercalação, a estratificação plano paralela é marcada por superfícies enriquecidas de minerais pesados. Além disso, há um caráter granodecrescente observado no perfil com lentes de conglomerados à base e arenito fino ao topo. As lentes de conglomerado constituem-se de conglomerado intraformacional, de arcabouço aberto, com até 40 cm de espessura. Tubos ramificados horizontalmente de icnofósseis do icnogênero Thalassinoides são observados na base dos perfis, dentro desta associação de fácies. Fácies 2. Arenito grosso com estratificação cruzada acanalada de até 2 m de espessura com superfície erosiva marcada por grânulos e seixos a sua base, e os quais também ocorrem disseminados por toda a fácies. A estratificação cruzada acanalada possui sets centimétricos com tendência à diminuição em direção ao topo da fácies. A mineralogia é predominantemente quartzosa e a cimentação de caulim é igualmente alta, proporcional a da associação anterior. Esta fácies tem ocorrência local e apresenta uma geometria côncava, encravada sobre as fácies da outra associação. Fácies 3. Pelito e argilito maciços, vermelhos e brancos, com até 1 m de espessura, apresentando em seu interior marcas de raízes, gretados e quebradiços, especialmente ao topo das fácies nos perfil 2 do km 40 na BR-174. O topo é também mais arenoso e localmente empalidecido. Apesar de maciços, nota-se uma estruturação colunar e alguma laterização quando estas fácies estão ao topo do perfil. A geometria tende a lenticular. Interpretação das fácies e discussão do modelo deposicional Os depósitos da área de estudo foram depositadas em condições muito energéticas dada a granulometria predominantemente arenosa grossa dos depósitos. Contudo, sob condições de fluxo unidirecional, sugerido pela exclusividade de estruturas 2D e 3D com base reta e com truncamentos de alto ângulo. A presença de superfícies erosivas marcando a base da associação de fácies 2 e com uma geometria côncava em forma de canal é condizente com este ambiente energético. Aliados estes pontos ao caráter granodecrescente observado nos perfis estudados, um modelo deposicional fluvial com predomínio de carga mistaparece mais apropriado para a área estudada. Além disso, a Fm Alter do Chão tem sido historicamente interpretada como depósitos de canais fluviais (p.e., Caputo et al. 1972; Cunha et al., 1994; Vieira, 1999). A associação de fácies 1 representa depósitos de crescimento lateral interpretados como barra em pontal na presença de estratificação cruzada tabular intercalada a estratificação plano paralela e/ou cruzada de baixo ângulo, estas marcadas por superfícies de minerais pesados (i.e., placer). Esta interpretação é condizente com depósitos de barra em pontal atuais em que estratificações 2D e acúmulos de minerais pesados são comuns no topo destas barras na região de lavagem. A associação de fácies 2, dada a geometria em canal, a feição de escavação da base do depósito e a presença de depósitos residuais de grânulos e seixos marcando esta superfície passando ascendentemente a arenito com estratificação cruzada acanalada e com a diminuição do calibre granulométrico está perfeitamente de acordo com depósitos clássicos gerados pelo preenchimento do canal (p.e., Leeder, 1982; Miall, 1990). A associação de fácies 3 caracterizada pelo granulometria fina e presença de marcas de raízes e de gretação apontam para um ambiente de baixa energia, provavelmente associado com uma planície XI Simpósio de Geologia da Amazônia, 2 a 5 de agosto de 2009, Manaus - AM de inundação. Como esta associação se repete ao longo do perfil revelando uma recorrência do processo ao longo do tempo, não é descartável que este depósito registre a presença de meandros abandonados (i.e., mud plugs). Depósitos de carga mista comumente formam meandros e sua carga sedimentar inclui tanto grãos finos quanto algum cascalho (cf. Leeder, 1982). Revisões recentes a respeito do ambiente deposicional da Fm Alter do Chão tem sugerido a influência de maré nestes depósitos (Rossetti & Netto, 2006), a qual tem sido evocada pela presença de foresets de estratificação cruzada com recobrimentos de argila, retrabalhamentos por atividade de onda e principalmente pela presença de traços fósseis atribuídos a ambiente de estuário, tais como Thalassinoides, Planolites e Diplocraterion. Recobrimentos de argila e estruturas geradas por atividade de onda não estão presentes nos depósitos estudados neste trabalho, o que pode representar uma continentalidade maior em relação àqueles. Descritos pela primeira vez por Rossetti & Netto (2006), os traços fósseis tem sido cada vez mais observados em depósitos da Fm Alter do Chão, numa variedade grande e complexa que ainda não foi sumarizada em uma publicação formal pelo grupo de pesquisa em geologia sedimentar da Universidade Federal do Amazonas. Contudo, a associação descrita acima também tem sido observada em depósitos eminentemente continentais ao redor do mundo, especialmente no Cretáceo (Kim et al., 2002). A definição de um sistema fluvial com carga mista para a Fm Alter do Chão proporciona-lhe ser tratada como exemplo antigo do atualmente descrito sistema fluvial anabranching (cf. Nanson & Knighton, 1996) e que, atualmente, tem predominado no sistema hidrológico da Amazônia central (cf. Rozo et al., 2004). Referências CAPUTO, M. V. ; RODRIGUES, R. ; VASCONCELOS, D. N. N. 1972. Nomenclatura estratigráfica da Bacia do Amazonas - Histórico e atualização. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 26, Belém. Anais... v. 3. p. 35-46. CUNHA, P.R.C., GONZAGA, F.G., COUTINHO, L.F.C., FEIJÓ, F.J. 1994. Bacia do Amazonas. Boletim de Geociências da Petrobrás, 8: 47-55. KIM, J.Y., KIM, K-S., PICKERILL, R.K. 2002. Cretaceous nonmarine trace fossils from the Hasandong and Jinju Formation of the Namhae area, Kyongsangnamdo, Southeast Korea. Ichnos, 9: 41-60. Leeder, 1982 MIALL, A. D. 1990. Principles of sedimentary basin analysis. 2ª edição, Springer Verlag, 668p. NANSON, G.C.; KNIGHTON, A.D. 1996. Anabranching river: their cause, character and classification. Earth Surface Processes Landforms, 21: 217-239. ROSSETTI, D. F; NETTO, R. G. 2006. First evidence of marine influence in the cretaceous of the Amazonas Basin, Brazil. Cretaceous Research, 27: 513-528. ROZO, M., NOGUEIRA, A.C.R., TRUCKENBRODT, W. 2006. anabrnching pattern of the middle Amazon river. VIEIRA, L. C. 1999. Depósitos Fluviais da Formação Alter do Chão, Cretáceo – Terciário da Bacia do amazonas, Ponta Negra, Manaus. UFAM, Trabalho Final de Graduação, 53p. WIZEVIC, M.C. 1991. Photomosaics of Outcrops: Useful Photographic Techniques. In: A.D Miall; N. Tyler (Eds.), The three-dimensional facies architecture of terrigenous clastic sediments and its implications for hidrocarbon discovery and recovery. Society for Sedimentary Geology/SEPM (Concepts in Sedimentology and Paleontology, 3), Tulsa, p. 22-24.
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