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1 2 A bioquímica e sua importância na nutrição Para compreender a estrutura é necessário entender as partes menores. Por exemplo: para entender a estrutura de uma proteína é necessário entender os aminoácidos. A compreensão estrutural fornece a base para a compreensão do metabolismo. Como no mapa abaixo: A Bioquímica é a parte da Biologia responsável pelo estudo das estruturas, da organização e das transformações moleculares que ocorrem na célula. 3 Em cada ponto, está representado o produto de uma reação, onde o produto de uma reação dá origem a próxima, gerando o metabolismo, os quais estão interconectados. Olhando o mapa com o foco no paciente (executivo, diabético, obeso, atleta, entre outros), podemos responde algumas questões: Qual o metabolismo desse paciente? Quais vias metabólicas são mais ativas? Como distribuir os macronutrientes para esse determinado paciente? Como a distribuição desses macronutrientes vai alterar essas vias? 4 Diferentes condições de vida do paciente influenciam na resposta dietética. Essas condições são influenciadas pelo DNA, alimentação, tipo de exercício físico, nível de estresse, entre outros. Devem-se levar em consideração todas essas condições na hora de avaliar o paciente metabolicamente. Outro ponto importante é avaliar os estudos da área com responsabilidade para saber a real necessidade e efetividade dos suplementos e alimentos que estão no mercado. Tendo na bioquímica a resposta. Sendo assim, com as ferramentas bioquímicas é possível realizar uma melhor conduta nutricional para o paciente. Principais compostos orgânicos e suas funções biológicas Quais são os principais compostos orgânicos? 5 Carboidratos: maior parte formada por polissacarídeos, os quais são formados por dissacarídeos, os quais por sua vez são formados por monossacarídeos. Lipídeos: os de armazenamento são conhecidos como triglicerídeos formados por ácidos graxos e glicerol. Proteínas: são polipeptídios formados pela união de diversos aminoácidos. Ácidos nucleicos: RNA e DNA formados pelos nucleotídeos. Compostos de alta energia: o mais estudado é o ATP, que é formado por nucleotídeos e grupamentos fosfatos. Estrutura dos carboidratos Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes na Terra. A cada ano, a fotossíntese converte mais de 100 bilhões de toneladas métricas de CO2 e H2O em celulose e outros produtos vegetais. Alguns carboidratos (açúcar e amido) são o principal elemento da dieta em muitas partes do mundo, e sua oxidação é a principal via de produção de energia na maioria das células não fotossintéticas. • COMPOSIÇÃO: C, H, O; • FÓRMULA GERAL: (C.H2O)n, (n entre 3 e 9); • POLIIDROXIALDEÍDOS OU POLIIDROXICETONAS. Existem três classes principais de carboidratos: Monossacarídeos, ou açúcares simples, são constituídos por uma única unidade poliidroxicetona ou poliidroxialdeído. O monossacarídeo mais abundante da natureza 6 é o açúcar de 6 carbonos D-glicose, algumas vezes referido como dextrose. Monossacarídeos de quatro ou mais carbonos tendem a formar estruturas cíclicas. Isômeros: a glicose e a frutose são isômeros por conterem a mesma forma molecular, porém, estrutura química diferentes. A glicose é uma aldose o grupamento funcional aldeído está no carbono número 1. Enquanto que a frutose é uma cetose, onde o grupamento funcional cetona está localizado no carbono número 2. Isso traz consequências ao metabolismo, pois os grupos funcionais são diferentes e são reconhecidos por enzimas funcionais diferentes. C C C C C CH2 H O HO H OHH HO HO H H HO Glicose C C C C CH2 OHH HO HO H H HO O CH2 OH Frutose 7 Resumindo, quando o grupo carbonil está na extremidade da cadeia de carbonos (isto é, em um grupo aldeído), o monossacarídeo é uma aldose; quando o grupo carbonil está em qualquer outra posição (em um grupo cetona), o monossacarídeo é uma cetose. Exemplos de monossacarídeos que tem o grupo funcional aldeído: ALDOSES 3 CARBONOS 4 CARBONOS 5 CARBONOS 6 CARBONOS 8 Exemplos de monossacarídeos que tem o grupo funcional cetona: CETOSES Monossacarídeos com quatro, cinco, seis e sete átomos de carbono no esqueleto são chamados, respectivamente, de tetrose, pentoses, hexoses e heptoses. 3C TRIOSES 4C TETROSES 5C PENTOSES 6C HEXOSES 7C HEPTOSES 3 CARBONOS 4 CARBONOS 5 CARBONOS 6 CARBONOS 9 Qual a função dos monossacarídeos? Os oligossacarídeos consistem em cadeias curtas de unidades de monossacarídeos, ou resíduos, unidas por ligações características chamadas de ligações glicosídicas. Os mais abundantes são os dissacarídeos, com duas unidades de monossacarídeos. Um dissacarídeo típico é a sacarose (açúcar da cana), constituído pelos açúcares de seis carbonos D-glicose e D-frutose. Todos os monossacarídeos e dissacarídeos comuns têm nomes determinados com o sufixo “-ose”. Maltose – O-α-D-glicopiranosil-(1→4)-β-D-glicopiranose MONOSSACARÍDEO FUNÇÃO GLICOSE, FRUTOSE, GALACTOSE. ENERGIA RIBOSE ESTRUTURAL (RNA) DESOXIRRIBOSE ESTRUTURAL (DNA) 10 A formação da maltose. Um dissacarídeo é formado a partir de dois monossacarídeos (aqui, duas moléculas de D-glicose) quando um –OH (álcool) de uma molécula de glicose (à direita) se condensa com o hemiacetal intramolecular de outra molécula de glicose (à esquerda), com a eliminação de H2O e a formação de uma ligação glicosídica. O inverso desta reação é uma hidrólise – ataque da ligação glicosídica pela água. A molécula de maltose, mostrada aqui para ilustração, conserva um hemiacetal redutor no C-1 não envolvido na ligação glicosídica. Como a mutarrotação interconverte as formas α e β do hemiacetal, as ligações nesta posição algumas vezes são representadas por linhas onduladas, como mostrado aqui, para indicar que a estrutura pode ser tanto α quanto β. Outro exemplo de dissacarídeo: Lactose A maioria dos carboidratos encontrados na natureza ocorre como polissacarídeos, polímeros de médio a alto peso molecular. Os polissacarídeos, também chamados de glicanos, diferem uns dos outros na identidade das unidades de monossacarídeos repetidas, no comprometimento das cadeias, nos tipos de ligações unindo as unidades e no grau de ramificação. Os homopolissacarídeos contêm somente uma única espécie monomérica; os heteropolissacarídeos contêm dois ou mais tipos diferentes. Alguns homopolissacarídeos, como o amido e o glicogênio, servem como formas de armazenamento para monossacarídeos que são utilizados como combustíveis. Outros 11 homopolissacarídeos, como a celulose e a quitina, atuam como elementos estruturais em paredes celulares de plantas e em exoesqueletos de animais. Os heteropolissacarídeos proveem suporteextracelular para organismos de todos os reinos. Por exemplo, a camada rígida do envelope celular bacteriano (o peptídeoglicano) é parcialmente composta por um heteropolissacarídeo construído por duas unidades alternadas de monossacarídeo. Mais de 10000 unidades de monossacarídeos Polissacarídeos de reserva: Os polissacarídeos de armazenamento mais importantes são o amido, em células vegetais, e o glicogênio, em células animais. O amido contém dois tipos de polímero de glicose, amilose e amilopectina. A amilose consiste de cadeias longas, não ramificadas, de resíduos de D-glicose conectado por ligação (α1→4) (como na maltose). O glicogênio é o principal polissacarídeo de armazenamento das células animais. Como a amilopectina, o glicogênio é um polímero de subunidade de glicose ligadas por ligações (α1→4), com ligações (α1→6) nas ramificações; o glicogênio, porém, é mais ramificado extensivamente (em média a cada 8 a 12 resíduos) e mais HOMOPOLISSACARÍDEOS HETEROPOLISSACARÍDEOS Linear Ramificado Linear Ramificado 12 compacto do que o amido. O glicogênio é especialmente abundante no fígado, onde pode constituir até 7% do peso líquido; ele também está presente no músculo esquelético. A celulose, uma substância fibrosa, resistente e insolúvel em água, é encontrada na parede celular de plantas, particularmente em caules, troncos e todas as porções amadeiradas do corpo da planta, e constitui grande parte da massa da madeira e quase a totalidade da massa do algodão. Como a amilose, a celulose é um homopolissacarídeo linear e não ramificado, constituído por 10.000 a 15.000 unidades de D-glicose. 13 RESUMO Estrutura dos Aminoácidos e Proteínas As proteínas medeiam praticamente qualquer processo que ocorra em uma célula, exibindo uma diversidade de funções quase infinita. Para explorar o mecanismo molecular de um processo biológico, um bioquímico inevitavelmente estuda uma ou mais proteínas. Proteínas são as macromoléculas biológicas mais abundantes, ocorrendo em todas as células e em todas as partes das células. Proteínas também ocorrem em grande variedade; milhares de diferentes tipos podem ser encontrados em uma única célula. CARBOIDRATOS MONOSSACARÍDEOS (açúcares simples) DISSACARÍDEOS POLISSACARÍDEOS GLUCOSE FRUTOSE GALACTOSE MALTOSE SACAROSE LACTOSE AMIDO GLICOGÊNIO CELULOSE QUITINA 14 Aminoácidos Proteínas são polímeros de aminoácidos, com cada resíduo de aminoácido unido ao seu vizinho por um tipo específico de ligação covalente. (O termo resíduo reflete a perda dos elementos da água quando um aminoácido é unido ao outro). Proteínas podem ser quebradas (hidrolisadas) em seus aminoácidos constituintes por diversos métodos, e os estudos iniciais de proteínas naturalmente focaram-se nos aminoácidos livres derivados delas. Vinte diferentes aminoácidos normalmente são encontrados em proteínas. Estrutura geral de um aminoácido: Estrutura geral de um aminoácido. Esta estrutura, com comum a todos os α- aminoácido à exceção de um. (Prolina, um aminoácido cíclico, é a exceção). O grupo R, ou cadeia lateral, ligado ao carbono α é diferente em cada aminoácido. Todos os 20 aminoácidos comuns são α-aminoácido. Eles possuem um grupo carboxil e um grupo amino ligado ao mesmo átomo de carbono (o carbono α). Eles diferem uns dos outros em suas cadeias laterais, ou grupos R, os quais variam em estrutura, tamanho e carga elétrica, e influenciam a solubilidade dos aminoácidos em água. 15 1. Básicos: os grupos R mais hidrofílicos são aqueles carregados anto positivamente quanto negativamente. Os aminoácidos nos quais os grupos R possuem carga positiva significativa em pH 7,0 são a lisina, que possui um segundo grupo amino primário na posição ε de cadeia alifática; a arginina, que possui um grupo guanidina carregado positivamente; e a histidina, que possui um grupo aromático imidazol. 2. Apolares: com suas cadeias laterais aromáticas, são relativamente apolares (hidrofóbicos). Todos podem participar em interações hidrofóbicas. O grupo hidroxil da tirosina pode formar ligações de hidrogênio, sendo um importante grupo funcional em algumas enzimas. A tirosina e o triptofano são significativamente mais 1. Básicos 2. Apolares 3. Polares, não carregados 4. Ácidos 1 2 3 4 16 polares que a fenilalanina em decorrência do grupo hidroxil da tirosina e do átomo de nitrogênio do anel indólico do triptofano. 3. Polares, não carregados: os grupos R destes aminoácidos são mais solúveis em água, ou mais hidrofílicos, quando comparados àqueles de aminoácidos apolares, por que contêm grupos funcionais capazes de formar ligações de hidrogênio com a água. Esta classe de aminoácidos inclui serina, treonina, cisteína, asparagina e glutamina. 4. Ácidos: os dois aminoácidos que possuem grupos R com uma carga líquida negativa em pH 7,0 são o aspartato e o glutamato, cada um dos quais possuindo um segundo grupo carboxil. Abreviatura dos aminoácidos: AMINOÁCIDOS ABREVIATURAS TRÊS LETRAS UMA LETRA Alanina Ala A Arginina Arg R Asparagina Asn N Asparato Aso D Cisteína Cys C Fenilalanina* Phe F Glutamato Glu E Glutamina Gln Q Glicina Gly G Histidina His H Isoleucina* Ile I Leucina* Leu L Lisina* Lys K Metionina* Met M Prolina Pro P Serina Ser S Treonina* Thr T Triptofano* Trp W Tirosina Tyr Y Valina* Val V *Aminoácidos essenciais. 17 Proteínas Os polímeros de aminoácidos são os peptídeos e as proteínas. Polipetídeos de ocorrência biológica variam em tamanho, de pequenos a muito grandes, consistindo em dois ou três a milhares de resíduos de aminoácidos ligados. Os peptídeos são cadeias de aminoácidos. Duas moléculas de aminoácidos podem ser ligadas covalentemente através da formação de uma ligação amídica, denominada ligação peptídica , formando um dipeptídeo. Essa ligação é formada pela remoção dos elementos da água (desidratação) de um grupo α-carboxil de um aminoácido e o grupo α-amino de outro. A formação da ligação peptídica é um exemplo de reação de condensação, uma classe comum de reações nas células vivas. Formação de uma ligação peptídica por condensação. O grupo α-amino de um aminoácido (com o grupo R2) atua como nucleófilo para deslocar o grupo hidroxil de outro aminoácido (com o grupo R1), formando uma ligação peptídica (sombreada). Grupos amino são bons nucleófilos, mas o grupo hidroxil é um grupo de saída fraco e não é prontamente deslocado. Em pH fisiológico, a reação apresentada aqui não ocorre em quantidades mensuráveis. 18 Como citado anteriormente, uma unidade de aminoácido em um peptídeo geralmente é chamada de resíduo (a parte restante após a perda de um átomo de hidrogênio de seu grupo amino e de uma função hidroxil de seu grupo carboxil). Em um peptídeo, o resíduo de aminoácido na extremidade com um grupo α-amino livre é chamado de resíduo amino terminal (ou N-terminal); o resíduo na outra extremidade, o qual possui um grupo carboxil livre, é denominado resíduo carboxi terminal (C- terminal). Estrutura das proteínasA purificação de uma proteína é, com frequência, somente um prelúdio para uma dissecação bioquímica detalhada de sua estrutura e função. Para grandes macromoléculas tais como as proteínas, as tarefas de descrever e compreender sua estrutura constitui-se em abordagens em diferentes níveis de Estrutura primária Estrutura secundária Estrutura terciária Estrutura quaternária 19 complexidade, organizados em um tipo de hierarquia conceitual. Quatro níveis de estrutura de proteínas costumam ser definidos. Uma descrição de todas as ligações covalentes (principalmente ligações peptídicas e ligações dissulfeto) que conectam os resíduos de aminoácidos em uma cadeia polipeptídica está em sua estrutura primária. O elemento mais importante de sua estrutura primária é a sequência de resíduos de aminoácidos. A estrutura secundária refere-se a arranjos de aminoácidos particularmente estáveis, dando origem a padrões estruturais recorrentes. A estrutura terciária descreve todos os aspectos do dobramento tridimensional de um polipeptídio. Quando uma proteína possui duas ou mais cadeias polipeptídicas sua organização espacial é denominada estrutura quaternária. As diferenças na estrutura primária podem ser particularmente informativas. Cada proteína possui um número e uma sequência de aminoácidos distintos. A estrutura primária de uma proteína determina como ela se enovela em uma estrutura tridimensional única e esta, por sua vez, determina a função da proteína. Estrutura dos lipídeos Os lipídeos biológicos são um grupo de compostos quimicamente diversos, cuja característica em comum que os define é a insolubilidade em água. As funções biológicas dos lipídeos são tão diversas quanto a sua química. Gorduras óleos são as principais formas de armazenamento de energia em muitos organismos. Fosfolipídeos e esteróis são os principais elementos estruturais das membranas biológicas. Outros lipídeos, embora presentes em quantidades relativamente pequenas, desempenham papéis cruciais como cofatores enzimáticos, transportadores de elétrons, pigmentos fotossensíveis, âncoras hidrofóbicas para proteínas, chaperonas para ajudar no dobramento de proteínas de membrana, agentes emulsificantes no trato digestivo, hormônios e mensageiros intracelulares. 20 As gorduras e os óleos utilizados de modo quase universal como formas de armazenamento de energia nos organismos vivos são derivados de ácidos graxos. Os ácidos graxos são derivados de hidrocarbonetos, com estado de oxidação quase tão baixo (ou seja, altamente reduzido) quanto os hidrocarbonetos nos combustíveis fósseis. A oxidação celular de ácidos graxos (a CO2 e H2O), assim como a combustão controlada e rápida de combustíveis fósseis em motores de combustão interna, é altamente exergônica. Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos com cadeias hidrocarbonadas de comprimento variando de 4 a 36 carbonos (C4 a C36). Em alguns ácidos graxos, essa cadeia é totalmente saturada (não contém ligações duplas) e não ramificadas; em outros, a cadeia contém uma ou mais ligações duplas. Alguns poucos contêm anéis de três carbonos, grupos hidroxil ou ramificações de grupos metil. Uma nomenclatura simplificada para ácidos graxos não ramificados especifica o comprimento da cadeia e o número de ligações duplas, separados por dois pontos; por exemplo, o ácido palmítico, saturado e com 16 carbonos, é abreviado 16:0, e o ácido oleico, com 18 carbonos e uma ligação dupla, é 18:1. ubiquinona 21 A posição de qualquer ligação dupla é especificada em relação ao carbono do carboxil, o qual recebe o número 1, pelos numero sobrescritos ao Δ (delta); um ácido graxo com 20 carbonos e uma ligação dupla entre C-9 e C-10 (sendo C-1 o carbono da carboxil) e outra entre C-12 e C-13 é designado 20:2 (Δ9,12). Os ácidos graxos de ocorrência mais comum apresentam um número par de átomos de carbono em uma cadeia não ramificada de 12 a 24 carbonos. O número par de carbonos resulta do modo como esses compostos são sintetizados, o que envolve condensações sucessivas de unidades de dois carbonos (acetato). Há também um padrão comum na localização das ligações duplas; na maioria dos ácidos graxos monoinsaturados, a ligação dupla ocorre entre C-9 e C-10 (Δ9), e as outras ligações duplas de ácidos graxos poli-insaturados geralmente são Δ12 e Δ15. O ácido araquidônico é uma exceção a essa generalização. As ligações duplas dos ácidos saturados quase nunca são conjugadas (alternando ligações simples e duplas, como em –CH=CH–CH=CH–), mas são separadas por um grupo metileno: –CH=CH–CH2– CH=CH–. Em quase todos os ácidos graxos insaturados que ocorrem naturalmente, as ligações duplas encontram-se em configurações cis. Ácidos graxos trans são produzidos pela fermentação no rúmen de animais leiteiros, sendo obtidos dos laticínios e da carne. Ácidos graxos saturados. Mistura de ácidos graxos saturados e insaturados. 22 Os ácidos graxos completamente saturados na forma estendida empacotam-se em arranjos quase cristalinos, estabilizados por muitas interações hidrofóbicas. A presença de um ou mais ácidos graxos com ligações duplas cis interfere nesse agrupamento compacto e resulta em agregados menos estáveis. Conformação cis e trans: Conformação cis: os dois átomos de hidrogênio da dupla ligação estão para cima – na mesma posição. Conformação trans: dupla ligação no mesmo carbono, porém a conformação é diferente, onde um átomo de hidrogênio está pra baixo e o outro para cima. 23 Hidrogenação A maioria das gorduras naturais, como as dos óleos vegetais, dos laticínios e da gordura animal, são misturas complexas de triacilgliceróis simples e mistos, que contêm uma variedade de ácidos graxos que diferem no comprimento da cadeia e no grau de saturação. Os óleos vegetais, como o óleo de milho e o azeite de oliva, são compostos em grande parte por triacilgliceróis com ácidos graxos insaturados e, portanto, são líquidos à temperatura ambiente. Os triacilgliceróis que contêm somente ácidos graxos saturados, como as triestearinas, o componente mais importante da gordura da carne de gado, são sólidos, brancos e gordurosos à temperatura ambiente. Quando alimentos ricos em lipídeos são expostos por muito tempo ao oxigênio do ar, eles podem estragar e tornar-se rançoso. O gosto e o cheiro desagradáveis associados à rancidez resultam da clivagem oxidativa das ligações duplas em ácidos carboxílicos de menor comprimento de cadeia e, portanto, de maior volatilidade. Essencialidade A família de ácidos graxos poli-insaturados com uma ligação dupla entre o terceiro e quarto carbono a partir da extremidade da cadeia com grupo metil é de importância especial na nutrição humana. Como o papel fisiológico dos ácidos graxos poli-insaturados está relacionado mais à posição da primeira ligação dupla próxima à extremidade da cadeia com o grupo metil em vez da extremidade com a carboxil, uma nomenclatura alternativa algumas vezes é utilizada para esses ácidos graxos. Como o papel fisiológico dos ácidos graxos poli-insaturados está relacionado mais à posição da primeira ligação dupla próxima à extremidade da cadeia com o 24 grupo metil em vez da extremidade com a carboxil, uma nomenclatura alternativa algumas vezes é utilizada para esses ácidos graxos. O carbono do grupo metil – isto é, o carbono mais distante do grupo carboxil – é chamado de carbonoω e recebe número 1. Nessa convenção, os ácidos graxos poli-insaturados com uma ligação dupla entre C-3 e C-4 são chamados de ácidos graxos ômega-3 (ω-3) e aqueles com a ligação dupla entre C-6 e C-7 são ácidos graxos ômega-6 (ω-6). Os humanos necessitam do ácido graxo poli-insaturado ômega-3 chamado de ácido α-linolênico (ALA; 18:3 *Δ9,12,15], na convenção-padrão), mas não tem capacidade enzimática para sintetizá-lo, precisando assim obtê-lo a partir da dieta. A partir do ALA, os humanos conseguem sintetizar dois outros ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 importantes no funcionamento celular: o ácido eicosapentaenoico (EPA; 20:5 *Δ5, 8, 11, 1,17+) e o ácido docosaexaenoico (DHA; 22:6 *Δ4, 7, 10, 13, 16,19]). Um desequilíbrio entre os ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 e ômega-3 na dieta está associado a um risco aumentado de doenças cardiovasculares. A proporção ótima de ácidos graxos poli-insaturado ômega-6 para ômega-3 na dieta está entre 1:1 e 4:1, mas a proporção nas dietas da maioria dos norte-americanos está mais próxima de 10:1 e 30:1, levando a uma frequência maior de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral (AVC). A “dieta mediterrânea”, que tem sido associada com a diminuição do risco de doenças cardíacas, é mais rica em ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, obtidos em vegetais folhosos (saladas) e óleos de peixe. Estes óleos são especialmente ricos em EPA e DHA, e suplementos com óleo de peixe são frequentemente prescritos para indivíduos com histórico de doença cardiovascular. 25 Triacilglicerois Os lipídeos mais simples construídos a partir de ácidos graxos são os triacilgliceróis, também chamados de triglicerídeos, gorduras ou gorduras neutras. Os triacilgliceróis são compostos por três ácidos graxos, cada um em uma ligação éster com o mesmo glicerol. Aqueles que contêm o mesmo tipo de ácido graxo e todas as três posições são chamados de triacilgliceróis simples, e sua nomenclatura é derivada do ácido graxo que contêm. Como as hidroxilas polares do glicerol e os carboxilatos polares dos ácidos graxos estão em ligações ésteres, os triacilgliceróis são moléculas apolares, hidrofóbicas, essencialmente insolúveis em água. Os lipídeos têm densidades específicas mais baixas do que a água, o que explica por que as misturas de óleo e água 18:3 ὤ-3 18:2 ὤ-6 26 (tempero da salada como azeite e vinagre, por exemplo) têm duas fases: o óleo, com densidade específica mais baixa, flutua sobre a fase aquosa. O glicerol e um triacilglicerol. O triacilglicerol têm três ácidos graxos diferentes ligados à cadeia do glicerol. Quando o glicerol apresenta ácidos graxos diferentes em C-1 e C-3 é um centro quiral. Os triacilgliceróis armazenam energia e proporcionam isolamento térmico. Na maioria das células eucarióticas, os triacilgliceróis formam uma fase separada de gotículas microscópicas de óleo no citosol aquoso, servindo como depósito de combustível metabólico. 27 Em vertebrados, os adipócitos, que são células especializadas, armazenam grandes quantidades de triacilgliceróis em gotículas de gordura que quase preenchem a célula. Os triacilgliceróis também são armazenados como óleos nas sementes de vários tipos de plantas, fornecendo energia e precursores biossintéticos durante a germinação da semente. Os adipócitos e as sementes em germinação contêm lipases, enzimas que catalisam a hidrólise dos triacilgliceróis armazenados, liberando ácidos graxos para transportar para os locais onde eles são necessários como combustível. Existem duas vantagens significativas em se usar triacilgliceróis para o armazenamento de combustível em vez de polissacarídeos como o glicogênio e o amido. Primeiro, os átomos de carbono dos ácidos graxos estão mais reduzidos do que os dos açúcares, e a oxidação de triacilgliceróis libera mais do que o dobro de energia por grama do que a oxidação de carboidratos. Segundo, como os triacilgliceróis são hidrofóbicos e, portanto, não hidratados, o organismo que carrega gordura como combustível não precisa carregar o peso extra da água da hidratação que está associada aos polissacarídeos armazenados (2g por grama de polissacarídeo). Os humanos apresentam tecido adiposo (composto primariamente de adipócitos) sob a pele, na cavidade abdominal e nas glândulas mamárias. As pessoas moderadamente obesas, com 15 a 20 kg de triacilgliceróis depositados em seus adipócitos, poderiam suprir suas necessidades energéticas por meses utilizando seus depósitos de gordura. Em contraste, o corpo humano consegue armazenar na forma de glicogênio menos do que a quantidade de energia utilizada em um dia. Os carboidratos, como a glicose e o glicogênio, oferecem certas vantagens como fontes rápidas de energia metabólica, uma das quais é a sua solubilidade imediata em água. Em alguns animais, os triacilgliceróis armazenados sob a pele servem tanto como estoques de energia quanto como isolamento contra baixas temperaturas. Focas, morsas, pinguins e outros 28 animais polares de sangue quente apresentam sua superfície amplamente coberta por triacilgliceróis. Em animais hibernantes, como os ursos, as enormes reservas de energia acumuladas antes da hibernação servem para dois propósitos: isolamento térmico e reserva de energia. A baixa densidade dos triacilgliceróis é a base para outra notável função desses compostos. Nas baleias cachalotes, um depósito de triacilgiceróis e ceras permite que elas igualem a flutuabilidade de seus corpos àquela de seus arredores durante mergulhos profundos em água fria. Gorduras compostas: Fosfolipídios – adição do grupo fosfato no ácido graxo; Lipoproteínas – formada por triacilgliceróis, ésteres de colesterol e fração proteica. 29 SAIBA MAIS Como Interpretar: Ex: Ácido oléico – 9 cis C18:1 Reações bioquímicas e vias metabólicas O que são? Anabolismo; Catabolismo; Metabolismo. O metabolismo, a soma de todas as transformações químicas que ocorrem em uma célula ou em um organismo, ocorre por meio de uma série de reações catalisadas por enzimas que constituem as vias metabólicas. Cada uma das etapas consecutivas Quantidade de carbonos Quantidade de dupla ligação Conformação cis: os dois átomos de hidrogênio da dupla ligação estão para cima – na mesma posição. Conformação trans: dupla ligação no mesmo carbono porém a conformação é diferente, onde um átomo de hidrogênio está pra baixo e o outro para cima. 30 em uma via metabólica produz uma pequena alteração química específica, em geral a remoção, a transferência ou a adição de um átomo particular ou um de grupo funcional. O catabolismo é a fase de degradação do metabolismo, na qual moléculas nutrientes orgânicas (carboidratos, gorduras e proteínas) são convertidas em produtos finais menores e mais simples (como ácido láctico, CO2 e NH3). As vias catabólicas liberam energia, uma parte é conservada na forma de ATP e de transportadores de elétrons reduzidos (NADH, NADPH e FADH2); o restante é perdido como calor. No anabolismo, também chamado de biossíntese, precursores pequeno e simples formam moléculas maiores e mais complexas, incluindo lipídeos, polissacarídeos, proteínas e ácidos nucleicos.As reações anabólicas necessitam de fornecimento de energia, geralmente na forma de potencial de transferência do grupo fosforil do ATP e do poder redutor de NADH, NADPH e FADH2 Algumas vias metabólicas são lineares e algumas são ramificadas, gerando múltiplos produtos finais úteis a partir de um único precursor ou convertendo vários precursores em um único produto. Em geral, as vias catabólicas são convergentes e as vias anabólicas divergentes. 31 Três tipos de vias metabólicas não lineares: (a) convergente, catabólica. (b) divergente, anabólica, e (c) cíclica. Em (c) um dos compostos de partida (no caso do oxaloacetato) é regenerado e reingressa na via. O acetato, um intermediário metabólico chave, é o produto da degradação de uma variedade de combustíveis (a), serve de precursor de um grande número de produtos (b) e é consumido na via catabólica conhecida como o ciclo do ácido cítrico (c). Algumas vias são cíclicas: um composto inicial da via é regenerado em uma série de reações que converte outro componente inicial em um produto. SUBSTRATO PRODUTO A B SUBSTRATO PRODUTO A B C PRODUTO SUBSTRATO 32 A relação energética entre as vias catabólicas e anabólicas. As vias catabólicas liberam energia química na forma de ATP, NADH, NADPH e FADH2. Esses transportadores de energia são usados em vias anabólicas para converter precursores pequenos em macromoléculas celulares. Regulação das vias metabólicas As vias metabólicas são reguladas em vários níveis, dentro e fora das células. A regulação mais imediata é a disponibilidade de substrato; quando a concentração intracelular de substrato de uma enzima está próxima ou abaixo do Km (como é o caso comumente), a velocidade da reação depende muito da concentração do substrato. Um segundo tipo de controle de controle rápido dentro da célula é a regulação alostérica por um intermediário metabólico ou por uma coenzima – um aminoácido ou ATP, por exemplo – que sinaliza o estado metabólico no interior da célula. Quando a célula contém uma quantidade de aspartato, por exemplo, suficiente para suas necessidades imediatas, ou quando os níveis celulares de ATP indicam que 33 não é necessário o consumo adicional do combustível no momento, esses sinais inibem alostericamente a atividade de uma ou mais enzimas nas vias pertinentes. Em organismos multicelulares, as atividades metabólicas de tecidos diferentes são reguladas e integradas por fatores de crescimento e hormônios que atuam de fora da célula. Em alguns casos essa regulação ocorre quase que instantaneamente (algumas vezes em menos de um milissegundo) por alterações nos níveis dos mensageiros intracelulares que, por sua vez, modificam a atividade de enzimas intracelulares por mecanismos alostéricos ou por modificações covalentes, como a fosforilação. Velocidade de catabolismo e anabolismo Necessidade celular de energia imediata Ação das enzimas Inibidas pelos produtos finais – feedback negativo Controle genético da velocidade de síntese enzimática Controle hormonal Treonina Isoleucina 34 Atividade Enzimática Proteínas especializadas; Grande eficiência catalítica; Alto grau de especificidade por seus substratos; Funcionam em soluções aquosas e cada enzima tem um pH e temperatura ótimos. As enzimas, as proteínas mais notáveis e mais altamente especializadas. As enzimas têm um poder catalítico extraordinário, geralmente muito maior do que os catalisadores sintéticos ou inorgânicos. Elas têm um alto grau de especificidade para os seus respectivos substratos, aceleram as reações químicas e atuam em solução aquosas sob condições suaves de temperatura e pH. Poucos catalisadores não biológicos possuem todas estas propriedades. As enzimas estão no centro de cada um dos processos bioquímicos. Atuando em sequências organizadas, elas catalisam cada reação das centenas de etapas que degradam as moléculas dos nutrientes, que conservam e transformam energia química e que constroem as macromoléculas biológicas a partir de precursores elementares. As enzimas, assim como as outras proteínas, têm pesos moleculares variando de cerca de 12.000 a mais de um milhão. Algumas enzimas não necessitam de outros grupos químicos além dos seus próprios resíduos de aminoácidos. Outras necessitam de um componente químico adicional denominado cofator, que pode ser um ou mais 35 íons inorgânicos como Fe2+, Mg2+ ou Zn2+ ou uma molécula orgânica ou metalorgânica complexa, denominada coenzima. As coenzimas agem como carreadores transitórios de grupos funcionais específicos. A maioria deles é derivada das vitaminas, nutrientes orgânicos cuja presença na dieta é necessária em pequenas quantidades. Muitas enzimas receberam nome pela adição do sufixo “ase” ao nome dos seus substratos ou a uma palavra que descreve sua atividade. Assim, a uréase catalisa a hidrólise da ureia e a DNA-polimerase catalisa a polimerização de nucleotídeos para formar DNA. Componentes da reação enzimática: Uma reação enzimática simples pode ser escrita como: E + S ES EP E + P Onde E, S e P representam enzima, substrato e produto; ES e EP são complexos transitórios da enzima com o substrato e o produto. 36 Coenzimas transportadoras de H: Coenzima Abreviatura Reação catalisada Origem Nicotinamida adenina dinucleotídio NAD+ Oxirredução Niacina ou vitamina B3 Nicotinamida adenina dinucleotídio fosfato NADP+ Oxirredução Niacina ou vitamina B3 Flavina adenina dinucleotídio FAD Oxirredução Riboflavina ou Vitamina B2 Coenzimas transportadoras de grupos químicos: Coenzima Abrev. Reação catalisada Origem Coenzima A CoA-SH Transferência de grupo acil Pantotenato ou Vitamina B5 Biotina Transferência de CO2 Biotina ou vitamina H Piridoxal fosfato PyF Transferência do grupo amino Piridoxina ou vitamina B6 Metilcobalamina Transferência de unidades de carbono Cobalamina ou vitamina B12 Tetrahidrofolato THF Transferência de unidades de carbono Ácido fólico Tiamina TPP Transferência de grupo Tiamina ou Vitamina 37 pirofosfato aldeído B1 Coeficiente de atividade de glutationa redutase: Para o cálculo do EGR-AC, determina-se: (I) a velocidade da reação mediada pela GR nos eritrócitos aferida mediante a disponibilidade endógena de FAD (velocidade basal) (II) a velocidade da reação obtida mediante a de uma quantidade de FAD suficiente para saturar os sítios de ligação da enzima pelo FAD. Se a velocidade basal da reação encontrava-se limitada por baixa disponibilidade de FAD endógeno, a velocidade da reação aumenta (proporcionalmente à redução da disponibilidade basal) pela adição do FAD exógeno. - Valores de 1,0 – 1,2 - Valores > 1,2 = deficiência de B2 38 Classes de enzimas: 1. Oxidorredutases: reações de oxirredução. Ex: desidrogenases e oxidases; 2. Transferases: transferência de grupos funcionais (grupos amina, fosfato, acil, carboxil). Ex: quinases e transaminases; 3. Hidrolases: reações de hidrólise de ligação covalente. Ex: peptidases; 4. Liases: quebra de ligações covalentese remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico. Ex: dehidratases e descarboxilases; 5. Isomerases: reações de interconversão entre isômeros. Ex: epimerases; 6. Ligases: reação de formação de novas moléculas a partir de 2 já existentes utilizando a energia da hidrólise do ATP. Ex: sintetases. Metabolismo da Glicose Glicólise Gliconeogênese Glicogenólise Glicogênese 39 A glicose ocupa posição central no metabolismo de plantas, animais e micro- organismos. Ela é relativamente rica em energia potencial e, por isso, é um bom combustível; a oxidação completa da glicose a dióxido de carbono e água ocorre com uma variação de energia livre padrão de -2.840kJ/mol. Por meio do armazenamento da glicose como um polímero de alta massa molecular, como o amido e o glicogênio, a célula pode estocar grandes quantidades de unidades de hexoses, enquanto mantém a osmolaridade citosólica relativamente baixa. Quando a demanda de energia aumenta, a glicose pode ser liberada desses polímeros de armazenamento intracelulares e utilizada para produzir ATP de maneira aeróbica ou anaeróbica. Glicólise: Na glicólise, uma molécula de glicose é degradada em uma série de reações catalisadas por enzimas, gerando duas moléculas do composto de três átomos de carbono, o piruvato. Durante as reações sequenciais da glicólise, parte da energia livre da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. A glicólise é uma via central quase universal do catabolismo da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A quebra glicolítica da glicose é a única fonte de energia metabólica em alguns tecidos e células de mamíferos (eritrócitos, medula renal, cérebro e esperma, por exemplo). Alguns tecidos vegetais modificados para o armazenamento de amido (como tubérculos da batata) e algumas plantas aquáticas (agrião, por exemplo) derivam a maior parte de sua energia da glicólise; muitos micro-organismos anaeróbios são totalmente dependentes da glicólise. 40 A glicólise tem duas fases: 41 A quebra da glicose, formada por seis átomos de carbono, em duas moléculas de piruvato, cada uma com três carbonos, ocorre em 10 etapas, sendo que as primeiras 5 constituem fase preparatória. Nessas reações, a glicose é inicialmente fosforilada no grupo hidroxil ligado ao carbono C6 (etapa 1). A D-glicose-6-fosfato assim formada é convertida a D-frutose-6-fosfato (etapa 2), a qual é novamente fosforilada, desta vez em C-1, para formar D-frutose-1,6-bifosfato (etapa 3). Nas duas reações de fosforilação, o ATP é o doador de grupos fosforil. Como todos os açúcares formados na glicólise são isômeros D, exceto quando desejarmos enfatizar sua esteroquímica. A frutose-1,6-bifosfato é dividida em duas moléculas de três carbonos, a diidroxiacetona-fosfato e o gliceraldeído-3-fosfato (etapa 4); essa é a etapa de “lise” que da o nome à via. A diidroxiacetona-fosfato é isomerizada a uma segunda molécula de gliceraldeído-3-fosfato (etapa 5), finalizando a primeira fase da glicólise. De uma perspectiva química, a isomerização na etapa 2 é crítica para ocorrência da fosforilação e as reações de clivagem da ligação C-C nas etapas 3 e 4, como descritas a seguir. Note que duas moléculas de ATP são consumidas antes da clivagem da glicose em duas partes de três carbonos; haverá depois um bom retorno para esse investimento. Resumindo: na fase preparatória da glicólise, a energia do ATP é consumida, aumentando o conteúdo de energia livre dos intermediários, e as cadeias de carbono de todas as hexoses metabolizadas são convertidas a um produto comum, o gliceraldeído-3-fosfato. O ganho de energia provém da fase de compensação da glicólise. Cada molécula de gliceraldeído-3-fosfato é oxidada e fosforilada por fosfato inorgânico (não por ATP) para formar 1,3-bifosfoglicerato (etapa 6). Ocorre liberação de energia quando as duas moléculas de 1,3-bifosfoglicerato são convertidas a duas moléculas de piruvato (etapas 7 a 10). Grande parte dessa energia é conservada pela fosforilação acoplada de quatro moléculas de ADP a ATP. O rendimento líquido são duas moléculas de ATP por molécula de glicose utilizada, já que duas moléculas de ATP foram consumidas na fase preparatória. 42 A energia também é conservada na fase de compensação com a formação de duas moléculas do transportador de elétrons NADH por molécula de glicose. Nas reações seguintes da glicólise, três tipos de transformações químicas são particularmente notáveis: (1) degradação do esqueleto carbônico da glicose para produzir piruvato; (2) a fosforilação de ADP a ATP pelos compostos com alto potencial de transferência de grupos fosforil, formados durante da glicólise; e (3) a transferência de um íon hidreto para o NAD+, formando NADH. 43 A importância dos intermediários fosforilados: Cada um dos nove intermediários glicolíticos entre a glicose e o piruvato são fosforilados. Os grupos fosforil parecem ter três funções. 1. Como a membrana plasmática geralmente não tem transportadores para açúcares fosforilados, os intermediários glicolíticos fosforilados não podem sair da célula. Depois da fosforilação inicial, não é necessário energia adicional ara reter os intermediários fosforilados na célula, apesar da grande diferença entre as suas concentrações intra e extracelular. 2. Os grupos fosforil são componentes essenciais na conservação enzimática da energia metabólica. A energia liberada na quebra das ligações de fosfoanidrido (como aquelas do ATP) é parcialmente conservada na formação de ésteres de fosfato, como glicose-6-fosfato. Compostos de fosfato de alta energia formados na glicólise (1,3- bifosfoglicerato e fosfoenolpiruvato) doam grupos fosforil ao ADP para formar ATP. 3. A energia de ligação resultante do acoplamento de grupos fosfato ao sítio ativo de enzimas reduz a energia de ativação e aumenta a especificidade das reações enzimáticas. Os grupamentos fosfato do ADP, do ATP e dos intermediários glicolíticos formam complexos cm o Mg+, e os sítios de ligação ao substrato de muitas enzimas glicolíticas são específicos para esses complexos. A maior parte das enzimas da glicólise requer Mg+ para sua atividade. 44 Regulação da Glicólise: Tanto a velocidade quanto a quantidade total de glicose consumida é muitas vezes maior em condições anaeróbicas do que em aeróbicas. Estudos posteriores com músculo confirmaram a grande variação nas taxas da glicólise anaeróbica e aeróbica. O rendimento de ATP da glicólise em condições anaeróbicas (2 ATPs por molécula de glicose) é muito menor do que aquela a partir da oxidação completa da glicose a CO2 em condições aeróbicas (30 a 32 ATPs por glicose). Portanto, para produzir a mesma quantidade de ATP, é necessário consumir cerca de 15 vezes mais glicose em condições anaeróbicas do que aeróbias. O fluxo de glicose pela via glicolítica é regulado para manter os níveis de ATP praticamente constantes (assim como quantidades adequadas dos intermediários glicolíticos que possuem papéis biossintéticos). O ajuste necessário na velocidade da glicólise é alcançado pela interação complexa entre o consumo de ATP, a regeneraçãode NADH e a regulação alostérica de algumas enzimas glicolíticas – incluindo a hexocinase, a PFK-1 e a piruvato-cinase – e as concentrações do metabólitos-chave que refletem o equilíbrio celular entre a produção e o consumo de ATP. Em uma escala de tempo um pouco maior, a glicólise é regulada pelos hormônios glucagon, adrenalina e insulina e por variações na expressão de genes de várias enzimas glicolíticas. Destinos do piruvato Em condições aeróbicas, o piruvato formado na etapa final da glicólise é oxidado a acetato (Acetil CoA), que entra no ciclo do ácido cítrico e é oxidado a CO2 e H2O. O NADH formado pela desidrogenação do gliceraldeído-3-fosfato é finalmente oxidado a NAD+ pela transferência de seus elétrons ao O2 na respiração mitocondrial. No entanto, em condições de hipóxia (pouco oxigênio) – assim como no músculo esquelético muito ativo, nos tecidos vegetais submersos, nos tumores sólidos 45 ou nas bactérias lácticas – o NADH gerado pela glicólise não pode ser reoxidado pelo O2. A falha na regeneração de NAD + deve ser regenerado de alguma outra forma. As células primitivas que viviam em uma atmosfera praticamente desprovida de oxigênio tiveram que desenvolver estratégias para extrais energia de moléculas combustíveis em condições anaeróbicas. A maioria dos organismos modernos reteve a capacidade de regenerar NAD+ continuamente durante a glicólise anaeróbica pela transferência de elétrons do NADH para formar um produto final reduzido como lactato ou etanol. 46 47 Ciclo de Cori Lactato liberado pelo músculo ativo é convertido em glicose no fígado, liberada na circulação e captada pelo músculo, que novamente a transforma em lactato. RESUMO Destino do piruvato em condições anaeróbicas: fermentação - O NADH formado na glicólise deve ser reciclado para regenerar NAD+ , necessário como receptor de elétrons na primeira etapa da fase de compensação. Em condições aeróbicas, os elétrons passam do NADH para o O2 na respiração mitocondrial. - Em condições anaeróbicas ou de hipóxia, muitos organismos regeneram NAD+ pelo transporte de elétrons do NADH para o piruvato, formando lactato. Outros organismos, como as leveduras, regeneram NAD+ pela redução de piruvato em etanol e CO2. Nesses processos anaeróbios (fermentações), não ocorre oxidação ou redução líquida dos carbonos da glicose. - Uma grande variedade de micro-organismos pode fermentar o açúcar de alimentos frescos, resultando em mudanças de pH, sabor e textura, protegendo os alimentos da deterioração. As fermentações são usadas na indústria para produzir uma ampla variedade de compostos orgânicos comercialmente valiosos a partir de matérias-primas baratas. 48 Glicogênio Síntese e degradação do glicogênio: A regulação da síntese e degradação é feita através de hormônios (insulina e glucagon). Quando no estado alimentado ocorre um aumento da glicemia, e esse aumento estimula as células beta pancreáticas a produzirem insulina, a qual faz com que o fígado armazene a glicose em forma de glicogênio. Por outro lado, quando o indivíduo está em jejum prolongado ou em atividade física a tendência é que se tenha uma queda na glicemia. Nesse caso, a queda da glicemia faz com que as células alfa pancreática liberem o glucagon e o glucagon faz o 49 oposto, estimulando a quebra do glicogênio para liberar glicose pra manter a glicemia sob controle. Como é feita a síntese do glicogênio? O precursor do glicogênio é a glicose-6-fosfato (G6P). A G6P deve ser convertida a G1P pela fosfoglicomutase, e então, na presença de UTP, liga-se ao difosfato de uridina (UDP), formando UDP-glicose, fonte de todos os resíduos glicosil que são adicionados à molécula de glicogênio em formação. 50 Reação catalisada pela glicogênio sintase: A glicogênio sintase é responsável por catalisar as ligações a14 no glicogênio é capaz de alongar a cadeia, mas não inicia a síntese. Um fragmento de glicogênio pode servir como um iniciador em células cujos depósitos não estão totalmente exauridos. Na ausência de iniciador, a proteína glicogenina atua como um receptor de resíduos de glicose. A reação é catalisada pela sintase iniciadora do glicogênio. O alongamento da cadeia envolve a transferência de glicose da UDP-glicose à cadeia em crescimento, formando uma ligação glicosídica. Glicogenina: 1. A glicogenina inicia a síntese do glicogênio. Na primeira etapa da síntese de glicogênio uma tirosina glicosiltransferase liga um resíduo de glicose ao grupo OH da Tyr 194 da proteína glicogenina. 2. A glicogenina forma um complexo com a glicogênio sintase 51 3. A glicogenina aumenta por autocatálise a cadeia de glicano em até sete resíduos adicionais doados pela UDP-glicose, formando uma primer de glicogênio. 4. A glicogênio sintase dissocia-se da glicogenina e continua a estender a cadeia de glicogênio nascente. 52 Os pontos de ramificação são formados por uma enzima ramificadora do glicogênio A amilo (1,4 1,6) - transglicosilase (enzima ramificadora) transfere um segmento de 7 resíduos da extremidade de uma cadeia para um grupo OH do C6 de um resíduo de glicose na mesma cadeia ou em outra cadeia de glicogênio. Glicogenólise Períodos de jejum, ou no músculo durante atividade intensa. O glicogênio hepático é degradado produzindo glicose livre, que é exportada para o sangue para manter a glicemia. No músculo o glicogênio é degradado para fornecer energia para a contração muscular. 53 As unidades de glicose dos ramos externos do glicogênio entram na via glicolítica por ação sequencial de duas enzimas: a fosforilase do glicogênio e a enzima de desramificação. O piridoxal fosfato é o doador de Pi 54 Conversão de Glicose-1-P em Glicose-P: Regulação glicogenólise x síntese de glicogênio No estado pós-prandial o hormônio em alta é a insulina a qual estimula a proteína fosfatase. A proteína fosfatase retira um grupo fosfato da glicogênio sintase e faz com que ela fique ativa, levando a síntese de glicogênio. - Glicogênio sintase fica ativa sem o grupo fosfato; - Glicogênio fosforilase fica ativa com o grupo fosfato. Porém, quando em jejum durante a atividade física ocorre estímulo do AMP-c e a enzima ativada é a fosforilase quinase que faz o contrário, fosforila a glicogênio fosforilase que é a enzima que faz fosforólise, clivando o glicogênio para liberar glicose e reestabelecer a glicemia. 55 Gliconeogênese O papel central da glicose no metabolismo surgiu cedo na evolução, e esse açúcar permanece sendo combustível quase universal e unidade estrutural nos organismos atuais, desde micróbios até humanos. Em mamíferos alguns tecidos dependem quase completamente de glicose para sua energia metabólica. Para o cérebro humano e o sistema nervoso, assim como para os eritrócitos, os testículos, a medula renal e os tecidos embrionários, a glicose do sangue é a principal ou a única fonte de combustível. Apenas o cérebro requer em média120g de glicose por dia – mais da metade de toda glicose escoada como glicogênio nos músculos e no fígado. No entanto, o suprimento de glicose a partir desses estoques não é sempre suficiente; entre as refeições e durante ou após exercícios vigorosos, o glicogênio esgota-se. Para esses períodos, os organismos precisam de um método para sintetizar glicose a partir de precursores que não são carboidratos. Isto é realizado por uma via chamada gliconeogênese (“nova formação de açúcar”), que converte em glicose o piruvato e os compostos relacionados, com três e quatro carbonos. 56 São transformados em piruvato ou entram na via na forma de intermediários: oxaloacetato e diidroacetona fosfato. Precursores não-glicídicos Formação de glicose a partir de precursores não-glicídicos: Lactato; Glicerol; Aminoácidos. PEP Carboxiquinase Piruvato carboxilase Frutose 1,6-bifosfatase Glucose 6-fosfatase 57 Precursores da gliconeogênese: 58 A gliconeogênese ocorre em todos os animais, vegetais, fungos e micro- organismos. As reações são essencialmente as mesmas em todos os tecidos e em todas as espécies. Os precursores importantes da glicose em animais são compostos de três carbonos como o lactato, o piruvato e o glicerol, assim como certos aminoácidos. Em mamíferos, a gliconeogênese ocorre principalmente no fígado, e em menor extensão no córtex renal e nas células epiteliais que revestem internamente o intestino delgado. A glicose assim produzida passa para o sangue e vai suprir outros tecidos. Após exercícios vigorosos, o lactato produzido pela glicólise anaeróbica no músculo esquelético retorna para o fígado e é convertido em glicose, que volta para os músculos e é convertida a glicogênio – um circuito chamado de ciclo de Cori. A glicólise e gliconeogênese são mutuamente reguladas: 59 Se a glicólise (a conversão de glicose em piruvato) e a gliconeogênese (a conversão de piruvato em glicose) ocorressem simultaneamente em altas taxas, o resultado seria o consumo de ATP e a produção de calor. Por exemplo, PFK-1 e FBPase- 1 catalisam reações opostas: ATP + frutose-6-fosfato ADP + frutose-1,6-bifosfato Frutose-1,6-bifosfato + H2O Frutose-6-fosfato +Pi A soma dessas duas reações é: ATP + H2O ADP + Pi + calor Essas duas reações enzimáticas, e várias outras nas duas vias, são reguladas alostericamente por modificações covalentes (fosforilação). As vias são reguladas de forma que, quando o fluxo de glicose através da glicólise aumenta, o fluxo de piruvato em direção à glicose diminui, e vice-versa. Ciclo de Krebs Algumas células obtêm energia (ATP) pela fermentação, degradando a glicose na ausência de oxigênio. Para a maioria das células eucarióticas e muitas bactérias, que vivem em condições aeróbicas e oxidam os combustíveis orgânicos a dióxido de carbono e água, a glicólise é apenas a primeira etapa para a completa oxidação da glicose. Ao invés de ser reduzido a lactato, etanol ou algum outro produto da fermentação, o piruvato produzido pela glicólise é posteriormente oxidado a H2O e CO2. Esta fase aeróbica do catabolismo é chamada de respiração. No sentido fisiológico ou macroscópico mais amplo, respiração alude à captação de O2 eliminação de CO2 por organismos multicelulares. PFK-1 FBPase-1 60 A respiração celular acontece em três estágio principais: Estágio 1: Oxidação de ácidos graxos, glicose e aminoácidos a Acetil-CoA. Estágio 2: Oxidação do acetil pelo ciclo do ácido cítrico (em 4 reações ocorre remoção de elétrons). Estágio 3: Fosforilação oxidativa na cadeia de transporte de elétrons (membrana mitocondrial interna). Estrutura da Coenzima A: Em organismos aeróbicos, glicose e outros açúcares, ácidos graxos e a maioria dos aminoácidos são no final oxidados a CO2 e H2O pelo ciclo do ácido cítrico e pela cadeia respiratória. Antes de entrarem no ciclo do ácido cítrico, os esqueletos de carbono dos açúcares e ácidos graxos são convertidos ao grupo acetil da acetil-CoA, a forma na qual a maioria dos combustíveis entra no ciclo. Os carbonos de muitos aminoácidos também entram no ciclo desta maneira, embora alguns aminoácidos sejam convertidos a outros intermediários do ciclo. O piruvato, derivado da glicose e de outros açúcares pela glicólise, é oxidado a acetil-CoA e CO2 pelo complexo da piruvato-desidrogenase, um grupo de enzimas – múltiplas cópias de três enzimas – localizado nas mitocôndrias de células eucarióticas e no citosol de bactérias. 61 A reação geral catalisada pelo complexo da piruvato-desidrogenase é uma descarboxilação oxidativa, um processo de oxidação irreversível no qual o grupo carboxil é removido do piruvato na forma de uma molécula de CO2, e os dois carbonos remanescentes são convertidos ao gruo acetil da acetil-CoA. O NADH formado nesta reação doa um íon hidreto (: H-) para a cadeia respiratória, que transferirá os dois elétrons ao oxigênio ou, em micro-organismos anaeróbios, a um receptor de elétrons alternativo, como nitrato ou sulfato. A transferência de elétrons do NADH ao oxigênio gera, ao final, 2,5 moléculas de ATP por par de elétrons. A irreversibilidade da reação do complexo da PHD foi demonstrada por experimentos com marcação isotópica: o complexo não pode ligar CO2 radiativamente marcado à Acetil-CoA para formar uma molécula de piruvato com o carboxil marcado. A Coenzima A possui um grupo tiol reativo (-SH) que é crítico para função da CoA como um transportador de acilas em diferentes reações metabólicas. Grupos acil são covalentemente ligados ao grupo tiol, formando tio ésteres. Por causa das energias de ativação padrão relativamente altas, os tio ésteres possuem alto potencial para a transferência do grupo acil e podem doar estes grupos a diversas moléculas aceptoras. O grupo acil unido à coenzima A pode, portanto, ser considerado “ativado” para transferência. 62 Coenzima A (CoA). Um grupo hidroxil do ácido pantotênico está unido a uma molécula de ADP modificada por uma ligação fosfoéster, e seu grupo carboxil está ligado à β-mercaptoetilamina por uma ligação amida. O grupo hidroxil na posição 3’ da molécula de ADP possui um grupo fosfato que não está presente no ADP livre. O grupo –SH da molécula de mercaptoetilamina forma um tio éster com o acetato para formar a acetil-coenzima A (acetil-CoA). Ciclo de Krebs: A oxidação de Acetil-CoA é oxidada através do ciclo do ácido cítrico. O ciclo do ácido cítrico possui oito etapas, confira abaixo essas etapas. 1. Formação do citrato: A primeira reação do ciclo é a condensação de acetil- CoA e oxaloacetato para a formação do citrato, catalisada pela citrato- sintase. 2. Formação de isocitrato via cis-aconitato: A enzima aconitase (mais formalmente, aconitato-hidratase) catalisa a transformação reversível do 63 citrato a isocitrato, pela transformação intermediária do ácido tricarboxílico cis-aconitato, o qual normalmente não se dissocia do sítio ativo. A aconitase pode promover a adição reversível de H2O à ligação dupla cis-aconiato ligado à enzima de duas maneiras diferentes, uma levando a citrato e a outro a isocitrato. 3. Oxidação do isocitrato a α-cetoglutarato e CO2: Na próxima etapa, a isocitrato-desidrogenase catalisa a descarboxilaçãooxidativa do citrato para formar α-cetoglutarato. O Mn2+ presente no sítio ativo interage com o grupo carbonil do oxalosuccinato intermediário, que é transformado transitoriamente, mas só deixa o sítio ativo quando a descarboxilação o converte em α-cetoglutarato. O Mn2+ também estabiliza o enol formado transitoriamente por descarboxilação. Em todas as células, existem duas formas diferentes de isocitrato-desidrogenase, uma que requer NAD+ como aceptor de elétrons e outra que requer NADP+. As reações gerais são, em outros aspectos, idênticas. Em células eucarióticas, a enzima dependente de NAD encontra-se na matriz mitocondrial e participa do ciclo do ácido cítrico. A principal função da enzima dependente de NADP, encontrada na matriz mitocondrial e no citosol, possivelmente seja a produção de NADPH, essencial para as reações redutoras anabólicas. 4. Oxidação do α-cetoglutarato a succinil-CoA e CO2: A etapa seguinte é outra descarboxilação oxidativa, na qual o α-cetoglutarato é convertido a succinil- CoA e CO2 pela ação do complexo da α-cetoglutarato-desidrogenase; NAD + é aceptor de elétrons e CoA é o transportador do grupo succinil. A energia da oxidação do α-cetoglutarato é conservada pela formação da ligação tio éster da succinil-CoA. 5. Conversão de succinil-CoA a succinato: A succinil-CoA, como a acetil-CoA, possui uma ligação tio éster com uma energia livre padrão de hidrólise grande e negativa. Na próxima etapa do ciclo do ácido cítrico, a energia liberada pelo rompimento desta ligação é utilizada para impelir a síntese de uma ligação fosfoanidrido no GTP ou ATP, com um ΔG,0 de apenas -2,9 64 kJ/mol. A enzima que catalisa esta reação reversível é chamada de succinil- CoA-sintetase ou succinato-tiocinase; ambos os nomes indicam a participação de um nucleosídeo trifosfatado na reação. Esta reação que poupa energia envolve uma etapa intermediária, na qual a própria molécula da enzima é fosforilada em um resíduo de His no sítio ativo. Este grupo fosfato, que possui um alto potencial de transferência de grupo, é transferido ao ADP (ou GDP) para a formação de ATP (ou GDP). 6. Oxidação do succinato a fumarato: O succinato formado a partir da succinil- CoA é oxidado a fumarato pela flavoproteína succinato-desidrogenase. Em eucariotos, a succinato-desidrogenase está firmemente ligada à membrana mitocondrial interna; em bactéria, está ligada à membrana plasmática. A enzima contém três grupos ferro-enxofre diferentes e uma molécula de FAD covalentemente ligada. Os elétrons do succinato passam pelo FAD e pelos centros de ferro-enxofre antes de entrarem na cadeia de transportadores de elétrons da membrana mitocondrial interna (da membrana plasmática em bactérias). O fluxo dos elétrons do succinato ao longo destes transportadores até o aceptor de elétrons final, O2, é acoplado à síntese de aproximadamente 1,5 molécula de ATP por par de elétrons (fosforilação acoplada à respiração). Malonato, um análogo do succinato que normalmente não está presente nas células, é um forte inibidor competitivo da succinato-desidrogenase, e sua adição à mitocôndria bloqueia a atividade do ciclo do ácido cítrico. 7. Hidratação do fumarato a malato: A hidratação reversível do fumarato a L- malato é catalisada pela fumarase (formalmente, fumarato-hidratase). O estado de transição desta reação é um carbânion. Esta enzima é altamente estereoespecífica; ela catalisa a hidratação da ligação dupla trans do fumarato, mas não a da ligação dupla cis do maleato (o isômero cis do fumarato). Na direção inversa (de L-malato para fumarato), a fumarase é igualmente estereoespecífica: d-malato não é um substrato. 65 8. Oxidação do malato a oxaloacetato: Na última reação do ciclo do ácido cítrico, a L-malato-desidrogenase ligada ao NAD catalisa a oxidação de L- malato a oxaloacetato; O equilíbrio desta reação é muito deslocado para a esquerda sob as condições termodinâmicas padrão, porém, nas células intactas, o oxaloacetato é continuamente removido pela reação altamente exergônica da citrato-sintase. Isto mantém a concentração celular de oxaloacetato extremamente baixa, deslocando a reação da malato- desidrogenase no sentido da formação de oxaloacetato. Reações anapleróticas Conforme os intermediários do ciclo do ácido cítrico são removidos para servirem como precursores na biossíntese, eles são repostos por reações anapleróticas. Sob circunstâncias normais, as reações pelas quais os intermediários são desviados para outras vias e aquelas pelas quais eles são repostos estão em um equilíbrio dinâmico, de maneira que as concentrações dos intermediários do ciclo do ácido cítrico permanecem quase constantes. 66 As reações anapleróticas mais comuns convertem ou piruvato ou fosfoenolpiruvato a oxaloacetato ou malato, em vários tecidos e organismos. A reação anaplerótica mais importante no fígado e nos rins de mamíferos é a carboxilação reversível do piruvato pelo CO2 para a formação de oxaloacetato, catalisada pela piruvato-carboxilase. Quando o ciclo do ácido cítrico está deficiente em oxaloacetato ou qualquer outro intermediário, o piruvato é carboxilado para produzir mais oxaloacetato. A adição enzimática de um grupo carboxil ao piruvato requer energia, que é suprida pelo ATP – a energia livre necessária para unir um grupo carboxil ao piruvato é aproximadamente igual à energia livre disponibilizada pelo ATP. A piruvato-carboxilase é uma enzima de regulação e é essencialmente inativa na ausência de acetil-CoA, seu modulador alostérico positivo. Sempre que a acetil-CoA, o combustível do ciclo do ácido cítrico, está presente em excesso, ela estimula a reação da piruvato-caroxilase para a produção de mais oxaloacetato, permitindo que o ciclo utilize mais acetil-CoA na reação da citrato-sintase. As outras reações anapleróticas também são reguladas de modo a manter o nível dos intermediários suficientemente alto para sustentar a atividade do ciclo do ácido cítrico. A fosfoenolpiruvato-carboxilase, por exemplo, é ativada pelo intermediário glicolítico frutose-1,6-bifosfato, que se acumula quando o ciclo do ácido cítrico processa muito lentamente o piruvato gerado pela glicólise. Tabela reações anapleróticas: Reação Tecido(s) /organismo(s) Piruvato + HCO-3 piruvato carboxilase oxaloacetato + ADP + Pi Fígado, rins Fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP PEP-carboxinase oxaloacetato + GTP Coração, músculo esquelético Fosfoenolpiruvato + HCO3 - PEP-carboxilase oxaloacetato + Pi Vegetais superiores, leveduras, bactérias 67 Piruvato + HCO-3 + NAD(P)H enzima málica malato + NAD(P) + Amplamente distribuída em eucariotos e bactérias Regulação do ciclo do ácido cítrico: A regulação de enzimas-chave em vias metabólicas, por meio de efetores alostéricos e modificações covalentes, garante a produção dos intermediários nas taxas necessárias para manter a célula em um estado de equilíbrio estável enquanto evita o desperdício de uma superprodução. O fluxo de átomos de carbono que entram no ciclo do ácido cítrico a partir do piruvato, e também durante o curso do ciclo, está sob constante regulação em dois níveis: a conversão de piruvato a acetil-CoA, o material de partida do ciclo (a reação da piruvato desidrogenase), e a entrada da acetil-CoA no ciclo (a reação da citrato- sintase). 68 A acetil-CoA também é produzida por outras vias que não a reação do complexo PDH – a maioria das células produz acetil-CoA pela oxidação de ácidos graxos e certos aminoácidos – e a disponibilidade de intermediários a partir destas viasé importante para a regulação da oxidação do piruvato e o ciclo do ácido cítrico. O ciclo também é regulado nas reações da isocitrato-desidrogenase e da α-cetoglutarato- desidrogenase. RESUMO Ciclo do Ácido Cítrico - O ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs, ciclo do ácido tricarboxílico [TCA]) é uma via catabólica centra e praticamente universal por meio da qual os compostos derivados da degradação de carboidratos, gorduras e proteínas são oxidados a CO2, com a maior parte da energia da oxidação temporariamente armazenada nos transportadores de elétrons FADH2 e NADH. Durante o metabolismo aeróbico, estes elétrons são transferidos ao O2, e a energia do fluxo de elétrons é capturada na forma de ATP. - Acetil-CoA entra no ciclo do ácido cítrico (na mitocôndria de eucariotos, no citosol em bactérias) quando a citrato-sintase catalisa sua condensação com o oxaloacetato para a formação de citrato. - Em sete reações sequenciais, incluindo duas descarboxilações, o ciclo do ácido cítrico converte citrato a oxaloacetato e libera dois CO2. A via é cíclica, de modo que os intermediários não são exauridos; para cada oxaloacetato consumida na via, um é produzido. - Para cada acetil-CoA oxidada pelo ciclo do ácido cítrico, o ganho de energia consiste em três moléculas de NADH, uma de FADH2 e um nucleosídeo trifosfatado (ATP ou GTP). - Além da acetil-CoA, qualquer composto que origine um intermediário do ciclo do ácido cítrico com quatro ou cinco carbonos – por exemplo, os produtos da degradação de muitos aminoácidos – podem ser oxidados pelo ciclo. - O ciclo do ácido cítrico é anfibólico, servindo ao catabolismo e ao anabolismo; os intermediários do ciclo podem ser desviados e utilizados como material de partida para diversos produtos da biossíntese. - Quando os intermediários são desviados do ciclo do ácido cítrico para outras vias, eles são repostos por algumas reações anapleróticas, que produzem intermediários de quatro carbonos por meio da carboxilação de compostos de três carbonos; estas reações são catalisadas por piruvato-carboxilase, PEP-carboxicinase, PEP-carboxilase e enzima málica. Enzimas que catalisam carboxilações comumente utilizam a biotina para ativar o CO2 e transportá-lo a aceptores, como piruvato ou fosfoenolpiruvato. 69 Fosforilação Oxidativa A fosforilação oxidativa é a culminação do metabolismo produtor de energia em organismos aeróbios. Todos os passos oxidativos na degradação de carboidratos, gorduras e aminoácidos convergem para este estágio final da respiração celular, onde a energia da oxidação governa a síntese de ATP. A fotofosforilação é a maneira pela qual os organismos fotossintéticos capturam a energia do sol – a fonte, em última análise, da energia na biosfera – e a utilizam para fazer ATP. Juntas, a fosforilação oxidativa e a fotofosforilação são responsáveis pela maior parte do tempo. A fosforilação oxidativa, em eucariotos, ocorre na mitocôndria. Envolve a redução de O2 a H2O, com elétrons doados por NADH e FADH2; ela ocorre igualmente na luz ou na escuridão. As mitocôndrias, assim como as bactérias gram-negativas, têm duas membranas. A membrana mitocondrial externa é prontamente permeável a moléculas pequenas e a íons, que sem movem livremente através de canis transmembrana, formados por uma família de proteínas integrais de membrana chamadas de porinas. A membrana interna é impermeável à maioria das moléculas pequenas e dos íons, incluindo prótons (H+); as únicas espécies que cruzam a membrana o fazem através de transportadores específicos. A membrana interna aloja os componentes da cadeia respiratória e a ATP-sintase. A matriz mitocondrial, delimitada pela membrana interna, contém o complexo da piruvato desidrogenase e as enzimas do ciclo do ácido cítrico, a via de β-oxidação de ácidos graxos e as vias de oxidação de aminoácidos – todas as vias de oxidação de combustível, exceto a glicólise, que ocorre no citosol. A permeabilidade seletiva da membrana interna segrega os intermediários e as enzimas das vias metabólicas citosólicas daqueles dos processos metabólicos que ocorrem na matriz. No entanto, transportadores específicos carregam piruvato, ácidos graxos e aminoácidos ou seus α-cetoácidos derivados para dentro da matriz, para acesso à 70 maquinaria do ciclo do ácido cítrico. ADP e Pi são especificamente transportados para dentro da matriz quando ATP recém-sintetizado é transportado para fora. RESUMO: A maior parte da energia do metabolismo é obtida através deste processo; NADH e FADH2 são utilizados para produzir ATP a partir de sua oxidação; NADH nicotinamida adenina dinucleotídeo; FADH2 flavina adenina dinucleotídeo; A oxidação depende do fluxo contínuo de elétrons através de estruturas complexas presentes na mitocôndria. 71 Complexos proteicos: Os carregadores dele elétrons da cadeia respiratória são organizados em complexos supramoleculares inseridos dentro da membrana, podendo ser fisicamente separados. Um leve tratamento da membrana mitocondrial interna com detergentes permite a separação de quatro complexos carregadores singulares, cada um capaz de catalisar a transferência de elétrons através de uma porção da cadeia. Os complexos I e II catalisam a transferência de elétrons para a ubiquinona a partir de dois doadores de elétrons diferentes: NADH (Complexo I) e succinato (Complexo II). O Complexo III carrega elétrons da ubiquinona reduzida para o citocromo c, e o complexo IV completa a sequência, transferindo elétrons do citocromo c para o O2. Complexo I NADH desidrogenase: transferência de è do NADH p/ coenzima Q (ubiquinona) Complexo II Succinato desidrogenase: transferência de è do FADH2 p/ coenzima Q (ubiquinona) Complexo III Ubiquinona citocromo c oxidorredutase: è passam da ubiquinona para o citocromo c Complexo IV Citocromo c citocromo oxidase: è passam do citocromo c para o O2 formando H2O Complexo V ATP sintase: síntese de ATP Complexo I: NADH a ubiquinona. O complexo I, também chamado de NADH: ubiquinona-oxidorredutase ou NADH-desidrogenase, é uma enzima grande, composta de 42 cadeias diferentes de polipetídeos, incluindo uma flavoproteína contendo FMN e pelo menos seis centros de ferro-enxofre. O Complexo I é, portanto, um bombeador 72 de prótons que utiliza a energia da transferência de elétrons, e areação que ele catalisa é vetorial: ela move prótons em uma direção específica de um local (a matriz, que se torna negativamente carregada com a saída de prótons) a outro (o espaço intermembrana, que se torna positivamente carregado). Complexo II: succinato a ubiquinona. O complexo II também conhecido como succinato-desidrogenase, a única enzima do ciclo do ácido cítrico ligado à membrana. Embora menor e mais simples do que a Complexo I, ele tem cinco grupos prostéticos de dois tipos e quatro subunidades proteicas diferentes. As subunidades C e D são proteínas integrais de membrana, cada uma com três hélices transmembrana. Elas contêm um grupo heme, heme b, e um sítio de ligação para ubiquinona, o aceptor final de elétrons na reação catalisada pelo Complexo II. As subunidades A e B se estendem para a matriz; elas contêm três centros 2Fe-2S, FAD ligado e um sítio de ligação para o substrato, o succinato. O heme b do Complexo II está aparentemente não, na via direta de transferência de elétrons. Ao invés disso, ele pode servir para reduzir a frequência com que elétrons “vazam” para fora do sistema,
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