Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
3 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito AGENTE INFILTRADO E SUA RESPONSABILIDADE PENAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS LIMITES E PODERES LEGAIS. Liliane Antunes Cunha1 Luciano Costa2 RESUMO O presente estudo faz uma abordagem sobre a infiltração do agente policial nas organizações criminosas. O objetivo é verificar se o agente infiltrado quando cometer crimes na atividade infiltrada pode ser responsabilizado penalmente. Dessa forma buscamos nos aprofundar sobre o assunto utilizando o método bibliográfico-dedutivo, assim como nos baseamos na lei que rege o tema – lei nº 12.850/2013, e nas mudanças que ocorreram nas legislações anteriores. Dessa forma, discorremos, primeiramente, sobre as organizações criminosas, sua conceituação, natureza jurídica, características, para enfim, chegar ao agente infiltrado, analisando como se dá o processo de infiltração, quais são os limites e deveres legais do agente infiltrado, e verificando quando ele poderá responder pelos crimes praticados, no âmbito da organização criminosa, analisando também se suas ações guardam coerência com a atividade infiltrada e, por conseguinte com a autorização judicial. Utilizamos como referencial uma entrevista de um agente infiltrado, o qual contribuiu bastante para o embasamento do presente trabalho. Palavras chave: Organizações criminosas. Lei 12.850/2013. Agente Infiltrado. Responsabilidade Penal. ABSTRACT The present study deals with the infiltration of the police agent into criminal organizations. The objective is to verify if the agent infiltrated when committing crimes in the infiltrated activity can be criminally liable. In this way we seek to delve into the subject using the bibliographic-deductive method, as well as based on the law that governs the subject - law nº 12.850 / 2013. We first discuss criminal organizations, their conceptualization, legal nature and characteristics, finally, to arrive at the undercover agent, analyzing how the infiltration process takes place, what are the limits and legal duties of the undercover agent, and verifying when he can respond For the crimes committed, within the framework of the criminal organization, also analyzing if their actions are consistent with the infiltrated activity and, consequently, with the judicial authorization. We use an interview with an undercover agent as a reference. Key words: Criminal organizations. Law 12,850 / 2013. Infiltrated Agent. Criminal Responsibility. 1 Acadêmica do 10º semestre do Curso de Direito da Faculdade Estácio-FAP do Pará, Email: lilianeantune@hotmail.com 2 Mestre em Direito, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, professor Adjunto da Faculdade Estácio do Pará, professor convidado da UFPA no Curso de Especialização em Segurança Pública e Cidadania, professor pesquisador. 4 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito INTRODUÇÃO O presente trabalho abordará sobre a atuação do policial infiltrado dentro de uma organização criminosa, demonstrando se o mesmo poderá escusar-se de proteger a sociedade para adentrar em um personagem membro de uma organização criminosa, entretanto, este estará de posse de uma autorização judicial que o imporá limitações para sua atuação na organização, a fim de reconhecer seus membros e a forma como trabalham. Mas será que o agente infiltrado poderá cometer crimes em prol da organização criminosa? Ou caso ocorra o agente será punido? Este estudo pretende responder as indagações acima a respeito da responsabilidade penal do agente infiltrado no exercício dos trabalhos da investigação, seus limites e excessos que por ventura possa ocorrer. Utilizamos, neste trabalho, o tipo de pesquisa exploratória, bibliográfico dedutivo, na qual será abordado o tema de forma a esclarecer dúvidas acerca do meio probatório obtido para desmantelar uma organização criminosa. O método de abordagem será o hipotético- dedutivo e também terá como embasamento uma entrevista anônima na qual iremos contribuir para o esclarecimento de possíveis lacunas na legislação pátria. Importa salientar, que o presente trabalho visa fazer uma análise de um dos métodos de obtenção de provas a fim de desmantelar a organização criminosa que é a infiltração de agentes, abordando, inclusive, sua responsabilização penal pelos excessos cometidos, os direitos salvaguardados na atual legislação, lei 12.850/2013. Destarte, iremos abordar sobre a organização criminosa em si, sua conceituação e características, legislação pertinente, assim como a figura do agente infiltrado, tais como sua conceituação, natureza jurídica, características, forma de atuação, limitação do agente e a sua responsabilização penal quando extrapolar os limites estipulados pela autorização judicial. 2. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS Para entendermos sobre a figura dos agentes infiltrados façamos, primeiramente, uma abordagem jurídica sobre a forma e o combate às organizações criminosas que são entendidas 5 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito como grupos estruturalmente organizados que trazem diversos malefícios tanto para o Estado como para a própria sociedade. 2.1 CONCEITO: A Organização criminosa é a associação de, no mínimo 04 (quatro) pessoas, de maneira organizada, com atribuição particular, que tem por objetivo a prática de atividades ilícitas específicas com o intuito de obter quaisquer vantagens ou, até mesmo, troca de favores. Segundo a lei 12.850/2013 em seu artigo 1º §1º in verbis: ART. 1º [...] §1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. [...] A lei 12.850/2013 revogou expressamente a lei 9.034/1995 que dispunha sobre utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, no entanto essa lei revogada, não fazia qualquer conceituação à organização criminosa. A conceituação veio surgir em no ordenamento jurídico brasileiro com a ratificação da Convenção de Palermo, através do decreto 5.015/2004 e posteriormente, pela lei 12.694/12 em seu art. 2º, conforme abaixo: Artigo 2º do Decreto nº 5.015/04: a) “grupo criminoso” – grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuado concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves, (...) com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um beneficio, econômico ou outro beneficio material; c) “grupo estruturado” – grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada. Na Lei 12.694/2012, o legislador considerou o seguinte: Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 6 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. Percebe-se que a Lei 12.850/2013 veio modificar o conceito de organização criminosa anteriormente existente, conforme quadro comparativo elucidativo por Cunha e Pinto (2016, p.13, 14): CONVENÇÃO DE PALERMO LEI 12.694/2012 LEI 12.850/2013 grupo estruturado de três ou mais pessoas associação, de 3 (três) ou mais pessoas associação, de 4 (quatro) ou mais pessoas existente há algum tempo e atuando concertadamente estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza com o propósito de cometer um ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção mediante a prática de crimes cujas pena máximas seja igual superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional mediante a prática de crimes cujas pena máximas seja superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional Corroborando, Soraya Moradillo Pinto, define organização criminosa como: O conjunto de crimes, praticados por um grupo de indivíduos, associados em função de suas vontades livres e conscientes, dirigidos à consecução de metas e de fins comuns, que dependem para o êxito de suas pretensões, da interação com outras organizações sociais, lícitas ou ilícitas, e mantém características próprias de hierarquia e de divisão de funções para a sua subsistência. (2007, p. 23). Para Nucci (2015, p. 12) “Organização criminosa é a associação de agentes, com caráter estável e duradouro, para o fim de praticar infrações penais, devidamente estruturada em organismo preestabelecido, com divisão de tarefas, embora visando ao objetivo comum de alcançar qualquer vantagem ilícita, a ser partilhada entre seus integrantes”. A Lei 12.850/2013 traz um conceito de organização criminosa semelhante ao de Nucci, pois além de trazer o conceito atual, também alterou o conceito de associação criminosa (anteriormente quadrilha ou bando) do art. 288 do Código penal, que é a associação de 3 (três) ou mais pessoas com o fim específico de cometer crimes, essa alteração foi importante, para que não seja confundida com a organização criminosa no que se refere à quantidade de pessoas. A referida lei veio também definir como crime a integração à organização criminosa, que até antes da citada lei, a associação de organização criminosa não 7 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito era considerada como crime, mas sim apenas os atos infracionais praticados por ela. O artigo 2º preceitua: Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. Verifica-se que a lei 12.850/2013 é relevante em nosso ordenamento jurídico no combate ao crime organizado, pois além da conceituação de organização criminosa, também a tipifica como crime e vem detalhar instrumentos especiais de investigação, dentre os quais, a infiltração de agentes, que veremos no decorrer do presente trabalho. 2.2 CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA Para que se concretize a organização criminosa faz-se necessário que haja determinadas características essenciais para seu funcionamento, Messa (2012) aduz que existe a necessidade da complexidade estrutural, divisão orgânica e hierárquica, divisão funcional, divisão territorial, estreitas ligações com o poder estatal, atos de extrema violência, intuito de lucro ilícito ou indevido, detentora de um poder econômico elevado, capacitação funcional, alto poder de intimidação, capacidade de fraudes diversas, clandestinidade, caráter transnacional, modernidade, danosidade social de alto vulto, associação estável e permanente com planejamento e sofisticação de meios e impessoalidade da organização. Segundo a lei 12.850/2013 para que uma organização criminosa seja considerada como tal faz-se necessário que se tenha pelo menos os seguintes requisitos cumulativamente: Associação de 4 (quatro) ou mais pessoas; seja estruturalmente ordenada; tenha divisão de tarefas; obtenção de vantagem de qualquer natureza; prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos; ou cuja práticas das infrações sejam de caráter transnacional. Veremos a seguir alguns desses requisitos da organização criminosa. 2.2.1 QUANTIDADE DE INTEGRANTES E COMPLEXIDADE ESTRUTURAL A finalidade precípua da organização criminosa é justamente a prática de atividades ilícitas com a associação de no mínimo 04 (quatro) pessoas. A lei 12.850/2013 aborda a organização criminosa com a união de, no mínimo, 04 (quatro) pessoas que tenham por objetivo a prática de infrações penais cuja pena máxima seja superior a 4 (quatro) anos, 8 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito devendo ser demonstrada a organização estrutural ordenada bem como a divisão de tarefas, dentre outros requisitos. Como vimos anteriormente, a quantidade de integrantes para que seja configurada organização criminosa foi alterada pela atual lei 12.850/2013 que anteriormente era necessário apenas 3 (três) pessoas associadas, a qual, poderia ser confundida com associação criminosa (antiga quadrilha ou bando) do art. 288 do código penal. Para Nucci (2015), poderiam apenas duas pessoas organizar-se, dividindo tarefas, a fim de buscar um ilícito penal, no entanto, não seria comum, porém não seria impossível. Ressalta ainda, que na lei de drogas 11.343/2006 bastam apenas duas ou mais pessoas para que se cometam o ilícito de tráfico de drogas do art. 33 e 34 da referida lei, o que acaba não uniformizando a associação criminosa. Levorin (2012) afirma que há necessidade de que o fim a que se destina a organização criminosa seja justamente a prática de atividades ilícitas. Assim sendo, depreende-se que além da associação de 04 (quatro) pessoas ou mais para praticar atividades ilícitas ou morais, faz-se necessário que a associação criminosa para que seja configurada tenham por escopo a prática de atividades consideradas ilegais e que a pena máxima prevista em lei dos crimes praticados sejam superiores à 04 (quatro) anos ou que tenham um caráter transnacional, ou seja, transposição de barreiras, sejam elas regionais, nacionais ou internacionais. Outro requisito é a complexidade estrutural, que ocorre quando, composta a organização, faz-se necessária a produção de regras, sua utilização, metas e objetivos a serem cumpridas e seguidas pelos membros da organização criminosa. Segundo Messa (2010, p.99) “a organização criminosa tem regras próprias de estruturação, um propósito previamente definido e umcaráter alterável no tempo e espaço e um esquema criminoso articulado, dotado de profissionalização e estrutura aparelhada”. 2.2.2 DIVISÃO ORGÂNICA E HIERÁRQUICA (DIVISÃO DE TAREFAS) Para Medroni (2007) a divisão hierárquica ocorre de maneira subdividida em 03 (três) níveis, os chefes, os gerentes e os aviões. Os chefes são aqueles que possuem status social elevado, privilegiado, são responsáveis pelo desenvolvimento e estruturação da organização 9 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito criminosa. Normalmente comandam através dos gerentes, os quais, muitas vezes são utilizados como “laranjas” ou “testa de ferro” estes normalmente são alcançados em investigações criminosas, entretanto, dificultam quanto ao alcance dos verdadeiros mandantes do crime. Os gerentes são aqueles que repassam as informações advindas por seu chefe ou subchefe para o sucesso do ilícito penal, são pessoas de confiança além de terem seus nomes envolvidos em imóveis, carros dentre outros negócios que aparentemente são dos gerentes, mas que por trás das falsas aparências, o domínio continua com o chefe da organização criminosa. Os aviões são responsáveis pela execução das ordens emanadas de seus superiores, dependendo do ramo da organização criminosa, existe um tipo de avião diferente, pois são especializados em determinados assuntos como, por exemplo, o reconhecimento de pedras preciosas. Deste modo, entende-se que a organização criminosa, estruturalmente, funciona como se fosse uma pirâmide em que no topo ficam os chefes daquela organização e a base seriam os próprios aviões que estão direta ou indiretamente ligados as atividades ilícitas da organização, bem como os supostos gerentes que muitas vezes são utilizados na própria atividade a ser desenvolvida pelos aviões, mas em decorrência de tarefas ditas como verdadeiramente especiais, podem ser colocados como próprios executores dos ilícitos penais. Ainda sobre a divisão de tarefas, Nucci (2015, p. 13) aduz que “a decorrência natural de uma organização é a partição de trabalho, de modo que cada um possua uma atribuição particular, respondendo pelo seu posto”. 2.2.3 ESTREITAS LIGAÇÕES COM O PODER ESTATAL E OBTENÇÃO DE VANTAGENS Estas ligações estão diretamente relacionadas com agentes públicos estatais que estão direta ou indiretamente ligados às organizações criminosas. Estes são típicos mantenedores para o desenvolvimento da organização, haja vista que muitas vezes são corrompidos para que os membros da organização possam desenvolver suas atividades ilícitas sem se preocupar com as ações estatais. Medroni (2007, p. 16) aduz: Quando os agentes públicos não participam efetivamente do grupo são corrompidos para viabilizar a execução das ações criminosas. Geralmente estão colocados em postos e locais estratégicos para poderem auxiliar, de qualquer forma, na execução 10 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito das ações. As organizações criminosas que atingem um certo grau de desenvolvimento já não conseguem sobreviver sem o auxílio de agentes públicos. Dessa forma, percebe-se que toda e qualquer organização criminosa que queira se desenvolver, apresenta dentre seus membros e até mesmo colaboradores, os agentes estatais, aqueles responsáveis pela fiscalização de produtos, por exemplo, bem como qualquer atividade que cause prejuízo ao Estado, caso seja negligenciado. A Lei 12.850/2013 traz em seu art. 2º, §5º aumento de pena de 1/6 a 2/3 para funcionário público que integre organização criminosa, que como já visto anteriormente, constitui crime a sua associação, podendo inclusive ser afastado de emprego, cargo ou função pública. A lei 12.850/2013 nos diz que a organização criminosa tem o objetivo de obter direta ou indiretamente vantagem de qualquer natureza. A lei não especifica quais as vantagens, ao contrário deixa o contexto bem abrangente. Corroborando Bitencourt e Busato (2014, p. 34) “sustentamos que vantagem de qualquer natureza – elementar do crime de participação em organização criminosa -, pelas mesmas razões, não precisa ser necessariamente de natureza econômica. Na verdade, o legislador preferiu adotar a locução vantagem de qualquer natureza, sem adjetivá-la, provavelmente, para não restringir seu alcance”. A organização criminosa almeja alguma vantagem, que pode ser ganho, lucro ou proveito, por exemplo. Para Nucci, o ganho pode ser obtido de maneira direta, como ocorre com o sequestro de uma pessoa, a família da vítima ao pagar o resgaste exigido pelos sequestradores o fazem de forma direta, o ganho é direto. O Lucro pode vir de maneira indireta, como ocorre quando alguém sonega um imposto, declarando informações ao fisco menores, o que não condiz com a realidade. Sendo certo que a organização criminosa para se conseguir qualquer proveito ou vantagem, o faz pela prática de uma infração penal. 2.3 MEIOS DE REPRESSÃO NA LEGISLAÇÃO INTERNA E INTERNACIONAL E O CARÁTER TRANSNACIONAL O combate ao crime organizado deve ser iniciado desde o momento da investigação criminal daquele grupo, desvendar as atividades ilícitas praticadas, quantidades de pessoas envolvidas, bem como sua estrutura organizacional. Medroni (2007) afirma que a estratégia a ser utilizada pelos membros do parquet deve ser subdividida em investigações de campo e obtenção de informações/documentação, o primeiro está relacionado com a identificação dos possíveis membros, enquanto que o 11 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito segundo seria a utilização de dados pessoais destes membros e aquisição de bens ou produtos além de negócios realizados. Os meios de combate ao crime organizado previsto na lei 12.850/2013 em seu art. 3º são a colaboração premiada a qual o magistrado poderá reduzir a pena privativa de liberdade ou até mesmo substituí-la por restritiva de direitos daquele integrante da organização criminosa que, de modo voluntário, colabore com as investigações e o processo criminal, a captação de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, a ação controlada, na qual ocorre o retardamento da investida policial para que arrecade mais provas e informações acerca da organização criminosa, acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais, interceptação de comunicações telefônicas, quebra de sigilo financeiro, fiscal e bancário, a infiltração de agentes e a cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais. O enfoque deste trabalho está na infiltração de agentes apontado no inciso VII do artigo 3º da Lei 12.850/2013, a qual, a utilização dos mesmos será necessária quando não houver outro meio de prova que possa combater a organização criminosa. Além disso, este meio de prova serve tanto para aquisição de provas como para o próprio combate à organização. A norma regulamentadora para o combate ao crime organizado em nossa legislação interna está prevista na Lei 12.850/2013, que dispõe sobre a investigação criminal e seus meios de combate. Esta lei recepcionada pelo ordenamento jurídico acrescentou a conceituação da organização criminosa, sua estruturação, quantidade mínima de membros, finalidade a que se destina a organizaçãocriminosa, bem como a utilização de infiltração de agentes quando não houver outro meio de prova cabível. No âmbito internacional, podemos citar a Convenção de Mérida, ratificada pelo Brasil através do Decreto 5.687/2006, a qual visa combater e prevenir a corrupção no âmbito nacional e cooperação com os demais países que assinaram e ratificaram a convenção. A convenção de Viena trata sobre o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas que causam diversos malefícios tanto à saúde e bem estar da sociedade como prejuízos para a economia do país, esta, devidamente ratificada pelo Brasil através do Decreto 154/1991. Ainda, no âmbito da legislação internacional, o Brasil ratificou a Convenção de Palermo através do Decreto 5.015/2004, cujo objetivo da referida convenção é combater e 12 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito prevenir o crime organizado de caráter transnacional, ou seja, a transposição de barreiras sejam elas regionais, nacionais ou internacionais para que haja o desenvolvimento da organização criminosa em qualquer parte do mundo sem se preocupar com possíveis ameaças investigativas, causando prejuízos para a segurança social de um país, haja vista que centralizam sua captação de dinheiro em determinado local. Corroborando Messa (2010, p. 100) aduz que existe “forte conexão local, regional, nacional e internacional, representando uma ameaça à paz e a à estabilidade social”. Como exemplo de organizações criminosas que transpuseram barreiras no âmbito internacional estão as tríades chinesas. Dentre as ações das tríades chinesas, Tolentino Neto (2012, p.53) aduz que as principais atividades desta organização criminosa era o “tráfico de drogas, prostituição e extorsão”. 3. A INFILTRAÇÃO POLICIAL NAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 3.1 CONCEITO A infiltração policial é um meio invasivo para conseguir provas acerca de uma organização criminosa da qual não se tem informações precisas. Nas palavras de Nucci (2015, p.83) “ a infiltração representa uma penetração, em algum lugar ou coisa, de maneira lenta, pouco a pouco, correndo pelos seus meandros”. Spiegelberg apud Damásio de Jesus (2002) apud CAPEZ (2014, p. 281) “agente infiltrado é a pessoa que, integrada na estrutura orgânica dos serviços policiais, é introduzida, ocultando-se sua verdadeira identidade, dentro de uma organização criminosa, com a finalidade de obter informações sobre ela e, assim, proceder, em consequência, a sua desarticulação". Bento (2009, p. 344) conceitua o agente infiltrado como “sujeito pertencente ao quadro das forças policiais do Estado que, mediante autorização judicial, atua dentro dos limites da organização criminosa a fim de obter informações, elementos e provas que conduzam a instrumentalização dos órgãos de acusação”. 3.2 BREVE HISTÓRICO A utilização do policial infiltrado em uma organização criminosa como meio de prova no Brasil, foi instituído pela primeira vez através de promulgação da Lei 9.034/1995, já 13 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito revogada. Entretanto, houve o veto presidencial com relação ao instituto da infiltração policial, e apenas com Lei 10.217/2001, previu, de fato, a infiltração policial. De acordo com Pereira (2009, p. 113) a origem do policial infiltrado no Brasil surgiu com a Lei 10.217/2001 que alterou algumas disposições da Lei 9.034/1995 (Lei de combate ao crime organizado) podendo a infiltração ocorrer por agentes de polícia ou por agentes de inteligência não sendo permitido, nesta última situação, conforme exposto por Cury (2012, p. 284), integrante do órgão do Estado como a Agencia Brasileira de Inteligência – ABIN, pois a função deve ser “exercida exclusivamente por policiais ou agentes ligados à segurança do Estado”, ou seja, agentes que tem por finalidade proteger a sociedade. Conforme o autor supracitado o instituto da infiltração no mundo ocorreu no final do século XVIII, mais precisamente em Paris, quando os agentes infiltrados eram as próprias pessoas do povo contratadas pela polícia parisiense que não faziam parte dela anteriormente à contratação, estes tinham por objetivo combater a criminalidade mantendo o Estado informado sobre grupos criminosos na época. 3.3 NATUREZA JURÍDICA E OBJETIVO DA INFILTRAÇÃO Campos (2013) nos mostra que a natureza jurídica da infiltração de agentes é de meio probatório conforme previa em seu art. 2º, caput, da revogada Lei 9.034/1995 (lei das organizações criminosas) e art. 53, caput e inciso I, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) é através desta infiltração que o agente consegue adquirir provas das atividades ilícitas praticadas dentro de uma organização criminosa, bem como identificar os sujeitos que estão praticando o delito. Já a lei 12.850/2013 em seu art. 3º, inciso VII, traz como um dos meios da investigação e de obtenção de prova, a infiltração dos agentes policiais, quando requerido pelo Ministério Público ou representado pelo Delegado de Polícia, como uma medida necessária. Para Nucci (2015, p. 83) “ a natureza jurídica de agentes é um meio de prova misto, envolvendo a busca e a testemunha, visto que o agente infiltrado busca provas enquanto conhece a estrutura e as atividades da organização e será ouvido, futuramente, como testemunha”. Deste modo, o objetivo precípuo da infiltração de agentes em organizações criminosas é a aquisição de provas destinadas a desmantelar aquela organização, bem como, punir seus integrantes. 14 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito Mariath (2009) afirma que o objetivo da infiltração de um agente na organização criminosa é de conseguir maior número de provas de modo sigiloso que garantam sucesso à ação policial. Assim, o agente infiltrado deverá adentrar na organização criminosa já com o intuito de garantir a aquisição de provas que possam combater a organização criminosa, bem como a danosidade das atividades ilícitas praticadas prevenindo, posteriormente, que não haja nova constituição de outra organização criminosa. A Lei 12.850/2013 em seu artigo 3º, inciso VII, traz como umas das opções de meios de provas a infiltração dos agentes policiais em atividade de investigação quando a prova não puder ser obtida através de outros meios disponíveis. 3.4 DA INFILTRAÇÃO Conforme Pereira (2009, p. 115) a atividade de infiltração deverá ter a livre manifestação de aceitação da tarefa a ser cumprida, haja vista que o agente irá receber identidade falsa para conseguir adentrar na organização criminosa, tendo por objetivo conseguir “provas de práticas de crimes”, uma vez estas não podem ser obtidas por outros meios, além disso, identificar os autores dos crimes que estão sendo cometidos. Com o advento na Lei 12.850/2013 (lei de organização Criminosa), o Ministério Público poderá requerer, bem como o delegado de polícia poderá representar para que haja a infiltração de agentes em organizações criminosas, devendo demonstrar a necessidade de tal medida além de indicar possíveis nomes das pessoas a serem investigadas, o local que ocorrerá a infiltração e o tipo de tarefa a ser realizada pelo agente estatal. A infiltração policial consiste, conforme dito anteriormente, em utilizar o agente estatal nos casos em que não haja a possibilidade de produção de outro meio de prova,podendo o infiltrado permanecer em atividade por até 06 (seis) meses com possibilidade de renovação desde que haja necessidade, conforme art. 10, §3º da lei 12.850/2013. 3.5 O AGENTE COMO MEIO DE PROVA Moraes (2013) afirma que apesar da lei não prever a possibilidade do agente infiltrado ser utilizado como testemunha no processo penal, é possível a sua utilização, devendo o magistrado valorar este meio probatório levando em consideração outras provas obtidas pelo 15 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito agente que possam comprovar o seu testemunho além do comportamento do agente durante as investigações, se foi diligencioso em adquirir provas que incriminassem os membros da organização criminosa devendo ser utilizado, de forma subsidiária, a lei 9.807/99 (Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas) para a proteção do agente infiltrado que testemunha as práticas criminosas realizadas pela organização, devendo sua identidade bem como dados pessoais e imagens serem protegidas e mantidas em sigilo, conforme o art. 7º da referida lei podendo ser estendida, inclusive ao seu grupo familiar. A jurisprudência têm aceito o agente infiltrado como testemunha, conforme abaixo: DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos. EMENTA: APELAÇÃO CRIME - TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO - NEGATIVA DE AUTORIA - PROVA, CONTUDO, QUE AUTORIZA O VEREDICTO CONDENATÓRIO - DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA DISPARO DE ARMA DE FOGO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSOS DESPROVIDOS. 1. A autoria do fato descrito na denúncia restou devidamente comprovada através da prova testemunhal, especialmente do depoimento do agente infiltrado. 2. Havendo provas de que os acusados assumiram o risco de produzir o resultado morte, não há o que se falar em desclassificação para o delito de disparo de arma de fogo. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1330079-1 - Curitiba - Rel.: Campos Marques - Unânime - - J. 18.06.2015) (TJ-PR - APL: 13300791 PR 1330079-1 (Acórdão), Relator: Campos Marques, Data de Julgamento: 18/06/2015, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1594 29/06/2015) Quanto ao direito do acusado ao contraditório e a ampla defesa, entende-se que haverá um contraditório diferido no tempo, ou seja, em momento posterior à produção de provas, pois conforme explana Maria José (2010), em sua tese de mestrado, para que o contraditório fosse realizado de maneira imediata, acarretaria em prejuízos para as investigações, haja vista que para conseguir a prova, faz-se necessário o que o agente infiltrado adquira a confiança dos membros da organização para que consiga investigar de maneira eficaz. Em relação aos direitos fundamentais do acusado, Moraes (2013) aduz que o “bem estar da comunidade e a prevenção e repressão criminal também possuem proteção criminal, não podendo ser sacrificados por uma concepção puramente individualista em prol de direitos fundamentais dos acusados ou investigados”, ou seja, em decorrência da prática de ilícitos penais que atinjam uma coletividade, as provas obtidas através da infiltração de agentes nessas organizações criminosas são necessárias, haja vista que a própria organização fere o direito constitucional coletivo em detrimento do direito individual. Ressalta-se que o defensor do acusado deve ter acesso aos elementos probatórios para garantir a defesa a ser prestada, conforme a súmula vinculante nº14, sendo exceção, a nosso 16 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito entendimento, a verdadeira identidade do agente, conforme disposto no art. 12,§2º da Lei 12.850/2013. 3.6 REQUISITOS PARA A INFILTRAÇÃO DE AGENTES Segundo a lei 12.850/2013 em seu art. 10 in verbis: Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites. § 1o Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. § 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis. § 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade. § 4o Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. § 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. 3.6.1 LEGITIMADOS Os legitimados, agentes infiltrados, seriam servidores públicos que atuam nas forças policiais que visam proteger a sociedade utilizando uma identidade diferente à sua para adentrar em grupos criminosos para coletar provas que possam desmantelar a organização e punir seus membros. A infiltração por agentes de inteligência não é mais possível, pois a lei 9.034/95 que trazia essa hipótese foi revogada pela atual lei 12.850/2013, trazendo, agora, a possibilidade somente por policiais civis e federais que possuem tarefas investigativas. Segundo CUNHA e PINTO (2016, p. 103) “como agentes de polícia devem ser entendidos os membros das corporações elencadas no art. 144 da constituição federal, mas nem todos os órgãos possuem atribuições investigativas... portanto, os policiais federais e civis aqueles habilitados a servirem como agentes infiltrados”. 3.6.2 ESTAR EM TAREFA DE INVESTIGAÇÃO 17 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito Este requisito demonstra a necessidade de se investigar através da infiltração. Para Nucci (2015, p. 84) “é fundamental a instauração de inquérito, em caráter sigiloso, para que se faça a infiltração”. Conforme a lei 12.850/2013, se a representação se der através do delegado de polícia, o juiz antes de decidir, ouvirá o Ministério Público, assim como, se o requerimento for através do Ministério Público, haverá manifestação técnica do delegado de polícia. Logo, percebe-se que o juiz, antes de autorizar a infiltração de agentes, ouvirá o delegado de polícia e o Ministério Público, antes de decidir, mostrando que ele não participa das atividades de infiltração. 3.6.3 AUTORIZAÇÃO JUDICIAL MOTIVADA A infiltração de agentes em organizações criminosas deverá ser autorizada pelo juiz de forma fundamentada, circunstanciada e sigilosa. De acordo com Misaka (2009) o juiz deverá elaborar diversos requisitos a serem seguidos antes que o mesmo autorize a infiltração policial como meio de prova. [...] a) fundamentação racional da decisão judicial que a concede; b) existência de procedimento formal de apuração do fato criminoso; c) natureza cautelar da medida, com os pressupostos da fumaça do bom direito (a prova determinada deve ser relevante e já contar com indícios suficientes de autoria ou de provada materialidade do crime) e da urgência (se a prova não for produzida naquele momento, irá perecer ou ser ineficaz futuramente); d) necessidade da prova (inexistir outros meios menos gravosos ao sistema acusatório para se apurar o fato); f) proporcionalidade da medida (à sociedade deve interessar mais a apuração da verdade do que a manutenção da separação de funções dos sujeitos processuais, como ocorre na apuração de delitos de gravidade peculiar); g) garantia do contraditório e ampla defesa, mesmo que diferidos no caso de risco de ineficácia da medida. Como o juiz participa dessa fase inicial do inquérito com a autorização, poderiam haver questionamentos sobre a sua parcialidade. Neste sentido, corroboramos com o entendimento de Nucci (2015, p. 85) pois: a) o juiz que acompanha qualquer inquérito no Brasil, como regra, não é o mesmo a julgar o feito; b) nas Comarcas menores, onde o juiz exerce todas as funções, deve atuar com a mesma imparcialidade que lhe é exigida quando decreta uma quebra de sigilo, uma intercepção telefônica ou uma prisão temporária, durante o inquérito, para depois, receber eventual denuncia e julgar o caso; c) a infiltração de agentes é atividade invasiva da intimidade alheia, pois servidores públicos, passando-se por outras pessoas, entram na vida particular de muitos indivíduos, razão pela qual o 18 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito magistrado precisa vislumbrar razões mínimas para tanto; d) a atividade do agente infiltrado, funciona como meio de prova, congregando a busca, que depende de mandado judicial, como testemunho. Corroborando Cunha (2016) afirma que na própria lei 12.850/2013 deixa claro que o juiz não pode decretar a infiltração policial de ofício, deve ser provocado, tanto que o juiz, antes de decidir (a autorização) deverá ouvir o Ministério Público e/ou o Delegado de Polícia. 3.6.4 INDICIOS DE MATERIALIDADE A infiltração só deverá acontecer se houver indícios da infração penal, tanto que para que o juiz autorize a infiltração esse requisito faz-se necessário. Não necessitando que se saiba da autoria, como bem ensina Cunha (2016). Medroni (2014, p. 54) traz o seguinte ensinamento: As vantagens que podem advir desse mecanismo processual são evidentes: fatos criminosos não esclarecidos podem ser desvelados, modus operandi, nomes – principalmente dos “cabeças” da organização, nomes do “testa-de-ferro”, bens, planos de execução de crimes, agentes públicos envolvidos, nomes de empresas e outros mecanismos utilizados para lavagem de dinheiro, etc. Neste sentido Nucci (2015, p. 85) “... os índicos da infração penal, referidos pelo art. 10 §2º, da Lei 12.850/2013, representam igualmente a fundada suspeita em relação à autoria, pois seria ilógico supor prova de existência da organização sem o conhecimento de qualquer de seus integrantes”. 3.6.5 DO PRAZO Segundo art. 10 §3º da Lei 12.850/2013, o prazo inicial é de seis meses, podendo ser renovado pelo juiz, desde que comprovada a necessidade. Na lição de Cunha (2016, p. 109) “ o andamento das diligências, ainda não finalizadas, a necessidade de se descobrirem outras pessoas envolvidas na organização criminosa, suas eventuais ramificações com nações estrangeiras, enfim, a dificuldade que é inerente a esse tipo de investigação, justifica que o prazo mais estendido seja concedido para o término da diligência”. Corroborando Nucci (2015) o prazo de seis meses é o prazo inicial máximo, isto significa que o prazo pode ser menor que seis meses, caso esse prazo menor seja suficiente para obtenção da prova e desmantelar a organização criminosa. 19 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito 3.6.6 RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO Quando da infiltração de agentes há a necessidade que esse agente infiltrado faça relatórios periódicos, contendo os detalhes da investigação. Para cunha (2016, p. 110) “por maior sigilo que deva guardar essa espécie de diligencia, em razão dos perigos que a cercam, é preciso que um mínimo controle se realize quanto à atividade do agente infiltrado. Esse controle se dará através de relatório circunstanciado”. O relatório deverá ser apresentado no prazo da infiltração ou antes, caso seja requisitado pelo Ministério Público ou determinado pelo delegado de polícia, conforme prevê o art. 10 §5º da lei 12.850/2013. 3.7 PROCEDIMENTO DA INFILTRAÇÃO Conforme os artigos 11 e 12 da lei 12.850/2013, in verbis: Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração. Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado. § 1o As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após manifestação do Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado. § 2o Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da identidade do agente. § 3o Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial. Analisando os artigos para que haja a infiltração de agentes faz-se necessários que o delegado de polícia a represente ou o Ministério Público a requeira, tendo pelo menos quatro elementos: A demonstração dos indícios de materialidade, já demonstrado no item 3.6.4; a necessidade da medida, pois a infiltração deve ser a última medida a ser adotada ou no entendimento de Cunha (2016) a mais eficaz, quando não houver outro modo; o alcance das tarefas, pois conforme entendimento de Nucci (2015, p. 89) “é o ponto indicativo ao juiz quanto ao grau de intromissão na intimidade alheia, quando se investiga infiltrado... o magistrado poderá ou não estabelecer limites da diligencia”; nomes ou apelidos dos 20 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito investigados, quando possível, geralmente no processo investigatório ao menos se sabe o apelido ou vulgo de pelo menos algum membro; local da infiltração, quando possível, nas palavras de Nucci (2015, p. 90) “ dificilmente se poderá indicar ao juiz indícios de existência do delito se não for capaz nem mesmo de apontar a localidade”. Nucci (2015, p. 90) traz o seguinte apontamento “como regra, o inquérito está instaurado e o pleito de infiltração deve realizar-se em apenso próprio, com sigilo imposto por lei... a distribuição deve ser feito de modo a ocultar o seu conteúdo das vistas de servidores não qualificados a tanto”. 3.8 CARACTERÍSTICAS DOS AGENTES Para que haja a infiltraçãode agentes em uma organização criminosa faz-se necessário o treinamento desses agentes passando por diversas etapas desde captação até a reinserção do agente do âmbito familiar, posteriormente ao desempenho de suas atividades como infiltrado. Pereira (2009) divide o processo de seleção para agentes infiltrados em várias etapas como captação, seleção, formação, imersão/especialização, infiltração propriamente dita, seguimento, pós infiltração e reinserção. Vejamos cada uma delas a seguir. 3.8.1 DA CAPTAÇÃO Primeiramente, para a fase de captação, faz-se necessária a pesquisa sobre do perfil funcional do agente que poderá ser selecionado para a infiltração policial, quais os benefícios que aquele perfil poderia fazer para as forças policiais estatais e para a produção de provas em um possível procedimento investigatório. 3.8.2 DA SELEÇÃO Nesta etapa ocorre a avaliação do policial que poderá entrar na organização criminosa como infiltrado, devendo ser analisado inclusive o quadro emocional do mesmo. Algumas características devem ser levadas em consideração pela comissão de agentes. Pereira (2009, p. 117) faz algumas considerações, conforme abaixo: [...] perfil físico compatível com as dificuldades da operação, inteligência aguçada, aptidão específica para determinadas missões, equilíbrio emocional vez que poderá 21 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito ficar distante do âmbito familiar por tempo indeterminado, sintonia cultural e étnica compatível com a organização a ser infiltrada etc. Percebe-se que esta etapa não é tão simples, haja vista que diversos quesitos devem ser analisados antes da infiltração do agente, pois qualquer atitude que ele tome durante a infiltração poderá ocasionar prejuízos irreparáveis para ele, bem como para o próprio Estado. 3.8.3 DA FORMAÇÃO Segundo Pereira (2009, p. 117) nesta fase haverá Um programa de capacitação básica ao infiltrado, dotando-lhe de recursos arraigados na questão do estudo da inteligência operativa. Estaria assim dirigida a desenvolver, por um lado, as qualidades consideradas como diferenciais a um agente infiltrado e que correspondem ao perfil traçado no próprio modelo de agente ser formado para infiltração. De outro lado, essa capacitação visa dotar o agente de uma série de habilidades que irão contribuir para incrementar o repertório de recursos a serem acionados nas diversas situações em que poderá se ver envolvido o infiltrado. Portanto, nessa etapa o candidato pré-selecionado para a infiltração deverá participar de cursos que o qualifiquem para a atividade a ser desenvolvida fazendo com que o mesmo amplie seus conhecimentos e habilidades, bem como treinamento para o tipo de atividade criminosa que deverá ser investigada para, posteriormente, adentrar na organização criminosa. 3.8.4 DA IMERSÃO/ESPECIALIZAÇÃO Durante esta fase, é concedido ao policial infiltrado, a utilização de documentos de identificação falsos, visando proteger a verdadeira identidade do agente, bem como garantir ao mesmo que este consiga assumir sua nova identidade. Vejamos o disposto por Pereira (2009, p. 117) acerca desta etapa: [...] serve para estabelecer, configurar e implantar uma identidade psicológica falsa em um infiltrado já previamente designado, já com uma missão de infiltração concreta, com reais objetivos a serem alcançados. [...] Esse processo de imersão se buscará garantir que o agente assuma uma identidade psicológica falsa com a certeza de que irá representa-la com o grau máximo de eficácia, protegendo e imunizando os elementos constituintes de sua identidade real. Verifica-se que nesta etapa a aceitação do agente a ser infiltrado de sua nova identidade é muito importante para a concretização do meio de combate à organização criminosa, haja vista que a sua não aceitação ocasionará a impossibilidade de continuidade da investigação criminal. 22 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito 3.8.5 DA INFILTRAÇÃO PROPRIAMENTE DITA Nesta etapa, a infiltração policial começa a ser implementada com a colocação do agente no ambiente em que a organização criminosa pratica suas atividades ilícitas. O agente infiltrado deverá tentar manter seus primeiros contatos com alguns membros da organização criminosa que estejam no desempenho de suas atividades, independentemente de serem aviões ou gerentes, faz-se necessário apenas o ingresso do agente em alguma das atividades ilícitas desempenhadas. 3.8.6 DO SEGUIMENTO É a etapa na qual ocorre o fortalecimento das atividades desenvolvidas e a busca contínua de produção de provas que possam desmantelar a organização criminosa, bem como punir seus membros. Segundo Pereira (2009, p. 117): [...] o seguimentos é o fortalecimento das operações assegurando ao infiltrado uma cobertura técnica com fincas à preservação de sua integridade física e psicológica dentro do ambiente delituoso, fortalecendo junto ao infiltrado metas da operação via do reforço da recordação dos procedimentos e condutas a serem perseguidas, e, por fim, resguardando a manutenção da clandestinidade do infiltrado. 3.8.7 DA PÓS INFILTRAÇÃO Nesta etapa, ocorre a retirada do policial infiltrado no âmbito criminoso, fazendo com que o mesmo possa sair da organização sem que sua integridade física seja comprometida em decorrência disto. Pereira (2009, p. 118) aduz que: A etapa pós infiltração consiste no procedimento tático em que se buscam as melhores alternativas para a saída do infiltrado do ambiente criminoso. Nessa fase, que pode estar ligada a um eficaz programa de proteção a testemunha, tentar-se-á mais uma vez proteger o agente, propiciando uma retirada deste da operação, de modo a não colocar em risco sua integridade física. Dessa feita, a retirada do agente infiltrado depende de estratégias realizadas entre os agentes responsáveis pela infiltração para que findo o meio de combate à organização, o agente infiltrado possa se retirar sem ter prejuízo para sua identificação. 3.8.8 DA REINSERÇÃO 23 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito A reinserção ocorre quando há o término da investigação da organização criminosa, pelo agente infiltrado e este deve retornar as suas atividades anteriores à infiltração, bem como auxiliá-lo para a retomada de sua identificação real e avaliações psicológicas acerca das condições emocionais e físicas do agente. 3.9 DOS DIREITOS DO AGENTE INFILTRADO Segundo a lei 12.850/2013. In verbis: Art. 14. São direitos do agente: I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada; II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas; III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário; IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito. Por este artigo verifica-se que é de suma importância para a proteção do agente que será infiltrado, pois a infiltração é um trabalhode alto risco e dependendo da organização criminosa pode até acarretar risco de vida para o agente infiltrado. Nas palavras de Nucci (2015, p. 93) “Não aceitar a atividade de agente infiltrado é natural, pois o trabalho precisa ser feito por quem realmente está apto e deseja enfrentar o risco”. O sigilo de sua descrição e identidade é o que dá ao agente infiltrado maior segurança na atividade. 4 OS LIMITES DE ATUAÇÃO DO POLICIAL INFILTRADO NAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS E A RESPONSABILIDADE PENAL DO AGENTE QUANDO EXTRAPOLAR OS LIMITES DETERMINADOS JUDICIALMENTE Primeiramente devemos relembrar que o policial infiltrado é o agente estatal investido de uma autorização judicial para integrar, em uma organização criminosa para adquirir provas contra os membros de tal organização. A organização criminosa, conforme art. 1º, §1º da Lei 12.850/2013 é a associação de, no mínimo, 04 (quatro) pessoas que tenham funções específicas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas com o intuito de obter vantagens e que pratiquem infrações penais que tenham a pena máxima, superior a 4 (quatro) anos. 24 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito Como dito anteriormente, para que haja a infiltração de agentes faz-se necessária uma autorização judicial motivada. Conforme Souza (2012), o juiz que autorizou a infiltração policial como meio de investigação deverá controlá-la exigindo do policial infiltrado relatórios periódicos e detalhados, ou seja, de caráter contínuo enquanto perdurar a medida e, caso haja violação aos direitos fundamentais dos acusados, o juiz deverá verificar se a continuidade da medida será essencial para a dissolução da organização criminosa, por exemplo, podendo suspender a mesma caso entenda necessário. A autorização judicial irá delimitar a atuação do agente na atividade infiltrada. No entanto, a lei 12.850/2013 não aduz especificamente quais são os limites deste agente. Neste sentido, percebe-se que estamos diante de dois princípios constitucionais: o da legalidade e da proporcionalidade. O princípio da legalidade está relacionado ao fato de que para que esse agente possa atuar na atividade infiltrada, deverá estar legalmente autorizado, inclusive recebendo ordens de seu superior hierárquico que o conduzirá e o orientará em toda a operação policial. Já o princípio da proporcionalidade descrito no art. 13 da lei 12.850/2013, nos remete ao fato de que o agente deverá agir dentro dos limites da autorização judicial. 4.1 DOS LIMITES DO AGENTE NA ATIVIDADE INFILTRADA O policial infiltrado, depois de passar por diversos treinamentos e adentrar numa organização criminosa, deverá atender o que exprime na autorização judicial, haja vista que é ela que irá coordenar os passos do agente infiltrado. É claro que o magistrado sabe que a infiltração do agente em uma organização criminosa irá cometer crimes, afinal, se ele não estiver vinculado a atividade já em andamento da organização, poderá comprometer a própria investigação, falando assim em inexigibilidade de conduta diversa do agente devendo guardar proporcionalidade nos atos praticados. Verifica-se que o agente infiltrado deve atuar com destreza e sem perder o foco do objetivo da infiltração policial, pois caso isto ocorra, será responsabilizado pelos atos praticados em excessos. Segundo art. 13 da lei 12.850/2013, o agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados. 25 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito A lei diz que o agente deve guardar a devida proporcionalidade, mas essa proporcionalidade deve ter uma análise minuciosa do magistrado. Acompanhamos o entendimento de Cunha (2016) onde diz que o agente infiltrado quando não possuir outra alternativa, age de forma a obter sucesso em sua empreitada, ou seja, deve agir para não ter sua identidade revelada e comprometer toda a investigação. Porém, se esse agente age de forma que não guarde nexo de causalidade com a infiltração, deve responder pelos excessos, sendo assim considerado que ao extrapolar os limites da autorização da infiltração, esse agente será responsabilizado. Para entender a proporcionalidade corroboramos com o pensamento de Nucci (2015, p.92) “Ilustrando, o agente se infiltra na organização criminosa voltada a delitos financeiros; não há cabimento em matar alguém somente para provar lealdade a um líder. Por outro lado, é perfeitamente admissível que o agente promova uma falsificação documental para auxiliar o grupo a incrementar um delito financeiro”. Logo, há de se entender que a análise dos excessos dependerá do caso concreto, pois é possível que o agente infiltrado seja testado, pela própria organização criminosa e instigado a cometer o crime para mostrar sua “lealdade” para com a organização e caso não o faça poderá comprometer toda a investigação. Como citado e ilustrado acima, o art. 13 da lei 12.850/2013 menciona que o agente deve guardar a devida proporcionalidade. Neste sentido, em entrevista com um policial federal, ele afirma que a proporcionalidade também se dá pelo fato de que os agentes devem sempre, deixar seus superiores hierárquicos cientes de todos os atos do agente infiltrado, inclusive dos atos que ele pratica para conquistar a confiança da organização criminosa a que se pretende desmantelar, pois o agente emite relatórios periódicos ou sempre que solicitado. A operação de infiltração de agentes é delicada e necessita de apoio dos superiores imediatos daquele agente para que a ação seja um sucesso. Assim, percebe-se que outros profissionais que não estão atuando diretamente em campo na atividade infiltrada, mas dão apoio à operação ajudando o agente infiltrado a manter a devida proporcionalidade com a investigação para a qual está infiltrado. 4.2 TEORIAS ADOTADAS ANTES DA LEI 12.850/2013 PARA EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AGENTES INFILTRADOS 26 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito Antes da lei em comento, a doutrina divergia em quatro correntes: inexigibilidade de conduta diversa; escusa absolutória; excludente de ilicitude; atipicidade penal. Veremos a seguir sobre cada uma delas. 4.2.1 EXCLUSÃO DE CULPABILIDADE POR INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA Para Toledo (2001, p. 327) A inexigibilidade de outra conduta é, pois, a primeira e mais importante causa de exclusão da culpabilidade. E constitui um verdadeiro princípio de Direito Penal. Quando aflora em preceitos legislados, é uma causa legal de exclusão. Se não, deve ser reputada causa supralegal, erigindo-se em princípio fundamental que está intimamente ligado com o problema da responsabilidade pessoal e que, portanto, dispensa a existência de normas expressas a respeito. O agente infiltrado, muitas das vezes, é testado pela própria organização criminosa a fim de mostrar sua “lealdade” com a organização, e é evidente que poderá ocorrer a prática de crimes por parte do agente, pois se assim não agisse poderia comprometer sua identidade e toda a operação investigativa. A responsabilização do agente se dá pelo fato de que a conduta delitiva pudesse ser evitada, caso contrário, seria inexigível sua conduta, não sendo responsável pelo crime praticado.Neste sentido Toledo (2001, p. 327) traz o seguinte pensamento: Essa possibilidade de evitar, no momento da ação ou da omissão, a conduta reputada criminosa é decisiva para a fixação da responsabilidade penal, pois, inexistindo tal possibilidade, será forçosa a conclusão de que o agente não agiu por conta própria, mas teve seus músculos acionados, ou paralisados, por forças não submetidas ao domínio de sua inteligência e/ou vontade. Corroborando CUNHA (2016, p. 122) O agente infiltrado induzido, instigado ou auxiliado a praticar um crime no âmbito da organização, respeitando a proporcionalidade e sem extrapolar a finalidade da investigação, sendo dele inexigível conduta diversa, exclui-se apenas a culpabilidade do injusto por ele praticado, permanecendo típico e ilícito, possibilitando, de acordo com a teoria da acessoriedade limitada (ou média), a punição dos partícipes (integrantes da organização) pelo delito praticado. A exclusão de culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa foi a teoria adotada na atual lei 12.850/2013, para extinguir a responsabilização penal dos agentes infiltrados, desde que respeitado a proporcionalidade e os limites estabelecidos na autorização judicial para a infiltração. 27 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito A edição da lei 12.850/2013 acabou com a discussão doutrinária sobre o assunto. O agente infiltrado quando age com a devida proporcionalidade não será responsabilizado pelos atos praticados no curso da investigação sobre a organização criminosa. Vale lembrar que essa conduta é quando não houver outro modo de agir, quando não for possível evitar a prática do ato delituoso. Quando o agente comete o crime no curso da investigação, cujo objetivo é conquistar a lealdade dos membros da organização criminosa, estamos diante de um fato típico e antijurídico, mas não culpável. O Brasil, adota a teoria da acessoriedade limitada, segundo NUCCI (2011) APUD COSTA (2016), é preciso que se tenha pelo menos um fato típico e antijurídico, faltando a ilicitude não poderia punir o partícipe, porém a inexigibilidade de conduta diversa é uma causa supralegal que passou a ser legal com o advento da lei 12.850/2013. Neste sentido não há o que se falar em excludente de ilicitude do artigo 23 do código penal. Assim, por esta teoria, o agente infiltrado não será responsabilizado pelos atos praticados no âmbito da investigação, todavia, poderá responsabilizar todos os partícipes que realizaram a conduta delituosa na organização criminosa. Dessa forma, corroboramos com o entendimento de CUNHA (2016) quando diz ser a Inexigibilidade de Conduta diversa, a teoria mais acertada pelo legislador para extinguir a responsabilidade penal dos agentes infiltrados. 4.2.2 ESCUSA ABSOLUTÓRIA A escusa absolutória foi uma das teorias defendidas por alguns doutrinadores para exclusão da responsabilidade penal dos agentes infiltrados, antes da Lei 12.850/2013. Para Andreucci (2013, p. A24) apud Cunha (2016, p. 121) “ o agente infiltrado age acobertado por uma escusa absolutória, na medida em que, por razões de politica criminal, não é razoável nem lógico admitir a sua responsabilidade penal. A importância da sua atuação está diretamente associada à impunidade do delito perseguido”. Segundo de Sales (2006, p.86), escusa absolutória é a "particular espécie de normas que isentam de pena o agente culpável, pela prática do injusto típico, tendo em vista considerações de ordem político-criminal" O código penal traz possibilidades de isenção de pena, escusas absolutórias. Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: 28 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Para o professor Marcos Silva (2009) “Escusa Absolutória, busca garantir a isenção de pena, aqueles que por convívio próximo pelo parentesco, teriam em sua convivência a harmonia rompida entre estas pessoas, o que traria intranquilidade social, ausência de coesão da família”. 4.2.3 EXCLUDENTE DE ILICITUDE (ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL) Outra teoria em discussão, antes do vigor da lei 12.850/2013, é a excludente de ilicitude pelo estrito cumprimento do dever legal, sendo esta uma das hipóteses do art. 23 do código penal. Para Bitencourt (2008, p. 322) Quem pratica uma ação em cumprimento de dever imposto pela lei não comete crime. Ocorrem situações em que a lei impõe determinada conduta e, em face da qual, embora típica, não será ilícita, ainda que cause lesão a um bem juridicamente tutelado. Nessas circunstâncias, isto é, no estrito cumprimento de dever legal, não constitui crimes a ação do carrasco que executa a sentença de morte, do carcereiro que encarcera o criminoso, do policial que prende o infrator em flagrante delito etc. Neste sentido MENDRONI (2006, p. 55): A exclusão da antijuridicidade é evidente e inafastável, pois, havendo autorização para a infiltração do agente, que significa integrar o bando, mas para fins de investigação criminal, que serve aos fins dos órgãos de persecução. Ele não estaria na verdade integrando a organização criminosa, mas sim, dissimulando a sua integração com a finalidade de coletar informações e melhor viabilizar o seu controle. Deste modo, entendemos que o agente infiltrado que cometer infrações penais, induzido ou instigado não pode ser punido. No entanto, o partícipe, membro da organização criminosa também não poderá ser punido, pois no concurso de pessoas, o Brasil adota a teoria acessoriedade limitada, ou seja, é preciso apurar que o autor tenha praticado fato típico e antijurídico, pelo menos. E o estrito cumprimento do dever legal é uma das excludentes de ilicitude lá do art. 23 do código penal. Se não há tipicidade ou ilicitude não há que punir o partícipe. Logo essa teoria não poderia ser adotada pela lei 12.850/2013, como não o foi. 4.2.4 ATIPICIDADE PENAL 29 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito A teoria da atipicidade penal do agente infiltrado na visão de Fábio Bechara e Damásio de Jesus apud Cunha (2016, p.121) Essa atipicidade, todavia, poderia decorrer de duas linhas de raciocínio distintas. A atipicidade poderia derivar da ausência de dolo por parte do agente infiltrado, uma vez que ele não age com a intenção de praticar o crime, mas visando a auxiliar a investigação e a punição do integrante ou dos integrantes da organização criminosa. Faltaria, assim, imputação subjetiva. De outro lado, a atipicidade poderia derivar da ausência de imputação objetiva, porque a conduta do agente infiltrado consistiu numa atividade de risco juridicamente permitida, portanto, sem relevância penal. Por esta teoria o agente não teria dolo ao cometer o delito, porém, mesmo visando auxiliar na investigação, o agente ao produzir o resultado, assume o risco, caracterizando um dolo eventual. Segundo Bittencourt (2004, p. 261) o dolo eventual, acontece “quando o agente não quiser diretamente a realização do tipo, mas a aceita como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado (art. 18, I, in fine,do CP)”. Logo essa teoria, também não foi adotada pela atual lei 12.850/2013. 4.3 DA RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE INFILTRADO Como dito anteriormente, se o agente agir com a devida proporcionalidade e adequação de seus atos, ele não será responsabilizado, o contrário ocorrerá caso ele extrapole os limites, cometendo assim os excessos. No que se refere à responsabilização penal do agente infiltrado, a Lei 12.850/2013 em seu at. 13 §único, adotou a teoria da inexigibilidade de conduta diversa, já exposta no item 4.2.1, ou seja, o fato é típico, ilícito, mas não é culpável, mas pode punir todos aqueles que participaram da conduta criminosa. Vejamos a jurisprudência abaixo: HABEAS CORPUS. - Cumpre registrar, inicialmente, que o parágrafo único do art. 13 da Lei nº 12.850/13 prevê causa de exclusão de culpabilidade, pois permite que o agente infiltrado - na tentativa de elucidar os delitos a que sua infiltração se destina esclarecer - pratique "crime", quando inexigível outra conduta. Assim, o fato de o agente infiltrado ter se disfarçado de consumidor não macula a prisão do paciente. - Por outro lado, a Autoridade Policial da Comarca de Frederico Westphalen, após prévia investigação dando conta da realização do delito de tráfico de drogas [inclusive com infiltração de policiais civis, captação ambiental de sinais acústicos/óticos e ação controlada (aquisição de entorpecentes) - medidas que foram judicialmente autorizadas], representou pela prisão preventiva do paciente Diogo e 30 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito da co-acusada Silvana, bem como pela prisão temporária da paciente Karine. - Em prosseguimento, o digno Magistrado, precedido de manifestação ministerial favorável, em decisão devidamente fundamentada, acolheu a representação formulada pela autoridade policial e decretou a segregação cautelar do paciente Diogo e da co-acusada Silvana, bem como decretou a prisão temporária da paciente Karine. - Em cumprimento aos mandados de prisão, em 04/02/2014, os policias lograram encontrar na residência da acusada Karine, "03 (TRÊS) PAPELOTES DE UM PÓ BRANCO COM CARACTERÍSTICAS DE COCAÍNA PESO 05 GRAMAS; APROXIMADAMENTE 30 (TRINTA) GRAMAS DE UM PÓ COM ODOR E CARACTERÍSTICAS DE COCAÍNA, ACONDICIONADO EM 03 EMBALAGENS; 01 (UMA) ESPINGARDA CALIBRE 28, SEM MARCA E SEM NUMERAÇÃO APARENTE, CORONHA DE MADEIRA.", oportunidade em que ela foi presa em flagrante, sob a acusação de ter praticado os delitos de tráfico de drogas, associação para o tráfico e posse de arma de fogo. - O ora paciente, ouvido na Delegacia de Polícia, afirmou que "(...) a totalidade da droga apreendida na casa de KARINE lhe pertence, colocou no interior da casa sem ela saber, pois tem livre acesso à casa (...)." - Não podemos olvidar que presentes estavam os pressupostos da segregação cautelar (art. 313, inc. I), pois a espécie (tráfico) trata-se de crime doloso, punido com pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro) anos. - Por outro lado, presente um dos fundamentos (requisitos) para a segregação, a bem da garantia da ordem pública (art. 312, do CPP), observando, neste passo, que há prova da materialidade dos delitos e indícios de autoria, estes com arrimo no resumo da investigação policial (Representação pela Prisão Preventiva), inclusive na confissão extrajudicial do paciente, na qual estava acompanhado de advogado constituído. - Em relação à configuração do delito, nesta fase de cognição parcial, deve ser lembrando as Turmas (5ª e 6ª) componentes da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça já haviam firmado orientação no sentido de que para a consumação do delito de tráfico de entorpecentes bastava à prática de qualquer um dos verbos previstos no art. 12 da Lei nº 6.368/76. Para adequação típica não se exigia qualquer elemento subjetivo adicional. O entendimento jurisprudencial, deve ser lembrado, continua atual, pois "Na nova Lei de Tóxicos (Lei nº 11.343/06) as exigências para a tipificação do delito de tráfico são as mesmas da Lei nº 6.368/76" (passagem da ementa do REsp 846481/MG, Relator Ministro FELIX FISCHER). Precedente em igual sentido: REsp 1084294/MG - "A difusão maciça do consumo de drogas nas últimas décadas", conforme assevera Carlos Alberto Plastino (Psicanalista, cientista político e economista, Professor de IMS-UERJ e da PUC-Rio - trabalho apresentado no Seminário Internacional sobre Toxicomanias, em 8 de julho de 2000), "transformou a toxicomania numa grave questão social.". Além disso, cresce a violência causada pelo uso de drogas. Com efeito, "O Brasil é citado 31 Revista Eletrônica de Direito da Faculdade Estácio do Pará – Belém, v. 4, n. 5, Jun. 2017 ISSN: 2359-3229 Site: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito nas primeiras páginas do novo relatório do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, órgão das Nações Unidas, como um exemplo da violência causada pelas drogas. Segundo o documento, boa parte dos 30 mil assassinatos que ocorrem por ano no país está relacionada ao tráfico ou ao uso de drogas." A violência relacionada com as drogas é um desafio nacional particularmente sério, que tem um grande impacto nas comunidades ", diz o relatório." - do artigo "ONU: violência ligada à droga é desafio nacional - de Lisandra Paraguassú). - Perdura, lamentavelmente, a situação, bastando para tanto acompanhar os noticiários. Destacamos, entre tantos, a reportagem de contida da ZERO HORA (20/03/2013), intitulada "CAPITAL VIOLENTA - Mais mortes do que Bogotá, Rio e SP.", onde está destacado "Tráfico de drogas está relacionado à violência". - Não há dúvida, por todos estes vetores, que os fatos imputados ao paciente põem em risco a ordem pública. O Superior Tribunal de Justiça, não desconhecendo esta realidade, há muito deixou assentado: "... ações delituosas como as praticadas na espécie (tráfico e associação para o tráfico), causam enormes prejuízos não só materiais, mas também institucionais, gerando instabilidade no meio social. E, nesse contexto, a paz pública ficaria, sim, ameaçada, caso não fossem tomadas as providências cautelares necessárias para estancar a atuação dos traficantes." (sublinhei - passagem da ementa do HC 39675/RJ, Quinta Turma, Relatora: Ministra Laurita Vaz, j. em 22/02/2005). - A alegação de que a manutenção da prisão cautelar fere o princípio constitucional da presunção de inocência não se sustenta, pois não encontra amparo na jurisprudência do Pretório Excelso. - Por fim, devemos lembrar que a presença de condições pessoais favoráveis (primariedade, bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa) não desautorizam, por si só, a segregação cautelar. ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Nº 70059454884, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio de Oliveira Canosa, Julgado em 10/07/2014) (TJ-RS - HC: 70059454884 RS, Relator: Marco Aurélio de Oliveira Canosa, Data de Julgamento: 10/07/2014, Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 06/08/2014) É mister dizer que o agente infiltrado, em ocasiões, não raras, poder vir a cometer delitos para conquistar a confiança dos membros da organização criminosa. Nas palavras de nosso entrevistado, policial federal, agente infiltrado, “se não fizer, morre”. Nesse caso, está presente a inexigibilidade de conduta diversa, pois não há alternativa, não há outra conduta a tomar por esse agente infiltrado, assim sendo não será responsabilizado, conforme parágrafo único do art. 13 da lei 12.850/2013. Ainda, sobre a entrevista
Compartilhar