Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Visual Methodologies Profa. Julie Pires Analise da Imagem A [BAV352] [ An Introduc+on to the Interpreta+on of Visual Materials ] Gillian Rose ‣ o‣ o ‣ o método Discussão da importância do visual para sociedades contemporâneas ocidentais. Proposta de uma ampla abordagem estrutural de trabalho para entender como as imagens tendem à significação. Sugestão de alguns critérios para uma abordagem críEca dos materiais visuais. Escolher um método de pesquisa depende de diversos fatores par6culares. Aqui serão examinados os fatores relacionados a uma abordagem analí6ca básica que pode ser adotada em relação a imagens visuais, a par6r dos seguintes pontos: Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (1) um panorama introdutório do ‘visual’ Nas úl7mas décadas, o modo como muitos cien7stas sociais compreendem a vida em sociedade tem mudado. “Cultura” tem um significado crucial para eles entenderem os processos, iden7dades, mudanças sociais e conflitos. Os cien7stas estão agora mais interessados no modo como a vida social é construída através das idéias que as pessoas tem dela e nas prá7cas que derivam destas idéias. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Cultura (...) não é tanto um conjunto de coisas – romances e pinturas ou programas de TV ou quadrinhos – quanto um processo, um conjunto de prá+cas. Principalmente, a cultura diz respeito a produção e a troca de significados – ‘dar e receber sen+do’ – entre os membros de uma sociedade ou grupo... Assim, a cultura depende da interpretação dos significados por seus par+cipantes, o que os envolve, e 'faz sen+do' no mundo, em geral de modo semelhante. (Stuart Hall, Representa+on: Cultural Representa+ons and Signifying Prac+ces, 1997) 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Cultura* como um conjunto de prá7cas, de produção e mudança de significados, implícitos ou explícitos, conscientes ou inconscientes, entre os membros da sociedade. Maior interesse nas maneiras pelas quais a vida social é construída através da ideia que temos dela e as prá7cas que fluem desses conceitos. *Para Clifford Geertz (2008), o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele próprio teceu, vendo a cultura como essas teias (...) como algo dinâmico cons7tuído pelos indivíduos e cons7tuinte deles. A naturalização ocorreria quando os indivíduos, tão presos à estas teias, não seriam capazes de perceber os fenômenos como construções sociais, naturais. Já o estranhamento estaria ligado a uma a7tude de tomada de consciência, ou seja, de buscar enxergar estas teias e depreender seus significados. (citado em Ricardo Artur Pereira Carvalho, 2012) 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Estes significados podem ser explícitos ou implícitos, conscientes ou inconscientes. De qualquer forma, eles constroem estruturas de significação – o modo como vocês e eu nos comportamos – em nossa vida co7diana. Muitos autores hoje dizem que o visual é o centro da construção cultural da vida social nas sociedades ocidentais contemporâneas. E é certo que nós estamos rodeados por diferentes 7pos de tecnologia visual – fotografia, vídeo, filme, gráficos digitais, televisão etc. – e estas imagens nos mostram – programas de TV, anúncios, instantâneos, escultura pública, cinema, imagens de jornal, desenhos e pinturas. 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Todas estas qualidades de imagem nos oferecem visões do mundo. (...) Mas esta representação, mesmo nas fotografias, nunca é inocente. Estas imagens nunca são janelas transparentes são para o mundo. Elas interpretam o mundo e o mostram de maneiras muito par7culares. Assim, uma dis7nção é feita entre VISÃO e VISUALIDADE: VISÃO* – é o que o olho humano é psicologicamente capaz de ver (estas idéias também mudam com o tempo). VISUALIDADE* – por outro lado, se refere ao modo no qual a visão é construída de várias maneiras: como nós vemos, como nós somos capacitados a ver, reconhecer, ou dados a ver e como nós vemos o que é visível e o que não é visível nestas visões. *regime escópico: uma localização cultural da visão e da visualidade (Mar7n Jay) 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Alguns autores valorizam a VISÃO e dão pouca atenção àqueles que nasceram cegos. (Citar Berger) Outros autores preferem historicizar a importância do visual, traçando aquilo que eles vêm como uma saturação da Sociedade Ocidental pela imagem. Mar7n Jay (Downcast Eye,1993), por exemplo, u7liza o termo ocularcentrismo para descrevera centralidade do visual na vida ocidental contemporânea. 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Par7cularmente, sugere-‐se que as formas modernas de conhecimento dependem de um regime escópico que equipara a visão ao conhecimento. Chris Jenks (1995), por exemplo, apresenta deste modo em um ensaio in7tulado A centralidade do olho na cultura ocidental, argumentando que “olhar, ver e conhecer tornaram-‐se perigosamente interligados”. Dizemos: VER quando queremos dizer CONHECER – “Veja só...” ou “Qual o seu ponto de vista?”, “Não consegue enxergar isso?” etc. No momento atual da sociedade podemos citar o pensamento de Guy Debord (Sociedade do Espetáculo). Ou Paul Virilio (The Vision Machine), que irá ques7onar como uma nova visão da tecnologia criou “uma máquina da visão” na qual somos todos capturados. 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 1) um panorama introdutório do ‘visual’ ‣ o‣ o‣ o‣ o Barbara Maria Stafford (1991) imagens u7lizadas nas ciências,conhecimentos cienuficos sobre o mundo mais baseados nas imagens que em textos escritos. Judith Adler (1989) argumenta que entre 1600 e 1800 as viagens das elites européias eram definidas como uma prá7ca visual (primeiramente baseada em “uma ideologia cienufica e mais tarde em uma par7cular valorização da beleza visual e arus7ca). John Urry (1990) esboçou o esquema de um discernível “olhar turís7co” que ele argumenta ser upico do turismo de massa do século XX (Veja também Prax, 1992). Michel Foucault (1977) explorara o modo como as ins7tuições do século XIX dependem de várias formas de vigilância. Timothy Mitchell (1988) mostra como as sociedades europeias representam a totalidade do mundo como uma exposição, no seu estudo sobre as feiras e exposições do século XIX. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Para Mirzoeff (O que é cultura visual, 1998) nossa visão é oculacentrista porque interagimos mais e mais com experiências visuais totalmente construídas. Isso suscita uma outra questão que diz respeito à própria tensão entre ver e conhecer na pós-‐modernidade: Baudrillard ques7ona que na pós-‐modernidade há a possibilidade de não dis7nguirmos entre o real e o irreal. Imagens vêm destacadas de uma certa relação com o mundo real e o resultado é que nós hoje vivemos em um regime de expansão da imagem dominado por simulacros e simulações. 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Ver é muito mais do que acreditar hoje em dia. Você pode comprar uma imagem de sua casa feita por um satélite em órbita ou ter seus órgãos internos magne+camente representados. Se um momento especial não saiu muito bem na fotografia, você pode manipulá-‐lo digitalmente no seu computador. No Empire State Building, em Nova York, as filas são maiores para a realidade virtual New York Ride do que para os elevadores que levam às plataformas de observação. (Mirzoeff, 1998) 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Donna Haraway (1989-‐1991)* sugere que determinadas relações de poder social estão ar7culadas a formas par7culares de visualidade. Ela ques7ona se na contemporaneidade, esta abundância visual desregulada é acessível apenas a um grupo pequeno e a algumas ins7tuições, em par7cular aquelas que pertencem a um histórico ligado ao militarismo, capitalismo, colonialismo e supremacia masculina. Ela ques7ona se esta visualidade não produz visões específicas de diferenças sociais > hierarquias de classe, gênero, sexualidade etc. Parte do projeto crí7co de Haraway, então, é examinar em detalhes como algumas ins7tuições mobilizam certas formas de visualidade para ver, e categorizar, o mundo. *(Primata visions: Gender, Race and Nature in the world of modern Science, 1989 – Simians, Cyborgs and Women: The Reinven+on of Nature, 1991) 1) um panorama introdutório do ‘visual’ Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais O foco deste campo é algo chamado cultura visual, apesar de alguns autores (escritores cujas obras estão envolvidas com o visual) serem altamente cé7cos de que este cons7tua um termo ú7l. Vale ressaltar ainda que a atenção dada aos efeitos da imagem como um campo novo de estudo surgiu há alguns anos, talvez, como um outro sintoma de que as imagens são de grande importância no momento contemporâneo. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 1 Cultura Visual, então, é um termo que deverá ser u7lizado cuidadosamente.Há, no entanto, cinco aspectos da literatura recente sobre cultura visual que são valiosos para a reflexão sobre os efeitos sociais das imagens: Existe uma insistência de que as imagens fazem algo por elas mesmas. Para alguns autores, como Carol Armstrong (Ques+onário da cultura visual, 1996), uma imagem é “potencialmente um lugar de resistência, de par7cular irredu7bilidade, e subversivamente estranha e prazeirosa.” 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 1Este 7po de resistência visual pode ser di|cil de enunciar. De fato, alguns aspectos de imagens visuais – como as cores de uma pintura a óleo, por exemplo, ou o que Barthes (1982) chamou o punctum de uma fotografia (ver Capítulo 4, Seção 3.3) – quando são tema abordado pela escrita precisam resis7r a um 7po de tradução. Isto levou alguns autores a argumentarem se o visual não é semelhante a linguagem. Este posicionamento tem importantes implicações para alguns dos métodos como a semiologia (capítulo 4) e alguns métodos de análise do discurso examinado (capítulo 6), ambos baseados na análise da linguagem. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 1Deste modo, alguns autores irão recorrer ao discurso que circunda a imagem para melhor compreendê-‐la. Mas, é importante não esquecer que o conhecimento provêm de diversos 7pos de mídia, incluindo outros modos de percepção que não somente a visão, e que estas imagens visuais geralmente trabalham em conjunto com outros modos de representação. É muito comum, por exemplo, encontrarmos uma imagem acompanhada de textos ou da palavra falada. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 2O modo como as imagens tornam visíveis as diferenças sociais. Um dos pontos centrais nas ciências sociais é apontar como as categorias sociais não são naturais, mas construídas. E estas construções vêm na forma visual. Uma visão crí7ca da análise da imagem deve considerar as relações sociais de poder. Para entender uma imagem e realizar um estudo crí7co dela é importante ques7onar seu surgimento e sua atuação no contexto social. Anotar seus princípios de inclusão e exclusão, detectar seu papel (e como se faz acessível), compreender o modo como ela é distribuída, e decodificar a hierarquia e as diferenças naturalizadas. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 2 > O cartaz descrito fala da igualdade, ou seja, diz não haver racismo para os conservadores, mas necessita de um estereó7po de um homem negro que pode ser aceito propriamente na sociedade. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 2Para compreender uma imagem é necessário inves+gar como ela funciona socialmente. Isso é, notar os princípios de inclusão e exclusão, para detectar as funções que ela disponibiliza, compreender o modo pelo qual são distribuídas, e decodificar as hierarquias e as diferenças que a naturalizam. (Fyfe e Law, 1988) Olhar cuidadosamente as imagens, então, implica, entre outras coisas, pensar sobre como elas oferecem visões muito par7culares de categorias sociais tais como: gênero, classe, raça, sexualidade, poder, assim por diante. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 3Considera-‐se, também, não apenas a aparência da imagem, mas o modo como ela é vista. O importante na imagem não é apenas a imagem por si mesma, mas como os espectadores, em par7cular, a vêem. John Berger, em Modos de Ver, irá dizer que “nós nunca olhamos apenas uma coisa; sempre olhamos a relação entre as coisas e nós mesmos.” O exemplo que o autor apresenta fala de um modo par7cular de representar a mulher pela nudez, como alguém passivo, um espetáculo para o outro ver. Seu argumento e importante porque ele torna clara que essas imagens de diferenças sociais funcionam não apenas pelo o que elas mostram, mas também pelo 7po de visão que elas convidam. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 3De um modo geral na pintura à óleo européia de nus, o protagonista nunca é pintado – ele é o espectador – diante da pintura ele é presumidamente um homem. Tudo éendereçado a ele. Tudo aparece e resulta para ele. É para ele que a figura se despiu. (Berger, 1972) > uma representação do feminino, mas que inclui a construção do masculino: o voyer, o dominador . 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Bacante reclinada de Felix Trutat (1824-‐48) Suzana e os velhos de Tintorejo (1518-‐94) Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 3Pode-‐se simplificar isso dizendo: homens agem e mulheres aparecem. Homens olham para as mulheres. Mulheres assistem a si mesmas sendo olhadas. Isto não só determina a maioria das relações entre Mulheres e Homens, mas a relação entre as mulheres. O avaliador da mulher em si mesma é do sexo masculino: a fêmea analisada. Ela transforma-‐se em um objeto -‐ e mais par+cularmente objeto da visão: uma aparição. (Berger, 1972) Abordar uma imagem com seriedade, então, também envolve pensar como ela posiciona você, como espectador, em sua relação com ela. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4A ênfase no termo “cultura visual” para falar em imagens visuais de uma cultura extensa. Cultura como “uma totalidade, um conjunto de modos de vida.” O termo foi usado pela primeira vez em 1983, por Svetlana Alpers* (The art of describing: Dutch art in the seventeen century, 1983) e seu exemplo tem-‐se seguido por alguns autores, entre outros, Stafford (1996) em seu argumento de que as novas tecnologias de visualização têm ultrapassado o texto escrito como “a mais rica, mais fascinante modalidade para transmi7r ideias”, e Karal Ann Marling (1994) em seu livro sobre o impacto da televisão e seu modo de ver a América do Norte de 1950. Em algumas dessas obras, ques7onou-‐se historicamente se uma visualidade específica foi fundamental para uma cultura ocularcentrista. *Nesta obra, o termo “cultura visual” dá ênfase a importância da imagem para a sociedade holandesa do sécXVII. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4Esta centralização para alguns autores representa inclusão mais que exclusão, mas, para outros, a possibilidade de exclusão não deve ser ignorada. O que significa estarmos imersos em uma “cultura” eminentemente visual? Esta “cultural visual” pode ser definida a par7r de todos os objetos, artefatos materiais, produzidos pelo trabalho humano ou por sua imaginação, seja com obje7vos esté7cos, simbólicos, ritualís7cos, polí7cos-‐ideológicos, e que são endereçados a uma significação. “Cultura Visual” é um processo e não uma coisa, um modo parEcular de perceber o objeto e não um objeto parEcular percebido. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 5A visão de uma imagem tem seu lugar em um específico contexto social com suas práEcas específicas. Estes diferentes contexto têm suas diferentes economias, sua própria disciplina suas próprias regras e seus próprios espectadores e seus comportamentos. E tudo isso afeta o modo com a imagem é vista. 2) “Cultura Visual”: as condições sociais e os efeitos dos objetos visuais Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (3) Rumo a uma metodologia visual Para uma análise crí7ca da imagem é preciso compreender a importância das imagens visuais. E considerar: 1. Tomar a imagem com seriedade. As imagens não são simples reflexos dos “contextos” sociais. Elas produzem seus próprios efeitos. Não é somente uma conseqüência, mas também uma causa. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 2. É preciso pensar sobre as condições sociais e os efeitos dos artefatos visuais. Prá7cas culturais assim como representações visuais dependem e produzem inclusões e exclusões sociais. Quais os significados culturais das imagens? 3. Considerar seu próprio modo de olhar imagens. O modo como vemos não é natural nem inocente. Deste modo, é necessário que vocês considerem como vocês, enquanto crí7cos da imagem, estão olhando. Existem diversos métodos e é preciso que haja sempre o debate a par7r deles. 3) Rumo a uma metodologia visual Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (4) Rumo a ferramentas metodológicas Existem três sites (pontosde vista) que devem ser avaliados em uma análise da imagem e sua significação: > o site da produção | a área ou o campo da produção da imagem. > o site da imagem |o campo da própria imagem. > o site do espectador | a(s) área(s) onde a imagem é vista. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Mas além disso existem diferentes aspectos para cada um dos processos realizados nestes sites. Entre estas modalidades, podemos destacar três formas de con7buição na análise: tecnológica, composicional e social TECNOLÓGICA: que 7po de aparato foi u7lizado para confeccionar a imagem, desde a pintura óleo, a fotografia até a internet. COMPOSICIONAL: quando uma imagem é realizada são “desenhadas” e configuradas uma série de estratégias: cor, textura, organização espacial etc. SOCIAL: a extensão das questões econômicas, polí7cas e sociais, relacionadas a ins7tuições e prá7cas que se organizam em torno desta imagem na qual ela é vista e u7lizada. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4.1) site1: Produção tecnológica | é importante sabermos que tecnologia gerou determinada imagem (a pintura a óleo tem uma textura, esumulo ao tato, brilho que não acontece na fotografia, por exemplo. Por outro lado, uma fotografia realizada por um 7po de câmera analógica apresentará diferenças em relação à uma fotografia digital.) composicional | a questão do gênero na composição: natureza morta, nus etc. Uma sucessão de imagens que adotam em termos composi7vos uma referência anterior. No caso da fotografia: fotos de rua (Doisneau), fotografia jornalís7ca etc. A composição iden7ficará uma cena espontânea ou será uma denuncia de uma cena de opressão etc. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Anúncio Panzani, para Barthes uma “natureza morta”. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 social | Como exemplo, as imagens que Harvey u7liza em “A condição pós-‐moderna” para argumentar que elas representam a posmodernidade. Através da importância na produção de imagens, por meio da moda, pop art, televisão, e modos de vida urbanos que são parte da co7diano capitalista. A profusão de imagens publicitárias refle7ndo na cultura dos objetos uma superficialidade e sua efemeridade. Além disso, o modo como determinadas indústrias produzem suas imagens. Como, por exemplo, a Coca-‐Cola. Criando uma iden7ficação imediata, pensada para mídias diferentes. Ou ainda, o ponto de vista do autor. Se eu digo quem foi o autor ou cineasta de determinado filme. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 Sideways Glance, Doisneau, 1948. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4) Rumo a ferramentas metodológicas A fotografia foi feita em 1948 > câmeras relativamente leves e película altamente sensível à luz. Isto significa que, ao contrário de períodos anteriores, um fotógrafo não precisava encontrar assuntos que permanecessem imóveis por alguns minutos ou mesmo segundos, a fim de serem retratados. O instantâneo: parte do efeito da fotografia -‐ a sua aparente espontaneidade, um instante -‐ ativado pela tecnologia utilizada. o site da produção | a área ou o campoda produção da imagem A fotografia aqui se encaixa em um gênero: “fotografia de rua”, que se relaciona a um outro gênero de fotografia, o documentário. A fotografia documental originalmente tende a retratar pessoas pobres, oprimidas ou marginalizadas, muitas vezes como parte de projetos reformistas para mostrar o horror de suas vidas e, assim, inspirar mudanças. Mas a fotografia de rua não quer que seus telespectadores digam “oh! quão terrível!” e talvez “temos de fazer algo sobre isso”. Pelo contrário, a sua maneira de ver convida a uma resposta mais como, “oh quão extraordinário, a vida não é ricamente maravilhosa”. Para fazer fotografia de rua, ele diz, o fotógrafo tem que estar lá, na rua, forte o suficiente para sobreviver, resistente o suficiente para superar as ameaças representadas pela rua. Há um tipo de poder machista que se celebra na conta de fotografia de rua. Este tipo de fotografia também dota o seu espectador com uma espécie de resistência sobre a imagem, pois permite que o espectador permaneça no controle posicionado como algo distante e superior ao que a imagem nos mostra. Temos mais informações do que as pessoas na foto, e, portanto, podemos sorrir para eles. Esta fotografia em particular ainda coloca uma janela entre nós e seus registros; nós observamos desde o ponto de vista mesmo escondido como o fotógrafo fez. SOCIAL TECNOLÓGICA COMPOSICIONAL Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4.2) site2: Imagem tecnológica | do ponto de vista da imagem, também devemos perceber que as diferenças em sua apresentação está diretamente relacionada à tecnologia u7lizada. A fotografia em preto & branco, por exemplo, ou o cinema mudo. O resultado das tonalidades, das gamas de cinza. Os olhos azuis de Marlene Dietrich, no cinema, por exemplo. composicional | a maneira como a imagem é construída em termos formais. As diagonais, por exemplo, e, em nosso caso, a própria maneira como a 7pografia se integra à imagem, entre outros. A modalidade mais importante da própria imagem é a composição. São as caracterís7cas da composição que muitas vezes criam mudanças na recepção da imagem. O direcionamento do olhar. social | Condições e prá7cas sociais que afetam a imagem em si. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4) Rumo a ferramentas metodológicas A discussão da fotografia Doisneau é muito clara sobre a maneira em que aspectos de sua composição podem contribuir para uma maneira de ver (...) a organização espacial de olhares na fotografia, (...) curiosamente delineia a políEca sexual de olhar. o site da imagem |o campo da própria imagem SOCIAL TECNOLÓGICA COMPOSICIONAL As tonalidades preto e branco da foto de Doisneau são o resultado de sua escolha de técnicas e de processamento. Ele começou a trabalhar como fotógrafo no departamento de publicidade de uma farmácia, e depois trabalhou para o fabricante de automóveis Renault em 1930 (Doisneau, 1990). Mais tarde trabalhou para a Vogue e para a agência de imprensa da Aliança. Isto é, ele muitas vezes retratou coisas para serem vendidas: carros, modas. É o olhar [do homem], que define a problemáEca da fotografia e apaga o da mulher. Ela não olha para nada que tenha algum significado para o espectador. Espacialmente central, ela é negada na triangulação de olhares entre o homem, a imagem da mulher fe7chizada e o espectador, que assim é fascinado por adotar uma posição de visualização masculina. Para entender a piada, temos de ser cúmplices da sua descoberta. Seu segredo de algo melhor para olhar determina a brincadeira que, como em todas as piadas machistas, é às custas da mulher. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4.3) site3: O espectador tecnólogica | o reconhecimento do espectador em relação à própria tecnologia (ex: internet). O modo como a imagem chega ao espectador. Se vemos uma reprodução de um vitral de uma igreja gó7ca em um livro, será totalmente diferente de vermos este vitral ao vivo. A luz que penetra por ele, as cores. Além disso existem outra questões ligadas à percepção que dizem respeito aos sons, ao tato, ao cheiro etc. Podemos folhear um livro tomando um café, escutando uma música. composicional | escolhas formais que sejam compreendidas e tenhamsido construídas ao longo dos anos, p.e., a questão da perspec7va. O enquadramento, o direcionamento dos olhares, que pode colocar o espectador no interior o no exterior da imagem. Transformá-‐lo em um voyer. A composição sugere uma interpretação específica, que pode ser aceita, renegociada ou rejeitada completamente. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 social | do ponto de vista do observador é a modalidade mais importante, pois a compreensão da imagem depende das diferentes prá7cas sociais vividas. As imagens podem ser reproduzidas e vistas em contextos absolutamente dis7ntos, como cartazes, postais etc. Nos relacionamos com elas também de modos dis7ntos. Postais que colocamos em nosso quarto tem um significado para quem nos conhece e é convidado a entrar neste ambiente. Estas imagens, inclusive, estabelecem determinadas iden7dades. Também são estabelecidos determinados códigos sociais. Uma certa reverência diante da obra de arte no museu (por exemplo), quando comparamos à arte contemporânea etc. 4) Rumo a ferramentas metodológicas Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 TECNOLÓGICA 4) Rumo a ferramentas metodológicas Você pode não concordar com a interpretação, citada, da fotografia de Doisneau. Mas, a sua discordância, no entanto, é a prova de que os significados e os efeitos de uma imagem são produzidos, pois você faz parte de um público como todas as audiências, para o qual a fotografia propõe ela mesma suas próprias maneiras de ver e de relacionar com outros 7pos de saberes. Os significados de uma imagem se dão da mesma forma. Muitas vezes implicam que a tecnologia usada para fazer e exibir uma imagem irá controlar a reação de uma platéia. o site do espectador | a(s) área(s) onde a imagem é vista SOCIAL COMPOSICIONAL A configuração formal dos elementos de uma imagem irá ditar como uma imagem será vista pelos seu público. Griselda Pollock (1988) assume isso quando afirma que esta imagem Doisneau é sempre vista como uma piada contra mulher, porque a condução do olhar pela fotografia coincide com um regime escópico que permite que os homens olhem. É importante considerar com muito cuidado a organização da imagem, porque isso tem um efeito sobre o espectador que a vê. Não há dúvida que a fotografia Doisneau puxa o espectador para uma cumplicidade com o homem. Mas isso não significa necessariamente que o espectador simpa7ze com esse olhar. As imagens visuais são sempre praticadas de formas particulares, e diferentes práticas são muitas vezes associadas com diferentes tipos de imagens em diferentes tipos de espaços. Um cinema, uma televisão em uma sala de estar e uma tela em uma galeria de arte moderna não convidam aos mesmos modos de ver. Você está olhando para a fotografia Doisneau de uma maneira particular, (como um dispositivo pedagógico) Você está olhando para ela muitas vezes e olhando de maneiras diferentes, dependendo das questões levantadas. Você estaria compreendendo esta fotografia de modo muito diferente se tivesse sido enviado no formato de um cartão postal (e muitas das fotografias de Doisneau foram reproduzidas como cartões, postais e cartazes). Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (5) Escolhendo um método Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 (6) Encontrando, reunindo referências e reproduzindo suas imagens Depois de ter encontrado sua(s) imagem(ns), há uma série de considerações que precisa ter em mente: 1. Você precisa ser capaz reunir refrências da mesma forma que faria referência com qualquer material de outra fonte. Ou seja, você precisa reunir tantas informações quanto possível. Para uma pintura, p.e., você precisará do nome e data do ar7sta que fez a imagem, o utulo da peça, a data da sua criação, os materiais de que ela é feita, suas dimensões, sua localização atual e seu número de acesso (se ela está agora em uma coleção). Para um anúncio em uma revista, você precisa do nome, data, número do volume e local de publicação da revista, mais o número da página na qual o anúncio apareceu e seutamanho. Se você sabe sobre todo a campanha da qual este anúncio é uma parte, você precisará fazer referência sistemá7ca para as diferentes partes dessa campanha. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 2. É preciso considerar o formato preciso no qual você vai interpretar a(a) imagem(ns). Em par7cular, a quan7dade de material para além da própria imagem que você precisará? Estar envolta pelo texto poderá fazer uma grande diferença para a interpretação de uma imagem. 6) encontrando, reunindo referências e reproduzindo suas imagens Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 3. Se você está estudando uma pintura, é importante que você veja o original, ou uma reprodução boa será suficiente? Caso esteja preocupado com o seu site original de exibição, deverá vê-‐la em uma galeria adequada? Se é um anúncio, é importante saber o que foi impresso ao lado dele em uma revista? Algumas destas preocupações dependem, novamente, de que ponto de vista teórico está adotando. Saber onde um anúncio apareceu em uma revista seria mais importante se você es7vesse usando análise de discurso (capítulo 6), por exemplo, do que se es7vesse usando interpretação composicional (Capítulo 2) ou análise de conteúdo (capítulo 3). 6) encontrando, reunindo referências e reproduzindo suas imagens Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 4. Finalmente, é sempre ú7l ter em mente como você poderá reproduzir a(s) imagem(ns) que está pesquisando. Quando es7ver escrevendo, é importante mostrar ao leitor o que você está discu7ndo. Não corte ou interfira na reprodução sem deixar sua intervenção clara para o leitor Se você cortar uma imagem para mostrar uma pequena parte dela, dizer que é um “detalhe” do trabalho. Em modos de ver, John Berger (1972) vai ainda mais longe e oferece ensaios que consistem inteiramente de imagens, você pode sen7r que algumas das coisas que você quer dizer sobre as suas imagens são mais bem representadas visualmente, como um foto-‐ensaio. 6) encontrando, reunindo referências e reproduzindo suas imagens Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2013.2 bibliografia desta apresentação BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BERGER, John. Modos de Ver. São Paulo: Mar7ns Fontes, 197? CARVALHO, Ricardo Artur. Olhares sobre o ensino do projeto em Design: gêneros e interações em espaços de ensino e aprendizagem. Orientadora: Jackeline Lima Farbiarz. -‐ Rio de Janeiro: PUC-‐Rio, Departamento de Artes & Design, 2012. ROSE, Gillian. Visual Methodologies: An IntroducEon to the InterpretaEon of Visual Materials. New Delhi; London: Sage Publica7ons, 2001. Visual Methodologies : : Gillian Rose : : Análise da Imagem A : : CVD : : 2012.2 4) Rumo a ferramentas metodológicas Josef Müller-‐Brockman, 1960
Compartilhar