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MÓDULO DE: ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO E PSICOPEDAGÓGICO AUTORIA: WALLACE RIBEIRO REVISÃO DANIELA D. A. MISSAWA Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo De: Aconselhamento Psicológico E Psicopedagógico Autoria: Wallace Ribeiro Revisão: Daniela D. A. Missawa CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos. Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente a aplicação didática, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação Este módulo analisa o conceito de Aconselhamento Psicológico como uma produção histórica das práticas e saberes da psicologia. Registra o processo de transformação da prática de aconselhamento psicológico e suas interfaces com a Pedagogia. Se em um primeiro momento, verifica-se que predominavam as práticas diagnósticas, centradas nos problemas - da criança, do adolescente, do adulto, etc. – em outro momento o Aconselhamento Psicológico vai aos poucos modificando o foco de sua prática, passando do sintoma para a pessoa; do instrumento de avaliação para a relação cliente-conselheiro, do resultado para o processo da relação centrada na pessoa. Assim, o módulo propõe pensar o Aconselhamento Psicológico como uma estratégia de atuação que pode contribuir com a Pedagogia, pois, consiste menos numa especialidade profissional que numa postura ética de atenção à vida. Objetivo Conhecer o processo de produção histórico do Aconselhamento Psicológico Promover a compreensão dos múltiplos fatores que atravessam a aprendizagem permitindo a construção de práticas pedagógicas mediadoras da aprendizagem. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 Ementa História do Aconselhamento Psicológico e sua inserção nas práticas pedagógicas. A aprendizagem e suas múltiplas determinações. Estratégias de aconselhamento psicopedagógico. Dificuldade de aprendizagem e aconselhamento psicopedagógico. Sobre o Autor Psicólogo, bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, Pós- graduado em Clínica e Transdisciplinaridade pela Faculdade SABERES em convênio com a Universidade Federal Fluminense e Mestrando em Psicologia Institucional na Universidade Federal do Espírito Santo, na linha de pesquisa Clínica e Subjetividade. Atualmente é psicólogo do Núcleo de Atenção à Saúde e Assistência Social da UFES, onde assumiu o cargo de gestor de projetos institucionais, além de realizar o acompanhamento psicossocial de servidores e alunos da UFES. Sobre a Revisora Psicóloga, bacharel em Psicologia e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Espírito Santo. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 Atualmente é docente do curso de graduação em Administração da Faculdade Estácio de Sá e ministra aulas de pós-graduação de disciplinas relacionadas à temática da Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9 O Processo Histórico De Produção Do Aconselhamento Psicológico E Psicopedagógico ............... 9 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 12 Aconselhamento X Orientação X Psicoterapia ............................................................................... 12 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 15 O Que É Aconselhamento Psicológico E Psicopedagógico? .......................................................... 15 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 19 Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência .............................................................................. 19 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 21 Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência .............................................................................. 21 UNIDADE 6 ......................................................................................................... 24 Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência .............................................................................. 24 UNIDADE 7 ......................................................................................................... 27 Pró-Curando Cuidar De Si, Do Outro E Do Mundo Mãe-Filho-Educadora. ..................................... 27 UNIDADE 8 ......................................................................................................... 30 Trajetória Metodológica .................................................................................................................. 30 UNIDADE 9 ......................................................................................................... 33 Modos De Cuidar ........................................................................................................................... 33 UNIDADE 10 ....................................................................................................... 35 Modos De Cuidar ........................................................................................................................... 35 UNIDADE 11 ....................................................................................................... 38 Cristalização Do Cuidado ............................................................................................................... 38 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 UNIDADE 12 ....................................................................................................... 41 Ainda Sobre A Cristalização Do Cuidado ....................................................................................... 41 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 44 Alguém Atrás Da Porta: Quando O Processo De Ensino E Aprendizagem É Ameaça (Dor)? ........ 44 UNIDADE 14 ....................................................................................................... 48 Colocar-Se Atrás Da Porta ............................................................................................................. 48 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 51 Ainda Sobre Colocar-Se Atrás Da Porta ........................................................................................ 51 UNIDADE 16 .......................................................................................................54 Pós-Escrito..................................................................................................................................... 54 UNIDADE 17 ....................................................................................................... 56 O Que É Ouvir ............................................................................................................................... 56 UNIDADE 18 ....................................................................................................... 59 O Que é Ouvir ................................................................................................................................ 59 UNIDADE 19 ....................................................................................................... 62 A escuta e o contato ...................................................................................................................... 62 UNIDADE 20 ....................................................................................................... 66 A Escuta E O Contato .................................................................................................................... 66 UNIDADE 21 ....................................................................................................... 71 Michel Foucault (1924-1984) E O Controle Dos Corpos ................................................................. 71 UNIDADE 22 ....................................................................................................... 74 MICHEL FOUCAULT (1924-1984) e o Controle dos Corpos .......................................................... 74 UNIDADE 23 ....................................................................................................... 77 O Controle da Atividade/Ação de Corpos Submetidos ................................................................... 77 UNIDADE 24 ....................................................................................................... 79 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 Ainda sobre O Controle da Atividade/Ação de Corpos Submetidos................................................ 79 UNIDADE 25 ....................................................................................................... 82 Ainda sobre O Controle da Atividade/Ação de Corpos Submetidos................................................ 82 UNIDADE 26 ....................................................................................................... 83 As Dificuldades de Atenção: uma breve apresentação .................................................................. 83 UNIDADE 27 ....................................................................................................... 86 Déficits de Atenção: Critério para o professor identificar o distúrbio ............................................... 86 UNIDADE 28 ....................................................................................................... 89 Identificando o D.A. ........................................................................................................................ 89 UNIDADE 29 ....................................................................................................... 92 Tratamento..................................................................................................................................... 92 UNIDADE 30 ....................................................................................................... 95 Continuando a falar sobre Tratamento ........................................................................................... 95 GLOSSÁRIO ....................................................................................................... 97 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 98 Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 UNIDADE 1 Objetivo: Permitir ao aluno visualizar o processo de produção histórica dos saberes em Aconselhamento Psicológico e Psicopedagógico, registrando suas referências fundamentais e suas tendências. O Processo Histórico De Produção Do Aconselhamento Psicológico E Psicopedagógico No plano teórico e prático, o Aconselhamento Psicológico ampliou seu alcance, e atualmente há uma infinidade de concepções e abordagens. Mas em que consiste o Aconselhamento Psicológico e como ele pode contribuir com as práticas Pedagógicas? Tratamento psicológico, orientação, psicoterapia, prática psicopedagógica? O seu exercício é restrito ao psicólogo (a) ou pode ser exercida por outros profissionais? A função do aconselhamento ou do psicólogo é dar conselhos? Estas perguntas aparecem, constantemente. Todavia, para respondê-las diferentes perspectivas são adotadas, principalmente para definir a função e os procedimentos do Aconselhamento Psicológico. A prática do aconselhamento é proveniente de tempos remotos desde quando o homem passou a viver em grupo, pois, a partir desse momento, as pessoas sempre se relacionaram entre si. Alguns indivíduos dotados de maior competência eram solicitados a prestar ajuda aos demais (FORGHIERI, 2007). “Na antiguidade os indivíduos assustavam-se com as doenças, tinham muito medo delas e eram levados ao reino da imaginação para explicá-las e tentar curá-las. Assim, povoavam o mundo com seres imaginários a partir de seus próprios impulsos de amor e agressividade que projetavam em deuses, respectivamente do bem e do mal, considerando que estes eram causadores das doenças e aqueles, os propiciadores da cura” (FORGHIERI, 2007, p.3). A doença e sua terapia passaram do plano da magia para o da religião e este assunto está passando também para o plano científico. Médicos e psicólogos têm constatado que a crença na ajuda de um Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 ser superior pode contribuir efetivamente no processo de restabelecimento do doente. “Pesquisas nessa área têm revelado que pacientes com doenças graves, medicados adequadamente, apresentam aumento das defesas de seu organismo e consequente recuperação, com maior freqüência, quando possuem profunda religiosidade do que quando são incrédulos (FORGHIERI, 2007, p.5). Com o advento da civilização grega (séc. VII a.C.) a doença e sua terapia deixaram de ser consideradas sob uma perspectiva sobrenatural e passaram a ser compreendidas de forma natural e científica (FORGHIERI, 2007). Os humanistas, na Renascença, foram os primeiros a considerar o ser humano – doente - como pessoa com dignidade, pois apresentaram uma visão de confiança no indivíduo, em suas convicções e sentimentos, mesmo quando adoeciam mentalmente (FORGHIERI, 2007). Portanto, o Aconselhamento Terapêutico ou Psicológico surgiu inicialmente como “uma ajuda terapêutica destinada a aliviar os sofrimentos existenciais dos seres humanos, com procedimentos variados, sem o estabelecimento de teorias ou regras rígidas” (FORGHIERI, 2007, p.38). O Aconselhamento existe desde a Antiguidade: primeiro de forma indireta e depois pelo próprio terapeuta por meio da “cura pela palavra”. O Aconselhamento em outras áreas, além da psiquiátrica, surgiu a partir de 1900 ligado à área de Orientação Profissional e Vocacional, nos Estados Unidos e na Europa. Desde 1920 o Aconselhamento Terapêutico era exercido por enfermeiras, orientadores educacionais e profissionais, educadores e outros profissionais de áreas afins. No entanto, o reconhecimento desse tipo de ajuda terapêutica pela comunidade científica da Psicologia foi concretizado a partir de um movimento iniciado por Carl Rogers (FORGHIERI, 2007). A forma mais prudente decompreender em que consiste o campo de atuação do Aconselhamento Psicológico é verificar como ele emerge enquanto uma produção histórica de práticas e saberes da psicologia. Logo, convém destacar a importância de Carl Roger dado que foi o primeiro psicólogo a utilizar o termo Aconselhamento Psicológico. O Aconselhamento Psicológico emerge, na década de vinte do século XX, como uma prática que enfatizava principalmente o psicodiagnóstico. A orientação, indicação ou mesmo conselhos, se Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 constituíam através de minuciosos exames que se faziam do indivíduo, ou de um “problema”, utilizando os famosos testes psicológicos. Esta tendência do Aconselhamento Psicológico ficou fortemente marcada até meados do século XX, pois foi influenciada pelas práticas vigentes da Psicologia norte americana, onde os testes psicológicos eram predominantes. Pode-se afirmar que os psicólogos contavam com uma enorme variedade de instrumentos de medida e avaliação de aspectos intelectuais, cognitivos e emocionais da personalidade. Porém, lhes faltava os instrumentos para o “tratamento psicológico”. Conheciam o que trabalhar, mas não como trabalhá-lo. Então, Carl Rogers, que começou sua vida profissional atendendo crianças e adolescentes numa clínica em Rochester, Nova York, lança o conceito de Aconselhamento Psicológico para definir as suas práticas clínicas. “Realizei estudos diagnósticos de crianças e adolescentes e elaborei recomendações para o tratamento; em 1928 desenvolvi um inventário para avaliação do mundo interior da criança, que – Deus me perdoe- continua a ser vendido aos milhares.” (ROGERS e ROSEMBERG, 1977, p. 29) Nota-se nesta citação o processo de transformação da prática de aconselhamento psicológico. Se num primeiro momento predominavam as práticas diagnósticas, centradas nos problemas - da criança, do adolescente, do adulto, etc. – em outro momento Rogers começa a desenvolver suas ideias inovadoras. Questionando-a, ele vai aos poucos modificando o foco de sua prática: do problema para a pessoa; do instrumento de avaliação para a relação cliente-conselheiro, do resultado para o processo da relação centrada na pessoa. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 UNIDADE 2 Objetivo: Permitir aos alunos visualizar o processo de produção histórica dos saberes em Aconselhamento Psicológico e Psicopedagógico, registrando suas referências fundamentais e suas tendências. Aconselhamento X Orientação X Psicoterapia Acima citamos como Rogers foi modificando sua prática, enfatizando, estudando e refletindo sobre a pessoa do cliente, a relação cliente-conselheiro e o processo terapêutico. Este novo modo de Aconselhamento Psicológico, que ele denominou Abordagem Centrada na Pessoa, permite registrar as relações entre aconselhamento, orientação e psicoterapia. Ao constatar que uma escuta empática por parte do conselheiro tinha, por si, um efeito facilitador do processo de autoexploração e mudança do cliente, Rogers constroi uma proposta de intervenção Psicológica fundamentada, ora no aperfeiçoamento das atitudes do conselheiro que exerce esta função facilitadora, ora no pressuposto de que o cliente é capaz de viver e elaborar suas experiências de forma integradora, quando se engaja numa relação com um conselheiro que não faz julgamentos morais precipitados, mas busca desenvolver o potencial do cliente. O conselheiro, na Abordagem Centrada na Pessoa deve estar preparado para acolher demandas diversas e aberto para realizar com o cliente, e partir dele, uma explicitação da demanda que envolve, também, a definição de como atendê-la. Assim, no aconselhamento, o principal é receber o cliente e facilitar para que ele se posicione diante de seu sofrimento. A função do conselheiro seria um modo de acolher, que permite investigar, junto com o cliente, não apenas a queixa, mas também a forma mais adequada de lidar com ela. Portanto, o Aconselhamento Psicológico, na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa consiste em receber uma multiplicidade de demandas e que junto com o cliente encontre recursos e Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 alternativas de ajuda, incluindo informação, orientação, encaminhamento, psicoterapia. O que envolve fazer alianças com pessoas, família, grupos sociais e instituições. De acordo com Cabral e Nick (2006, p. 277) psicoterapia consiste na “aplicação de técnicas especializadas ao tratamento de distúrbios mentais ou aos problemas de ajustamento cotidiano. O termo inclui técnicas correntemente empregadas por especialistas de várias formações teóricas (...) “. Com relação à orientação, esta consiste no “conhecimento ou descoberta do lugar onde o indivíduo está ou para onde vai, quer literalmente, no espaço e no tempo, quer figurativamente, em relação a algum problema ou situação confusa” (CABRAL e NICK, 2006, p. 229). Dessa forma, na orientação nem sempre existe a aplicação de técnicas especializadas. A Imagem Do Conselheiro Convém destacar que existe uma imagem que envolve a função do conselheiro. Logo, devemos esclarecer alguns aspectos relevantes quanto ao exercício do Aconselhamento Psicológico. Para o senso comum, conselheiro é qualquer pessoa que dá conselhos: um amigo, um pastor, um professor, etc. Por que, então, denominar o aconselhamento como uma especialidade profissional? O Aconselhamento Psicológico está ligado à especialidade do profissional em psicologia, porque a sua origem está intimamente ligada à história da psicologia. Depois a legislação brasileira define o Aconselhamento psicológico como função específica dos psicólogos. 1 Para que, então, um módulo de Aconselhamento Psicológico num curso de pós-graduação de Psicopedagogia? Porém, nas universidades norte-americanas é tradicional a existência de serviços de atendimento e orientação de alunos oferecendo-lhes assistência tanto psicológica quanto pedagógica. Nestas instituições de ensino, o responsável por esta função não é necessariamente um psicólogo. Podendo ser um pedagogo, um assistente social, entre outros, que atuam como conselheiro. 1 Lei Federal nº 4119 que regulamenta a profissão de psicólogo. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 Ora, o Aconselhamento Psicológico é uma estratégia de atuação que pode contribuir com a Pedagogia, pois, consiste menos numa especialidade profissional que uma postura ética de atenção à vida das pessoas. Verifique as estratégias de aconselhamento utilizadas pelos autores das diferentes abordagens em Psicologia (Psicanálise, Gestalt, Behaviorismo etc). Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 UNIDADE 3 Objetivos: Permitir ao aluno conhecer uma proposta de atuação, cuja postura ética de analisar a relação educador e educando contribui na construção das estratégias facilitadoras da aprendizagem. O Que É Aconselhamento Psicológico E Psicopedagógico? Patterson e Eisenberg (1998; p.20) dizem que o aconselhamento é um processo interativo, caracterizado por uma relação única entre conselheiro e cliente, que leva este último a mudanças em uma ou mais das seguintes áreas: Comportamento; Construtos pessoais (modos de elaborar a realidade, incluindo o eu) ou preocupações emocionais a essas percepções; Capacidade para ser bem-sucedido nas situações de vida, de forma aumentar ao máximo as oportunidades e reduzir ao mínimo as condições ambientais adversas; 1. Conhecimento e habilidade para a tomada de decisão.Dentro de um contexto de pesquisa, o aconselhamento psicológico pode corresponder ao estudo do desenvolvimento emocional diante das tarefas propostas pela escola e pela educação em geral. De acordo com Forghieri (2007, p.1) o aconselhamento psicológico ou terapêutico consiste na “relação entre duas ou mais pessoas, por meio de uma conversação, na qual a presença Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 de um aconselhador torna-se existencialmente terapêutica para uma ou várias dessas pessoas, que são os aconselhandos”. O aconselhador pode atuar de diversas formas, tais como: fornecer informações ou esclarecimentos sobre assuntos que preocupam o aconselhando; examinar e refletir acerca de situações conflitantes vivenciadas e como elas podem ser consideradas; reconhecer e explorar recursos e capacidades pessoais do aconselhando para que este desenvolva a capacidade de confrontar e resolver suas próprias dificuldades (FORGHIERI, 2007). O aconselhamento psicológico enquanto prática é direito privativo do psicólogo, mas outros profissionais de ajuda se utilizam dela como pedagogos, professores, educadores, assistentes sociais, médicos (psiquiatras; neurologistas; pediatras etc.), fonoaudiólogo, terapeutas ocupacionais, sociólogos (clínicos etc.) etc. “Em todos os casos, o aconselhamento deverá resultar em comportamento livre e responsável por parte do cliente, acompanhado de capacidade para compreender e controlar sua ansiedade” (PATTERSON e EISENBERG, 1998; p.20). Um bom livro sobre a temática é o de Miranda e Miranda, editado em Belo Horizonte, pela Editora Crescer, chamado “Construindo a Relação de Ajuda”. Este livro aborda de modo didático etapa por etapa do processo de aconselhamento proposto pelo psicólogo norte americano Robert R. Carkhuff, que por sua vez fundamentou-se em Carl Ransom Rogers (atitudes facilitadoras: empatia; aceitação incondicional e congruência), associado ao método de aproximações sucessivas de Skinner. Dentro desse contexto é importante que o aluno pesquise as teorias e os teóricos do aconselhamento psicológico para um maior embasamento e aplicabilidade das mesmas. As teorias de aconselhamento destacam o conceito de homem, conceito de saúde e doença e processos ou os modos como pode se desenvolver o aconselhamento propriamente dito. Assim, por exemplo, na Abordagem Centrada na Pessoa o homem é naturalmente bom e positivo (o mundo ao derredor que é provocador da insanidade, bem como a dissociação entre o eu ideal e o eu real) e no processo de aconselhamento encontramos o valor dado às Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 atitudes como a empatia (capacidade ou atitude do ajudador penetrar no mundo do outro, como se o outro fosse), aceitação incondicional do outro e congruência (honestidade não agressiva). Fases Do Processo De Aconselhamento O Aconselhamento é algo processual, ou seja, ocorre por meio de etapas progressivas. O processo pode ser completado em apenas uma sessão ou em mais de uma, dependendo da natureza do problema. De acordo com Patterson e Eisenberg (2003) o processo de Aconselhamento ocorre em três etapas: descoberta inicial, exploração em profundidade e preparação para a ação, que serão descritas a seguir. Fase 1: Descoberta Inicial Nessa fase o aconselhador e o cliente não se conhecem bem. Portanto, o orientador deverá estar atento ao comportamento verbal e não-verbal do cliente (PATTERSON e EISENBERG, 2003). Quanto maior o número de informação o orientador obtiver maior será a acuidade no diagnóstico. “Para encorajar a descoberta, o conselheiro deve estabelecer condições que promovam confiança no cliente” (PATTERSON e EISENBERG, 2003, p.28). Carl Rogers (citado por PATTERSON e EISENBERG, 2003), descreveu as condições para estabelecer uma relação de confiança com o cliente como características da relação de ajuda. São elas: a) Empatia – colocar-se no lugar do outro para compreender a experiência do cliente como se fosse a sua própria; b) Coerência ou autenticidade; c) Consideração positiva – interessar-se de forma sincera pelo cliente; d) Incondicionalidade – não condicionar o interesse a questões particulares. Egan (citado por PATTERSON e EISENBERG, 2003), acrescentou a condição “Concreção” que significa substituir as declarações ambíguas por uma linguagem clara para descrever a situação do cliente. Se essas condições estiverem presentes no contato inicial com o conselheiro o cliente se sentirá livre e confiante para expressar os seus sentimentos, anseios e preocupações de forma sincera. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Fase 2: Exploração Em Profundidade Nessa fase o cliente deverá compreender de forma mais clara a sua situação e começar a formular um novo senso de direção. O conselheiro empreenderá uma confrontação construtiva, ou seja, começará a trazer suas impressões diagnósticas acerca dos comportamentos do cliente (PATTERSON e EISENBERG, 2003). “Imediação é outra qualidade do comportamento do conselheiro que se torna importante na segunda fase do aconselhamento. O conselheiro manifesta ao cliente algumas de suas reações imediatas às afirmações do mesmo” (PATTERSON e EISENBERG, 2003, p. 30-31). A imediação deve ser feita com muita cautela, pois não deverá causar conflitos pessoais entre conselheiro e cliente. Tudo que for feito deverá ser realizado com o intuito de auxiliar o cliente no processo de compreensão e resolução dos seus problemas e conflitos. Fase 3: Preparação Para A Ação De acordo com Patterson e Eisenberg (2003), nessa fase o cliente deverá decidir como realizar os objetivos identificados durante as etapas anteriores. Para tanto, as possibilidades de ação deverão ser analisadas para que o cliente escolha a que julgar mais pertinente. “Se nenhuma ação é indicada, então a terceira fase pode ter como foco fazer com que o cliente tenha consciência de que fez tudo o que era possível ou desejável em determinada situação (PATTERSON e EISENBERG, 2003, p. 32). A partir do momento em que o cliente considerar os novos comportamentos satisfatórios o aconselhamento deverá ser finalizado (PATTERSON e EISENBERG, 2003). Analise como o conceito de aconselhamento psicológico foi se modificando ao longo da história da psicologia. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 UNIDADE 4 Objetivos: Fundamentar as práticas de Aconselhamento Psicológico e Psicopedagógico com conhecimentos contemporâneos de neurologia. Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência Imagine uma casa de pedra, sólida e simples, com apenas um cômodo que serve a todas as necessidades de seus moradores, que ali dormem, cozinham, comem, vivem enfim. À medida que as gerações se sucedem torna-se necessário obter mais espaço para abrigar o crescente número de pessoas. Assim, um novo andar com dormitórios é construído sobre a estrutura original. Modificações que permitem maior conforto são acrescentadas. A velha fossa, distante da casa, é substituída por um banheiro, mas continua a receber os dejetos, através de um sistema de esgoto. Passa-se o tempo e novas mudanças são feitas para atender novas contingências, a ponto de não mais reconhecermos a velha casa de pedra - que, entretanto permanece como a base de todo o edifício. Sabemos que os seres vivos se modificam ao longo do tempo num processo conhecido como evolução. Essas mudanças, ocorridas ao acaso por meio das mutações individuais, só se tornarão duradouras para a espécie caso representem vantagens adaptativas (ou, pelo menos, não se constituam em desvantagem).Modificações que aumentem o número de opções de resposta frente às demandas do meio ambiente podem garantir a sobrevivência, do indivíduo e da espécie, em condições antes impossíveis - lembremo-nos de Darwin e dos tendilhões de Galápagos. No entanto, muitas vezes estruturas que anteriormente serviam a um propósito - como as penas, cuja finalidade nos ancestrais das aves era a conservação da temperatura - acabam por prestar-se a objetivo completamente diverso. A natureza, diz Damásio, é um alfaiate remendão. Ao longo da evolução as espécies adotaram diferentes mecanismos para aumentar as chances de sobrevivência. Alguns desses mecanismos, que resultam nos impulsos e instintos, irão operar através Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 da indução de determinados estados fisiológicos, muitas vezes inconscientes, cujas manifestações visíveis são o que chamamos emoções. O medo, por exemplo, existe de uma ou de outra forma na maioria dos seres vivos, senão em todos, detectando o perigo e ampliando a probabilidade de sobrevivência do indivíduo a uma situação perigosa - por mais desagradável que tal experiência possa parecer. Já o desejo e o prazer sexual são prêmios concedidos pela evolução para assegurar a perpetuação do patrimônio genético. Mecanismos que permitam diferentes reações ao indivíduo muitas vezes levam vantagem sobre respostas acríticas e padronizadas. Enquanto peixes e répteis reproduzem-se às centenas, para que apenas uns poucos indivíduos sobrevivam, o cuidado com a prole, ao que parece presente apenas nas aves e nos mamíferos, garante a descendência privilegiando a sobrevivência da espécie acima da do indivíduo (nesse sentido vale lembrar a concepção de John Bowlby acerca do sorriso do bebê como mecanismo inato para assegurar a disponibilidade da mãe). Papez, em1937, já postulara a existência de um circuito de emoções incluindo as estruturas do que fora anteriormente chamado por Broca de "o grande lobo límbico". No entanto foi McLean quem, ao estabelecer o conceito de sistema límbico em 1952, criou uma abrangente teoria acerca da localização das emoções no cérebro. Mais adiante, em 1970 Mac Lean atribui às emoções importante papel adaptativo, lançando a hipótese do cérebro trino, segundo a qual o prosencéfalo teria passado por 3 estágios evolutivos: reptiliano, paleomamífero e neomamífero. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 UNIDADE 5 Objetivos: Fundamentar a práticas de Aconselhamento Psicológico e Psicopedagógico com conhecimentos contemporâneos de neurologia. Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência Por milhões de anos nosso cérebro cresceu de baixo para cima, os centros superiores desenvolvendo-se como elaborações das partes inferiores mais antigas. Sua parte mais primitiva é partilhada por todas as espécies que possuem um sistema nervoso central é o tronco cerebral - a casa inicial do exemplo acima - controlando as funções vitais básicas (respiração, batimentos cardíacos, termorregulação), bem como reações e movimentos estereotipados; é o R-complex, ou cérebro reptiliano. Com o advento dos protomamíferos, sobre essa primitiva raiz começam a desenvolver-se, a partir do rinencéfalo (cérebro olfativo) os centros emocionais, terminando por envolver o topo do tronco cerebral. Essa aquisição acrescenta emoções - seus estágios rudimentares associadas ao olfato: comestível, venenoso, sexualmente acessível, inimigo, etc. - ao repertório da espécie. A partir das emoções o cérebro vai desenvolvendo outras ferramentas - como o aprendizado e a memória - que permitem ao animal aprimorar suas respostas para adaptar-se às exigências mutáveis do meio, ao invés de reagir sempre de forma automática e invariável. O cérebro paleomamífero constitui essencialmente o sistema límbico. Há cerca de 100 milhões de anos o cérebro dos mamíferos inicia nova mudança. Por sobre o tênue córtex de duas camadas (paleocórtex ou “córtex antigo”), acrescentam-se novas camadas de células cerebrais, que coordenam o movimento, planejam, compreendem o que é sentido, permitem a consciência das emoções e da própria existência: o neocórtex. Cada um dos tipos de cérebro, segundo McLean, possuiria sua forma específica de inteligência, sua própria memória, sua noção de tempo e espaço e suas próprias funções motoras. Somente nos seres humanos, em outros primatas e nos mamíferos evoluídos coexistiriam os três cérebros. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 Infelizmente, e por mais bela que seja, a teoria do sistema límbico como sede das emoções já não encontra suporte nos dias de hoje. Como outras anteriores, ela tenta explicar de que maneira os vários sentimentos provêm do cérebro. Não existe, no entanto em nossos cérebros uma faculdade à qual possamos dar o nome de emoção. Emoção é somente um rótulo sob o qual se abrigam diferentes tipos de sensações, mediadas por sistemas neurais específicos, cuja evolução obedeceu a diferentes razões. Do mesmo modo, a palavra percepção descreve, de uma maneira geral, aquilo que acontece numa série de sistemas distintos. Cada sistema desenvolveu-se para solucionar os diferentes problemas com que os animais defrontam-se - predadores, por exemplo, são dotados de visão estereoscópica, que lhes permite calcular a distância do bote, enquanto que para os herbívoros é mais importante ter visão panorâmica para identificar a aproximação do predador - e sua evolução obedeceu a diferentes razões. Não existe uma árvore que, especificamente falando, dê "frutas", mas sim laranjas, maçãs ou peras. O sistema que nos defende do perigo é diferente daquele envolvido na procriação, e os sentimentos resultantes desses sistemas - o medo e o prazer sexual - não têm origem comum. McLean erra ao concentrar todo o cérebro emocional e sua evolução num único circuito neural, ainda que sua lógica da evolução emocional seja perfeita - emoções de fato desempenham papel fundamental para a sobrevivência. Entretanto, a menos que adotemos uma postura antropocêntrica, devemos compreender que o que chamamos de medo difere do que seja medo para um rato, despida que está a emoção do componente cognitivo que a ela associamos. Os seres humanos temem coisas que um rato jamais poderia conceber, ainda que fisicamente ambos reajam de forma muito semelhante ao perigo. Seguindo adiante na escala evolutiva vamos encontrar um determinado grupo de mamíferos, pouco dotados de armas - não dispõem de chifres, garras ou presas afiadas - que, assim como outros animais gregários, fazem da estrutura do bando sua principal defesa. Diferentemente de zebras ou girafas, esses mamíferos, que conhecemos como primatas desenvolvem características peculiares: membros dianteiros providos de dedos prenseis, capazes de empunhar objetos e um inusitado desenvolvimento das camadas externas do encéfalo (o neocórtex de McLean), principalmente no seu pólo anterior, incrementando tanto a comunicação entre os membros do grupo como a capacidade de manusear - e, por fim, fabricar - instrumentos. Tais capacidades, por revelarem-se extremamente úteis, seguem sendo transmitidas de geração em geração, resultando naquilo que hoje chamamos (talvez de forma tão genérica como McLean às emoções) raciocínio. Foi o que nos permitiu, através da análise, da comparação, da generalização, estabelecer relações de temporalidade e causalidade Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 entre eventos. Foi também o raciocínio, juntamente com nosso polegar em oposição, quem nos permitiu construir artefatos, ampliando nosso repertório de respostas ao meio e garantindo a sobrevivênciado homem. O conceito de evolução pode, no entanto, nos conduzir a conclusões enganosas, a mais frequente delas dizendo respeito à superioridade do homem sobre os demais seres*, e seu suposto corolário: a superioridade do raciocínio sobre as emoções. Aprendemos, durante anos, a considerá-las como um incômodo apêndice, uma indesejável herança de nosso passado filogenético - a própria palavra afeto parece derivar de afetar, no sentido de interferir, prejudicar. Terá nossa capacidade de raciocinar tornado obsoletas as emoções? António Damásio, chefe do Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa, baseando-se no estudo de casos de "cegueira emocional", contesta a velha máxima cartesiana "penso, logo existo" em seu livro "O Erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano". Para Damásio "os comportamentos que se encontram para além dos impulsos e dos instintos utilizam [...] tanto o andar superior como o inferior: o neocórtex é recrutado juntamente com o mais antigo cerne cerebral, e a racionalidade resulta de suas atividades combinadas". Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 UNIDADE 6 Objetivos: Fundamentar a práticas de Aconselhamento Psicológico e Psicopedagógico com conhecimentos contemporâneos de neurologia. Sentir E Pensar: Estratégias De Sobrevivência Se a aquisição da emoção permite ampliar o leque de respostas frente às demandas do meio, a via de expressão dessas emoções utiliza mecanismos neuronais já existentes, como o sistema nervoso autônomo e as vias que controlam a musculatura esquelética. À medida que evoluem, os sistemas responsáveis pelo raciocínio e pela tomada de decisões permanecem intimamente associados àqueles relacionados com a regulação biológica, por representarem, ambos, papel fundamental para a sobrevivência do indivíduo e da espécie. Como no exemplo do banheiro da casa, os sistemas cerebrais necessários à manutenção das novas habilidades mantêm o vínculo com seus precursores, já que são regidos pelos mesmos parâmetros - bem-estar e ausência de dor – e visam à mesma finalidade - a sobrevivência. Damásio desenvolveu a hipótese do marcador somático, na qual emoções e sentimentos desempenham papel preponderante na tomada de decisões, não as perturbando, como na visão tradicional, mas, em vez disso, favorecendo – ainda que, na maioria das vezes, de modo inconsciente – a obtenção de resultados favoráveis, mesmo diante de algumas daquelas decisões que nos parecem, à primeira vista, estritamente racionais, como a escolha de uma carreira ou de um investimento financeiro. Essas emoções e sentimentos foram ligados, pela aprendizagem, a resultados futuros previstos de determinados cenários. Quando um marcador somático negativo é associado a um determinado resultado futuro, a combinação funciona como uma campainha de alarme. Quando, ao contrário, é justaposto um marcador somático positivo, o resultado é um incentivo. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 A base funcional para este "sistema de preferências" forma-se pela modificação de padrões neurais inatos que têm por objetivo garantir a sobrevivência. Da mesma forma como o organismo tende a procurar o prazer e evitar a dor, tentará atingir esses fins em situações sociais. Os marcadores somáticos dependem da aprendizagem, associando determinados tipos de entidades ou fenômenos a sensações agradáveis ou desagradáveis. "Os marcadores somáticos não tomam decisões por nós. Ajudam o processo de decisão dando destaque a algumas opções, tanto adversas como favoráveis, e eliminando-as rapidamente da análise subsequente". Em outras palavras, reduzem o leque de opções, sem o que estaríamos condenados a uma interminável e infrutífera - embora estritamente racional - análise de prós e contras diante da mais simples das escolhas. Afirma Damásio que a maioria dos marcadores somáticos foi criada em nossos cérebros durante o processo de educação e socialização, pela associação de estímulos a estados emocionais. Mas para que se constituam em mecanismos adaptativos, os marcadores somáticos requerem que tanto o cérebro quanto a cultura sejam minimamente saudáveis; quando isso não ocorre podemos nos deparar com exemplos dramáticos, como a sociopatia ou a Alemanha nazista. Um último aparte sobre o raciocínio: costumávamos considerar que nosso futuro evolutivo nos reservaria cérebros cada vez mais desenvolvidos, com predomínio progressivamente maior do pensamento sobre as demais funções. No entanto, pensar é uma atividade extremamente dispendiosa do ponto de vista metabólico. Nossos cérebros representam até 40% de nosso gasto energético – proporção muito superior à de qualquer outro mamífero. Ampliar simplesmente o número de escolhas do indivíduo frente às demandas do meio através do "raciocínio puro" poderia nos conduzir a um beco sem saída evolucionário, tal como ocorreu com as imensas presas do tigre dente de sabre ou a majestosa galhada do veado imperial. Não percamos de vista que pensar é apenas um mecanismo adaptativo. Afinal, como observou Alberto Caeiro ao comparar o homem à flor, "pensar é melhor do que ter cheiro?". Não obstante a importância que possamos atribuir à emoção, ao pensamento ou a qualquer outra função do homem, é crucial que suas manifestações sejam vistas como sinais de um todo, que sempre será maior que a soma de suas partes. Devemos lembrar que toda concepção teórica, por Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 mais abrangente que seja, é apenas um modelo da realidade, e como tal, sujeito a modificações, acréscimos e aperfeiçoamentos. Nossos conhecimentos são comparáveis a uma esfera imersa num oceano de ignorância; à medida que aumenta o volume do saber, aumenta com ele a superfície de contato entre o que sabemos e o que ignoramos. Criamos teorias, modelos, tentando incorporar a eles o maior número possível de variáveis, apegamo-nos a eles para nos depararmos com novas perguntas, novas variáveis. Nessa extenuante jornada é compreensível que por vezes tornemo-nos dogmáticos (estávamos tão bem com o conceito de sistema límbico, não estávamos?). "A ciência evolui", afirmava Max Planck, com certo pessimismo, "não porque os cientistas reformulem suas idéias, mas porque ficam velhos e morrem". Talvez, como uma espécie de Sísifo, seja nossa sina criar perguntas, e para elas criar respostas que nunca nos satisfaçam inteiramente. Como dizia Borges, referindo-se aos romances policiais: "A solução é sempre inferior ao mistério". Mark Twain afirmava, com fina ironia: Se fizéssemos a torre Eiffel representar a idade do mundo, a camada de tinta da protuberância arredondada do pináculo de seu cume representaria a participação do homem nessa duração. Qualquer um há de perceber que a torre foi construída para essa camada de tinta. Acho que todos hão de perceber isso, sei lá. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 UNIDADE 7 Objetivo: Possibilitar ao aluno visualizar os múltiplos aspectos que envolvem a aprendizagem. Assim, permitir construirmos estratégias mediadoras da aprendizagem. Pró-Curando Cuidar De Si, Do Outro E Do Mundo Mãe-Filho-Educadora. "Como pode o homem esconder-se daquilo que jamais desaparece" (Heráclito) Relacionamentos, escrito no plural, indicam no nosso projeto de pesquisa (e neste artigo), as multipossibilidades de o educador especial, nos contextos psicopedagógicos, revelar de modo concreto seu sentir-pensar-agir para com os educandos (alunos e seus familiares e os próprios educadores). Mas, ainda assim, devemos ressaltar que o nosso interesse é a relação,isto é, o modo do ser em se expandir no contato afetivo, contato esse que dialeticamente "embala" (fornece sentido- sentido) ao cognitivo: quanto mais amo, mais conheço; quanto mais conheço, mais amo. Ambos os aspectos do desenvolvimento e aprendizagem, cognição-afeto, são indissociáveis. Em uma perspectiva alternativa, considera-se a interação afeto-cognição, em uma visão holística, em que teóricos e teorias podem até se contradizer (Rogers, Freud, Vygotisky, Piaget, Brunner, Paulo Freire, etc.), cumprindo, entretanto, a função de tentar compreender o ser em desenvolvimento, o ser da aprendizagem. Como destacam Fernández (1990) e Paín (1987), entre outros, “... várias instâncias interferem na aprendizagem: o intelectual ou lógica, a simbólica ou dramática, o corpo e o organismo" (Ferreira, [19--], p. 6). O aluno, no processo de ensino-aprendizagem, coloca-se inteiro na relação com o professor, pois nela é jogado. Dialeticamente, envolve-se no processo, de modo integral e dinâmico, sendo não só seu organismo individual (herdado), mas também seu corpo construído a partir do outro, bem como Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 sua inteligência desenvolvida na interação com os outros companheiros existenciais, e também sua vontade de sentido (desejo, motivação). Vygotisky (1979, p. 19), em certo contexto marxista, reafirma “... que existe um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem...". O educador especial que trabalha nas modalidades dos relacionamentos de ajuda é um ser no ofício que se mostra apaixonado e prazeroso em ser, bem como compromissado politicamente para com o outro. Também, ao embrenhar-se nos relacionamentos que ajudam, o educador procura dominar conteúdos tornando-se competente. A par de sua humanidade, e de suas lutas e enfrentamentos das adversidades, esse profissional deve estimular a livre expressão dos sentimentos dos educandos, tendo diante dessas revelações atitude receptiva, compreensiva, interessada a tudo que é dito, sentido. Por isso, esse mesmo educador também precisa de um espaço de supervisão onde possa, além de receber apoio didático para melhor desempenho do seu ofício, receber apoio afetivo daquele que ocupa o lugar de, através de outra visão (super-visor), ajudar, apoiar. Relacionamentos de Ajuda impõem um sentir-pensar-agir que pode ser sinônimo de "caminhar juntos", tal qual colocado por Bermejo (1997). Esse tipo de trabalho de ajudação revela que ser-aí é arriscado, mas ele complementa a dimensão de confiança, de pacto, de gratuidade e de sincero interesse. O educador acompanha serenamente, colocando ao outro sua "experenciação", isto é, sua experiência profissional e de vida-vivida sentida-sentida. Isso significa ser humano, na finitude de ser: não se escondem os limites, nem a própria competência, que é pré-sentida como algo não-absoluto. Este trabalho, o de relacionar para ajudar, exige com-partilhar conflitos, tristezas, alegrias, esperanças, sonhos, identificar os sinais que podem modificar o ser. Metaforicamente falando, o educador especial, nos diversos contextos psicopedagógicos dos relacionamentos de ajuda, funciona ...como um guia de montanha - um recurso que ele [educando] pode utilizar em suas necessidades estimulando-o a fazer enfrentamentos exigidos, indicando o caminho que parece melhor, mostrando-lhe obstáculos que devem ser percebidos e vencidos, etc. Mas o educando tem que fazer o caminho com seus próprios pés e não podemos andar em seu lugar. Queiramos ou não, é andando por si mesmo que ele aprende a caminhar (RÚDIO, 1991, p. 68). Essa autonomia desejada no ajudado contamina o ajudador que já tenta nadar por si próprio. Nesse sentido, o cuidado do educador transcende aquela microsituação ali, impondo uma Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 vontade de sentido, um forte desejo de cuidar também da sociedade que colabora na produção de tantas lesões no desenvolvimento e aprendizagem: "Contribuir para que haja pessoas mais sadias e comprometer-se com a transformação social são duas faces da mesma moeda" (Betto, 2000, p. 14). Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 UNIDADE 8 Objetivo: Pontuar a cristalização de sentido do cuidado ("sorge") na Educação Especial. Trajetória Metodológica Para alcançar esse objetivo, colhemos depoimentos de duas educadoras especiais que trabalham com família de aluno com necessidades educativas especiais (n.e.e.). Essas educadoras são alunas- estagiárias (bolsistas) do curso de Pedagogia do Centro Pedagógico (CP) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e estão inseridas em um projeto de pesquisa do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Especial (NEESP), denominado "Em família: Relacionamentos de Ajuda e Educação Especial". Suas "falas" foram colhidas em uma das sessões de (super) visão. Inicialmente, realizamos uma pequena e sintética revisão bibliográfica sobre Relacionamentos de Ajuda e sua presença nos contextos psicopedagógicos da Educação Especial. Então, em um "insight", ganhou luminosidade o cuidado presente na relação educador-educando. Após, buscamos compreender o sentido das referidas temáticas, estando elas "embaladas" pelo cuidado. Finalmente, ao enunciar falas das educadoras especiais depoentes, e ao fazê-lo de memória, por isso revelando- se como um dos limites do estudo, procuramos seguir recomendações de Forghieri (1993) acerca da pesquisa fenomenológica, envolvendo-nos existencialmente e, ao mesmo tempo, distanciando-nos reflexivamente das falas textualizadas. Dialeticamente, passamos a buscar nos textos pontos luminosos. Nesses instantes-luz, nossos olhos e ouvidos enxergaram e escutaram: nosso destino- cuidar cristaliza o sentido da vida-cuidado. "Insight": o ser de cuidado No NEESP, quando falamos em Relacionamentos de Ajuda, assumimos que o tema é amplo e complexo. Um clássico na área é Corey (1977, 1983), que estuda as seguintes abordagens e Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 tendências dos Relacionamentos de Ajuda: a psicanálise, a neopsicanálise, a psicologia individual, o humanismo existencial, a centrada-na-pessoa, a gestáltica, a transacional; a comportamental, a racional-emotiva, a da realidade. Já Mizukami (1986), ao estudar o processo de ensino, cita as abordagens tradicionais, comportamentais, humanistas, cognitivas, socioculturais. Na Pedagogia, a área que mais produz acerca do tema Relacionamentos de Ajuda é a Orientação Educacional. Nesse sentido, podemos citar os estudos de Loffredi (1976) os de Ribeiro e os de Andrade e Pinto (1984) que trabalham com o modelo de relação-de-ajuda de Carkhuff (apud MIRANDA e MIRANDA, 1983). Cavalcante (1996), em um estudo diferenciado da área, propõe investigar as implicações das ideias de Paulo Freire na Orientação e Aconselhamento de alunos de escolas públicas brasileiras. Lamonico et al. (1992), ao estudarem formas de atendimento às crianças com dificuldades escolares, enunciam as teorias que fundamentam o campo de intervenção institucional e clínica: a psiconeurológica, a neuropsiquiátrica, a comportamental, a epistemológica convergente, a fenomenológica. Por sua vez, Küpfer (2000) desenvolve atendimentos psicopedagógicos e educativos especiais a crianças e adolescentes psicóticas, utilizando-se de um referencial psicanalítico. Masini (1984), ao trabalhar com alunos "difíceis", com baixo rendimento acadêmico, recorre às abordagens fenomenológicas-existenciais. Costa (1999) propõe uma teoria e prática de ação socioeducativa para as crianças e adolescentes em situaçãode dificuldade pessoal e social, articulando Paulo Freire e Antón Makarenko, permeados pela proposta de Relacionamentos de Ajuda de Robert R. Carkhuff. Pinel (1989, 2000) sugere, a partir da teoria prática de ajuda de Carkhuff, formar e supervisionar educadores especiais. Para os ajudadores dos adolescentes infratores usuários de drogas e com evasão escolar, propõe formá-los e acompanhá-los pela proposta carkhuffiana desenvolvida por Miranda & Miranda (1983) e Miranda (1993). Já para educadores de rua atuando junto a jovens masculinos que se prostituem e com dificuldades de se prevenirem contra as DST/AIDS, propõe revisitar Carkhuff, associando-o ao humanismo existencial de Rogers bem como a outros conceitos de homem, reconhecendo-o ser sócio-histórico cujo destino-cuidar é o mundo. Em todos esses enfoques, ganha destaque a importância vital que é fornecida à relação educador- educando. É essa relação que tenderá a determinar a qualidade do processo ensino-aprendizagem e a descoberta daquele que não-sabe-que-sabe, sabe-que-não-sabe... Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 Dessa relação se destaca o cuidado de um ser (educador) pelo outro ser (educando). Nesse sentido, no interior da relação professor-aluno, é que residem as "realizações concretas do exercício da pre- sença..." (Heidegger, 1995, p. 313). Cura? Cuidado! Melhor dizer, cuidado. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 UNIDADE 9 Objetivo: Problematizar o conceito de aconselhamento psicopedagógico à luz da obra do filósofo Heidegger e do existencialismo. Modos De Cuidar O cuidado em Heidegger (1995) é estrutura do Ser-aí, do Dasein, sempre adiante de si mesmo e abandonado no mundo. No nosso entendimento, o cuidado se concretiza nos contextos psicopedagógicos da Educação Especial. Cuidado é "a vocação do homem para cuidar dos outros e de si mesmo, em decorrência de capacidade humana de ser responsável" (GOMES, 1992, p. 75). Assim, cuidado é estrutura do ser, mas também é atitude, é ética, é estética (quão belo é cuidar)... Cuidado é ofício de ser do ser. Ser cuidador: cuidar da dor, das feridas... Cuidar e não curar, pois, afinal, aqui, no "setting" pedagógico, não cabe arrogância, onipotência. Cicatrizações, sim. Conviver com o sofrimento, sim. Ajudar o aluno com necessidades educativas especiais, sua família e seus educadores é utilizar-se dos relacionamentos interpessoais que são modos de cuidar do ser ao ser. E, para cuidar do outro, o educador necessita cuidar dos seus modos-de-cuidar: cuidar de si, dos objetos, do mundo. Os objetos têm existência para os seres humanos e, como instrumentos, são para fazer coisas para os outros, "a existência humana tem um aspecto de cuidado" (RALPER e SMITH, 1997, p. 77). No processo de Relacionamentos de Ajuda, o educador cuida de ser orientado pelo sentido da vida. O sentido da vida, segundo o existencialista Viktor Emil Frankl (1991, 1978), é a direção que a pessoa pode dar à sua vida mediante descoberta do significado que ela, a vida, possui, a possibilidade de ser livre e responsável. Então, como "insight", ilumina-se o sentido-sentido: o educador, ao ajudar o outro a crescer/desenvolver, espera que, por meio do cuidado, ele, o educando, venha a cuidar do outro, de algo, de uma ideia, de um ideal, cuidar de si mesmo. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 Para cuidar do outro, de si, do mundo, o educador do NEESP deve estudar-pesquisar-(re) conhecer, buscar a melhor forma de cuidar, ser paciente, ser congruente, ser confiante e ser de confiança, ser humilde, ser esperançoso e, acima de tudo, ser corajoso para assumir os riscos de "ternurar" por alguém que é outro, é si-mesmo. No jogo dos espelhos, quando olha para e junto ao outro, escuta a própria voz de sentido. Assim, a Educação Especial planejada, executada e avaliada no NEESP é cuidado. Ser educador especial nesse espaço é viver o cuidado, senti-lo, auscultá-lo... Através da vida-vivida o educador cresce e se desenvolve expressando a capacidade de cuidar. Nesse processo, “... as pessoas seriam seres cuidativos, ou de cuidado..." (WALDOW, 1998, p. 132). Nesse sentido, a concretização da filosofia da inclusão é cuidado. Portanto, ser educador especial é ser cuidador. O educador do NEESP vivencia, sente o sentido pelo experienciamento irrompido no ato de compartilhar. Entre a pessoa que cuida e a pessoa que é cuidada, há essa experiência em que brilha aos nossos sentidos a sua pessoa enaltecida. ...cuidar é ajudar a crescer e a se realizar e para isso existe um padrão comum: ao cuidar experiencia-se o outro ser de forma a considerá-lo com capacidades e necessidades para crescer. O mesmo ocorre com uma ideia. Ao experenciar o outro ou uma ideia, não há dominação ou manipulação, apenas confiança. O outro ser humano é respeitado como ser independente, assim como são respeitadas as suas necessidades, as quais são satisfeitas com devoção [...], compromisso para com o outro (WALDOW, 1998, p. 133-134). A super (visão) e o acompanhamento profissional fornecido aos educadores especiais do NEESP se destacam pelo cuidado de ser em ser para ser. É vital sentir o sentido de ser para o outro ser, construir sua identidade a partir do outro que pontua. Ser compromissado politicamente se concretiza no educador cuidador: educar a dor, cuidar da dor... A vida tem sentido: cuidar da vida. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 UNIDADE 10 Objetivo: Problematizar o conceito de aconselhamento psicopedagógico à luz da obra do filósofo Heidegger e do existencialismo. Modos De Cuidar No contexto psicopedagógico da Educação Especial, não há maneiras definitivas de intervir. Entretanto, o educador já está impregnado das formas de ser cuidador. Por isso ele facilita ao outro caminhar independentemente de o outro (re) conhecer e utilizar suas próprias capacidades de ser resiliente, de ser, pelo discurso frankliano (FRANKL, 1991, 1978), um "otimista trágico". Buber (1987) destaca que a relação com outra pessoa é um estado em que um reconhece, conhece o outro como sujeito e com ele se importa. O cuidado presente nos Relacionamentos de Ajuda "cutuca com vara curta" um comportamento de compaixão. ...a compaixão nos remete (até etimologicamente) ao ‘sofrer junto'. E sofrer junto nos leva a sair do ‘alto' e a estar ‘ao lado, horizontalizando a relação. Leva-nos à solidariedade. Arranca-nos da poltrona e nos faz descer do Olimpo ao mundo dos mortais. Arranca-nos do ‘patamar superior' e nos faz estar junto na dimensão do sofrimento. Arranca-nos da piedosa imobilidade e nos faz arregaçar as mangas, a buscar saídas ou superações (AMARAL, 1995, p. 184). Ajudar por meio das relações humanas é o que caracteriza o ofício educador especial na estrutura do NEESP. Não é algo padronizado, mas uma disposição interna, sentida, para o bem-estar cognitivo e afetivo... Bem-estar, bem compreendido como espaço onde o sujeito foi jogado sem sua permissão, um lugar de incertezas, de conflitos... Dos desequilíbrios do ser em ser é que nascem novos equilíbrios que, por sua vez, se desequilibram para reequilibrarem-se e desequilibrarem-se... As relações do ser, nesse espaço, nunca são harmoniosas, pois estão como pontua Küpfer (2000), marcadas pela busca, já condenadas ao fracasso de encontrar um conhecimento, um objeto que faça Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 interromper a ação desejante de buscar. Mas o conhecimento tem sentido por essa busca do inalcançável. O desejo move. A vontade de sentido clama por ser preenchida. O espaçopsicopedagógico da Educação Especial no NEESP toca, acentua, fere, implica... faz compreender. Compreender é uma espécie de aprender com. Aprender com ela [a pessoa]. Perceber aquilo mesmo que ela tenta expressar. Como se fosse ela. Do ponto de vista da pessoa. Tanto quanto possível dentro do mesmo referencial. É como se você se colocasse no lugar da pessoa, sem estar de fato, para ajudar a perceber como as coisas se passam para ela. Naquele momento (AMATUZZI, 1980, p. 83). Compreender empaticamente tem esse sentido revelador: revelar a dor dos engendramentos, entrelaçamentos de redes onde a injustiça predomina. Compreender apresenta este sentido ativo, de oposição ao fracasso escolar. O fracasso escolar para Patto (1991), e com ela concordamos, está na escola, e essa compreensão não elimina o aluno que se transparece portador (porta a dor) do fracasso. Isso revela outro sentido, significado-sentido: é importante criar alternativas de atendimento em educação, tornando-a especial. É necessário trabalhar psicopedagogicamente para com o aluno. O educando e o educador, capturados por esses engendramentos sociais, são facilmente vistos, sentidos, porque são reproduzidos pela escola, que os torna objetos-coisas. São coisificados. Mas saudavelmente muitos se opõem a esse posto. O educador especial é, então, nesse emaranhado de ser, um sujeito no ofício de cuidador. Ele fica compreensivamente atento. Atento a cada detalhe. Tudo é muito precioso, pois arriscar-se no envolvimento existencial significa experenciar o pacto gratuito do distanciamento reflexivo, momento caracterizado pela apreensão de sentidos. Ele se descobre nutrido pelos Relacionamentos de Ajuda. Então, seu sentir-pensar-agir a Educação Especial mais se sutiliza, pois essa descoberta o ensina a sentir que ...deve ao mesmo tempo, aproximar-se do educando, no plano do relacionamento solidário, e dele e de sua circunstância ser capaz de afastar-se no plano da reflexão crítica. Tal postura não é fácil, ela exige senso prático e veia teórica, implicando no desenvolvimento de uma inteligência do instante de uma noção clara do processo. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 Isso exige, da parte do educador, uma estreita disciplina de contenção e despojamento (COSTA, 1991, p. 99-100). Tema I O que é Aconselhamento psicológico? Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 UNIDADE 11 Objetivos: Elucidar as múltiplas sensações que envolvem o Relacionamento de Ajuda, permitindo assim ampliar as possibilidades de atuação de todos os envolvidos. Cristalização Do Cuidado No sentir-pensar-agir a Educação Especial para com as famílias dos alunos com necessidades educativas especiais é que, no NEESP, os Relacionamentos de Ajuda se iluminam. Nas famílias dos alunos com n.e.e, há, por assim dizer, uma dinâmica interpessoal nas figuras parentais, uma vontade de encontrar sentido a partir do filho. Nelas há desejos que a moral dominante impede de se revelar, mas que ali, nos grupos de encontros, mães inseridas no NEESP podem revelar. Em uma sessão de (super) visão com este pesquisador, uma educadora (bolsista)/supervisionanda relatou o que aconteceu no seu encontro psicopedagógico cotidiano com uma mãe em um grupo de mães. Essa mãe, em processo de dor e sofrimento, disse não se sentir plena, inteira. Eis a fala da mãe por meio de outra (fala e mãe), a educadora/supervisionanda: ...eu quero tornar-me uma pessoa inteira... Cansei de ser tudo: mãe, mulher, amante, amiga... Ser tudo e não ser nada, ser metade, não ser inteira. Eu vivo para o meu filho e se eu pudesse colocaria ele em uma escola, uma clínica... Que eu o internasse e só o pegasse só nos fins de semana, ou que eu fosse apenas visitá-lo de vez em quando. Separar dele me facilitaria ser inteira, e não apenas metade. Ele toma meu tempo, me suga. Quero viver para mim. Esta escuta, a da denúncia do sofrimento, pontuou algo para as duas educadoras do NEESP: esses rancores aparecem e devem ser revelados, explicitados, compartilhados... No grupo das mães, isso de compartilhar revela a união como modo de ser resiliente materno. Antes de ser mãe-heroína é pessoa, mulher, ser. Outra mãe, companheira existencial daquela mãe sofre-dor-a, sua parceira do grupo de encontro, apoiou-a revelando o impacto que esta lhe causou. Segundo a supervisionanda, a outra mãe a confortou dizendo: Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 Eu também já pensei em fazer isso... Nisso você não está só... Nisso estamos juntas e eu posso dizer: se fosse recomendado para minha filha ficar internada eu iria aceitar. Eu iria querer seu bem, seu aprendizado, para ser mulher digna. Essa mãe, a Outra, escuta a verdadeira fala da outra que toca em si. Ela escuta aquela que no grupo tem coragem de revelar mágoa, ódio, amor (?) descarado por si. Alguém dividida encontrou na outra a possibilidade de se escutar: eu não estou só, estamos juntas. Há diferenças nos conteúdos, mas onde não há?! Neste processo, o da compaixão, a nossa educadora/supervisionanda, que é mãe, percebe que seus reflexos contornam os rostos e corpos de todas as mães. Há, pois, esse sentimento de transparência. Nessa mesma sessão de (super)visão, a outra educadora também supervisionanda, que não é mãe, mas é casada, disse: Penso comigo que é difícil escutar essa fala, a da mãe rancorosa, dividida. É muita coragem sonhar ser inteira, e longe do filho, afastando-o. Eu me colocaria para ela dizendo meus sentimentos. Eu revelaria que estou com ela nesse sofrimento dela estar dividida. Quem não é dividida? De repente, podemos nos descobrir inteiras donas do nosso próprio nariz, donas do nosso amor por tudo, por todos... e ainda assim estar com o filho, e até por isso ser inteira. Quando sentir o sentido é o que marca os Relacionamentos de Ajuda nos contextos psicopedagógicos da Educação Especial, o duelo materno (mãe/educadora) independe propriamente de ser concretamente mãe. Não sendo mãe, nossa origem é materna (e paterna). Ser dividida ali, naquele instante, não por uma vivência apenas materna, mas o experenciar do ser de todas as mães. Todas as mães do mundo. Todas as mulheres do mundo. Todos os homens, os filhos... Nosso trabalho no NEESP, aquele desenvolvido especialmente com as famílias dos alunos especiais, é penetrado pelo cuidado. Cuidado pelo outro, pois ele é também nossa referência, afinal, como destaca Fromm (1986), o homem é social, é histórico. Nossa identidade, cuidado de si, é construída nessa necessidade de relação, de ser amado, de ser gostado. Então, eticamente, cuido do mundo, do outro, de mim. A educadora e as mães estão corretíssimas: nosso destino-cuidar é cuidar para então ser inteiro. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 UNIDADE 12 Objetivos: Elucidar as múltiplas sensações que envolvem o Relacionamento de Ajuda, permitindo assim ampliar as possibilidades de atuação de todos os envolvidos. Ainda Sobre A Cristalização Do Cuidado Ser humano é também viver a condição de ser imperfeito e ameaçado pelo fim, pelas mortes concretas e simbólicas... Experenciando um mundo tão (in) certo, é vital termos consciência do nosso limite no ofício de ser Educador Especial via cuidado. Nessa angústia de ser, podemos cuidar (des) cuidando. Boff (1992, p. 160) alerta-nos: sempre carregamos, emnós, "sombras de descuido". Entretanto, é uma constante a nossa luta resistente contra esse descuidar. Descuidar é um modo-de-ser cuidador inautêntico, alienado. Ao descuidar, eu cuido mal/mau do outro de mim! A psicopatologia do cuidado, revelada no descuido, pontua: a. A negação do cuidado; b. O desprezo e rejeição pelo cuidado; A superproteção impedidora pelo exasperado cuidado. Esses modos de (des) cuidar são deformadores, alienantes, neurotizantes... A super (visão) aos educadores especiais objetiva, entre outros itens, trabalhar essa demanda: não me deixe cair no (des) cuido! Tenho que tomar cuidado para não deixar de cuidar, abandonar o risco de descuidar. O cuidado não é uma meta a se atingir somente no final da caminhada. É um princípio que acompanha o ser humano em cada passo, em cada momento, ao largo de toda a vida terrenal [...]. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 Portanto, sempre é possível crescer na prática do cuidado em cada circunstância, no tempo e no contratempo. Tal atitude gera discreta alegria e confere leveza à gravidade da vida (BOFF, 1999, p. 160). O cuidado é do cuidador, e por ele cuidar da dor, por meio da compreensão contida na escuta empática, acaba por facilitar novos sentir-pensar-agir. Segundo a supervisionanda que é mãe, a outra mãe denuncia-dor-a de sua não-inteireza, levantou-se e se aproximou da janela da sala do NEESP, local onde acontece aquele encontro de mães dos alunos especiais. A mãe ficou absorta, olhando, e pareceu enxergar algo ou alguém através da vidraça. A educadora/supervisionanda, a que educa a dor, pergunta o que ela, a mãe, via. Por estar para com as mães, a educadora antevê projetos, sonhos maternos... Como supervisor e apoia-dor socioemocional, eu pergunto à educadora: "O que você sentiu e pensou que a mãe olhava? Que ação psicopedagógica resultou desse sentir-pensar o olhar?”. A mãe estava vendo o filho correndo, participando de uma aula de psicomotricidade. Eu me aproximei dela e vi seus olhos. O menino estava compartilhando com os outros amigos. Ele brincava, ele agitava, ele olhava para nós e disse gritando: ‘Oi, mãe! Oi, professora!'. Esboçamos um sorriso franco e autêntico. Ela me tocou, e eu então senti: se somos, estamos inteiras, pois somos mães. Ser cuidador é, pois, intuir o sentido de um gesto, de um esboço de ser, não ter medo de ser. Com a sua pontuação, a educadora iluminada brilhou tudo ao derredor. Faz sentido responder à vida pelo sentido por meio do trabalho, do amor e do sofrimento inevitável para com alunos, famílias e educadores. Os Relacionamentos de Ajuda nos contextos psicopedagógicos da Educação Especial podem ser compreendidos em diversos modos, dependendo do modo-de-ser envolvido do pesquisador (pesquisa a dor). Neste estudo, procuramos estudar tais temáticas do ponto de vista do cuidado e dos estudos existenciais que lhe dão sentido. Ser cuidador antecede ao ofício, pois cuidar é estrutura do ser. Entretanto, cuidar sendo cuidador é a proposta vivenciada no NEESP. Quando da formação e acompanhamento profissional/super-visão do educador especial, que também trabalha com a família do aluno com n.e.e, o que se apreende é o cuidado como estrutura, como destino, mas também como ofício/trabalho. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 43 Ser cuidador é vivenciar este conjunto complexo de acontecimentos no interior do ofício. Esses acontecimentos marcaram o fluxo da existência daquele que é ser de cuidado. O fluxo da existência desse ser educador-cuidador é ultradinâmico, pois ele apreende e integra tais experenciamentos, redimensionado sua carga afetiva (subjetividades). Isso tem um valor de um sinal, restando encontrar sentido-sentido. Faz sentido? _____________________ 1 - Paulo é aluno do Curso de Mestrado em Educação pelo PPGE/UFES. Artigo elaborado na disciplina “Estudos Independentes: Psicologia, Educação e Saúde", sob Orientação do Professor Doutor Hiran Pinel. Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 44 UNIDADE 13 Objetivo: Registrar a experiência de um caso de Aconselhamento Psicopedagógico, onde a abordagem fenomenológica-existêncial permite visualizar os múltiplos sentidos dos discursos, o dizível e o visível. Alguém Atrás Da Porta: Quando O Processo De Ensino E Aprendizagem É Ameaça (Dor)? "(...) e ontem não parei de fixar, como que fascinado, o lugar vazio reservado para você" (S. Freud sentindo a ausência, em uma de suas aulas, de sua aluna Lou Andreas-Salomé) Um discurso há, e por detrás dele existem segredos, subterfúgios, caminhos escuro-ásperos que clamam para serem iluminados e mostrados como são. Quando nós, pesquisadores em Relacionamentos de Ajuda e Educação Especial, escutamos uma fala ou expressão corporal e lemos o ‘texto’ a partir daí; e se somos ‘tocados’ por isso-aí, fazemos, de acordo com o nível de profundidade da nossa empatia e da nossa formação acadêmica, mil elucubrações, mil análises das ‘(im) possibilidades’ que, subjacentes ao explícito, revelam uma luminosidade ali-mesmo con-tida. Segundo nosso prazer/paixão e a tonalidade dele (do-outro), podemos instaurar viagens no ser de sentido, que de fato é também nosso ser, meu ser, seu ser. Esse sentir-pensar-agir diante das inúmeras expressões do outro fortalece minha identidade. É como se estivesse em frente a um translúcido espelho: no outro eu me enxergo. Essa experenciação inusitada é da mais pura e acurada emoção. Ela facilita construir-me um ser mais humano, mais sensível, mais honesto, mais congruente, mais empático, mais singular a partir da pluralidade do ser. Psicopedagogicamente construo-me, no ofício de educador, mais aberto e criativo, buscando em mim Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 45 e no mundo-de-mim-que-sou alternativas de sentir-pensar-agir para com o aluno com necessidades educativas especiais, sua família, seu educador, sua escola... (PINEL, 1997, p. 10). No discurso presente em um texto e, no nosso caso, em uma epígrafe, há algo avesso ao plano de formas visíveis e que pede por desvelo, por carinho e cuidado. Desvelar é bem um verbo que indica retirar o véu que vela, que cobre, que guarda, que também cuida. Velar é manter um sono que pela aparência parece ser tranquilo. Então, um discurso diz a mim: Desvela-me! Desvelar, entretanto, exige daquele que é desvela (dor), aquele que retira o véu que cobre a dor, uma ação compreensiva. Compreender é empreender desbravadamente nos ofícios de sentir o sentido do outro ser em si. Empatia é bem a palavra que fornece sentido à compreensão: colocar-me no lugar do outro como se o outro fosse, apreendendo os sentidos de estar-sendo para ser. Entretanto, o compreende (dor), aquele que compreende a dor, ao propor ocupar o lugar que não-si, vê-se refletido no espelho de ser. Por isso, descrever aquilo que é coberto por um dos inúmeros véus é fazê-lo sob a ótica de certo olhar que olha: olha(dor)! O Compreende (dor) é aquele que enxerga/sente/escuta a dor. Outro investiga (dor) pode, sob outro olhar, enxergar diferente, de modo inusitado. São diferentes e múltiplos olhares que irrompem desta/nesta modalidade de fazer intervenção. Este estudo tenta, ao ser compreensivo, desvelar um sentido (que é sentido), sentido-sentido, con- tido no discurso de um aluno com necessidades educativas especiais e que é atendido pelo Núcleo de Educação Especial (NEESP) do CP/UFES. Esse trecho de discurso é de fato uma epígrafe enunciada em um artigo publicado, cujos autores são Jesus, Pereira e Fernandes (1999). Partimos da invenção de que há, no discurso,
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