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Estudo de Impacto Ambiental

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Estudo de Impacto Ambiental – EIA / Relatório de Impacto Ambiental – RIMA
Princípio do direito ao desenvolvimento sustentável
Trata-se da conscientização da existência de um duplo direito: o direito do ser humano de desenvolver-se e de realizar as suas potencialidades, individual ou socialmente, e o direito de assegurar aos seus pôsteres as mesmas condições. Tudo em uma verdadeira reciprocidade de direito e dever.
O desenvolvimento sustentável foi adotado na Declaração do Rio e na Agenda 21. É definido, pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. 
A Avaliação de Impacto Ambiental – AIA coloca-se como mecanismo de realização do desenvolvimento sustentável. 
Avaliação de Impacto Ambiental - AIA
A implantação de qualquer atividade que, de alguma forma, causa impacto ao meio ambiente é condicionada a uma avaliação previa.
Tendo em vista que qualquer projeto de desenvolvimento interfere no meio ambiente, mas, igualmente, sendo certo que o crescimento sócio-econômico é um imperativo, deve haver mecanismos que conciliem tais fatores, minimizando os impactos ecológicos negativos. Um desses mecanismos é a AIA. 
Importante não incidir no equívoco reducionista de entender a AIA como apenas o EIA. A AIA pode ser implementada tanto para projetos que envolvam execução física de obras e processo de transformação como para políticas e planos que contemplem diretrizes programáticas, limitadas ao campo das idéias, neste caso denominada Avaliação Ambiental Estratégica. Já o EIA é apenas uma ferramenta do licenciamento ambiental.
Nos termos da Resolução CONAMA 237/97, a AIA, por ela denominada de “Estudos Ambientais”, é gênero do qual são espécies todos os estudos para análise da licença ambiental, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. Essas outras espécies de Estudos Ambientais (ou AIAs), poderão ser requisitadas na hipótese de não se exigir o EIA. 
Estudo de Impacto Ambiental – EIA / Relatório de Impacto Ambiental – RIMA
Previsão constitucional: inciso IV do § 1º do art. 225: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.
Natureza jurídica (Silvia Capelli): pré-procedimento administrativo, vinculado ao licenciamento ambiental.
Antes de tudo, cumpre esclarecer que EIA e RIMA não são sinônimos. O Estudo é de maior abrangência que o Relatório e o engloba em si mesmo. O EIA é o todo, complexo, detalhado, muitas vezes com linguagem, dados e apresentação incompreensíveis para o leigo. O RIMA é a parte mais visível (ou compreensível) do procedimento, verdadeiro instrumento de comunicação do EIA ao administrador e ao público. 
Feito este esclarecimento inicial, vejamos o que seja o EIA. 
Para a lei, impacto ambiental é “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: 
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas; 
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais.
Cabe ao EIA qualificar e, quanto possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental, de modo a dar suporte a um adequado planejamento de obras ou atividades que interferem no ambiente. 
Assim, podemos dizer, em síntese, que o EIA nada mais é do que “um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto”.
“O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório (RIMA) é um profundo diagnóstico do empreendimento que está em vias de ser licenciado pelo órgão ambiental, confrontando-o com as prováveis modificações das diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente. Visa a evitar que um projeto, justificável sob o prisma econômico, ou em relação a interesses imediatos de seu proponente, se revele posteriormente nefasto para o meio ambiente, pelo que possui incontroversa vocação preventiva e precaucional. Trata-se, sem dúvida, do mais completo instrumento de avaliação de impactos ambientais”. (Sílvia Cappelli e outras)
Temos, pois, que o EIA é por natureza um instrumento de prevenção do dano ambiental, incorporando a vocação preventiva do Direito Ambiental. 
O EIA está sujeito a três condicionantes:
Transparência administrativa – o EIA é divulgado publicamente, respeitado apenas o sigilo industrial;
Consulta aos interessados – possibilidade de efetiva participação e fiscalização da atividade administrativa por parte da comunidade, que pode exprimir suas dúvidas e preocupações; 
Motivação da decisão ambiental – quando a Administração opta por uma das alternativas apontadas pelo EIA que não seja, ambientalmente falando, a melhor, ou quando deixa de determinar a elaboração do EIA por reconhecer a inexistência de “significativa degradação”, deve fundamentar sua decisão, inclusive para possibilitar seu questionamento futuro perante o Judiciário. Ressalte-se que as conclusões do EIA não vinculam o órgão administrativo ambiental. O objetivo do estudo é orientar a decisão da Administração e informá-la sobre as conseqüências ambientais de um determinado empreendimento. Mas, para acolher ou rejeitar o estudo, a administração deverá motivar sua decisão. Assim, é o estudo um limite da discricionariedade administrativa, pois a administração fica vinculada ao conteúdo do EIA, devendo motivar a decisão e expor as razões que a levaram a optar por solução diversa.
Nos termos da CF, o EIA é exigível para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente (art. 225, §1º, IV). 
Como saber, então, quais as obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente Lembre-se que “potencialmente” e “significativa” são conceitos vagos (i.e. conceitos jurídicos indeterminados), que induzem a substancial margem de atuação pelo administrador. 
Os casos em que pode haver significativa degradação do meio ambiente estão previstos, exemplificativamente, na Resolução CONAMA 01/86. A título de exemplo, podemos citar: estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento, ferrovias, portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos, aeroportos, oleodutos e gasodutos, linhas de transmissão de energia elétrica (acima de 230 kV) etc. 
A lei 7.661, de 1988, também exige EIA para licenciamento do parcelamento e do remembramento do solo e da construção, instalação, funcionamento e ampliação de atividades capazes de causar alterações das características naturais da Zona Costeira. 
Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO
Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 200201000108012
Processo: 200201000108012 UF: BA Órgão Julgador: SEXTA TURMA
Data da decisão: 7/4/2003 Documento: TRF100147174
DJ DATA: 19/5/2003 PAGINA: 216
DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA ISABEL GALLOTTI RODRIGUES
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL PARA LICENCIAMENTO DE OBRA EM ZONA COSTEIRA.
1. A autoridade administrativa não pode prescindir da elaboração de prévio Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e da apresentação de seu respectivo relatório (RIMA) aprovado pelo órgão competente para o licenciamento de obra em zona costeira, louvando-se, apenas, em pareceres de seus técnicos, que não têm o alcance e a complexidade do EIA-RIMA.
2. Em se tratando de obra em zona costeira, a lei presume a existência de possibilidade de dano ao meio ambiente e exige o respectivo estudo de impactoambiental.
3. Agravo de instrumento ao qual se dá parcial provimento.
Lembre-se que estas hipóteses são apenas exemplificativas, pelo que nada impede que o órgão ambiental, defrontando-se com atividade que entenda ser potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, determine a realização do EIA.
É de se destacar que tem prevalecido na doutrina o entendimento de que as hipóteses de atividades listadas na Resolução 001/86 enseja a presunção absoluta de serem potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental, pelo que a administração deve exigir o EIA. Entretanto, Edis Milaré advoga que, segundo a Resolução CONAMA 237/97, a presunção é apenas relativa. De fato, dispõe o artigo 3º da citada Resolução 237:
“Art. 3º A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.
Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento.”
Sobre o assunto, é interessante o julgado do TRF1:
Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL - 199834000276820
Processo: 199834000276820 UF: DF Órgão Julgador: QUINTA TURMA
Data da decisão: 28/6/2004 Documento: TRF100171157
DJ DATA: 1/9/2004 PAGINA: 14
DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA
(...)
1. A Constituição Federal vigente conferiu ao meio ambiente a dignidade de direito fundamental. A norma do artigo 225 é dedicada a sua proteção e assegura a todos o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Afirma-o essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e à sociedade em geral o dever de defendê-lo e preservá-lo.
2. A Constituição determinou que o Poder Público (artigo 225, § 1º, inc. IV) tem o dever de exigir, na forma da lei, estudo de impacto ambiental, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. 
3. Da dicção do art. 225 da Constituição Federal ressai que não há qualquer discricionariedade para a Administração Pública, quanto a exigir ou não o estudo do impacto ambiental, na hipótese de pedido de licenciamento de atividade ou obra potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, sempre que o administrador se encontrar diante de pedido de licença para atividades ou obras com essas características.
4. O Constituinte de 1988 remeteu ao legislador ordinário a competência para regular essa imposição da obrigatoriedade do estudo de impacto ambiental nos casos em que ocorrer significativa degradação do meio ambiente.
(...)
7. O Constituinte de 1988 no artigo 225 § 1º e seus incisos introduziram não uma norma programática, mas norma de eficácia diferida. A Constituição definiu a matéria objeto de legislação técnica e instrumentais necessários. As normas dos incisos do § 1º do artigo 225 estão, todavia, incompletas por exigências técnicas, condicionadas à emanação de sucessivas normas integrativas. Há que se definir o que é degradação significativa como e quando se fará o estudo do impacto ambiental.
8. O inciso IV, do § 1º, do artigo 225, da Constituição é uma norma constitucional de eficácia diferida (Paulo Bonavides) ou norma constitucional de eficácia contida (José Afonso da Silva) porque seu real alcance e inteligência só podem ser estabelecidos pelo legislador ordinário a quem a norma constitucional diretamente se dirigiu.
9. A Constituição brasileira, no artigo 5º, § 1º, ao dispor que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, levanta a questão de como conciliar normas sem eficácia imediata com a regra de que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Quando a norma do direito fundamental não contiver os elementos mínimos indispensáveis que lhe assegurem aplicabilidade, nos casos em que a aplicação do direito pelo juiz importar infringência à competência reservada ao legislador, ou ainda quando a Constituição expressamente remeter a concretização do direito ao legislador, estabelecendo que o direito apenas será exercido na forma prevista em lei - o princípio do § 1º do art. 5º da CF haverá de ceder.
10. O artigo 5º, § 1º, da Constituição Federal é uma norma-princípio, estabelecendo um mandato de otimização, uma determinação para que se confira a maior eficácia possível aos direitos fundamentais.
11. A Lei 6.938/81 é anterior à Constituição de 1988 e não restringia a exigência do estudo de impacto ambiental às obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente.
12. A Lei 6.938/81 outorgou competência ao Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA para editar normas, critérios e padrões nacionais de controle e de manutenção da qualidade do meio ambiente com vista ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos (inc. VII do art. 8º) e também para editar normas e critérios para o licenciamento de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
13. O CONAMA editou a Resolução 1, de 23 de janeiro de 1986, que previa a elaboração do estudo de impacto ambiental para o licenciamento, pelo órgão estadual competente e pela SEMA, em caráter supletivo, de uma série de atividades, exemplificativamente arroladas em dezoito incisos, conforme previa o seu art. 2º. Sendo a norma exemplificativa, previa o estudo para qualquer atividade, e não só daquelas que significasse alguma degradação do meio ambiente.
14. Em 12 de abril de 1990, publicada a Lei 8.028, conferiu-se nova redação ao inciso II do artigo 8º da Lei 6.938/81, passando ele a ter redação já em conformidade a Constituição de 1988: "II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a atividades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional".
15. Em 19 de dezembro de 1997, o CONAMA editou a Resolução 237, publicada no D.O.U. de 22 de dezembro de 1997, adaptando a Resolução 1, de 23.01.86 às normas da Constituição Federal de 1988, no que se refere às competências para o licenciamento ambiental. O CONAMA, ao tratar do licenciamento para liberação de organismos geneticamente modificados (OGMs) no meio ambiente, para fins de pesquisa e comércio, nem sempre exige o estudo de impacto ambiental, que pode ser substituído "por outros estudos ambientais", o que está em conformidade com o inciso II do art. 8º da Lei 6.938/81, na redação da Lei 8.028/90, que facultou ao referido órgão exigir "estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais dos projetos públicos ou privados ..." apenas quando julgar necessário.
16. A Resolução tem que se adaptar à Constituição e não a Constituição à Resolução. Se a Constituição diz que o estudo de impacto ambiental é obrigatório sempre que houver significativa degradação ambiental, não é possível se aplicar a Resolução que diz que o estudo de impacto ambiental é obrigatório em qualquer caso. Mesmo que a Resolução CONAMA 1/86 não tivesse sido revogada pela Resolução CONAMA 237, de 19 de dezembro de 1997, não teria validade em face do que dispõe o inciso IV do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal de 1988.
17. O inciso IV, do § 1º, do art. 225, daConstituição Federal confere ao Poder Legislativo a competência para, mediante seu juízo, discriminar as hipóteses em que seria legalmente exigível o estudo de impacto ambiental por considerar nelas a possibilidade de significativa degradação ambiental.
18. O Congresso Nacional aprovou a Lei 8.974, de 05 de janeiro de 1995, cuja ementa diz que ela regulamenta o disposto nos incisos II e V do § 1º do art. 225 da CF/88. A Lei estabeleceu normas ambientais especiais sobre biossegurança, distintas daquelas destinadas às questões ambientais gerais (Lei 6.938/81).
19. A Lei 8.974/95 não arrolou as obras e atividades, relacionadas com a biossegurança que, por apresentarem potencialmente significativa degradação do meio ambiente, devem ser precedidas estudo de um impacto ambiental. A questão ficou no âmbito de normas infralegais. Não há norma de lei ordinária detalhando que obras ou atividades são aptas a causarem significativa degradação ambiental, devendo tal especificação se dar em cada caso concreto pelo órgão competente. Essa competência é deferida, em termos gerais, ao CONAMA, pelo art. 8º, II, da Lei 6.938/81, na redação dada pela Lei 8.028/90, e pela Resolução 237, de 19 de dezembro de 1997, do próprio CONAMA. 
No que diz respeito aos projetos que envolvam biossegurança, tal competência é exclusiva da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio, por força do disposto na Lei 8.974/95, alterada pelas Medidas Provisórias 2.137/2000 e 2.191/2001, especificamente em face do seu art. 8º, inciso VI, sendo essa a lei que regulamenta o disposto nos incisos II, IV, e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, no que pertine ao plantio e comercialização de organismos geneticamente modificados.
(...)
22. A lei especial afasta a aplicabilidade da lei geral que é aplicável para os casos gerais. As regras genéricas da lei genérica sobre meio ambiente foram afastadas pelas normas específicas de lei especial sobre OGMs. As normas da Lei 6.938/81 são gerais em matéria ambiental e as normas da Lei 8.974/95 são especiais, pois dizem respeito apenas a um dos aspectos do meio ambiente (a construção, a manipulação e a liberação de organismos geneticamente modificados).
23. No conflito aparente de normas, só uma pode prevalecer, pois não é possível que normas de igual hierarquia regulem diferentemente a mesma matéria e ambas incidam concomitantemente. A solução para o conflito aparente de normas está na Lei de introdução ao Código Civil cuja regra é: as normas de lei especial se aplicam aos casos especiais que arrola (art. 2º da LICC - Decreto-lei 4.657, de 1942).
A regência da Lei 6.938/91 ficou afastada pela aplicação excepcionante das disposições da Lei 8.974/95. A lista constante do Anexo I da Resolução 237/97 do CONAMA, no ponto onde indica a "introdução de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas" é ilegal, não podendo ser aplicada validamente, posto que a Lei 8.974/95 é de janeiro de 1.995 e não previu mais o licenciamento ambiental, mas sim autorizações pelos órgãos fiscalizadores dos Ministérios que indica. A Resolução, norma administrativa genérica, não pode contrariar a lei e um decreto. A Resolução 237, de 9 de dezembro de 1997, entrando em vigor posteriormente à lei mencionada neste ponto, infringe a Lei 8.974/95, sendo assim ilegal.
24. As Resoluções 01/86 e 237/97, do CONAMA, não são aplicáveis aos estudos de impacto ambiental que venham a ser exigidos pela CTNBio no exercício da competência sobre biossegurança, restando ao CONAMA sua aplicação nos casos de significativa degradação ambiental e em casos gerais que assim venham a ser considerados pelo órgão federal competente para efeito de licenciamento pelo IBAMA.
25. A Resolução 305, do CONAMA, ao pretender exigir, para toda liberação de OGMs no meio ambiente, realização de estudo prévio de impacto ambiental (ElA/RIMA) e não avaliação de risco, deve ser interpretada e aplicada de acordo com a Constituição Federal, com a Lei 8.974 de 1995 e a Medida Provisória 2.137 de 2000, sucedida pela MP 2.191/01, visto que a competência para dizer se os OGMs especificamente considerados causam ou não significativo impacto no meio ambiente foi atribuída legalmente à CTNBio.
(...)
32. O parágrafo único do artigo 7º da Lei de Biossegurança, dispõe que o "parecer técnico conclusivo da CTNBio vincula os demais órgãos da Administração, quanto aos aspectos de biossegurança do OGM por ela analisados, preservadas as competências dos órgãos de fiscalização de estabelecer exigências e procedimentos adicionais específicos às suas respectivas áreas de competência legal."
33. Como se trata de parecer técnico da área específica de biossegurança, tem eficácia vinculante aos demais órgãos da Administração Federal Pública, porque esses outros órgãos não têm competência científica para discutir o mérito do parecer técnico da CTNBio, que não é órgão consultivo, mas deliberativo quanto à segurança dos produtos que contenham OGM.
(...)
No que se refere aos OGM – Organismos Geneticamente Modificados, é importante observar que a matéria encontra-se atualmente tratada, de forma clara, na nova Lei de Biosegurança (Lei n. 11.105/2005), em seu artigo 16:
Art. 16. Caberá aos órgãos e entidades de registro e fiscalização do Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República entre outras atribuições, no campo de suas competências, observadas a decisão técnica da CTNBio, as deliberações do CNBS e os mecanismos estabelecidos nesta Lei e na sua regulamentação:
        I – fiscalizar as atividades de pesquisa de OGM e seus derivados;
        II – registrar e fiscalizar a liberação comercial de OGM e seus derivados;
        III – emitir autorização para a importação de OGM e seus derivados para uso comercial;
        IV – manter atualizado no SIB o cadastro das instituições e responsáveis técnicos que realizam atividades e projetos relacionados a OGM e seus derivados;
        V – tornar públicos, inclusive no SIB, os registros e autorizações concedidas;
        VI – aplicar as penalidades de que trata esta Lei;
        VII – subsidiar a CTNBio na definição de quesitos de avaliação de biossegurança de OGM e seus derivados. 
        § 1o Após manifestação favorável da CTNBio, ou do CNBS, em caso de avocação ou recurso, caberá, em decorrência de análise específica e decisão pertinente:
        I – ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento emitir as autorizações e registros e fiscalizar produtos e atividades que utilizem OGM e seus derivados destinados a uso animal, na agricultura, pecuária, agroindústria e áreas afins, de acordo com a legislação em vigor e segundo o regulamento desta Lei;
        II – ao órgão competente do Ministério da Saúde emitir as autorizações e registros e fiscalizar produtos e atividades com OGM e seus derivados destinados a uso humano, farmacológico, domissanitário e áreas afins, de acordo com a legislação em vigor e segundo o regulamento desta Lei;
        III – ao órgão competente do Ministério do Meio Ambiente emitir as autorizações e registros e fiscalizar produtos e atividades que envolvam OGM e seus derivados a serem liberados nos ecossistemas naturais, de acordo com a legislação em vigor e segundo o regulamento desta Lei, bem como o licenciamento, nos casos em que a CTNBio deliberar, na forma desta Lei, que o OGM é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente;
        IV – à Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República emitir as autorizações e registros de produtos e atividades com OGM e seus derivados destinados ao uso na pesca e aqüicultura, de acordo com a legislação em vigor e segundo esta Lei e seu regulamento. 
        § 2o Somente se aplicam as disposições dos incisos I e II do art. 8o e do caput do art. 10 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, nos casos em que a CTNBio deliberar que o OGM é potencialmente causador designificativa degradação do meio ambiente.
        § 3o A CTNBio delibera, em última e definitiva instância, sobre os casos em que a atividade é potencial ou efetivamente causadora de degradação ambiental, bem como sobre a necessidade do licenciamento ambiental.
        § 4o A emissão dos registros, das autorizações e do licenciamento ambiental referidos nesta Lei deverá ocorrer no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias.
        § 5o A contagem do prazo previsto no § 4o deste artigo será suspensa, por até 180 (cento e oitenta) dias, durante a elaboração, pelo requerente, dos estudos ou esclarecimentos necessários.
        § 6o As autorizações e registros de que trata este artigo estarão vinculados à decisão técnica da CTNBio correspondente, sendo vedadas exigências técnicas que extrapolem as condições estabelecidas naquela decisão, nos aspectos relacionados à biossegurança.
Já a Lei nº 11.284/06, art. 18, §1º, exige o “EIA para orientar licenciamentos envolvendo atividades de manejo florestal que, em função da escala, intensidade e peculiaridades dos recursos ambientais envolvidos possam presumi-lo causador de significativa degradação do meio ambiente”.
O EIA deve ser elaborado antes da decisão administrativa de outorga da licença para implementação de obras ou atividades com efeito ambiental no meio considerado, de modo a que possa influenciar a decisão quanto ao licenciamento. Independentemente da realização tempestiva do EIA e da validade da licença, o órgão ambiental poderá exigir um estudo de avaliação de impacto ambiental, com o intuito de obviar ou remediar uma situação crítica ao ambiente. A não elaboração tempestiva do EIA rende ensejo ao acertamento da responsabilidade – administrativa, civil e penal – de quem se omitiu. 
A coordenação do processo de exigência do EIA foi entregue aos órgãos estaduais competentes, exceção feita aos casos de expressa competência federal, da alçada do IBAMA, ou de exclusivo interesse local, de responsabilidade dos órgãos municipais. Entretanto, desconfiado da eficiência das estruturas ambientais, o legislador deu ao CONAMA competência para “determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais do projetos públicos ou privados (...)”. (Lei 6.938/81 – art. 8º, II).
O EIA, como procedimento complexo que é, não poderia ficar a cargo de uma única pessoa, devendo pois, ser elaborado por uma equipe multidisciplinar de especialistas, cuja habilitação se dá com a inscrição no Cadastro Técnico Federal de Atividades, sob a administração do IBAMA (Resolução CONAMA 001/86). 
 
Cabe ao empreendedor providenciar a realização do EIA, sendo que as despesas e custos referentes à sua realização correrão por conta do proponente do projeto (manifestação do princípio do poluidor-pagador).
Já houve tempos em que essa equipe que elabora o EIA, devia ser desvinculada do projeto em exame. Tudo no intuito de se obter uma certa independência na elaboração do EIA. Hoje, entretanto, não mais se faz tal restrição, já que se chegou à conclusão de que sempre vai existir dependência, pois o EIA é pago pelo empreendedor. Assim, hodiernamente, entende-se que a neutralidade dos estudos de impacto ambiental será garantida não por uma eventual (e até mesmo impossível) independência da equipe elaboradora do estudo em face do proponente, mas sim precisamente pela existência de uma contra-equipe técnica governamental que examinará o EIA, do ponto de vista do interesse público envolvido. 
Nos termos da Resolução CONAMA 237/97, o empreendedor e os profissionais que subscreverem os estudos necessários ao processo de licenciamento serão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais. É de se destacar, contudo, que a responsabilidade técnica referida na resolução não abrange os pareceres, opiniões, ainda que discutíveis tecnicamente, mas apenas os erros derivados de imperícia, negligência ou imprudência, ou do dolo de introduzir dados ou informações incorretas pra justiçar conclusões distorcidas. 
Na esfera administrativa, o empreendedor estará sujeito às sanções do art. 72 da Lei 9.605, enquanto os técnicos respondem perante os Conselhos Profissionais e perante o IBAMA. 
No campo da responsabilidade civil, que é objetiva, o empreendedor, que é quem recolhe os benefícios de sua atividade, responde pelos prejuízos causados. Por óbvio, ressalvado o seu direito de regresso contra o causador do dano, inclusive contra o profissional que eventualmente tenha se excedido ou omitido no cumprimento da tarefa a ele cometida. 
Criminalmente, responde tanto a pessoa jurídica quanto as pessoas físicas. 
O EIA/RIMA é feito antes da concessão da Licença Prévia, como uma condição efetiva à expedição desta, a apartir de um Termo de Referência fornecido pelo órgão ambiental. O EIA se caracteriza como um ato formal, vez que tem que seguir as diretrizes e atividades técnicas mínimas previstas na Resolução CONAMA 01/86:
I – contemplar as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-se com a hipótese de sua não-execução. (esta atividade é tida como a mais importante do EIA)
II – identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade. (tem a finalidade de definir medidas corretivas e mitigadoras, bem como de fixar eventual responsabilização do autor do projeto)
III – definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.
IV – considerar os planos e programas governamentais, propostas e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
Sílvia Cappelli acrescenta: V – estabelecer os programas de monitoramento e auditorias necessárias para as fases de implantação, operação e desativação do empreendimento; VI – avaliar os efeitos diretos e indiretos sobre a saúde humana.
Deve também contemplar a “Opção Zero”, que é a “análise dos efeitos produzidos pela não realização do empreendimento”, que “só deve ser adotada quando o projeto causar grandes impactos ambientais, sem possibilidade de mitigação aceitável, e quando os resultados econômico-sociais sejam desprezíveis”.
Além dessas, pode o órgão ambiental fixar outras diretrizes fundamentais que entenda pertinentes, em razão das peculiaridades do projeto e características ambientais da área. 
Ao lado das diretrizes e atividades mínimas, exige-se, também, um conteúdo mínimo: 
I – diagnóstico ambiental da área de influência do projeto: consiste no inventário do meio ambiente anterior a ação propostas, descrevendo as inter-relações entre os componentes bióticos, abióticos e antrópicos do sistema a ser afetado pelo empreendimento. 
II – análise dos impactos ambientais: identificação, valoração e interpretação dos prováveis impactos ambientais. 
III – definição das medidas mitigadoras: explicitação das medidas que visam a evitar o impacto ambiental, inclusive quanto aos aspectos referentes ao seu modo e tempo de aplicação. 
IV – programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais. Apresentação de tais programas. 
As conclusões do EIA serão refletidas no RIMA, cuja linguagem deve ser acessível ao público, ilustrada por mapas com escalas adequadas, quadros, gráficos e outras técnicas de comunicação visual, de modo a que se possam entender claramente as possíveis conseqüências ambientais do projeto, considerando suas alternativas, comparando-se as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Desta forma, em linhas gerais, podemos dizer que o RIMA deverá conter:
I – objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais.
II – descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando cada uma delas. 
III – síntese do diagnóstico ambiental da área de influênciado projeto.
IV – descrição dos impactos ambientais.
V – caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes alternativas do projeto, inclusive a de sua não realização. (é o que a doutrina denomina de opção zero)
VI – descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras. 
VII – programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos.
VIII – recomendação quanto à alternativa mais favorável, em que se faz as conclusões e comentários de ordem geral. (inclusive, se for o caso, a recomendação de não realização do projeto).
No que concerne à publicidade do EIA, merece destaque que a Lei 10.650/2003, ao dispor sobre o acesso públicos aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades do SISNAMA, estabeleceu que o registro de apresentação do EIA, bem como o ato de sua aprovação ou rejeição, deverão ser publicados em diário oficial e ficar a disponíveis nos respectivos órgãos, em local de fácil acesso ao público.
Ainda nesse contexto, nos termos da Resolução CONAMA 009/87, deve ser convocada audiência pública, sob pena de invalidade da licença, sempre que:
o órgão de meio ambiente julgar necessário,
for solicitada por entidade civil,
for solicitada pelo MP,
for pedida por 50 ou mais cidadãos.
Além disso, os órgãos públicos que tiverem relação direta com o projeto, receberão cópia do RIMA para conhecimento e manifestação.
A audiência pública deve acontecer sempre na área de influência da obra, tendo prioridade o município ou a área onde os impactos forem mais significativos, podendo, em alguns casos, fazer-se necessária a realização de mais de uma audiência. 
A qualidade do EIA pode ser controlada pela comunidade (controle comunitário), por meio das audiências públicas e por denuncias e pressões políticas. Pode também ser controlada pelo órgão ambiental (controle administrativo), através da fixação de diretrizes e termos de referência específicos, bem como pelo exame de mérito da viabilidade do projeto. Pode, ainda, ser controlado pelo Poder Judiciário (controle judicial), exercido no julgamento das ACP e AP.
“Conforme Álvaro Mirra, o EIA que não contempla todos os pontos mínimos do seu conteúdo, previstos na legislação, é um estudo inexistente e um EIA que, embora contemple formalmente esses pontos, não os analisa de forma adequada e consistente, é um estudo insuficiente. E tanto num caso (inexistência do EIA) quanto no outro (insuficiência do EIA) o vício que essas irregularidades acarretam ao procedimento do licenciamento é de natureza substancial. Conseqüentemente, inexistente ou insuficiente o EIA não pode a obra ou atividade ser licenciada e se, por acaso, já tiver havido o licenciamento, este será inválido” (Sílvia Cappelli e ouras)
O Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), previsto no Estatuto da Cidade - Lei nº 10.257/00, embora semelhante ao EIA/RIMA, com ele não se confunde. É mais usado em empreendimentos típicos do contexto urbano, sem grandes impactos no ambiente natural. O EIV não substitui o EIA, quando exigido. Mas o EIA, mais abrangente, pode tornar o EIV dispensável.
Por fim, cabe observar que seria inconstitucional norma que submetesse a apreciação do licenciamento, ou de seu relatório, a órgão fora do Poder Executivo, por ofensa à repartição de Poderes (ADI1501, DJ 01.03.2005).
Jurisprudência
STF:
	“O § 3º do art. 182 da Constituição do Estado de Santa Catarina cria uma exceção à aplicação do inciso IV do § 1º do art. 225 da Carta Federal, que prevê a exigência, na forma da lei, de prévio estudo de impacto ambiental para atividades que sejam potencialmente causadoras de degradação do meio ambiente. Como ressaltei quando da apreciação da medida cautelar, a atividade de florestamento ou reflorestamento, ao contrário do que se poderia supor, não pode deixar de ser tida como eventualmente lesiva ao meio ambiente, quando, por exemplo, implique substituir determinada espécie de flora nativa, com as suas próprias especificidades, por outra, muitas vezes sem nenhuma identidade com o ecossistema local e escolhidas apenas em função de sua utilidade econômica, com ruptura, portanto, do equilíbrio e da diversidade da flora local. Dessa forma, ao excepcionar a exigência de prévio estudo de impacto ambiental nos casos de áreas florestadas ou objeto de reflorestamento, o § 3º do art. 182 da Constituição catarinense viola o previsto na CF, que determina a realização de tal estudo para a instalação de qualquer atividade potencialmente causadora de degradação ao meio ambiente. Por outro lado, é certo que, pela lógica sistemática da distribuição de competência legislativa, apenas a lei federal seria apta a excluir hipóteses à incidência do aludido preceito geral, já que se trata de matéria nitidamente inserida no campo de abrangência das normas gerais sobre conservação da natureza e proteção do meio ambiente e não de normas complementares, que são da atribuição constitucional dos Estados-membros (art. 24, VI, da CF). Não é de ser invocada, igualmente, a competência legislativa plena dos Estados-membros (art. 24, § 3º, da CF), quando menos porque não se compreende qual seja a peculiaridade local que se estaria atendendo com a edição de uma regra constitucional com tal conteúdo normativo.” (ADI 1.086, voto do Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 7-6-2001, Plenário, DJ de 10-8-2001.)
	"Art. 187 da Constituição do Estado do Espírito Santo. Relatório de impacto ambiental. Aprovação pela Assembleia Legislativa. Vício material. Afronta aos arts. 58, § 2º, e 225, § 1º, da CB. É inconstitucional preceito da Constituição do Estado do Espírito Santo que submete o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) ao crivo de comissão permanente e específica da Assembleia Legislativa. A concessão de autorização para desenvolvimento de atividade potencialmente danosa ao meio ambiente consubstancia ato do poder de polícia – ato da administração pública – entenda-se ato do Poder Executivo." (ADI 1.505, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-11-2004, Plenário, DJ de 4-3-2005.)
STJ:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INSTALAÇÃO DE ESTAÇÃO RÁDIO-BASE - ERB. PRÉVIO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - EIA. MUDANÇA DE PEDIDO E DE CAUSA DE PEDIR INOCORRENTE. MOTIVAÇÃO CONSTITUCIONAL SOBRE O MÉRITO. NÃO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. ÔNUS DA PROVA. 1. Formulado na inicial um pedido de não fazer ("absterem-se [...] de instalar as estações ou qualquer equipamento a elas relativo sem apresentação de estudo de impacto ambiental, com especial ênfase para a influência na saúde humana, e sem o devido licenciamento ambiental"), em que se encontra inserido um pedido de fazer, qual seja, a efetiva apresentação do referido estudo de impacto ambiental, e reiterado na apelação, sob a mesma causa de pedir, a referida obrigação de fazer, fica afastada a violação dos artigos 264 e 293 do Código de Processo Civil. 2. O reconhecimento da obrigatoriedade de apresentação do EIA foi baseado em fundamento de natureza exclusivamente constitucional. Não há, pois, como dar seguimento ao recurso especial nessa parte, cabendo salientar que o recurso extraordinário, próprio para a rediscussão do tema, foi admitido na origem. 3. O autor da ACP não afirmou, em nenhum momento, haver dano ao meio ambiente e à saúde. Apenas observou que "os empreendimentos podem emitir espectro eletromagnético, que pode ter influências nocivas no meio ambiente, causando prejuízo à vida e à saúde das populações vizinhas, alterando negativamente as condições da biota circundante, fatores que demandam prévia mensuração a fim de subsidiar a avalialção do custo-benefício em termos ambientais" (e-STJ FL 15). Assim, não caberia ao autor comprovar o efetivo dano, mas às rés, na forma do art. 333, II, do Código de Processo Civil, diante das alegações que fizeram, demonstrar que a atividade, apesar do espectro eletromagnético, efetivamente não causam danos de qualquer natureza. 4. Recurso especial conhecido em parte e não provido. (REsp 975.961/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/04/2013,DJe 19/04/2013)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE ORDEM PARA LICENÇA DE OPERAÇÃO. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIMA). RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (RIMA). DECISÃO EXTRA PETITA. REFORMATIO IN PEJUS. OFENSA ART. 535. INOCORRÊNCIA. INOVAÇÃO EM SEDE DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 1. A reformatio in pejus ocorre nas hipóteses em que a decisão quantitativa ou qualitativa piora a situação do único recorrente. 2. Deveras, a proibição da reformatio in pejus, não obstante não seja textual, infere-se da adstrição à devolutividade do recurso, não podendo o tribunal infringir a regra de que a devolução deve ter como limite a impugnação das partes (tantum devollutum quantum apelatum). 3. Ao juízo ad quem é vedado inovar, bem como de conferir ao único recorrente decisão mais desfavorável do que aquela obtida em primeiro grau e submetida à reexame. 4. Sob o ângulo doutrinário: Quanto ao primeiro aspecto da vedação a inovação (jus novorum), a sua justificativa obedece a um dos aspectos da devolutividade, que impõe ao Tribunal colocar-se nas mesmas condições em que se encontrava o juiz ao decidir, para aferir-lhes os errores in procedendo e in judicando. Tudo deve se passar como na primeira instância, pois, do contrário, não se pode conferir se o juiz, trabalhando com elemento novo, também decidiria de forma diversa. (in, Curso de Direito Processual Civil, Processo de Conhecimento, Vol. I, Luiz Fux, pág. 754, Editora Forense) 5. Deveras, a vedação da reformatio in pejus em sede de recurso exclusivo da defesa decorre do fato de que o Tribunal ad quem deve pronunciar-se em conformidade com o postulado no recurso, consagrando a proibição do julgamento extra e ultra petita, a que se referem os arts. 128 e 460 do Código de Processo Civil. 6. In casu, versam os autos ação civil pública movida pela ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE ARAUCÁRIA - AMAR em face de MILÊNIA AGROSCIÊNCIAS S/A, postulando, liminarmente, a concessão da ordem que suspendesse a licença de operação da empresa, bem como a obrigasse a apresentar o Estudo Prévio de Impacto Ambiental/EIMA, o Relatório de Impacto Ambiental/RIMA e, ainda, a realização de exames em seus funcionários, moradores, bem como do solo e do ar dos arredores da empresa. 7. Deveras, adotando as razões de decidir do Ministério Público Federal verifica-se a caracterização da reformatio in pejus, nos seguintes fundamentos: AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. Ação civil pública com pedido de medida liminar de suspensão da licença de operação da Recorrente e apresentação de estudo prévio de impacto ambiental, EIMA e RIMA. Decisão administrativa do IAP, paralela ao curso do processo, negando a concessão da licença ambiental à empresa Recorrente. Decisão administrativa afastada por decisão judicial que determinou que as licenças fossem concedidas pelo prazo de 120 dias, ao tempo em que determinou a alteração cadastral da empresa Recorrente pelo IAP. Decisão atacada por Agravo de Instrumento apenas em relação à limitação temporal da licença. Recurso Especial contra Acórdão que deu provimento ao Agravo de Instrumento, anulando integralmente a decisão agravada. Embargos declaratórios rejeitados. Prequestionamento verificado. Dissídio jurisprudencial demonstrado. Alegada omissão do Acórdão atacado não demonstrada. Acórdão que, embora não tenha acolhido a tese da Recorrente, tem fundamentos de fato e de direito suficientes para a prestação jurisdicional. Alegada ocorrência de reformatio in pejus. Procedência. Incompatibilidade da exigência administrativa de um Estudo Prévio de Impacto Ambiental com o funcionamento de empresa instalada há mais de três décadas. Conclusão alcançada no RESP766236/PR. Acórdão atacado que além de não combater a limitação temporal agravada, anulou decisão favorável à Recorrente, que determinava a alteração da situação cadastral da Recorrente no IAP, e que não foi objeto do agravo da Recorrente ou de qualquer recurso da parte contrária. Reformatio in pejus caracterizada. Recurso especial que deve ser conhecido e provido. (fl. 1811) 8. Os embargos de declaração que enfrentam explicitamente a questão embargada, qual seja a prescrição da pretensão indenizatória, não ensejam recurso especial pela violação do artigo 535, II, do CPC, tanto mais que, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 9. O Tribunal de origem decidiu, de maneira fundamentada, as questões relevantes ao deslinde da controvérsia, apresentados no agravo de instrumento, inexistindo ponto omisso sobre o qual se devesse pronunciar em sede de embargos declaratórios. A questão acerca da ofensa ao art. 227, da Lei nº 6.404/76, apenas foi suscitada nos embargos de declaração opostos na origem - reiterada no presente recurso especial -, não foi abordada na petição de apelação, constituindo, portanto, inovação nas razões recursais. 10. Recurso Especial desprovido. (REsp 1091905/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 23/02/2011)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE. ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM ÁREA DE PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-AMBIENTAL. OBRA POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA. COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA PARTE, DA LEI 6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, § 1°, DA LEI 6.938/1981). PRINCÍPIO DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta pela União com a finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC e o particular ocupante de terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três pavimentos com aproximadamente 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar procedente a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão-só para eximir o proprietário dos custos com a demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel, na Praia da Encantada, foi levantado em terreno de marinha e promontório, este último um acidente geográfico definido como "cabo formado por rochas ou penhascos altos" (Houaiss). Afirma a união que a edificação se encontra, após aterro ilegal da área, "rigorosamente dentro do mar", o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre circulação e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do acórdão da apelação (grifo no original): "O empreendimento em questão está localizado, segundo consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386, em área chamada promontório. Esta área é considerada de preservação permanente, pela legislação do Estado de Santa Catarina por meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação municipal (Lei Municipal n° 426/84)". 5. Se o Tribunal de origem baseou-se em informações de fato e na prova técnica dos autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela caracterização da obra ou atividade em questão como potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (Epia) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza non aedificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma municipal, art. 9°, item 7, da Lei 426/1984, que a classifica como "Zona de Preservação Permanente", e em legislação estadual, Lei 5.793/1980 e Decreto 14.250/1981), interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais conclusões, por óbice das Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente de vício congênito,a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as exigências estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não produzindo os efeitos que lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est, nullum producit effectum), nem admitindo confirmação ou convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre as medidas de conservação e proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental - Epia acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - Rima. 8. Mister não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-ambiental (= o posterius) com o próprio Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve, necessariamente, anteceder aquela, sendo proibido, diante da imprescindibilidade de motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo de forma implícita, tácita ou simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos interessados, inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão em si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito prescrever que a União licencie todo e qualquer empreendimento ou atividade na Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao órgão ambiental estadual e municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando relevância, na fixação do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e peculiaridades do sítio (como áreas representativas e ameaçadas dos ecossistemas da Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção, terrenos de marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão, transformando em um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado pelo Ibama e outros órgãos federais envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União, p. ex.). 10. O Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta a Lei 7.661/1988, adota como "princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira" a "cooperação entre as esferas de governo" (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada vez mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a "precaução" (art. 5°, incisos XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba esvaziada, sem dúvida, quando, na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato consumado da degradação ambiental é tudo o que sobra para examinar, justamente por carência de diálogo e colaboração entre os órgãos ambientais e pela visão monopolista-exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado, independentemente da existência de culpa, a reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante ecológico e de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental, adotado no Direito brasileiro (art. 2°, caput, da Lei 6.938/81), inconcebível a proposição de que, se um imóvel, rural ou urbano, encontra-se em região já ecologicamente deteriorada ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável ficaria sua preservação e conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação). Tal tese equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso direito de poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou desmataram o meio ambiente protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em obiter dictum, que causa no mínimo perplexidade o fato de que, segundo consta do aresto recorrido, o Secretário de Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar o Alvará de construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso Especial de Mauro Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do Ministério Público Federal providos. (REsp 769.753/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 10/06/2011)
PERGUNTAS
Em que medida o EIA funciona como limite à discricionariedade administrativa, no procedimento de licenciamento ambiental? 
Defina o princípio do desenvolvimento sustentável.
Qual a relação entre Avaliação de Impacto Ambiental e o Estudo de Impacto Ambiental?
Defina impacto ambiental.
O órgão ambiental competente pode determinar a realização de avaliação de impacto ambiental relativo a atividades envolvendo OGM´s, a despeito de decisão técnica emitida pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, reconhecendo que a referida atividade não é potencial ou efetivamente causadora de degradação ambiental? Explique.
O que é “Opção Zero”? Em que situações ela pode ser admitida?
DIREITO AMBIENTAL - Biodiversidade. Principais instrumentos de proteção internacional. Acesso.
Política nacional. Proteção jurídica do conhecimento tradicional associado.
I. CONCEITO: Biodiversidade, também conhecida pela expressão diversidade biológica, a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos, outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. 
Edis Milaré ressalta que a biodiversidade contém “todo o imensurável patrimônio genético. A esse fato estão associados o conceito de genoma, a constituição genética total de um indivíduo ou ser vivo, e de germoplasma, o conjunto de elementos genéticos destinados a perpetuar uma espécie viva com todas as suas características. 
II. FATORES DE AMEAÇA À BIODIVERSIDADE: Os principais fatores que ameaça m a biodiversidade são: perda de espécie e habitats; introdução de espécie e doenças exóticas; exploração excessiva de espécies e plantas; uso de híbridos e monoculturas na agroindústria; contaminação do solo, água e atmosfera por poluentes; mudanças climáticas. 
III. INSTRUMENTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DE TUTELA DA BIODIVERSIDADE: 
1) A CF/88 defere especial proteção à biodiversidade nos seguintes incisos do §1º do art. 225: 
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
2) No plano infraconstitucional há uma série de leis que tutelam, de forma direta ou indireta, a biodiversidade:
Lei nº 11.428/06, dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica;
Lei n º 4771/65, que instituía o Código Florestal e foi revogado pela Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que tem por finalidade: “Esta Lei estabelece normas gerais com o fundamento central daproteção e uso sustentável das florestas e demais formas de vegetação nativa em harmonia com a promoção do desenvolvimento econômico, atendidos os seguintes princípios”
Lei nº 9.885/00, que regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza;
Lei nº 3.197/67, que dispõe sobre proteção à fauna. 
3) Já no plano internacional são diversos os dispositivos que tratam do tema: 
Convenção de Ramsar: Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas, de 02 de fevereiro de 1971, promulgada no Brasil pelo DECRETO Nº 1.905, DE 16 DE MAIO DE 1996.
Declaração de Estrocolmo, de 1972, notadamente o seu princiío 2;
 “Convenção sobre o comércio internacional das espécies da flora e da fauna selvagens em perigo de extinção” (CITES), celebrada em 03 de março de 1973, também na cidade de Washington (por isso conhecida como “Convenção de Washigton”), foi assinada por 21 países a Tem a Convenção o objetivo de controlar o comércio internacional de fauna e flora silvestres, exercendo controle e fiscalização especialmente quanto ao comércio de espécies ameaçadas, suas partes e derivados com base num sistema de licença e certificados. O Brasil passou a ser signatário da CITES com a assinatura do Decreto 76.623 de 17 de novembro de 1975. A atuação da CITES se restringe às transações que envolvem o comércio internacional, não levando em consideração outros fatores de ameaça como o comércio ilegal dentro dos limites do país.
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Convenção de Montego Bay, de 10 de Dezembro de 1982), que, além de definir e codificar conceitos herdados do direito internacional costumeiro referentes a assuntos marítimos, estabelece os princípios gerais da exploração dos recursos naturais do mar, como os recursos vivos, os do solo e os do subsolo;
Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1992, e publicada no Brasil pelo Decreto nº 2159, de 1998.
4) Destaque-se, ainda, que no âmbito infralegal o Brasil editou o Decreto n º 4.339, de 22 de agosto de 2002, instituindo os princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade. 
O conteúdo da Política Nacional da Biodiversidade é definido no Anexo do citado Decreto da seguinte forma: Princípios, Diretrizes (item 4), Objetivo Geral (item 5), Componentes da Política (item 6 a 17). 
	
PRINCÍPIOS: derivam basicamente, daqueles estabelecidos na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Declaração do Rio, ambas de 1992, na Constituição e na legislação nacional vigente sobre a matéria. 
 
I - a diversidade biológica tem valor intrínseco, merecendo respeito independentemente de seu valor para o homem ou potencial para uso humano;
	Ao ressaltar o valor intrínseco à biodiversidade, este princípio mitiga a visão antropocêntrica que tem reinado no Direito Ambiental, privilegiando uma postura ecocêntrica, que enxerga o homem como mais um dentre os vários elementos componentes da biodiversidade. Esta visão ecocêntrica é reforçada pela previsão do inciso XI, da qual se extrai que “o homem faz parte da natureza e está presente nos diferentes ecossistemas brasileiros há mais de dez mil anos, e todos estes ecossistemas foram e estão sendo alterados por ele em maior ou menor escala”.
II - as nações têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos biológicos, segundo suas políticas de meio ambiente e desenvolvimento;
III - as nações são responsáveis pela conservação de sua biodiversidade e por assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente e à biodiversidade de outras nações ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional;
Os princípios consubstanciados nos incisos II e III devem ser vistos de forma conjunta. Embora preservem o direito soberano do Estado de explorar seus próprios recursos, não exonera-os do dever de promover a uma exploração adequada e rigorosa, impondo um dever de fiscalização para que a atividade exploratória não venha a causar danos transfronteiriços ao meio ambiente e à biodiversidade.
IV - a conservação e a utilização sustentável da biodiversidade são uma preocupação comum à humanidade, mas com responsabilidades diferenciadas, cabendo aos países desenvolvidos o aporte de recursos financeiros novos e adicionais e a facilitação do acesso adequado às tecnologias pertinentes para atender às necessidades dos países em desenvolvimento;
	
	A conservação e utilização sustentável pautam-se na decantada idéia de solidariedade intergeracional inerente ao Direito Ambiental.
	
	Veja ainda quer o dispositivo alude à existência de uma responsabilidade comum, mas diferenciada (entre países desenvolvidos e em desenvolvimento). 
VI - os objetivos de manejo de solos, águas e recursos biológicos são uma questão de escolha da sociedade, devendo envolver todos os setores relevantes da sociedade e todas as disciplinas científicas e considerar todas as formas de informação relevantes, incluindo os conhecimentos científicos, tradicionais e locais, inovações e costumes;
VII - a manutenção da biodiversidade é essencial para a evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida da biosfera e, para tanto, é necessário garantir e promover a capacidade de reprodução sexuada e cruzada dos organismos;
 VIII - onde exista evidência científica consistente de risco sério e irreversível à diversidade biológica, o Poder Público determinará medidas eficazes em termos de custo para evitar a degradação ambiental;
XII - a manutenção da diversidade cultural nacional é importante para pluralidade de valores na sociedade em relação à biodiversidade, sendo que os povos indígenas, os quilombolas e as outras comunidades locais desempenham um papel importante na conservação e na utilização sustentável da biodiversidade brasileira;
XIII - as ações relacionadas ao acesso ao conhecimento tradicional associado à biodiversidade deverão transcorrer com consentimento prévio informado dos povos indígenas, dos quilombolas e das outras comunidades locais;
	Os incisos XII e XIII estão em consonância com o art. 8º da Convenção sobre Diversidade Biológica, que diz que é dever dos Estados signatários “respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas
com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas.”
	Vale ressaltar que os incisos V (Meio ambiente como bem difuso) e X (estudo prévio de impacto ambiental) são repetição de dispositivos inseridos no §1º do art. 225 da CF/88. O inciso IX, por sua vez, consubstancia o princípio do poluidor-pagador.
DIRETRIZES. As diretrizes da Política Nacional de Biodiversidade: estão previstas no item 4 do Anexo ao Decreto n º 4.339/02, e podem ser assim resumidas: 
I - estabelecer-se-á cooperação com outras nações, [...] no que respeita a áreas além da jurisdição nacional, em particular nas áreas de fronteira, na Antártida, no alto-mar e nos grandes fundos marinhos e em relação a espécies migratórias [...],
III - investimentos substanciais são necessários para conservar a diversidade biológica, dos quais resultarão, conseqüentemente, benefícios ambientais, econômicos e sociais;
 IV - é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da sensível redução ou perda da diversidade biológica;
 V - a sustentabilidade da utilização de componentes da biodiversidade deve ser determinada do ponto de vista econômico, social e ambiental, especialmente quanto à manutenção da biodiversidade;
 VI - a gestão dos ecossistemas deve ser descentralizada [...];
	
OSCOMPONENTES DA POLÍTICA NACIONAL DE BIODIVERSIDADE. Resumidamente, os 7 componentes são os seguintes:
Componente 1 - Conhecimento da Biodiversidade: congrega diretrizes voltadas à geração, sistematização e disponibilização de informações que permitam conhecer os componentes da biodiversidade do país e que apóiem a gestão da biodiversidade, bem como diretrizes relacionadas à produção de inventários, à realização de pesquisas ecológicas e à realização de pesquisas sobre conhecimentos tradicionais;
Componente 2 - Conservação da Biodiversidade: engloba diretrizes destinadas à conservação in situ e ex situ [OU SEJA: CONSERVAÇÃO DOS COMPENOENTES DA BIODIVERSIDADE FORA DE SEUS HABITATS NATURAIS] de variabilidade genética, de ecossistemas, incluindo os serviços ambientais, e de espécies, particularmente daquelas ameaçadas ou com potencial econômico, bem como diretrizes para implementação de instrumentos econômicos e tecnológicos em prol da conservação da biodiversidade;
Componente 3 - Utilização Sustentável dos Componentes da Biodiversidade: reúne diretrizes para a utilização sustentável da biodiversidade e da biotecnologia, incluindo o fortalecimento da gestão pública, o estabelecimento de mecanismos e instrumentos econômicos, e o apoio a práticas e negócios sustentáveis que garantam a manutenção da biodiversidade e da funcionalidade dos ecossistemas, considerando não apenas o valor econômico, mas também os valores sociais e culturais da biodiversidade. OBS: REFORÇA, UMA VEZ MAIS, O CARÁTER ECONÔMICOS DO DIREITO AMBIENTAL
 
Componente 4 - Monitoramento, Avaliação, Prevenção e Mitigação de Impactos sobre a Biodiversidade: engloba diretrizes para fortalecer os sistemas de monitoramento, de avaliação, de prevenção e de mitigação de impactos sobre a biodiversidade, bem como para promover a recuperação de ecossistemas degradados e de componentes da biodiversidade sobreexplotados;
Componente 5 - Acesso aos Recursos Genéticos e aos Conhecimentos Tradicionais Associados e Repartição de Benefícios: alinha diretrizes que promovam o acesso controlado, com vistas à agregação de valor mediante pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, e a distribuição dos benefícios gerados pela utilização dos recursos genéticos, dos componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais associados, de modo que sejam compartilhados, de forma justa e eqüitativa, com a sociedade brasileira e, inclusive, com os povos indígenas, com os quilombolas e com outras comunidades locais;
Componente 6 - Educação, Sensibilização Pública, Informação e Divulgação sobre Biodiversidade: define diretrizes para a educação e sensibilização pública e para a gestão e divulgação de informações sobre biodiversidade, com a promoção da participação da sociedade, inclusive dos povos indígenas, quilombolas e outras comunidades locais, no respeito à conservação da biodiversidade, à utilização sustentável de seus componentes e à repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização de recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e de conhecimento tradicional associado à biodiversidade;
Componente 7 - Fortalecimento Jurídico e Institucional para a Gestão da Biodiversidade: sintetiza os meios de implementação da Política; apresenta diretrizes para o fortalecimento da infra-estrutura, para a formação e fixação de recursos humanos, para o acesso à tecnologia e transferência de tecnologia, para o estímulo à criação de mecanismos de financiamento, para o fortalecimento do marco-legal, para a integração de políticas públicas e para a cooperação internacional.
 
Por fim, vale frisar que o Decreto nº 4703, de 2003, instituiu o Programa Nacional da Diversidade Biológica - PRONABIO e a Comissão Nacional da Biodiversidade, que passam a integras a Política Nacional de Biodiversidade.
 	
	Compete ao Ministério do Meio Ambiente supervisionar e Implementar o PRONABIO, que tem como objetivo precípuo “orientar a elaboração e a implementação da Política Nacional da Biodiversidade, com base nos princípios e diretrizes instituídos pelo Decreto no 4.339, de 22 de agosto de 2002, mediante a promoção de parceria com a sociedade civil para o conhecimento e a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de sua utilização, de acordo com os princípios e diretrizes da Convenção sobre Diversidade Biológica, da Agenda 21, da Agenda 21 brasileira e da Política Nacional do Meio Ambiente”.
	O PRONABIO será financiado com recursos do Tesouro Nacional e recursos captados no País e no exterior, junto a órgãos governamentais, privados e multilaterais.
	 
Já a Comissão Nacional da Biodiversidade é órgão de composição múltipla, contando com um representante dos seguintes órgãos e organizações da sociedade civil: I - ÓRGÃOS PÚBLICOS: Ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Saúde, das Relações Exteriores, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento Agrário, da Integração Nacional, da Secretaria Especial de Pesca da Presidência da República, do IBAMA. II - REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL: Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Meio Ambiente - ABEMA; Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura - CONTAG; Movimento Nacional dos Pescadores - MONAPE; comunidade acadêmica; organizações não-governamentais ambientalistas; movimentos sociais, indicado pelo Fórum de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e para o Desenvolvimento; povos indígenas, indicado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia - COIAB; setores empresariais vinculados à agricultura E à indústria.
IV. PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO E DO PATRIMÔNIO GENÉTICO.
Conforme já visto, a conservação e proteção à diversidade e a integridade do patrimônio genético do País é determinação contida no próprio texto constitucional.
	Com o intuído de dar cumprimento a esta diretriz constitucional, foi editada a Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, regulamentando ainda os arts. 1o, 8o, alínea "j", 10, alínea "c", 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade Biológica.
	
	Desde logo cumpre dizer que essa MP (art. 3º) não se aplica ao patrimônio genético humano, tema abordado pela Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005). 
	Do mesmo modo, a MP veda o acesso ao patrimônio genético para práticas nocivas ao meio ambiente e à saúde humana e para o desenvolvimento de armas biológicas e químicas
	
Pois bem. A MP nº 2.186-16/2001 tutela o conhecimento tradicional das comunidades indígenas e das comunidades locais (ex: comunidades quilombolas) associado ao patrimônio genético, contra a utilização e exploração ilícita e outras ações lesivas ou não autorizadas pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (órgão do MMA), ou por instituição credenciada.[1: 	 Comunidade local: grupo humano, incluindo remanescentes de comunidades de quilombos, distinto por suas condições culturais, que se organiza, tradicionalmente, por gerações sucessivas e costumes próprios, e que conserva suas instituições sociais e econômicas;]
A MP define o conhecimento tradicional associado como a “informação ou prática individual ou coletiva de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real ou potencial, associada ao patrimônio genético”.
Diz ainda que conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético integra o patrimônio cultural brasileiro, podendo ser objeto de cadastro.
Como forma de reforçar esta proteção, a MP preserva o direito ao intercâmbio e a difusão de componente do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado praticado entre si por comunidades indígenas e comunidades locais para seu próprio benefício e baseados em prática costumeira.
O principal dispositivo da MP que trata da tutelado conhecimento tradicional associado é o art. 9º, que, por sua relevância, segue transcrito: 
 
Art. 9º À comunidade indígena e à comunidade local que criam, desenvolvem, detêm ou conservam conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético, é garantido o direito de:
 I - ter indicada a origem do acesso ao conhecimento tradicional em todas as publicações, utilizações, explorações e divulgações;
 II - impedir terceiros não autorizados de:
 a) utilizar, realizar testes, pesquisas ou exploração, relacionados ao conhecimento tradicional associado;
 b) divulgar, transmitir ou retransmitir dados ou informações que integram ou constituem conhecimento tradicional associado;
 III - perceber benefícios pela exploração econômica por terceiros, direta ou indiretamente, de conhecimento tradicional associado, cujos direitos são de sua titularidade, nos termos desta Medida Provisória.
 Parágrafo único. Para efeito desta Medida Provisória, qualquer conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético poderá ser de titularidade da comunidade, ainda que apenas um indivíduo, membro dessa comunidade, detenha esse conhecimento.
	Os benefícios pela exploração econômica do conhecimento tradicional associado podem ser caracterizados por: I - divisão de lucros; II - pagamento de royalties; III - acesso e transferência de tecnologias; IV - licenciamento, livre de ônus, de produtos e processos; e V - capacitação de recursos humanos.
O instrumento jurídico para se viabilizar a repartição destes benefício é o denominado “O Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e de Repartição de Benefícios”. Diz o art. 27 da MPV que “o Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e de Repartição de Benefícios deverá indicar e qualificar com clareza as partes contratantes, sendo, de um lado, o proprietário da área pública ou privada, ou o representante da comunidade indígena e do órgão indigenista oficial, ou o representante da comunidade local e, de outro, a instituição nacional autorizada a efetuar o acesso e a instituição destinatária.”
A eficácia deste contrato está condicionada ao registro e à anuência do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético.
	Conselho de Gestão do Patrimônio Genético é um órgão deliberativo e normativo, alocado na estrutura administrativa do MMA. Diz a MP 2186-16/2001 que ele será “composto de representantes de órgãos e de entidades da Administração Pública Federal que detêm competência sobre as diversas ações de que trata esta Medida Provisória.” Veja, portanto, que somente é composto por representantes da Administração federal
	O Decreto nº 3.945, de 28 de setembro de 2001, incumbiu-se de definir a composição do Conselho, integrado por representantes de 19 órgãos/entidades da Administração federal, a saber: MINISTÉRIOS: do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, da Saúde, da Justiça, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Defesa, da Cultura, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; ENTIDADES: IBAMA; Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; CNPq; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA; Embrapa; Fiocruz; Instituto Evandro Chagas; Funai; INPI; Fundação Cultural Palmares.
	Por fim convém transcrever o art. 26 da MP, que trata do acesso e coleta de materiais decorrente de conhecimento tradicional associado:
Art. 16. O acesso a componente do patrimônio genético existente em condições in situ no território nacional, na plataforma continental e na zona econômica exclusiva, e ao conhecimento tradicional associado far-se-á mediante a coleta de amostra e de informação, respectivamente, e somente será autorizado a instituição nacional, pública ou privada, que exerça atividades de pesquisa e desenvolvimento nas áreas biológicas e afins, mediante prévia autorização, na forma desta Medida Provisória.
 § 1o O responsável pela expedição de coleta deverá, ao término de suas atividades em cada área acessada, assinar com o seu titular ou representante declaração contendo listagem do material acessado, na forma do regulamento.
[...]
 § 3o Sub-amostra representativa de cada população componente do patrimônio genético acessada deve ser depositada em condição ex situ em instituição credenciada como fiel depositária, de que trata a alínea "f" do inciso IV do art. 11 desta Medida Provisória, na forma do regulamento. 
 § 4o Quando houver perspectiva de uso comercial, o acesso a amostra de componente do patrimônio genético, em condições in situ, e ao conhecimento tradicional associado só poderá ocorrer após assinatura de Contrato de Utilização do Patrimônio Genético e de Repartição de Benefícios.
[...] 
 § 6o A participação de pessoa jurídica estrangeira em expedição para coleta de amostra de componente do patrimônio genético in situ e para acesso de conhecimento tradicional associado somente será autorizada quando em conjunto com instituição pública nacional, ficando a coordenação das atividades obrigatoriamente a cargo desta última e desde que todas as instituições envolvidas exerçam atividades de pesquisa e desenvolvimento nas áreas biológicas e afins.
 § 7o A pesquisa sobre componentes do patrimônio genético deve ser realizada preferencialmente no território nacional.
 § 8o A Autorização de Acesso e de Remessa de amostra de componente do patrimônio genético de espécie de endemismo estrito ou ameaçada de extinção dependerá da anuência prévia do órgão competente.
 § 9o A Autorização de Acesso e de Remessa dar-se-á após a anuência prévia:
 I - da comunidade indígena envolvida, ouvido o órgão indigenista oficial, quando o acesso ocorrer em terra indígena;
 II - do órgão competente, quando o acesso ocorrer em área protegida;
 III - do titular de área privada, quando o acesso nela ocorrer;
 IV - do Conselho de Defesa Nacional, quando o acesso se der em área indispensável à segurança nacional;
 V - da autoridade marítima, quando o acesso se der em águas jurisdicionais brasileiras, na plataforma continental e na zona econômica exclusiva.
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