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A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS PRISCILA LOYOLA

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Prévia do material em texto

FACULDADE ALFREDO NASSER 
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO 
CURSO DE LETRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS: 
HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS 
 
 
 Priscila Loyola Gonzaga Aquino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APARECIDA DE GOIÂNIA 
2010 
 2 
PRISCILA LOYOLA GONZAGA AQUINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS: 
HISTÓRIA,CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS 
 
 
Monografia apresentada ao Instituto Superior de 
Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob 
orientação da professora Esp. Odália Bispo, como 
parte dos requisitos para a conclusão do curso de 
Letras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APARECIDA DE GOIÂNIA 
2010 
 3 
 
 
 
 
 
 
A LÍNGUA PORTUGUESA E ALGUNS DE SEUS ASPECTOS: 
HISTÓRIA,CARACTERÍSTICAS E OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS 
 
 
 
 
Aparecida de Goiânia, ____ de dezembro de 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EXAMINADORES 
 
Orientadora – Esp. Odália Bispo – Nota: ______ / 70 
Primeiro examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70 
Segundo examinador – __________________________ – Nota: ______ / 70 
 
 
Média parcial – Avaliação da produção do Trabalho: ______ / 70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, por mais essa oportunidade de crescimento; a minha família; aos 
professores que no decorrer do curso contribuíram para o meu desenvolvimento e, 
em especial, à minha orientadora Odália Bispo que me auxiliou na elaboração deste 
trabalho, expandindo minhas ideias e enriquecendo-o através de críticas construtivas 
que foram responsáveis pelo meu desempenho, abrindo caminhos e pacientemente 
me conduzindo a fazer um bom estudo. 
Agradeço seu apoio, sua amizade, seu companheirismo, sua simplicidade em 
se manter sempre próxima a mim disposta a esclarecer qualquer dúvida. 
Fica aqui, minha gratidão e admiração acima de tudo pela excelente 
profissional que é, e que se manteve durante o curso, tornando para mim um 
exemplo que desejo seguir de inteligência, postura e ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais Hélio 
e Emília, aos meus irmãos Hélio Júnior e 
Núbia, aos meus cunhados Pablo e 
Fabiana e aos meus sobrinhos Maria 
Eduarda e Pablo Filho, pelo incentivo, 
cooperação, compreensão e apoio, em 
todos os momentos desta e de outras 
caminhadas. 
Devo mais esse passo da minha vida a 
grandiosa estrutura familiar que tenho, 
tudo o que conquisto é reflexo do 
excepcional convívio que me 
proporcionam. Um lar que me transmite 
confiança, respeito, credibilidade e força 
para batalhar por meus sonhos. 
Compartilharam comigo momentos de 
tristezas e também, de alegrias, me 
fazendo superar mais esta etapa, em que, 
com a graça de Deus está sendo vencida. 
Se não fosse esta união e o amor de 
vocês, eu nada teria! 
Obrigada por tudo! 
 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A língua é, de certa forma, a 
condensação de um homem 
historicamente situado." 
 José Luiz Fiorin 
 
 
 7 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.. ................................................................................................ 08 
1 ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA... ....................................................... 11 
1.1 A evolução da língua portuguesa... ................................................ 14 
2 O PORTUGUÊS BRASILEIRO... ................................................................... 16 
3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL... .......... 20 
4 BREVE HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA... ........ 31 
5 BREVE CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS EFETUADAS 
NA LÍNGUA PORTUGUESA... ......................................................................... 34 
CONSIDERAÇÕES FINAIS... ........................................................................... 39 
REFERÊNCIAS.. ............................................................................................... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
 
INTRODUÇÃO 
 
Esta pesquisa tem como propósito colaborar, ainda que modestamente, com 
uma reflexão acerca da história, origem, mudanças, características e evolução da 
língua portuguesa, bem como fazer um levantamento cronológico dos acordos 
ortográficos, desde 1911 até a presente data. 
A história da língua portuguesa está ligada a fatos que pertencem à história 
geral da Península Ibérica. “Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o 
português é o próprio latim modificado”. (COUTINHO, 1972, p. 46). 
De acordo com Basso e Ilari (2007), os falantes da língua portuguesa estão 
espalhados pelo mundo, sendo o Brasil o maior país de língua portuguesa do mundo 
com cerca de 170 milhões de habitantes. Porém, como o português não nasceu no 
Brasil e foi implantado por meio da colonização portuguesa e desde então entrou em 
contato com povos de várias nacionalidades, apresenta características particulares 
em vários aspectos, de acordo com a história, a cultura e as influências das demais 
línguas existentes em cada país onde o português foi incorporado. 
Tendo em vista que a língua é um organismo vivo, considera-se, portanto, 
que ela é fruto de alterações, de contaminações, de enriquecimento e de 
empréstimos, que se sucederam e vão sucedendo ao longo do tempo. 
Nesse sentido, os acordos ortográficos, desde 1911, geram bastantes 
discussões e divergências de opiniões, visto que, cada pessoa, seja ela, um 
educador, um linguista ou qualquer outro falante da língua portuguesa, tem uma 
visão diferente sobre este assunto. Acordos estes, que visam reajustar a ortografia 
de um povo, torná-la única, por fim a duplicidade de normas ortográficas em todos 
os países de língua oficial portuguesa. 
Nos últimos anos, as críticas referentes às reformas ortográficas cresceram 
notavelmente. Sejam elas, feitas por linguistas que analisam questões de sintaxe, de 
gramática; por educadores, que além de analisar questões como essas, avaliam a 
aplicação deste acordo, quanto às dificuldades do ensino e aprendizagem em sala 
de aula; por alguns alunos, que fazem uma auto-avaliação da sua facilidade ou não 
na adaptação das novas normas; ou por falantes comuns da língua, que se sentem 
prejudicados por tais mudanças. 
 9 
Com base nisso, esta pesquisa aborda a reforma ortográfica do português em 
uma perspectiva histórica, assunto de grande relevância social, educacional e 
pedagógica, por envolver questões ligadas à língua e a hábitos internalizados. 
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi feito um levantamento de 
bibliografias como: livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. 
A escolha da pesquisa bibliográfica como metodologia do trabalho científico 
tem como finalidade colocar o leitor em contato com aquilo que já foi escrito sobre a 
língua portuguesa, mais especificamente, o Português do Brasil, de maneira 
descritiva. (LAKATOS; MARCONI, 2009). 
Assim, esta monografia inicialmente se limitará a fazer referência à origem da 
língua portuguesa e sua evolução, fundamentada segundo Ismael de Lima Coutinho 
(1972); Manoel Nascimento e Dolores Garcia Carvalho (1981). 
No segundo e terceirocapítulo, comentaremos sobre a história do Português 
do Brasil e suas principais características, com intuito de relatar a diversidade 
geográfica, cultural e linguística existente no Português Brasileiro, como também 
apresentar as particularidades desta língua. 
E nos últimos capítulos, falaremos da ortografia da Língua Portuguesa, com o 
objetivo de historiar a evolução da ortografia da nossa língua, levando o leitor a 
reconhecer os períodos em que se divide tal história e que as controvérsias e 
discussões sobre a ortografia não são recentes. 
Nesse sentido, é nosso objetivo apresentar aqui uma breve cronologia das 
reformas ortográficas efetuadas na língua portuguesa, pretendendo assim, expor as 
mudanças ocasionadas pelos acordos orográficos em tentativa da unificação da 
ortografia portuguesa, destacando suas alterações mediante postulados de Evanildo 
Bechara, Terezinha Oppido, Gilverto Scarton, RV Mattos e Silva e Celso Cunha. 
Partindo-se da premissa de que a mutabilidade e a variabilidade são 
características básicas e inevitáveis de qualquer língua natural, esta pesquisa se 
fundamentará na variação diacrônica, que é a comparação que se faz entre as 
diferentes fases da história de uma língua. (BAGNO, 2007). Considera-se, então, 
que as línguas mudam com o passar do tempo, o que pode ser observado, por 
exemplo, quando lemos à carta de Caminha sobre o descobrimento do Brasil, algum 
texto de Machado de Assis e outro dos dias atuais. 
Nesta monografia, falaremos da especificidade da língua portuguesa e 
buscaremos enfatizar a ideia da mutabilidade dessa língua, apresentando elementos 
 10 
inerentes a sua história e características. Logo, a relevância deste estudo está em 
demonstrar como a língua portuguesa sofreu influências de várias nações, tornando-
a plural e heterogênea. Objetivamos neste trabalho sistematizar fontes sobre este 
assunto. 
Visto dessa forma, tal pesquisa se revela como um importante instrumento de 
estudo, procurando discorrer este tema em uma perspectiva histórica da língua, 
além de enriquecer o estudo sobre a língua portuguesa e contribuir para a 
complementação dos estudos realizados nas Faculdades de Letras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11 
1 ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
A língua portuguesa é um prolongamento do latim levado pelos romanos à 
Península Ibérica. Por esse motivo, há uma inter-relação entre o seu histórico e a 
história da Península. Apesar de que pouco se sabe a respeito dos povos que 
habitavam a Península antes da invasão romana (séc. III a.C.), destaca-se que a 
Península Ibérica era habitada pelos iberos, povo mais antigo de origem agrícola e 
responsável pela nomeação dada à Península pelos historiadores gregos. 
(CARVALHO; NASCIMENTO, 1981). 
A riqueza da região peninsular em ouro e prata despertou a cobiça de outros 
povos, entre eles, fenícios e gregos. O resultado da luta pela posse da região foi a 
derrota e expulsão dos gregos no ano de 1100 a.C. Os fenícios, então, se fixaram na 
costa meridional da Península, porém como não possuíam características 
colonizadoras, pois vivam da navegação e comércio, perderam território aos 
indígenas (COUTINHO, 1972). 
Conforme Coutinho (idem), em época posterior (séc. V a.C.), deu-se a 
penetração dos celtas, povo turbulento e guerreiro. Com o correr dos séculos, 
mesclaram-se com os Iberos dando origem aos povos Celtiberos. 
Os cartagineses, da mesma raça dos fenícios, estabeleceram colônias 
comerciais em vários pontos da Península. Eles falavam o dialeto fenício 
denominado púnico e pretendiam dominar a Península. Os celtiberos chamaram em 
seu socorro os Romanos. (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981). 
 Roma em reação ao grande desenvolvimento dos cartagineses declarou, de 
acordo com Coutinho (1972), guerra a eles (que se prolongou de 264 a 146 a.C.), 
por isso no século III a.C, os romanos invadiram a Península com o intuito de sustar 
a expansão de Cartago, que constituía séria ameaça ao domínio do mundo 
mediterrâneo, pretendido por Roma. 
Vencida Cartago, os romanos dominaram toda a Península, tornando-se ela 
província romana em 197 a.C. Conforme Carvalho e Nascimento (1981), inicia-se 
assim uma dominação que vai além da esfera político-militar. Roma, paralelamente à 
sua conquista territorial, impunha aos vencidos seus hábitos, cultura, suas 
instituições, os seus padrões de vida e sua língua: o Latim. 
É importante ressaltar o fato de que os romanos impuseram o uso do Latim; 
abriram escolas, construíram estradas, templos, organizaram o comércio, o serviço 
 12 
de correio; obrigaram o seu uso nas transações comerciais e nos atos oficiais e na 
organização do serviço militar obrigatório. 
Segundo Coutinho (1972), os bárbaros, que invadiram a Península no século 
V, eram de origem germânica e compreendiam várias nações, cada uma com o seu 
dialeto particular (vândalos, suevos, visigodos, alanos), povo essencialmente 
guerreiro, porém de cultura inferior a dos que viviam na Península. 
Neste século (V), a Península estava completamente romanizada, isto é, 
politicamente pertencendo ao Império Romano e linguisticamente falando a língua 
de Roma – o Latim. Os bárbaros, mesmo vencedores, adotaram a civilização e a 
língua latina. Contudo, causaram a dissolução da unidade do império. 
Os bárbaros germanos fecharam escolas, pois julgavam que a instrução 
enfraquecia o homem, com isso, a nobreza romana responsável pela cultivação das 
letras latinas desapareceu. 
Dessa forma, não havia mais os elementos unificadores da língua. O latim 
ficou livre para modificar-se, passando a existir duas modalidades do latim: o latim 
vulgar: sermo vulgaris, rusticus, plebeius, que segundo Carvalho e Nascimento 
(1981), teve a invasão dos bárbaros como causa de sua dialetação. E o latim 
clássico (sermo literrarius, eruditus, urbanus). 
 O latim que se vulgarizou no território ibérico foi o do povo inculto, ou seja, o 
latim vulgar, que era somente falado. Era a língua do cotidiano usada pelo povo 
analfabeto da região central da atual Itália e das províncias: soldados, marinheiros, 
artífices, agricultores, barbeiros, escravos, etc. Era a língua coloquial, viva, sujeita a 
alterações frequentes e que apresentava diversas variações. (COUTINHO, 1972). 
O latim clássico era a língua falada e escrita, artificial e rígida, era o 
instrumento literário usado pelos grandes poetas, prosadores, filósofos; e mais tarde 
pelos conventos ou mosteiros que guardavam as tradições da língua latina 
(COUTINHO, idem). 
A modalidade do latim imposta aos povos vencidos era a vulgar. Tendo em 
vista que os povos vencidos eram diversos e falavam línguas diferenciadas, pode-se 
destacar que em cada região o latim vulgar sofreu alterações distintas o que resultou 
no surgimento dos diferentes romances (latim vulgar modificado), e posteriormente 
nas diferentes línguas neolatinas. 
Conforme Carvalho e Nascimento (1981), as invasões não pararam por aí. No 
século VIII, a península foi tomada pelos árabes, sendo que o domínio mouro foi 
 13 
mais intenso no sul da península. Formou-se então a cultura moçárabe, que serviu 
por longo tempo de intermediária entre o mundo cristão e o mundo muçulmano. 
Apesar de possuírem uma cultura muito desenvolvida, esta era muito diferente da 
cultura local, o que gerou resistência por parte do povo. Sua religião, língua e 
hábitos eram completamente diferentes. O árabe foi falado ao mesmo tempo que o 
latim vulgar (romance). As influências linguísticas árabes se limitam ao léxico no qual 
os empréstimos são geralmente reconhecíveis pela sílabainicial al- correspondente 
ao artigo árabe: alface, álcool, alcorão, álgebra, alfândega... outros: bairro, berinjela, 
café, califa, garrafa, quintal, xarope... 
Embora bárbaros e árabes tenham permanecido muito tempo na península, a 
influência que exerceram sobre a língua foi pequena, ficando restrita ao léxico, pois 
o processo de romanização foi muito intenso. 
Os cristãos, principalmente do norte, nunca aceitaram o domínio muçulmano. 
Organizaram um movimento de expulsão dos árabes (a Reconquista). A guerra 
travada foi chamada de “santa” ou “cruzada”. Isso ocorreu por volta do século XI. No 
século XV, os árabes estavam completamente expulsos da península. 
Durante a Guerra Santa, vários nobres lutaram para ajudar D. Afonso VI, rei 
de Leão e Castela. Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha, destacou-se pelos 
serviços prestados à coroa e por recompensa recebeu a mão de D. Tareja, filha do 
rei. Como dote, conforme Carvalho e Nascimento (1981), recebeu o Condado 
Portucalense. Continuou contra os árabes e anexando novos territórios ao seu 
condado que foi tomando o contorno do que hoje é Portugal. 
D. Afonso Henriques, filho do casal, funda a Nação Portuguesa que fica 
independente em 1143. A língua falada nessa parte ocidental da Península era o 
galego-português que com o tempo foi diferenciando-se: no sul, português, e no 
norte, galego, que foi sofrendo mais influência do castelhano pelo qual foi anexado. 
Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola de Direito Gerais e obriga, em decreto, o uso 
oficial da Língua Portuguesa. (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981). 
 A língua portuguesa é transportada para o Brasil, após um longo período de 
mudanças na Idade média. Tal fato ocorreu no momento das grandes navegações 
entre o século XV e XVI. 
Este apanhado desde o início da língua portuguesa foi realizado com intuito 
de situar o leitor sobre o assunto e os diversos contatos que esta língua sofreu 
desde sua origem. A seguir apresentaremos informações que consideramos 
 14 
relevantes sobre a evolução que o português sofreu no decorrer dos séculos para 
uma maior compreensão do presente trabalho. 
 
1.1 A evolução da língua portuguesa 
 
De acordo com Carvalho e Nascimento (1981), a evolução da língua 
portuguesa pode ser definida em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica 
(que compreende o período do português arcaico e moderno). 
A primeira inicia-se com as origens da língua, estendendo-se ao século IX. A 
língua falada na região era o romance lusitânico, uma variante do latim que constitui 
um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas 
(português castelhano, francês...). Este período antecede a invenção da escrita. 
A segunda, proto-histórica, estende-se do século IX ao XII. Textos escritos em 
latim bárbaro (modalidade do latim usado apenas em documentos e por isso 
também chamado de latim tabaliônico); palavras portuguesas eram faladas, mas não 
escritas, o que comprova a existência do dialeto galaico-português (COUTINHO, 
1972). Dessa fase, os mais antigos documentos são um título de doação, dotado de 
874, e um título de vendo de 883. 
A fase histórica inicia-se no século XII, em que os textos começam ser 
redigidos em português. Esta fase divide-se no período arcaico (séc. XII-XVI) e 
período moderno (séc XVI-Hoje). 
O período arcaico (séc. XII ou séc. XVI) compreende dois períodos distintos: 
 Do século XII ao XIV, com textos em galego-português; 
 Do século XIV ao XVI, com a separação entre o galego e o português. 
O primeiro texto escrito em português foi a poesia “Cantiga da Ribeirinha”, no 
século XII de Paio Soares de Taveirós dedicado à D. Maria Paes Ribeiro, a 
Ribeirinha. 
Quanto às composições de caráter literário, João Soares de Paiva, em 1196 
escreve cantigas de maldizer. As poesias reunidas nos “cancioneiros” e, ainda, na 
prosa dos cronistas como Fernão Lopes, Gomes Eanes Zuara e Rui de Pina são 
textos que documentam este período arcaico (CARVALHO; NASCIMENTO, 1981). 
Somente a partir do século XVI, fase do período moderno, a língua 
portuguesa se uniformiza e adquire características do português atual. 
 15 
Conforme Carvalho e Nascimento (idem), por influência dos humanistas do 
Renascimento, o século XV ficou marcado por um aperfeiçoamento e 
enriquecimento linguístico. Ao mesmo tempo em que se procurava, ao nível das 
artes e das letras, imitar os modelos latinos, tentava-se igualmente aproximar a 
Língua Portuguesa da língua mãe. Aparece, em 1572, a obra de Luis de Camões, os 
Lusíadas, marco histórico do nosso idioma e monumento literário e linguístico. 
Sobre a publicação dos Lusíadas (1572), Coutinho afirma que: 
 
Constitui esta obra a verdadeira epopéia nacional portuguesa. Nela se 
acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as 
qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes 
virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema. A 
descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para 
Camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, 
rica de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo 
português. (1972, p. 57). 
 
É nesse mesmo século que surgem as primeiras tentativas de 
gramaticalização da língua. Fernão de Oliveira edita, em 1536, a primeira Gramática 
da língua portuguesa, intitulada “Gramática da Lingoagem Portugueza”. Em 1540, 
João de Barros escreve, com o mesmo título, a segunda gramática da língua 
portuguesa. 
A partir do século XV, através da expansão marítima, os portugueses 
descobrem novas terras e a elas levam a sua língua, estendendo deste modo o 
espaço geográfico em que a Língua Portuguesa serve, com mais ou menos 
alterações relativamente a do povo que a divulgou, de língua de comunicação em 
várias nações do mundo. 
Discorreremos, no próximo capítulo, sobre alguns aspectos do Português 
brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
2 O PORTUGUÊS BRASILEIRO 
 
Português brasileiro ou português do Brasil é o termo utilizado para designar 
a variedade da língua portuguesa falada pelos mais de 193 milhões de brasileiros 
que vivem dentro e fora do Brasil, sendo a variante do português mais falada, lida e 
escrita do mundo. 
O português do Brasil formou-se da interação entre a língua do colonizador, 
que se refere à língua do prestígio e poder; as numerosas línguas indígenas 
brasileiras (principalmente o tupi, língua falada em toda costa brasileira e, por algum 
tempo, língua geral do Brasil colônia); as línguas africanas provenientes do tráfico 
negreiro e as línguas dos que imigraram da Europa e da Ásia, a partir dos meados 
do século XIX. 
 
À medida que foi aumentando o número de portugueses imigrantes, o 
português foi se fortalecendo, conseguindo se sobrepor à língua geral. 
Souza Oliveira afirma que: 
 
a nossa língua nacional é, em substância a portuguesa, modificada na 
pronúncia, com leves e pouco numerosas alterações sintáticas, mas 
copiosamente opulenta no léxico pelas contribuições indígenas e africanas 
e pelos produtos da criança interna. (apud CARVALHO; NASCIMENTO, 
1981, p. 99). 
 
Segundo Oppido (2008), quando os portugueses chegaram ao Brasil, tinham 
a intenção de explorar as terras, porém em cada lugar conquistado deixavam a 
língua, meio de comunicação e de domínio que, com o tempo, se incorporava às 
novas culturas, misturando-se com línguas já existentes e as que viriam através dos 
tempos. 
 De acordo com Naro e Sherre (2007), entre os séculos VIII até o século XI, 
bem antes da chegada dos portugueses ao Brasil, uma parte do país era ocupada 
por árabes. Provavelmente,os portugueses usavam o sabir como meio de 
comunicação. 
 
Este sabir, naturalmente, era um sistema extremamente flexível, podendo 
comportar itens lexicais de diversas línguas românicas (ou até do árabe). 
Seus mecanismos sintáticos eram igualmente variáveis de lugar para lugar 
e de momento para momento. (NARO; SCHERRE, 2007, p. 27). 
 
 17 
No início do século XVI, época dos primeiros contatos de portugueses com o 
Brasil, o sistema verbal conhecido era denominado “língua de preto”, que permitia o 
uso variável de flexões verbais e nominais. 
Em 1532, com a atribuição de quinze capitanias hereditárias, começa a 
colonização portuguesa. 
Conforme Teyssier (2004), a história do português no Brasil pode ser 
observada em três períodos distintos, considerando como elemento definidor o modo 
de sua relação com as demais línguas praticadas no Brasil desde 1500. 
O primeiro momento começa com o início da colonização até à chegada de D. 
João VI (1808). Neste período, o português convive, no território que é hoje o Brasil, 
com as línguas indígenas. Pouco mais de um milhão de indígenas falavam cerca de 
300 línguas diferentes. 
Segundo Ilari (2001), duas línguas foram descritas no Brasil-colônia, o 
tupinambá (língua do litoral brasileiro da família tupi-guarani), que foi usado como 
língua geral na colônia, ao lado do português, graças aos padres jesuítas que 
haviam estudado e difundido a língua; e o Kariri, falado no Sergipe em partes da 
Bahia e do Pernambuco. 
Durante muito tempo, o português e o tupi viveram lado a lado, períodos de 
bilinguismo (1533 a 1654) de acordo com Teyssier (2004). Era um tupi simplificado, 
gramaticalizado pelos jesuítas, que posteriormente tornou-se língua comum. Nesse 
período de bilingüismo, os indígenas, africanos e mestiços aprendem o português, 
de maneira imperfeita, pois tiveram que aprender rapidamente a língua dos seus 
senhores. Essa necessidade imposta pelo contato social e interliguístico fez com que 
se formasse, entre índios, negros e mestiços, uma linguagem rude, porém mais 
conservadora, de gente inculta, denominada crioulo ou semicrioulo, que foi 
disseminada pelos sertões, tornando-se a linguagem popular do interior brasileiro. 
Conforme Ilari (idem), a língua geral entra em decadência entre 1654 a 1808, 
limitando-se às povoações do interior e aos aldeamentos dos jesuítas, fortalecendo 
o português pela costa, praticando-se falares crioulos, índios e africanos no interior. 
Vários fatores contribuíram para o enfraquecimento da língua geral, entre eles a 
chegada de numerosos imigrantes portugueses seduzidos pela descoberta das 
minas de ouro, o Diretório criado pelo marquês de Pombal em 3 de maio de 1757, 
que tinha como um dos principais objetivos ordenar que fosse extinta a distinção 
 18 
entre brancos e índios e a expulsão dos jesuítas em 1759, que afastava da colônia 
os responsáveis pelo ensino, disseminação e proteção da língua geral. 
Em 1758, a língua portuguesa é imposta por iniciativa do Marques de Pombal, 
ministro de Dom José I, proibindo o uso da língua geral na colônia e o seu ensino 
nas escolas. Assim, os índios não poderiam usar oficialmente nenhuma outra língua 
que não fosse a portuguesa. 
O português passa assim a ser tanto a língua oficial do Estado como a língua 
mais falada do Brasil. 
Incialmente, o português brasileiro herdou cerca de 10 mil vocábulos do tupi-
guarani, palavras estas ligadas à flora e à fauna como: abacaxi, mandioca, caju, 
tatu, piranha, bem como nomes próprios e geográficos. 
Ainda segundo Ilari (2001), entre 1538 e 1855, dá-se o fluxo de escravos 
trazidos da África. Para se ter uma ideia, no século XVI, foram trazidos para o Brasil 
100.000 negros. Este número salta para 600.000 no século XVII e 1.300,000 no 
século XVIII. Com isso, a língua falada na colônia recebeu novas contribuições. 
Estima-se em 300 o número de palavras incorporadas ao léxico do português 
brasileiro. A maioria do vocabulário está ligada à religião e à cozinha afro-brasileiras, 
palavras como: caçula, moleque e samba. 
A influência africana no português do Brasil deve-se principalmente aos 
Iorubas, originários da costa oeste africana, vindos da Nigéria. 
O segundo momento do português no Brasil começa com a chegada da 
família real portuguesa ao Brasil, 1808, que caracteriza o fortalecimento da língua 
portuguesa e o fim do bilingüismo. Conforme Teyssier (2004), a família real mais 
propriamente, o príncipe regente, que se tornará o rei D. João VI, se refugia no 
Brasil, em razão da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, com toda 
sua corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da língua falada nas 
grandes cidades. 
Tais invasões francesas são responsáveis pela vinda de 15.000 portugueses 
ao Brasil, que contribuem para “relusitanizar” o Rio de Janeiro. Esse fato lança o 
Brasil ao mundo exterior, acelerando seu progresso econômico e sociocultural. O 
Rio de Janeiro é transformado em capital do império, propiciando novas relações 
sociais no território brasileiro, incluindo a questão linguística. Dom João VI cria a 
imprensa no Brasil, funda a Biblioteca Nacional, dando à língua portuguesa um 
instrumento direto de circulação, a imprensa. Tais fatos produzem certo efeito de 
 19 
unidade do português para o Brasil, enquanto língua do Rei e da Corte. (TEYSSIER, 
idem). 
Este período finaliza em 1821 quando D. João VI regressa a Portugal, porém 
deixando a colônia pronta para a independência. 
A independência do Brasil, por sua vez, acontece em 1822, constituindo-se 
como um marco do terceiro momento da língua portuguesa. Após a independência, 
o português no Brasil sofreu influências de imigrantes europeus que se instalaram no 
centro e sul do país. Isso explica certas modalidades de pronúncia e algumas 
mudanças de léxico existentes entre as regiões do Brasil, variando de acordo com o 
fluxo migratório que cada uma recebeu. 
Teyssier (2004) argumenta que o Brasil afasta-se de suas origens indígenas 
como consequência da independência e passa a valorizar a cultura francesa, 
acolhendo também imigrantes europeus de outras nacionalidades como alemães e 
italianos, fato que contribui para o branqueamento do Brasil. Com a explosão 
demográfica e com o crescimento econômico, o antigo Brasil rural transforma-se 
num subcontinente, elaborando o português brasileiro nas grandes megalópoles 
com cerca de 13 milhões de habitantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20 
3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL 
 
Há, hoje, na língua do Brasil, uma diversidade resultante de fatores 
geográficos e culturais. O português do Brasil possui particularidades que são 
incansavelmente investigadas pelos linguistas. 
Segundo Faraco (2005), é importante salientar que a mudança gera contínuas 
alterações na estrutura das línguas sem que se perca o seu potencial semiótico; 
independente da mudança, continua organizada e oferecendo a seus falantes os 
recursos necessários para a circulação dos significados. Além disso, mesmo que a 
língua se movimente, nunca perderá seu caráter sistêmico. Isto é, “a língua do Brasil 
apresenta notas distintivas do português de ultramar no vocabulário, na fonética, na 
morfologia, na sintaxe e na semântica”. (COUTINHO, 1982, p.329). 
Conforme Bagno (2007), a grande mudança introduzida pela Sociolinguística1 
foi a concepção de língua como um “substantivo coletivo”. 
Tal concepção de heterogeneidade se distingue da visão de variação livre. 
Toda e qualquer mudança é estruturada, e toda análise sociolinguística passa, 
então, a se orientar para essa variação sistemática. 
Deacordo com Bagno (idem), nada na língua é por acaso, nenhuma variação 
é aleatória ou caótica. Pelo contrário, ela é condicionada por diferentes fatores. 
 As mudanças linguísticas são, segundo Faraco (2005), contínuas, porém 
ocorrem de maneira gradual e lenta. Atingindo sempre partes e não o todo da língua 
“[...] o que significa que a história das línguas se vai fazendo num complexo jogo de 
mutação e permanência, reforçando aquela imagem estática do que dinâmica que 
os falantes tem de sua língua” (FARACO, 2005, p.15). 
De acordo com o autor supracitado, qualquer parte da língua pode mudar, 
desde aspectos da pronúncia até aspectos de sua organização semântica e 
pragmática. 
Faraco afirma que: 
 
A classificação geral das mudanças é feita utilizando-se os diferentes 
níveis comuns no trabalho de análise linguística. Assim, na história duma 
 
1
 A Sociolinguística tem como principal objetivo a compreensão de como as mudanças se dão nos 
sistemas linguísticos. “Surge durante a década de 1960, a partir dos estudos de Willian Labov sobre 
mudanças em progresso no inglês da ilha de Martha‟s Vineyard (1963) e da cidade de Nova York”. 
(LUCCHESI, 2004, p. 165). 
 21 
língua, pode haver mudanças fonético-fonológicas, morfológicas, sintáticas, 
semânticas, lexicais e pragmáticas. (FARACO, 2005, p. 34-35). 
 
Por ser a língua um sistema, as mudanças envolvem, muitas vezes, um 
conjunto de mudanças correlacionadas, e não um aspecto específico. 
 
 Características fonético-fonológicas 
 
A mudança fonética consiste na alteração da pronúncia de uma palavra, ou 
seja, a face física como os sons da fala, sua produção e qualidades acústicas são 
estudadas. A fonética é a parte da gramática que estuda as múltiplas realizações 
dos fenômenos; quanto à fonologia se preocupa além da sonoridade da língua, isto 
é, ocupa-se com cada unidade sonora distintiva (os fonemas), estudando a face 
estrutural, o sistema de relações entre essas unidades. Além disso, a fonologia 
estuda os fonemas de uma língua, isolados ou combinados. (FARACO, 2005). 
Assim, a substituição de /l/ por /w/ no fim de sílaba no português brasileiro 
alterou a pronúncia de palavras como salta, soldado, malvado, golpe, mas não 
alterou o número de fonemas do português (o /l/ continua existindo como unidade 
sonora distintiva). 
De acordo com Basso e Ilari (2007), o PB2 conta com um sistema fonológico 
de 31 fonemas, dos quais 10 são vocálicos e 21 são consonantais. 
Os fonemas [O] e [o], [e] e [E] são diferenciados (poço / posso; cesta / sesta). 
Geralmente estes fonemas só entram em oposição na posição tônica das palavras, 
sendo que são neutralizadas em posição átona final. Nesta posição, o falante 
brasileiro pronuncia [u] – o, diz [i] por e, como no exemplo: passo – [pásu]; passe – 
[pási]. 
As cincos vogais do PB podem ser nasalizadas como: cato vs canto(/a/ vs 
/ã/), rede vs rende (/e/ vs /~e/) pinto vs pinto (/i/ vs /~i/), troco vs tronto (/o/ vs /õ/, juta 
vs junta (/u/ vs /~u/). 
Pode-se notar a presença dos fonemas palatais /z/, / /, / /, (como em nojo, 
bucho, manha, malha) e dos fonemas róticos (/R/ e /s/) entre consoantes. 
 
2
 PB = Português brasileiro 
 22 
No entanto, o nível fonético-fonológico acontece quando uma palavra é 
pronunciada de diversos modos, seja pelo acréscimo, decréscimo ou substituição de 
um fonema. 
Segundo Ilari (2001, p. 245), as características fonéticas são: 
a) Fechamento da vogal média átona final (-e > -i, o> u, como em fáli, fálu por 
fale, falo), pronúncia que perdurou até o século XVIII em Portugal. As vogais e e o 
tônicas são frequentemente pronunciadas fechadas quando a sua pronúncia, em 
Portugal, é aberta; Antônio [o tônico muito fechado] (Port. Antônio [o tônico aberto], 
prêmio [e tônico fechado] (Port. Prêmio [e tônico aberto] ec.; 
b) Pronúncia do ditongo ei como [ej] em lei, e como [e] em primeiro; ou soa 
como [o] em vou, ouro. No século XIX, Portugal inovou na pronúncia [aj] de primeiro, 
porém o Brasil não acompanhou tais mudanças. 
Os ditongos ei e oi, ou se fecham respectivamente em ê e ô: pêxe (por 
peixe), bêjo (por beijo), oro (por ouro), tesôro (por tesouro) etc. às vezes, do ditonto 
ei se pronunciam ambos os elementos: em tal caso, porém, o e do ditongo é 
fechado, enquanto, em Portugal, é aberto. O ditongo escrito em o ens se pronuncia 
no Brasil êi ou ê (em Portugal quase ãi): sem [pron. Sê], também [pron. Tambêi] etc.; 
c) Rotacismo de l travador de sílaba (marvado por malvado), encontrado nos 
falares das pessoas sem instrução escolar. 
d) Supressão de –r final de sílaba: falá, contá, deitá, comê. O r final, 
principalmente no infinitivo dos verbos, é suprimido no uso popular: (faze‟ (por fazer), 
ama‟ (por amar)). 
e) Iodização do palatal [ ] (muié, fiyo), também nos falares sem escolarização. 
O palatal lh passa, no uso popular, a i semivocálico: muie‟ por (mulher), foia (por 
flha) etc.; 
Ainda conforme Ilari (2001, p. 246), as características fonológicas são: 
a) O PB não opõe timbres abertos a fechados da vogal a seguida de nasal. 
No PB fala-se contamos no presente e pretérito, enquanto que, no Português de 
Portugal (PP) há duas formas: no presente fala-se contamos e no pretérito - 
contámos. 
b) O PB ignora as vogais escritas como a, e e o em sílaba pretônica a 
oposição de um timbre aberto a um fechado. No PP ocorre esta distinção como: 
pregar (um prego) e prégar (predicar). 
 23 
A vogal o pretônica se pronuncia como o fechado, e não [=u] como em 
Portugal: Portugal se lê [Portugá] e não [Portugal], automóvel se lê [automóvel] e 
não [autumóvel] etc.; 
A vogal e pretônico ou postônico final se pronuncia como [i]: senhora [pron. 
Sinhora], gente [pron. Genti], monte [pron. Monti], de [pron. Di] etc.; quando se 
encontra em posição pretônica, precedido por nasal, e conserva a sua pronúncia 
portuguesa: nenhum (pron. Nenhum]; 
c) No PB ocorreu a semivocalização do l por isso se diz animau por animal, 
como l velarizado. Perde-se assim a distinção entre o advérbio mal e o adjetivo mau. 
d) Ditongação da vogal tônica final seguida de –s, -z, como em atrás dito 
atráis, luz dito luis. 
e) Abertura das sílabas terminadas por oclusiva em palavras: advogado, dito 
adivogado; psicologia, dito pissicologia. 
Os grupos consonatais formados por p, b, t, k (=c gutural) seguidos por outra 
consoante, podem ser separados (somente na pronúncia) com a inserção, entre as 
duas consoantes, de uma vogal epentética, e ou i: apto (áptu ou ápitu], abstrato 
[abstratu ou abistratu], claro [claru ou kelaru], credo [credo ou keredu], 
absolutamente [absolutamenti ou abissolutamenti] etc.; 
f) Palatização de /t/ e /d/ seguidos de vogal média anterior: tio [t‟iju] e mesmo 
[t iju], diferença [d‟iferensa]. 
As consoantes dentais t e d, em, algumas zonas do Brasil, também a gutural 
c, quando são seguidas por i se palatalizam: esta palatização varia de intensidade 
conforme a região e o grau de cultura dos falantes, dum mínimo que se aproxima 
estas três consoantes às correspondentes consoantes inglesas a um máximo que 
transforma t e d respectivamente em c e g palatais italianas de “cima”, “gita”; tive 
[tiívi ou civi], noite [noitií ou noici], dia [diía ou gia], verdade [verdadií ou verdagi], 
quinze [kiínzi] etc. A pronúncia mais palatalizada [ti = ci, di = gi] é considerada 
eminente regional, ou seja, limitada a certas zonas do Brasil; 
Conforme Gabas Jr. (apud BENTES; MUSSALIM, 2004), um dos principais 
mecanismos de mudança linguística é o de mudança de som. O uso de um ou outro 
som não implica diferenças de significado,mas pode implicar diferenças de status 
social. 
Gabas Jr. (idem) afirma que: 
 
 24 
É antieconômico para os falantes de uma língua terem duas variantes de 
uma mesma palavra, a tendência é que apenas uma delas sobreviva. É 
muito difícil, no entanto, predizer quando ou mesmo se uma determinada 
forma vai suplantar a outra, e qual delas será a vencedora. Isso se deve 
principalmente ao fato de que é impossível prever o que uma comunidade 
linguística irá ou deixará de adotar como forma padrão, já que não é 
incomum observar caos em fortes tendências a determinadas mudanças 
não se concretizam. (apud BENTES; MUSSALIM, 2004, p. 81). 
 
 Características morfológicas 
 
A morfologia trata dos princípios que regem a estrutura interna das palavras: 
seus componentes (morfemas), os processos derivacionais, responsáveis pela 
origem de novas palavras e flexionais (as formas de se marcar as categorias 
gramaticais como gênero, número, aspecto, voz, tempo, pessoa). (FARACO, 2005). 
Segundo Bagno (2007, p. 40), o nível morfológico varia quando existem 
modificações na forma das palavras como: pegajoso e peguento, esses termos 
expressam a mesma ideia, porém são construídos com sufixos diferentes. 
Ilari (2001) aponta as seguintes características morfológicas: 
a) Simplificação da morfologia nominal, indicando-se o plural simplesmente 
através do determinante. 
As características morfológicas, que distinguem o português da América do 
europeu, podem produzir-se à tendência, que é limitada ao uso familiar das pessoas 
menos cultas, de suprimir o s do plural nos substantivos e, às vezes, nos adjetivos e 
nos verbos, sempre que haja um artigo plural, um numeral, um pronome pessoal ou 
outro morfema do qual apareça claro o número gramatical: cinco mês (es) mais 
tarde, as casa, você não entende nada das lei (s), três dia (s), ele desandou com as 
bexiga (s), nôs havemo (s) de anda‟. Tal tendência se nota, também, nos verbos, 
nos quais a 3ª pessoa singular substitui praticamente toda as formas plurais, 
distinguidas somente pelo pronome sujeito, suja presença, então, se torna 
indispensável: nós não pode com tanta dispesa (= despesa). 
b) Simplificação da morfologia verbal, que se reduz à oposição “1ª pessoa do 
singular / outras pessoas”: eu falo / você, ele, nós, eles fala. 
c) Elevação da vogal temática a para e e e para i no pretérito perfeito do 
indicativo, para distinção do presente do indicativo: fiquemo por ficamos, bebimo (por 
bebemos). 
 25 
d) Perda do valor comparativo de superioridade como em mais mió por 
melhor, mais superior. 
 
 Características sintáticas 
 
Segundo Faraco (2005), “a sintaxe é o estudo da organização das sentenças 
numa língua”. 
A variação sintática se dá quando existem diferenças como no caso das 
concordâncias verbal e nominal, e também na posição dos termos na construção de 
uma frase. Como exemplo, pode-se citar a expressão dê-me um cigarro usado em 
Portugal, e me dá um cigarro, no Brasil. 
Para Ilari (2001), as características sintáticas são: 
a) Estar + ndo em correspondência ao uso europeu estar + a + r. 
No Brasil é comum construções como está escrevendo, com estar + gerúndio, 
não comum em Portugal, onde se encontram expressões como está a escrever, com 
estar a +infinitivo. O gerúndio é usado depois do verbo estar para indicar que uma 
certa ação está em curso. 
b) Emprego crescente de a gente por nós. 
c) Negação dupla do tipo não sei não, com a cliticização, redução e posterior 
desaparecimento da primeira negação, num sei não > n‟sei não> sei não. Encontra-
se tal variação nos falares não escolarizados, o falante constrói a negativa: não vai 
ninguém não, nem vou aparecer, onde se pode constatar a presença de mais de 
uma partícula negativa na mesma frase. 
d) Sujeito pronominal da oração infinitiva no caso oblíquo: isto é, para mim 
comer em lugar de, isto é, para eu comer. Este uso, inicialmente não escolarizado, 
está em processo de expansão. 
e) Uso do pronome pessoal nominativo em função acusativa: eu vi ele. No 
nível sintático, uma primeira característica geral do português do Brasil é que ele, no 
que toca ao funcionamento dos pronomes átonos (me, te, se, lhe, o, a, etc) tem uma 
colocação mais proclítica, não sendo encontrável em Portugal, por exemplo, João se 
levantou, tão comum no Brasil. Isto faz com que toda a colocação de pronomes 
átonos no Brasil seja bastante diferente da de Portugal. 
 26 
Este tipo de diferença tem muito a ver com o fato de que as diferenças 
fonético-fonológicas, apontadas antes, levam a um outro ritmo da frase, assim como 
uma diferença de tonicidade nesses pronomes. 
f) Emprego de ter por haver nas construções, com o significado de existir: tem 
muita gente na rua ou hoje tem aula. 
g) Construção dos verbos de movimento com a preposição em: vou na feira. 
É também comum no Brasil expressões com a preposição em, que em Portugal são 
com a preposição a. Tem-se no Brasil: está na janela, chegou no Brasil, quando em 
Portugal se tem está à janela, chegou ao Brasil. 
h) Colocação do pronome pessoal átono em posição proclítica: me empresta 
dinheiro, vou lhe falar. O uso brasileiro oferece liberdade na colocação do pronome 
átono, uma questão de estilo pessoal: minha mãe o chamou ou chamou-o, me dá 
água ou dá-me água, me desculpe ou desculpe-me. Nota-se que o e destes 
pronomes é pronunciado no Brasil como [i]. De regra, nenhuma frase pode começar 
com um pronome oblíquo; No Brasil é admitido, na linguagem falada, como em: eu o 
chamei, mas chamei-o (em Portugal o pron. átono segue o verbo em ambos os 
casos). 
 
 Características lexicais 
 
Pode-se estudar historicamente a composição do léxico, observando sua 
origem e os diversos fluxos de incorporação de palavras de outras línguas 
(empréstimos) 
Faraco (2005) afirma que: 
 
Esse tipo de estudo no eixo do tempo se correlaciona normalmente com o 
estudo mais amplo da história cultural da(s) comunidade(s) linguística(s), 
na medida em que o léxico é um dos pontos em que mais claramente se 
percebe a intimidade das relações entre língua e cultura. (FARACO, 2005, 
p. 42). 
 
O estudo do léxico mostra diferenças entre o português do Brasil e o 
português de Portugal. Essas diferenças dizem respeito ao fato de que, no Brasil, 
muitas palavras tomaram outros sentidos ou foram incorporados ao português a 
partir das línguas indígenas e africanas, com as quais o português esteve e está em 
 27 
relação. Pode-se observar palavras que têm um sentido em Portugal e outro no 
Brasil, a partir de exemplos retirados, sobretudo, de Teyssier (2004, p.108): 
 
Portugal 
Comboio 
Autocarro 
Eléctrico 
Hospedeira 
Cante de tinta permanente 
Fato 
Metro 
Casa de banho 
Cuecas femininas 
Cancro 
Dióspiro 
Boleia 
 
Brasil 
Trem 
Ônibus 
Bonde 
Aeromoça 
Caneta tinteira 
Terno 
Metrô 
Banheiro 
Calcinha 
Câncer 
Caqui 
Carona 
No entanto, a variação lexical é a mudança de termos para designar um 
mesmo objeto. As palavras mandioca, macaxeira, aipim são empregadas para 
designar o mesmo tubérculo; as expressões guri, menino e moleque são utilizadas 
para designar uma criança do sexo masculino; o que é conhecido como abóbora em 
algumas regiões é chamado de jerimum em outras; e a palavra cacete que no sul é 
usada para não e no sudeste para porrete. 
Há no Brasil um conjunto de palavras de origem indígena, comumente o tupi, 
assim como de origem africana. 
Derivou-se da língua tupi, alguns sufixos que, segundo alguns autores, 
funcionam mais como adjetivos do que sufixos, já que não alteram a constituição 
morfológica e fonéticada palavra a que se ligam. São exemplos destes sufixos o –
açu (grande), -guaçu (grande) e –mirim (pequeno) nas palavras arapaçou (pássaro 
de bico grande), babaçu (palmeira grande), mandiguaçu (peixe grande), abatimirim 
(arroz miúdo) ou mesa-mirim (mesa pequena). Existem, no entanto, verdadeiros 
sufixos, como –rana (parecido com) e –oara (valor gentílico) nas palavras bibirana 
(planta da família das anonáceas), brancarana (mulata clara) ou paroana (natral do 
Pará) e marojoara (natural da Ilha do Marajó, Pará). 
 28 
Teyssier (2004) aponta outros exemplos de origem indígena: capim, cupim, 
caatinga, curimim, guri, buriti, camaúba, mandacaru, capivara, curió, sucuri, pinha, 
urubu, mingau, moqueca, abacaxi, cauju, Tijuca, etc. São, em geral, palavras 
relativas à designação da flora, da fauna, de alimentos, assim como de lugares. 
O tráfico de escravos, especialmente da África para os engenhos brasileiros, 
trouxe consigo, mormente da família banto, toda uma série de termos que em breve 
veio a determinar a criação de duas línguas africanas gerais: o nagô ou ioruba – 
especialmente na Bahia – e o quimbundo, mais rico de vocabulário e de expressão 
no resto do país. (TEYSSIER, idem). 
Exemplos de palavras de origem africana: caçula, cafuné, molambo, moleque; 
orixá, vatapá, abará, acarajé; bangüê, senzala, mocambo, maxixe, samba. São, em 
geral, palavras que designam elementos do candomblé, da cozinha de influência 
africana, do universo das plantações de cana, do universo de vida dos escravos, e 
mesmo outros de aspectos mais geral. Grandes listas de palavras dessas línguas 
que se incorporaram ao português podem ser encontradas em diversos livros de 
linguística histórica do português como Silva Neto (1950), Bueno (1946, 1950) e 
Coutinho (1936). 
 
 Características semânticas 
 
 As características semânticas ocorrem a partir das mudanças no significado 
das palavras (ou vocabulário) de uma língua. 
Gabas Jr. afirma que: 
[...] até o presente momento da história linguística, ainda não foi possível 
formular nenhum modelo abstrato de mudança semântica, como foi feito 
para as mudanças fonético-fonológicas e gramaticais. Isso se deve, em 
grande parte, e incapacidade de qualquer modelo de conseguir tratar, de 
maneira sistemática, todos os casos (ou tipos) de mudanças envolvendo 
significado [...] (apud BENTES; MUSSALIM, 2004, p. 89). 
 
A semântica trata da significação, sendo abordado o processo gerador de 
novas significações. Há processos que reduzem o significado da palavra, como a 
palavra arreio que, no português medieval, designava qualquer tipo de enfeite e que 
hoje designa apenas o conjunto de peças necessárias à montaria de cavalo. E 
outros que ampliam o significado como a palavra revolução, que antigamente 
 29 
designava movimento dos corpos celestes, e que hoje passou a designar também 
movimentos sociais no campo semântico da política. (FARACO, 2005). 
O semântico é notado quando o significado e/ou o sentido de uma palavra 
varia em regiões diferentes, ou seja, o termo é o mesmo, o que modifica é o seu 
significado. A ocorrência dessa variação depende de quem fala, para quem fala, 
onde e quando a fala acontece. A palavra ata é um exemplo desse tipo de variação, 
pois ela pode designar uma fruta ou um tipo de ofício; outra palavra nesse sentido é 
vexame que pode ser vergonha ou pressa. Essa variação depende, sobretudo, da 
origem do falante. 
 
 Características pragmáticas 
 
A variação pragmática está ligada ao grau de maior ou menor formalidade do 
ambiente e da intimidade entre os interlocutores, podendo ser utilizada pelo mesmo 
indivíduo em situações distintas de interação. As expressões „por favor, abram o 
livro‟, „abre o livro logo!‟ e „vamos abrir o livro, gente‟ correspondem ao mesmo ato, 
porém são empregadas em situações diferentes de interação social. Através dessa 
análise, pode-se constatar que, como afirma Marcos Bagno (1999, p. 47), “não 
existe nenhuma variedade nacional, regional ou focal que seja intrinsecamente 
„melhor‟, „mais pura‟, „mais bonita‟, „mais correta‟ que outra. Toda variedade 
linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a 
empregam”. 
Contudo, a divergência está no fato de existirem pessoas que possuem um 
grau de escolaridade mais elevado e com um poder aquisitivo maior que consideram 
um determinado modo de falar como o “correto”, não levando em consideração 
essas variações que ocorrem na língua. Porém, o senso linguistístico diz que não há 
variação superior à outra, e isso acontece pelo “fato de no Brasil o português ser a 
língua da imensa maioria da população não implica automaticamente, que esse 
português seja um bloco compacto coeso e homogêneo” (BAGNO, 1999, p. 18). 
Visto dessa forma, pode-se inferir que o falante não é obrigado a usar determinado 
modo de falar apenas porque algumas pessoas, ditas importantes, o consideram 
como sendo o melhor, pois as variações são mudanças naturais da língua e não são 
exclusivas da língua portuguesa, todas as línguas possuem suas variedades, 
dependendo da origem e do objetivo do falante ao se expressar. 
 30 
Conforme Faraco (2005), 
[...] um exemplo de pragmática histórica é a investigação do uso do termo 
você no tratamento do interlocutor, observando quem é tratado por esse 
pronome nos diversos momentos da história do português do fim do 
período medieval até nossos dias. (FARACO, 2005, p. 42). 
 
Essas mudanças e variações não são controladas pelo falante, elas ocorrem 
no inconsciente, em função de diversos fatores. Dependendo do meio em que a 
pessoa convive, ela fala de uma determinada forma, porém se o indivíduo convive 
em um meio onde existem diversos falares, ele apreende inconscientemente o falar 
de todas, ou pelo menos, algumas expressões. É algo além da capacidade 
puramente racional do indivíduo. 
Após identificar tais características do Português Brasileiro, convém ressaltar 
que as mudanças feitas pelas reformas ortográficas não abrangem todo sistema 
linguístico, ou seja, as alterações não ocorrem em todos os aspectos da língua 
(fonético, fonológico, morfológico, sintático, lexical, semântico e pragmático). 
E ainda, que os acordos ortográficos não visam alcançar somente o 
Português do Brasil. Tal acordo tem como objetivo unificar a ortografia dos países 
lusófonos. Sendo assim, Brasil e Portugal, como também Angola, São Tomé e 
Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Maçombique e, posteriormente, o Timor Leste 
assinaram esse acordo. 
Convém salientar que dentre as mudanças pelas quais passa uma língua, 
está a mudança na escrita, no seu sistema que regulamenta a forma correta. Parece 
impossível que isso não ocorra, uma vez que, a variação conduz tal mudança. 
Nos próximos capítulos, serão relatados, de forma sucinta, a história da 
ortografia da Língua Portuguesa e os acordos implantados no decorrer dos anos 
com o intuito de esclarecer os períodos da ortografia e de datar as mudanças 
ocorridas em consequência dos acordos ortográficos. 
 
 
 
 
 
 
 
 31 
4 BREVE HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
Considera-se oportuno, historiar a evolução da ortografia da nossa língua, 
contextualizando assim, o assunto abordado. Os registros a que se tem acesso 
revelam que a história da nossa ortografia divide-se em três períodos: o fonético, o 
pseudoetimológico e o simplificado. Além de nos fazer perceber que o 
desentendimento não é atual quando se fala de língua, isso se dá devido ao grande 
número de falantes nos países de Língua Portuguesa e às variantes regionais. 
Segundo Coutinho (1969), o período fonético, que vai do século XII ao século 
XVI, inicia-secom os primeiros documentos redigidos em português. A escrita neste 
período caracteriza-se pela forte tendência em ortografar as palavras como eram 
pronunciadas, porém a ausência de uma normalização ortográfica conduzia a uma 
variação na representação dos sons da linguagem falada. 
Nesta época, não havia um padrão para a escrita, no entanto, em um mesmo 
documento podiam aparecer os mesmos vocábulos grafados de formas diversas. 
Logo, escrevia-se como se falava. 
Quanto a esse período, Bechara afirma: 
 
Por isso, não se deve entender ao pé da letra que o início do sistema 
gráfico das línguas românico-português, inclusive – era “fonético”; a 
denominação deve entender-se tão somente como diferente do excesso 
etimologizante que iria caracterizá-lo sob o influxo do Renascimento, entre 
os séculos XIV e VVI (BECHARA, 2009, p. 11). 
 
Para exemplificar a ortografia dessa época, que coincide com o período 
arcaico da língua, segue um treco da poesia “Cantiga da Ribeirinha”, 
aproximadamente do século XII: “No mundo non me sei parelha, mentre me for 
como me vai, ca já moiro por vós – e ai! Mia senhor branco e vermelho, queredes 
que vos retraia quando vos eu vi em saia! Não dia me levantei, que vos enton non vi 
fea!”3 
O período pseudo-etimológico inicia-se na segunda metade do século XVI e 
prolonga-se até 1911, ano em que é decretada a reforma ortográfica. Em 1904, o 
filólogo Gonçalves Viana publica, em Portugal, a Ortografia Nacional, na qual 
 
3
 OPPIDO, Terezinha. Nova ortografia da língua portuguesa: conforme o acordo ortográfico para 
países lusófonos. São Paulo: SBJ Produções, 2008, p. 05. 
 32 
apresenta proposta de simplificar a ortografia, porém tal proposta não é adotada 
neste período. 
Com a chegada do Renascimento, de acordo com Coutinho (1972), a língua 
portuguesa sofre influência do latim e da cultura grega. Isso levou os eruditos a 
aproximarem a língua portuguesa à sua língua-mãe, provocando o abandono da 
simplicidade da representação fonética e cedendo lugar a uma escrita que 
respeitasse as letras originárias das palavras, isto é, sua origem etimológica. 
Assim, grafavam-se poncto (poto), septe (sete), chrystal, philosophia, theatro, 
chimica, rheumatismo, lyrio, sepulchro, thesouro. E empregavam-se consoantes 
mudas e duplas, como: septembro, enxucto, maligno, approximar e immundos. 
Duplicaram-se as consoantes intervocálicas para melhor esclarecer a 
natureza da ortografia dessa época, conforme exemplo que se segue. 
 
E a hua molher que he já de dias chamamos-lhe auellada, tomado das 
castalhas quase setfcas, & para expedir a casca. K dizemos viuer depressa 
o que se mette em muitos perigos, & arrisca a vida, tomado dos que correm 
ou andaõ depressa per lugares de que podem cair ou embicar. E dizemos 
viuer a olha por os homés que viúvem sem ordem, tomado dos que 
vendem a carne a olho ou aa enxerca, f. sem peso & sem medida. Estas 
maeiras de fallar que os Latinos tem em muito, quase se perseuera muito 
nellas naõ se apartando do sentido metaphorico, em que começarão, he 
tam freqüente aos Portugueses, que algus estarão muito espaço de tempo, 
fallando sempre metaphoricamente, sem se mudar da mesma metaphora.
4
 
 
A instauração da chamada grafia etimológica não conseguiu uma 
uniformização, pois alguns buscavam a origem latina da palavra, outros se 
reportavam ao grego ou mesmo ao francês. Surge, então, o período simplificado 
(1911 até nossos dias) que retoma os princípios estabelecidos por Viana em 1904. 
Viana propõe a eliminação dos fonemas gregos th, ph, ch, rh e y, consoantes sem 
valor fonético; eliminação das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss: cabello 
(=cabelo), communicar (=comunicar), eliminação das consoantes nulas, quando não 
influenciam na pronúncia da vogal que as precede: licção (=lição), dacta (=data) e a 
regularização da acentuação gráfica. 
Viana impulsionou o Governo português a nomear, em 1910, uma comissão 
formada por vários linguistas, visando estabelecer uma ortografia simplificada e 
 
4
 Trecho do livro Origem, e orthographia da lingoa portugueza do ano de 1784. Disponível em: 
http//www.archive.org/origemeorthograp00nuneouoft/origemorthograp00nuneuoft_djvu.txt. Acesso em: 24 jun. 
2010. 
 33 
uniforme de modo a ser usada nas publicações oficiais e no ensino. Um ano depois 
dá-se a Primeira Reforma Ortográfica, com esse objetivo de uniformizar a escrita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
5 BREVE CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS EFETUADAS NA 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
Conforme Vieira (2004), a palavra ortografia vem do grego, orthós e graphos. 
Orthós quer dizer direito, reto, exato (correto) e graphos significa a ação de escrever 
(escrita). 
A ortografia estuda a ação de escrever de forma correta, através do emprego 
adequado das letras e sinais gráficos, que são convencionados e oficialmente 
sancionados, no entanto, a ortografia é artificial, ao contrário da língua oral que é 
natural. 
A transcrição da linguagem oral para a escrita sofre incoerências. Nesse 
caso, é feita por aproximação, na tentativa de transcrever os sons de uma língua em 
símbolos escritos. 
 Por ter a língua portuguesa um sistema ortográfico complexo e por não se 
conseguir torná-lo exclusivamente fonético, surgem desacordos e discussões 
polêmicas sobre o assunto, uma vez que, é comum a existência de palavras com 
dois registros distintos: um falado e outro escrito, como: recorde, subsídio, Nobel e 
outros, além de existir uma acirrada disputa entre a etimologia, isto é, a história 
linguística do português e sua origem e a atualização da língua falada que é 
dinâmica e evolui naturalmente. 
Segundo Scarton (2008), a língua portuguesa adota, basicamente, dois 
critérios: 
 
A ortografia da Língua Portuguesa adota um critério dito simplificado ou 
misto, ou seja, a fusão de dois critérios, o fonológico e o etimológico (ou 
histórico). Isso quer dizer que há casos em que as palavras são 
representadas de maneira aproximadamente fonética, como formas 
reconhecidas pelos falantes alfabetizados e que não impedem que sejam 
pronunciadas de modo variável em cada contexto lingüístico. Em outros 
casos, são representadas mantendo marcas etimológicas, lembrando suas 
origens. (SCARTON, 2008, p. 1). 
 
Percebe-se que, ao convencionar um sistema ortográfico e ao estabelecer e 
proclamar leis e decretos que o regulamentam, tanto a tradição lingüística quanto a 
pronúncia das palavras são valorizadas. 
Assim, segundo Scarton (idem), a ortografia não obedece a uma regularidade, 
já que utiliza-se como critério os princípios do período simplificado ou misto. Desde 
este período, 1911, as Academias de Letras do Brasil e de Ciências de Lisboa 
 35 
tentam solucionar divergências ortográficas entre o português do Brasil e o 
português de Portugal. Este primeiro acordo ortográfico não teve a colaboração dos 
filólogos brasileiros, porém serve de referência até os dias atuais. 
Convém salientar ainda que o que acontece nos acordos ortográficos é 
sempre resultado de consensos com objetivos distintos, sendo que o principal deles 
é que a Língua Portuguesa tenha um padrão ortográfico único no mundo. 
 
Sendo uma convenção, as Academias, os estudiosos definem, de tempos 
em tempos, a melhor forma de grafar as palavras, levando em conta 
objetivos diversos, como unificar a maneira de escrever de diferentes 
nações que utilizam a língua, simplificar ou tornar mais lógico o sistema, 
etc. (SCARTON, 2008,p. 2)
5
. 
 
A questão dos acordos ortográficos da língua portuguesa não é recente. 
Houve várias tentativas de acordos e de unificação. Segue abaixo um quadro 
histórico6 da ortografia portuguesa. 
 
Quadro histórico da ortografia portuguesa: 
Séc. XII – Séc. XVI Período fonético. 
Séc.XVI – Séc. XX Período pseudoetimológico. 
Séc. XX - ... Período simplificado (também chamado de científico ou 
moderno. 
1904 – Portugal Surgimento da obra A Ortografia nacional, de Gonçalves 
Viana. 
1907 – Brasil Surgimento do primeiro projeto de reforma, proposto pela 
ABL. 
1910 – Portugal Implantação da República e nomeação de comissão para o 
estabelecimento de uma ortografia simplificada. 
1912 – Brasil/Portugal Conclusão da reforma iniciada em 1910. 
1915 – Brasil Depois do fracasso do Acordo interacadêmico, aprovação 
pela ABL de projeto de ajustamento da reforma brasileira 
aos padrões da reforma portuguesa de 1911, com 
 
5
 SCARTON, Gilberto. Critérios que regem a nossa ortografia. Poligrafo Escolar, 2008, p.1. 
6
 Quadro atualizado a partir de dados retirados de KEMMLER, Rolf. Para a história da ortografia 
simplificada. In: Ortografia de Língua Portuguesa: história, discursos e representações. São Paulo: 
Contexto, 2009, p. 53-94. 
 
 36 
eliminação de todas as divergências. 
1919 – Brasil Revogação pela ABL do estabelecimento em 1915. 
1920 – Portugal Adoção oficial da ortografia de 1911. 
1929 – Brasil Em continuação dos trabalhos no Diccionário Brasileiro da 
Língua Portugueza. A Academia Brasileira de Letras 
retornou à grafia de 1907, apenas com algumas alterações. 
1931 – Portugal/Brasil Primeiro acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal, com 
adoção (praticamente) do regime lusitano. 
1934 – Brasil Promulgação da terceira Constituição; revogação dos 
decretos anteriores sobre ortografia do português do Brasil: 
consequente derrubada do Acordo de 1931 e adoção da 
que estava em vigor em 1891. 
1938 – Brasil Restauração, no Brasil, do Acordo de 1931. 
1939 – Portugal / 
Brasil 
Envio de um ofício português para a Academia Brasileira – 
tentativa de modificações de 25 bases do acordo de 1931. 
1940 – Portugal Publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua 
Portuguesa, com base no Acordo de 1931. 
1942 – Brasil Estabelecimento das Instruções para a Organização do 
Vocabulário Ortográfico da Língua Nacional. 
1943 – Brasil Publicação do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua 
Portuguesa (PVOLP), que tinha 1.342 páginas. 
1943 –Portugal/Brasil Convenção Ortográfico entre Brasil e Portugal. 
1945 – Portugal/Brasil Realização da Conferência Inter-Acadêmica de Lisboa para 
a unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, com 
proposta de unificação radical, devido à divergência nas 
duas publicações anteriores. O Acordo, resultado dos 
vocabulários de 1940 e 1943, foi acolhido pelos dois 
países. 
1945 – Colônias 
portuguesas 
O Acordo de 1945 foi implantado também nas colônias 
portuguesas. 
1955 – Brasil Revogação, por parte do Brasil, do Acordo de 1945, com a 
volta das disposições do PVOLP. Manutenção do Acordo 
por parte de Portugal. 
 37 
1967- Portugal / Brasil Realização de um simpósio Luso-Brasileiro em Coimbra, 
com o objetivo de obter a simplificação e a unificação das 
grafias da Língua Portuguesa. 
1971 – Brasil Supressão do acento circunflexo diferencial da maioria das 
palavras, do acento grave e do acento circunflexo da sílaba 
subtônica das palavras derivadas e do trema facultativo. 
1973 –Portugal Supressão do acento grave e do acento circunflexo que 
marcavam a sílaba subtônica das palavras derivadas, a 
exemplo do Brasil. 
1975 – Portugal / 
Brasil 
Elaboração de Acordo pelas duas Academias, sem 
aprovação oficial, dadas as condições políticas em vigor. 
1986 – Países luso-
falantes 
Assinatura de Acordo por sete países que têm o português 
como língua oficial: não vingou por se tratar de uma 
reforma radical. 
1990 –Países luso-
falantes 
Assinatura de novo Acordo, menos radical, por sete países 
que têm o português como língua oficial: Brasil, Portugal, 
Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo verde, Guiné Bissau e 
Moçambique. 
1994 – Países luso-
falantes 
Data estabelecida para a entrada em vigor do Acordo de 
1990, fato que não ocorreu. 
1995 – Brasil Aprovação do Acordo de 1990 pelo Congresso Nacional. 
1998 Assinatura do Protocolo Modificado do Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa, que retirou do texto original a data 
para sua entrada em vigor. 
2004 – Países luso-
falantes 
Assinatura do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo 
Ortográfico, que permitiu a adesão do Timor Leste e 
estabeleceu como suficiente a assinatura de três países ao 
Acordo de 1990 para sua entrada em vigor. 
2008 – Portugal/Brasil Aprovação do Acordo de 1990 pelo Parlamento Português. 
Promulgação do Acordo pelo governo brasileiro que 
mandou implementá-lo a partir de 2009. 
01/01/2009 – Brasil Entrada em vigor do Acordo de 1990. 
2009 – 2012 Período de transição, com a coexistência de duas normas: 
 38 
a anterior ao Acordo de 1990 e a do próprio Acordo. 
2013 Vigência tão-somente do Acordo de 1990. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 39 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Pode-se notar através desta pesquisa sobre a língua portuguesa que, o 
português brasileiro é um reflexo da superioridade cultural dos brancos sobre os 
negros e os índios. Diferenciada pela ação de condições geográficas e sociais, as 
línguas aqui faladas no período colonial (língua geral dos índios, criada pelos 
jesuítas, e a língua dos negros (escravos africanos) influenciaram na constituição do 
chamado português brasileiro. 
Sem dúvida, a História confirma que o Brasil foi a maior sociedade de 
escravos do Novo Mundo e, embora muito ainda deva ser investigado sobre o real 
papel das etnias e das línguas em contato no Brasil Colonial, hoje se reconhece que 
o papel das línguas africanas foi decisivo para o desenho do vernáculo brasileiro. 
(MATTOS; SILVA, 2004). 
Em suma, as referências bibliográficas consultadas, colaboram com o 
conhecimento da complexidade acerca das origens e transformações do PB. 
Como a língua portuguesa no Brasil não se deu em um só momento, mas sim 
durante todo o período de colonização, entrando em relação constante com outras 
línguas e com portugueses de várias regiões de Portugal, o Português do Brasil 
apresenta diversas características, ficando evidente, portanto, que o estudo do 
português do Brasil indica a necessidade de aprofundamento em pesquisas 
históricas que deem mais destaque à questão das relações do português num 
espaço multilingue. 
Cunha (1981) afirma que: 
 
É este conhecimento que nos falta do português do Brasil. Cumpre-nos, 
pois, estudar a realidade presente, não só por ela mesma, nem apenas 
para dela partimos em busca de uma reconstrução do passado, mas 
principalmente, para com ela orientarmos, planejarmos o nosso futuro. 
(CUNHA, 1981, p. 23). 
 
A língua falada e escrita é dinâmica, ou seja, evolui naturalmente consoante 
as influências exteriores, culturais, etc. O português, tal qual fala hoje não será 
escrito e falado da mesma forma daqui a anos. Portanto, os acordos ortográficos não 
conseguem acompanhar a dinâmica dessa evolução, pois não bloqueam as 
evoluções naturais linguísticas. 
Na perspectiva de Cunha (idem), 
 40 
 
A língua que utilizamos hoje, como não poderia deixar de ser numa naçãoque se quer culta e dinâmica, reflete a civilização atual, rápida no 
enunciado, em virtude da própria rapidez vertiginosa do desenvolvimento 
material, científico e técnico: processos acrossêmicos, reduções as iniciais 
de longos títulos, interferências de vocabulários técnicos e científicos, 
intercomunicação de linguagens especiais, tudo vulgarizado imediatamente 
pelo jornal, pelo rádio, pela televisão. É uma língua em ebulição. E ainda 
bem, porque a petrificação linguística é a morte do idioma [...] (CUNHA, 
1981, p. 23). 
 
 Os interesses norteadores da pesquisa que culmina nesta monografia 
emergem em um momento em que o Acordo Ortográfico esteve e está sendo 
amplamente discutido pelos falantes da língua – blogueiros, escritos, professores, 
especialistas e não especialistas etc. – para refletir sobre alguns aspectos 
linguísticos a partir da observação e sistematização da história da língua portuguesa 
e de alguns aspectos pertinentes à questão ortográfica. 
Para tanto, procedeu-se ao levantamento da origem desta língua, suas 
“contaminações”, expansão e evolução, bem como sua vinda para o Brasil, as 
peculiaridades e características herdadas, a partir da coleta de diversas fontes que 
tratam da Língua Portuguesa e do Acordo Ortográfico. 
A partir da pesquisa bibliográfica, pode-se notar a complexidade da língua em 
estudo. Todo esse material comprova que a questão ortográfica é uma das questões 
mais polêmica da língua, iniciada no século XII, permanecendo viva ao longo de 
todo o século XX e que chega até hoje acirrando os ânimos. 
A tudo isso importa acrescentar ainda que o Acordo Ortográfico, 
principalmente o de 1990, teve o especial mérito de colocar a língua portuguesa e a 
ortografia na pauta das discussões das Academias, das universidades, das escolas, 
dos canais de comunicação, de professores e dos simples falantes. 
A partir da leitura de numerosos textos sobre o assunto, admite-se que o 
Acordo gerou a procura de um maior conhecimento da nossa língua, despertou a 
curiosidade das pessoas sobre a origem do Português e sua trajetória no decorrer 
dos anos. 
Admite-se, então, que a língua portuguesa passou, ao longo de sua história, 
por diversos períodos: acordos, desacordos e tentativas de acordos, sempre sob 
fortes polêmicas. É importante destacar que, falando-se especificamente, na 
ortografia, o clamor era impulsionado pelo medo da novidade, pelo patriotismo e 
 41 
nacionalismo, pelo conservadorismo, pelo espírito reacionário, pela emoção e pelo 
desconhecimento do assunto. 
Nesse sentido, os acordos não são totalmente perfeitos e coerentes, mas isso 
não é razão para proferirem ideias distorcidas sobre língua e ortografia, pois os 
leitores interessados na questão ortográfica podem ficar possuídos de ideias 
errôneas. 
Deve-se, então, continuar a busca sobre as condições singulares pelas quais 
se deu o processo de implantação da língua portuguesa no Brasil e as suas 
transformações em consequência dos contatos por que passou. E ainda, outras 
questões que permaneceram em aberto neste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 42 
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Outros materiais