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antropologia cultural

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Montes Claros/MG - 2014
Fabiano José Alves de Souza
Valéria de Castro Santana
Antropologia 
Cultural
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
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VICE-REITORA
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DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
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Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
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Profª Maria Geralda Almeida. UFG.
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Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes.
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
CONSELHO EDITORIAL
Ana Cristina Santos Peixoto
Ângela Cristina Borges
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
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DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
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Fernando Guilherme Veloso Queiroz
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Sanzio Mendonça Henriiques
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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Sandra Ramos de Oliveira
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de Melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
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Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
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Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
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Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
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Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
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Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Presidente Geral da CAPES
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Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria Ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Fabiano José Alves de Souza
Mestre em Sociologia – Universidade Federal de Minas Gerais Graduado em Ciências Sociais 
- Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
Valéria de Castro Santana
Mestre em História Social da Cultura – Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Graduada em História - Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A antropologia no quadro das ciências . A especificidade do campo 
antropológico . Teoria e método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1 .1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1 .2 Conceituando a antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1 .3 Sobre o objeto de estudo e a especificidade da antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1 .4 O deslocamento do olhar antropológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1 .5 O surgimento do trabalho de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
1 .6 O método etnográfico e a observação participante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
1 .7 Tornar-se nativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
1 .8 A pesquisa etnográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
1 .9 O caderno de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1 .10 Estranhar ou observar o familiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
O surgimento da antropologia: contexto histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2 .1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2 .2 Um contexto: o “novo mundo” visto pelos cronistas, viajantes, comerciantes, 
soldados, missionários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2 .3 Do evolucionismo à instauração da antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2 .4 O contexto clássico de instauração: a etnografia e o fortalecimento da antropologia . 31
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
A construção do conceito antropológico de cultura . A diversidade cultural . . . . . . . . . . .35
3 .1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3 .2 A relação entre natureza e cultura e a distinção entre o inato e o adquirido . . . . . . .35
3 .3 A diversidade das culturas e os conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural . . 36
3 .4 O conceito de cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3 .5 A cultura enquanto processo de humanização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
A relação da antropologia com a história . A antropologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4 .1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4 .2 A concepção marxista da História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4 .3 Marxismo e estruturalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
4 .4 A antropologia da história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4 .5 A antropologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Referências básicas, complementares e sumplementares . . .61
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
9
História - Antropologia Cultural
Apresentação
A disciplina Antropologia Cultural é parte constituinte da estrutura curricular do Curso de 
História da Universidade Aberta do Brasil – UNIMONTES . Veremos, inicialmente, em que se cons-
titui esta disciplina .
Este curso está voltado para uma apresentação introdutória e crítica dos conceitos básicos 
da perspectiva antropológica . Mais precisamente, constitui-se em uma reflexão sobre alguns 
conceitos e métodos que configuraram e configuram a especificidade da Antropologia enquanto 
uma ciência no quadro das Ciências Sociais ou das Ciências Humanas . Seguiremos, para tanto, o 
percurso abaixo:
• Contextualização histórica de surgimento de questões que caracterizaram a perspectiva an-
tropológica e da sua constituição enquanto disciplina científica .
• Construção conceitual básica por meio do eixo das tensões fundantes do pensamento e da 
prática antropológica: as polarizações natureza/cultura, unidade/diversidade, etnocentris-
mo e relativismo cultural .
• Campos e métodos da investigação antropológica .
• A construção do conceito antropológico de cultura .
• Um relato da antropologia no Brasil . 
• Relação da antropologia com a História .
Assim, espera-se alcançar os seguintes objetivos:
• Propiciar a reflexão sobre conceitos fundamentais da Antropologia .
• Introduzir os alunos na problemática essencial da Antropologia (Ciência do “outro”, ou ainda, 
das “diferenças”) .
• Familiarizar os alunos com os conceitos básicos da Antropologia, para que possam compre-
ender, de forma crítica, as diferenças sociais e culturais que compõem a humanidade e, as-
sim, entender a diversidade étnica e cultural da sociedade humana .
• Conduzir o estudante à compreensão da relação entre a antropologia e a história .
• Conhecer um pouco da história da antropologia no Brasil .
A disciplina está dividida em quatro unidades temáticas, conforme esquematizado abaixo:
Unidade 1 – A Antropologia no Quadro das Ciências . A especificidade do campo antropoló-
gico . Teoria e Método .
Esta parte da disciplina será dedicada à comparação entre a Antropologia e outras Ciências, com 
o objetivo de se fazer uma reflexão sobre a especificidade do discurso antropológico ou da produção 
de um conhecimento antropológico . Refletiremos, então, sobre a definição de Antropologia e sobre 
os campos e abordagens antropológicos, esclarecendo, assim, os planos da “consciência antropoló-
gica” (DA MATTA, 1990) . Refletiremos também sobre métodos e trabalho de campo na Antropologia, 
numa tentativa de se explicitar a especificidade da prática antropológica .
Unidade 2 – O Surgimento da Antropologia: contexto histórico
Nesta parte, procuraremos aprofundar as discussões, já iniciadas na Unidade I, sobre o pon-
to de vista antropológico, refletindo sobre o contexto histórico da Antropologia e de sua consoli-
dação enquanto ciência do Homem . A intenção é mapear, minimamente, as condições que pro-
piciaram o surgimento de um discurso antropológico com a pretensão de Ciência, comparado 
com outros discursos sobre a alteridade e a diversidade cultural .
Unidade 3 – A Construção do Conceito Antropológico de Cultura . A Diversidade Cultural .
Esta parte da disciplina será dedicada ao estudo das definições do conceito de cultura, 
numa perspectiva antropológica . Procuraremos entender o conceito de cultura em uma perspec-
10
UAB/Unimontes - 2º Período
tiva histórica e cultural . Nesse momento, procura-se também abordar as polarizações natureza e 
cultura; etnocentrismo e relativismo cultural; unidade e diversidade como um conjunto conceitu-
al formador do discurso antropológico .
Unidade 4 – A Relação da Antropologia com a História . A Antropologia no Brasil .
Nesta unidade serão discutidas as relações da Antropologia com a História . Você deverá ter 
o domínio de alguns conceitos, incluindo as concepções de História e o conceito de Materialis-
mo Histórico de Marx . A partir das noções de História você será levado a refletir sobre o con-
ceito de cultura, o domínio antropológico e suas relações com a História . É necessário que você 
compreendaa noção de “estruturalismo”, importante para as Ciências Sociais e para a História . 
Estas reflexões têm por objetivo contribuir para a compreensão da importância da Antropologia 
para a História e vice-versa, em uma perspectiva interdisciplinar . Nesta unidade, você conhecerá 
também um pouco sobre a história da disciplina Antropologia no Brasil, os principais temas de 
interesse, os centros de ensino e pesquisa, bem como alguns antropólogos brasileiros que muito 
contribuíram para o desenvolvimento do campo antropológico no Brasil .
11
História - Antropologia Cultural
UNIDADE 1 
A antropologia no quadro das 
ciências . A especificidade do campo 
antropológico . Teoria e método .
1 .1 Introdução
Esta primeira unidade da disciplina Antropologia cultural objetiva introduzir os estudantes 
do Curso de História na compreensão da problemática fundamental da Antropologia . É, portan-
to, uma Unidade dedicada à análise de conceitos e abordagens antropológicos . Ao se defrontar 
com o arcabouço conceitual e definidor desta disciplina, espera-se que os estudantes possam 
refletir sobre a especificidade da Antropologia como uma Ciência diante de outras Ciências da 
Humanidade .
1 .2 Conceituando a antropologia
Embora não seja justificável ou razoavelmente defensável argumentar sobre fronteiras rígi-
das entre as disciplinas que compõem as Ciências Sociais, já que a interdisciplinaridade, ou seja, 
a contribuição e o diálogo entre pesquisadores de várias áreas ou campos de atuação do conhe-
cimento torna-se uma prática saudável hoje em dia, é possível falar, minimamente, sobre a espe-
cificidade antropológica .
Assim, pode-se dizer que as Ciências se distinguem ou se diferenciam pela maneira como 
os cientistas definem e problematizam seu objeto de estudo e pelos conceitos ou categorias que 
propõem para compreendê-lo ou explicá-lo .
Nesses termos, a Antropologia Social 
ou Cultural tem como objeto o homem, mais 
precisamente o comportamento do homem 
como membro de uma sociedade, e distingue-
-se das demais ciências, que têm também o 
homem como objeto, por tomar como pro-
blema central de investigação a questão da di-
versidade cultural . Por isso, pode-se dizer que 
a Antropologia é uma ciência das diferenças 
sociais e culturais . Desde sua gênese e durante 
sua trajetória histórica teórica, a Antropologia 
buscou constantemente um refinamento te-
órico e metodológico para a compreensão da 
diversidade cultural . Uma questão crucial que 
se impôs durante seu desenvolvimento teó-
rico foi compreender o paradoxo da unidade 
biológica do homem, que contrasta com a ex-
traordinária diversidade cultural . 
Assim, poder-se-ia dizer que se envolver 
com a Antropologia é esforçar-se para com-
preender a diversidade cultural humana . 
GLOSSÁRIO
Antropologia: Etimo-
logicamente, o termo 
Antropologia significa 
estudo do homem (an-
thropos: homem; logos: 
conhecimento, saber, 
estudo)
Figura 1: Papua Nova 
Guiné 
Fonte: Disponível em 
http://comps .fotose-
arch .com/comp/STK/
STK021/papua-novo-
-guine_~PGB1644 .jpg . 
Acesso em 30/09/2008
▼
12
UAB/Unimontes - 2º Período
Box 1
Ritos corporais entre os nacirema
O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento 
que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se 
mesmo em face dos costumes mais exóticos . De fato, se nem todas as combinações logica-
mente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode con-
jeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita . 
Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos 
tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode 
chegar o comportamento humano . Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a 
atenção dos antropólogos para os rituais dos Nacirema, mas a cultura desse povo permanece 
insuficientemente compreendida ainda hoje . 
Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os 
Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas . Pouco se sabe sobre sua 
origem, embora a tradição relate que vieram do leste . Conforme a mitologia dos Nacirema, 
um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por 
duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Nacirema como dinhei-
ro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Ver-
dade . 
A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvi-
da, que evolui em um rico habitat . Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades 
econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia 
são dispensados em atividades rituais . O foco destas atividades é o corpo humano, cuja apa-
rência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo . Embora tal tipo de 
interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são 
singulares . 
A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano 
é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença . Encarcerado em tal 
corpo, a única esperança do homem é desviar estas características por meio do uso das po-
derosas influências do ritual e do cerimonial . Cada moradia tem um ou mais santuários devo-
tados a este propósito . Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários 
em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em 
termos do número de tais centros rituais que possua . Muitas casas são construções de madei-
ra, toscamente pintadas, mas as câmaras de culto das mais ricas têm paredes de pedra . As fa-
mílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário . 
Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados 
não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas . Os ritos, normalmente, 
são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão 
sendo iniciadas em seus mistérios . Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os 
nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais . 
O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede . Neste cofre são 
guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo 
acredita que poderia viver . Tais preparados são conseguidos por meio de uma série de pro-
fissionais especializados; os mais poderosos são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser 
recompensado com dádivas substanciais . Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a 
seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e en-
tão os escrevem em sua linguagem antiga e secreta . Esta escrita é entendida apenas pelos 
médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dádiva, providenciam o en-
cantamento necessário . Os Nacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os 
colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico . Como tais substâncias mágicas 
são específicas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, 
a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar . Os pacotes mágicos são 
tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo . 
Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo 
que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-
-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, 
proteger o adorador . 
ATIVIDADE 
Leia o textode Horace 
Miner, “O Ritual do Cor-
po entre os Nacirema”, 
procure descobrir sobre 
qual povo o autor está 
falando e tente pensar 
sobre a prática da 
reflexão antropológica . 
Poste seus achados no 
fórum de discussão .
13
História - Antropologia Cultural
Abaixo da caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal . Todos os dias, cada 
membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa-de-
-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um 
breve rito de ablução . As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os 
sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro . 
Na hierarquia dos mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros, no que 
diz respeito ao prestígio, estão os especialistas, cuja designação pode ser traduzida por “sa-
grados-homens-da-boca” . Os Nacirema têm um horror quase que patológico, e ao mesmo 
tempo fascinação, pela cavidade bucal, cujo estado acreditam ter uma influência sobre to-
das as relações sociais . Acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais, seus dentes cairiam, 
seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam . Acreditam também na exis-
tência de uma forte relação entre as características orais e as morais: Existe, por exemplo, 
uma ablução ritual da boca para as crianças, supondo-se aprimorar sua fibra moral . 
O ritual do corpo executado diariamente por cada Nacirema inclui um rito bucal . Apesar 
de serem tão escrupulosos no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o es-
trangeiro não iniciado, que só pode considerá-lo revoltante . Foi-me relatado que o ritual con-
siste na inserção de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos 
pós mágicos, e em movimentá-lo então numa série de gestos altamente formalizados . Além 
do ritual bucal privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas 
vezes ao ano . Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistin-
do de brocas, furadores, sondas e aguilhões . O uso destes objetos no exorcismo dos demô-
nios bucais envolve, para o cliente, uma tortura ritual quase inacreditável . O sacerdote-da-bo-
ca abre a boca do cliente e, usando os instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades 
que a degeneração possa ter produzido nos dentes . Nestas cavidades, são colocadas substân-
cias mágicas . Caso não existam cavidades naturais nos dentes, grandes seções de um ou mais 
dentes são extirpadas para que a substância natural possa ser aplicada . Do ponto de vista do 
cliente, o propósito destas aplicações é tolher a degeneração e atrair amigos . O caráter extre-
mamente sagrado e tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao sacer-
dote-da-boca ano após ano, não obstante o fato de seus dentes continuarem a degenerar . 
Esperemos que, quando for realizado um estudo completo dos Nacirema, haja um inqué-
rito cuidadoso sobre a estrutura da personalidade destas pessoas . Basta observar o fulgor nos 
olhos de um sacerdote-da-boca quando ele enfia um furador num nervo exposto, para se sus-
peitar que este rito envolve certa dose de sadismo . Se isto puder ser provado, teremos um 
modelo muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências masoquistas 
bem definidas . 
Foi a estas tendências que o Prof . Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte es-
pecífica dos ritos corporais que é desempenhada apenas por homens . Esta parte do rito en-
volve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado . Ritos especificamente 
femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em fre-
qüência é compensado em barbaridade . Como parte desta cerimônia, as mulheres colocam 
suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora . O aspecto teoricamente interes-
sante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido 
especialistas sádicos . 
Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de 
certo porte . As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doen-
tes, só podem ser executadas neste templo . Estas cerimônias envolvem não apenas o tauma-
turgo, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados específicos, movi-
mentam-se serenamente pelas câmaras do templo . 
As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção 
de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem . Sabe-se que as crian-
ças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao 
templo, porque “é lá que se vai para morrer” . Apesar disto, adultos doentes não apenas 
querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem 
recursos para tanto . Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a 
emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder 
dar uma dádiva valiosa para a administração . Mesmo depois de ter-se conseguido a ad-
missão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o 
local se ele não fizer outra doação . 
14
UAB/Unimontes - 2º Período
O suplicante que entra no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas . Na 
vida cotidiana, o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais . As ativida-
des excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados apenas no segredo 
do santuário doméstico . Da perda súbita do segredo do corpo quando da entrada no latipsoh, 
podem resultar traumas psicológicos . Um homem, cuja própria esposa nunca o viu em um ato 
excretor, acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções na-
turais num recipiente sagrado . Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excre-
ta são usados por um adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente . 
Clientes do sexo feminino, por sua vez, têm seus corpos nus submetidos ao escrutínio, manipu-
lação e aguilhadas dos médicos-feiticeiros . 
Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além 
de jazer em duros leitos . As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem 
desconforto e tortura . Com precisão ritual, as vestais despertam seus miseráveis fardos a cada 
madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto executam abluções, com os movimentos 
formais nos quais estas virgens são altamente treinadas . Em outras horas, elas inserem bastões 
mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas . 
De tempos em tempos, o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente 
tratadas em sua carne . O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam 
mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico-feiticeiro . 
Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um “ouvinte” . Este “doutor-bru-
xo” tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas . 
Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos; particularmente, teme-se 
que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais 
secretos . A contra-magia do doutor bruxo é inusitada por sua carência de ritual . O paciente sim-
plesmente conta ao “ouvinte” todos os seus problemas e temores, principalmente pelas dificul-
dades iniciais que consegue rememorar . A memória demonstrada pelos Nacirema nestas ses-
sões de exorcismo é verdadeiramente notável . Não é incomum um paciente deplorar a rejeição 
que sentiu, quando bebê, ao ser desmamado, e uns poucos indivíduos reportam a origem de 
seus problemas aos feitos traumáticos de seu próprionascimento . 
Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética 
nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções . Existem jejuns 
rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas 
magras . Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm peque-
nos e torná-los menores quando são grandes . A insatisfação geral com o tamanho do seio é sim-
bolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana . Umas 
poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão ido-
latradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo 
aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos . 
Já fizemos referência ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e re-
legadas ao segredo . As funções naturais e de reprodução são, da mesma forma, distorcidas . O 
intercurso sexual é tabu enquanto assunto, e é programado enquanto ato . São feitos esforços 
para evitar a gravidez, pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual a 
certas fases da lua . A concepção é, na realidade, pouco freqüente . Quando grávidas, as mulheres 
vestem-se de modo a esconder o estado . O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou paren-
tes para ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta seus rebentos . 
Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado 
pela crença na magia . É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo 
tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo . Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui 
descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malino-
wski, quando escreveu: 
“Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvol-
vida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia . Mas sem seu poder de orientação, o 
homem primitivo não poderia ter dominado, como o fez, suas dificuldades práticas, nem pode-
ria ter avançado aos estágios mais altos da civilização” . 
Resumindo, a Antropologia pretende ser uma ciência da humanidade e da cultura . E, espe-
cificamente, a Antropologia Social pretende compreender a diversidade cultural humana .
MINER, Horace . In: A .K . Rooney e P .L . de Vore (orgs) . You and the others - Readings in Introductory Anthropology 
(Cambridge, Erlich) 1976 . 
Fonte: Disponível em <http://ideianobolso .files .wordpress .com/2007/05/nacirema .pdf> Acesso em setembro de 2008
15
História - Antropologia Cultural
1 .3 Sobre o objeto 
de estudo e a 
especificidade da 
antropologia
A reflexão do homem sobre o homem é muito anti-
ga . O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mes-
mo, em todas as sociedades, em qualquer tempo e espaço 
“existiram homens que observaram homens” (LAPLANTINE, 
2000, p .13) . Para Laplantine, “a reflexão do homem sobre o 
homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber são 
tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia 
como na África, na América, na Oceania ou na Europa” (LA-
PLANTINE, 2000, p .13) . Assim, o problema de se questionar 
sobre as diferenças culturais ou sociais foi sempre constan-
te durante a história da humanidade .
No entanto, a constituição de um projeto antropológico 
que se ocupasse do próprio homem como objeto de conheci-
mento é bem recente . Em outras palavras, a preocupação em 
se construir um discurso antropológico com status de ciência, 
ou que se pudesse cumprir certos critérios de uma teoria cien-
tífica, pode ser situada a partir da metade do século XIX (LA-
PLANTINE, 2000; COPANS, 1971; MERCIER, 1974) . Lentamente, 
começa-se a constituir um arcabouço teórico e metodológico 
visando a apreender a ação humana como um fenômeno ob-
servável e analisável . A cultura ou as culturas passam a ser encaradas como um objeto de estudo, pois 
podem ser apreendidas como um fenômeno passível de objetivação, ou seja, como um fenômeno 
possível de ser classificado, explicado ou compreendido de maneira objetiva .
Inicialmente, a Antropologia preocupa-se em elaborar um conhecimento ou uma interpretação 
sobre as sociedades situadas em espaços geográficos longe das sociedades ocidentais . São as ditas 
sociedades “simples” ou de organização social simples, ou ainda sociedades “primitivas”, que passam 
a ser tomadas como objeto de estudo da Antropologia . Assim, a Antropologia acaba de atribuir-se 
um objeto que lhe é próprio: o estudo das populações que não pertencem à civilização ocidental (LA-
PLANTINE, 2000, p .15) . Vejamos algumas reflexões que se pode fazer a partir disso:
 
• A ciência antropológica instituiu-se no espaço do Ocidente .
• O encontro com a diferença mais radical, o “OUTRO” . Vislumbra-se, assim, a possibilidade de 
um distanciamento entre sujeito e objeto com condição de objetividade, necessário para se 
instituir o fazer científico . No entanto, o mais fundamental, o que vai definir o enfoque an-
tropológico é a oposição entre o Nós e o Outro . Instituiu-se o Outro como problema funda-
mental, aliás um problema recorrente para a humanidade em todas as várias etapas de sua 
história .
• E como resultado, “é a busca de uma resposta sistemática a esse problema que vai definir, no 
início, uma atitude, mais tarde, uma reflexão sistemática, enfim, uma ciência: a etnografia, 
etnologia – ou Antropologia” (SANCHIS, 1999, p . 24) .
• É, portanto, a partir de uma reflexão sistemática sobre as diferenças, do encontro com o Ou-
tro, que a Antropologia, paulatinamente, se constituiu enquanto uma ciência . Isto significa 
a elaboração de um conhecimento relativista . O outro deixa de ser o exótico, o esquisito, o 
desigual, e passa a ser encarado como diferente, com uma lógica própria de dar inteligibili-
dade para si e de elaboração e compreensão sociocósmica . Isso exige um olhar de dentro, 
donde se possa captar o ponto de vista do outro, ou como se diz em Antropologia, “o ponto 
de vista do nativo” .
▲
Figura 2: Xamã . Papua 
Nova Guiné .
Fonte: Disponível em 
http://comps .fotosearch .
com/bigcomps/STK/
STK022/PGB4820 .jpg
Acesso em set, 2008
DICA
É preciso ressaltar 
que a oposição entre 
sociedades ocidentais 
e não ocidentais ou eu-
ropéias e não européias 
justifica-se apenas 
como recurso didático, 
tendo em vista que 
essas oposições podem 
remeter a ideologias 
pejorativas .
16
UAB/Unimontes - 2º Período
• A especificidade da Antropologia, portanto, 
advém crucialmente desta necessidade me-
todológica de apreender o ponto de vista do 
outro, e isto só é possível na medida em que o 
antropólogo imerge na sociedade ou no grupo 
social que se pretende compreender . É a expe-
riência do trabalho de campo (o próprio pes-
quisador coletando e interpretando seus dados 
etnográficos) que constitui a marca distintiva 
da Antropologia . 
Portanto, vejam bem, o contato próxi-
mo e prolongado, a “observação participante”, 
com a sociedade ou o grupo social que se quer 
estudar ou compreender impõe uma marca 
distintiva da Antropologia, ou seja, a sua espe-
cificidade enquanto disciplina científica . Esta 
especificidade reside na possibilidade que o 
antropólogo tem de refletir sobre sua própria 
sociedade . Ou seja, é a partir do encontro com 
o diferente que posso questionar os meus pa-
drões de compreensão do mundo, de valori-
zação e de comportamento (SANCHIS, 1999, 
p .24) . É o que se pode chamar de um caráter 
reflexivo resultante da descoberta das diferen-
ças . É assim que posso compreender as diferenças, o Outro e questionar o meu modo de vida, 
meus valores e minhas formas de compreensão do mundo . Como argumenta Laplantine:
[ . . .] preso a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas mío-
pe quandose trata da nossa . A experiência da alteridade (e a elaboração des-
sa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, 
dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que é habitual, familiar, co-
tidiano, e que consideramos ‘evidente’ . Aos poucos notamos que o menor dos 
nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem 
realmente nada de ‘natural’ . Começamos, então, a nos surpreender com aquilo 
que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar . O conhecimento (antropológico) 
de nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de outras culturas, 
e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre 
tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 2000, p .20) .
1 .4 O deslocamento do olhar 
antropológico
Como pudemos ver por definição, a Antropologia é a ciência do “Outro” . Desta pers-
pectiva, afirmamos, mais uma vez, que a Antropologia configura-se pelo enfoque na di-
versidade cultural . Isto implica uma relação entre “nós” - o grupo social e cultural a que se 
pertence, o grupo do próprio pesquisador – e os “outros”, aqueles que não pertencem ao 
grupo do pesquisador ou ao nosso . Portanto, é a percepção da diferença que permite a 
constituição da identidade entre nós e os outros . Fundamentalmente, o que possibilitou 
a Antropologia se constituir como uma ciência foi a sensibilidade dos antropólogos em 
perceber as diferenças a partir de uma atitude relativista . Aliás, uma sensibilidade que foi 
sendo lentamente refinada e lapidada durante todo o desenvolvimento teórico e metodo-
lógico da prática antropológica .
Como já pudemos afirmar também, inicialmente a Antropologia institui como objeto as so-
ciedades ditas, nos meados do século XIX, “primitivas” . Em outros termos, sociedades exteriores 
às sociedades europeias ou norte-americanas . 
DICA
É possível pensar numa 
fronteira entre sociolo-
gia e Antropologia . A 
sociologia se constitui 
como ciência tendo 
como foco de investi-
gação as sociedades do 
próprio investigador, 
as sociedades urbanas, 
com populações den-
sas, as ditas sociedades 
“complexas” .
▲
Figura 3: Papua Nova 
Guiné .
Fonte: Disponível em 
http://comps .fotosearch .
com/bigcomps/STK/
STK022/PGB4656 .jpg
Acesso em set, 2008
17
História - Antropologia Cultural
No entanto, foram necessários longos anos para que a Antropologia pudesse elaborar suas fer-
ramentas ou seus instrumentos intelectuais de investigação e firmar seus próprios métodos de coleta 
de dado . Porém, tão logo a Antropologia firma seus instrumentos para construir e consolidar uma re-
flexão mais sistemática sobre as particularidades culturais, ela depara-se com uma realidade histórica 
irreversível: ela via seu “objeto derreter e desaparecer progressivamente diante do rolo compressor 
que constitui a ‘modernidade’, econômica, política e também ideológica” (SANCHIS, 1999, p . 30) . 
A Antropologia defronta-se assim com uma crise de identidade . E diante da interrogação: É 
o fim da Antropologia? muitas vezes feita pelos próprios antropólogos, é que se começa a esbo-
çar uma reordenação no campo dessa ciência e forjar novos instrumentos intelectuais que serão 
responsáveis pelo alargamento e aprimoramento dela, que passa a incorporar variados proces-
sos concretos como foco de investigação .
Diante dessa nova conjuntura, a Antropologia reflui sobre sua própria sociedade . Vê-se for-
çada, portanto, a buscar outras áreas de investigação . “O ‘Outro’, que ela ia procurar longe, se 
acostuma a encontrá-lo no interior do próprio grupo social de seus cultores” (idem, p . 31) . Re-
conhece-se que a especificidade teórica da Antropologia não se reduz às particularidades das 
“culturas primitivas”, mas envolve as múltiplas dimensões do ser humano .
Portanto, é razoável afirmar, diante dessa mudança de enfoque que não é mais o objeto que 
define a Antropologia, e concordar com Laplantine que a Antropologia 
[ . . .] afirma a especificidade de sua prática, não mais através de um objeto empíri-
co constituído (o selvagem, o camponês), mas através de uma abordagem epis-
temológica constituinte [ . . .] o objeto teórico da Antropologia não está ligado [ . . .] 
a um espaço geográfico, cultural ou histórico particular . Pois a Antropologia não 
é senão um certo olhar, um certo enfoque que consiste em: a) o estudo do ho-
mem inteiro; b) o estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitu-
des em todos os seus estados e em todas as épocas . (LAPLANTINE, 2000, p .16) .
Pois bem, pensamos ser oportuno refletir nesse momento sobre os campos e divisões da 
Antropologia . A ideia é ampliar a discussão sobre o campo de estudo da Antropologia Social, 
tentando perceber como ela se distingue enquanto uma especialização da Antropologia Geral .
Se for razoável afirmar que a abordagem antropológica tenciona compreender as múltiplas 
dimensões do homem em sociedade (LAPLANTINE, 2000, p . 16), é aceitável dizer que isso não 
pode ser alcançável por um único cientista . Portanto, durante seu desenvolvimento, a Antropolo-
gia se consolidou a partir de múltiplos enfoques, criando campos especializados do saber antro-
pológico . Especialidades estas com um corpo teórico e técnicas próprias . 
Nesses termos, podemos situar algumas áreas principais da Antropologia:
• A Antropologia Biológica: campo de estudo outrora chamado de Antropologia fí-
sica, atualmente dedica-se ao estudo das relações entre o patrimônio genético e o 
meio (geográfico, ecológico, social) . Tomando técnicas e métodos comuns ao ramo 
da Biologia, os especialistas desse campo de estudo buscam analisar as particulari-
dades morfológicas e fisiológicas ligadas a um meio ambiente, bem como a evolu-
ção destas particularidades . Interessando-se pela genética das populações, procura-se 
discernir o que diz respeito ao inato e ao adquirido para compreender as diferenciações de 
populações e não mais de raças (LAPLANTINE, 2000, p . 17) .
• A Arqueologia: Estudo das sociedades desaparecidas, através dos vestígios que deixaram . 
Com métodos e técnicas específicas, os arqueólogos analisam restos ou vestígios deixados 
por grupos ou sociedades já desaparecidas, com a intenção de reconstruir suas técnicas e 
produções materiais, as suas organizações sociais e as suas produções culturais .
• A Antropologia Linguística: estudo das línguas como expressão de valores, preocupa-
ções, ideias, pensamentos, enfim como produção cultural e, ao mesmo tempo, como 
produto da cultura .
• A Antropologia Social, Cultural ou Etnologia: está é a esfera do conhecimento antropológico 
que nos interessa mais de perto, pois é a ela que estávamos nos referindo o tempo todo 
quando falávamos, nesse texto, em Antropologia . E é dela que continuaremos falando . Esta 
esfera da Antropologia tenciona tomar como foco de estudo o Homem enquanto membro 
de uma sociedade e de um sistema de valores . Portanto, o antropólogo focaliza a perspec-
tiva da sociedade humana enquanto um conjunto de ações ordenadas de acordo com um 
plano e regras que ela própria inventou e que é capaz de reproduzir e projetar em tudo 
aquilo que fabrica (DA MATTA, 1990, p . 32) .
PARA REFLETIR
Reflita sobre as opo-
sições “sociedades 
ocidentais” e “não-
-ocidentais” e que 
implicações ideológicas 
estas oposições podem 
ter para a consolida-
ção do conhecimento 
científico .
18
UAB/Unimontes - 2º Período
Além dessas esferas mais amplas do conhecimento antropológico, verificam-se ainda varia-
das especialidades dentro da Antropologia Social que se pratica no Brasil . Assim, de acordo com 
os processos sociais concretos que cada especialista em Antropologia incorpora como foco de 
investigação, é possível falar em: Etnologia Indígena, Antropologia Rural, Antropologia Urbana, 
Antropologia das Populações Afro-brasileiras . Dentro destes campos incluem-se aindatemas 
mais específicos como: Antropologia do campesinato; Antropologia da religião, Antropologia da 
política, Antropologia do corpo, Antropologia da saúde, Antropologia do gênero, Antropologia 
da dor, entre outras linhas de pesquisa .
1 .5 O surgimento do trabalho de 
campo
Embora os modernos métodos de investigação em Antropologia sejam muito diversifica-
dos, a disciplina se apoia grandemente no trabalho de campo e na observação participante . E, 
dessa maneira, torna-se uma disciplina extremamente interessante, pois possibilita o contato di-
reto com os grupos humanos onde se desenvolve o estudo . O trabalho de campo, bem como as 
experiências advindas do trabalho de campo, enriquece o aprendizado, possibilitando o conhe-
cimento através da experiência . 
Mas, convém perguntar: em que consiste o trabalho de campo? Qual a sua especificidade 
e importância? Quais as críticas principais que historicamente se fizeram ao trabalho de campo? 
Quais as principais etapas de realização e desenvolvimento do trabalho de campo? Que fatores o 
condicionam?
Ao responder a essas questões, será necessário também conhecer as principais questões co-
locadas por uma abordagem reflexiva da Antropologia .
É necessário ressaltar que, até o final do século XIX, quase a totalidade dos antropólogos 
não tiveram contato com os chamados povos primitivos sobre os quais escreviam . Os seus traba-
lhos se baseavam em relatos de viagens de colonos, missionários e funcionários de governos co-
loniais, como veremos na unidade 4 . Tais relatos continham material histórico e arqueológico de 
civilizações clássicas, orientais e sociedades tribais . Críticas importantes a esse período referem-
-se ao fato de que, durante muito tempo, o etnólogo realizou sua experiência em “sua confortá-
vel poltrona fixa numa biblioteca em qualquer ponto da Europa” (DA MATTA, 1987, p .144) . E, ao 
reproduzir a experiência dos nativos, o trabalho do etnógrafo direcionava-se a uma compilação 
de costumes exóticos, com o objetivo de reproduzir uma lista infindável de fatos . Essas pesquisas 
dependiam de inquéritos realizados com poucos informantes bilíngues ou de questionários apli-
cados com a ajuda de tradutores . As observações eram superficiais e breves, pois eram realizadas 
por curtos períodos de permanência em aldeias indígenas . Muitas informações eram capturadas, 
Figura 4: Teotihuacán 
Hall, Museu Nacional 
de Antropologia, 
Cidade do Mexico
Fonte: Disponível em 
http://comps .fotosear-
ch .com/bigcomps/AGE/
AGE048/S29-453448 .jpg
Acesso em set, 2008
►
19
História - Antropologia Cultural
porém a riqueza de significados que envolvem a vida social não eram alcançados . As categorias 
elaboradas eram desvinculadas do universo cultural investigado - o que provocava distorções no 
material etnográfico .
Algumas exceções eram percebidas na América com as pesquisas de Morgan (que traba-
lhou com informantes iroqueses), Cushing (que viveu 5 anos entre os índios Zuni) e Boas (pesqui-
sa com esquimós e índios na costa Noroeste) .
Dessa forma, no final desse século, começaram a aparecer também na Europa os trabalhos 
dos antropólogos, a partir de observações feitas sobre populações tribais . Spencer e Gillen reali-
zaram importantes investigações entre aborígenes australianos . 
Como inspiração dessa nova forma de resolver problemas teóricos colocados pela disciplina 
é que são publicados em 1913 os trabalhos de Durkheim (As formas elementares da vida religio-
sa), Freud (Totem e Tabu) e Malinowski (A família entre os aborígenes australianos) . Nessa época, 
também Radcliffe-Brown concluíra sua pesquisa entre os Adamaneses, realizada entre os anos 
1906 e 1908, mas apenas publicada em 1922 .
A escola Funcionalista, que sucedeu o Evolucionismo, foi a responsável pelo avanço nas téc-
nicas de pesquisa empírica . A importância do trabalho de campo ou pesquisa de campo torna-se 
evidente na Antropologia assim que a mesma começa a abandonar a postura evolucionista . O 
trabalho de campo consiste na forma de se coletar dados para reflexão teórica . Isso se traduz em 
uma vivência longa e profunda com outros modos de vida, com outros valores e com outros sis-
temas de relações sociais, tudo isso em condições específicas . 
A experiência de sair de um “status” e inserir-se “em outro” é que possibilita ao antropólogo 
o encontro com a diversidade, com a diferença, o que implica um encontro entre identidades, 
marcado, portanto, pela alteridade: seja a pesquisa realizada em um espaço fora do cotidiano do 
pesquisador - o que implica seu deslocamento - seja em seu próprio meio (MARTINS, 2000, grifos 
do autor)
A partir do trabalho de campo sistemático, torna-se possível conhecer um conjunto de 
ações sociais dos nativos como um sistema . Assim, o papel da Antropologia constitui-se em pro-
duzir interpretações das diferenças enquanto sistemas integrados .
Da Matta (1987) defende que o cerne da perspectiva antropológica é sua busca pelo que é es-
sencial na vida dos outros . Nesse sentido, o pesquisador tem contato direto com seus pesquisados e 
toma como ponto de partida a posição e ponto de vista do outro, estudando-o por meios disponíveis 
(há sempre essa intermediação do conhecimento realizada pelo próprio nativo) . 
Dados históricos, fatos econômicos, materiais, políticos ou quaisquer outros são incluídos 
no processo de entendimento de uma forma de vida social diferente . Sem intermediários, o et-
nógrafo vivencia a realidade humana em sua essência, dilemas e paradoxos .
1 .6 O método etnográfico e a 
observação participante
É Malinowski (antropólogo polonês) quem altera a prática corrente 
dos trabalhos de campo, passando a viver permanentemente na aldeia, 
afastado do convívio com os brancos e aprendendo a língua dos nati-
vos . Para ele, o trabalho do antropólogo deve guiar-se a partir da ob-
servação de cada detalhe da vida social . Aspectos sem relevância, im-
portância ou incoerentes devem ser observados para se descobrir seus 
significados e relações . Passa a realizar observação direta, possibilitada 
pela vivência diária . Com isso, o antropólogo participa das conversas, 
dos acontecimentos e do cotidiano da vida da aldeia . 
Em 1914, Malinowski empreende um trabalho de investigação 
intenso e minucioso . Inicialmente, na ilha de Tulon (entre os Mai-
lu), depois nos arquipélagos da Nova Guiné . Fixou-se nas Ilhas Tro-
briand, no período de junho de 1915 a maio do ano seguinte e, em 
outubro de 1917, em nova expedição, até outubro de 1918 . Inaugu-
ra, assim, uma das estratégias mais usadas em Antropologia - a ob-
servação participante .
DICA
Por volta de 1965, a 
população de Aborí-
genes chegou a pouco 
mais de 40 mil, pois 
foram literalmente 
massacrados pelos co-
lonizadores e expulsos 
das terras produtivas, 
migrando para regiões 
desérticas ou para o 
Norte da Austrália (um 
Inglês de pele clara 
e acostumado com 
clima frio teria dificul-
dades em se adaptar 
ao calor infernal de 
quase 50 graus) . Os 
artefatos eram feitos 
de madeira, de pedra, 
ou de osso de animais . 
Aliás, o Bumerangue 
(Boomerang) não era 
primariamente um 
instrumento de caça, 
e sim um brinquedo 
para divertimento nas 
aldeias, esculpido na 
madeira, que também 
era utilizado algumas 
vezes como arma, mas 
o principal instrumento 
de caça aborígene era 
mesmo a lança . 
Fonte: Portal Oceania . 
Disponível em <http://
www .portaloceania .
com/au-life-aborige-
nes-port .htm> Acesso 
em set, 2008 .
Figura 5: Bronislaw 
Malinowski (1884-
1942)
Fonte: Núcleo de An-
tropologia Urbana USP, 
disponível em<http://
www .n-a-u .org .html 
Acesso em set, 2008 
▼
20
UAB/Unimontes - 2º Período
A observação da realidade é instrumento imprescindível para a pesquisa . A observação 
participante, entretanto, se distingue da observação comum, pois remete a uma integraçãodo 
investigador com a comunidade estudada . Essa integração faz com que o pesquisador se torne 
parte da comunidade . Mas, para que isso aconteça, é necessário que os membros da comunida-
de aceitem e reconheçam esse pesquisador .
O conceito da observação ou da pesquisa participante refere-se ao fato de que o pesqui-
sador deve participar pessoalmente do que está acontecendo . A apreensão inconsciente, dada 
pela participação, precede e permite o processo analítico consciente da investigação da realida-
de cultural . A ideia que caracterizava o método era a de que apenas através da imersão no coti-
diano de uma outra cultura o antropólogo poderia chegar a compreendê-la . Entretanto, o traba-
lho de campo requer uma preparação teórica do antropólogo, bem como o conhecimento de 
diversas técnicas de coleta de dados .
Outro conceito importante sobre observação participante é dado por Roberto Cardoso de 
Oliveira (2000), definindo-a como a interação entre pesquisador e informante durante o trabalho 
etnográfico; significa dizer que o pesquisador assume um papel aceitável pelos membros daque-
la sociedade, possibilitando, assim, o contato . Essa técnica possibilita um ato cognitivo, desde 
que a compreensão capte as significações e os dados também .
Carlos Rodrigues Brandão ressalta que fazer observação participante é estar presente no lu-
gar observando e compreendendo o que está acontecendo . É participar da vida cotidiana das 
pessoas: Eu quero me meter nos bares, dentro da casa, nas manhãs da vida das pessoas, nos lu-
gares de igreja e principalmente nos lugares de trabalho [ . . .] . (BRANDÃO, 2007, p . 14)
Com esse método, a Antropologia se consolidou como disciplina científica, onde o antro-
pólogo escreve a sua etnografia a partir da imersão no universo social de outra cultura . É esse 
ponto que legitima o método, pois o antropólogo, por meio de uma pesquisa intensiva e de lon-
ga duração, possibilita um modo de conhecimento em profundidade da alteridade cultural, fato 
que ‘escapava’ do etnocentrismo . (´Ver discussão deste conceito na Unidade 3, item 3 .3) .
1 .7 Tornar-se nativo
O método/ técnica observação participante possibilita uma transformação no antropó-
logo, já que, nesse processo, seu trabalho torna-se ativo e participativo . Idealmente, torna-se 
um nativo .
É importante, nesse contexto, aprender a língua do outro e realizar observação meticulosa 
dos fatos da vida cotidiana . No campo, Cardoso de Oliveira (2000) ressalta que o ouvir e o olhar 
não são faculdades independentes no exercício da investigação – são complementares e impor-
tantes ferramentas no trabalho . 
Nesse processo, o antropólogo se transforma ao entrar em contato com outra cultura e re-
-elabora sua experiência cultural ao sair dela . Transforma a sua experiência em uma descrição ob-
jetiva, em texto etnográfico que se configura como produto final do trabalho, onde apresenta 
uma re-elaboração de suas experiências .
O antropólogo deve estar teoricamente preparado, pois tal re-elaboração deveria ser inspi-
rada numa teoria da cultura específica . Malinowski inspirou-se no funcionalismo, pois ele con-
cebia as culturas como unidades discretas existentes sob forma unitária e acabada, passíveis de 
serem observadas e conhecidas .
O papel da Antropologia consiste em produzir interpretações das diferenças . Segundo Mali-
nowski :
Há, porém, um ponto de vista mais profundo e ainda mais importante do que 
o desejo de experimentar uma variedade de modos humanos de vida: o dese-
jo de transformar tal conhecimento em sabedoria . Embora possamos por um 
momento entrar na alma de um selvagem e através de seus olhos ver o mundo 
exterior e sentir como ele deve sentir-se ao sentir-se ele mesmo, nosso objetivo 
final ainda é enriquecer e aprofundar nossa própria visão de mundo, compre-
ender nossa própria natureza e refiná-la intelectual e artisticamente . Ao captar 
a visão essencial dos outros com reverência e verdadeira compreensão que se 
deve mesmo aos selvagens, estamos contribuindo para alargar nossa própria 
visão . (MALINOWSKI, 1984, p . 374)
21
História - Antropologia Cultural
Da Matta (1987) faz uma comparação do trabalho de cam-
po com os “rituais de passagem” estudados por Van Gennep 
(1978) e Turner (1974) . Em ambos os casos, o antropólogo e o 
nativo são retirados de sua sociedade:
[ . . .] tornam-se a seguir invisíveis social-
mente, realizando uma viagem para os 
limites do seu mundo diário e, em pleno 
isolamento num universo marginal e pe-
rigoso, ficam individualizados, [ . . .] retor-
nam à sua aldeia e os novos laços sociais 
tramados na distância e no individualismo 
de uma vida longe dos parentes, podendo 
assim triunfalmente assumir novos papéis 
sociais e posições políticas (DA MATTA, 
1987, p . 151) . 
Comparando o nativo e o antropólogo iniciante, nota-se, 
porém, que o primeiro passa por esses rituais cercado de ele-
mentos religiosos e crenças mágicas, e que o segundo utiliza de 
sua experiência de iniciante a partir do uso consciente da razão, 
experimentação e hipóteses de trabalho . Devem estar aptos a 
sofrerem novos tipos de aprendizado .
É importante ressaltar que o autor mostra que essa imer-
são no campo do antropólogo iniciante faz com que este re-
descubra novas formas de relacionamento pessoal por meio de 
uma “socialização controlada” . Controlar preconceitos torna-se 
fundamental .
1 .8 A pesquisa etnográfica
Evans-Pritchard (1999) discute que trabalhar no campo significa 
para o antropólogo tornar-se etnógrafo . Para ele, a etnografia é o estu-
do aprofundado de um único povo ou de um agrupamento de povos 
intimamente relacionados, e que a mesma deveria durar pelo menos 
por dois anos de pesquisa de campo . O autor defende esse tempo por 
entender que, nesse período, o etnógrafo poderá aprender a língua do 
grupo, possibilitando uma maior interação entre eles, fato também de-
fendido por Malinowiski (1984, p . 19): “A viagem de estudo etnográfico 
pode ser uma experiência reveladora e de enorme valor” . 
Malinowski (1984) usa a palavra etnografia para descrever os re-
sultados empíricos e descritivos da ciência do homem e a palavra et-
nologia para referir-se às teorias especulativas e comparativas . Para 
melhor entender, buscamos os conceitos de etnologia e etnografia, 
consulte o glossário . 
Sobre as condições apropriadas para a pesquisa etnográfica, e con-
tando sobre a sua experiência nas Ilhas Trobriand, Malinowiski afirma 
que:
[ . . .] consistem sobretudo em isolar-se da companhia 
de outros homens brancos e em permanecer em 
contato tão estreito quanto possível com os nativos, o que, na realidade, só pode 
ser alcançado pela residência efetiva em suas aldeias . [ . . .] Há uma grande dife-
rença entre uma estada esporádica em companhia dos nativos e estabelecer um 
con tato verdadeiro com os mesmos . O que quer dizer isto? Do ponto de vista 
do etnógrafo, significa que sua vida na aldeia, que a princípio era uma aventura 
estranha, às vezes desagradável e às vezes intensamente interessante, logo ad-
quire um curso natural, em perfeita harmonia com os seus arredores . [ . . .] Logo 
depois que me instalei em Omarakana comecei, de certa forma, a tomar parte na 
vida da aldeia, a buscar quais acontecimentos importantes e festivos, a adquirir 
um interesse pessoal no diz-que-diz e no desenrolar das ocorrências da peque-
▲
Figura 6: Mulher 
ameríndia
Fonte: Disponível em 
http://mundoindigena .
zip .net/images/INDIGE-
NA307500 .jp .
Acesso em set, 2008
▲
Figura 7: Edward 
E .Evans-Pritchard, Profº . 
de Antropologia Social 
na Univer . de Oxford
Fonte: Disponível em 
http://www .mnsu .edu/
emuseum/information/
biography/abcde/
evanspritchard_ee .html . 
Acesso em set, 2008
22
UAB/Unimontes - 2º Período
na aldeia; a acordar cada manhã para um dia que se apresentava mais ou me-
noscomo se apresenta para o nativo . Saía do meu mosquiteiro para encontrar ao 
meu redor a vida da aldeia principiando a desdobrar-se, ou os indivíduos já bem 
adiantados nas suas tarefas diárias, de acordo com a hora e também com a es-
tação, pois eles se levantam e começam as suas labutas cedo ou tarde, segundo 
o trabalho exige . Durante o meu passeio matinal pela aldeia, podia observar os 
íntimos detalhes da vida familiar, a higiene, a cozinha, as refeições; podia ver os 
preparativos para o dia de trabalho, as pessoas saindo para atender aos seus in-
teresses, ou grupos de homens e mulheres ocupados em algumas tarefas manu-
fatureiras . Disputas, piadas, cenas familiares, eventos usualmente triviais, às vezes 
dramáticos, mas sempre, significativos, formavam a atmosfera da minha vida diá-
ria, assim como da deles . (MALINOWSKI, 1980, p .43)
Todos esses fatos são denominados por Malinowski (1984) como os imponderáveis da vida 
real, que se constituem em uma série de fenômenos de suma importância e que não podem ser 
registrados apenas com o auxílio de questionários ou documentos, devem ser observados em 
plena atividade, de modo a extrair a atitude mental que neles se expressa . Os aspectos íntimos e 
legais são registrados .
Malinowski (1984) propôs três princípios metodológicos:
1 . O pesquisador deve ter objetivos genuinamente científicos e deve conhecer bem as teo-
rias antropológicas .
2 . Assegurar boas condições de pesquisa: viver entre os nativos e aprender a língua deles .
3 . Aplicar métodos especiais de coleta (informantes), manipulação e registro das evidências 
(diário de campo) .
O autor destaca o segundo princípio por ser o mais elementar dos três .
1 .9 O caderno de campo
O caderno de campo é largamente utilizado na Antropologia 
como um instrumento de pesquisa . Consiste no registro, na linha dos 
relatos de viagem, do contexto em que os dados foram obtidos . Essa 
prática permite captar uma informação que os documentos, as entre-
vistas, os dados, a descrição de rituais, obtidos por meio do gravador, 
da filmadora, da máquina fotográfica, das transcrições - não transmi-
tem .
Os cadernos de campo, após servirem para a realização das pes-
quisas, transformam-se em documentos, geralmente presentes nos arquivos pessoais dos aca-
dêmicos e, dependendo do valor histórico de suas obras, podem passar para arquivos públicos .
Veja descrição do diário de campo de Darcy Ribeiro (2006), publicado recentemente como livro: 
Este livro é a edição sem retoques dos meus diários de campo nas duas expe-
dições que fiz, entre 1949 e 1951, às aldeias dos Urubus-Kaapor . Eu tinha, então, 
27 anos, o vigor, a alegria e o elã dessa idade, de que tenho infinitas saudades . 
Enfrentava sem medo marchas de mil quilômetros, temporadas de dez meses 
[ . . .] Meus diários são anotações que fiz dia-a-dia, lá nas aldeias, do que via, do 
que me acontecia e do que os índios me diziam . Gastei nisso uns oito grossos 
cadernos, de capa dura, que ajudava a sustentar a escrita . Porque índio não tem 
mesa . Muitas vezes escrevia sobre minhas pernas ou deitado em redes balou-
çantes . Você imaginará a letra horrível que resultava disso . (RIBEIRO, 2006)
DIÁRIOS DE CAMPO:
“Diários Índios” de Darcy Ribeiro – contêm dados de campo, relatos das viagens, descrições 
de ritos, desenhos, fotos, diagramas de parentesco  e até  rabiscos feitos pelos próprios índios .
Um diário no sentido estrito do termo, de Bronislaw Malinowski, publicado pela primeira 
vez, em 1967, o diário pessoal do antropólogo Bronislaw Malinowski, que relata seu trabalho de 
campo na Nova Guiné e nas ilhas Trobriand, na década de 1910, causou sensação no meio acadê-
DICA
Sobre esse conceito, 
consultar Malinowski, 
B . Argonautas do Pacífi-
co Ocidental , 1984 .
▲
Figura 8: Darcy Ribeiro 
(1922-1997) .
 Fonte: Fundar . Dispo-
nível em <http://www .
fundar .org .br/> Acesso 
em set, 2008 .
▲
Figura 9: Caderno de 
campo
Fonte Núcleo de Antropolo-
gia Urbana USP disponível 
em<http://www .n-a-u .org/
Magnanicadernodecampo .
html> . Acesso em set, 2008
23
História - Antropologia Cultural
mico . Malinowski, no diário, não esconde a antipatia pelos nativos - usa a palavra nigger (crioulo) 
ao se referir a eles -, nem suas angústias, egocentrismo ou hipocondria . Ao ser publicado pela 
segunda vez, outra postura da academia é notada pelo entendimento que um antropólogo é al-
guém que trabalha com material humano, que não simplesmente observa e anota, mas se inte-
gra ao objeto de estudo, influenciando-o e sendo por ele influenciado .
Brandão (2007, p .14) fornece importantes dicas para a elaboração do diário e ressalta que 
toda e qualquer situação é importante para essa tarefa como, por exemplo: “uma família em casa, 
tomando o seu café e se arrumando para sair” . A observação deve ser acompanhada da escrita 
do diário, no caso do autor, uma caderneta . Para Brandão, deve-se anotar descritivamente .
Em um segundo momento, essas anotações são sistematizadas, isto é, busca-se uma lógica 
para que as situações aconteçam .
1 .10 Estranhar ou observar o familiar
A Antropologia escolheu como método o qualitativo, por consistir no contato direto com o 
que será pesquisado . No caso da Antropologia, é preciso conviver durante um tempo razoavel-
mente longo para se conhecer uma sociedade . Há aspectos em uma sociedade que não podem 
ser descobertos em um período curto de tempo . 
Para Da Matta, é necessário se despir de todas as concepções pré-concebidas, com o objeti-
vo de transformar o “exótico em familiar e o familiar em exótico” . Essas transformações possuem 
uma relação significativa . A primeira possibilita ao pesquisador encontrar o que, na sua socieda-
de, é bizarro . A segunda transformação conduz a um encontro com o outro e ao estranhamento . 
De fato, “o exótico nunca pode passar a ser familiar e o familiar nunca deixa de ser exótico” (DA 
MATTA, 1987, p . 158) .
As noções de familiaridade e exotismo usadas por Da Matta exprimem a ideia de que o fa-
miliar pode fazer parte ou não do universo diário do pesquisador e que o exótico constitui-se em 
um elemento fora desse universo . 
Velho (2000), ao problematizar as questões propostas por Da Matta, propõe que o que é vis-
to e encontrado em uma sociedade pode ser familiar, mas não conhecido; e o que não se vê nem 
se encontra pode ser exótico, porém conhecido . O fazer etnográfico pressupõe que se estranhe o 
“familiar”, pois apenas dessa maneira consegue-se confrontar intelectualmente as diferentes ver-
sões relativas aos fatos existentes .
O autor ressalta que o pesquisador deve manter uma distância mínima de seu objeto, o que 
denomina de objetividade, no sentido de neutralidade e imparcialidade . Dessa forma, o pesqui-
sador deve se manter imparcial, “evitando envolvimentos que possam obscurecer ou deformar 
os julgamentos e conclusões” (VELHO, 2000, p . 123) .
A proximidade dos indivíduos não se dá pelo fato de pertencerem à mesma sociedade . A 
unidade não acontece por conta da língua e por tradições nacionais, mas sim por experiências e 
vivências entre classes .
Os métodos de pesquisa antropológicos possibilitam ao antropólogo trabalhar com quali-
dades muito particulares, que não podem ser quantificadas, como os significados, motivos, cren-
ças, valores e atitudes . Para esse fim, utilizam-se a observação participante e também a entrevista 
aberta, técnicas de trabalho que pressupõem contato direto e pessoal .
É necessário estabelecer contato para conhecer, pois alguns aspectos culturais não são cla-
ros, não estão à mostra, exigindo um esforço maior e mais detalhado de observação . Isso remete 
ao problema de colocar-se no lugar do outro, que para Velho (2000), exige um mergulho na pro-
fundidade, por conta da distância social e psicológica, que pode transformar o exótico em fami-
liar e o familiarem exótico – aquele algo em comum que podemos ter com pessoas de outra cul-
tura e podemos não ter com pessoas de nossa própria cultura, por conta da complexidade social .
As experiências comuns que partilhamos são para Velho (2000) o que nos permitem a in-
tegração . A língua ou tradições não se constituem unidades de integração . O que permite a in-
tegração são as experiências e vivências de classe . Tais vivências de classe seriam sociológicas, 
econômicas e históricas, de forma a ultrapassar as fronteiras nacionais .
Cabe ao antropólogo relativizar essas noções, como algo fabricado, produzido cultural e histo-
ricamente, pois a distância é complexa e tem consequências . Conforme Da Matta (1987), temos um 
familiar que não é necessariamente conhecido e um exótico que é até certo ponto conhecido .
GLOSSÁRIO
Etnologia: 
1 sf (etno+logo2+ia1) 
Ciência que trata da 
divisão da humanidade 
em raças, sua origem, 
distribuição e relações 
e das peculiaridades 
que as caracterizam . 
2 Antropologia cultural 
ou social que inclui o 
estudo comparativo e 
analítico das culturas 
e exclui a matéria de 
arqueologia e Antropo-
logia Física .
3 É o termo para o 
estudo sistemático ou 
científico sobre o outro . 
O estudo comparativo 
sistemático da varie-
dade de outros povos 
diferente do nosso . 
Etnologia é o ramo da 
Antropologia Cultural 
que estuda a cultura 
dos povos naturais, é 
o estudo e o conheci-
mento sobre o aspecto 
cultural das populações 
primitivas . 
Etnografia:
1 sf (etno+grafo1+ia1) 
Ramo da Antropologia 
que trata historicamen-
te da origem e filiação 
de raças e culturas; An-
tropologia Descritiva . 
2 Ramo da Etnologia 
que trata da descri-
ção de culturas, sem 
ocupar-se de compara-
ção ou análise . 
3 Antes de investigado-
res iniciarem estudos 
mais sistemáticos sobre 
uma determinada 
sociedade, descreviam 
todos os tipos de 
informações sobre os 
outros povos por eles 
desconhecidos . Etno-
grafia é a especialidade 
da Antropologia, que 
tem por fim o estudo e 
a descrição dos povos, 
sua língua, sua raça, sua 
religião, e manifesta-
ções materiais de suas 
atividades, é parte ou 
disciplina integrante 
da etnologia, é a forma 
de descrição da cultura 
material de um deter-
minado povo .
24
UAB/Unimontes - 2º Período
Para conhecer o outro - o familiar e o exótico -, deve-se considerar que o outro surpreende, 
assim é preciso vê-lo primeiro e não esquecer que conhecer depende da interação . A realidade 
familiar ou exótica é percebida sempre pelo ponto de vista do observador, e observada de ma-
neira diferente, de modo que a objetividade é relativa, ideológica e interpretativa .
Velho (2000), comentando Geertz, enfatiza que a interpretação, o conhecimento da vida so-
cial depende da subjetividade, e esta tem caráter aproximado, e, não, definitivo .
É necessário relativizar a distância e a objetividade para poder observar o familiar sem achar im-
possível encontrar resultados imparciais e neutros . Nem sempre o que é visto é conhecido, nem sem-
pre o que não se tem contato pode ser exótico É preciso questionar os estereótipos e as pré-noções, 
pois o conhecimento do familiar pode ser insuficiente e precário, ao ser apressado e preconceituoso .
A interpretação está sempre presente por mais que os dados sejam “verdadeiros” e “obje-
tivos”, porque a subjetividade sempre está presente . Entretanto, rever a própria interpretação é 
mais complicado . Com relação ao exótico e distante, por serem menores as oportunidades de 
discussão e polêmicas, as versões ficam pouco expostas ao questionamento . Assim, a Antropolo-
gia é mais uma versão . Mas, observa VELHO, sempre se pressupõe familiaridade . A atitude cientí-
fica é de levantar dúvidas sobre estas distâncias . 
Box 2
“Roberto Da Matta, em uma conferência intitulada O ofício do etnólogo, ou como ter an-
thropological blues, proferida no início dos anos setenta, e posteriormente incorporada em 
seu livro Relativizando (1987): Esses anthropological blues aos quais ele se refere remetem a 
experiências tematizadas nos blues, ou seja, dentro da tradição musical norte-americana . Ao 
utilizar a expressão na conferência, Da Matta estava citando a carta que recebera de uma cole-
ga estadunidense, Dra . Jean Carter, que lhe escreveu do campo, durante pesquisa com popu-
lação indígena no interior do Brasil (Da Matta 1987, p .156) . Na carta, ela falava nos anthropo-
logical blues como experiência constitutiva do trabalho de campo . Referia-se às dificuldades 
iniciais e existenciais do antropólogo no campo, ao interagir com sociedades culturalmente 
distantes e onde tudo parece estranho ou exótico . Roberto Da Matta dizia então que o an-
tropólogo tem que, num primeiro momento, fazer um esforço para transformar o exótico em 
familiar, para dar um sentido lógico e coerente às práticas que está observando . Da mesma 
forma, esta experiência habilita o antropólogo a exercitar a fórmula em sentido inverso, quan-
do do retorno à sua própria sociedade, aprendendo a estranhar o familiar para melhor com-
preendê-lo .
Entretanto, a dimensão existencial deste esforço cognitivo contribui significativa-
mente para caracterizar os anthropological blues ou as contingências constitutivas do 
trabalho de campo . Pois, como assinala Da Matta, este processo também atua e tem im-
pacto no plano dos sentimentos . Além da experiência do choque cultural e sua repercus-
são no âmbito das emoções, ao ver-se isolado ou marginalizado no campo, o antropólogo 
sente falta do convívio com sua comunidade de origem, e das interações nas quais estava 
acostumado a se envolver, o que é vivido pelo antropólogo como uma
DICA
Até que ponto pode-
mos distinguir o socio-
cultural do psicológico? 
Quantas vezes, no 
ambiente de trabalho 
e acadêmico, estamos 
mais à vontade com 
colegas de outra socie-
dade? Quantas vezes 
estamos à vontade com 
o funcionário do prédio 
em que moramos?
Figura 10: A 
diversidade Cultural
Fonte: Disponível em 
http://bp0 .blogger .
com/_yQ8CGGe2cxM/
R0sfQ7g0iiI/AAAAAA-
AAAAM/_tjLGZMqa_I/
s1600/Untitled-4 .jpg
Acesso em set, 2008
►
25
História - Antropologia Cultural
sensação de perda ou melancolia e tristeza similar àquelas retratadas nos blues . De fato, 
os blues falam freqüentemente de amores perdidos ou distantes cuja ausência é lamentada 
na música . Mas, como gostaríamos de argumentar, esta ideia de perda, no caso da experiên-
cia vivida no campo, estaria sempre acompanhada pelo enriquecimento do espírito do pes-
quisador . Isto porque, junto com esta falta que o antropólogo sente daquilo que ele tinha na 
sociedade de origem, há também a exposição ao mundo novo e diferente com o qual ele se 
defronta no momento, e cujo acesso é aguçado pela sensação de perda, o que leva sempre a 
uma ampliação do seu horizonte ou de seu universo de compreensão . 
Neste sentido, os anthropological blues sugerem que a etnografia é resultado de um 
processo que articula cognição e emoção, assim como perda e enriquecimento, chamando 
a atenção para uma dimensão importante da interpretação antropológica que não pode ser 
mensurada . Isto é, trata-se de uma experiência cujos resultados não podem ser propriamente 
medidos, mas cujo poder elucidativo pode ser fundamentado, como ficará claro mais adian-
te, quando falarmos sobre o lugar das evidências simbólicas na interpretação antropológica . 
Como esta relação dialética entre exótico e familiar não se reproduz de forma invertida ape-
nas no plano cognitivo, quando do retorno do antropólogo, Da Matta assinala, em sua confe-
rência, que, depois de seu primeiro trabalho de campo, o antropólogo jamais voltaria a ser o 
mesmo . Isto é, jamais voltaria a se sentir inteiro novamente . Pois, apesar das dificuldades e da 
sensação de melancolia que marcam os anthropological blues, durante o trabalho de

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