Buscar

BRASIL - PARADOXOS ENTRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO E A DESIGUALDADE SOCIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

0 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS 
CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
MOYSÉS DA PAZ BARRETO SOBRINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2010 
 1 
MOYSÉS DA PAZ BARRETO SOBRINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASIL: 
PARADOXOS ENTRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO E A 
DESIGUALDADE SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Prof. Dr. Ana Cristina de Almeida Fernandes 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2010 
Trabalho apresentado à Coordenação do 
Curso de Geografia da Universidade 
Federal de Pernambuco, como requisito 
parcial para obtenção do título de 
Licenciado em Geografia. 
 2 
MOYSÉS DA PAZ BARRETO SOBRINHO 
 
 
 
 
 
BRASIL: 
PARADOXOS ENTRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO E A 
DESIGUALDADE SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife ____ de ____________ de 2010 
 
 
 
 
_________________________________________________ 
Ana Cristina de Almeida Fernandes 
Professora Doutora – Universidade Federal de Pernambuco 
(Orientadora) 
 
 
 
__________________________________________________ 
Edna Maria Ribeiro de Medeiros 
Professora Mestra – Universidade Federal de Pernambuco 
(Examinadora) 
 
 
 
_________________________________________________ 
Hernani Loeber Campos 
Professor Doutor – Universidade Federal de Pernambuco 
(Examinador) 
 
Trabalho apresentado à Coordenação do 
Curso de Geografia da Universidade 
Federal de Pernambuco, como requisito 
parcial para obtenção do título de 
Licenciado em Geografia. 
 3 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
1. Evolução do PIB Industrial (Índice), 1900 a 1947..................................................11 
2. Variação Anual do PIB no Brasil (%), 1956 a 1961................................................14 
3. PIB – variação real anual – (% a.a.), 1964 a 1974.................................................15 
4. Evolução da dívida externa (em US$ bilhões), 1973 a 2009.................................16 
5. PIB – variação real anual – (% a.a.), 1980 a 1991.................................................17 
6. Inflação – IPCA – (% a.a) – 1980 a 1994...............................................................18 
7. Evolução do IDH no Brasil, 1975 – 2005................................................................23 
8. Evolução dos sub-índices do IDH no Brasil...........................................................23 
9. Evolução do índice de Gini no Brasil, 1976 a 2007................................................24 
10. Porcentagem de renda apropriada por faixas da população, 2000.....................25 
11. Evolução do índice de Gini no Brasil, 1992 a 2009..............................................27 
12. Evolução das Classes Econômicas, 1992 a 2009...............................................29 
13. Evolução da renda média (R$ de 2009), 1992 a 2009.........................................30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
LISTA DE TABELAS 
 
1. Número de estabelecimentos industriais e de operários no Brasil, 1849 a 1889....8 
 
2. Participação da população brasileira na renda nacional........................................19 
 
3. Comparação da porcentagem de renda apropriada por faixas da população, 1991 
a 2000.........................................................................................................................26 
 
4. Definição de classes econômicas – limites da renda domiciliar total de todas as 
fontes..........................................................................................................................28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
SUMÁRIO 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................6 
 
 
2. HISTÓRICO DA TRANSIÇÃO DE PAÍS AGROEXPORTADOR PARA 
INDUSTRIALIZADO.....................................................................................................7 
 
2.1. DO INÍCIO DA EXPLORAÇÃO ECONÔMICA ATÉ 1929.................................................... 7 
2.2. DE 1930 A 1955: A VERDADEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA....................10 
 
3. O “CRESCIMENTO” DESIGUAL..........................................................................12 
3.1. A POLÍTICA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO EXCLUDENTE E CONCENTRADOR...............12 
3.2. AS CRISES MUNDIAIS E O ENDIVIDAMENTO EXTERNO.................................................16 
3.3. O NEOLIBERALISMO E A GLOBALIZAÇÃO.................................................................19 
 
4. REFLEXO DO CRESCIMENTO ERRÔNEO: A DESIGUALDADE SOCIAL.......22 
4.1. O DESENVOLVIMENTO HUMANO..............................................................................22 
4.2. A CONCENTRAÇÃO DE RENDA................................................................................ 25 
 
5. AVANÇOS RECENTES E A MUDANÇA NA ESTRUTURA DE CLASSES........ 26 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................32 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................34 
APÊNDICE A – PLANEJAMENTO DO ENSINO, PLANO DE AULA.......................36 
APENDICE B – ATIVIDADE EM GRUPO.................................................................38 
ANEXOS....................................................................................................................39 
 
 
 
 
 6 
1. INTRODUÇÃO 
 
Enquanto muitos têm pouco, poucos têm muito. Essa frase é uma das mais 
citadas quando se trata do quadro socioeconômico do Brasil. Mas, por que somos 
um dos países mais desiguais do mundo? Quais as possíveis causas que geraram 
essa consequência? Porque o Brasil apresenta, historicamente, bons indicadores 
econômicos e péssimos números sociais? 
O objetivo deste trabalho é tentar responder a essas perguntas dentro de um 
contexto histórico-geográfico subdividindo-as em alguns eixos. A priori, deve-se 
deixar claro que não se trata de um estudo da formação econômica brasileira, mas 
de uma análise para esclarecimento do fator causa/conseqüência na atual realidade 
brasileira. As informações, prioritariamente, serão apresentadas em caráter nacional, 
apenas em alguns momentos serão regionalizadas. 
Nesta pesquisa, primeiramente, serão expostos os entraves históricos no 
processo de “desenvolvimento” brasileiro, a transição para a industrialização, as 
crises e suas conseqüências, mostrando, em segundo plano e de forma mais 
simplória, as teorias econômicas vigentes em cada época. Em seguida analisar-se-á 
os números sociais da conseqüência deste desenvolvimento excludente e 
concentrador. Por fim, será feita a apreciação dos avanços conquistados 
recentemente que conseguiram conciliar crescimento econômico com distribuição de 
renda. 
Após este trabalho pretende-se iluminar as pessoas sobre as diferenças 
sociais encontradas no dia-a-dia, proporcionando reflexões sobre a trajetória da 
sociedade brasileira, os motivos pelo qual se chegou a essa situação, e perspectivas 
de políticas públicas para melhoria dos aspectos posteriormente apresentados. 
 
 7 
2. HISTÓRICO DA TRANSIÇÃO DE PAÍS AGROEXPORTADOR PARA 
INDUSTRIALIZADO. 
 
2.1. DO INÍCIO DA EXPLORAÇÃO ECONÔMICA ATÉ 1929. 
No século XV, o mundo vivia a fase do capitalismo mercantil que foi adotado 
inicialmente por França e Inglaterra e posteriormente por Espanha e Portugal. Com 
o comércio interno europeu em crescimento intensivo, tornou-senecessário 
descobrir novas fontes de matéria-prima barata e novos consumidores. Já no século 
XVI, vastas regiões da América, dentre elas o Brasil, foram invadidas, conquistadas 
e incorporadas ao sistema capitalista vigente. 
Desde o início da ocupação econômica o Brasil foi um país agroexportador, 
ou seja, era priorizada a exportação de produtos primários como matérias-primas e 
alimentos. Guiados pelo colonialismo português, foi predominante o sistema de 
plantation (grandes propriedades monocultoras) da cana-de-açúcar, sempre visando 
o mercado externo. Posteriormente, outros produtos como o café e o algodão 
geraram lucros às elites brasileiras, porém, quase tudo era para a exportação. Para 
Celso Furtado (1972), nunca se insistirá suficientemente sobre o fato de que a 
implantação portuguesa na América teve como base a empresa agrícola-comercial. 
O Brasil é o único país das Américas criado, desde o início, pelo capitalismo 
comercial como sob a forma de empresa agrícola. Furtado (1972) ainda afirma que a 
importância da empresa agro-mercantil, no Brasil, está em que ela marcará 
decisivamente a estrutura da economia e da sociedade que se formarão no país. 
 Em abril de 1808, já com a família real portuguesa no Brasil, D. João revogou 
o Alvará de 17851, posteriormente concedeu isenção de direitos aduaneiros às 
matérias-primas necessárias às fábricas. Ainda assim o crescimento industrial 
 
1
 O Alvará de 5 de Janeiro de 1785 determinava a extinção de todas as manufaturas têxteis da 
colônia – com exceção das que produziam panos grossos para vestir os escravos – favorecendo, 
assim, aos ingleses em prejuízo ao nosso desenvolvimento industrial. (ADAS, 2004, p.72.) 
 
 8 
brasileiro foi pífio, devido, entre outros motivos, à concorrência “desleal” dos 
produtos ingleses e dos obstáculos colocados pelos grandes produtores rurais. Entre 
1844 e 1847 foram dados vários incentivos tributários à indústria têxtil e implantação 
de políticas protecionistas como a Lei Alves Branco que taxava as importações entre 
20% e 60%. Porém, esses incentivos não surtiram o efeito desejado e o 
desenvolvimento industrial brasileiro não deslanchou. Pode-se observar na Tabela 1 
que o número de estabelecimentos industriais diminuiu de 35 para 16 nos primeiros 
anos de vigor dos incentivos governamentais e ainda caiu pela metade entre 1854 e 
1859. 
Tabela 1: Número de estabelecimentos industriais e de operários no Brasil 
– 1849 a 1889
Época da fundação das 
empresas
Nº de estabelecimentos 
industriais
Nº de operários
Até 1849 35 2.929
1850 a 1854 16 1.177
1855 a 1859 8 1.094
1860 a 1864 20 775
1865 a 1869 34 1.864
1870 a 1874 62 6.019
1875 a 1879 63 4.230
1880 a 1884 150 11.715
1885 a 1889 248 24.369
Fonte: LIMA, Heitor Ferreira. História político-econômica e industrial do Brasil, São Paulo: Nacional, 1976
apud ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2004
 
 Vários fatores impediam o crescimento econômico e industrial brasileiro tais 
como o desinteresse das elites que ainda estavam preocupadas com a produção do 
café; o pequeno mercado interno devido à predominância e permanência da mão-
de-obra escrava que não tinha poder aquisitivo; indiferença do Estado, dominado por 
uma aristocracia agroexportadora, contrária à industrialização do país; entre outros. 
 9 
Furtado (1972) mostra que as primeiras indústrias brasileiras eram 
complementares da atividade de exportação, se expandido e contraindo em função 
desta, como as indústrias de embalagem, de montagem e de terminação. Ele afirma 
que: 
 “A fase de rápida expansão das exportações de produtos primários, 
por indução da revolução industrial, se caracterizava por uma 
modernização das formas de consumo (ainda que de uma minoria) sem 
real correspondência na evolução tecnológica dos processos produtivos. 
Não significa isso, entretanto, que inexiste totalmente a industrialização. A 
verdade é que, quase sem exceção, um fluxo importante de exportações 
de produtos primários engendrou certas atividades complementares de tipo 
industrial, que vão desde o tratamento superficial exigido por produtos 
como o café e o algodão até processamentos muito avançados como os 
requeridos pelo açúcar, a carne e as sementes oleaginosas. Tais 
indústrias, assim como um sistema moderno de transportes, implicam num 
serviço de manutenção que pode dar origens a importantes instalações 
mecânicas onde se forma uma mão-de-obra especializada. Esse tipo de 
indústria pode ser insignificante em pequenos países, mas alcança 
dimensões consideráveis quando a economia exportadora é de grande 
vulto.” (FURTADO, 1972, p. 16.) 
 
 Com isso, a base financeira e a infra-estrutura do “parque industrial” estavam 
diretamente ligadas ao sistema cafeeiro. Assim, a cafeicultura ao criar as condições 
para o desenvolvimento industrial, acarretou, contraditoriamente, a sua própria 
negação. Contudo, ressalta Furtado (1972) que cabe estabelecer uma diferença 
entre as indústrias de caráter complementar e a substitutiva de importações, na qual 
assenta o verdadeiro processo de industrialização brasileiro. 
Vale salientar, também, a situação de conflito de ideologias econômicas que o 
mundo passava no final do século XIX e início do século XX. Desde a Primeira 
Revolução Industrial, Adam Smith (1776) – em A riqueza das nações – descreveu 
uma doutrina liberal, na qual o Estado garantiria a propriedade privada e a livre 
iniciativa como as bases para o desenvolvimento econômico. Smith (1776) se referiu 
ainda à existência de uma “mão invisível”, responsável por resultados favoráveis no 
mercado, onde os participantes da economia, sendo motivados pelos seus próprios 
 10 
interesses, conduzem a um bem-estar econômico da sociedade em geral. 
(AFONSO, MARAVILHA, MELO, 2007). 
2.2. DE 1930 A 1955: A VERDADEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA. 
No final do século XIX os países denominados “centrais” que adotaram a 
doutrina liberal já estavam em consolidado processo de industrialização, muitos bem 
avançados na Segunda Revolução Tecnológica, enquanto o Brasil experimentava 
uma industrialização tardia (com cerca de cem anos de atraso) tornando-se, assim, 
uma “presa fácil” no sistema de monopólios, oligopólios, trustes e cartéis que o 
colocava refém do modelo hegemônico dos países “centrais”. 
A teoria da “mão invisível” foi amplamente questionada em um dos períodos 
mais difíceis da história do capitalismo: a Crise de 1929. Esta crise do comércio 
exterior tradicional pôs em marcha uma série de processos que convergiram no 
sentido de abrir caminhos para a industrialização. (FURTADO, 1972). 
Uma coisa ficou certa: a “mão invisível”, ou seja, os supostos mecanismos 
autorreguladores do capitalismo não eram suficientes para manter a economia nos 
trilhos. Oferecendo uma saída para a crise vivenciada, John Maynard Keynes, em 
1926, postulou uma teoria que rompia totalmente com a ideia liberalista do “deixai 
fazer”, afirmando que o Estado deveria sim, interferir na sociedade, na economia e 
em quais áreas achasse necessário. 
O keynesianismo foi “adotado” no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas 
(nacionalista e protecionista, representante dos setores urbano-industrial) com a 
instituição do chamado poder central. Era que ficou marcada pelo forte 
intervencionismo do Estado na economia (“Estado Keynesiano”), com isso reduziu-
se o poder das elites que impediam o processo de industrialização; durante esse 
período foram criadas empresas estatais de base, a exemplo da: CSN (1941), CVRD 
 11 
(1942), Petrobrás (1953). Nesta etapa exulta-se o auge do “modelo de substituição 
de importações”devido às crises que ocorriam no mercado mundial – a exemplo da 
crise de 1929 ou a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Ao diminuir o dinamismo dos 
grandes centros da economia internacional, facilitou-se o crescimento da produção 
industrial nacional, uma vez que o Brasil ficava impossibilitado de exportar produtos 
agrícolas e de importar produtos industrializados, e, logo poderia produzir 
internamente o que antes importava, num ambiente razoavelmente protegido da 
concorrência estrangeira. No Gráfico 1 observa-se claramente o salto dado pelo 
setor industrial da economia brasileira entre 1930 e 1946. 
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Gráfico 1: Evolução do PIB industrial (índice)*
1900 a 1947
* (Média 1939 = 100)
Fonte: IPEADATA 
 
 Mas, deve-se lembrar que até a década de 1930 a atividade industrial no 
Brasil esteve limitada a produção de bens de consumo, somente após 1940 ela 
passou a abranger a produção de bens de capital, com participação em setores mais 
avançados do ponto de vista tecnológico. Na década de 1950 a infraestrutura 
 12 
energética e de transportes ainda representavam sérios obstáculos para o 
desenvolvimento no Brasil. 
 
3. O “CRESCIMENTO” DESIGUAL. 
3.1. A POLÍTICA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO EXCLUDENTE E CONCENTRADOR. 
De acordo com Bastos e d’Ávila (2009) as décadas de 1940 e 1950 marcaram 
uma mudança na perspectiva intelectual até então dominante, com a emergência de 
um novo consenso, o “consenso do desenvolvimento”. Pautados na hipótese central 
dessa teoria, acreditava-se que a industrialização seria capaz de eliminar a 
dualidade básica da economia, como a absorção do excedente estrutural da mão de 
obra no setor moderno e de maior produtividade per capita da economia. 
 Deste modo, o período do governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961), 
período conhecido como desenvolvimentista, tornou-se um marco à industrialização 
brasileira. O Plano de Metas implantado pelo governo brasileiro e financiado pelo 
capital externo tinha como objetivo crescer “50 anos em 5”. O caminho traçado por 
JK foi o considerado por muitos como “entreguismo”, ou seja, para atingir as metas o 
governo teve que adotar políticas de incentivos cambiais, fiscais, tarifários e 
creditícios para atrair o capital estrangeiro. Nesse período ocorreu em maior escala 
a internacionalização da economia brasileira, com uma considerável participação de 
empresas transnacionais. Esses investimentos estrangeiros dirigiram-se, 
principalmente, para os setores da indústria automobilística; metalúrgica e 
siderúrgica; química e farmacêutica e material de construção civil. Para Bastos e 
d’Ávila: 
 “Na implantação do Plano de Metas optou-se pela industrialização 
substitutiva, que refletia numa distribuição de renda regressiva existente, 
dando-se prioridade a certas indústrias de bens de consumo duráveis mais 
sofisticadas tecnologicamente. Assim, assistiu-se à implantação de 
unidades industriais que tinham com exigência tecnológica escala mínima, 
 13 
que normalmente cria, e efetivamente criou, uma capacidade instalada à 
frente da demanda corrente. Isso requereria um crescimento persistente da 
demanda agregada, e particularmente do poder de compra dos setores da 
classe média e alta. Essa evolução do poder de compra ficou 
comprometida pela exacerbação da desaceleração cíclica esperada do 
início dos anos 1960 em conseqüência da grave crise econômica e política 
que se instalou a partir de 1961.” (BASTOS; D’ÁVILA; 2009. p. 186.) 
 
Para conseguir tamanho desenvolvimento em pouco tempo, no entanto, foi 
preciso investir muito. Principalmente para a construção da nova capital, Brasília. 
Com o mercado financeiro ainda em parcial dificuldade, JK não teve facilidade para 
conseguir empréstimos (embora os tenha feito também). Assim, além dos recursos 
provenientes da entrada de empresas estrangeiras, o governo passou a aumentar a 
emissão de moeda. Com mais dinheiro em circulação, sem aumento da produção, 
os preços passaram a subir. Surgiu, então, um "monstro" que assolaria os brasileiros 
por muitos anos: a inflação alta. 
Em números econômicos o “crescimento” aconteceu; como mostra o gráfico 
2, o PIB passou a crescer a taxas agradáveis. Porém, fugindo da crescente teoria 
socialista, outro fator decidiria o processo do crescimento desigual brasileiro: o 
Golpe Militar de 19642. As forças vitoriosas adotaram um modelo econômico 
fortemente associado ao capitalismo mundial e dele dependente. Com isso, abriram 
mais amplamente o país para a penetração do capital estrangeiro em vários setores, 
incluindo agricultura e mineração. Furtado (1992) afirma que existe evidência 
estatística de que os regimes autoritaristas favorecem a concentração de renda, pois 
sempre visam, prioritariamente, atender aos interesses do grupo social dominante. 
 
 
2
 Segundo Adas (2004) antes do Golpe Militar o então presidente, João Goulart (Jango) adotava uma 
linha nitidamente nacionalista de governo. Essas propostas chocavam-se com os interesses da 
burguesia nacional e estrangeira, que cada vez mais se associavam. Ambas temiam o avanço das 
empresas estatais, da reforma agrária e da tendência ao socialismo. Os grupos conservadores 
“uniram-se” para desestabilizar o governo brasileiro. O clima de tensão política vivido entre 1961 e 
1964 foi acompanhado pela paralisia e declínio da economia e da indústria no Brasil. 
 14 
2,9
7,7
10,8
9,8 9,4
8,6
0
2
4
6
8
10
12
1956 1957 1958 1959 1960 1961
Gráfico 2: Variação Anual do PIB no Brasil (%) 
Fonte: FGV
 
Durante os governos militares subsequentes, o “consenso do 
desenvolvimento” tornou-se compulsivo. Visando transformar o país em uma grande 
potência, persistiu-se numa conduta voltada para o crescimento econômico 
acelerado. Contudo, nessa obsessão para tornar-se um país do então denominado 
“Primeiro Mundo”, o Brasil deixou de lado os problemas sociais. Enquanto os índices 
econômicos pareciam crescer favoravelmente, os indicadores sociais ficavam piores. 
No início, criou-se o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que 
traçava planos para que o Brasil contivesse a inflação e, ao mesmo tempo, 
realizasse reformas econômicas, entre elas investindo na indústria siderúrgica, de 
metal e de bens de capital. Esperava-se que com esse plano o país atingisse a 
estabilidade econômica. Nos primeiros sinais de recessão econômica, por volta de 
1967, o Ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto reitera a necessidade de investir 
em infra-estrutura nacional, cedendo capital às estatais de petroquímica, energia, 
siderurgia, construção naval e hidrelétrica. Os lucros não demoraram a aparecer; 
 15 
naquele ano, a produção de bens duráveis do país aumentou mais de 20%, 
potencializando a economia. Emilio Médici, que assumiu em 1969, colheu os frutos 
desse crescimento econômico. Durante seu mandato, o país chegou a crescer mais 
de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. (Gráfico 3). 
3,4 2,4
6,7
4,2
9,8 9,5
10,4
11,3 11,9
13,9
8,1
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974
Gráfico 3: PIB - variação real anual - (% a.a.) 
1964 - 1974
Fonte: IPEADATA
 
Este período ficou conhecido como “Milagre Brasileiro”, entretanto, a maior 
parte da população brasileira – ou seja, os pobres – não participaram do espetáculo 
do crescimento, pois, para assegurar e estruturar este crescimento o governo retirou 
os subsídios de produtos de consumo alimentar básico da população (carne, leite, 
trigo, etc.) e subsidiou a exportação de produtos de consumo das classes média e 
alta de outros países,fabricados como mão-de-obra e matéria-prima barata, cujos 
preços no exterior eram inferiores aos pagos no mercado brasileiro. Os preços dos 
alimentos subiram, e os reajustes salariais não foram equivalentes, agravando ainda 
mais o problema da subnutrição e da pauperização da população de baixa renda. 
(ADAS; 2004. p. 78.). 
 
 16 
3.2. AS CRISES MUNDIAIS E O ENDIVIDAMENTO EXTERNO. 
 Financiado pelo capital externo e dele dependente, o modelo de crescimento 
brasileiro se deparou com um grave problema, o primeiro choque do petróleo. A 
Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) – criada em 1960 para 
contrapor-se ao famoso Cartel das Sete Irmãs do Petróleo – em outubro de 1973 
elevou o preço do barril de petróleo de US$ 3 para US$ 12. Por conseguinte, houve 
racionamento do combustível e recessão econômica nos países dependentes da 
importação de petróleo. 
 Devido a essa dependência, a elevação dos custos de importação resultou 
em grandes déficits. A situação ficou ainda mais catastrófica em 1979 quando o 
barril de petróleo passou a US$ 35, o segundo choque do petróleo. Com isso, o país 
atolou-se em uma dívida externa, como mostra o gráfico 4, tornando-se uma das 
nações mais endividadas do mundo. Ainda em 1979 os EUA passaram a impor uma 
política de alta nas taxas de juros, causando um circulo vicioso, ou seja, crescendo 
em ritmo muito alto a dívida gerava mais dividas, como uma bola de neve. 
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
Gráfico 4: dívida externa (em US$ bilhões)
Fonte: IPEADATA
Nota-se que entre 1973 a dívida já estava em US$ 14,8 bilhões, dez anos depois o 
 17 
valor começa a alcançar cifras assustadoras, em 1983 já era de US$ 93,7 bilhões – 
seis vezes mais. 
Os países endividados passaram a ter dificuldade para pagar os juros da 
dívida. Consequentemente, os investimentos em quesitos sociais como educação, 
habitação e saúde foram escanteados, pois, a pressão internacional para a quitação 
do débito era insistente. Portanto, a entrada de capital estrangeiro passou a servir 
para o pagamento da dívida externa (capitais de empréstimos). A situação 
econômica ficou tão delicada que especialistas chamam os anos de 1980 como a 
“década perdida”. Assim, a pobreza e a miséria aumentaram, e a taxa de 
mortalidade infantil voltou a subir como se analisará adiante. O PIB brasileiro que até 
então vinha tendo bons resultados entrou em recessão (Gráfico 5). 
9,2
-4,25
0,83
-2,93
5,4
7,85 7,49
3,53
-0,06
3,16
-4,35
1
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
Gráfico 5: PIB - variação real anual - (% a.a.) 
Fonte: IPEADATA
 
 Para piorar a situação, outro “fantasma” assombrava os setores da economia 
brasileira: a inflação. Conforme mostra o gráfico 6, segundo o IPCA/IBGE3, o Brasil 
chegou a ter hiperinflação, ou seja, uma situação econômica em que os preços 
 
3
 IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo, calculado pelo IBGE desde 1980, reflete o custo de 
vida para famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. A pesquisa é feita nas 11 principais 
regiões metropolitanas. Foi escolhido como alvo das metas de inflação ("inflation targeting") no Brasil. 
 18 
crescem excessivamente. Em 1989 o IPCA alcançou 1.972 % ao ano, e em 1993 o 
elevado índice de 2.477% ao ano. Pierre Salama (2002) mostra que: 
“É preciso distinguir a renda protegida da inflação, da renda que é 
pouco protegida. A renda pouco protegida sofre intensamente o golpe 
dessa aceleração da alta dos preços. Essa renda é a renda das categorias 
da população mais pobre e mais frequentemente dos aposentados do 
serviço público, que pagam, assim, a crise fiscal do Estado. A pobreza 
dessas camadas se acentua quase mecanicamente. As camadas 
protegidas são aquelas que se beneficiam de mecanismos de indexação, 
tanto de preços, como do total da receita. A indexação aos preços não 
estabiliza o poder aquisitivo, mas permite que ele abaixe menos do que se 
a renda não tivesse sido indexada. A indexação ao total da receita é eficaz 
se houver um forte crescimento.” (SALAMA; citado por GENTILI; 2002. 
p.187 .). 0 500
1000
1500
2000
2500
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
99,25 
95,62 
104,80 
164,01 
215,26 
242,23 
79,66 
363,41 
980,21 
1.972,91 
1.620,97 
472,70 
1.119,10 
2.477,15 916,46 
Gráfico 6: Inflação - IPCA - (% a.a.)
Fonte: IPEADATA / IBGE
 
 Somados os fatores da inflação, do crescimento acelerado, do “milagre” 
excludente, e do esquecimento do governo para o setor social, houve entre 1960 e 
1990 concentração de renda no país (tabela 2). 
 19 
Ano 20% mais ricos 50% mais pobres
1960 54% 18%
1970 62% 15%
1980 63% 14%
1990 65% 11,3%
Tabela 2: Participação da população brasileira 
na renda nacional
Fonte: IPEA/PNUD, Relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil
2002, p.2, e Ricardo Henrique (org.), Desigualdade e pobreza no Brasil, p.40.
apud ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. 4. ed. São Paulo:
Moderna, 2004
 
3.3. O NEOLIBERALISMO E A GLOBALIZAÇÃO 
 Os tormentos causados pela hiperinflação e pela dívida fizeram o Brasil 
ingressar com mais intensidade numa forte tendência da economia mundial 
conhecida como neoliberalismo. Essa teoria é muito parecida com a doutrina liberal 
de Adam Smith, porém, contextualizada à nova ordem mundial. Estão entre as 
propostas neoliberais: a desregulamentação dos mercados de trabalho e de bens de 
serviço; o questionamento do papel do Estado como aparato protetor das economias 
nacionais; a abertura econômica e financeira para o exterior; a privatização das 
empresas estatais; e a crença de que os imperativos de mercado são suficientes 
para promover o desenvolvimento econômico e social. 
 No Brasil, a partir do governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) o 
neoliberalismo se instalou com a promessa da “modernidade econômica”. 
Instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial, e o BID 
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) – controladas por países ricos, 
principalmente os EUA – traçaram um plano em 1989 denominado de Consenso de 
Washington. Esses órgãos pressionaram os países para acelerar as privatizações e 
enfraquecer os estados; sob argumentos de que as estatais não geravam lucros, 
 20 
estavam endividadas e eram propícias a corrupção, foi lançado o Programa Nacional 
de Privatização. A primeira empresa privatizada foi a Usiminas em 1991, e a política 
de desestatização permaneceu nos governos subseqüentes de Itamar Franco (1992-
1993) e ganhou status de “salvação da pátria” no governo de Fernando Henrique 
Cardoso (1994-2002). 
Paralelamente às privatizações o Brasil se abriu para o exterior “liberando” as 
importações e a entrada de capital estrangeiro na bolsa de valores. Com isso, os 
produtos importados passaram a invadir o mercado brasileiro, com a redução dos 
impostos de importação. A oferta de produtos cresceu e os preços de algumas 
mercadorias caíram ou se estabilizaram. Os efeitos iniciais destas medidas 
indicavam que o governo estava no caminho certo, ao exorcizar o ”fantasma” 
da inflação que havia atingido patamares elevados no final da década de 1980 e 
início da década de 1990, porém, todo esse processo pode ser visto como um 
remédio temporário e experimental. De fato o Plano Real e o controle da inflação 
surtiram efeito positivo na economia brasileira, mas, socialmente, o país ainda não 
havia “emplacado”. 
Essa visão de economia globalizada foi muito boapara os chamados países 
“centrais”, e mais uma vez na história, os países “periféricos” sofreram com alguns 
efeitos reversos. De acordo com Pablo Casanova: 
“Dez anos depois de neoliberalismo, confirmaram-se as hipóteses que 
previam nessa política os efeitos mais adversos para o Terceiro Mundo. É 
verdade que alguns sociais garantem que há uma “curva” que promete que 
tudo melhorará a longo prazo, depois de piorar a curto prazo. Mas nem dão 
evidências a respeito, nem existe, do ponto de vista lógico ou empírico, a 
mínima razão para pensar que o conjunto das medidas neoliberais levará 
ao desenvolvimento da humanidade e à solução dos problemas sociais do 
próprio mundo desenvolvido. Mas ainda, quando alguns políticos afirmam 
que ‘apostaram no neoliberalismo’, ocultam que, além disso, tendem a 
sujeitar-se às políticas traçadas pelo Banco Mundial e pelo Fundo 
Monetário Internacional.” (CASANOVA; 2002. p.50.). 
 
 21 
 Podemos inferir com Casanova (2002) que o neoliberalismo é diferente na 
teoria e na prática. O capitalismo global traçou e intensificou mecanismos 
considerados antiéticos por muitos especialistas. Tais como a prática de trustes, 
cartéis, monopólios e oligopólios, além da prática do dumping4. Deste modo, as 
grandes empresas internacionais, já consolidadas financeiramente, usaram destas 
artimanhas para acabar com a concorrência. O processo acelerado de abertura 
econômica, fez com que muitas empresas não conseguissem se adaptar às novas 
regras de mercado, levando-as à falência ou a vender seu patrimônio. Muitas 
transnacionais compraram essas empresas nacionais ou associaram-se a elas. Em 
apenas uma década as multinacionais mais que dobraram sua participação na 
economia brasileira. 
 Os recursos captados com o processo de privatização deveriam servir para 
diminuir a dívida pública (todas as dívidas do setor público, incluindo governo 
federal, estadual e municipal). Mas, seu objetivo foi inviabilizado em pouco tempo. A 
política de juros altos para conter a inflação e atrair investimentos externos levou a 
uma elevação da dívida em valores superiores aos conseguidos com a venda das 
empresas estatais. Somado a isso, problemas no preço de venda das empresas 
estatais e destino dado ao dinheiro arrecadado colocaram em xeque o processo de 
privatizações. Por exemplo, a Vale do Rio Doce foi “vendida” em 1997 pelo valor 
simbólico de R$ 3,3 bilhões. Valor irrisório se comparado ao lucro líquido da 
empresa no mesmo ano do leilão, R$ 12,5 bilhões, ou seja, mais de três vezes o 
valor de sua venda. 
 A ação da mídia também teve fator fundamental para a divulgação de um 
padrão de consumo global. Com enxurradas de propagandas, o EUA (principal 
 
4
 Dumping é a venda de produtos a preços inferiores a seus custos, com a finalidade de eliminar 
concorrentes e conquistar parcelas maiores de mercado. 
 22 
beneficiado do neoliberalismo) tentou mostrar ao mundo o sucesso de sua 
sociedade de consumo, o american way of life (modo de vida americano). Porém, 
mais uma vez, apenas parte da população teve acesso à festa do consumismo. 
 
4. REFLEXO DO CRESCIMENTO ERRÔNEO: A DESIGUALDADE SOCIAL 
4.1. O DESENVOLVIMENTO HUMANO 
Para analisarmos qual o reflexo de toda essa formação econômica brasileira 
deve-se, a priori, esclarecermos como se “mede” o desenvolvimento5 de um país. 
Não existe apenas um índice que traduza o quão desenvolvido um país é, com 
efeito, alguns índices são usados pelos especialistas para ilustrá-lo. Dentre eles 
serão abordados o Índice de Desenvolvimento Humano6 (IDH) em seus três eixos 
principais – IDH-Renda, IDH-Educação, IDH-Longevidade e o Índice de Gini7. Vale 
lembrar que a ONU (Organização das Nações Unidas) mudou a metodologia de 
cálculo de IDH no ano de 2010, portanto, para efeito de comparação só serão 
usados os índices anteriores a 2009. 
O gráfico 7 nos informa sobre a evolução do IDH no Brasil de 1995 a 2005, 
porém, este índice é uma média, logo existem sub-índices que “puxam” o IDH 
brasileiro para cima, como é o caso do IDH Renda. Se analisarmos em comparativo, 
traçando linhas entre os três sub-índices e a média geral (Gráfico 8), obteremos 
 
5
 A partir de agora, entenda-se por desenvolvimento um conjunto de fatores incluindo a questão 
social, não apenas o desenvolvimento econômico. 
6
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um índice que serve de comparação entre os países, 
com objetivo de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à 
população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais. O IDH vai de 0 
(nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, 
mais desenvolvido é o país. Este índice também é usado para apurar o desenvolvimento de cidades, 
estados e regiões. O IDH é um índice geral e sintético, não abrange todos os aspectos de 
desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar 
no mundo para se viver". 
7
 O índice de Gini mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a 
renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os 
indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém 
toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). 
 23 
certa diferença no quesito IDH-Renda em 1980, por exemplo. O IDH-Renda eleva a 
média (0,685), escondendo assim a baixa qualidade da educação (0,577) e a pouca 
longevidade (0,531). Ainda assim, sabe-se que neste período, apesar do IDH-Renda 
apontar 0,947, grande parte da população não usufruía desta expressiva renda. 
Gráfico 7: Evolução do IDH no Brasil
1975 - 2005
Fonte: PNUD
 
 
1970 1980 1991 2000 
IDH - Média 0,462 0,685 0,696 0,766 
IDH - Renda 0,444 0,947 0,681 0,723 
IDH - Longevidade 0,44 0,531 0,662 0,727 
IDH - Educação 0,501 0,577 0,745 0,849 
0 
0,1 
0,2 
0,3 
0,4 
0,5 
0,6 
0,7 
0,8 
0,9 
1 
Gráfico 8: Evolução dos Sub-índices do IDH no Brasil 
Fonte: PNUD/IPEADATA 
 24 
 Ainda existem outros fatores a se considerar, a evolução do índice de Gini é 
um deles (Gráfico 9). Durante a década de 1980 este indicador registrou a sua maior 
elevação, consequentemente, houve concentração de renda no país. Os pobres 
foram o que mais sentiram os efeitos das crises, enquanto os ricos (brasileiros e 
estrangeiros) “extorquiam” nossas riquezas. Fazendo analogia com outros países, 
nota-se que a “extorsão” (não forçada – foi por decisões governamentais) sofrida 
pelo Brasil, refletiu no quadro mundial. Em 2009 o Brasil ocupava a 75º posição no 
Ranking mundial do PNUD com índice de 0,813 atrás de países como Trinidad e 
Tobago (0,837), México (0,854) e Argentina (0,866); este último seguiu a risca o 
plano neoliberal traçado pelo FMI e seus aliados. 
0,51
0,52
0,53
0,54
0,55
0,56
0,57
0,58
0,59
0,6
0,61
0,62
0,63
0,64
0,65
19
76
19
77
19
78
19
79
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
92
19
93
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
Gráfico 9: Evolução do Índice de Gini no Brasil
Fonte: PNUD
 
É notória a queda de Gini pós-1989, mas, ainda assim é alto comparado com 
outras nações. Em 2006, o Brasil era o 10º mais desigual numa lista com 126 
países e territórios com 0,580. Apesar dos avanços, o Brasil ainda é mais desigual 
do que todos os países com IDH (Índice de DesenvolvimentoHumano) superior ao 
 25 
seu — o que mais se aproxima é o Chile, que tem um índice de Gini de 0,571. Além 
disso, em apenas oito países os 10% mais ricos da população se apropriam de uma 
fatia da renda nacional maior que a dos ricos brasileiros. No Brasil, eles abocanham 
45,8% da renda, menos que no Chile (47%), Colômbia (46,9%), Haiti (47,7%), 
Lesoto (48,3%), Botsuana (56,6%), Suazilândia (50,2%), Namíbia (64,5%) e 
República Centro-Africana (47,7%). 
 
4.2. A CONCENTRAÇÃO DE RENDA. 
 Toda essa desigualdade é mais bem exposta quando colocamos a 
porcentagem de renda apropriada por faixas da população (Gráfico 10). Nota-se que 
em aquele velho bordão de “enquanto muitos têm pouco, poucos têm muito” volta à 
cena. Em se tratando de Brasil os 80% mais pobres detém apenas 32% da renda, 
conseguintemente, os 20% mais ricos detém quase 70% de toda a renda. Em outras 
palavras, se cem pessoas tivessem R$ 100 para dividir entre si, 20 pessoas 
dividiriam cerca R$ 70; enquanto as outras 80 pessoas dividiriam cerca de R$ 30. 
Esse é o crescimento concentrador. 
32%
68%
Brasil
80 % mais pobres
20 % mais ricos
29%
71%
Pernambuco
80 % mais pobres
20 % mais ricos
28%
72%
Recife
80 % mais pobres
20 % mais ricos
Gráfico 10: porcentagem de renda apropriada por faixas da população, 2000
Fonte: PNUD/Atlas do Desenvolvimento Humano
 
 26 
 O pior é que esta concentração de renda aumentou entre 1991 e 2000, como 
podemos observar na tabela 3. 
 
Local
% da renda 
apropriada pelos 80% 
mais pobres, 1991
% da renda 
apropriada pelos 80% 
mais pobres, 2000
% da renda 
apropriada pelos 20% 
mais ricos, 1991
% da renda 
apropriada pelos 20% 
mais ricos, 2000
Brasil 32,888 31,942 67,112 68,058
Pernambuco 30,102 29,159 69,898 70,841
Recife 28,34 27,42 71,66 72,58 
Tabela 3: comparação porcentagem de renda apropriada por faixas da população
1991 e 2000
Fonte: PNUD/Atlas do Desenvolvimento Humano
 
5. AVANÇOS RECENTES E A MUDANÇA NA ESTRUTURA DE CLASSES. 
Como já vimos anteriormente, os neoliberais transformaram o mercado em 
uma “divindade”, considerando que ele (por si só) é capaz de promover o 
desenvolvimento econômico, político e social; como se o subdesenvolvimento fosse 
uma fase anterior ao desenvolvimento. Contrapondo-se a isso, Furtado (1961) 
afirma que o subdesenvolvimento é um processo histórico e autônomo e não uma 
etapa pela qual, necessariamente, tenham passado as economias que já 
alcançaram grau superior de desenvolvimento. 
Paulo Roberto de Almeida mostra que o Brasil é um país desenvolvido, só 
que ainda não se deu conta disso: 
“O Brasil completou seu processo de desenvolvimento no final dos 
anos 1980, como resultado do acabamento de sua industrialização básica 
– que se arrastava desde o primeiro terço do século XX, pelo menos –, dos 
avanços obtidos no ramo intermediário e em etapas mais sofisticadas do 
aparato produtivo (a exemplo da indústria aeronáutica) e da criação de um 
sistema de pesquisa e desenvolvimento moderno e razoavelmente 
integrado (ainda que apresentando carências operacionais na fase de 
transposição da pesquisa em tecnologia produtiva). Esse itinerário de 
acabamento do processo industrializador completou nosso 
desenvolvimento material e ele foi, do ponto de vista técnico e empresarial, 
razoavelmente bem sucedido. As insuficiências sociais – e elas são 
gritantes – do processo de desenvolvimento econômico e tecnológico não 
 27 
têm tanto a ver com a ausência de desenvolvimento, quanto com aspectos 
peculiares de nossa estruturação enquanto sociedade. Por equívocos de 
nossas elites – monárquicas e republicanas – persistimos no alijamento da 
maior parte do povo dos benefícios da educação universal e do ensino 
técnico de boa qualidade, assim como insistimos num processo de 
redistribuição de ganhos eminentemente concentrador, o que nos faz 
exibir, atualmente, um coeficiente de Gini quase duas vezes superior à 
média mundial. Mas isso tem pouco a ver com insuficiências supostas ou 
reais do processo de desenvolvimento, e sim com deformações 
institucionais e políticas que precisariam ser corrigidas, sem que isso 
implique em prejuízo do aparato produtivo já consolidado.” (ALMEIDA; 
2004, p.2.). 
 
Almeida (2004) salienta ainda que o país tem um número “excessivo” de 
pobres, e que o Brasil poderia, dadas as políticas corretas, absorver esse excedente 
de pobres e miseráveis, de maneira a integrá-los na economia de mercado, a forma 
civilizada e correta de criar e distribuir riquezas. 
Porém, o quadro de desigualdades e inclusão social, melhoria na renda e 
educação já começou a mudar8. Nota-se que o Governo Lula (2003-2010) conseguiu 
modificar o quadro de desigualdade e melhorar a distribuição de renda, somente a 
partir de 2003 é que o índice de Gini começa a despencar favoravelmente em 
termos mais significativos (Gráfico 11). 
0,5
83
2
0,6
06
8
0,5
99
4
0,5
99
4
0,6
01
9
0,6
00
4
0,6
00
1
0,5
93
7
0,5
93
7
0,5
95
7
0,5
88
6
0,5
83
0,5
71
1
0,5
68
2
0,5
62
3
0,5
55
0,5
48
6
0,5
44
8
0,51
0,52
0,53
0,54
0,55
0,56
0,57
0,58
0,59
0,6
0,61
0,62
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Gráfico 11: Evolução do Índice de Gini no Brasil
1992 a 2009
Fonte: CPS/FGV a partir de microdados do PNAD/IBGE 
 
 
8
 Deve-se ficar claro que abordaremos os temas de forma apartidária, ou seja, sem 
identificações com partidos políticos. Apesar dos números apresentarem melhoria a partir de 2003, 
algumas políticas públicas já vinham sendo instaladas anteriormente. Mas, analisando os dados, o 
Governo Lula é um marco histórico na questão socioeconômica brasileira. 
 
 28 
 
O Governo Lula é um misto das teorias neoliberais com as intervenções 
estatais na sociedade e na economia, talvez tenha sido este o diferencial para o país 
não sofrer tanto com a grave crise do capitalismo que se espalhou pelo mundo em 
2008/2009 tendo origem no “cassino de apostas” que foi feito pelo setor imobiliário e 
financeiro dos EUA. 
Segundo estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) baseado nos dados da 
Pnad/IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Cerca de 32 milhões de 
brasileiros ascenderam de classe social entre 2003 e 2008, e passaram a integrar as 
classes A, B e C. A melhoria na renda do brasileiro foi um dos pontos fundamentais 
para que o potencial de consumo aumentasse 14,98% neste intervalo de tempo, 
acrescenta o estudo. Para o IBGE esta é a tabela que melhor caracteriza os limites 
das classes sociais brasileiras: 
Classes Inferior Superior
Classe E R$ 0 R$ 705
Classe D R$ 705 R$ 1126
Classe C R$ 1126 R$ 4854
Classe B R$ 4854 R$ 6329
Classe A R$ 6329 R$ ∞
Tabela 4: Definição de classes econômicas 
Limites da renda domiciliar total de todas as fontes
Fonte: CPS/FGV a partir de microdados do PNAD/IBGE 
 
Ao mesmo tempo, 20,9 milhões de pessoas deixaram a parcela mais pobre 
da população, migrando das classes D e E. Somente na classe E, deixaram de 
figurar 19,5 milhões de brasileiros, o que representou uma retração acumulada de 
43% entre 2003 e 2008. Somente de 2007 para 2008, 3,8 milhões de pessoas 
deixaram a classe E. Somada a classe D, foram 4,6 milhões de brasileiros. Já a 
 29 
classe C, designada também como classe média, ganhou mais 5,2 milhões de 
pessoas em 2008. Já a classe AB teve entrada de 1,7 milhões de pessoas. 
Lembrando que desde 2008 o mundo vivia a, considerada por muitos, pior crise da 
história do capitalismo. O Gráfico12 demonstra perfeitamente como a “divisão” de 
classes mudou o perfil da sociedade brasileira. Nota-se que em 1993 cerca de 63% 
dos brasileiros pertenciam às classes D/E (pobres e miseráveis), já em 2005 o Brasil 
se torna um país onde a maioria pertence às classes A, B, ou C. Em 2009 a linha 
ascendente mostra que mais de 60% dos habitantes eram dos mais elevados níveis 
sociais. 
37
,8
7
36
,9
7
45
,0
4
45
,5
1
45
,8
5
46
,1
8
44
,6
3
46
,6
8
47
,1
8
45
,9
2 48
,1 50
,4
54
,0
1
56
,3
1 58
,9
2
60
,3
462
,1
3
63
,0
3
54
,9
5
54
,5
54
,1
5
53
,6
2
55
,9
1
53
,6
2
53
,0
5
54
,8
5
52
,5
6
49
,8
6
45
,6
7
43
,3
7
40
,3
7
38
,9
4
30
35
40
45
50
55
60
65
Gráfico 12: Evolução das Classes Econômicas
(% da população)
Classes AB/C
Classe D/E
Fonte: CPS/FGV a partir de microdados do PNAD/IBGE 
 
Alguns fatores levaram o país a apresentar essa melhoria significativa nos 
números sociais e econômicos (ao mesmo tempo, coisa que não acontecia na época 
pré-Lula) e evoluir a renda média da população (Gráfico 13). Dentre muitos, 
podemos destacar a intervenção do Estado na economia e na sociedade com os 
Programas Fome Zero, Bolsa Família e Programa de Aceleração do Crescimento 
 30 
(PAC). O crescimento econômico criou empregos e promoveu aumento real de 
salário e um amplo programa social — o Bolsa Família — tem feito transferências de 
renda para mais de 12 milhões de famílias que vivem na pobreza extrema ou 
moderada para ajudar na alimentação, saúde e educação, criando benefícios hoje e 
bases para o futuro. Com isso aumenta o poder de consumo da população, e a 
chamada “nova classe média” (Classe C) brasileira passou a comprar produtos e ter 
acesso a serviços que antes eram exclusividade de uma minoria rica da população 
como computadores, celulares, passagens aéreas, casa própria, shoppings, etc. O 
índice sintético de potencial de consumo aumentou 22,6% entre 2003 e 2008, 
enquanto o índice de geração de renda subiu 31,2%. A importância da “nova classe 
média” se deve, também, ao fato de que esta é a classe dominante do ponto de vista 
econômico, concentrando mais de 46,24% do poder de compra dos brasileiros em 
2009, superando as classes AB com 44,12%. 
38
5,
5
40
7,
95 45
7,
32 5
06
,7
51
4,
75
51
8,
96
52
7,
24
48
3,
99
49
5,
09
50
6,
53
50
7,
72
47
7,
89
49
2,
45
52
4,
75 57
2,
69
58
5,
5
61
7,
65
63
0,
25
0
100
200
300
400
500
600
700
Gráfico 13: Evolução da Renda Média – R$ de 2009
Fonte: CPS/FGV a partir de microdados do PNAD/IBGE 
 
 31 
A taxa de redução da pobreza de um país se dá em função, principalmente, 
de dois eixos: o crescimento econômico e a parcela desse incremento apropriada 
pelos pobres. Em outras palavras, quanto maior a parcela apropriada pelos pobres, 
maior será a eficiência do país em transformar crescimento em redução da pobreza. 
E foi isso que o Governo Lula fez, conseguiu conciliar crescimento econômico com 
distribuição de renda. Apesar de ser taxado de assistencialista, o Bolsa Família, na 
sua forma de implantação, melhorou também outro entrave para o crescimento 
brasileiro: a educação. Pois, para receber o benefício a família deve ter os filhos 
matriculados em uma escola com alto índice de frequencia escolar. A qualidade da 
educação não é muito boa comparada a índices internacionais, mas, o tempo de 
permanência nas escolas vem evoluindo ascendentemente (Gráfico 14). 
4,
98 5
,1
1 5,
27 5
,4
2 5,
5
5,
64 5,
72
6 6,
17 6
,3
1 6,
47 6,
58
6,
8 6,
95 7
,1
3 7,
27
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
7,5
Gráfico 14: Evolução (em anos) da educação média do 
brasileiro
25 anos ou mais
Fonte: CPS/FGV a partir de microdados do PNAD/IBGE 
 
 32 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Toda essa conturbada formação econômica brasileira refletiu em um sério 
problema: a desigualdade social. Vítimas de um processo de crescimento 
excludente e concentrador, a maior parte da população ficou fora dos milagres e 
espetáculos do crescimento. 
A partir de meados da década de 1960 e durante o período militar o governo 
brasileiro, visando transformar o país em uma grande potência, persistiu numa 
conduta voltada para o crescimento econômico acelerado. Contudo, nessa busca 
obcecada para tornar-se um país do então denominado “Primeiro Mundo”, o Brasil 
deixou de lado os problemas sociais. 
Enquanto os índices econômicos pareciam crescer favoravelmente, os índices 
sociais ficavam piores. Com as crises, principalmente a da década de 1980 (a 
década perdida), foi perdendo força a teoria de que o crescimento econômico, por si 
só, seria capaz de eliminar a pobreza e corrigir as desigualdades sociais. 
 Deste modo, deve-se entender que algumas conseqüências da exclusão 
(apesar das melhorias recentes) ainda permanecem no Brasil como a violência, a 
favelização, o êxodo rural e o problema das desigualdades regionais. Este último, 
periodicamente vem à tona com teorias separatistas e preconceituosas referente às 
diferenças gritantes existentes, por exemplo, entre o Nordeste e o Sudeste. 
No Brasil a exclusão social fez-se na educação, na habitação, na saúde, 
enfim, nas oportunidades. Existe um muro (às vezes imaginário, em números, 
índices e indicadores; às vezes concreto – de concreto) que separa os brasileiros. 
Recentemente criou-se uma nova esperança de um futuro melhor para o Brasil, no 
qual a pobreza ainda vai persistir, mas a expectativa é de um país mais justo, 
 33 
próspero e de igualdades. E, talvez, o velho bordão mude e passe a ser muitos têm 
muito e poucos têm pouco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
REFERÊNCIAS 
 
ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios 
socioespaciais. 4 ed. São Paulo: Moderna, 2004. 
AFONSO, Catarina; MARAVILHA, Joana; MELO, Nelson. 10 princípios básicos da 
economia: o estudo da economia guia-se por algumas ideias. Disponível em: 
<http://prof.santana-e-silva.pt/economia_e_gestao/trabalhos_06_07/word/Dez%20 
%princípios%20básicos%20da%20Economia.pdf> Acesso em: 13 de Maio de 2010 
ALMEIDA, Paulo Roberto. O fim do desenvolvimento: agora só falta melhorara 
socialmente o Brasil. Disponível em: <http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1353Fi 
mDesenv.pdf> Acesso em: 5 de novembro de 2010. 
BASTOS, Carlos Pinkusfeld; D’ÁVILA, Júlia Galarza. O debate do desenvolvimento 
na tradição heterodoxa brasileira. Revista de Economia Contemporânea, Rio de 
Janeiro, v. 13, n. 2, p. 173-199, maio/ago 2009. 
BARROS, Ricardo Paes; MENDONÇA, Rosane. A evolução do bem-estar e da 
desigualdade no Brasil desde 1960. Rio de Janeiro: IPEA, 1992. 
COELHO, Marcos de Amorim; SOARES, Lyvia Terra. Geografia geral e do Brasil. 
São Paulo: Moderna, 2007. 
FGV. A nova classe média: o lado brilhante dos pobres. Disponível em: 
<http://www.fgv.br/cps/ncm/> 
FURTADO, Celso (1959). Formação econômica do Brasil. 34 ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2007. 351 p. 
______________. Brasil: A construção interrompida.3 ed. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1992. 87 p. 
 35 
_____________ (1972). Análise do “modelo” Brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1975. 122 p. 
_____________ (1961). Desenvolvimento e subdesenvolvimento. 2 ed. Rio de 
Janeiro: Fundo de Cultura, 1963. 
GENTILI, Pablo. (Org.). Globalização excludente:desigualdade, exclusão e 
democracia na nova ordem mundial. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 
IBGE. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br> 
IPEADATA. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br> 
JÚNIOR, Caio Prado (1945). História econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1981. 
PNUD; ESM, Consultoria. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Software, 
2003. 
PNUD; ESM, Consultoria. Atlas do desenvolvimento humano no Recife. Software, 
2005. 
TAVARES, Maria da Conceição. (Org.) Celso Furtado e o Brasil. São Paulo: 
Fundação Perseu Abramo, 2000. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Normas para a elaboração de 
trabalhos de conclusão de curso de Licenciatura em Geografia. Recife, 2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 36 
APÊNDICE A 
PLANEJAMENTO DO ENSIDO 
PLANO DE AULA 
 
 
 
Disciplina: Geografia 
Professor: Moysés da Paz Barreto Sobrinho 
Série / Faixa Etária: 2ª Série do Ensino Médio / 14 – 16 anos 
Data: 14/12/2010 
Assunto: Brasil: paradoxos entre o crescimento econômico e a desigualdade social 
 
Objetivos 
 
Conceituais: 
- Detectar os fatores histórico-geográficos nas 
sociedade brasileira que levaram ao atual quadro de 
desigualdades; 
- Analisar as conseqüências desses fatores; 
 
Procedimentais: 
-Desenvolver pesquisas sobre o tema e compartilhar 
as informações coletivamente; 
-Aprender formas de aproximar-se das informações 
para formulação de hipóteses; 
 
Atitudinais: 
-Conscientizar-se dos problemas sociais vigentes no 
Brasil. 
-Aprender a conviver com eles na perspectiva de sua 
superação. 
 
Conteúdos 
 
Panorama Político e socioeconômico do mundo 
contemporâneo. 
 
Brasil: globalização, nova ordem mundial e 
desigualdades sociais. 
 
Distribuição do Tempo 
 
 
1) Reflexão inicial, apresentação e análise de 
música e de gravuras, levantando 
questionamentos: 10 minutos 
2) Explanação dialogada do tema: 30 minutos 
3) Procedimentos adicionais (demonstração sobre a 
realização dos exercícios de fixação): 3 minutos 
4) Conscientização final utilizando um poema de 
autor desconhecido: 2 minutos 
 
 
 37 
Procedimentos 
Metodológicos 
Atividades 
-Exibição de Música 
-Análise de imagens 
-Exposição do tema 
-Poema de conscientização. 
Recursos 
de Ensino 
-Música e Violão; 
-Livro Didático; 
-Data-show; 
-Computador; 
-Quadro branco; 
Procedimentos de 
Avaliação 
-Observação da participação do aluno. 
-Pesquisa sobre as desigualdades nas Regiões 
Político-Administrativas de Recife-PE. 
-Uso do Atlas do Desenvolvimento Humano no 
Recife 
 
Bibliografia 
Para o aluno: 
 
ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil: 
contradições, impasses e desafios socioespaciais. 4 
ed. São Paulo: Moderna, 2004. 
 
COELHO, Marcos de Amorim; SOARES, Lyvia 
Terra. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: 
Moderna, 2007. 
 
Para o professor: 
FURTADO, Celso (1972). Análise do “modelo” 
Brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1975. 122 p. 
 
BASTOS, Carlos Pinkusfeld; D’ÁVILA, Júlia Galarza. 
O debate do desenvolvimento na tradição 
heterodoxa brasileira. Revista de Economia 
Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 173-
199, maio/ago 2009. 
 
GENTILI, Pablo. (Org.). Globalização excludente: 
desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem 
mundial. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 
 38 
APÊNDICE B – ATIVIDADE EM GRUPO 
 
 
1. Usando o Software Atlas do Desenvolvimento Humano do Recife, escolha uma 
das seis Regiões Político-Administrativas e colete dados e elabore uma pesquisa 
sobre as desigualdades, analisando o IDH, PIB per Capita, Índice de Gini e outros 
que julgar necessário. Em seguida, faremos a comparação com os demais grupos 
para analisar as diferenças encontradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 39 
F
o
to
 d
is
p
o
n
ív
e
l 
e
m
: 
:h
tt
p
:/
/1
.b
p
.b
lo
g
s
p
o
t.
c
o
m
/_
E
K
Y
z
O
d
v
m
rN
8
/T
G
U
0
W
Q
c
w
5
iI
/A
A
A
A
A
A
A
A
A
F
w
/x
W
M
U
d
9
q
K
tj
Y
/s
1
6
0
0
/d
e
s
ig
u
a
ld
a
d
e
_
s
o
c
ia
l.
jp
g
 
 
ANEXO A – A DESIGUALDADE EM FOTOS 
 
 
Foto 1: Favela em São Paulo-SP, ao fundo um dos hotéis da rede Hilton, 2005 
 
 
 
Foto 2: Favela de Paraisópolis em paradoxo com o bairro do Morumbi, São Paulo-
SP, 2005 
 
 
 
F
o
to
: 
T
u
c
a
 V
ie
ir
a
 
 40 
F
o
to
: 
J
o
n
h
 A
n
d
e
rs
o
n
 
 
 
Foto 3: Contraste entre uma grande favela e um dos cartões postais do Rio de 
Janeiro-RJ, 2009 
 
Foto 4: Palafitas na favela “Abençoada por Deus” no bairro da Torre, Recife-PE 
F
o
to
: 
H
e
it
o
r 
S
a
lv
a
d
o
r 
 41 
F
o
to
 d
is
p
o
n
ív
e
l 
e
m
: 
h
tt
p
:/
/w
w
w
.n
e
g
o
c
io
s
p
e
.c
o
m
.b
r/
fo
to
s
/b
lo
g
/s
h
o
p
p
in
g
.j
p
g
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto 5: Shopping Center Recife, ao fundo Favela do Entra-Apulso, Recife-PE, 2009.

Outros materiais