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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP SAMUEL RODRIGUES O PERFIL DOS PROFESSORES DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO SOROCABA 2014 SAMUEL RODRIGUES O PERFIL DOS PROFESSORES DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO Trabalho de Conclusão de curso para obtenção do título de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior apresentado à Universidade Paulista – UNIP Orientador: Profa.Ma. SOROCABA 2014 SAMUEL RODRIGUES O PERFIL DOS PROFESSORES DECIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO Trabalho de Conclusão de curso para obtenção do título de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior apresentado à Universidade Paulista – UNIP Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________/__/___ Profa.Dra.Adriana Pellissari Coordenadora do Curso de Pedagogia Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Profa.Ma. ( Nome da Professora Orientadora) Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Profa.Ma.Leni Palmira Piacitelli Universidade Paulista UNIP DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho em especial minha esposa, e a todos os meus familiares, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Me acompanhando nesta jornada e tornando a realização deste trabalho uma conquista com importância ainda maior. Agradeço а minha professora orientadora qυе teve paciência е mе ajudou bastante a concluir еstе trabalho, agradeço também а todоs os meus professores qυе durante muito tempo ensinaram-me as melhores coisas е mostraram о quanto estudar é bom. Agradeço ainda a todos aqueles qυе dе alguma forma estiveram е estão próximos dе mim, fazendo esta vida valer cada vеz mais а pena. "É muito melhor ousar coisas difíceis, conquistar triunfos grandiosos, embora ameaçados de fracasso, do que se alinhar com aqueles que nem desfrutam muito, nem sofrem muito, porque vivem em uma penumbra cinzenta, onde não conhecem nem vitória nem derrota ". (Theodore Roosevelt) RESUMO Este estudo avalia a didática dos professores de Ciência da Computação em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas e sua importância para a qualidade dos serviços por eles prestados, para eficácia do conhecimento transmitido ao aluno e para o sucesso da IES como empresa de qualidade. Levantamos a questão dos processos de recrutamento e seleção do docente como fator de grande importância, uma vez que tem o papel de filtrar os profissionais de acordo com perfis mais adequados às exigências de um mercado onde a qualidade dos serviços prestados é duramente cobrada, caso das IES privadas. Discutimos ainda a formação acadêmica destes profissionais a fim de verificar a existência de disciplinas capacitadoras das tarefas docentes, assim como os prós e contras de uma vivência puramente acadêmica voltada a pesquisa cientifica e da atuação como profissional da área especifica de sua formação. Por fim apresentamos como caminho para melhoria da didática dos docentes universitários a formação especifica e continuada, esperando que para isto haja um movimento de incentivo por parte das IES e de exigibilidade por parte do poder público através de alterações legislativas. Palavras-chave: Didática , Docência no Ensino Superior, Formação Docente. ABSTRACT This study evaluates the teaching of teachers of Computer Science in Higher Education Institutions (HEI) and its private importance to the quality of services provided by them for effectiveness of knowledge imparted to students and to the success of the HEI as a quality company. We raised the issue of recruitment and selection of teaching as a very important factor, since it has the role of filtering professionals according to required profiles to the demands of a market where quality of service is hard to be charged if the private HEI. We also discuss the academic training of these professionals in order to verify the existence of enabling disciplines of teaching tasks, as well as the pros and cons of a purely academic experience focused on scientific research and professional performance as the specific area of their training. Finally we present as a way to improve the teaching of university teachers to specific training and continuing, hoping that there is a movement for this incentive by the HEI and enforceability by the government through legislative changes. Keywords: Didactic, Teaching in Higher Education, Teacher Training. SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9 2 - O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO ...................................................................... 12 2.1 - Breve Histórico ............................................................................................... 13 2.2 - Tempos Atuais ............................................................................................... 16 2.3 - O Professor de Ciência da Computação ........................................................ 20 3–A FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO ............................................ 24 4 –A SELEÇÃO DO DOCENTE ................................................................................ 27 5 - PÓS GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR ........................... 29 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 31 9 1 - INTRODUÇÃO Atualmente muitos docentes universitários, em nível de graduação e em Instituições de Ensino Superior (IES) particulares, além de exercerem a profissão docente atuam como profissionais em suas áreas de formação. Tal fato tem seu aspecto positivo e negativo, uma vez que muitas disciplinas dependem de um conhecimento prático do docente, para transmitir de forma mais concisa e compreensível ao aluno, a importância e relevância que esta desempenhará em seu futuro profissional (foco principal da maioria dos graduandos de IES privadas). Por outro lado tende-se a faltar nestes profissionais a didática, ficando prejudicada com isso, a formação do conhecimento. Também é possível encontrar professores que se dedicaram totalmente a carreira acadêmica e, portanto lhes falta a experiência prática, fato que também pode ser visto de forma positiva ou negativa, uma vez que, este profissional poderá atuar com muito mais propriedade em disciplinas puramente teóricas, mas, por outro lado é possível que ele encontre dificuldades em sanar dúvidas mais especificas dos alunos em relação à aplicação prática do conhecimento ora transmitido. Fato que inegavelmente pode ser considerado prejudicial ao docente universitário é a falta de conhecimentos em didática, a profissão docente exige mais que uma boa formação cientifica na área de conhecimento específica, pois além de conhecer, o professor terá que transmitir tais conhecimentos, e fazê-lo de forma adequada e eficiente.Veiga (2008, p. 14) defende que: A docência requer formação profissional para seu exercício: conhecimentos específicos para exercê-lo adequadamente ou, no mínimo, a aquisição dos conhecimentos e das habilidades vinculadas à atividade docente para melhorar sua qualidade. É claro o prejuízo ao aluno e à instituição advindo da precariedade na capacidade de transmissão de conhecimento por parte do docente. Nem sempre isso se dá pelo fato de o professor não ser detentor de tal conhecimento, muitas vezes este detém com grande propriedade o domínio teórico e até mesmo prático da 10 disciplina, mas não tem habilidades didáticas suficientes para transmiti-los de forma satisfatória. Mostra-se urgente a necessidade de adequação do profissional docente às exigências do perfil atual dos acadêmicos, cada vez mais exigentes, ainda mais em instituições privadas, onde o fator financeiro interfere diretamente nessa cobrança por profissionais mais completos. Não adianta fugir, nem tapar o sol com a peneira. As IES privadas que quiserem melhorar a sua capacidade de competir no mercado e verdadeiramente contribuir para a boa formação universitária necessitam avaliar e aprimorar a gestão do corpo docente, um dos alicerces da atuação educacional.(LOBO, 2003, p. 1). Tanto as IES quanto os alunos têm como objetivo uma formação satisfatória e ambos dependem diretamente do professor para que este objetivo seja atingido. Se detectarmos problemas na relação ensino-aprendizagem teremos mais recursos para solucioná-los. Este estudo aborda mais especificamente a educação na graduação no ensino superior, definida a seguir: Educação Superior, ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização, aberta a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e sido aprovados em processo seletivo. (Cavalcante, 2000, p. 15). . O professor universitário, figura central e peça de grande importância nessa engrenagem, que move a sociedade e seus membros rumo capacitação profissional, desenvolvimento intelectual e inserção na cultura de pesquisa e produção de conhecimento científico é aqui o alvo de estudo e análise em busca de seus dilemas, das nuances de sua profissão e dos desafios por eles enfrentados. Este trabalho surgiu principalmente da observação pessoal do autor e experiência durante a graduação e pós-graduação, seu contato com professores e lembranças de situações que motivaram o trabalho. A proposta aqui é revisar a bibliografia do assunto, tentando localizar nesta, idéias que confirmem ou refutem as hipóteses aqui levantadas e com isso nos tragam a luz possíveis opções para amenizar ou corrigir tais problemas. Não sendo possível propor tais correções ou 11 caminhos alternativos para o problema ora destacado, servirá este de base para novos estudos neste aspecto. Cabe ressaltar que este trabalho se limita a analisar o perfil de professores universitários de IES privadas, o que também servirá de guisa a futuras pesquisas mais abrangentes relacionadas a IES públicas e seu corpo docente, podendo inclusive surgirem estudos comparativos do perfil docente entre os de IES privadas e públicas. 12 2 - O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO A educação é o principal meio de agregação social pelo qual conhecimentos adquiridos são transferidos entre os membros de um determinado grupo social. Serve também de guia para uma boa convivência. Segundo Silva (2002) a educação situa-se no coração do desenvolvimento do ser humano e faz frutificar seus talentos e potencialidades criativas, o que implica a capacidade de cada um em responsabilizar-se pela realização do seu projeto pessoal. A sociedade tem como foco central a educação, e esta, abrange a produção e a qualidade do conhecimento além de sua aplicação. Neste contexto, a figura de maior representatividade e agente da produção do conhecimento é o professor, pois possui um vasto conhecimento que deve ser associado à prática de investigar e produzir mais conhecimento (CUNHA, 2000). A educação tem o objetivo de fornecer instrumentos culturais que promovam transformações materiais e espirituais exigidas pela dinâmica da vida social, vai, portanto muito além do conhecimento sistemático adquirido dentro de uma instituição de ensino. A educação forma e desenvolve a personalidade humana em todos os aspectos, começando pelo ambiente familiar, e continuando na escola, no trabalho e nos demais grupos sociais. Conforme mencionado no capítulo introdutório, nos limitaremos aqui a tratar do perfil dos docentes universitários apenas de IES privadas não estando porém isentos de mencionar aspectos da educação superior, e seus docentes, nas IES públicas, porém, apenas no que diz respeito a fatos históricos e estatíscos. Traçaremos a seguir de forma cronológica como se deu até aqui o trilhar do docente universitário ao longo dos anos no Brasil, mostrando como se desenvolveram as Instituições de Ensino, as políticas públicas voltadas ao tema e em consequência as mudanças no perfil destes profissionais do ensino. Amparados por estudos históricos a respeito do tema acompanharemos como foi a evolução e desenvolvimento e chegaremos aos dias atuais para verificar as principais mudanças e contextualizar o estudo. 13 2.1 - Breve Histórico Trindade (2000), numa retrospectiva da instituição universitária, identifica quatro períodos: 1. Século XII ao Renascimento, considerado “período da invenção da universidade em plena Idade Média em que se constituiu o modelo da universidade tradicional, a partir das experiências precursoras de Paris e Bolonha, da sua implantação em todo território europeu sob a proteção da Igreja.” (p. 122) 2. Século XV, fase em que a universidade renascentista mesmo com o impacto das mudanças comerciais do capitalismo, assim como do humanismo literário e artístico, sofre também efeitos da Reforma e da Contra-Reforma. 3. A partir do século XVII, fase marcada pelas descobertas científicas em diversos campos do saber, e do Iluminismo do século XVIII, quando a universidade começou a institucionalizar a ciência. 4. Século XIX, implantou-se a universidade estatal moderna, e essa fase, que se desdobra até os dias atuais, inicia a nova relação entre Estado e universidade. Segundo Souza (1991) os primeiros cursos superiores no Brasil iniciaram em 1808, com o Colégio Médico-Cirurgico na Bahia e a Cadeira de Anatomia, implantada no Hospital Militar do Rio de Janeiro, seguida pela criação da Escola Anatômica Cirúrgica e Médica, Morro do Castelo, também no Rio de Janeiro. Para Aranha (1996), a educação no país passou a ter maior atenção a partir da década de 1930, sendo possíveis vários motivos, tais como: movimentos dos educadores; iniciativas governamentais ou resultados concretos alcançados. Nessa década foi criado o Ministério da Educação e Saúde, responsável por reformas educacionais no âmbito nacional e pela estruturação da universidade. Ocorre maior autonomia didática e administrativa, bem como o interesse pela pesquisa e difusão da cultura, com a finalidade de beneficiar a comunidade. Até 1960 seguiu, o sistema de ensino superior, com um crescimento lento, mesma época em que se formou a rede de universidades federais; criação da 14 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (a primeira de muitas universidades católicas); expansão do sistema universitário estadual paulista e o surgimento de instituições estaduais e municipais de ensino menores em diversas regiões do país. De acordocom (Sampaio, 2000, p. 70-71) no período de 1946 a 1960, foram criadas 18 (dezoito) universidades públicas e 10 (dez) particulares de maioria confessional católica e presbiteriana. Na década de 1970, houve um significativo aumento na demanda pelo ensino superior, tanto pela maior destinação de recursos federais e orçamento voltados à educação, quanto pelo chamado "milagre econômico" que beneficiou principalmente a classe média brasileira, que enriquecida aderiu dentre outros hábitos de consumo à educação superior. No Brasil, ao contrário de alguns países da América Latina, a repressão política promoveu o ensino superior, tanto público quanto privado. O número de matrículas, em cerca de vinte anos, passou de 95.961 (em 1960), para 134.500 (em 1980). Os anos de 1968, 1970 e 1971 foram os que apresentaram as maiores taxas de crescimento. (Santos e Cerqueira, 2009, p.6). O aumento na demanda pelo ensino superior foi melhor absorvido pelo setor privado, uma vez que o setor público não estava preparado para esse momento. Já o primeiro, soube aproveitar tal momento, tendo se concentrado na oferta de cursos de baixo custo e prática de exigências acadêmicas menores, tanto para o ingresso como para o prosseguimento dos estudos até a graduação. As instituições privadas de ensino superior tornaram-se um grande negócio. Os empresários, donos dessas instituições, não tinham nenhum comprometimento com a educação e viam na necessidade imediata, por parte de um grande percentual da sociedade, da obtenção de um diploma a oportunidade de ganhar muito dinheiro. Pragmaticamente, esse fenômeno ocorreu na região mais rica do país, o Sudeste, enquanto que no Norte e no Nordeste o ensino ficava a cargo, quase que completamente, do setor público. O setor privado não tinha grandes preocupações com a pesquisa e nem com a qualidade do ensino. (Santos e Cerqueira, 2009, p.6). A década de 1980 foi de transição econômica e crise política, culminando com uma nova Constituição em 1988. A crise econômica atingiu tanto o setor público 15 quanto o privado com estagnação do ensino superior, porém no setor privado os reflexos da crise causaram maior efeito. Verificou-se neste período uma expansão dos cursos noturnos criados para atender uma nova demanda, com uma maior concentração no setor privado. Segundo Santos e Cerqueira (2009, p.7) " Em 1986, 76,5% das matrículas no ensino superior se concentravam no setor privado. As universidades federais resistiam à implementação de cursos noturnos, com um percentual de apenas 16% das matrículas.". Ainda Santos e Cerqueira (2009) mostram em seu estudo que entre os anos de 1985 e 1990 houve um aumento de 145% de instituições privadas, ou seja, passou de 20 para 49. Nesse mesmo período tem destaque o movimento da Associação Nacional dos Docentes Universitários (ANDES) que, em sua luta tinham como temas prioritários a "autonomia e democratização, traduzidas em participação de docentes e de discentes na gestão da universidade, por meio de mecanismos de representação". Na década de 1990 já em seus meados ocorre um marco para a educação brasileira, com a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96 , ocorre uma reordenação do sistema educacional com um conjunto de inovações capazes de tornar o ensino superior menos elitista. Cavalcante (2000, p. 12) nos dá alguns exemplos destas inovações: A obrigatoriedade de cursos noturnos nas instituições públicas, a regulamentação e institucionalização da educação a distância, a criação dos Institutos Superiores de Educação para a formação do magistério para o ensino fundamental e médio, o apoio aos programas de educação superior continuada, os cursos superiores seqüenciais, entre outros. Nina Ranieri (2000, p. 25) ressalta a importância dessas inovações: A Lei nº 9.394 é inovadora e modernizadora. Ao romper com as rígidas prescrições da legislação anterior, insinua a possibilidade de haver uma revisão das posições do Estado ante questões recorrentes no ensino superior brasileiro, tais como descentralização e controle das atividades, financiamento da educação pública, competências normativas e executivas nos diversos sistemas de ensino, regime jurídico das instituições públicas e sua autonomia frente aos governos mantenedores, dentre outros. 16 Outras mudanças também são notadas neste período, como a pesquisa universitária se afirmando, em especial nas instituições públicas, novos esforços voltados a qualificação do pessoal docente e uma integração das IES com a comunidade e o setor empresarial, através da extensão universitária. “O sistema de pós-graduação teve um crescimento significativo entre 1994 e 1999. No mestrado, o número de cursos aumentou de 1.159 para 1.339 e o de alunos, de 43 mil para 53,9 mil (...) No doutorado, o número de programas passou de 616 com pouco mais de 19 mil alunos para 727 com 28,9 mil alunos. No mesmo período, o número de doutores formados por ano cresceu de menos de 2,5 mil para mais de 4,7 mil.” (Brasil/MEC, 2000, p. 31, apud CAVALCANTE, 2000). “...estão sendo fortemente incentivados os programas de extensão, que reforçam os laços com as comunidades externas à vida acadêmica (...) A orientação do Ministério é no sentido de estreitar relações com o setor produtivo e redefinir políticas de inovação tecnológica, integrando a universidade ao desenvolvimento regional e criando vínculos de caráter permanente entre ela e a sociedade.” (Brasil/MEC, 2000, p. 29, apud CAVALCANTE, 2000). 2.2 - Tempos Atuais Segundo Cunha (2003), no período entre 1995 e 2002 as ações voltadas para o ensino superior de maior destaque foram a normatização fragmentada, conjunto de leis regulando mecanismos de avaliação; a criação do Enem, que veio a ser uma alternativa ao tradicional vestibular criado em 1911; a ampliação do poder docente na gestão universitária, a contragosto de discentes e de técnico-administrativos; reconfiguração do Conselho Nacional de Educação, com novas atribuições; gestação de um sistema de avaliação da educação superior e o estabelecimento de padrões de referência para a organização acadêmica das IES. O novo período político brasileiro iniciado em 2003, vem carregado de uma grande expectativa, uma das primeiras iniciativas oficiais para o setor veio com o Decreto nº 4 de 20 de outubro de 2003 instituindo o chamado "Grupo de Trabalho Interministerial – GT encarregado de analisar a situação atual e apresentar plano de ação visando a reestruturação, desenvolvimento e democratização das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES” (Brasil, 2003). Este deveria "analisar a situação 17 atual e apresentar plano de ação visando a reestruturação, desenvolvimento e democratização das Instituições Federais de Ensino Superior - IFES" (Idem). No ano de 2004 novos projetos entram em pauta, com a aprovação da Lei 10.861 de 14 de abril de 2004 o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes); apresentação ao Congresso Nacional do Projeto de Lei 3.627 de 28 de abril de 2004 que instituía a política de reserva de vagas nas Instituições Públicas de Ensino Superior para egressos das escolas públicas, negros e indígenas, e ainda a Medida Provisória nº 213 de 10 de setembro de 2004 que criou o Programa Universidade para Todos (PROUNI). É possível, ao acessar o portal do MEC na internet, verificar ainda um grande número de projetos que são organizados em 5 grupos de assuntos e seu projetos como mencionado a seguir: 1. Avaliação, Regulação e Supervisão da Educação Superior Avaliação - Conheça o Sistema Nacional de Avaliaçãoda Educação Superior (Sinaes) Regulação - Acesse o Cadastro de Instituições e Cursos da Educação Superior Supervisão - Saiba mais sobre a supervisão de instituições e cursos de graduação Acesse a cartilha Qualidade da educação superior: avaliação, regulação e supervisão 2. Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e outros programas Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) Programa de Educação Tutorial (PET) Programa de Apoio à Extensão Universitária (Proext) Acessibilidade na Educação Superior (Programa Incluir) Programa Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes) Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) Credenciamento de Fundações de Apoio 3. Bolsas e Financiamento da Educação Superior Programa IES-MEC/BNDES 18 Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior – Proies Programa Universidade Para Todos (ProUni) Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) 4. Hospitais Universitários e Residências em Saúde Hospitais Universitários Residências em saúde 5. Programas e Convênios Internacionais Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-bras) Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G) Programa de Mobilidade Acadêmica Regional em Cursos Acreditados (Marca) Haddad(2007, p. 25) determina aspectos importantes a serem observados numa análise da educação superior distinguindo em princípios que se complementam: i) expansão da oferta de vagas, visto que o número de alunos matriculados na idade entre 18 e 24 anos ainda está abaixo do esperado, ii) garantia de qualidade, é preciso expandir não só de maneira quantitativa, essa expansão desse ser feita com qualidade, iii) promoção de inclusão social pela educação, pois está comprovado que vários jovens tem seu talento desperdiçado quando são sistematicamente excluídos por meio de um filtro de natureza econômica, iv) distribuição territorial, para que um ensino de qualidade seja acessível a todas as regiões do País, e v) desenvolvimento econômico e social, transformando a educação superior como peça fundamental na produção científica e tecnológica, elemento primordial da integração e da formação de uma nação. Em um estudo de Costa; Goto e Costa (2009, p. 6) são identificados os principais programas desenvolvidos pelo governo federal, até aquela época: Foram criadas dez novas universidades, promoveu-se a expansão de novos campi nas universidades já existentes (48 novos campi ao todo), tudo por meio do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. Estão sendo criados centenas de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IFETS, ampliada a ação do Programa Universidade para Todos – PROUNI além de haver 19 agora uma intercessão entre o PROUNI e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES , e realizado um incremento da educação superior à distância, por meio da Universidade Aberta do Brasil – UAB, com a criação de dezenas de pólos em todo país. Na esfera da expansão do acesso ao ensino superior privado, conforme Haddad (2007), promove, o PDE, inovações consideráveis no mecanismo de financiamento estudantil para o ensino superior privado, através de uma alteração das regras do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), que passa a ser complementar integralmente com o programa de bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (PROUNI). O PROUNI foi criado com o objetivo de que, IES que fornecem bolsas de estudos na modalidade integral ou 50%, recebam isenções fiscais, e tendo como critério para que o candidato seja beneficiado, a seleção venha a ser por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM); Logo em seus primeiros três anos, o programa concedeu aproximadamente 300 mil bolsas, sendo 40% delas para afro descendentes e indígenas. (HADDAD, 2007). Encontra-se grande questionamento ao Governo Federal em relação ao PROUNI, por parte de alguns pesquisadores, pode-se observar "a transferência de responsabilidade da manutenção da educação superior nacional da iniciativa pública para a iniciativa privada, deixando de lado a preocupação com a qualidade do ensino oferecido pelas instituições participantes do programa" (COSTA; GOTO e COSTA, 2009, p. 8). Os mesmo autores ainda demonstram que apesar dos critérios para a obtenção da bolsa, seja a nota mínima no ENEM de 45 pontos, a nota média dos beneficiados permaneceu superior a 60 pontos se mantendo sempre superior à pontuação obtida pelos alunos egressos de escolas privadas. Demonstrando a qualidade dos alunos ingressantes. Toda essa mudança e ampliação ocorrida no Ensino Superior nos últimos anos, acompanhadas do avanço tecnológico, a ampliação da oferta de informações no meio digital, o aumento do acesso às IES pelas classes economicamente menos privilegiadas, são fatores que alteraram drasticamente a realidade dos ambientes educacionais incluindo os de Ensino Superior e com isso exigiu uma mudança não menos drástica no perfil dos Docentes Universitários e em suas metodologias e técnicas de ensino e avaliação. 20 2.3 - O Professor de Ciência da Computação no Brasil A história dos cursos de ciência da computação tem como precursor lógico o curso de engenharia elétrica, informam-nos Cardi e Barreto (2012) que o primeiro computador projetado e construído no Brasil (apelidado de "Lourinha"), foi desenvolvido, sob direção do professor Helmut Theodor Schreyer, como projeto final do curso de eletrônica da antiga Escola de Engenharia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) depois transformada em Centro Tecnológico. Schreyer publicou em 1952 no Rio de Janeiro um livro sobre 'Computadores Eletrônicos Digitais" no qual apresenta o projeto dos circuitos básicos usados em um computador digital. Data, porém, de 1960 a inauguração do primeiro Centro de Processamento de Dados no Brasil, que também foi o primeiro da América Latina: Finalmente, em 1960, foi inaugurado o primeiro computador da América Latina em Universidades e o primeiro do Brasil, no recém-criado Centro de Processamento de Dados da PUC-RJ [24]. Centro de Processamento de Dados da PUC-RJ. Na época da inauguração a PUC do Rio recebeu a visita do Cardeal Montini de Roma, que mais tarde tornou-se o Papa Paulo VI. Pelo seu alto posto ele foi convidado para inaugurar o computador, como também o Presidente da República Juscelino Kubistschek. Assim, o então Cardeal Montini inaugurou o Primeiro Centro de Processamento de Dados do país e o presidente Juscelino inaugurou o computador. (CARDI e BARRETO, 2012, p. 3). Sob a direção do Prof. Helio Drago Romano, que posteriormente participou da equipe que fundou a UNICAMP, o Centro de Processamento de Dados entrou em efetivo funcionamento criando uma série de cursos sobre computação e correlatos, sendo efetivamente iniciado o curso de ciência da computação no Brasil.(CARDI e BARRETO, 2012). No ano de 1961 no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), alunos apresentaram como trabalho de conclusão de curso, em conjunto com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), "um equipamento didático que mostrava como a informação se processava dentro do computador", apelidado de "Zezinho". (CARDI e BARRETO, 2012, p. 4). 21 Em julho de 1972, o Laboratório de Sistemas Digitais (LSD) do Departamento de Engenharia da Eletricidadeda Escola Politécnica da Universidade de São Paulo inaugurou seu projeto que batizou como "Patinho Feio". Projeto este que obteve êxito em seus objetivos, que eram de formar/treinar jovens com a habilidade de projetar e implementar computadores. Nessa época, atuavam como professores de cursos para à criação da competência no desenvolvimento de computadores, engenheiros de empresas estrangeiras, são eles: Glen Langdon (IBM), o Jim Rudolph (HP) e dentre outros. Movido pelo sucesso do "Patinho Feio" o Grupo de Trabalho Especial (GTE), encomendou um protótipo de computador que deveria ser desenvolvido o hardware pelo Laboratório de Sistemas Digitais da USP e o software pelo Departamento de Informática da PUC do Rio de Janeiro: Animado com o resultado do “Patinho Feio”, o GTE (Grupo de Trabalho Especial) encomendou um protótipo de computador ao Laboratório de Sistemas Digitais da USP (que faria o "hardware") e ao Departamento de Informática da PUC do Rio de Janeiro (que faria o "software"), que foi entregue em 1975. Tratava-se de um protótipo industrial mais compacto, seguindo os recursos da época, mais fácil de montar e com componentes periféricos, batizado de G-10. (CARDI e BARRETO, 2012, p. 5). Nesse período até o ano de 1996, ano da promulgação da LDB, as universidades tinham autonomia para escolher a nomenclatura dos cursos, a LDB, porém, determinou a criação de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para cada área, tendo sido divulgadas as da área de Computação em 1999, estendendo seu nome para Computação e Informática, sendo proposto um número limitado de denominações para seus cursos, a saber: "os cursos bacharelados - Ciência da Computação, Engenharia de Computação e Sistemas de Informação, os cursos de licenciatura e os cursos superiores de tecnologia". Tendo sido orientadas, as instituições do ensino superior, com cursos e denominações diferentes destas, a adequarem seus cursos e respectivos conteúdos a essas diretrizes. (CABRAL, 2008, p. 3). A Sociedade Brasileira de Computação (SBC), publica anualmente em seu site estatísticas sobre os cursos da área de computação, sendo que no momento em que este trabalho está sendo escrito a última estatística publicada se refere a dados 22 que vão até o ano de 2012, estes dados serão utilizados aqui para verificarmos a evolução numérica dos cursos graduação em Ciência da Computação. As estatísticas mencionadas contém dados a partir do ano 1969, porém devido as alterações legislativas que interferem nas nomenclaturas dos cursos o período de maior importância para este estudo é a partir de 1999. No ano de 2012 os Cursos de Ciência da Computação respondem por 15,51% dos total de cursos superiores da área de computação e informática, sendo superado pelo Cursos de Tecnologia(todos) 44,82% e pelos de Sistemas de Informação 26,67%. Em números, isto representa que do total de 2231 cursos superiores da área criados em 2012, 346 são da modalidade Ciência da Computação. Representando um aumento no número de cursos criados de 1,47% em relação ao ano de 2011 e um aumento de 108,43% em relação ao ano 2009, quando tinham sido criados 166 cursos e representavam 36,80% do total de cursos superiores na área (SBC, 2012). No que diz respeito ao número de concluintes os dados, fornecidos pela SBC se iniciam no ano 2001; no ano de 2012 o número de concluintes dos Cursos de Ciência da Computação foi de 7.670 alunos, 12,20% a mais que 2011 que contou com 6.836 concluintes, e 51,19% a mais que 2001 que contou com 5.073 concluintes (SBC, 2012). Não sendo possível encontrar material específico na bibliografia sobre o perfil dos docentes de Ciência da Computação, este trabalho se baseou, neste subtítulo, em informações encontradas em sites de algumas universidades privadas, escolhidas aleatoriamente entre as mais conhecidas da região de realização deste trabalho, nas quais foram localizados currículos dos docentes na plataforma lattes a fim de se verificar, no que diz respeito a experiência profissional e formação acadêmica, o perfil destes profissionais. Além disso foi levado em consideração a já mencionada experiência pessoal do autor durante o contato com seus professores em sua graduação. Nota-se que as IES privadas mantém para os cursos de ciência da computação um grupo heterogêneo de profissionais, sendo porém, possível observar um numero maior de professores com a titulação de mestres, seguidos por especialistas e em menor número os doutores. É possível notar um grande número destes profissionais com algum curso na área da educação seja especialização, mestrado ou doutorado. 23 Em relação a sua atuação profissional a maioria atualmente exerce apenas a profissão docente, tendo a maioria destes, em outros momentos, atuado como profissionais na área de informática. Um pequeno número destes docentes continua atuando concomitantemente com a docência em alguma atividade não docente na área específica de sua formação. Isto mostra que os professores universitários da área, em sua maioria, tem uma preocupação com a formação e o preparo para o exercício da docência buscando em seus diversos níveis a capacitação especifica para tal. 24 3–A FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO O corpo docente das IES é formado por um grupo misto de professores especialistas, mestres e doutores. É exigência legal (LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96)) que estas tenham um percentual mínimo de 1/3 (um terço) de mestres e doutores, sendo possível notar porém em algumas IES números maiores do que estes exigidos legalmente. É possível identificar uma preferência de um modo geral pelos professores com títulos de mestres ou doutores, porém tal preferência não promove garantia de uma melhor qualificação, no que diz respeito as habilidades em pedagogia e didática, destes profissionais. Segundo Lobo (2003) existe um princípio equivocado de que a contratação de professores doutores em detrimento de profissionais competentes é garantia de bom ensino de graduação. Não são exigidos conhecimentos de base para o magistério ou mesmo uma formação sistemática propiciadora da construção de uma identidade profissional para a docência (Anastasiou, 2003). Essa ausência da formação dos professores para a docência no ensino superior torna este um lugar de atividade “assistemática, com escasso rigor e pouca investigação”, segundo Marcelo Garcia. Ao observarmos a grade curricular dos cursos de pós graduação, tanto lato sensu quanto stricto sensu, (exceto aqueles da área de educação) percebemos que não estão necessariamente inseridas as disciplinas voltadas a pedagogia, didática, avaliação etc, tão importantes no preparo ao desempenho da função docente. Veiga et al (2000, p.190), afirmam: Se a especificidade e identidade da profissão docente é o ensino,é inadmissível que professores universitários que detenham o domínio do conhecimento em um campo científico não recebam uma formação mais condizente com as reais necessidades dos alunos e do ser professor. Observado que os cursos da área de Computação na modalidade stricto sensu são voltados principalmente à capacitação para o estudo e pesquisa acadêmica, enquanto a modalidade lato sensu, da mesma área, em sua maioria volta-se principalmente para especialização para o mercado de trabalho; Causa 25 estranheza ser preocupação com a didática nos cursos de formação docente em outros níveis de ensino (fundamental e médio) e ser tão esquecida da formação do docente universitário seja na modalidade stricto ou lato sensu. O fato dos cursos depós graduação não serem especificamente para formação de professores, pode ser a explicação para isso, pois diferente dos cursos de graduação que possuem a modalidade licenciatura, na pós graduação não há tal modalidade. A concepção da docência como dom carrega um desprestígio da sua condição acadêmica, relegando os conhecimentos pedagógicos a um segundo plano e desvalorizando esse campo na formação do docente de todos os níveis, mas, principalmente, o universitário. (Cunha, 2004). Conforme Pimenta e Anastasiou (2002, p.37), ainda que os professores possuam experiências significativas e trajetória de estudos na área de conhecimento específica, é recorrente em diversas IES, o predomínio do “despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula”. Resultado disto é que aquele que optar por ser professor universitário deverá adquirir habilidades didáticas e pedagógicas de outras maneiras, seja buscando uma formação complementar com um curso especifico da área docente ou em educação, ou seu aprendizado se dará durante a prática, o que pode ser bastante difícil e arriscado, uma vez que são exigidos conhecimentos e domínio de métodos e práticas dinâmicas e que devem ser constantemente ajustadas e adaptadas levando em consideração diversos fatores. Numa pesquisa desenvolvida por Lortie (1975), se encontra o espaço de aprendizagem muito comum nas falas de professores, ou seja, a experiência como o lugar da aprendizagem da profissão do ensinar. Os professores dizem que o seu principal professor tem sido a experiência; eles aprenderam a ensinar através de ensaios e erros na sala de aula. Aquilo que eles visualizam como processo de aquisição, são práticas testadas pessoalmente, não um refinamento ou aplicação de princípios de instrução geralmente válidos. Eles insistem que a influência dos outros são escolhidas através de seus conceitos pessoais e são sujeitas a testes práticos. As conotações do termo socialização parecem um tanto tendenciosas quando aplicadas a este tipo de indução, visto que elas 26 implicam numa maior receptividade para a cultura preexistente, que parece prevalecer. Os professores são, em grande parte, “formados por si mesmos”; a internalização do conhecimento comum é apenas uma pequena parte de seu movimento em direção à responsabilidade do trabalho ( Lortie, p.80). Neste ponto podemos verificar que as IES tem feito um bom trabalho de seleção dos docentes, dando preferência para profissionais que possuam em sua formação algo voltado ao tema da educação ou docência, e ainda que atuem ou tenham atuado preferencialmente como docentes, sem deixar de lado porém a experiência de alguns deles em profissões não docente na área de computação. 27 4 –A SELEÇÃO DO DOCENTE Dentro de um novo perfil da administração de empresas dos tempos atuais, a grande maioria das empresas do setor privado se deu conta da importância de um processo de recrutamento e seleção competente; A valorização do capital humano tornou-se uma prática comum para garantir o sucesso das empresas na obtenção de seus objetivos. Albuquerque (2001, p. 5), frisa que, “atualmente um dos pilares das empresas para a lucratividade é o talento humano”. Milkovich e Boudreau (2000, p. 162) definem recrutamento como sendo “o processo de identificação e atração de um grupo de candidatos, entre os quais serão escolhidos alguns para posteriormente serem contratados para o emprego”. Uma vez atraído um grande número de candidatos tem início o processo de seleção, que tem como objetivo principal “combinar características individuais(capacidade, experiência e assim por diante) com os requisitos do cargo” (ROBBINS, 1999. p. 348). O recrutamento e seleção de docentes em IES privadas não diferem muito do que ocorre na maioria das empresas de outros ramos de atuação, se dão basicamente por meio de uma analise curricular, seguida de entrevistas; O que surge de novo aqui são as aulas expositivas apresentadas a uma banca examinadora. " Para o recrutamento, utilizam-se basicamente a análise de currículos e a indicação. Já as etapas para a seleção são: entrevistas, aula expositiva e bancas de avaliações." (BEZERRA e HELAL, 2009). Algumas IES utilizam-se de processo seletivos, semelhantes ao concursos públicos, onde publicam um edital com as regras, os requisitos mínimos para participação, e as etapas do processo. Normalmente as etapas são: 1) Avaliação de Currículo; 2) Prova Didática e 3) Entrevista Individual. Algumas IES levam em consideração, na análise curricular, a atuação profissional não docente do candidato, uma vez que ainda é presente a idéia, como bem frisou Cunha (2004), "... de que, quem sabe fazer sabe ensinar dando sustentação à lógica do recrutamento dos docentes". Possivelmente motivada pelo perfil do discente que busca na formação superior um conhecimento técnico que lhe permita ingressar no mercado de trabalho. 28 Há que se tomar um cuidado porém quando da contratação de docentes, pois um fator importante a ser considerado no perfil deste profissional é o conhecimento em didática.Libâneo (1990, p. 26) fala sobre didática: a ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. [...] trata da teoria geral do ensino. Ora é sabido que não é simples detectar tais habilidades em um profissional, tendo como alternativa a verificação curricular, para saber se o mesmo, durante sua formação acadêmica (graduação ou pós), teve contato com disciplinas que lhe promovessem habilidades nesta área. Assim como durante as aulas expositivas a banca examinadora poderá verificar, minimamente, se o candidato possui domínio de tal habilidade. 29 5 - PÓS GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR De acordo com Masetto (2003), a formação para o exercício da docência, especifica para o ensinar no ensino superior, não tem um grande histórico de investimento tanto por parte dos profissionais quanto de espaços e instituições formadoras. No Brasil tem início, há cerca de duas décadas atrás, decorrente de uma autocrítica por parte de diversos membros do ensino superior, em especial dos professores. Uma boa alternativa para uma maior confiança em relação a qualificação do docente seria a exigibilidade de um curso de formação especifica na área de docência do ensino superior ou similar. Atualmente oferecido por muitas instituições, pode promover uma melhora significativa na qualidade dos serviços prestados pelos profissionais da docência universitária. Com uma grade curricular atraente e proposta de atualização constante, promove aos iniciantes e calouros da docência no ensino superior uma boa noção dos percalços e desafios que lhes esperam, e aos veteranos uma nova visão ou ao menos uma reflexão sobre o trabalho que vêm desempenhando, meios de se auto- avaliar e meios de avaliar se os resultados de seus métodos de ensino são de fato positivos. Na grade apesar da variação de nome e até de conteúdo das disciplinas, encontramos em suma os temas: metodologias de ensino, métodos de avaliação, didática em sala de aula e planejamento didático. Em algum casos é possível encontrar também conhecimentos em legislação e políticas do ensino superior e tecnologias aplicadas ao ensino superior. Muitas instituições já promovem incentivos à adesão deseus professores ao curso de especialização em docência no ensino superior ou similar, sejam em forma de descontos, bolsas ou outros meios. Porém o que ainda não se vê é a exigibilidade de tal formação, tão importante para o sucesso do professor, dos alunos e das IES. 30 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos fatores que nos leva a crer que existe, ainda que em pequeno número, professores do ensino superior que são carentes de uma formação mais específica, é a experiência de um encontro, durante a graduação, com professores que aplicam avaliações seguindo linhas totalmente tradicionais explorando de forma exagerada a memorização, sem uso de parâmetros para correção e com palavras de comando sem precisão de sentido no contexto, em detrimento do uso de métodos de avaliação numa perspectiva mais construtivista (MORETTO, 2005). Além disso não raramente nos deparamos com professores que por dominarem com grande propriedade a disciplina a lecionar, não levam em consideração, no que diz respeito a linguagem utilizada e contextualização, assim como o perfil, tão heterogêneo, de seus alunos. Discursando com linguagem muito técnica, exibindo de forma vaidosa seus conhecimentos, sem se preocupar se isso atinge o objetivo principal da aula, no caso, a efetividade na relação ensino- aprendizagem. Nem sempre estes professores se dão conta de que estes formatos de aulas e avaliações, podem não ser as mais adequadas para o exercício de sua função docente, visão esta que pode mudar, havendo o contato do docente com disciplinas que elucidam e trazem a tona estas e outras peculiaridades da relação docente- discente universitários. Com isso podemos deduzir que tais problemas podem ser amenizados, quando do contato do professor, com um curso específico, como o de Docência no Ensino Superior ou outros similares, porém da área de educação, que, como já mencionado anteriormente, possuem grade curricular bastante abrangente e dinâmica, possibilitando uma atualização e uma contextualização do profissional do ensino superior com os mais atuais estudos na área da educação em especial do nível universitário. Esperamos, portanto, que este trabalho atinja seu objetivo de despertar, nos meios educacionais de nível superior, um movimento, no que diz respeito ao incentivo ou até mesmo exigibilidade da formação complementar do professor, assim como por parte do poder público uma regulação da legislação para este fim. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, L. Recursos Humanos: um panorama de seu passado, práticas atuais e tendências. Ensaio RH, 2001. 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