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DA INTEGRIDADE FÍSICA AO LIVRE USO DO CORPO: RELEITURA DE UM DIREITO DA PERSONALIDADE Brunello Stancioli Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor dos Cursos de Graduação e Pós- Graduação da UFMG. Nara Pereira Carvalho Bacharela e Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. SUMÁRIO 1. “Desnaturalizando” os Direitos da Personalidade; 2. Em Busca de Formas de Vida Melhores: A Autonomia e a Felicidade; 3. Modificações Corporais: Atentado à Natureza?; 4. Os Usos do Corpo; 4.1. Os Usos Estéticos do Corpo; 4.2. Os Usos Médicos do Corpo; 4.3. Os Usos Esportivos do Corpo; 4.4. O Uso Sexual e Hedonista do Corpo; 5. Conclusão; Referências Bibliográficas. 1. “DESNATURALIZANDO” OS DIREITOS DA PERSONALIDADE Uma das maiores e mais longevas construções do Ocidente é a de Direito Natural. Na verdade, o jusracionalismo dos séculos XVIII e XIX consistiu apenas numa das manifestações do fenômeno jusnaturalista, que apresentou inúmeras facetas ao longo da História. Como identificou WIEACKER, houve várias tentativas de se buscarem leis válidas atemporal e universalmente 1 . O argumento jusracionalista é, por certo, o mais invocado para se fundamentar os Direitos da Personalidade. Não são poucos os autores, mais tradicionais ou mais “modernos”, que o utilizam. Hoje, pode-se afirmar, com certa tranquilidade, que não há mais sentido em se falar em Direito Natural. De fato, a fundamentação dos direitos da personalidade será reconduzida para a ética da autonomia 2 . Nela, pessoas dotadas de historicidade produzem, voluntariamente, normas de 1 Cf. WIEACKER, Franz. História do Direito Privado Moderno [Privatrechtsgeschichte der Neuzeit unter besonderer Berücksichtigung der deutschen Entwicklung]. Trad. A. M. Botelho Espanha. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 290-302. 2 Cf. WIEACKER. História..., cit., p. 402. 2 direito positivo, que, por sua vez, também serão dotadas de historicidade (vinculadas a espaço e tempo), e compartilhadas por sujeitos de direito capazes de argumentação e fala. Assim, no pensamento contemporâneo, o papel, outrora desempenhado pelo direito natural, passa a ser exercido pelo pensamento político, ou mesmo pela ética 3 . Nesse sentido, adotar-se-á o conceito, já desenvolvido em tese, de Direitos da Personalidade: Direitos da Personalidade são direitos subjetivos que põem em vigor, através de normas cogentes, valores constitutivos da pessoa natural e que permitem a vivência de escolhas pessoais (autonomia), segundo a orientação do que significa vida boa, para cada pessoa, em um dado contexto histórico-cultural e geográfico 4 . Os Direitos da Personalidade devem ser entendidos como autoconstruções que viabilizam a seus autores-destinatários aquilo que, hoje, pode ser tomado como a grande busca do Direito: a autorrealização. É verdade que toda realização pessoal não pode prescindir de uma vivência comunitária. Porém, e ao mesmo tempo, o Direito deve, em uma lógica democrática, permitir espaços para que cada um possa “perseguir reciprocamente seus interesses egoístas”5. 2. EM BUSCA DE FORMAS DE VIDA MELHORES: A AUTONOMIA E A FELICIDADE A conclusão imediata do que foi até agora exposto conduz à afirmação de que é impossível abordar a pessoalidade e os direitos da personalidade sem se valer da autonomia como manifestação da Liberdade. Isso porque “a ideia de Pessoa é inseparavelmente ligada à ideia de liberdade”. Frise- se: sem liberdade e autonomia não há Pessoa Natural 6 ! 3 Cf. QUEIROZ, Cristina. A Tradição Ocidental do Direito Natural. In: CUNHA, Paulo Ferreira da (Org.). Direito Natural, Religiões e Culturas. [S. l.]: Coimbra, 2004, p. 189. 4 STANCIOLI, Brunello. Renúncia ao Exercício de Direitos da Personalidade ou Como Alguém se Torna o que Quiser. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. [No prelo] 5 HONETH, Axel. Sofrimento de Indeterminação. Uma Reatualização da Filosofia do Direito de Hegel. [Leiden an Unbestimmtheit: Eine Reaktualisierung der Hegelschen Rechtsphilosophie Reclam]. Trad. Rúrion Soares Melo. São Paulo: Esfera Pública, 2007, p. 55. 6 Cf. SPAEMANN, Robert. Persons: The Difference Between ‘Someone’ and ‘Something’. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 197. 3 É na Liberdade como elemento indeclinável da Pessoa Humana, que se é possível conduzir a própria vivência segundo valores eleitos como “hiperbens” (TAYLOR). Ou seja, a Pessoa articula sua vivência com aqueles valores que considera “superiores” na busca da vida que vale ser vivida7. Observe-se, por outro lado, o artigo 11 do Código Civil Brasileiro, que dispõe: Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo seu exercício sofrer limitação voluntária. Tal dispositivo nega o próprio devir à pessoa natural: Só uma visão estática da personalidade poderia levar a uma categorização absoluta do exercício dos direitos que lhe são próprios 8 . Pode-se ir além: o artigo 11 é, na verdade, um oximoro jurídico! Se a Liberdade é condição de possibilidade para a existência da pessoa; e se, mais que não poder renunciar ao exercício de direitos da personalidade, não se pode renunciar à condição de Pessoa, proibir a “renúncia ao exercício de direitos da Personalidade” é inviabilizar a própria existência pessoal! Pessoas são seres dotados de sentido de vida. Há sempre uma “meta-vontade” ou um “desejo de formas de vivência superior” que fazem parte da própria constituição da Pessoa, e que só podem ser escolhidos pelos atores envolvidos, na busca da “meta-vontade” de serem felizes9. Assim, na tentativa de contornar os efeitos indesejáveis do art. 11 do Código Civil Brasileiro, houve um esforço hermenêutico realizado na Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. Na ocasião, VILLELA propôs como leitura ao art. 11 do Código Civil: O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral 10 . É nas próprias palavras de VILLELA que se encontra a melhor justificativa para o enunciado: 7 Cf. TAYLOR, Charles. Sources of the Self: the Making of the Modern Identity. Cambridge: Harvard University Press, 1989©, p. 53 et seq; TAYLOR, Charles. The Malaise of Modernity. Toronto: House of Anansi Press, 1991, passim. 8 VILLELA, João Baptista. O Novo Código Civil Brasileiro e o Direito à Recusa de Tratamento Médico. Modena, Roma e America. Diritto Romano Comune. n. 16, 2003, p. 58. 9 Cf. SPAEMANN. Persons..., cit., p. 206. 10 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 1057. 4 O art. 11 não pode ter querido excluir em caráter absoluto a abdicação voluntária dos direitos da personalidade, pois isso equivaleria a fazer deles antes uma prisão para seu titular, do que uma proteção de sua liberdade [...] 11 . A mesma lógica pode ser aplicada ao art. 13 do Código Civil Brasileiro, que coloca a indisponibilidade do próprio corpo como regra geral, suscetível de exceção apenas para a exigência médica ou para fins de transplantes de órgãos e/ou tecidos. Trata-se, novamente, de negar o devir da pessoa e de sua dimensão corporal. De fato, se não se tem liberdade quanto aos usos do próprio corpo, torna-seimpossível a vivência do Estado Democrático de Direito. Pode-se afirmar que o corpo deve ser o primeiro e mais fundamental espaço de realização e vivência da democracia. O estudo do corpo, não só no âmbito da biomorfologia, mas também da antropologia, da ética e do direito, deve levar em conta a busca da constituição de nós mesmos como pessoas humanas em processo de constante (re)leitura, 3. MODIFICAÇÕES CORPORAIS: ATENTADO À NATUREZA? Poder-se-ia argumentar que a modificação corporal voluntária viola a Natureza, aqui entendida como tudo quanto existe no cosmos sem ação humana consciente. Só assim se justificaria a proibição contida no artigo 13 do Código Civil. O entendimento dessa acepção “antinatural” dos usos do corpo deve ser buscado na própria história do corpo no Ocidente 12 . A Idade Média pode ser tratada como a época de maior rejeição e expurgo das práticas corporais. O cristianismo impôs um regime de controle dos corpos, através do cerceamento da sexualidade e do hedonismo corporal. Controlar o corpo foi o caminho utilizado para o controle da própria subjetividade. Dispõe, de maneira ostensiva, TRUONG, acerca do “banimento do corpo” das esferas de convivência: As manifestações sociais mais ostensivas, assim como as exultações mais íntimas do corpo, são amplamente reprimidas. É na Idade Média que desaparecem, 11 VILLELA. O Novo..., cit., p. 58. 12 A Nova História tem propiciado a inclusão de temas antes tidos como marginais pela historiografia tradicional. Um dos assuntos mais negligenciados foi o “corpo”, ou a dimensão corpóreo-sensível da Pessoa Natural. 5 sobretudo, as termas, o esporte, assim como o teatro herdado dos gregos e dos romanos [...] 13 . Mais além, o autor fala das inúmeras formas de repressão ao corpo: Mulher diabolizada; sexualidade controlada; trabalho manual depreciado; homossexualidade no princípio condenada, depois tolerada e enfim banida; riso e gesticulação reprovados; máscaras, maquiagem e travestimento condenados; luxúria e gula associadas... O corpo é considerado a prisão e o veneno da alma 14 . Muitas dessas atitudes perante o corpo ainda se fazem presentes, mesmo no século XXI... O Direito Natural serviu, também, como manutenção do status quo da acepção de corpo. Mesmo que não demonizado de maneira explícita, ainda hoje é tido por muitos como Sagrado e Intocável. Na verdade, a ideia de Direito Natural, tão cara ao Ocidente, foi uma das mais sofisticadas formas de se alicerçarem a vida e o viver da pessoalidade em bases estáticas: seja em Deus, seja na Natureza como ordem pré-estabelecida. Mas a noção de Natureza, desde a Modernidade, foi substituída por outro conceito, o de Realidade 15 . Não se trata de mero jogo semântico. A carga de sentido é absolutamente diversa. A Realidade, em seus vários aspectos, substitui a Natureza, havendo grandes consequências teórico-práticas. Destaquem-se algumas: CONCEPÇÃO PRÉ-MODERNA DE REALIDADE CONCEPÇÃO MODERNA DE REALIDADE 1 Natureza dada, estática, digna de contemplação. Realidade como processo, fluxo contínuo de mudanças. 2 Corpo é lugar da alma e, portanto, inviolável. Corpo visto como parte da realidade e, portanto, sujeito a mudanças constantes. 3 Explicação teológica sobre o início da pessoa; na concepção (fusão dos gametas), há a infusão da alma. Explicações biológicas acerca do início da vida; pessoalidade como vivência na alteridade. 4 Usos do corpo repleto de tabus. Pessoas têm papel ativo na (re)construção da realidade, sendo autoras da manipulação do próprio corpo. 13 LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Uma História do Corpo na Idade Média [Une histoire du corps au Moyen Âge]. Trad. Marcos Flamínio Peres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 36-37. 14 LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Uma História..., cit., p. 37. 15 BOAVENTURA defende a ideia de realidade a partir do binômio possibilidades/ alternativas. Cf. SOUSA SANTOS, Boaventura. A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício de Experiência. São Paulo: Cortez, 2000, p. 23. 6 Há, ainda, a ideia de que a Natureza é “mãe” e “sábia”, não podendo ser modificada: Há uma intuição comum de que a Natureza frequentemente é sábia [...]. Mas a heurística também mostra que a validade dessa intuição é limitada, ao revelar casos excepcionais e importantes em que podemos melhorar a „Natureza‟, usando ciência e tecnologia, recentes e futuras 16 . Nesse contexto, vários argumentos podem ser elencados contra a leitura naturalizante do corpo. Em primeiro lugar, cabe a afirmação de que a evolução levou a um desenvolvimento biomorfológico inadequado ao meio ambiente atual, carregado de modificações antrópicas. A escassez de alimentos em uma savana, aliada à necessidade de reprodução para mantença de grupos de defesa e caça, por exemplo, não existem mais. O provimento de necessidades alimentícias é bastante diverso. Temos carboidrato, proteína e gordura em profusão nos alimentos cotidianamente ingeridos 17 . Várias são as consequências: as epidemias de obesidade tornam-se cada vez mais comuns. Já a escassez de alimentos para uma dada população é, em regra, um problema sócio- político e não de “adaptação ao meio”18. A sociedade muda com muito mais rapidez do que a “Natureza”. A busca da melhor adaptação passa, agora, por demandas sociais e (auto)afetivas. Há um “atraso genético” (genetic lag) em relação a essas mudanças, como as adaptações devido a migrações, novas dietas e novas doenças 19 . Ou mesmo a longevidade, que tem inúmeras demandas específicas (senilidade e mudança corporal). Em suma, nosso corpo “natural” é inadequado ao meio ambiente hodierno. Por outro lado, a Natureza nunca se preocupou com a eudaimonia ou a autorrealização das pessoas humanas. Os valores humanos não são os mesmos da “Natureza”. A “lei da selva” não é a melhor escolha. A competição individual ou entre clãs por comida, água e outros insumos de sobrevivência não faz mais sentido. Logo, não há coincidência entre metas da “Natureza” e as das pessoas humanas, como ética da busca da solidariedade e da felicidade 20 . Assim, o corpo faz parte da realidade ao mesmo tempo em que é mediador de todas as formas de exercício da pessoalidade 21 . Ele pode ser modificado, pois também é um processo em 16 BOSTROM, Nick; SANDBERG, Anders. The Wisdom of Nature: AN Evolutionary Heuristic for Human Enhancement. In: SAVULESCU, Julian; BOSTROM, Nick. Human Enhancement. Oxford: Oxford University Press, 2009, p. 377. 17 Paradoxalmente, ainda há, em pleno século XXI, algumas nações, em especial na África, cujo principal problema é o acesso a comida e água potável. 18 Cf. BOSTROM, Nick; SANDBERG, Anders. The Wisdom…, cit., p. 378-379. 19 Cf. BOSTROM, Nick; SANDBERG, Anders. The Wisdom…, cit., p. 403. 20 Cf. BOSTROM, Nick; SANDBERG, Anders. The Wisdom…, cit., p. 394-395. 21 WILLIAMS, Bernard. Problems of the Self. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p. 1-25, 64- 81. 7 contínua mudança. Dessa forma, as demandas acerca da corporeidade devem ser atendidas pelas próprias pessoas no exercício de sua autonomia. 4. OS USOS DO CORPO A partir do momento em que o fundamento dos direitos da personalidade é lastreado na ética da autonomia, a integridade corporal assume novos contornos. Isso porque, ao implicar manifestação, e mesmoafirmação, da liberdade humana, o direito da personalidade deve, antes, possibilitar que cada um se realize pessoalmente. Nesse contexto, o próprio entendimento do papel da corporeidade foi modificado ao longo da História. Tratado de maneira dual no medievo (ora como fonte de pecado, o que conduzia à sua negação; ora como morada da alma, devendo permanecer intocado), o corpo passa a ser componente indispensável da pessoalidade. [No século XX,] mostra-se cada vez mais o corpo: cada etapa desse desnudamento parcial começa provocando certo escândalo, depois se difunde rapidamente e acaba se impondo, pelo menos entre os jovens, aumentando a distância entre as gerações. É o caso da minissaia nos meados dos anos 1960 ou, dez anos depois, do monoquíni nas praias [...]. O corpo não é apenas assumido e reabilitado: é reivindicado e exposto à visão de todos 22 . Afinal, é esse aparato bio-físico-químico, provido de enorme plasticidade, que medeia toda a vivência da pessoa. Nele, estão contidos tradições, concepções de vida, valores que se apresentam nas esferas pública e privada, com vistas à obtenção de reconhecimento. Simultaneamente, o corpo é a primeira forma de apresentação social (e frise-se que mesmo os relacionamentos virtuais não prescindem dessa base empírico-sensitiva), de modo que é (con)formador da identidade: pessoas são (também) corpos! De fato, o corpo se tornou o lugar da identidade pessoal. Sentir vergonha do próprio corpo seria sentir vergonha de si mesmo. As responsabilidades se deslocam: nossos contemporâneos se sentem menos responsáveis do que as gerações anteriores por seus pensamentos, sentimentos, sonhos ou nostalgias; eles os aceitam como se lhes fossem impostos de fora. Em contraposição, habitam plenamente seus corpos: o corpo é a própria pessoa. Mais do que as identidades 22 PROST, Antoine. Fronteiras do Espaço Privado. In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (Org.). História da Vida Privada: Da Primeira Guerra a nossos dias [Histoire de la vie privée: De la Premièr Guerre mondiale à nous jours]. Trad. Denise Bottmann. V. 5. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 89. [Destacou-se] 8 sociais, máscaras ou personagens adotadas, o corpo é a própria realidade da pessoa 23 . Na medida em que a sua importância é reconhecida no âmbito social, o corpo passa a ser levado em conta nos projetos de vida das pessoas. Visando à autossatisfação, é manipulado e utilizado, no cotidiano, de maneiras bastante diversas. Dessa maneira, os usos do corpo na estética, na medicina, nos esportes e mesmo no âmbito sexual, são apenas alguns dos possíveis recortes para se evidenciar, na realidade fática, o quanto essa visão do corpo, enquanto entidade intocada, vem sendo criativamente dirimida. Verifica-se, assim, que a preconização jurídica de uma integridade física, intransponível, consistiria num contra- senso, já que o Direito deve acompanhar a vivência das pessoas que o reconstroem a todo instante. 4.1 Os Usos Estéticos do Corpo A contemplação da beleza física não é atributo exclusivo dos Modernos. Na civilização grega, o físico era associado a saúde, virilidade e capacidade atlética, assim como rigorosamente considerado na formação de guerreiros 24 . Na mitologia greco-romana, Afrodite (no panteão grego) e Vênus (no panteão romano) são exaltadas como as deusas da beleza, ao passo que Narciso, na célebre versão ovidiana, apaixona-se pela própria imagem refletida num lago. Em outros contextos, a prática da escarificação em tribos africanas, a compressão dos pés de mulheres na China, as mulheres-girafa na Tailândia, a pintura dos corpos em festas indígenas, são alguns exemplos possíveis de como o uso estético do corpo não é recente e está bastante ligado à manifestação cultural. Contudo, na Civilização Ocidental Moderna, é sobretudo no século XX que se tem um aumento vertiginoso da preocupação com o senso estético 25 . A (re)descoberta do corpo, agora como elemento configurador da identidade pessoal, traz novos padrões de beleza, inexoravelmente atrelados a uma crescente instigação ao consumo, em que se têm incrementos tecnológicos até então inimagináveis. 23 PROST, Antoine. Fronteiras..., cit., p. 89-90. [Destacou-se] 24 A “contra-história” da beleza grega começa a ser contada através do estudo de deformados e debilitados. Para tanto, cf. GARLAND, Robert. The Eye of the Beholder: Deformity & Disability in the Graeco-Roman World. Ithaca: Cornell University Press, 1995. 25 Beleza e feiura passaram a ser objeto de estudo histórico. Cf. ECO, Umberto (Org.). História da Beleza [Storia della Bellezza]. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2004; ECO, Umberto (Org.). História da Feiúra [Storia della Bruttezza]. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2007. 9 O cuidado com o corpo assume importante papel econômico inclusive. Acesso a vestuário, acessórios, calçados, cosméticos são necessidades da população (não apenas feminina). Dietas, práticas de esporte, academias de ginástica, meios alternativos de exercitar-se são cada vez mais buscados. Tem-se a busca pelo corpo saudável, pelo aumento da qualidade de vida, mas sobretudo porque corpo saudável é sinônimo de beleza e, por conseguinte, de sensualidade. A indústria da moda passa a ditar, à maioria, um ideal não só de aparência, mas também de comportamentos. A tecnologia viabiliza, a quem a “Natureza” não foi “generosa”, uma melhor adequação a esses padrões estéticos. Cirurgias plásticas, aparelhos ortodônticos, clareamento e aplicação de resinas nos dentes, bronzeamento artificial, cremes redutores de medida, técnicas de alisamento e implante de cabelo, depilação definitiva... Oferece-se um repertório bastante diversificado para atingir-se um patamar de beleza, que, por sua vez, possui grande receptividade pelas pessoas em geral. Ressalte-se que os avanços tecnológicos, bem como os cuidados, tantas vezes excessivos, com o corpo resgatam a obsessão de se lograr o “elixir da imortalidade”26. A preocupação estética é, então, acompanhada pelo medo da doença e do envelhecimento, num cenário em que “[a] norma social dita a aparência jovem, e a personalidade se confunde a tal ponto com o corpo que „continuar a ser o que é‟ acaba se confundindo com „continuar a ser jovem‟”27. Assim, usos estéticos e médicos do corpo imiscuem-se. Intervenções cirúrgicas são feitas com a única finalidade de se obter melhoramento físico. Nos receituários médicos, são prescritos cosméticos. A depilação definitiva a laser é aplicada por dermatologista ou por esteticista que não tenha o diploma de medicina. Cirurgias plásticas não são feitas apenas em hospitais. Cosméticos perdem o status de medicamentos e podem ser encontrados não só nas antigamente denominadas boticas, mas também em supermercados e lojas específicas. Tem-se uma ampla variedade de produtos e serviços para cuidar-se do corpo – para todas as idades e todos os bolsos. Paradoxalmente, o senso estético (de conotação subjetiva eminente: sentir o belo) assume contornos midiáticos tão vultosos, que, muitas vezes, não dão espaço para reflexão, propendendo a suprimir as escolhas individuais. Adere-se a um padrão ditado pela indústria da moda, tendências que mudam conforme as estações do ano. Ao mesmo tempo, há aqueles que se insurgem contra os padrões estéticos vigentes e/ou querem se diferenciar, manifestando suas opções no corpo. O movimento punk, surgido na década 26 Já há autoresde renome que defendem a ideia de que a imortalidade está mais próxima de ser alcançada do que parece ao senso comum. Cf. HARRIS, John. Enhancing Evolution: The Ethical Case for Making Better People. Princeton: Princeton University Press, 2007, p. 59-71, passim. 27 PROST, Antoine. Fronteiras..., cit., p. 92. 10 de 1970, é exemplo corriqueiro de rebeldia, cujos membros, também na aparência, expressam a busca da individualidade, um contundente “ser dono de si mesmo”. À época, tatuagens, piercings, roupas e moicanos, usados por seus adeptos, eram motivo de grande reprimenda social e, hoje, não é raro inspirarem a indústria da moda 28 . Persistem, no entanto, modificações corporais (body modifications) que geram grande mal- estar dentre a maioria das pessoas, por preconizarem um distanciamento do físico tido como “natural”/ideal para um ser humano. Têm-se os brandings (cicatrizes realizadas a ferro quente), a implantação de próteses subcutâneas, a bifurcação da língua e o serrilhamento dos dentes. É possível identificar uma linha de continuidade: pintam-se os cabelos, pintam-se as unhas, pinta-se o corpo (aqui, a tatuagem é apenas uma das possibilidades). Apõem-se brincos, „piercings’, próteses subcutâneas no corpo29... Dessa maneira, e apesar dos diferentes graus de aceitação social, observa-se que o corpo é espaço de estética e de manifestação cultural-artística. Trata-se, assim, de um dos primeiros elementos de identificação e identidade: como a pessoa quer ser reconhecida no meio social. Destaque-se que tais manifestações não são solipsistas, isoladas, mas sempre construções sociais. 4.2 Os Usos Médicos do Corpo Assim como na estética, a tecnologia possibilita uma série de inovações no campo da medicina, o que implica aumento da expectativa e da qualidade de vida. Por outro lado, tal avanço tem possibilitado a ampliação do que tradicionalmente se entende(u) como corpo. A fusão homem- máquina, por exemplo, não é mais temática restrita a filmes de ficção científica 30 . 28 Curiosamente, pela sua perenidade em meio à volátil indústria da moda, a tatuagem tem passado a ser vista como anti-fashion. Cf. SWEETMAN, Paul. Anchoring the (Postmodern) Self? Body Modification, Fashion and Identity. In: FEATHERSTONE, Mike (ed.). Body Modification. London, Thousand Oaks, New Delhi: SAGE Publications, 2000, p. 58 et seq. 29 Há, ainda, os recém-denominados wannabes, pessoas que vivenciam uma inadequação do corpo objetivo com o subjetivo, por sentirem que seriam melhores, mais felizes, se amputassem um determinado membro do corpo, que embora sadio, não o sentem como seus. Sendo tachados como portadores de anomalia neurológica e psicológica, compõem caso extremo acerca do livre uso do corpo. Todavia, dada a complexidade do tema, inclusive pelas suas nuances médicas, optou-se por não o tratar de maneira suficientemente profunda. 30 KURZWEIL, Ray. The Singularity is Near: When Humans Transcend Biology. London: Penguin Books, 2005. 11 Se na estética, a opção por manipular-se o corpo gera constrangimentos (como para com aqueles que realizam modificações corporais para adquirirem aparência de um felino ou um lagarto), na área médica, os usos do corpo tendem a ser aceitos com facilidade, sob a justificativa de que se trata de uma indicação profissional, científica. Tem-se uma noção pressuposta de que, na medicina, lidar com o corpo tem o propósito inexorável de restabelecer um estado de “normalidade”, desequilibrado por acidente. Os usos médicos do corpo circunscrever-se-iam, assim, a tratar e curar, tendo em vista um padrão do que é “normal” e a garantia dada pela Constituição de que todos têm direito a uma vida saudável. Nesse sentido, para além de cirurgias, da utilização de fármacos e da invenção de aparelhos capazes de proceder diagnósticos cada vez mais precisos, a tecnologia tem viabilizado uma crescente fusão do homem com a máquina. Já é comum a colocação de metal de titânio no osso da boca em implantes dentários; o emprego de marca-passo para regularização dos batimentos cardíacos; próteses auriculares para deficientes auditivos; e membros biônicos para deficientes físicos. Corpo, aqui, não pode ser adstrito ao aparato biológico geneticamente “herdado”, vez que a este se associam elementos que passarão a integrar o físico da pessoa ao longo de toda a sua vida. A engenharia genética, inclusive, tem possibilitado enorme incremento na qualidade de vida. Sob a epígrafe de “melhoramentos humanos” (human enhancement), procedimentos para evitar o nascimento de crianças portadoras de síndrome genéticas graves já é uma realidade. Tais melhoramentos têm, inclusive, suscitado debates calorosos acerca dos seus limites éticos (e se os há), visto que é possível desde a criação de pessoas loiras de olhos azuis (numa alusão à malfadada eugenia nazista) a pessoas que metabolizam melhor o açúcar ou tenham melhor predisposição a estudar 31 . Assim, se uma vida saudável consiste naquela em que se prioriza o bem-estar do indivíduo, que busca a sua realização segundo projetos de vida traçados, a medicina passaria a preocupar-se não só com a cura ou o tratamento de doenças, mas também com o melhoramento da vida das pessoas. Desse modo, afirma-se que os melhoramentos do corpo já estão presentes e tendem a aumentar. A fusão, em maior ou menor grau, com a máquina é cotidianamente realizada. Tecnologias para modificações gênicas do humano já estão sendo desenvolvidas, com vistas a melhorar a qualidade de vida. Independente dos questionamentos éticos que envolvem a questão, os usos do corpo conduzem a uma desconstrução da ideia de corpo como “dado”, que é substituída por corpo como “construção”. 31 Cf. SAVULESCU, Julian; BOSTROM, Nick (ed.). Human Enhancement. Oxford: Oxford University Press, 2009. 12 4.3 Os Usos Esportivos do Corpo Inspirado na Grécia Antiga, Pierre Coubertin organizou as primeiras Olimpíadas Modernas, em 1896. Para ele, a função do esporte estava em contribuir para a formação e o autodomínio das pessoas 32 . A partir da década de 1920, o furor competitivo e os interesses financeiros conduziram à profissionalização do esporte, que passa a ser dominado pelos poderes financeiro, médico e da mídia. O atleta profissional, visando a obter resultados e, consequentemente, remuneração, recebe treinamento apoiado por equipe multidisciplinar constituída de médicos, fisioterapeutas, químicos, nutricionistas, etc. Ao mesmo tempo, há todo um trabalho para que a disciplina a que o atleta se submete seja bem noticiada pelos veículos de comunicação. Se esporte entretém espectadores, atinge níveis elevadíssimos de audiência e movimenta todo um mercado financeiro, faz-se um enorme esforço para se transmitir ao público uma concepção de esporte associada a prazer e bem- estar 33 . Contudo, uma observação mais atenta à rotina de um atleta de elite acaba por desconstruir a crença de que seu modo de vida e, também, seu corpo, tantas vezes bem delineado, seja modelo de saúde. Nas Olimpíadas de 2008, realizadas em Pequim, o nadador norte-americano Michael Phelps foi apontado à exaustão como o destaque dos Jogos. Elogiado por seu treinamento, disciplina e dieta, o nadador quebrou o recorde de maior número de medalhas de ouro conseguidas numa única edição das Olimpíadas – oito no total. Para obter tamanho êxito, Phelps declarou ter uma rotina de dois treinos por dia, seis vezes por semana. Oitenta quilômetros são nadados pelo atleta semanalmente.Ao intenso treinamento e à genética privilegiada, associa-se uma dieta que prevê o consumo de 12000 calorias diárias, quando a Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo diário de cerca de 2500 calorias. Da mesma maneira, o atleta ingere, por dia, 14 vezes 32 VINCENT, Gérard. Uma História do Segredo? In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (Org.). História da Vida Privada: Da Primeira Guerra a nossos dias [Histoire de la vie privée: De la Premièr Guerre mondiale à nous jours]. Trad. Denise Bottmann. V. 5. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 286. 33 VINCENT, Gérard. Uma História..., cit., p. 286-287. 13 mais colesterol, 15 vezes mais sódio, 5 vezes mais cálcio, 7 vezes mais ferro e 9 vezes mais fósforo do que é recomendado a uma pessoa “comum”34. Phelps é apenas um dos possíveis exemplos de como atletas de elite vivem sob um regime de clausura e treinamento intenso, exaustivo: o corpo é condicionado a superar os limites humanos. Com isso, o elevado risco de ocorrência de lesões, fraturas e estiramentos musculares é constante. Quando machucados, a recuperação tem que ser rápida e, não raramente, bastante dolorosa. Inclusive, uma das técnicas recentes que tem sido empregada no meio esportivo com vistas a obter uma célere recuperação do atleta é a PRP (plasma rico em plaqueta). Nela, utiliza-se sangue do próprio atleta na recuperação de traumas e lesões em músculos e tendões: extrai-se sangue do paciente, que é filtrado; após, esse sangue é processado numa centrífuga que separa as plaquetas (de alto poder regenerativo), que, por sua vez, serão usadas nas áreas atingidas 35 . Ressalte-se que grandes equipes esportivas possuem médicos, químicos e farmacêuticos dentre os seus integrantes, para desenvolverem terapias, métodos de treino e fármacos que otimizem os resultados de seus atletas. Concomitantemente, tem-se a contínua preocupação de que essas novas técnicas não impliquem a detecção em exames antidoping. Aliás, no que tange aos melhoramentos humanos no âmbito dos esportes, o doping é assunto de proeminência. Inicialmente traduzido pelo uso de drogas que aperfeiçoem o desempenho dos atletas, o doping adquiriu uma acepção mais restrita ao uso de drogas ilícitas que visam a melhorar a atuação de um atleta de elite 36 . Para tanto, a Agência Mundial Anti-Doping (WADA) edita, todos os anos, em seu Código Mundial Anti-Doping, a “Lista Proibida”, que contém a relação das substâncias vetadas aos atletas de elite 37 . Numa análise comparativa entre as últimas listas, observa-se um recrudescimento das normas, em que se tem uma preocupação de se aumentar o rol de proibições, descritas, cada vez mais, de maneira minuciosa. Paralelamente, a WADA tem 34 OYAMA, Thaís. Phelps, O Super-Homem. Com reportagem de Anna Paula Buchalla e Naiara Magalhães. Veja, São Paulo, ed. 2074, ano 41, n. 33, p. 88-90, 20 ago. 2008. 35 ESPORTE ESPETACULAR. Técnica revolucionária melhora índice de recuperação de lesões. 10 jan. 2010. [Vídeo disponível em: <http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1188225-7824- TECNICA+REVOLUCIONARIA+MELHORA+INDICE+DE+RECUPERACAO+DE+LESOES,00.html>. Acesso: 16 jun. 2010.] 36 Nesse sentido, a cafeína, embora tenha a potencialidade de melhorar o desempenho dos atletas que a utilizem, foi retirada da lista antidoping. Em esportes de resistência, ela aumenta em 20% a diferença do tempo de exaustão dentre os atletas que estão competindo. Hoje, o uso da substância é tido como suficientemente seguro, de modo que não é mais considerada doping. Cf. FODDY, Bennett; SAVULESCU, Julian. Ethics of Performance Enhancement in Sport: Drugs and Gene Doping. In: ASHCROFT, R. E.; DAWSON, A.; DRAPER, H.; MCMILLAN J. R. (ed.). Principles of Health Care Ethics. 2. ed. Londres: John Wiley & Sons Ltd., 207, p. 511-520. 37 A respeito da última lista editada, referente ao ano de 2010, cf. WORLD ANTI-DOPING AGENCY. The World Anti-Doping Code: The 2010 Anti-Doping List: International Standard. 19 set. 2009. Disponível em: <http://www.wada-ama.org/en/World-Anti-Doping-Program/Sports-and-Anti-Doping- Organizations/International-Standards/Prohibited-List/>. Acesso: 16 jun. 2010. 14 destacado e incentivado os governos estatais a criarem normas internas antidoping, bem como a assinarem acordos internacionais antidoping, a exemplo da Convenção da UNESCO 38 , da qual o Brasil é signatário. Todavia, enquanto as organizações esportivas internacionais, inclusive o Comitê Olímpico, consideram a prática de doping antiética, filósofos-éticos sustentam que melhorar as habilidades humanas faz parte do espírito dos esportes humanos – afinal, “escolher ser melhor é ser humano”39. Propõem, assim, a flexibilização das regras antidoping e/ou o banimento delas40. De todo modo, a incursão tecnológica nos esportes é flagrante. Uniformes e equipamentos esportivos aumentam o desempenho e o próprio conforto dos atletas. A preocupação não mais se restringe ao uso de substância intracorporais, mas também a produtos que, tal como o uso de doping, se associam ao corpo do atleta, aumentando-lhe o desempenho – fala-se, então, em doping high-tech 41 . É o caso dos maiôs usados na natação. Tanto que, para garantir condições mínimas de competitividade no esporte, a Federação Internacional de Natação atualiza, constantemente, a lista de uniformes permitidos 42 . Assim, ao mesmo tempo em que implica vantagens, a tecnologia deflagra situações imprevisíveis e que carecem de soluções desvinculadas de pré-conceitos. Cite-se o caso de Oscar Pistorius, que teve duas pernas amputadas abaixo do joelho, e cujo uso de próteses o possibilitou a disputar provas de corrida, como atleta de elite. Não obstante os índices significativos alcançados e o desejo de ser o primeiro corredor amputado a disputar as Olimpíadas, a possibilidade de participação do atleta em corridas que não sejam destinadas a para-atletas tem sofrido forte resistência. Alega-se, frequentemente, que as próteses lhe dão vantagem injusta sobre os demais competidores que fazem uso de suas pernas “naturais”, de modo que a sua participação atingiria a pureza do esporte 43 . 38 Sobre a Convenção Internacional contra o Doping no Esporte, cf. UNESCO. International Convention Against Doping in Sport. Paris, 19 out. 2005. Disponível em: <http://www.wada- ama.org/Documents/World_Anti-Doping_Program/Governments/UNESCO_Convention.pdf>. Acesso: 16 jun. 2010. 39 SAVULESCU, J.; FODDY, B.; CLAYTON, M. Why we should allow performance enhancing drugs in sport. British Journal of Sports Medicine. n. 38, dez. 2004, p. 670. 40 Cf. SAVULESCU, J.; FODDY, B.; CLAYTON, M. Why we should…, cit., p. 666-670; FODDY, Bennett; SAVULESCU, Julian. Ethics of Performance…, cit., p. 511-520. TÄNNJÖ, Torbjön. Medical Enhancement and the Ethos of Elite Sport. In: SAVULESCU, Julian; BOSTROM, Nick (ed.). Human Enhancement. Oxford: Oxford University Press, 2009, p. 315-326. 41 LUZ, Sérgio Ruiz. Doping high tech. Veja, São Paulo, ed. 1649, 17 maio 2000. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/170500/p_102.html>. Acesso: 16 jun. 2010. 42 Cf. FINA. Lista de Uniformes de Natação Permitidos. Disponível em: <http://www.fina.org/H2O/index.php?option=com_content&view=article&id=917&Itemid=461>. Acesso: 18 jun. 2010. 43 TÄNNJÖ, Torbjön. Medical Enhancement…, cit., p. 323. 15 Desse modo, a velocidade com que se produzem novas tecnologias tem suscitado debates constantes acerca do que deva ser proibido econduzem à própria reflexão de qual é o verdadeiro significado do esporte e do chamado espírito esportivo. Conforme já apontado, com a progressiva profissionalização, atletas procuram nos esportes muito mais do que entretenimento: esporte é fonte de renda, e ganhar competições implica ganhar dinheiro. O esporte passa, então, a ser fortemente considerado como projeto de vida e, para obtê-lo, não são medidos esforços: treinamentos, dietas, uso de substâncias (lícitas e ilícitas)... Nega-se, portanto, a imagem arraigada no senso comum de que esporte está intimamente atrelado à saúde. Não obstante, é indispensável frisar a diferença entre os usos do corpo nos esportes de elite e nos esportes amadores. Nestes, é possível identificar o ideal de Paideia Grega, resgatado por Coubertin na reorganização das Olimpíadas nos tempos modernos: o esporte auxiliando na formação da pessoa humana. Não por acaso as atividades físicas são constantemente incentivadas por profissionais, especialmente da área da saúde, como elemento importante na obtenção do bem- estar físico, mental e social. 4.4 O Uso Sexual e Hedonista do Corpo Uma das maiores contradições na história dos usos do corpo no Brasil diz respeito às práticas sexuais. Há uma permanente tensão entre a normalização do sexo e a sua vivência cotidiana. Tal remonta aos tempos da Colônia, de forma perene e contumaz, devido, também, à forte influência da Igreja Católica. As Ordenações Filipinas, por exemplo, cuidavam de reprimir, com severidade, qualquer forma de relação homossexual ou de bestialismo: Título XIII Dos que cometem pecado de sodomia, e com alimárias [bestialismo] Toda pessoa, de qualquer qualidade que seja, que pecado de sodomia por qualquer maneira cometer, seja queimado, e feito por fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória [...]. E esta Lei queremos que também se entenda, e haja lugar nas mulheres que umas com as outras cometem pecado contra a natureza [...]. Outrossim, qualquer homem ou mulher que carnalmente tiver ajuntamento com alguma alimária, seja queimado e feito em pó [...]. 16 Porém, o contraste entre a Lei e os diversos usos sexuais do corpo era patente, como se depreende do texto de VAINFAS, acerca das relações entre escravidão e sexo: Enlaces entre senhores e escravas, utilização homossexual de cativos, paixões ou violências que pontuavam, no mundo sexual, as relações entre o mundo dos senhores e o da senzala, nada disso falta à documentação judiciária relacionada à Colônia 44 . Mais além, VAINFAS afirma sobre a homossexualidade: Veja-se, por exemplo, o caso da sodomia, comportamento sexual que, assimilado pela Inquisição portuguesa ao crime de heresia, rendeu centenas de processos [...]. Há relações entre mulheres adultas, jogos sexuais entre moças e crianças, brincadeiras eróticas de meninas, tudo envolvendo brancas, índias, negras e mestiças em circunstâncias as mais variadas 45 . Ressalte-se que as práticas sexuais sempre tiveram lugar marginal na vida das pessoas. Situavam-se, sobretudo, na “senzala”, sendo proibida a busca do sexo para mero deleite ou prazer, pelas “boas” famílias. A mudança de postura ante as práticas sexuais, no Brasil, começa a ser vivida somente a partir da República. A dissociação entre religião e sexo ocorre de maneira lenta, de forma que a “boa família burguesa” passa a buscar o prazer sexual dentro e fora do casamento46. No entanto, o amor homossexual permanece bastante carregado de pechas, principalmente na primeira metade do século XX no Brasil47. Mesmo vivendo em um estado laico, não faltaram intervenções de cunho religioso e médico para “curar” esses “desvios”, como o “transplante de testículos”, a convulsoterapia, a injeção de insulina e a internação psiquiátrica48. Não se pretende, aqui, reconstruir todo esse processo, da Colônia aos dias de hoje, da tensão entre busca de deleites sexuais, ou da realização da Vida Boa no sexo e o aparato legal regulatório. Porém, é correto afirmar que, nos tempos hodiernos, o mesmo paradoxo ocorre, em 44 VAINFAS, Ronaldo. Moralidades Brasílicas. In: SOUZA, Laura de Mello e. História da Vida Privada no Brasil: Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 234- 235. 45 VAINFAS, Ronaldo. Moralidades..., cit., p. 243 e 244. 46 DEL PRIORE, Mary. História do Amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005, p. 231. 47 DEL PRIORE, Mary. História..., cit., p. 296. 48 DEL PRIORE, Mary. História..., cit., p. 296. A situação chega a impressionar nos EUA, onde somente em 1961 o Estado de Illinois tornou a sodomia um ato legal. Na Inglaterra, a prática também só foi legalizada na década de 1960. Cf. HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991 [Age of Extremes]. Trad. Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 316. 17 outros níveis, havendo choque entre a mentalidade judiciária e a multifacetada vivência dos usos eróticos, sexuais e hedonistas do corpo. Para evidenciar o anacronismo brasileiro, faz-se necessária uma breve incursão sobre as mudanças comportamentais no que tange a sexo e gênero no Ocidente, no período que sucede a Segunda Grande Guerra. A. O Sexo como Prazer Em nível mundial, pode-se afirmar com mais convicção que, apenas a partir dos anos de 1960, sexo é abordado sob a ótica da “satisfação de necessidade e dos desejos para alcançar o tema da felicidade”49. Dentre os antecedentes mais importantes, está o famoso Relatório Kinsey 50 , de 1948. Uma das afirmações mais relevantes derivadas da equipe de Kinsey foi a de que “apenas minorias da população americana eram puramente heterossexuais ou homossexuais”; a ocorrência circunstancial de amores diversos pelo mesmo sexo, por parte de homens, em alguma fase da vida, era bem mais comum do que se pensava 51 . Posteriormente, muitas pesquisas científicas destacaram o papel do prazer feminino no sexo, que não estava circunscrito à maternidade 52 . Citem-se a pesquisa Human Sexual Response, de 1966, com análise científica do gozo feminino 53 , e o Hite Report on Female Sexuality, de 1976 54 . A descoberta da pílula anticoncepcional, nos anos 1950, também foi imprescindível nesse processo, auxiliando no desencadeamento da revolução de costumes das décadas de 1960 e 1970. Em síntese, houve uma inédita dissociação entre sexo para fins reprodutivos e sexo para mero deleite, ou prazer e felicidade. O próximo passo é o que poderia ser chamado de “revolução gay”. As possibilidades de realização do prazer sexual com pessoas do mesmo sexo já são razoavelmente aceitas. O homossexual contemporâneo pode mesmo se desligar do caráter supostamente desviante de sua atuação. A bissexualidade, por sua vez, já é comum, e pode ser vivida sem se tornar uma opção definitiva. 49 MUCHEMBLED, Robert. O Orgasmo e o Ocidente: Uma história do prazer do século XVI a nossos dias [L‟Orgasme et L‟Occident]. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 281. 50 Trabalho acerca da sexualidade humana liderado pelo pesquisador Alfred Kinsey. 51 MUCHEMBLED, Robert. O Orgasmo..., cit., p. 304. 52 MUCHEMBLED, Robert. O Orgasmo..., cit., p. 286. 53 MUCHEMBLED, Robert. O Orgasmo..., cit., p. 305. 54 MUCHEMBLED, Robert. O Orgasmo..., cit., p. 327. 18 Nesse sentido, a heterossexualidade é vista não como a “opção natural”, mas apenas uma das diversas opções de vivência do prazer sexual. As diversasteorias que enquadravam a homossexualidade como patologia são tidas como anacrônicas, ao menos do ponto de vista científico. O que se chamava “perversão” revela-se como opção individual de escolha da busca pelo prazer, ao mesmo tempo em que se preconiza a democracia como uma possível afirmação da pluralidade sexual 55 . B. Sexo e Morfologia Uma nova revolução, ainda mais radical que a dos anos 1970, está em curso, e, novamente, passa desapercebida pelas práticas judiciais: a da plena dissociação entre morfologia corpórea e identidade sexual. Apesar de se tornarem cada vez mais comuns as cirurgias de modificação de sexo (transgenitalização), o Conselho Federal de Medicina ainda considera a transexualidade como patologia – conforme depreende da exposição de motivos da resolução CFM nº 1.652/2002. A cirurgia só pode ser praticada segundo requisitos previstos na citada Resolução, que caracteriza o transexual: Art. 3º Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo enumerados: 1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4) Ausência de outros transtornos mentais. [Destacou-se] Parece, entretanto, que a cirurgia é apenas mais uma das possibilidades de reinvenção sexual. Superado o “determinismo morfológico”, bem como os tabus relativos às práticas sexuais (desalojadas da pecha de perversões), as possibilidades tornam-se infinitas. A apresentação pública do corpo, bem como o seu uso sexual hedonista, não precisa coincidir com a morfologia genital, por 55 GIDDENS, Anthony. A Transformação da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas [Transformation of Intimancy]. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Unesp, 1993, p. 197. 19 exemplo. Aliás, esse novo espaço de intimidade ganha força cogente em uma nova leitura do “Direito à Intimidade”, positivado no Art. 5º, X da Constituição de 1988. Como expressão das identidades individual e coletiva, a sexualidade não se resume ao ato sexual em si. Pelo contrário, a busca da vida boa (ainda que tendente ao egoísmo), como fundamento último do Direito, deve abranger todas as formas de vivência sensual. Decorrência lógica é que a sensualidade/sexualidade caminha na exata tensão entre morfologia corporal e sociabilidade. Se, por um lado, essa morfologia pode condicionar as opções sexuais, por outro, o uso da liberdade corporal não se faz de maneira solipsista. Assim, na medida em que a identidade só se constrói na presença do outro, é necessário que haja o reconhecimento público das diversas formas de vivência sexual. Tal aporte passa pela política de autoafirmação de identidades possíveis (homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, pansexualidade, celibato, etc.) e nunca limitadas heteronomamente como forma de bem viver 56 . Para tanto, o direito fundamental do livre uso do corpo deve implicar a acessibilidade a técnicas médicas de manipulação, como a cirurgia de transgenitalização, a ser franqueadas na esfera pública 57 . 5. CONCLUSÃO O corpo é um dos maiores reveladores da identidade. É ele quem medeia a comunicação simbólica, cada vez mais intensa, numa época em que se primam pela mídia de massa e pela reprodutibilidade quase infinita da imagem. Pensar a integridade física nos moldes tradicionais do intangível torna-se, então, inadequado. Os usos estéticos, médicos, esportivos e sexuais do corpo solapam as tentativas de sacralizá-lo. 56 Tal assunto já foi tratado pelos autores no trabalho intitulado de “Para Além das Heterodoxias: O Direito à Autodeterminação Sexual”, apresentado no “I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito, Edição Belo Horizonte”, realizado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, em 14 de maio de 2010. 57 O conceito de saúde, pela OMS, envolve bem-estar físico, mental e social. Logo, as terapias a serem financiadas pelo Estado, especificamente, não podem ser reduzidas ao tratamento de doenças estrito senso. A discussão acerca do financiamento da saúde pública, num contexto de recursos escassos, é problema bastante complexo, a ser tratado em outra oportunidade. 20 O desafio que se apresenta é outro: a busca da verdadeira autonomia no uso do próprio corpo. A partir do momento em que se ressalta a estética corporal, corre-se o risco de se ter a identidade massificada pela indústria da moda, pela medicina altamente cosmética e pela busca (impossível) do corpo perfeito. Da mesma maneira, o esporte profissional, como uma das poucas alternativas de enriquecimento, pode conduzir a uma manipulação corporal irrefletida, com vistas a superar recordes estabelecidos. Contudo, a vivência verdadeira da autonomia da vontade implica a (auto)apropriação consciente do corpo dentro de um projeto de vida mais amplo, que inclua noções de construção da dignidade. Desse modo, o caminho para a vivência da democracia corporal propende ao recrudescimento. Uma vez experimentado o autodomínio de si, a intangibilidade torna-se um mito a ser esquecido e o livre uso do corpo sobreleva-se como direito da personalidade adutor da autorrealização e da vida boa. Referências Bibliográficas BOSTROM, Nick; SANDBERG, Anders. 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