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ARUSKA MICHELY TAVARES MESQUITA CARVALHO DERMATOFITOSE POR MICROSPORUM CANIS BRASÍLIA 2010 ARUSKA MICHELY TAVARES MESQUITA CARVALHO DERMATOFITOSE POR MICROSPORUM CANIS Monografia apresentada para a conclusão do Curso de Pós- graduação Latu sensu em Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos Animais Orientador: Prof. Dr. Manoel Silva Neto BRASÍLIA 2010 iii Aruska Michely Tavares Mesquita Carvalho DERMATOFITOSE POR MICROSPORUM CANIS Objetivo: Demonstrar de que forma o agente manifesta a doença que pode ser transmitida e tratada. INSTITUTO BRASILEIRO DE POS GRADUAÇÃO QUALITTAS Curso de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais Data de aprovação:______de ___________________de 20______ _______________________________ Membro _______________________________ Membro _______________________________ Professor Orientador, Dr. Manoel Silva Neto iv RESUMO CARVALHO, Aruska M.T.M. Dermatofitose por Microsporum Canis. 2010. 34fls. Instituto Qualittas de Pós- Graduação, Brasília, 2010. Dermatofitose é uma doença cutânea de natureza fúngica que acomete o ser humano e os animais atingindo as estruturas queratinosas da pele, pêlo e unhas. É favorecida pelo clima, nos paises tropicais e subtropicais. Os causadores da dermatofitose são fungos do gênero Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton, classificados em antropofílicos, geofílicos e zoofílicos. Os três fungos ceratinofílicos são Microsporum canis, Microsporum gypseum, e Trichophyton mentagrophytes. O Microsporum canis é o principal responsável pela maioria das afecções dermatofiticas em cães, gatos e seres humanos. Os gatos são considerados carreadores assintomáticos do M. canis devido à adaptação do fungo a essa espécie. Os sinais característicos são áreas circulares escamosas de alopecia com ou sem formação de crosta, nos cães e gatos. Por se tratar de uma zoonose quando causada por M. canis sua característica em humanos é variável e a maioria ocorre como uma lesão circular com a borda elevada em áreas do corpo que entram em contato com os animais infectados. O diagnostico baseia-se em uma anamnese cuidadosa do histórico animal, achados de exame clinico quanto ao aspecto das lesões, exames complementares com luz de Wood, cultura fúngica, exames citopatológico, histológico e ou Meio Teste de Dermatófito – DTM. O tratamento tem objetivo de erradicar o fungo do ambiente e dos portadores doentes e assintomáticos através do corte do pêlo, descontaminação ambiental com desinfetantes, terapia antifúngica sistêmica e terapia antifúngica tópica específicos para combater as infecções por Microsporum canis. Palavras-Chave: Dermatofitose, Microsporum canis, Zoonose, Antifúngicos. ABSTRACT CARVALHO, Aruska M.T.M. Dermathophytos for Microsporum Canis. 2010. 34fls. Instituto Qualittas de Pós- Graduação, Brasília, 2010. Dermathophytosis is a cutaneous disease of fungal nature that attaches to humans and animals attacking the keratinous structures of the skin, hair and nails. In tropical and subtropical countries it is favored by the climate. The causes for Dermathophytosis are fungi of the genera Microsporum, Trichophyton and Epidermophyton, classified as anthropophilic, geophilic and zoophilic. The keratinophilic fungi are Microsporum canis, Microsporum gypseum, and Trichophyton mentagrophytes. The Microsporum canis is the main responsible for most of the dermathophilic affections in dogs, cats and humans. The cat is considered a non-symptomatic carrier of the M. canis because of the fungi adaptations in this species. The characteristics sings in dogs and cats are circular areas with alopecia scaling, with or without crust formation. For that said of a zoonose disease when caused by M. canis, the characteristics in humans are variable the majority cases are like a circulate lesion with the border elevate in areas of the body that are in contact with infected animals. The diagnosis is found in careful anamnese of the animals history, clinical examination founds of how the lesions aspect, complementary examination with wood lights, fungical culture, cytology examination, histology and or Dermathofyto Test Middle - DTM. The treatment has an objective to eradicate the fungi in the ambient of sick carriers and non-symptomatic by cutting off the fur coat of the animal, ambient decontamination with disinfectants, systemic therapy and topical antifungical therapy specific for combating infections for Microsporum canis. Keyword: Dermathophytosis, Microsporum canis, Zoonose, Antifungical. v LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura da Pele..............................................................................................................................12 Figura 2. A. Eritema anular e descamação com borda papulovesicular ligeiramente elevada em humano, causada pelo M. canis......................................................................................................................17 Figura 2.B. Lesão circular eritematosa causada por M. canis no antebraço de mulher de 45 anos, proprietária de gato persa dermatofítico...........................................................................................17 Figura 3. Lesão cutânea por dermatófito no couro cabeludo de uma criança................................................19 Figura 4. A. Filhote de Pastor Alemão com lesões inflamatórias anulares abaixo do olho e craniais a orelha, causada por M.canis.........................................................................................................................21 Figura 4.B. Querion no dedo de um cão causado pelo M. gypseum...............................................................21 Figura 5. A. Exsudato paroníquio amarronzado, leuconíquia e onicorrexe em um gato, causado pelo M. canis..................................................................................................................................................22 Figura 5.B. Gato persas de um ano de idade com pseudomicetoma dermatofítico causado por M.canis....22 Figura 6. Infecção por M. canis fotografada sob luz natural e sob a luz de Wood. Observe a fluorescência sob a radiação ultravioleta da luz de Wood. A fluorescência é uma propriedade de apenas parte (50-90%) das linhagens de M. canis................................................................................................26 Figura 7. Colônia macroscópica de M. canis...................................................................................................27 Figura 8. A. Morfologia microscópica característica do M. canis....................................................................28 Figura 8.B. Morfologia microscópica característica do M. gypseum...............................................................28 Figura 8.C. Morfologia microscópica característica do T. mentagrophytes. Os macroconídios e as espirais são estruturas microscópicas. As hastes do pêlo são muito maiores.............................................28 vi LISTA DE TABELA Tabela 1 - Diferenças entre os importantes gêneros de dermatófitos.........................................................25 Tabela 2. Terapia tópica para dermatofitose................................................................................................30vii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..........................................................................................................................................v LISTA DE TABELAS........................................................................................................................................vi INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 8 1. DERMATOFITOSE – Microsporum canis ............................................................................................................. 9 2. PELE ............................................................................................................................................................................ 10 2.1 Estruturas da Pele ............................................................................................................................................. 10 2.2 Pêlo ....................................................................................................................................................................... 13 3. ETIOLOGIA ................................................................................................................................................................. 15 3.1 Agentes Infecciosos e seus Aspectos Epidemiológicos ........................................................................ 16 3.2 Carreadores Assintomáticos .......................................................................................................................... 17 4. ASPECTO ZOONÓTICO DA DERMATOFITOSE ................................................................................................ 19 5. PATOGENIA ............................................................................................................................................................... 20 6. ASPECTOS CLÍNICOS ............................................................................................................................................. 21 7. DIAGNOSTICO ........................................................................................................................................................... 23 7.1 Diagnostico Diferencial.................................................................................................................................... 24 7.2 Exames Complementares ............................................................................................................................... 24 8. TRATAMENTO ........................................................................................................................................................... 29 8.1 Medidas Auxiliares ............................................................................................................................................ 33 CONCLUSÃO ................................................................................................................................................................. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................... 36 8 INTRODUÇÃO A Dermatofitose é uma Doença de natureza fúngica que acomete as estruturas queratinosas da pele, pêlo e unhas dos animais. Os causadores da dermatofitose são três fungos ceratinofílicos - Microsporum canis, Microsporum gypseum, ou Trichophyton mentagrophytes. Sendo que o M. gypseum é adquirido do solo, geralmente um solo organicamente rico onde vivem como saprófitas, as infecções por Trichophyton podem ser adquiridas diretamente de outros animais, solo que esteja muito contaminado com escamas e pêlos infectados e o Microsporum canis é o principal responsável pelas afecções dermatofiticas em cães, gatos e seres humanos. Nos gatos o M. canis está mais bem adaptado o que torna essa espécie um carreador assintomático. As lesões características são áreas circulares escamosas de alopecia com ou sem formação de crosta, em cães e gatos, em humanos são variáveis e a maioria ocorre em áreas do corpo que entram em contato com animais infectados. O Exame realizado minuciosamente consiste em inspeção com lâmpada de Wood, que não deve ser tido como única forma de diagnostico, exame direto e a cultura que é indispensável para identificação da espécie patogênica. O tratamento consiste em terapia tópica e sistêmica com uso de antibióticos antifúngicos e banhos medicamentosos, bem como medidas higiênicas. O diagnostico de cura é dado após raspado de pele negativo a presença do M.canis. É importante que os médicos, e não somente os veterinários orientem os proprietários quanto à importância do tratamento, esclareçam a doença como sendo uma zoonose, medidas de prevenção e tratamento e que em hipótese alguma abandonem seus animais com a ilusão de estarem resolvendo um problema. 9 1. DERMATOFITOSE – Microsporum canis Latim “Tinea”, Inglês “Ringworm”, Francês “Teigne favique”, Espanhol “dermatomicosis”.(BEER, 1999). As dermatofitoses ou tinhas como também são conhecidas, são micoses cutâneas que afetam a pele e os fâneos, devido a uma infecção causada pelos Dermatophytes – Microsporum, Trichophyton ou Epidermophyton - que se caracterizam por sua adaptação aos tecidos que contêm queratina como a pele, fâneos, pêlos e unhas. (MORAILLON, 2004). 10 2. PELE A pele é o maior órgão do corpo, sendo uma barreira anatômica e fisiológica entre o animal e seu ambiente. Protege contra lesão física, química e por patógenos, e seus componentes sensoriais percebem calor, frio, dor, prurido, toque e pressão. Faz parte da regulação da temperatura corporal por meio dos pêlos, de sua regulação do suprimento sanguíneo cutâneo e da função das glândulas sudoríparas. Ajuda na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e é um reservatório de vitaminas, gordura, carboidratos, proteínas e outros materiais. A vitamina D é produzida na pele mediante estimulação pela radiação solar. A pele tem propriedades imunológicas, endócrinas e antimicrobianas. Os processos que ocorrem na pele (formação de melanina, vascularidade e ceratinização) ajudam a determinar a cor da pelagem e da própria pele. A cor e a produção de feromônio ajudam na identificação do animal e em sua camuflagem quando necessária. A pigmentação da pele também ajuda a prevenir lesões decorrentes da radiação solar. A flexibilidade, a elasticidade e a integridade da pele permitem o movimento e fornecem a forma e a aparência. A pele produz estruturas queratinizadas como os pêlos, as unhas ou garras e a camada córnea da epiderme. (RADOSTITS, 2002). A pele não é só um órgão com seus próprios padrões de reação; também é um espelho que reflete o meio interno e, ao mesmo tempo, o mundo caprichoso ao qual ele está exposto. (SCOTT, 1996). A espessura da pele varia nas diferentes espécies e conforme as partes do corpo podendo sofrer alterações com a procriação, sexo e idade. A cor da pele também varia muito, em geral ela é altamente elástica e resistente. A pele é ligada às partes subjacentes pelo tecido subcutâneo ou subcútis que consiste em tecido conectivo contendo fibras elásticas e gordura. A quantidade de tecido cutâneo varia enormemente; em alguns lugares ele é abundante, de modo que a pele pode ser levantada consideravelmente; em outra situação é está intimamente aderente às estruturas subjacentes. Bolsa subcutânea semprese desenvolve sobre as partes proeminentes do esqueleto onde ocorre muita pressão ou fricção, observado no olecrânio, coxa e tuberosidade calcânea. (GETTY, 1986). 2.1 Estruturas da Pele Pelo desenvolvimento embrionário, podemos diferenciar entre duas camadas principais da pele. As camadas externas desenvolvem-se a partir da ectoderme e são conhecidas como epiderme, enquanto as 11 camadas mais profundas são formadas do mesoderma, englobando o cório também chamado de derme e o subcutâneo.(KOLB, 1980). A epiderme está separada da derme pela membrana basal, sobre a qual fica o estrato germinativo, a camada de produção ativa de células acima dela e que contém melanócitos. A melanina é sintetizada dentro dos melanócitos e armazenada em organelas denominadas melanossomas, que passam dos melanócitos para os ceratinócitos e são responsáveis pela pigmentação da pele. A cor normal da pele também se deve aos eritrócitos nos vasos dérmicos superficiais, que podem transportar hemoglobina oxigenada ou reduzida e outros pigmentos, como caroteno. Acima do estrato germinativo encontra-se o estrato espinhoso que contém células de Langerhans, células com função imunológica. À medida que as células do estrato espinhoso migram para a superfície, tornam-se queratinizadas, morrem e ficam achatadas. Os ceratinócitos entram no estrato córneo, a camada morta mais externa da pele, e são esfoliados. (RADOSTITS, 2002). A derme é composta principalmente de fibras colágenas, densamente agrupadas. As fibras elásticas, que também estão presentes, tornam a pele flexível, capaz de voltar à forma primitiva após ser enrugada ou deformada. A derme é abundantemente vascularizada e inervada. Também é invadida por folículos pilosos e glândulas sudoríparas, sebáceas e outras, que crescem a partir da epiderme. (DYCE, 1997). O subcutâneo consiste em tecido conjuntivos frouxos, entremeados de gordura. Sua quantidade varia de acordo com a situação, sendo fino ou mesmo ausente onde o movimento é indesejável como sobre os lábios, pálpebras e tetas. É particularmente amplo em cães e gatos, cuja pele pode ser pinçada com facilidade em grandes pregas na maior parte do corpo. (DYCE, 1997). As glândulas da pele são de dois tipos: sudoríferas e sebáceas. As glândulas sebáceas são mais desenvolvidas nas raças de pêlos curtos e crespos. Elas são maiores e mais numerosas nos lábios, ânus, face dorsal do tronco e região esternal. As glândulas sebáceas são em grande parte associadas aos pêlos dentro dos folículos nos quais elas se abrem. Seus tamanhos variam muito e são de proporção inversa ao do pêlo. As maiores são vistas a olho nu e aparecem como pequenos corpos pálidos, amarelos ou marrons.(GETTY, 1986). As glândulas sebáceas pertencem às glândulas alveolares, de várias camadas com tipo de secreção holócrina, quando toda a célula glandular é perdida durante o processo de secreção. As glândulas sebáceas dos animais domésticos encontram-se espalhadas por toda a superfície cutânea, na maioria das vezes em 12 forma de glândulas do folículo piloso. Em regiões isoladas da pele como, por exemplo, nas pálpebras, prepúcio, entre outras, encontram-se glândulas sebáceas desembocando livremente na pele. As funções principais da secreção das glândulas sebáceas são conferir proteção da pele contra a umidade, contra a penetração de bactérias, e contra a evaporação.(KOLB, 1980). As glândulas sudoríparas são mais desenvolvidas nas raças de pêlos longos e finos. As maiores são encontradas nas almofadas digitais consistem em um tubo, cuja parte secretora mais inferior é enrolada na parte profunda do cório ou na subcútis para formar uma bola redonda ou oval. Glândulas espirais ocorrem na pele do períneo e nas bolsas paranais. No focinho, as glândulas estão ausentes ou são muito escassas. (GETTY, 1986). A pele possui uma quantidade razoável de vasos sanguíneos, no subcutâneo estão as artérias maiores das quais partem três regiões capilares. O sistema capilar do subcutâneo nutre o tecido conjuntivo e o tecido glandular; serve, ainda, para a chegada e transporte das substâncias aí armazenadas, principalmente da gordura neutra. Segue-se a esta uma outra região capilar situada na derme, que nutre as raízes pilosas e glândulas que terminam neste local. Os capilares da derme encontram-se circundados por leucócitos, células plasmáticas, macrófagos e histiócitos. A região capilar mais próxima à superfície se estende até os ápices dos corpos papilares e nutre o estrato germinativo e, assim, a epiderme.(KOLB, 1980). Figura 1. Estrutura da Pele. (GRANDJEAN, 2001) A PELE 1. Pêlo primário 2. Epiderme 3. Derme 4. Músculo eretor do pêlo 5. Gordura subcutânea 6. Glândula sebácea 7. Glândula sudorípara 8. Pêlo secundário 9. Papila 13 2.2 Pêlo Os pêlos recobrem quase toda superfície do corpo de mamíferos domesticados. É comum distinguir-se os pêlos ordinários que determinam a cor do animal, de uma variedade especial encontrada em alguns lugares. Entre esta estão os longos pêlos tácteis ao redor das pálpebras, narinas e olhos; os cílios; o traço da orelha externa; e as vibrissas das narinas. (GETTY, 1986). No cão os folículos pilosos se reúnem em grupos, que comportam um pêlo primário central, mais grosso e mais longo, e pêlos secundários que são inexistentes no filhote. (Figura 1) (GRANDJEAN, 2001). A densidade do pêlo depende da raça e da idade. Quanto mais frágil o pêlo, maior a densidade. O número de grupos foliculares é determinado desde o nascimento. Em compensação, nos jovens somente os pêlos principais ou pêlos mais macios estão presentes, os que dão essa fragilidade bem conhecida. A cor do pêlo é determinada geneticamente por processos de dominância de uma cor em relação a uma ou muitas outras. (GRANDJEAN, 2001). Existe uma atividade cíclica com a perda dos pêlos: é a muda que no cão ocorrem duas vezes por ano, originando a pelagem de verão e a pelagem de inverno. Essa sazonalidade é explicada pela atividade dos folículos pilosos, que se baseia em três fases: Anágeno: período de crescimento do pêlo e de sua bainha, o folículo se crava na derme. Sua duração é de aproximadamente 130 dias nos cães e 18 meses para o Galgo afegão.Catágeno: fase de repouso, o crescimento cessa e a bainha regride.Telágeno: o folículo se reduz até o orifício das glândulas sebáceas, a base do pêlo se retrai em cone e depois cai. Um outro pêlo entra em anágeno e utiliza o mesmo canal que seu predecessor. (GRANDJEAN, 2001). A muda ocorre progressivamente da parte posterior para a anterior do cão. A pelagem de inverno é bem mais espessa do que a do verão para proteger o animal durante o frio intenso. O principal determinante da muda parece ser o fotoperíodo. As mudanças de temperatura só intervirão quanto à densidade e a rapidez de renovação dos pêlos, mas não como fator principal do desencadeamento de mudas. (GRANDJEAN, 2001). Mesmo que os pêlos mudem, a pelagem de um cão mantém a sua cor, apesar do aparecimento de pelos brancos no focinho dos cães mais velhos. Não se deve esquecer que a 14 pelagem de um cão se mantém regularmente para evitar qualquer patologia. (GRANDJEAN, 2001). A parte dos pêlos acima da superfície da pele é a lança, enquanto a raiz esta situada em uma depressão chamada folículo piloso. Uma papila vascular se projeta no fundo do folículo e é coberto pela terminação expandida do ramo, o bulbo do pêlo. Os folículos pilosos estendem-se obliquamente dentro do cório a uma profundidade variada; no caso dos longos pêlos tácteis eles alcançam omúsculo subjacente. A maioria dos folículos possui pequenos músculos lisos conhecidos como os eretores do pêlo e suas contrações causam ereção do pêlo e compressão das glândulas sebáceas, uma ou mais das quais se abrem para dentro do folículo. (Figura 1) (GETTY, 1986). Com exceção dos caprinos a maioria dos animais apresenta os pêlos primários e secundários medulados. As hastes primárias se dividem em uma medula, o córtex e a cutícula. A medula é a parte mais interna do pêlo e composta de células achatadas de cima a baixo. O córtex, a camada média, consiste em células pigmentadas cornificadas. A cutícula, a camada mais externa do pêlo, é constituída por células achatadas, cornificadas anucleares. (RADOSTITS, 2002). Os folículos pilosos, sendo invaginações da pele, são compostos de uma parte epidermal central e uma lâmina periférica que corresponde em estrutura ao cório. O folículo dos pêlos tácteis tem paredes espessas que contêm seios venosos entre suas lâminas externa e interna. (GETTY, 1986). Uma função é desempenhada pelos pêlos sensitivos, que diferem dos pêlos de cobertura por meio de uma irrigação sanguínea mais ampla e maior provimento nervoso. Os nervos sensitivos que adentram a raiz do pêlo ramificam-se nas camadas celulares do folículo piloso, que contém muitos espaços sanguíneos cavernosos. Devido a estes seios sanguíneos encontrados no folículo piloso, estes pêlos também são denominados de "pêlos sinusais". O número e a disposição dos pêlos sinusais são característicos de cada espécie animal. Servem para a orientação no meio ambiente, sendo, portanto, encontrados em locais mais expostos ou mais possíveis de lesão do organismo, como, por exemplo, nas bochechas, lábios, supercílios, pálpebras, laringe e no nariz.(KOLB, 1980). 15 3. ETIOLOGIA A dermatofitose é uma infecção das células queratinizadas do estrato córneo, pêlos e unhas por fungos dos gêneros Microsporum, Trichophyton, ou Epidermophyton. O termo "tinha" é freqüentemente aplicado a infecções nessa categoria; nem sempre é descritivo das lesões, conforme ocorrem nos animais. A vasta maioria das dermatofitoses em animais de pequeno porte deve-se à infecção por uma de três espécies de fungos: Microsporum canis, Microsporum gypseum e Trichophyton mentagrophytes. A incidência da infecção por dermatófitos é relativamente baixa nos climas frios e temperados, mas é consideravelmente mais elevada nas regiões tropicais e subtropicais, onde há também uma incidência mais elevada de formas exuberantes da infecção.(WILKINSON, 1996). As dermatomicoses caracterizam-se pelo crescimento de microrganismos sobre ou no interior dos pêlos, no estrato córneo da epiderme nos folículos capilares, ou nas unhas. A infecção não se dissemina para estruturas mais profundas da pele. Com freqüência é mais fácil a visualização dos microrganismos no interior ou sobre os pêlos onde são observados dois tipos principais de crescimento: dermatófitos ectothrix, caracterizados por uma invasão miceliana no interior do pêlo, com artrosporos no lado externo do fio capilar e artrosporos endotrix, encontrados no interior do pêlo. Todos os patógenos animais são do tipo ectothrix. (CORRÊA, 1992). A epizootiologia do M. canis é mais complexa e de maior importância visto que os cães e os gatos são as maiores fontes de infecção destes dermatófito para os seres humanos.(HOSKINS, 1997). A contaminação se dá por passagem de um animal contaminado ou, a partir do solo, de esporos (artrósporos) para um carnívoro receptivo (ou para o homem). O contágio é direto ou indireto. (MORAILLON, 2004). Estes organismos podem estar presentes nos animais ou no ambiente (pêlos e caspas), mas também em escovas, pentes e na cama do animal. Os dermatófitos podem persistir em condições secas por até vários anos. Afora o contato direto, fontes importantes de infecção são os denominados portadores, que são animais sem lesões visíveis, mas que, ainda assim, conduzem o material infeccioso.(WILLENSE, 1998). Os fatores de receptividade favorecem no aparecimento das lesões após contaminação tais como o fungo mais ou menos patogênico para a espécie considerada; a espécie e a raça; a idade, principalmente em gatos com menos de 6 meses e os cães com menos de 1 ano que são parasitados; os gatos de pêlos longos (Persas) são predispostos a desenvolver uma tinha por M. canis, particularmente nos gatis; os 16 indivíduos imunodeprimidos vírus da leucemia felina (LFV), infecção pelo vírus da imunodeficiência felina (VIF) podem apresentar uma infecção severa por M canis. (MORAILLON, 2004). Algumas circunstâncias podem dar origem a infecções sistêmicas fúngicas, tais como a administração prolongada de antibióticos; radiação, terapia por esteróides, Câncer; Terapia imunossupressiva; Drogas citotóxicas, e Deficiências imunes: deficiências em células T, hipoplasia tímica e anergia. (CARTER, 1988). A presença de ectoparasitos é importante no estabelecimento e proliferação da doença em gatos, o que sugere uma relação simbiótica entre pulgas e dermatófitos zoofílicos. (MACIEL, 2005). 3.1 Agentes Infecciosos e seus Aspectos Epidemiológicos Os dermatófitos pertencem ao reino Fungi, filo Mycota. Aqueles que se apresentam em um estado somente assexuado ou imperfeito pertencem à classe Fungi imperfecti, ordem Monilíases, família Monilíaceae, gêneros Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton, cuja diferenciação é realizada de acordo com a forma dos macroconídios. Os dermatófitos em estado sexuado ou perfeito, pertencentes à classe Ascomycota, ordem Plectascales e família Gymnoascaceae, são reunidos nos gêneros Nannizzia e Arthroderma, que são as formas perfeitas dos gêneros Microsporum e Trichophyton, respectivamente.(MACIEL, 2005) A maioria dos casos é causada por uma das três espécies de fungos ceratinofílicos - Microsporum canis, Microsporum gypseum, ou Trichophyton mentagrophytes. A epizootiologia das duas últimas infecções é simples. O M. gypseum é adquirido do solo, geralmente um solo organicamente rico onde vivem como saprófitas. As infecções por Trichophyton podem ser adquiridos diretamente de outros animais, geralmente roedores, ou do solo que esteja muito contaminado com escamas e pêlos infectados, como ocorre dentro ou ao redor das tocas destes roedores. (HOSKINS, 1997). O M. canis é tido como o principal agente de dermatofitose e o de maior prevalência em cães e gatos, sendo o principal responsável por cerca de 15% das afecções dermatofiticas em seres humanos.(Figura 2) (MACIEL, 2005). Aproximadamente 70% dos casos de dermatofitose canina são causados por Microsporum canis, 20% por M. gypseum e 10% por Trichophyton mentagrophytes. Nos gatos, 98% são causados por M. canis, com M. gypseum e T. mentagrophytes responsáveis pelos demais casos.(FRASER, 1996). 17 Quanto à resistência, os dermatófitos são muito resistentes ao ambiente e aos desinfetantes, permanecendo endêmicos nas criações, principalmente os zoofílicos e geofílicos, que podem ser recuperados de instalações após mais de um ano de terem sido retirados os animais com tinhas. (CORRÊA, 1992). Figura 2. A. Eritema anular e descamação com borda papulovesicular ligeiramente elevada em humano, causada pelo M. canis. (SCOTT, 1996). B. Lesão circular eritematosa causada por M. canis no antebraço de mulher de 45 anos, proprietária de gato persa dermatofítico.(MACIEL, 2005). 3.2 Carreadores Assintomáticos Os gatos podem ser considerados reservatórios de M. canis, mas é questionável se esse microrganismo é parte daflora residente da pele e do pêlo ou somente um microrganismo passageiro. Uma explicação para isso é que existe um número muito maior de gatos com culturas fúngicas positivas para M. canis do que de animais que apresentem lesões tegumentares provocadas por esse agente. Por isso o gato é considerado um importante agente no ciclo epidemiológico do patógeno, sem diferença significativa quanto a sexo, comprimento de pêlo e flora fúngica da pele. (MACIEL, 2005). A proporção da população de gatos que abrigam o M. canis é variável o agente pode ser isolado da pele e da pelagem de 6,5 a 88% de animais clinicamente normais dependendo da região geográfica e da amostra estudada, mas a infecção é mais comum em gatos de rua do que em gatos caseiros 26,91. Esses animais são considerados portadores assintomáticos de M. canis, já que sua pelagem apresenta uma imagem da microbiota predominante de seu hábitat, dependente de fatores geográficos e socioeconômicos. (MACIEL, 2005). A a B b 18 O M. canis está mais bem adaptado ao gato onde as lesões variam. A apresentação mais freqüente é uma coleção focal de material descamativo semelhante a "cinza de cigarro", acompanhados por pêlos partidos, curtos e espetados. Outras apresentações são a infecção inaparente de pêlos individuais; áreas de pêlos partidos e zonas de alopecia; leve descoloração da pele; pápulas crostosas; foliculite ou, ocasionalmente, zonas severamente inflamadas de dermatite aguda. (SCOTT, 1996) 19 4. ASPECTO ZOONÓTICO DA DERMATOFITOSE Doenças causadas por fungos geralmente não assumem proporções epidemiológicas ou epizootiológicas. Algumas exceções são as dermatomicoses e raramente aspergiloses, histoplasmoses e criptococoses.(CARTER, 1988). Cerca 15% de todos os casos de dermatofitose em humanos são causados por M. canis, sendo a vasta maioria dessas infecções adquiridas dos gatos. Aproximadamente 50% de humanos expostos a gatos infectados, sintomáticos ou assintomáticos, adquirem a infecção. Em cerca de 30 a 70% de todas as criações com gatos infectados, no mínimo uma pessoa contactante torna-se infectada. As modificações cutâneas nas dermatofitoses de origem animal em humanos são variáveis e a maioria ocorre em áreas do corpo que entram em contato com o animal, como braços, couro cabeludo e tronco (Figura 3). (JUNIOR, < http://www.veterinariazen.hpg.ig.com.br/arch_dermatofitoses.htm >). Ocorre que pacientes com dermatopatias são aconselhados por seus médicos a se desfazerem de seus animais de estimação, mesmo sem a confirmação laboratorial do diagnóstico etiológico da doença, que é essencial na conduta profilática das dermatofitoses humanas. Assim, a interação entre médicos e médicos veterinários é necessária para a preservação tanto da saúde humana quanto da saúde animal, viabilizando a relação entre o ser humano e os animais domésticos sem prejuízo do equilíbrio social e ecológico do meio urbano. (MACIEL, 2005). Figura 3. Lesão cutânea por dermatófito no couro cabeludo de uma criança. (MACIEL, 2005). 20 5. PATOGENIA A infecção inicia-se em um folículo piloso em crescimento ou no estrato córneo, onde os conídios originam as hifas. As hifas penetram e invadem a haste do pêlo, tornando o frágil, e avançam em direção ao folículo enquanto o pêlo cresce. Os fungos não penetram a região mitótica viva do pêlo e quando o crescimento piloso termina, o crescimento fúngico também termina. As espécies importantes de dermatófitos produzem grupamentos de artrosporos ao longo da superfície externa do fio (tipo ectotrix) e não no interior da haste do fio (tipo endotrix).(FRASER, 1996). Quando um animal é exposto a um dermatófito, pode-se estabelecer uma infecção. A ruptura mecânica do estrato córneo facilita a penetração e a invasão dos folículos pilosos anagênicos. O pêlo é invadido tanto nas infecções ectotrix, como nas endotrix. A inflamação cutânea é devida às toxinas produzidas no estrato córneo que provocam uma espécie de dermatite de contato biológica. Os fatores do hospedeiro são mal documentados, mas a capacidade deste em montar uma resposta inflamatória desempenha um papel crítico na determinação do tipo de lesões clínicas produzidas e em terminar a infecção. As infecções dermatofiticas em cães e gatos sadios são autolimitantes. (SCOTT, 1996). A infecção por um dermatófito pode resultar em um estado de hipersensibilidade a um extrato do dermatófito. As lesões e a imunidade estão relacionadas a esta sensibilidade. As lesões vesiculares podem aparecer em várias partes do corpo como parte da reação alérgica geral. Elas resultam da propagação hematógena dos fungos ou seus produtos. Estas lesões não contêm o microrganismo, sendo assim denominadas de dermatofítides, lesões ou reações "id". Invasores secundários bacterianos tais como Staphylococcus aureus não são incomuns. As pústulas podem ser formadas nos folículos pilosos. (CARTER, 1988). Nos animais domésticos não existem diferenças aparentes nos sinais clínicos das infecções produzidas pelos diferentes dermatófitos. As lesões nos animais domésticos são geralmente caracterizadas por áreas circulares escamosas de alopecia com ou sem formação de crosta. Em cães e gatos, as lesões ocorrem freqüentemente na cabeça e extremidades. A cabeça e a cauda são os locais mais freqüentes em eqüinos e bovinos.(CARTER, 1988). 21 6. ASPECTOS CLÍNICOS Pouca ou nenhuma inflamação ou prurido é observado em infecções por M. canis, ao passo que o T. mentagrophytes e o M. gypseum produzem prurido e inflamação moderada. (FENNER, 2003). Em cães, há comumente uma dermatite inespecífica com formação de crostas e escamas e na maioria dos casos, há envolvimento folicular.A marca de alopecia circular, rapidamente expansiva e descamativa conhecida como lesão anular ("Ringworm") ocorre ocasionalmente. Os locais de predileção são a cabeça e as extremidades.(Figura 4. A). O envolvimento generalizado é menos comum, devido a infecções com M. gypseum e T. mentagrophytes. Em gatos persas, observa-se o envolvimento nodular da pele e subcútis subjacente, com infiltração pelos folhetos colagenosos intermusculares. M. canis pode ser isolado desses pseudomicetomas. (WILLEMSE). Um quérion é uma área circunscrita com foliculite supurativa e furunculose, onde ocorre uma infecção por elementos bacterianos e fúngicos, onde a lesão adquire aspecto inchado e pastoso de inflamação aguda, em que ocorra a transudação de material purulento.(Figura 4. B). (WILKINSON, 1996) Uma onicomicose, que é a infecção dermatofítica das unhas, causada por T. mentagrophyte, resulta em unhas ressecadas, quebradiças e deformadas. Em gatos, a manifestação clínica mais comum é uma alopecia maculosa (com um aspecto "comido de traça"), com pêlos partidos, que assumem um aspecto de "barba curta". Lesões mínimas, uma caspa pulvurulenta esparsa e eritema podem ser observados concomitantemente. (WILLEMSE) Figura 4. A. Filhote de Pastor Alemão com lesões inflamatórias anulares abaixo do olho e craniais a orelha, causada por M.canis. B. Querion no dedo de um cão causado pelo M. gypseum. (SCOTT, 1996). A B 22 Ao invadir a queratina ungueal, os dermatófitos podem torná-la frágil, facilmente quebradiça ou pulverulenta. A onicomicose (Figura 5. A) pode causar fragilidade e deformidades crônicas da unha, raramente ocorre em cães e gatos e geralmente está associada ao M. canis e ao T.mentagrophytes. Em ambas as espécies animais, a apresentação clinica pode ser de paroníquia assimétrica ou onicodistrofia. (MACIEL, 2005).O pseudomicetoma dermatofítico só foi relatado em gatos Persas; caracteriza-se por um ou mais nódulos subcutâneos freqüentemente ulcerados e com corrimento. Os nódulos ocorrem mais comumente sobre a parte dorsal do tronco ou na base da cauda (Fig. 5. B). Esses gatos podem possuir lesões dermatofiticas mais típicas e superficiais ou outras áreas do corpo ou podem estar clinicamente normais, exceto pelos nódulos. (SCOTT, 1996). Uma das hipóteses sugeridas na literatura é que elementos miceliais invadem tecidos circunvizinhos ao folículo piloso após seu rompimento, agregando-se e induzindo uma resposta imune. Uma subseqüente resposta granulomatosa ocorre como reação de hipersensibilidade ao dermatófito, resultando em deposição de material amorfo ao redor do fungo. Também é relatado em cães das raças chow chow e yorkshire terrier. Em humanos imunosuprimidos, os gêneros Microsporum e Trichophyton podem causar infecção subcutânea caracterizada por lesões nodulares no couro cabeludo. (MACIEL, 2005). Figura 5. A. Exsudato paroníquio amarronzado, leuconíquia e onicorrexe em um gato, causado pelo M. canis. (SCOTT, 1996). B. Gato persas de um ano de idade com pseudomicetoma dermatofítico causado por M.canis. (MACIEL, 2005). A B 23 7. DIAGNOSTICO O histórico animal quanto idade, estação do ano, tipo de dieta oferecida e o padrão de distribuição do problema fornece as informações necessárias para fazer o diagnóstico. (FENNER, 2003). A idade do animal no início do problema, quando muito jovem (antes dos 18 meses): Os diagnósticos prováveis incluem demodicose, dermatofitose, alergia alimentar, escabiose canina, sarna notoédrica, sensibilidade de contato e dermatite por mordedura de pulga. Um adulto jovem (1 a 6 anos): As condições prováveis incluem alergias (atopia, alergia alimentar, dermatite alérgica a pulgas). Já um adulto maduro (mais de 6 anos): Os diagnósticos prováveis incluem dermatose endócrina, doenças auto-imunes e neoplasia. (FENNER, 2003). Padrão de distribuição consiste em saber em que parte do corpo o problema começou e se ocorreu mudança desde então. Quando focal pode suspeitar de demodicose localizada ou dermatofitose; multifocal (pioderma, dermatofitose; pênfigo foliáceo); ou difusa (demodicose generalizada ou pioderma) Regional (atopia; alergia a pulga; displasia folicular do pêlo negro) e Simétrico (endócrino) ou assimétrico. (FENNER, 2003). Conforme Fenner (2003), é necessário determinar se o problema foi inicialmente apenas prurido sem dermatite (alergias) ou lesões foram observados primeiro, com o prurido desenvolvendo-se à medida que a dermatite progredia (pioderma, distúrbios auto-imunes). Perguntar sobre itens no ambiente (cama, tigela de plástico) que possam indicar dermatite de contato. Ambientes internos (carpetes, produtos de limpeza) versus externos (parasitas, vegetação, fertilizantes) podem oferecer pistas diagnósticas. Questionar o proprietário sobre tratamento anterior e resposta. Remédios e prescrições caseiras são igualmente importantes. Questionar cuidadosamente o proprietário sobre resposta anterior a corticosteróides e a antibióticos. Foram os antibióticos administrados sem esteróides, e, se o foram, qual foi a resposta (alergia versus pioderma como causa do prurido). Se outros animais ou pessoas da família foram acometidos pelo mesmo problema (Se estiverem, considerar causas infecciosas e parasitárias, como os dermatófitos ou escabiose.). As principais pistas para o diagnóstico podem estar nos resultados do exame físico através da avaliação do tegumento com vistas ao seguinte: Simetria das lesões (p.ex., apresentação bilateral envolvendo o tronco pode indicar distúrbio endócrino); Padrão de distribuição (p.ex., padrão caudal dorsal pode sugerir dermatite alérgica a pulgas) e Configuração das lesões (p.ex., linear, anular, serpiginosa). Mediante inspeção mais próxima, determinar se as lesões cutâneas predominantes são pápulas, pústulas ou 24 nódulos, refletindo processo patológico primário, ou crosta, escamas ou escoriações, que podem ter ocorrido como resultado do amadurecimento das lesões primárias ou traumatismo auto-infligido. (FENNER, 2003). Lembrar que a pele é quase sempre apenas espectadora inocente e que o problema principal pode ser atribuível a problemas mais profundos do que a pele. (SCOTT, 1996). 7.1 Diagnostico Diferencial Um detalhe importante no diagnostico diferencial é o colarete epidérmico associado a piodermatite superficial. No cão, a distribuição das lesões é aleatória, com menor tendência para a concentração na cabeça e face. No gato o diagnostico diferencial deve ser realizado quanto a queiletielose e em ambas as espécies em relação a demodicose.(WILKINSON, 1996). Em cães, a foliculite estafilocócica é muito mais comum do que a dermatofitose. Nos gatos, entretanto, a dermatofitose é mais comum do que a demodicose e a foliculite estafilocócica. Outras causas de áreas anulares de alopecia, crostas e inflamação variável incluem o pênfigo foliáceo e eritematoso, dermatite por Pelodera, hipersensibilidade à picada de pulgas, dermatite seborréica, dermatose pustular subcorneal e as várias foliculites eosinofilicas estéreis. Apesar de a alopecia areata produzir áreas anulares de alopecia, a pele alopécica parece, ao contrário, normal. Os quérions dermatofiticos podem parecer outros granulomas infecciosos ou por corpo estranho, dermatite acral por lambedura ou neoplasias, como histiocitoma, mastocitoma e linfoma. O pseudomicetoma dermatofítico deve ser diferenciado de outros granulomas infecciosos ou por corpo estranho, paniculite estéril e várias neoplasias. (SCOTT, 1996). 7.2 Exames Complementares O diagnóstico experimental baseia-se em quatro exames que são: o exame com lâmpada de Wood; o exame direto de pêlos e escamas; a cultura e biópsia cutânea, além de detalhada anamnese e cuidadoso exame clínico. (MORAILLON, 2004). O inquérito deverá determinar a queixa principal e os dados concernentes à localização da lesão original, seu aspecto, deflagração e velocidade de progressão. Deve se também, determinar o grau de prurido, contágio com outros animais ou pessoas, e uma possível influência sazonal. (MACHADO, <http://www.anclivepa-rs.com.br/boletim arquivo/boletim 35 htm/pag7.htm>). 25 Um simples, mas importante, exame auxiliar é o teste da Lâmpada de Wood. Este aparelho consiste de uma fonte de luz ultravioleta, que ao ser filtrada pelo óxido de níquel, produz, em alguns fungos, uma fluorescência amarelo-esverdeada, devido à presença do metabólito fúngico triptofano nos pêlos (Figura 6). Em medicina veterinária é útil para o diagnóstico do Microsporum canis, muito embora ocorra fluorescência somente em aproximadamente 50 % das vezes. (MACHADO, <http://www.anclivepa-rs.com.br/boletim arquivo/boletim 35 htm/pag7.htm>). O paciente deve ser examinado no escuro com uma lâmpada de Wood para determinar se a fluorescência está presente, observa-se na tabela 1 que não são todos os dermatófitos que fluorescem. (CARTER, 1988). Microsporum Trichophyton Algumas espécies fluorescem: M. canis regulamente M. gypseum fracamente ou quase nada A maioria não fluoresce Macroconídios ocorrem freqüentemente Os macroconídios são observados menos comumente. Alguns macroconídios são espinhosos Os macroconídios são de parede fina e não espinhoso Localização dos esporos: ectothrix Localização dos esporos: Ectothrix e endothrix Tabela 1 - Diferenças entre os importantes gêneros de dermatófitos. (CARTER, 1988). A lâmpada dever ser ligadapara aquecer por cinco a dez minutos antes, porque a estabilidade e intensidade dependem da temperatura. Os pêlos devem ser expostos durante três a cinco minutos, já que algumas cepas são lentas para demonstra coloração óbvia amarelo-esverdeada. Para reduzia o numero de resultados falso-positivo, é imperativo que as hastes individuais dos pêlos sejam vistas fluorescer, o que não ocorre em caspas e crostas ou em culturas de dermatófitos. A queratina, sabão, petróleo e outros medicamentos podem dar reação falso-positivas. Se ocorrer fluorescência nas pontas do pêlo o mesmo deve ocorrer na extremidade proximal dos pêlos extraídos do folículo, estes devem ser removidos com pinça e usados para inoculação em meio de cultura ou para exame microscópico. (SCOTT, 1996). O exame direto de raspado pode evidenciar, através de pêlos e caspas, hifas e artrosporos em 40 a 70% dos casos, e é evidência definitiva de dermatofitose. O material a ser enviado ao laboratório deve ser raspado dos bordos das lesões, pois é o local onde os fungos encontram-se em crescimento ativo. Não é necessário um raspado profundo uma vez que os fungo localiza-se no estrato córneo e nos pêlos. Além disso, a raspagem profunda deixará o material úmido, propiciando com isso o desenvolvimento de bactérias 26 e fungos saprófitas, dificultando o diagnóstico. As lâminas com raspado devem ser embrulhadas em papel limpo e seco, de modo a evitar a umidade durante o transporte. (JUNIOR, < http://www.veterinariazen.hpg.ig.com.br/arch_dermatofitoses.htm >). Figura 6. Infecção por M. canis fotografada sob luz natural e sob a luz de Wood. Observe a fluorescência sob a radiação ultravioleta da luz de Wood. A fluorescência é uma propriedade de apenas parte (50-90%) das linhagens de M. canis. (WILKINSON, 1996). Os artrosporos e as conídias de dermatófitos podem ser identificados citologicamente. Os pêlos arrancados da periferia de uma lesão são cobertos com hidróxido de potássio (KOH) a 10 – 20% em uma lâmina de microscópio para eliminar restos celulares, a lâmina é aquecida, mas não fervida e o pêlo examinado quanto à presença de dermatófitos. (NELSON, 2001). A despeito do encontro de artrosporos, o material é inoculado em meio dextrose ágar de Sabouraud (4% glucose, 1% peptona e 2% Ágar), pH = 5,6 (bacteriostático e seletivo) adicionado de agentes bactericidas como penicilina, tetraciclina (100mg/ml), gentamicina (100mg/ml), estreptomicina ou cloranfenicol (50mg/ml) e ciclo-hexamina (500mg/ml), substância redutora da velocidade de crescimento de fungos de rápido crescimento. Os dermatófitos reportados em cães e gatos geralmente crescem em aproximadamente quatro a sete dias, à temperatura de 25-28 °C', mas a cultura negativa deve ser observada por até 21 dias antes que o diagnóstico negativo seja confirmado. O exame deve ser realizado diariamente e, na evidência de contaminação, devem ser realizados microcultivos. (MACIEL, 2005). Constatado o crescimento de fungo, as colônias são examinadas quanto à morfologia, textura e pigmento, em seguida observa-se o micélio, que possui estruturas de reprodução assexual (macroconídios e microconídios) e outros materiais microscopicamente em uma solução aquosa de lactofenol azul de algodão. As principais características em uma macrocultura de M. canis é o crescimento rápido, micélio denso e 27 lanoso, rara superfície salpicada, centro amarelo-acastanhado, superfície da cultura marrom-amarela- alaranjada. (Figura 7). (CARTER, 1988). Figura 7. Colônia macroscópica de M. canis. (SCOTT, 1996). Nas características microscópicas. Observam-se as hifas tabicadas, cristas denteadas, raros pâmpanos e órgãos nodosos. Os Macroconídios são numerosos, fusiformes, de superfície verrugosa, 2-10 câmaras. Os Microconídios são esporádicos, piriformes e ovais, os Clamidósporos existem e a principal característica a ser observada são os macroconídios fusiformes. (Figura 8). (CARTER, 1988). O Meio Teste de Dermatófito (DTM) é muito útil para confirmar o isolamento de um dermatófito, auxiliando no diagnóstico inicial da doença. O DTM possui um indicador de pH que muda a cor do meio inicialmente âmbar para vermelho quando um dermatófito estiver crescendo. Infelizmente, outros fungos e também bactérias podem crescer no DTM, produzindo mudança de pH. Por isto, o estudo micológico é a única forma de confirmar a natureza do crescimento. (MACIEL, 2005). O exame histopatológico pode ser usado no diagnóstico de dermatofitoses subcutâneas ou profundas causadas por Trichophyton, sendo útil nas formas nodulares como o quérion e o pseudomicetoma, nas pesquisas de dermatopatias primárias ou quando a aparência clínica da lesão é multifatorial e a dermatofitose é um diagnóstico diferencial. (MACIEL, 2005). A identificação do M canis e M gypseum podem ser feitas molecularmente com fragmentos de pele e pêlos acometidos, por meio da técnica RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA), que permite distinguir diferentes espécies e até mesmo populações distintas da mesma espécie. (MACIEL, 2005). A técnica da escova de Mackenzie modificada é o meio rápido e confiável para coletar amostras dos gatis e gatos assintomáticos em ambientes infectados. (FENNER, 2003). 28 Figura 8. A. Morfologia microscópica característica do M. canis; B. Morfologia microscópica característica do M. gypseum; C, Morfologia microscópica característica do T. mentagrophytes. Os macroconídios e as espirais são estruturas microscópicas. As hastes do pêlo são muito maiores. (SCOTT, 1996). 29 8. TRATAMENTO A dermatofitose em cães sadios e em gatos de pêlos curtos quase sempre sofre remissão espontânea dentro de quatro meses. Os animais com dermatofitose generalizada necessitam de tratamento agressivo. Mesmo os gatos de pêlos longos podem sofrer resolução espontânea, mas pode levar de um ano e meio a quatro anos. (SCOTT, 1996). Os objetivos do tratamento são: maximizar a capacidade do paciente de responder à infecção pelo dermatófito pela correção de todos os desequilíbrios nutricionais e estados doentios concomitantes, e pelo encerramento de drogas sistêmicas antiinflamatórias e imunossupressoras; por reduzir o contágio ao ambiente, outros animais e humanos; e por apressar a resolução da infecção. (SCOTT, 1996). O tratamento das infecções por dermatófitos deve ser direcionado para a erradicação do material infeccioso dos animais afetados, dos portadores e do ambiente. Para tal finalidade, ficam indicados o corte dos pêlos, o isolamento apropriado, medidas sanitárias, terapia tópica e a administração sistêmica de medicamentos fungicidas ou fungistáticos. (WILLEMSE). O tratamento deve ser prolongado por duas semanas após a remissão dos sinais clínicos ou até que duas ou três culturas fúngicas negativas consecutivas sejam obtidas com uma ou duas semanas de intervalo, já que a cura clínica sempre precede a cura micológica. (MACIEL, 2005). Os principais agentes antimicóticos utilizados no tratamento de doenças fúngicas superficiais em medicina veterinária são os imidazóis (cetoconazol, miconazol, clotrimazol e enilconazol) e os triazóis (itraconazol e fluconazol). Também são utilizados antifúngicos (griseofulvina), alilaminas (terbinafina) e benzoilfenilurea (lufenuron). (MACIEL, 2005). Vários preparados tópicos estão disponíveis para uso na dermatofitose localizada ou generalizada (Tabela 2), entre as quais os imidazólicos, o miconazol e o clotrimazol, são osmais eficazes nas lesões localizadas e o hipoclorito é provavelmente o mais eficaz para ser usado em todo o corpo. Deve-se tomar cuidado ao se usar imadozóis tópicos nos filhotes de gatos ou cães muito jovens, pois pode surgir uma dermatite por irritação. (HOSKINS, 1997). 30 Tabela 2. Terapia tópica para dermatofitose. (HOSKINS, 1997). Apesar de apresentar atividade antifúngica no tratamento das dermatofitoses, o hipoclorito de sódio não deve ser recomendado como tratamento. Ele é apropriado apenas como desinfetante. (MACIEL, 2005). No caso de dermatofitose preconiza-se o uso de terapia tópica como adjuvante, objetivando diminuir os riscos de contagio de animais ditos portadores sãos. Dentre os xampus mais eficazes, incluem-se aqueles com ação queratolítica, a exemplo de xampus com peróxido de benzoila (2,5 a 5%) em suas formulações, com clorexidina (0,5 a 4%), cetoconazol (2%) e polivinilporrolidona-iodo (1%). (ANDRADE, 2002). Nas lesões altamente inflamadas, um produto contendo glicocorticóides combinado com agentes antifúngicos pode apressar a resolução da doença clínica.Entretanto, tendo em vista que o glicocorticóides pode ser absorvido por via sistêmica, não é recomendado no tratamento de gatinhos e cãezinhos muito jovens ou gatas e cadelas prenhes. (SCOTT, 1996). Griseofulvina (a partir do Penicillium griseofulvum) é efetivo quando administrado oralmente. A droga se acumula nas estruturas queratinosas (camada córnea da epiderme, pêlos e unhas) e os torna resistentes a infecções. O tratamento prolongado é necessário. (CARTER, 1988). Atualmente a griseofulvina é a droga de escolha no tratamento de dermatofitoses causadas pelo Microsporum canis, lembrando que a griseofulvina é teratogênica quando usada nos primeiros dois terços da prenhez. Nos casos em que for provada a ineficiência da griseofulvina, pode-se substituí-la por cetoconazol ou itraconazol. (HOSKINS, 1997). 31 Duas precauções devem ser tomadas quanto a sua utilização: Acrescentar matérias gordurosas à ração, para permitir melhor assimilação intestinal; Evitar prescrever o medicamento para fêmeas gestantes e para animais imunodeprimidos (FIV), Além da griseofulvina, é aconselhável associar sistematicamente um tratamento local fungicida, O cetoconazol 10 mg/kg por dia em uma só tomada, de preferência durante a refeição, durante 4 semanas é bem tolerado, podendo também causar vômitos. (MORAILLON, 2004). A griseofulvina está disponível em uma apresentação veterinária como comprimidos de formulação microcristalina. Para animais jovens, é mais vantajoso usar a apresentação de elixir pediátrico. Ela pode ser usada em filhotes de cães e gatos quando se alimentam sozinhos. É seguro instituir o tratamento em animais que estejam em lactação, desde que a dose seja calculada cuidadosamente de acordo com o peso, e que se use a dose limite inferior. Não é necessário administrar esta apresentação juntamente com dieta rica em gordura, como é necessário para as formulações mais antigas, inclusive o elixir pediátrico. O tratamento para filhotes de cães deve durar 4 a 6 semanas, após pode-se parar com o tratamento se todos os sintomas clínicos tiverem desaparecido. O tratamento dos filhotes de gatos deve ser monitorado com cultura, usando-se uma escova de dente estéril para se obter a amostra de pêlos. Pode ser muito difícil eliminar a infecção de gatos com pelagem comprida. O veterinário deve checar, por meio de um hemograma completo, a mielossupressão em tratamentos longos ou com altas doses em filhotes de gatos. A pelagem deve ser mantida curta até as culturas se negativarem. (HOSKINS, 1997). As reações adversas mais comuns são sintomas gastrintestinais, como anorexia, vômito e diarréia. A manifestação mais comum da mielossupressão é a neutropenia. A mielossupressão pode ser irreversível e fatal; é ocasionalmente vista como reação adversa idiossincrásica não dependente da dose. (HOSKINS, 1997). O cetoconazol é muito eficiente no tratamento de dermatofitoses em cães e gatos e suplantou a griseofulvina como abordagem padronizada do tratamento sistêmico na Europa. Todavia, o cetoconazol não é comercializado para uso em cães e gatos nos Estados Unidos, e a maioria dos veterinários reserva esta droga para aqueles casos nos quais encontra-se resistência à griseofulvina, ou quando o paciente não pode tolerar a griseofulvina. (SCOTT, 1996). Cães e gatos podem ser tratados sistematicamente com 10mg/kg de cetoconazol a cada 24 horas por três a quatro semanas e duas a dez semanas, respectivamente, e a resolução da doença pode ocorrer após cerca de seis semanas de tratamento. Seus efeitos colaterais são anorexia, perda de peso, vômito, diarréia, níveis elevados de enzimas hepáticas (ALT), icterícia e inibição da produção de hormônios 32 esteroidais em cães, não devendo ser usado como antifúngico de primeira escolha, e não devendo ser administrada a fêmeas gestantes devido ao seu efeito teratogênico. (MACIEL, 2005). O itraconazol parece ser eficiente como tratamento das dermatofitoses de cães e gatos. Entretanto, não é comercializado para uso em cães e gatos nos Estados Unidos. O itraconazol pode ser útil quando a resistência ou a toxicidade à griseofulvina são encontradas, ou quando os animais não podem tolerar o cetoconazol. (SCOTT. 1996). Por causar menos efeitos colaterais e apresentar eficácia semelhante ou maior, o itraconazol é preferível ao cetoconazol, apesar de ter custo elevado. O itraconazol possui atividade fungistática (baixas doses: 1,5-3mg/kg) e fungicida (altas doses) contra os dermatófitos. Pode haver cura em gatos sintomáticos ao M. canis depois de 56 dias de tratamento com 10mg/kg de itraconazol a cada 24 horas, Cães podem ser tratados com 10 20mg/kg em intervalos de 48 horas. Efeitos teratogênicos não são detectados com 10mg/kg a cada 24 horas, entretanto sua administração não é recomendada durante a prenhez. (MACIEL, 2005). No caso de um pseudomicetoma, é preferível a excisão cirúrgica e o tratamento sistêmico com itraconazol. (WILLEMSE, 1998). A terbinafina (alilaminas) é uma droga altamente lipofílica de ação fungicida que, por via oral, é liberada rapidamente para o estrato córneo, no qual persiste por várias semanas. É considerada um agente antifúngico contra dermatófitos na dose de 30-40mg/kg a cada 24 horas, entretanto, cães e gatos podem ser tratados com apenas 8,25mg/kg da droga a cada 24 horas. (MACIEL, 2005). O lufenuron é uma droga utilizada na prevenção e no controle de pulgas, mas também possui certa atividade antifúngica. Ele demonstra eficiência, conveniência e rapidez na remissão da dermatofitose de cães e gatos na dose de 80-l00 mg/kg a cada 24 horas, devendo ser repetida após duas semanas de cultura fúngica negativa. Entretanto, estudo realizado mais recentemente demonstra que, para ser efetiva no tratamento da dermatofitose em gatos sintomáticos e carreadores assintomáticos, a dose deve ser ajustada para l20 mg/kg durante 2l dias, com quatro repetições. Essa mesma, dosagem da droga por 21 dias, com apenas duas repetições, apresenta eficiência de 22-60% e alta eficácia no tratamento da doença em cães e gatos, havendo, no entanto, refratariedade em gatos persas e cães yorkshire. Apesar disso, seu uso não é recomendado como tratamento ou prevenção da doença em animais de companhia. (MACIEL, 2005). A vacina Biocan M ® passou a ser uma alternativa interessante para o tratamento e/ou a prevenção da dermatofitose, a vacina de Microsporum canis inativado é de fácil aplicação, o tempo de tratamento é curto, as reações adversas são rarase apenas locais a aplicação. Em relação aos animais domésticos e 33 particularmente ao cão e ao gato, o M. canis é a espécie de fungo mais freqüentemente isolada entre as dermatomicoses, pode ser utilizado em gatil e canil como uso preventivo. O uso da Biocan M ® como prevenção recomenda-se aplicar a vacina em 2 doses com intervalos de 14 a 21 dias a partir dos 3 meses de idade. A revacinação é anual para garantir e manter uma adequada imunidade. (LOPES,2009) O uso da vacina biocan M ® para tratamento é feito três doses sendo a primeira no dia 0, a segunda dose 14 dias após a primeira aplicação e a terceira dose 24 dias após a segunda aplicação. Sua via de administração é injetável, nos cães e gatos a dosagem é de 1ml subcutâneo para gatos e intramuscular para os cães. A terceira dose fica a critério do medico veterinário sendo conveniente sua aplicação sobre em casos insidiosos e/ou recorrentes. (LOPES,2009) 8.1 Medidas Auxiliares Uma característica critica do tratamento clínico é o tratamento de todos os cães e gatos em contato com o animal infectado e o tratamento do ambiente. Os casos crônicos e recidivante de dermatófitose geralmente estão associados a: tratamento inadequado, inclusive a droga errada ou a dosagem errada da droga, duração inadequada do tratamento, falha em usar medicamentos tópicos, falha em trícotomizar a pelagem, falha em tratar outros animais na casa e falha no tratamento do ambiente; doenças básicas, ex., hiperadrenocorticalismo, diabetes melito, infecção pelo VLF, infecção pelo VIF ou câncer; ou tratamento com droga imunossupressora. (SCOTT, 1996). O pêlo infectado e os debris epidérmicos no ambiente são as fontes primárias da reinfecção devendo ser lavado toda a cama e a área de dormir com alvejante, passar aspirador e lavar os tapetes, os móveis e as cortinas com vapor quente para remover os pêlos infectados. Mudar os filtros de ar e descontaminar todas as superfícies com desinfetante antifúngico, como alvejante. Se houver recidivas, controlar os animais carreadores assintomáticos. (FENNER, 2003). A eliminação da dermatofitose de criações de gatos é um problema para os criadores de raças de pelagem longa. Uma outra abordagem é o isolamento dos filhotes de gatos após o desmame e seu tratamento como descrito previamente, até que as culturas sejam negativas. Outro método prega o início do tratamento com griseofulvina durante a última semana da gestação, nas fêmeas que repetidamente geram filhotes infectados, prolongando seu tratamento até que a ninhada seja desmamada. Após este procedimento, os filhotes de gatos devem ser isolados e tratados individualmente até que as culturas sejam negativas. Mais uma vez, o tratamento de gatos jovens deve basear-se numa cuidadosa observação da 34 relação peso/dose. Pode-se esperar que alguns filhotes de gatos desenvolvam mielossupressão a despeito de uma dosagem cuidadosa. (HOSKINS, 1997). Uma vacina comercial morta contra M. canis (Fel-O-Vax, Fort Dodge Laboratories) é controvertida. Ela não parece evitar a infecção pelo dermatófito, e sim auxilia na resolução das lesões clínicas, porem o animal pode tornar-se carreador assintomático. (FENNER, 2003). A inoculação de qualquer vacina não promove cura mais rápida quando uma infecção está estabelecida, porque se estimula a imunidade humoral e não a imunidade celular mediada, a qual daria imunidade à infecção fúngica. Gatos imunizados com uma vacina experimental mostraram proteção satisfatória à infecção por M. canis, sendo que o grau de resistência à doença é afetado pela idade dos animais e a dose da vacina. (MACIEL, 2005). 35 CONCLUSÃO A dermatofitose vêm se mostrando um caso corriqueiro em clinica de pequenos animais, tornando- se um desafio para diagnosticar e instituir terapias e manejos adequados para a resolução dessa doença, que também e considerada como uma zoonose. A dermatofitose causada por dermatófitos, que enquadram os gêneros Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton, dos quais, somente os dois primeiros gêneros tem importância na clínica veterinária. Os mais encontrados em cães pertencem ao gênero Microsporum, espécies M. canis e M. gypseum. A característica principal dos dermatófitos é uma lesão anular com alopecia, escamativa e de rápida expansão, muitas vezes associada à infecção bacteriana secundária, porem sua apresentação é bastante variável capaz de confundir com outras dermatopatias. Esse quadro é devido o parasitismo em tecidos queratinizados tais como os pêlos, estrato córneo e unhas. O diagnóstico definitivo da dermatofitose é a cultura fúngica, pois possibilita a identificação do gênero e espécie do fungo para um tratamento eficiente e especifico que consiste em uma terapia tópica e sistêmica com duração mínima de três semanas. Como zoonose facilmente transmissível é fundamental para o sucesso do seu tratamento e controle, conscientizar as pessoas que apresentarem sintomas de dermatofitose a procurar auxilio medico e não desfazerem se de seus animais realizando a desinfecção do ambiente, fazer uso correto da medicação tópica obedecendo ao tempo de carência do produto no pêlo, realizar a tricotomia e tratar os outros animais da casa, uma vez que o animal pode ser portador assintomático do Microsporum canis. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Silvia Franco. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 115-145. BEER, Joachim. Doenças Infecciosas em Animais domésticos. São Paulo: Roca, 1999. p. 335-341. CARTER, G. R. Fundamentos da Bacteriologia e Micologia Veterinária. São Paulo: Roca, 1988. p. 11-15, 225-233. CORRÊA, Walter Maurício; CORRÊA, Célia N. Maurício. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. DYCE, K.M. 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