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1 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO Dr. José Oscar Rodrigues de Morais (in memoriam) Dr. Paulo Cesar Moreira Esp. Nilza Nascimento Guimarães. Apresentação Caro(a) discente, Iniciamos a disciplina Neurociência e Educação do Módulo 2. Esta dis- ciplina apresenta a análise crítica dos últimos três ou quatro milhões de anos de desenvolvimento, evolução e adaptação do cérebro da linhagem dos homi- nídeos. Discutiremos os eventos morfológicos na corrida das transformações biológicas, que levaram o cérebro dos primatas à ampliação de suas áreas de substância cinzenta. Veremos como essa ampliação projetou-se no desenho atual dos lobos frontais e parietais, marcando uma intensa relação com linguagem, aprendizado, memó- ria, capacidade de abstração e motricidade. Além disso, evidenciaremos como a formação da memória se efetiva em relação às informações. Salientamos as im- portantes conclusões sobre como o cérebro aprende, à luz das discussões atuais de aprendizagem, ensino e apreensão do conhecimento. Bons estudos! 1. Origem, evolução e organização dos sistemas neurais simples e complexos 2 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia 1.1 Embriogênese Neural: Sistema Neural – Aspectos gerais Para uma compreensão melhor dos aspectos principais da embriogênese neural, inicialmente temos que nos familiarizar com os termos gerais e as divisões rela- cionadas ao sistema neural, que está envolvido na coordenação e regulação das funções corporais. O Sistema Neural possui as seguintes linhagens celulares: 1. Neurônios - responsáveis pela recepção e transmissão dos estímulos do meio externo e interior do corpo (Figura 1). Figura 1. Neurônio Neurônio é o nome conferido à célula nervosa e a todos os seus processos. São células excitáveis especializadas na recepção de estímulos e na condução do impulso nervoso. Variam consideravelmente em tamanho e formato, mas todas possuem um corpo celular cuja superfície projeta um ou mais processos denomi- nados neuritos. Os neuritos, responsáveis por receber informações e conduzi-las em direção ao corpo celular, são chamados dendritos. O neurito tubular, longo e único, que conduz os impulsos para longe do corpo celular, denomina-se axônio. Os dendritos e axônios são conhecidos como fibras nervosas (SNELL, 2010). Os neurônios são encontrados no encéfalo, na medula espinal e nos gânglios. Ao contrário da maioria das outras células corporais, neurônios normais no indivíduo maduro não sofrem divisão e replicação. 2. Células da glia (neuroglia ou gliais) - sustentação, proteção, isolamento e nutrição dos neurônios (Figura 2). Como funcionam os neurônios Núcleo Corpo celular Sinapses Dendritos Sinal-neuralNeurônio pré-sináptico Neurônio pós-sináptico Axônio 3 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O Figura 2. Células da Glia Os neurônios do Sistema Nervoso Central são sustentados por uma variedade de células não excitáveis, que são coletivamente chamadas de neuroglia. As células neuro- gliais, em geral, são menores que os neurônios, mais numerosas que estes na proporção de cinco a dez vezes e compreendem metade do volume total do encéfalo e da medula espinal (SNELL, 2010). Existem quatro tipos de células neurogliais: (1) astrócitos, (2) oligodendrócitos, (3) micróglia e (4) epêndima. O sistema neural pode ser dividido anatomicamente em sistema neural central e pe- riférico (Figura 3). O critério para realizar esta divisão é topográfico, isto é, a classificação dependerá do local onde as estruturas se encontram, por exemplo: Sistema Nervoso Central – cérebro – dentro da caixa craniana. Assim, a parte do sistema neural dentro do crânio e do canal vertebral compreende o sistema neural central, ao passo que a parte do sistema neural situado fora destes arcabouços ósseos constitui o sistema neural periférico. O sistema neural central é constituído pelo encéfalo (no interior do crânio) e pela medula espinhal (no interior do canal vertebral). O encéfalo é dividido em cérebro, tronco encefálico e cerebelo. O cérebro possui duas partes anatômicas e funcionalmente distintas, que são: o telencéfalo e o diencéfalo. No telencéfalo, é observada uma camada externa alta- mente celular, que é o córtex cerebral, envolvendo uma massa grande de substância banca, constituída por axônios neuronais; duas cavidades contendo líquor são ob- servadas em cada metade do telencéfalo, os ventrículos laterais e, ainda, massas de substância cinzenta são observadas no interior da substância branca do telencéfalo, constituindo os núcleos da base. O diencéfalo é representado por uma porção bem menor e está envolvida quase completamente pelo telencéfalo. O diencéfalo apre- senta na superfície interna três regiões distintas: o tálamo (o hipotálamo e o epitálamo), Astrócito Protoplasmático Astrócito Fibroso Microglia Oligodendróglia 4 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia o subtálamo, situado profundamente, além do metatálamo voltado posteriormente. O espaço entre as partes direita e esquerda do diencéfalo forma o terceiro ventrículo. O tronco encefálico é subdividido no sentido craniocaudal em mesencéfalo, ponte e bulbo. O mesencéfalo é contínuo rostralmente com o diencéfalo, e o bulbo se continua caudalmente com a medula espinhal. No tronco encefálico, nota-se a passagem de gran- de quantidade de fibras no sentido ascendente, a partir da medula espinhal, e quantidade elevada de fibras descendentes, a partir do telencéfalo e do diencéfalo, além de fibras neurais unindo regiões do próprio tronco ou do tronco com o cerebelo. Agrupamentos neuronais constituem os núcleos pontinos, sendo que, em sua maioria, estão relaciona- dos com os nervos cranianos, que têm origem no tronco encefálico. O tronco encefálico representa principalmente a região do sistema neural central responsável pela inervação de estruturas da cabeça, além de estruturas de outras regiões corpóreas. No interior do mesencéfalo, nota-se um canal estreito, o aqueduto do mesencéfalo, que propicia a comunicação do terceiro com o quarto ventrículo. O quarto ventrículo é uma cavidade losângica situada posteriormente à ponte e ao bulbo e anteriormente ao cerebelo. O quarto ventrículo continua caudalmente com um canal em forma de funil na porção caudal do bulbo, e o canal bulbo continua com o canal central da medula espinhal. A parte caudal do sistema neural central é representada pela medula espinhal, que permite a comunicação, ou seja, entrada e saída de sinais do corpo para o encéfalo e deste para estruturas corporais. Apresenta áreas com agrupamentos neuronais relacionadas com a motricidade, a sensibilidade e uma quantidade elevada de fibras que ascendem, outras que descendem e outras que promovem a união dos vários segmentos da própria medula espinhal, permitindo essa comunicação. A medula apresenta, no interior, o canal central, que é contínuo rostralmente com o canal do bulbo. O sistema neural periférico é representado pelos nervos, gânglios e pelas terminações nervosas. Os nervos são classificados em dois grupos: nervos cranianos e nervos espinhais. Figura 3. Divisão Anatômica do Sistema Neural. Divisão Esquemática do Sistema Nervoso Sistema Nervoso Sistema Nervoso Periférico Sistema Nervoso Central (SNC) Sistema Nervoso Somático (Movimentos involuntários) Sistema Nervoso Autônomo (SNA) Sistema Nervoso Autônomo Simpático Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático Sistema Nervoso Autônomo Entérico Encéfalo Cérebro Cerebelo Tronco cerebral TelencéfaloDiencéfalo Mesencéfalo Metencéfalo Mielencéfalo Cérebro Mesencéfalo Cerebelo e Ponte Bulbo 5 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O Nervos cranianos fazem conexão com o encéfalo e são formados, assim como os nervos espinais, por feixes de fibras nervosas sustentadas por tecido conjuntivo. Os doze pares de nervos cranianos que deixam o encéfalo e atravessam forames no crânio recebem uma nomenclatura específica, sendo numerados em algaris- mos romanos, de acordo com a sua origem aparente, no sentido rostrocaudal (Figura 4). As fibras motoras ou eferentes dos nervos cranianos originam-se de grupos de neurônios no encéfalo, que são seus núcleos de origem. Eles estão ligados com o córtex do cérebro pelas fibras corticonucleares, que se originam dos neurônios das áreas motoras do córtex, descendo principalmente na parte genicular da cápsula interna até o tronco do encéfalo. Os nervos cranianos sensitivos ou aferentes originam-se dos neurônios situa- dos fora do encéfalo, agrupados para formar gânglios ou situados em periféricos órgãos dos sentidos. Os núcleos que dão origem a dez dos doze pares de nervos cranianos situam-se em colunas verticais no tronco do encéfalo e correspondem à substância cinzenta da medula espinhal. Os nervos cranianos são doze pares (Quadro 1). Os dois primeiros são origi- nários do cérebro. O nervo olfatório alcança o telencéfalo, ao passo que o nervo óptico conecta-se com o diencéfalo. Os outros dez pares de nervos cranianos fazem as conexões com o tronco encefálico. Os nervos oculomotor e troclear fazem conexões com o mesencéfalo; os nervos trigêmeos, abducene, facial e ves- tibulococlear conectam-se à ponte, ao passo que os nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso são conectados ao bulbo. Grande parte destes nervos está relacionada com a inervação motora e sensitiva da cabeça, sendo que alguns deles (vago, glossofaríngeo e acessório) inervam também estruturas que não estão situadas na cabeça. De acordo com o componente funcional, os nervos cranianos podem ser classificados em motores, sensitivos e mistos. Os motores (puros) são os que movimentam o olho, a língua e acessoriamente os músculos látero-posteriores do pescoço. São eles: III. Nervo Oculomotor IV. Nervo Troclear VI. Nervo Abducente XI. Nervo Acessório XII. Nervo Hipoglosso Os sensitivos (puros) destinam-se aos órgãos dos sentidos e, por isso, são cha- mados sensoriais e não apenas sensitivos, que não se referem à sensibilidade geral (dor, temperatura e tato). Os sensoriais são: 6 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Nervo craniano Componente Função I. Olfatório Sensitivo Percepção do olfato. III. Oculomotor Motor Controle da movimentação do globo ocular, da pupila e do cristalino. II. Óptico Sensitivo Percepção visual. I . Nervo Olfatório II. Nervo Óptico VIII. Nervo Vestibulococlear Os mistos (motores e sensitivos) são em número de quatro: V. Trigêmeo VII. Nervo Facial IX. Nervo Glossofaríngeo X. Nervo Vago Cinco deles ainda possuem fibras vegetativas, constituindo a parte craniana periférica do sistema autônomo. São os seguintes: III. Nervo Oculomotor VII. Nervo Facial IX. Nervo Glossofaríngeo X. Nervo Vago XI. Nervo Acessório Figura 4. Emergência dos nervos cranianos Quadro 1. Classificação e função dos nervos cranianos I - Olfativo XII - Hipoglosso XI - Espinhal acessório X - Vago IX - Glossofaríngeo VIII - Vestibulo-coclear VII - Facial VI - Abducente V - Trigêmio IV - Troclear III - Oculomotor II - Óptico 7 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O IV. Troclear Motor Controle da movimentação do globo ocular. VI. Abducente Motor Controle da movimentação do globo ocular. VII. Facial Misto Controle dos músculos faciais – mímica facial (ramo motor); Percepção gustativa no terço anterior da língua (ramo sensorial). VIII. Vestíbulo - Sensitivo Percepção postural originária do labirinto (ramo vestibular); Percepção auditiva (ramo coclear). IX. Glossofaríngeo Misto Percepção gustativa no terço posterior da língua, percepções sensoriais da faringe, laringe e palato. V. Trigêmeo Misto Controle dos movimentos da mastigação (ramo motor); Percepções sensoriais da face, seios da face e dentes (ramo sensorial). Fonte: adaptado de Gray (1988). Os gânglios podem ser divididos em dois grupos: os gânglios espinhais e os gânglios autonômicos. Nos gânglios espinhais, estão situados os corpos neuronais sensitivos, responsáveis pela captação, juntamente com os prolongamentos das funções sensitivas do corpo (frio, calor, tato, pressão, dor, propriocepção, sensi- bilidade vibratória, estereognosia, fome, plenitudes gástrica e vesical). Para cada par de nervos espinhais é observado um par de gânglios espinhais. A sensibilidade do pescoço, parte posterior da cabeça, tronco e dos membros alcança a medula espinhal e posteriormente o encéfalo por meio dos nervos e gânglios espinhais. Os gânglios do sistema neural autônomos ainda são classificados em simpáticos e parassimpáticos, de acordo com as conexões e funções. Os gânglios autônomos são os locais dos corpos neuronais pós-ganglionares do sistema neural autônomo. Nestes gânglios, ocorre a sinapse entre os neurônios pré-glanglionares e pós-gan- glionares do sistema neural autônomo. As terminações nervosas são estruturas especializadas em transformar os vários estímulos (originários no ambiente ou no próprio corpo) em impulsos elétricos (impulsos neurais). Em termos gerais, é admitida certa especificidade para as terminações neurais. Coclear X. Vago Misto Percepções sensoriais da orelha, faringe,laringe, do tórax e das vísceras. Inervação das vísceras torácicas e abdominais. XI. Acessório Motor Controle dos músculos da faringe, da laringe e da língua. 8 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia 1.2 Aspectos Gerais Da Embriologia Humana A compreensão dos aspectos específicos da embriogênese e filogênese do sistema neural exige um entendimento, mesmo que superficial, dos aspectos principais da embriologia humana. A fertilização é o marco inicial no desenvolvimento humano. Este fenômeno se dá pela união do espermatozóide com o ovócito, formando o ovo ou zigoto. O organismo humano como um todo se originará desta célula. A primeira sema- na é caracterizada pela proliferaçãocelular rápida por meio de clivagem. Após o período da clivagem, as células começam a se diferenciar, estando, a partir deste ponto, comprometidas com um estado específico do desenvolvimento. No período intrauterino, o ser humano passa por três estágios do desenvolvimento: estágio pré- -embrionário, estágio embrionário e estágio fetal (Quadro 2). Quadro 2. Parassimpático Simpático Dilata a pupila Inibe a salivação Relaxa os brônquios Acelera os batimentos cardíacos Inibe a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a liberação de glicose pelo fígado Estimula a produção de adrenalina e noradrenalina Relaxa a bexiga Promove a ejaculação Contrai a pupila Estimula a salivação Reduz os batimentos cardíacos Contrai os brônquios Estimula a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a vesícula biliar Contrai a bexiga Promove a ereção Gânglios simpáticos Figura 5. Sistema Nervoso Autônomo Estágios do desenvolvimento intraembrionário Pré-embrionário Fetal Embrionário Até a segunda semana Nona semana até o nascimento Até a oitava semana 9 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O 1.2.1 Estágio Pré-embrionário Este estágio está representado pelo tempo compreendido desde a fertilização até a segunda semana. Geralmente a fertilização ocorre na tuba uterina, e o zigoto formado é deslocado no sentido da cavidade uterina (nidação). Por clivagens sucessivas, forma-se uma massa celular sólida. As células resultantes destas divisões são os blastômeros. Por volta do quarto dia após a fertilização, 12 a 16 blastômeros formam a mórula, uma massa celular compacta. Então, ao formar uma cavidade na mórula, terá origem o blastocisto. A camada celular externa (blastóforo) do blastocisto constitui a contri- buição fetal para a formação da placenta, ao passo que a camada de células internas (embrioblasto) dará origem ao embrião. Uma condição essencial para o desenvolvimento e a formação de uma nova vida é o processo de implantação do blastocisto no endométrio. Nesta fase, o embrioblasto se desenvolve no disco embrionário, constituindo o ectoderma e o endoderma e, a seguir, uma terceira camada surgirá entre estas duas pré-existentes, o mesoderma. A formação das três camadas germinativas é denominada de gastrulação. 1.2.2 Estágio Embrionário O estágio embrionário ocorre desde a terceira até o final da oitava semana e, nesta fase, são formados os órgãos. Os folhetos embrionários dão origem às seguintes estruturas no corpo: a. Ectoderma – órgãos sensoriais, epiderme e sistema neural; b. Mesoderma – derme, músculos, ossos e sistemas excretor e circulatório; c. Endoderma – trato digestório, fígado, pâncreas e sistema respiratório. 1.2.3 Estágio Fetal O estágio fetal estende-se do final da oitava semana até o nascimento. O sistema neural se desenvolve mais plenamente e tem início a mielinização. 1.2.4 Desenvolvimento do Sistema Neural O desenvolvimento do notocórdio, derivado do mesoderma, começa por volta do 16º dia de gestação. O notocórdio induz o ectoderma dorsal do embrião a proliferar, formando a placa neural ao longo da linha média dorsal do embrião. O desenvolvimento do notocórdio define o sentido craniocaudal do embrião, oferece rigidez, induz a diferenciação da parte dorsal do ectoderma a formar as 10 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia estruturas neurais embrionárias, constitui o centro em torno do qual as vértebras se desenvolvem e persiste nos espaços intervertebrais, formando o núcleo pulposo dos discos intervertebrais. No 18º dia, inicia-se a formação de um sulco ao longo da superfície dorsal da placa neural. Este sulco torna-se cada vez mais profundo, aproximando suas mar- gens. No 21º dia, as margens encontram-se na região central do corpo do embrião, iniciando o fechamento e a formação do tubo neural. Este fechamento progride agora em sentido rostral e caudal. Paralelamente a este processo, a região da prega neural deixa de ser incorporada ao tubo neural, constituindo a crista neural, que perde sua conexão com o ectoderma, dividindo-se em metades direita e esquerda, que migram para posições dorsolaterais ao tubo neural. Dessa maneira, nesse período, duas estruturas importantes embrionárias são formadas, o tubo neural e a crista neural, e estas originarão todo o sistema nervoso ou neural (padronizar), além de outras estruturas. 1.2.5 Tubo Neural A formação do tubo neural ocorre durante o início da quarta semana. O pro- cesso no qual a placa neural se transformará em tubo neural chama-se neurulação. O fechamento da goteira neural e a consequente formação do tubo neural têm início na região do quarto ao sexto somito. O início da formação do tubo neural ocorre muito precocemente, por volta do 22° dia após a fecundação. O fechamento não é simultâneo em toda a extensão do tubo neural, mas progride caudal e rostralmente a partir da região média (quarto ao sexto somito), sendo que o tubo neural temporariamente fica com duas abertu- ras nas extremidades. Estas aberturas são chamadas de neuróporos. O neuróporo rostral fecha por volta do 25º dia, ao passo que o neuróporo caudal fecha por volta do 27º dia. Para que ocorra a diferenciação do encéfalo, inicialmente tem-se a formação de três dilatações rostrais no tubo neural. Estas dilatações são as vesículas primitivas, chamadas de prosencéfalo (encéfalo anterior), mesencéfalo (encéfalo médio) e rombencéfalo (encéfalo posterior). O rombencéfalo continua com a porção caudal do tubo neural, a medula espinhal primitiva, que originará a medula espinhal. As três vesículas primitivas consti- tuem o encéfalo primitivo ou arquencéfalo. Na quinta semana do desenvolvimento, inicia-se a diferenciação do prosencé- falo, mesencéfalo e rombencéfalo. O prosencéfalo forma o telencéfalo e o diencé- falo, já o mesencéfalo não sofre alterações significantes e, após o desenvolvimento, continua com o mesmo nome, ao passo que o rombencéfalo se subdivide em metencéfalo e mielencéfalo. Estas cinco vesículas secundárias apresentam uma parede de tecido neural, sendo que esta parede delimita as cavidades oriundas da 11 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O cavidade do tubo neural. Posteriormente, estas cavidades se transformarão nos ventrículos que contêm o líquor. No desenvolvimento do encéfalo anterior (prosencéfalo), inicialmente surgem duas vesículas secundárias a cada lado do prosencéfalo, chamadas de vesículas ópticas e telencefálicas, sendo que entre estas vesículas fica situado o diencéfalo. Desta forma, nesse estágio, o prosencéfalo é constituído por duas vesículas ópti- cas, duas vesículas telencefálicas e o diencéfalo. As vesículas telencefálicas originarão o telencéfalo. As vesículas ópticas se desenvolvem a partir do diencéfalo e invaginam-se para formar o pedúnculo e o cálice ópticos, que darão origem aos nervos ópticos e às retinas, respectivamente. O diencéfalo propriamente dito diferencia-se no tálamo, hipotálamo, epitálamo, subtálamo e no metatálamo. Com o desenvolvimento das vesículas telencefálicas, estas crescem posteriormen- te, situando-se lateral e dorsalmente ao diencéfalo. Ainda nesta fase surge outro par de vesículas, na face ventral do prosencéfalo, que são as vesículas olfatórias que originarão os tractos olfatórios e os bulbos olfatórios. Saiba mais Na linguagem médica, quando escrevemos óptico com a letra “p” na primeira sílaba, estamos nos referindo ao sentido da visão; ao escrevermos ótico sem o “p” estaremos nos referindo ao sentido da audição. Outro fato que caracteriza o desenvolvimento prosencefálico é a riqueza de tipos celulares originários da parededo prosencéfalo. Com o surgimento das células na parede do telencéfalo, surge então a substância branca formada por axônios, que saem destas camadas celulares ou axônios e chegam a estas células. No prosencéfalo, os dois hemisférios cerebrais situam-se acima e a cada lado do diencéfalo, sendo que as superfícies ventrais mediais dos hemisférios fundem-se com as superfícies laterais do diencéfalo. A cavidade do tubo neural dará origem aos ventrículos e ao canal central da medula espinhal. As cavidades no interior dos hemisférios cerebrais são denomi- nadas ventrículos laterais; a cavidade situada no centro do diencéfalo chama-se III ventrículo, ao passo que o espaço ventricular situado posterior à ponte e ao bulbo e anterior ao cerebelo é chamado de IV ventrículo. O canal que permite a comunicação entre o III e o IV ventrículos é denominado aqueduto do mesencé- falo. No interior da medula espinhal, o resquício da cavidade do tubo neural dá origem ao canal central da medula. 12 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Uma das características principais dos neurônios é a capacidade de estender os axônios e dendritos para comunicar-se com outros neurônios em regiões diferentes dentro do sistema nervoso ou neural. O conjunto dos axônios participa na formação da substância branca e de outros feixes de fibras, como o corpo caloso (conecta os dois hemisférios cerebrais) e a cápsula interna (conecta em ambos os sentidos os neurônios corticais com neurônios em centros subcorticais). A segunda vesícula primordial, o mesencéfalo, diferencia-se relativamente pouco durante o desenvolvimento. A superfície dorsal da vesícula mesencefálica transforma-se no teto do mesencéfalo, ao passo que o assoalho do mesencéfalo originará o tegmento. Entre estas duas estruturas encontra-se o aqueduto do mesencéfalo, originário da cavida- de do tubo neural no mesencéfalo. A vesícula primordial chamada rombencéfalo origina duas vesículas chamadas de metencéfalo e mielencéfalo. O rombencéfalo diferencia-se em três estruturas: a ponte, o bulbo e o cerebelo. A ponte e o cerebelo são de origem do metencéfalo, ao passo que o mielencéfalo originará o bulbo. A cavidade do metencéfalo se desenvolve e origina a porção rostral do IV ventrículo. A região do teto do metencéfalo é fechada por uma membrana delgada, constituída por pia-mater e epêndima. Os componentes sensitivos derivados da placa alar ficam dorsolateralmente colocados, e os componentes motores derivados da placa basal estão situados ventromedialmente. A ponte fica situada anterior e lateral ao IV ventrículo. Os neuroblastos migram para o interior da ponte, formando os núcleos pontinos (núcleos basais da ponte e núcleos de nervos cranianos V a VIII). A região posterior é fechada pelo tegmento da ponte. Anteriormente, tem-se a base da ponte ocupada por fibras e pelos núcleos basais pontinos. O cerebelo é formado a partir da placa alar do mentencéfalo. As células da placa alar formam o lábio rômbico, que no quarto mês forma o cerebelo. Os neuroblastos migram para o interior do cerebelo, formando os núcleos cerebelares. Outros neuroblastos mi- gram para a superfície das folhas cerebelares, formando o córtex cerebelar. O mielencéfalo dá origem ao bulbo. A porção rostral da cavidade do mielencéfalo origina a porção caudal do IV ventrículo, e a porção caudal da cavidade do mielencéfalo se estreita para formar o canal central do bulbo, que é contínuo caudalmente com o canal central da medula espinhal. 1.3 Filogênese do Sistema Neural - Aspectos gerais sobre a filogenia A ideia de que a espécie Homo sapiens ocupa lugar de destaque no reino animal relativamente ao comportamento, à memória, aprendizagem, abstração, ao pensamento, à imaginação, consciência, e que esses atributos permitiram o 13 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O domínio dessa espécie sobre a face do planeta arremete-nos também a considerar a condição e a aceitar a presença de outras espécies e um sistema de evolução direta ou por meio da diversificação. A suposição de um processo evolutivo desde o surgimento dos primeiros elementos que pudessem ser identificados como possuidores de uma caracterís- tica bem peculiar denominada vida, até alcançar o patamar de evolução do ser humano, ganhou força com a teoria desenvolvida por Charles Darwin. O estudo das relações evolutivas entre os seres vivos é denominado filogenia, que tem por objetivo a reconstituição e a análise das transformações sucessivas por qual passaram os elementos providos de vida. O termo filogenia é originário do grego (phylon - raça, grupo, e gênese - nasci- mento, geração) e enfatiza que os organismos vivos não se mantêm imutáveis, mas são submetidos a uma evolução ao longo do tempo. Do ponto de vista evolutivo, o que os seres humanos têm em comum com outros animais é apenas o fato de que esta espécie originou-se de espécies ancestrais comuns que hoje estão extin- tas, mas que também deram origem a outras diferentes espécies que, por sua vez, sofreram as suas próprias evoluções. As relações filogenéticas são sustentadas por estudos da anatomia, biogeo- grafia, bioquímica, embriologia comparativa, genética, paleontologia, biologia celular e biologia molecular. A taxonomia, que trabalha para a classificação dos seres vivos, baseia-se nos estudos da filogenia. Para que possamos aceitar e melhor compreender esse desenvolvimento por meio da história das espécies, é primordial considerar dois componentes prin- cipais: o tempo e os diferentes fatores que agiram no sentido do surgimento de espécies novas. A espécie denominada como homem moderno, segundo investigações antro- pológicas e arqueológicas, deve ter cerca de 100 milhões de anos. Mas, há cerca de 3,4 bilhões de anos, parece ter surgido uma membrana lipídica envolvendo molé- culas, constituindo, assim, a primeira célula, que era procarionte e heterotrófica e que, ao que tudo indica, é o ancestral comum a todos os organismos vivos. Esta é a datação do fóssil mais antigo de organismo vivo até hoje conhecido. Entretanto, a história inicial da vida teve sua origem por volta de 4,5 bilhões de anos, quando a Terra era coberta por água e a sua atmosfera era formada principalmente por amô- nia, metano, hidrogênio e dióxido de carbono. A observação da evolução filogenética do sistema neural permite a compre- ensão da morfologia atual, além de inferir relações entre o desenvolvimento/evo- lução com estruturas neurais do adulto e ainda compreender os vários aspectos relacionados à memória e ao aprendizado, entre outros aspectos. Neste texto, iremos tratar de alguns aspectos relativos à filogênese do sistema neural, descrevendo as aquisições principais pertinentes às mais importantes 14 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia etapas evolutivas, destacando o desenvolvimento das estruturas neurais relacio- nadas ao processo de memória e aprendizagem (veja no Quadro 3). Quadro 3. Aspectos da filogênese do sistema neural a serem abordados neste estudo Fonte. Adaptado de Machado (2000). Quando falamos em analisar o desenvolvimento filogenético, processo este ocor- rido ao longo da chamada evolução das espécies ou de sua história evolutiva, grande parte deste conhecimento foi e ainda é adquirida por meio de estudos de várias outras disciplinas ou áreas do conhecimento. 1.3.1 Propriedades gerais do protoplasma Organismos unicelulares muito simples devem desempenhar várias funções. Assim, por exemplo, um indivíduo unicelular como a ameba deve ser capaz de englobar partículas e digeri-las, excretar, se dividir, movimentar-se, gerar energia, eassim suces- sivamente. Além disso, deve ser capaz de perceber as variações ou modificações que ocorrem ao seu redor (no microambiente). Sendo unicelular, um organismo com essas características não se especializou em ne- nhuma função específica, mas desempenha várias funções necessárias à sobrevivência. Uma delas consiste na resposta a estímulos nocivos. Se em um indivíduo unicelular o estímulo é percebido, diz-se que este apre- senta a propriedade do protoplasma chamada excitabilidade ou irritabilidade. Caso ele demonstre a capacidade de resposta a um estímulo, diz-se que ele apre- senta a característica da contratilidade, ou seja, a resposta ao estímulo é uma con- tração do protoplasma. Mas, para que esta resposta seja manifestada, o estímulo inicial deve percorrer o corpo do indivíduo para propiciar uma resposta adequada. Esta capacidade de transmitir essa informação inicial a outras partes do corpo é chamada condutibilidade. Desta forma, mesmo em indivíduos unicelulares, as Importância do estudo da filogenia do sistema neural (apenas no enfoque deste texto) Compreensão da origem, evolução e do papel da memória para os seres humanos. Compreensão da origem, evolução e do papel da aprendizagem para os seres humanos. Compreensão da morfologia atual. Compreensão da relação entre desenvolvimento/evolução com as estruturas do sistema neural no adulto. 15 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O três propriedades básicas do protoplasma são observadas, ou seja, excitabilidade, contratilidade e condutibilidade (veja Quadro 4). Mesmo nesses seres vivos primitivos, a função principal dessas propriedades é pro- piciar a adaptação ao meio ambiente. Nota-se que qualquer dessas propriedades podem ser executadas por regiões diferentes da célula. Não existe, portanto, a especialização; qualquer ponto na superfície do indivíduo unicelular é excitável, e a membrana em toda a extensão é capaz de conduzir a informação, por exemplo. Quadro 4. Fonte. Adaptado de Machado (2000). Com o surgimento das células eucarióticas, há cerca de 700 milhões de anos, teve início a especialização celular, começando pela separação das atividades desem- penhadas pelo organismo, sendo então dividido entre as células com características morfológicas diferentes e, consequentemente, funcionais. Nas esponjas (poríferas), um tipo celular que circunda os poros, situado na su- perfície corporal, apresenta-se a capacidade de excitabilidade na face superior celu- lar e, na região profunda desta mesma célula, existem proteínas contráteis, respon- sáveis pela contratilidade. A membrana dessa célula é responsável pela condução (condutibilidade) da informação a partir da região de excitabilidade às outras regiões da célula. Nestes indivíduos ocorreu a separação dentro de uma mesma célula da região, que desempenha as três propriedades do protoplasma. Somente a superfície celular voltada para o interior do poro apresenta a excitabilidade, e apenas a região profunda da célula apresenta a capacidade de contratibilidade. Embora essas propriedades estejam ocorrendo num mesmo tipo celular, nota-se uma evolução significante entre o sistema presente na ameba e o que acontece nas poríferas. Um importante fato que ocorreu na história da vida na Terra foi a mudança de ambiente, no qual indivíduos passaram a habitar o meio marinho e encon- traram condições ambientais mais estáveis e mais favoráveis para propiciar a evolução, originando os peixes primitivos com esqueleto, há aproximadamente 570 milhões de anos. Propriedades básicas do protoplasma Excitabilidade (irritabilidade). Contratilidade. Compreensão da morfologia atual. Condutibilidade. 16 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Outro passo importante na filogênese foi a diferenciação entre as estruturas fun- cionalmente relacionadas com a excitabilidade e a contratilidade. Isto ocorreu pelo fato de os músculos ocuparem posições profundas. Desta forma, nos metazoários mais diferenciados (como os anelídeos), as células musculares, passaram a se localizar mais profundamente e, nas suas superfícies, as células se diferenciaram para discriminar os diferentes estímulos do meio ambiente. Nos celenterados, as células especializadas em irritabilidade e condutibilidade passaram a se caracterizar como células neurais propriamente ditas. Nas anêmonas do mar existem células neurais unipolares com prolongamentos que fazem contato com as células musculares situadas profundamen- te. Estas células são consideradas os primeiros neurônios a surgir na escala filogenética e são funcionalmente sensitivos. Nestes indivíduos, nota-se uma rede neuronal na superfície corporal, espalhada por toda a sua superfície. Admite-se, assim, que redes de neurônios propriamente ditos tenham surgido há cerca de 700 milhões de anos em seres marinhos ainda invertebrados. Este tipo de sistema neural é denominado Sistema Neuronal Difuso. Glossário Aqueduto: O aqueduto cerebral, também conhecido como aqueduto de Sylvius ou ducto mesencefálico, contém líquido cefalorraquidiano, está no interior do mesencéfalo e conecta o terceiro ventrículo no diencéfalo ao quarto ventrículo, que está entre a ponte e o cerebelo. Axônios: O axônio é uma parte do neurônio responsável pela condução dos impulsos elétricos que partem do corpo celular até outro local mais distante, como um músculo ou outro neurônio. Uma de suas características é estar envolto pelas células de Schwann, no sistema nervoso periférico, e pelos oligodendrócitos, no Sistema Nervoso Central. Canal vertebral: Também conhecido como canal medular, canal espinhal ou cavidade medular. Trata-se de uma abertura no arco posterior atrás do corpo da vértebra. Dentro das vértebras é onde passa a medula espinhal. Nos espaços interver- tebrais, o canal é protegido posteriormente pelo ligamento amarelo e frontalmente pelo ligamento longitudinal posterior. Cápsula: Uma coleção de axônios que conecta o cérebro e o tronco encefálico. Células neurais unipolares: Nos neurônios em que apenas um prolonga- mento deixa o corpo celular. Charles Darwin: Naturalista inglês nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury. Com 16 anos, Darwin deixou Sherewsbury para estudar me- dicina na Universidade de Edinburgh. Repelido pelas práticas cirúrgicas sem anestesia (ainda desconhecida na época), Darwin partiu para a Universidade 17 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O de Cambridge, com o objetivo (imposto pelo seu pai) de tornar-se clérigo da Igreja da Inglaterra. Em todo o lugar, Darwin reunia grandes coleções de rochas, plantas e animais (fósseis e vivos) enviadas à sua pátria. Imediatamente, após seu regresso à Inglaterra, Darwin iniciou um caderno de notas sobre a evolução, reunindo dados sobre a variação das espécies, dando assim os primeiros passos para a Origem das Espécies. As pesquisas feitas durante uma viagem a bordo do Beagle é que fundamentaram sua Teoria da Evolução, servindo de base para o famoso livro Origem das Espécies. A obra foi publicada em 1859, sob o bombar- deamento das controvérsias – o que era muito natural: Darwin estava mudando a crença contemporânea sobre a criação da vida na Terra. Em seu livro, Darwin defende duas teorias principais: a da evolução biológica‒- todas as espécies de plantas e animais que vivem hoje descendem de formas mais primitivas ‒ e a de que esta evolução ocorre por “seleção natural”. Os princípios básicos da teoria sobre a evolução de Charles Darwin, apresentados em Origem das Espécies, são quase que universalmente aceitos no mundo científico, embora existam contro- vérsias em torno deles. Clivagem: É o nome que se dá ao processoespecífico de divisão celular equacional (=mitose) no início do desenvolvimento embrionário, pelo qual o zigoto, também dito célula-ovo, originará a multicelulariedade do embrião. Comissura: Coleção de axônios que conecta perpendicularmente a linha média e tem direções diametralmente opostas. Córtex: A palavra córtex vem do latim “casca”. O córtex é a camada mais externa do cérebro, variando de 2 a 6 mm. É composto por aproximadamente 100 bilhões de neurônios, com seus corpos celulares fixos no córtex cerebral ou subs- tância cinzenta; os axônios ganham a substância branca, onde os oligodendrócitos formam a sua bainha de mielina. Decussação: Formação anatômica cujas fibras cruzam obliquamente a linha média e que tem a mesma direção. Dendritos: São numerosos prolongamentos dos neurônios, especializados na recepção de estímulos nervosos, que podem ser do meio ambiente ou de outros neurônios. A grande maioria dos neurônios possui dentritos, pois estes aumentam a sua superfície celular, tornando possível receber e integrar impulsos trazidos por terminais axônicos de outros neurônios. Ectoderma: É a camada exterior de um embrião em desenvolvimento. As outras duas camadas do embrião são a mesoderme e a endoderme. A ectoderme forma-se durante a gastrulação, no estágio em que o sistema digestório primitivo está a se formar. Forma-se a partir do epiblasto. Embrioblasto: É a massa interna de células do blastocisto que formará o embrião propriamente dito, enquanto o trofoblasto (camada externa de células) 18 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia formará a placenta. O embrioblasto é dividido em epiblasto e hipoblasto, e este último está em contato com a blastocele (cavidade do blastocisto). Embriogênese: É o processo através do qual o embrião é formado e se desenvolve. Começa no momento da fertilização do óvulo que, a partir de então, se passará a chamar zigoto. O zigoto sofre rápidas divisões mitóticas sem que haja um grande aumento de crescimento (processo denominado de clivagem e diferenciação celular), levando por fim ao desenvolvimento de um embrião. Este processo ocorre tanto em plantas como em animais, mas este artigo tem enfoque nas particularidades dos diferentes grupos animais. Endoderma: É um folheto embrionário que tem como origem os macrô- meros da blástula, que se dobram para dentro da blastocele, dando origem ao arquêntero e ao blastóporo. Dela se originam, por exemplo, os órgãos do aparelho digestivo e o revestimento interno do sistema respiratório. Endométrio: Membrana que reveste a cavidade uterina e responde aos hormônios femininos durante o ciclo menstrual e a gravidez. O endométrio sofre transformações cíclicas que caracterizam a menstruação. Quando a fertilização é bem sucedida, serve para sustentar o embrião em desenvolvimento. Epêndima: Membrana delgada que reveste os ventrículos cerebrais e o canal central da medula espinhal. Estereognosia: É a habilidade de reconhecer ou identificar a forma e os con- tornos dos objetos através do tato. Filogênese: (grego: phylon = tribo, raça e genetikos = relativo à gênese = origem). É o termo comumente utilizado para hipóteses de relações evolutivas (ou seja, relações filogenéticas) de um grupo de organismos, isto é, para determinar as relações ancestrais entre espécies conhecidas (as que vivem e as extintas). Formação reticular: Rede difusa de neurônios de tamanhos diferentes que ocupa a parte ventral do tronco encefálico. Gânglios parassimpáticos: Aglomerados de corpos de neurônios fora do Sistema Nervoso Central (SNC) cuja função é regular o funcionamento visceral. As fibras que conduzem os impulsos têm eflúvios crânio-sacrais. Os órgãos visce- rais são inervados por uma cadeia de dois neurônios: um neurônio pré-ganglionar, cujo corpo fica localizado dentro do SNC, e outro neurônio pós-ganglionar, cujo corpo celular fica localizado próximo à coluna vertebral (paravertebral). A ativida- de parassimpática causa efeitos relacionados às funções de economia e obtenção de energia (repouso, saciedade e digestão). Gânglios simpáticos: Aglomerados de corpos de neurônios fora do SNC, cuja função é regular o funcionamento visceral. As fibras que conduzem os im- pulsos têm eflúvios tóraco-lombares. Os órgãos viscerais são inervados por uma cadeia de dois neurônios: um neurônio pré-ganglionar, cujo corpo fica localizado 19 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O dentro do SNC, e outro neurônio pós-ganglionar, cujo corpo celular fica localizado dentro ou próximo ao órgão efetor (víscera). Os gânglios simpáticos são recrutados sempre que o organismo encontra-se numa situação de emergência, como lutar ou fugir, ou seja, quando tem que responder a estímulos, desencadeando gasto de energia (situações de estresse). Gânglios: Dá-se o nome de gânglio para qualquer aglomerado de corpos celulares de neurônios encontrados fora do Sistema Nervoso Central (dentro do Sistema Nervoso Central, estes aglomerados são conhecidos como núcleos). Goteira neural: Espessamento da placa neural que cresce progressiva- mente durante o desenvolvimento embrionário, como evolução do tubo neural. Esta adquire um sulco longitudinal denominado sulco neural, que se aprofunda para formar a goteira neural. Os lábios da goteira neural se fundem para formar o tubo neural. Inervação motora: Nervos que deixam o sistema nervoso para atingir e controlar as funções periféricas. Também conhecidos como neurônios eferentes. As eferências motoras exercem controle sobre o músculo esquelético, enquanto que a eferência vegetativa exerce controle sobre o sistema nervoso autônomo que inerva músculos lisos, glândulas, músculo estriado cardíaco etc. Líquor: O líquido cefalorraquidiano (LCR), fluido cerebrospinal, ou líquor , é um fluido corporal estéril e de aparência clara, produzido pelas células ependimárias, que forram os ventrículos encefálicos, e que ocupa o espaço subaracnóideo no cérebro (espaço entre o crânio e o córtex cerebral — mais especificamente entre as meninges aracnóide e pia-máter). É uma solução salina muito pura, pobre em proteínas e células e age como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Mesoderma: É um folheto embrionário que se forma durante a neurulação no embrião dos animais triploblásticos (os outros dois folhetos são a ectoderme e a endoderme). A mesoderme consiste num folheto embrionário, situado entre a endo- derme e a ectoderme. A partir da mesoderme, por multiplicação e diferenciação celular, originam-se, por exemplo, o esqueleto, os músculos e os sistemas circulatório, excretor e reprodutor. Mielinização: Formação da bainha de mielina ‒ invólucro principalmente lipídico (também possui como constituinte a chamada proteína básica da mielina), que atua como isolante térmico e elétrico nos neurônios e facilita a transmissão do impulso nervoso. A bainha de mielina dos axônios é formada por um dos seguintes tipos celulares: célula de Schwann (encontrada apenas no sistema nervoso periférico) ou oligodendrócito (encontrado apenas no Sistema Nervoso Central). Morfologia: É o estudo da forma dos seres vivos ou de parte deles. Este estudo pode ser dividido em: Anatomia (visão macroscópica) e Histologia (visão microscó- pica). É uma ferramenta fundamental para a identificação e classificação das espécies. 20 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Nervos: É um feixe de fibras nervosas, constituído de axônios e dendritos. Os nervos fazem parte do sistema nervoso periférico. Nervos aferentes conduzem sinais sensoriais (da pele ou dos órgãos dos sentidos, por exemplo) parao Sistema Nervoso Central, enquanto nervos eferentes conduzem sinais estimulatórios do Sistema Nervoso Central para os órgãos efetores, como músculos e glândulas. Neurônios pós-ganglionares: Neurônios cujos corpos estão nos gânglios e as terminações estão nas vísceras ou nos órgãos efetuadores. No sistema nervoso sim- pático, o neurotransmissor produzido por eles é a noradrenalina (ou norepinefrina) e, no sistema nervoso parassimpático, o neurotransmissor utilizado para estimular as vísceras é a acetilcolina. Neurônios pré-glanglionares: Neurônios cujos corpos estão na medula espinhal ou no tronco encefálico e as terminações estão nos gânglios para estimular os neurônios pós-ganglionares. Em ambos os tipos de fibras, simpáticas ou parassimpáti- cas, o neurotransmissor produzido pelos neurônios pré-ganglionares é a acetilcolina. Notocórdio: O notocórdio ou corda dorsal é uma estrutura alongada que se forma no embrião dos animais do filo cordado entre o tubo digestivo e a medula espinal. Embora nessa fase o notocórdio possa ser considerado como um primeiro “esqueleto” – e de fato continua a funcionar como tal nas mixinas no anfioxo (Cephalochordata) e nas lampreias – não deve ser confundido com a coluna verte- bral dos restantes animais adultos do grupo dos Vertebrata. Núcleos: Aglomerados de substância cinzenta, formados por um conjunto de corpos de neurônios localizados no meio da substância branca do Sistema Nervoso Central. Pia-máter: Uma das membranas que formam as meninges, lâminas protetoras do encéfalo. É a mais sensível das membranas e reveste todo o Sistema Nervoso Central. Membrana mais interna, delgada, aderida aos centros nervosos. Placa alar: A parte posterior do tubo neural. Placa basal: A peça anterior do tubo neural. Placa neural: A placa neural aparece como um espessamento na linha média do ectoderma embrionário, em posição cefálica ao nó primitivo. A placa neural é induzida a formar-se pelo desenvolvimento da notocorda e do mesênquima que lhe é adjacente. Um sulco neural, longitudinal, forma-se na placa neural; o sulco neural é flanqueado pelas pregas neurais, que se juntam e se fundem para originarem o tubo neural. O desenvolvimento da placa neural e o seu dobramento para formar o tubo neural são chamados neurulação. Plexos nervosos: Entrelaçamento de fibras nervosas sem perder a individualidade. Poríferas: É um filo do reino Animália, sub-reino Parazoa, onde se enquadram os animais conhecidos como esponjas. 21 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O Propriocepção: Também denominado de Cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orien- tação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno. Protoplasma: Diz-se do líquido contido nas células vegetais ou animais. Qualquer substância contida no interior das células. Protoplasma é a parte viva da célula. É um sistema físico-químico de natureza coloidal e pode passar facilmente do estado sólido ao líquido. Os principais constituintes químicos do protoplasma são as proteínas (ácidos aminados, polipeptídeos etc.), os carboidratos, os lipídios, as substâncias mine- rais e a água. Sensibilidade vibratória: Percepção de vibrações ou variações de intensidade do contato com a pele. Sistema neural autônomo: É a parte do sistema nervoso que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções viscerais como respiração, circulação do sangue, controle de temperatura e digestão, que mantêm o organismo vivo. Sistema neural: É o responsável pelo ajustamento do organismo ao ambiente. Sua função é perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo e elaborar respostas que adaptem a essas condições. A unidade básica do sistema nervoso é a célula nervosa, denomi- nada neurônio, que é uma célula extremamente estimulável; é capaz de perceber as mínimas variações que ocorrem em torno de si, reagindo com uma alteração elétrica que percorre sua membrana. Essa alteração elétrica é o impulso nervoso. As células nervosas estabelecem conexões entre si, de tal maneira que um neurônio pode trans- mitir a outros os estímulos recebidos do ambiente, gerando uma reação em cadeia. Somitos: São blocos que se segmentam por indução da notocorda e se distribuem ao seu lado. Os somitos originam ossos, músculos e derme do tronco. O primeiro somito aparece no 20º dia de vida, e os seguintes surgem a cada 8 horas na sequência ou três somitos a cada 24 horas. Substância branca: Tecido nervoso formado predominantemente por axônios mielinizados e células da glia. Nas peças anatômicas naturais, tem co- loração mais clara. Substância cinzenta: Tecido nervoso formado predominantemente por corpos de neurônios (fibras mielinizadas) e células da glia, podendo conter seg- mentos ainda desmielinizados de neurônios (axônios ou dendritos). Nas peças anatômicas naturais, tem coloração escurecida (acinzentada). 22 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Sulco: Depressões ou invaginações na superfície do sistema nervoso. As formações mais comuns de sulcos estão no córtex cerebral, onde cada giro é separado por estas invaginações. Teto do mesencéfalo: A parte dorsal ou tecto do mesencéfalo consiste em quatro pequenas elevações, os pares dos colículos inferiores e dos colículos superiores, denominados de corpos quadrigêmeos. Localiza-se posteriormente ao aqueduto mesencefálico. Tegmento: Região ventral do mesencéfalo, localizada anteriormente ao aqueduto mesencefálico (aqueduto de Sylvius) e posteriormente aos pedúnculos cerebrais. Terminações nervosas: Prolongamento dos neurônios que captam estí- mulos na pele, nos órgãos sensitivos ou nas vísceras (nos neurônios sensitivos), ou que estimulam os órgãos efetuadores com os neurotransmissores. Tratos, fascículos, lemniscos: Feixe de fibras nervosas, situado dentro do SNC (substância branca), que interligam regiões diferentes do SNC. Vias: Cadeias de vários neurônios funcionalmente relacionados. Referências CARDOSO, S. H. O.; SABBATINI, R. M. E. Aprendizagens e mudanças no cérebro. Revista Cérebro e Mente. n. 11, Campinas: EDUMED, 2000. CARNEIRO, M. A. Atlas e texto de neuroanatomia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2004. DUVERNOY, H. M. The human hippocampus. 2. ed. Berlin: Springer- Verlag, 1998. GOULD, S. J. The structure of the evolutionary theory. Cambridge: The Belknap Press of the Harvard University Press, 2002. GRAY, H.; GROSS, C. M. Anatomia. 29. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. KANDEL, E. R; SCHWARTZ, J. H; JESSELL, T. M. (Eds.). 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A conexão do neurônio sensitivo com o neurônio motor se faz por meio de sinapse, caracterizando-se, assim, os elementos básicos de um arco ref lexo simples, ref lexo chamado segmentar. O neurônio motor une o sistema neural ventral dos platelmintos e dos anelídeos aos músculos situados profundamente. O surgimento do neurônio de associação representa um passo dos mais importantes na filogênese para aumento da complexidade e desenvolvimento funcional do sistema neural. Evolutivamente, o aparecimento do neurônio de associação viabilizou a interação de um segmento corpóreo com outro: o axônio do neurônio sensitivo passou a fazer sinapse com o neurônio de associação que, por sua vez, ao fazer sinapse com o neurônio motor do segmento vizinho, possibilitou o surgimento do arco ref lexo intersegmentar. Esse conjunto dos três neurônios básicos do sistema neural já é observado nos platelmintos e anelídeos. É interessante notar que mesmo na espécie Homo sapiens funcionalmente existem apenas estes três neurônios (aferente, de associação e eferente). O elemento mais simples que possui um sistema neural básico, porém completo, é a hidra. 24 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia A integração anatômica dos níveis segmentares e dos neurônios de associação intersegmentares passou a constituir a medula espinhal e cranialmente a esta se de- senvolveram centros nervosos que controlam o funcionamento do corpo e as suas reações ao meio ambiente. Esses agrupamentos neuronais passaram a constituir os equivalentes do futuro tronco encefálico e do hipocampo e, em conjunto com a medula espinhal, compuseram o sistema neural central mais básico e comum a todas as espécies, já existentes nos primeiros animais vertebrados, que foram os peixes mais primitivos. Os agregados neuronais dispostos centralmente e ao longo das porções mais superiores do segmento correspondente ao tronco encefálico vieram constituir a chamada formação reticular, que nos elementos mais primitivos é, principalmente, responsável pela regulação postural por meio de influências retículo-espinhais e pelo controle de funções orgânicas, juntamente com o hipotálamo. Posteriormente, com o desenvolvimento de estruturas neurais mais superiores, a formação reticular veio a ser também responsável pelo ciclo sono-vigília e por mecanismos relaciona- dos com a atenção por meio da atuação do sistema reticular ativador ascendente. O conglomerado neuronal provavelmente corresponde à porção filogeneticamente mais antiga do encéfalo e, desde os seus primórdios, exerceu o controle interno dos diferentes organismos por meio da atividade neurossecretória, sendo responsável pelo controle do metabolismo da água e dos eletrólitos, da termorregulação e do sistema nervoso autonômico, pela ingestão de alimento e pelo controle endócrino já nos vertebrados primitivos. 2.2 Desenvolvimento encefálico dos mamíferos Os elementos marinhos evoluíram, vindo a constituir os anfíbios e os répteis primitivos, que então ousaram sair do mar há aproximadamente 350 milhões de anos. Sair do oceano constituiu, para esses elementos, um desafio de enormes proporções, uma vez que requereu mudanças significativamente necessárias principalmente para vencer o próprio peso, evitar a perda excessiva de líquidos e modificar a maneira de respirar, o que causou o desenvolvimento de novos meios de reprodução e de maneiras distintas de perceber e se relacionar com o mundo externo. Entre as várias mudanças desencadeadas pelas incursões terrestres, as forças evolutivas causaram no sistema neural o desenvolvimento progressivo dos lobos olfatórios, que fizeram do olfato a primeira modalidade sensorial de percepção no mundo externo. As áreas responsáveis por esta função constituem o córtex muito antigo (arquicórtex – úncus e giro parahipocampal). Simultaneamente, os desenvolvimentos dos primórdios das estruturas que vieram a originar o complexo amigdalóide e o hipocampo, em conexão com o hipotálamo, torna- ram o comportamento destas espécies novas mais complexo e mais aprimorado. 25 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O Nos anfíbios, o hipocampo é ainda muito rudimentar, correspondendo somente à porção mais dorsomedial da parte anterior do seu cérebro, ao passo que nos répteis já surge o aspecto laminar cortical mais primitivo e denominado de arquicórtex. As amígdalas se formam por meio da confluência de vários núcleos ao longo da filogênese. Situadas anteriormente a cada hipocampo já nos animais mais primi- tivos, recebem basicamente eferências olfatórias e se relacionam principalmente com os próprios hipocampos (área relacionada com a memória, entre outras funções) e com o hipotálamo. Devido ao surgimento imbricado das estruturas olfatórias, hipocampais e do complexo amigdalóide, a primeira modalidade de memória adquirida pelos verte- brados mais primitivos foi a memória olfativa, o que permitiu a estes indivíduos identificarem o território, os indivíduos do sexo oposto e do mesmo sexo, presas e predador, nutrientes e elementos venenosos. Os elementos primordiais do cerebelo e tratos (feixes) espino-cerebelares também começam a se mostrar mais idênticos nos feixes primitivos, principalmente à medida que estes desenvolvem as musculaturas dos membros (nadadeiras). Este conglomera- do neuronal cerebelar primitivo equivale ao vermis dos vertebrados mais evoluídos. Sobre essa constituição básica e fundamentalmente segmentar do sistema neural central dos primeiros vertebrados, as forças evolutivas desencadearam a continuidade do desenvolvimento neural em função dos eventos a que estes elementos e os descen- dentes vieram a ser submetidos. Entre esses eventos destacam-se incursão terrestre que estes seres marinhos vieram a efetuar e o ulterior desenvolvimento dos mamíferos, que culminou com o surgimento dos primatas e do ser humano. Os hipocampos e as estruturas que com eles se desenvolveram com a evolução dos mamíferos (fórnices, áreas corticais adjacentes) são denominados de formação hipocampal e, do ponto de vista funcional, tornaram-se os responsáveis pela aquisição da capacidade de armazenar informações, viabilizando, portanto, o que se conceitua como memória e aprendizagem. Paralelamente ao aprofundamento dos músculos e ao desenvolvimento de dife- rentes receptores sensitivos, nos platelmintos e anelídeos, o sistema de coordenação, antes difuso, passa a se agrupar, caracterizando a centralização do sistema neural, diferente do sistema neural difuso observado até então. Essa centralização aparente- mente foi consequente das forças da seleção natural, dada a maior vulnerabilidade das estruturas superficiais e a necessidade de coordenação de respostas mais complexas. Caracteriza-se pela presença de aglomerados celulares chamados gânglios. Estes são unidos por feixes de axônios chamados interganglionares, e todas estas estruturas ocupam uma posição ventral nos invertebrados. Quando a filogenia do córtex cerebral é analisada, percebem-se três fases diferentes no surgimento desta estrutura primordial para o desenvolvimento de habilidades, cada vez mais complexas no reino animal, inclusive no ser humano. 26 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Assim, tem-se o córtex muito antigo (arquicórtex),representado pelo úncus e giro parahipocampal, um córtex antigo (paleocórtex), representado pelo hipocampo, e o neocórtex, que compreende a maior parte do córtex nos mamíferos, inclusive no ser humano. As amígdalas se relacionam funcionalmente com a origem das emoções, que nos animais primitivos dizem respeito basicamente às reações do tipo alerta, de fuga e vegetativa e que visam fundamentalmente a sobrevivência e a manutenção da espécie. Por ocasião do desenvolvimento do neocórtex, desenvolvem-se inter-relações prin- cipalmente entre as amígdalas e as porções mais anteriores dos hemisférios cerebrais (áreas pré-frontais). 2.3 Memória A memória refere-se aos processos mentais que nos permitem adquirir, reter e recuperar informações. Quando um indivíduo modifica seu comportamento em resposta à experiência, diz-se que esta é uma resposta aprendida. Mas, este tipo de aprendizado depende da capacidade do organismo em reter a informação (memória) por um longo prazo. Desta forma, percebemos que a memória e o aprendizado estão intimamente interligados. A memória compreende três processos fundamentais: a codificação, o armaze- namento e a recuperação. A codificação é definida como o processo de transformar a informação, de tal forma que possa ser introduzida e retida pelo sistema da memória. O armazenamento é o processo de reter informações na memória de modo que possam ser utilizadas posteriormente. A recuperação implica em resgatar infor- mações armazenadas. As informações sensoriais podem alcançar o nosso SNC (Sistema Nervoso Central) e gerar memórias que podem ser de três tipos básicos: emocional (sen- timentos), declarativa (fatos, eventos, conceitos, localizações) e procedimental (como fazer). 1. A memória emocional envolve, por exemplo, a memória para o medo, que está relacionada com a amígdala, e lesões dos outros dois sistemas de memória não afetam o sistema de memória emocional. 2. A memória declarativa, consciente, explícita ou cognitiva refere-se às lem- branças que podem ser verbalizadas e exige atenção durante a lembrança. Refere-se à informação que pode ser conscientemente relembrada. Os estágios da memória declarativa são caracterizados por: Capacidade – a quantidade de memória que pode ser armazenada; Duração – por quanto tempo a informação pode ser armazenada; Função – o que é feito com a informação armazenada. 27 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O A memória declarativa possui três estágios: a. Memória imediata (sensorial) - dura apenas frações de segundo, de um a dois segundos. Esse tipo de memória registra um grande número de informações do meio. A informação é processada pelas áreas sensoriais primárias e pelas áreas de associação sensorial do córtex. As informações selecionadas pela memória sensorial são importantes porque são transferidas para a memória de curto prazo. b. Memória de curto prazo (de trabalho) - constitui-se num breve armaze- namento dos estímulos que foram reconhecidos. Constitui-se no sistema de trabalho ativo da memória. A perda da informação ocorre em cerca de um minuto. c. Memória de longo prazo - é o armazenamento permanente da informação que foi processada pela memória de curto prazo. 3. A memória procedimental, ou habilidade, hábito, memória não cons- ciente, ou memória implícita, refere-se às lembranças de habilidades e hábitos. Uma vez que a habilidade seja aprendida, a atenção não é mais necessária durante a realização da tarefa. Glossário Amígdalas: Também chamado núcleo amigdalóide, é um dos núcleos da base. Situa-se no lobo temporal, próximo ao úncus e em relação com a cauda do núcleo caudado. É constituído de numerosos subnúcleos e suas conexões são extremamente amplas e complexas. A maioria de suas fibras eferentes agrupa-se em um feixe compacto, a estria terminal, que acompanha a curvatura do núcleo caudado e termina principalmente no hipotálamo. O corpo amigdalóide está diretamente ligado a um grupo de neurônios da região hipocampal, que registra todas as circunstâncias ao nosso redor e que desencadearam a ansiedade, a fim de evitá-la num segundo momento. Arco reflexo intersegmentar: É aquele em que são utilizados múltiplos segmentos do SNC, participando do circuito o receptor, o neurônio aferente, a sinapse com o neurônio internuncial, o neurônio internuncial, a sinapse com o neurônio eferente, o neurônio eferente e o órgão efetuador. A resposta de pro- priocepção consciente é um bom exemplo desse tipo de reflexo, pois potenciais de ação sensoriais podem penetrar na medula lombar e ainda percorrer todo o trajeto da medula até atingir o córtex cerebral. A resposta motora retorna aproxi- madamente ao longo da mesma via intersegmentar. Arco reflexo simples: Também chamado de arco reflexo segmentar, é aque- le em que o arco reflexo passa através apenas de um pequeno segmento do SNC, 28 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia participando deste circuito o receptor, o neurônio aferente, a sinapse no SNC, o neurônio eferente e o órgão efetuador. São exemplos de reflexos segmentares: o re- flexo luminoso pupilar e o reflexo miotático. Arquicórtex: No homem, o arquicórtex aparece no hipocampo e está en- volvido com os comportamentos instintivos, que são transmitidos geneticamente, pois são inerentes a uma espécie – a humana, no caso. Atividade neurossecretória: Produção de neuropeptídeos denominados neurotransmissores, que promovem a comunicação entre neurônios. Existem diversos tipos de neurotransmissores produzidos no Sistema Nervoso Central, alguns com atividade excitatória (promovem a propagação dos estímulos) e outros com atividade inibitória (bloqueiam a propagação dos estímulos). Complexo amigdalóide: Situado no lobo temporal, próximo ao úncus, é parte do sistema límbico, considerado o alarme cerebral, responsável pelo comportamento de “luta ou fuga”. Em forma de C, intimamente relacionado aos ventrículos laterais, lateralmente ao tálamo, o núcleo caudado é subdividido em cabeça, corpo e cauda. A cauda do núcleo caudado possui uma estrutura arredondada pertencente ao sistema límbico, denominado corpo amigdalóide. Geralmente, toda descarga do complexo amigdalóide envolve uma situação de agressividade com atenuação dos efeitos pelo córtex pré-frontal. Indiretamente, pela via hipotalâmica, o complexo amigdalóide ajusta os sistemas biológicos para reações de alarme: alteram frequência cardíaca, frequência respiratória, motilidade do trato gastrointestinal, midríase e secreções hormonais. Formação reticular: É uma região evolucionária antiga, que apresenta uma estrutura intermediária entre a substância branca e a substância cinzenta. Ocupando a parte central do tronco encefálico, a formação reticular projeta-se cranialmente um pouco para dentro do diencéfalo e caudalmente à porção mais alta da medula espinhal. É uma parte do cérebro que está envolvida em ações, como o ciclo de despertar/sono e a filtragem de estímulos sensoriais, para discriminar os estímulos relevantes dos estímulos irrelevantes. Sua principal função é ativar o córtex cerebral. Hidra: Seres do filo celenterado, aquáticos e que vivem principalmente no mar. A hidra vive presa a um suporte, por exemplo, no fundo do mar ou sobre rochas. Todos os celenterados têm o corpo formado por duas camadas de células, interligadas por uma substância chamada mesogleia, que dá ao animal uma apa- rência gelatinosa. Hipocampo: O hipocampo é uma estrutura complexa que ocupa a porção medial do assoalho do corno temporal, formando um arco ao redor do mesencéfa- lo. Anatomicamente, pode ser dividido em cabeça, corpo e cauda. O hipocampo, que está localizado na base do lobo temporal, limita-se com a cisternaambiens, 29 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O continuando-se pelo úncus medialmente. Inferiormente, repousa sobre o giro para-hipocampal e lateralmente relaciona-se com a fissura colateral e com o giro fusiforme. Denomina-se formação hipocampal o subículo, o hipocampo (cornu ammonis), citoarquiteturalmente dividido em quatro setores, e o giro denteado. O hipocampo é uma estrutura pertencente ao sistema límbico, importante para a consolidação da memória recente. O armazenamento da memória de longo prazo está relacionado ao córtex cerebral. Hipotálamo: O hipotálamo, que é parte integrante do diencéfalo, é formado por inúmeros núcleos mal definidos. Constitui a parte inferior das paredes laterais e a base do terceiro ventrículo; é limitado anteriormente pelo quiasma óptico e dorsalmente pelo sulco hipotalâmico e pelo tálamo, constituindo a cápsula interna, os núcleos subtalâmicos, o pedúnculo da base e os limites laterais. Na sua superfície inferior, o hipotálamo é contínuo com o infundíbulo (haste pituitária). O hipotálamo coordena muitas atividades, regula funções vitais que variam com os estados emocionais, como por exemplo, a temperatura, os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, a sensação da sede e de fome, e controla também todo o siste- ma endócrino (ajustamentos endócrinos em situações de emergência) através de uma glândula controlada por ele – a hipófise. Lobos olfatórios: Os bulbos e os tratos olfatórios são uma parte do rinencéfalo ou paleoncéfalo olfativo. Os tratos olfatórios situam-se no sulco olfatório na superfície orbital dos lobos frontais. Uma raiz sensitiva, onde ter- minam as fibras aferentes viscerais especiais, constituído de filamentos desmie- linizados com função olfatória, forma o único nervo do corpo a manter contato direto com o ambiente. Neocórtex: Preenche as demais regiões do cérebro, indo desde o giro do cíngulo (centro das emoções e dos comportamentos cognitivos) até a zona corti- cal exterior, onde são comandados os sentidos. O neocórtex lida essencialmente com informações aprendidas, sendo nessa zona do cérebro que se processam os estímulos elétricos eliciadores dos movimentos que dependem do aprendizado (agarrar, soltar, correr, bater, escrever, pensar, racionalizar, raciocinar, bem como está envolvido também com a percepção da dor, do frio, do tato etc.). Neurônios de associação: Neurônios que fazem conexões entre outros neurônios dentro do Sistema Nervoso Central. Em geral, fazem uma ponte entre várias áreas do Sistema Nervoso Central, promovendo a integração funcional entre estas áreas. Exemplo: o arco ref lexo multissegmentar é possível graças à associação entre segmentos medulares distantes, promovida pelos neurônios de associação. Paleocórtex: O paleocórtex é formado pelo giro para-hipocampal e lida com informações mistas, tanto aprendidas como transmitidas geneticamente. 30 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia Retículos espinhais: Feixes de fibras nervosas que deixam a formação reticular em direção à medula espinhal. Sistema reticular ativador ascendente: Sistema de células da forma- ção reticular que atuam em sentido ascendente, através do diencéfalo, sobre o córtex cerebral, possuindo também vias descendentes que inf luenciam os sistemas sensitivo-motores da medula espinal. As distintas vias senso- riais dirigem, portanto, seus impulsos, desde os órgãos sensoriais até o córtex, passando pela formação reticular. O sistema ativador reticular ascendente (SAR A) intervém na regulação do estado de vigília. Isso significa que as percepções apenas se tornam conscientes quando o córtex é estimulado por impulsos contínuos procedentes da formação reticular. Quando alguns núcle- os da formação reticular inibem a chegada de estímulos sensitivos ao córtex, fecha-se a passagem de impulsos que mantêm o córtex sensorial ativo, bem como algumas áreas relacionadas às atividades intelectuais e à consciência. O desligamento desta grande área cortical é caracterizado como estado de sono. A manutenção do estado de vigília (ou acordado, consciente) é fruto da ativação do córtex encefálico pelo sistema reticular ativador ascendente. Tratos: Feixes de neurônios dentro do Sistema Nervoso Central que têm a mesma origem, mesmo trajeto, mesmo destino e atuam em uma função comum. No sistema nervoso periférico, os tratos recebem a denominação de nervos. Vegetativas: Referem-se às vísceras; funções viscerais. Vermis: Parte mediana do cerebelo que faz saliência na face superior do órgão entre os dois hemisférios (vermis superior) e que se afunda na grande fenda mediana do cerebelo na face inferior (vermis inferior). Da frente para trás, e de cima para baixo, o vermis está dividido em nove lóbulos: língula, ló- bulo central, culmen, declive, folium, tuber, pirâmide, úvula e nódulo. Referências CARDOSO, S. H. O.; SABBATINI, R. M. E. Aprendizagens e mudanças no cérebro. Revista Cérebro e Mente. n. 11. Campinas: EDUMED, 2000. CARNEIRO, M. A. Atlas e texto de neuroanatomia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2004. DUVERNOY, H. M. The human hippocampus. 2. ed. Berlin: Springer-Verlag,1998. 31 N E U R O C IÊ N C IA E E D U C A Ç Ã O GOULD, S. J. The structure of the evolutionary theory. Cambridge: The Belknap Press of the Harvard University Press, 2002. KANDEL, E. R; SCHWARTZ, J. H; JESSELL, T. M. (Eds.). Principles of neu- ral science. 3. ed. New York: Elsevier, 1991. MACHADO, A. 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Como pudemos nos organizar em grupos socialmente distintos, adaptados perfeitamente em cada região habitada do planeta e, além disso, termos conseguido sobreviver com todas as transformações que as dinâmicas geográficas infringiram aos nossos antepassados durante o período de existência da espécie humana? Essas questões remetem a um fator intrínseco do nosso desenvolvimento que, ao longo de gerações, aprimorou nossa capacidade de discernimento e de compreensão dos fatores ambientais que nos cercam, contribuindo para nossa sobrevivência indi- vidual e coletiva. A princípio, como nos outros animais do planeta, somos dotados de reflexos e percepções que nos permitem reconhecer e reagir em situações de perigo e, ainda, a mudanças ambientais que requerem adaptação. Esses mecanismos estão presentes em qualquer fase de nossa vida, porém, são mais evidentes em nossos pri- meiros anos, quando ainda não adquirimos experiência e nem memória dos padrões de reações necessários a cada situação. E também quando ainda não desenvolvemos a capacidade de controlar racionalmente essas reações, como exigência das convenções 32 t e c n o l o g ia s a p l ic a d a s a o e n s in o d e b io l o g ia sociais. Alguns autores chamam esses mecanismos de instinto e acreditam que eles são acionados um a um, assim que o bebê recém-nascido começa a registrar a existên- cia de um mundo externo. É importante ressaltar que alguns
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