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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA UNIDADE 2 Classificação das lesões Feridas e Curativos na Atenção Primária à Saúde Luciane Paula Batista Araújo de Oliveira 2 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Classificação das lesões Prezado cursista, nesta unidade, abordaremos a classificação das lesões, entendendo os diferentes aspectos a serem levados em consideração para classificá-las, além de enfatizar as lesões por pressão. Aula 1: Entendendo os diferentes aspectos a serem levados em consideração para classificar lesões Ao avaliarmos as lesões dos nossos usuários, é importante utilizar o momento da anamnese para buscar entender como o problema surgiu e, assim, diferenciar os tipos de feridas. Tais informações podem orientar condutas mais adequadas por parte dos profissionais. Vamos conhecer a classificação das feridas? As feridas podem ser classificadas quanto à causa, ao conteúdo microbiano, ao tipo de cica- trização, ao grau de abertura e ao tempo de duração (SANTOS et al., 2011). Veja no infográfico a seguir, quanto à causa, como as feridas podem ser: 4 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Explicando a classificação supracitada... As feridas cirúrgicas são aquelas provocadas intencionalmente, mediante incisão, quando não há perda de tecido e as bordas são, geralmente, fechadas por sutura, por excisão – uma área de pele é removida, a exemplo de área doadora de enxerto – ou punção, resultante de procedimentos terapêuticos diagnósticos (por exemplo, cateterismo cardíaco, punção de subclávia, biópsia, entre outros). As de origem traumática são aquelas causadas por: con- tenção, perfuração ou corte (agentes mecânicos); iodo, cosméticos, ácido sulfúrico (agentes químicos); frio, calor ou radiação (agentes físicos). As feridas ulcerativas são aquelas de aspecto escavado, resultantes de traumatismo, doen- ças ou condições que impedem o adequado suprimento sanguíneo. É nessa categoria que estão incluídas as lesões venosas, arteriais e por pressão. Quanto ao conteúdo microbiano, as feridas recebem quatro classificações: limpas (sem microrganismos); limpas contaminadas (feridas com tempo inferior a seis horas entre o trauma e o atendimento, sem contaminação significativa); contaminadas (ocorridas com tempo maior que seis horas entre o trauma e o atendimento, sem sinal de infecção); infectadas (em que há presença de agente infeccioso no local, evidencia de reação inflamatória intensa) e destruição de tecidos, podendo conter pus. As lesões também podem ser classificadas quanto ao tipo de cicatrização (por primeira, segunda ou terceira intenção), o que já foi discutido na aula anterior. Quanto ao grau de abertura, como o próprio nome já indica, as feridas cujas bordas da pele estão afastadas são consideradas abertas, e as com bordas da pele justapostas. De modo geral, Dealey (2008) classificam-nas como feridas agudas, crônicas e pós-operatórias. Ferida aguda – aquela que é resultado de cirurgia ou lesões ocor- ridas por meio de acidentes. Ferida crônica – que tem um tempo de cicatrização maior que o esperado devido a sua etiologia. Ela não apresenta a fase de rege- neração no tempo esperado, havendo um retardo na cicatrização. Ferida limpa – aquela produzida voluntariamente no ato cirúrgico, em local passível de assepsia ideal e condições apropriadas, não contendo microrganismos patogênicos. 5 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Já o Conselho Federal de Enfermagem publicou recentemente, através da Resolução nº 501/2015, uma classificação conforme o comprometimento tecidual, a qual está orga- nizada em quatro estágios (COFEn, 2015): Estágio I – caracteriza-se pelo comprometimento da epiderme ape- nas, com formação de eritema em pele íntegra e sem perda tecidual. Estágio II – caracteriza-se por abrasão ou úlcera, ocorre perda tecidual e comprometimento da epiderme, derme ou ambas. Estágio III – caracteriza-se por presença de úlcera profunda, com comprometimento total da pele e necrose de tecido subcutâneo, entretanto a lesão não se estende até a fáscia muscular. Estágio IV – caracteriza-se por extensa destruição de tecido, chegando a ocorrer lesão óssea ou muscular, ou necrose tissular. Como vimos anteriormente, as feridas ulcerativas podem ter diferentes etiologias e, para entendermos melhor as características presentes em cada uma delas, você pode tomar como base o quadro a seguir: Neurotrófica Venosa Arterial Hipertensiva Pressão Prevenção • Inspeção diária • Hidratação e lubrificação da pele • Monitoramento da sensibilidade • Proteção na Atividade da Vida Diária (AVD) • Uso de palmi- lhas e calçados adequados • Elevação das pernas • Uso de meias com média com- pressão • Caminhadas • Exercícios para panturrilha • Evitar traumatismos • Controlar hiper- tensão e diabetes • Elevar a cabeceira da cama • Evitar traumatismos • Controlar hiper- tensão, diabetes e obesidade • Reduzir fumo • Alívio periódico de pressão • Proteção de pro- eminências ósseas Causas • Microangiopatia • Falta de sensibi- lidade protetora • Estase venosa • Arteriosclerose • Hipertensão arterial sistêmica • Pressão contínua Dor • Ausência de dor • Moderada • Severa • Aumenta com a elevação das pernas • Muito severa • Presente ou não 6 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Neurotrófica Venosa Arterial Hipertensiva Pressão Localização mais frequente • Superfície plan- tar • Maléolo medial • Terço distal da perna • Perna • Calcanhar • Dorso do pé e artelhos -Face pósterolá- tero -distal da perna • Proeminências ósseas • 7 locais clássicos: Sacral / Trocan- ters / Maléolos / Calcâneos Outras característcas • Borda circular • Geralmente desenvolve em áreas de alta pressão plantar • Área da úlcera é quente e rosada • Pode ser superfi- cial ou profunda • Pode ser infecta- da ou não • Associadas às calosidades • Borda irregular • Base vermelha • Pigmentação perilesional • Edema • Pulsos presen- tes • Eczema • Borda irregular • Base pálida e fria • Multifocal • Tendência de ser necrótica • Pulsos reduzidos ou ausentes • Cianose • Ausência de pêlos -Muito dolorosa • Variada com aco- metimento da epi- derme e tecidos mais profundos Quadro 1 – Características das lesões de acordo com sua etiologia. Fonte: Brasil (2002, p. 24). Assim, caro cursista, percebeu a diversidade de classificação das feridas? Por isso, é fun- damental conhecer o aspecto de cada ferida com a finalidade de classificá-la e identificar a melhor forma para tratá-la. Para entender as características e manifestações de cada tipo de lesão, é fundamental estu- dar os mecanismos que as originam. Vejamos a seguir: Mecanismos das lesões Úlceras venosas Quando caminhamos, mudamos de posição ou fazemos algum exercício físico que movi- menta os membros inferiores, o músculo da panturrilha se contrai e comprime as veias mais profundas, estimulando o fluxo sanguíneo em direção cefálica (DEALEY, 2008). Assim, a chamada “bomba da panturrilha” usa a contração dos músculos da perna para bombear sangue no sentido das extremidades para o coração, e as veias envolvidas neste mecanismo possuem válvulas que garantem o fluxo unidirecional. 7 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Figura 1 - Mecanismo da bomba da panturrilha. Fonte: <http://br.123rf.com/photo_14192059_desenho-para-mostrar -a-a%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%BAsculo-da-panturrilha-no-bombeamento -de-sangue-do-membro-inferior.html>.Acesso em: 15 dez. 2017. O funcionamento inadequado dessa bomba muscular dificulta a circulação venosa e costu- ma culminar em uma Insuficiência Venosa Crônica (IVC) e suas complicações. A disfunção da bomba muscular da panturrilha, associada ou não à disfunção das válvulas que controlam o fluxo sanguíneo, é responsável pela hipertensão venosa, a qual leva a um acúmulo excessivo de líquido e fibrinogênio no tecido subcutâneo, resultando em edema, lipodermatosclerose1 e formação de feridas (LIMA et al., 2002). Na hipertensão venosa surge um baixo fluxo e baixa perfusão nos capilares e acredita-se que isso promoveria uma agregação de eritrócitos e leucócitos nos capilares, ocasionando uma isquemia local, ou seja, menor suprimento sanguíneo, de oxigênio e de nutrientes para os tecidos próximos. Mediante tais alterações, são liberadas citocinas, enzimas proteolíticas e radicais livres pelos leucócitos que acarretam danos aos vasos (ALDUNATE et al., 2010). No infográfico a seguir, observem um resumo ilustrativo da fisiopatologia da formação de uma úlcera venosa. 1 Pele com necrose gordurosa, presença de fibrose na pele e tecido subcutâneo, resultando em endurecimento e acúmulo de hemossiderina (IRION, 2012, p. 105). 8 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Assim, é importante o reconhecimento da fisiopatologia da úlcera para compreender melhor como lidar com o estágio e o tratamento. As pessoas com úlceras venosas (UV) costumam ter antecedentes pessoais de trombose venosa profunda, flebite e veias varicosas, o que nos mostra a importância de realizar uma entrevista detalhada no momento da visita ou atendimento na UBS. Ao exame físico pode ser observado, no membro afetado, pele de coloração marrom e de temperatura morna ao toque, com veias varicosas e eczema, e ao avaliar os níveis pressóricos dos membros superiores e inferiores, identifica-se um ITB menor que 0,9; existe também queixa de edema que costuma piorar ao fim do dia (DEALEY, 2008). As úlceras venosas, geralmente, são de espessura completa, com bordas irregulares e leito de aspecto vermelho brilhante devido ao bom fluxo arterial, exceto quando a pessoa também apresenta arteriopatia periférica (IRION, 2012). Vejamos um exemplo: Figura 2 - Arteriopatia periférica. Fonte: Brasil (2002). 9 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Úlceras arteriais Essas lesões surgem como resultado da inadequada perfusão tecidual nos membros infe- riores, ocasionada por algum bloqueio no suprimento arterial para essas extremidades. A causa mais comum para essa redução de perfusão é a arteriosclerose, na qual o acúmulo de placas de gordura diminui a luz do vaso, com consequente isquemia para o tecido circun- dante e, consequentemente, necrose tecidual (DEALEY, 2008). Pessoas com úlceras arteriais costumam apresentar os seguintes sinais e sintomas ao exa- me físico: dor intensa, principalmente ao deambular, aliviada com repouso ou quando as pernas ficam soltas na posição sentada; pernas frias, com aparência lustrosa e sem pelos; a coloração das pernas tende a esbranquiçar quando elevadas e a ficar azulada quando pendentes; pulsos pediais reduzidos ou ausentes; unhas do pé grossas e opacas; ITB menor que 0,9. Esse tipo de úlcera pode aparecer em qualquer local da perna, sendo mais frequen- tes nos artelhos, calcâneos ou região lateral da perna, com aparência perfurante podendo envolver comprometimento de tecidos mais profundos (DEALEY, 2008). Vejamos um exemplo: Figura 3 - Úlcera arterial. Fonte: Brasil (2002, p. 22). Feridas traumáticas e cirúrgicas Esse tipo de lesão, inicialmente, não costuma ser tratada no contexto da atenção primá- ria, tendo em vista que surge como consequência de acidentes e outras situações que requerem cuidado agudo e, portanto, são tratadas em serviços de urgência e emergência. Entre estas estão as causadas por acidentes com Projétil de Arma de Fogo (PAF), picadas de animais peçonhentos, abrasões, fraturas e queimaduras. Essas últimas são feridas traumáticas causadas por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos (CARTAXO et al., 2014). 10 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões A Sociedade Brasileira de Queimaduras recomenda que em caso de acidente envolven- do queimaduras, primeiramente devemos extinguir a fonte de calor e, em seguida, lavar o local atingido com água corrente em temperatura ambiente, de preferência por tempo suficiente até que a área queimada seja resfriada. O atendimento específico às vítimas de queimaduras deve acontecer no ambiente hospitalar, por isso enquanto você realiza os primeiros cuidados, outra pessoa deverá acionar o Sistema Móvel de Atendimento a Urgências (SAMU – 192) e o Corpo de Bombeiros, se necessário. O cuidado às pessoas com queimaduras inclui o tratamento da dor, hidratação, suporte nutricional, desbridamento cirúrgico e medidas para prevenção de infecção (IRION, 2012). Saiba mais sobre o cuidado com queimaduras em: <http://sbqueimaduras.org.br/queimaduras-conceito-e-causas/ primeiros-socorros-e-cuidados/> Existem ainda aquelas lesões intencionais, produzidas durante o ato cirúrgico, por exem- plo, para remoção de um tecido, órgão, corpo estranho ou correção de complicações de variadas patologias. Vejamos um exemplo: Figura 4 - Feridas traumáticas e cirúrgicas. Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/rcbc/v44n1//0100 -6991-rcbc-44-01-00081-gf4.gif>. Acesso em: 15 dez. 2017. 11 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Nesses casos, a primeira abordagem também acontece no ambiente hospitalar, onde podem ser feitas suturas e curativos. Caso o indivíduo receba alta e retorne à sua casa ainda portan- do tal lesão, a atenção dada pelas equipes das UBS – com ou sem ESF – se faz fundamental, especialmente quando apresenta retardo no processo cicatricial, evidenciado por sinais de infecção e deiscência de pontos. O profissional precisa estar atento a tais alterações durante o exame físico e avaliar se em sua unidade existem os materiais necessários para tal tratamento. Úlceras neuropáticas As úlceras neuropáticas aparecem em locais de sustentação de peso e cisalhamento, como as faces dorsal, medial e lateral do pé e os artelhos. Possuem aspecto redondo ou elíptico e, quando presentes, estão associadas a algumas alterações no exame físico, como perda de sensibilidade de proteção, reflexos, percepção vibratória e propriocepção. A neuropatia causada pelo Diabetes Melito (DM) afeta nervos sensoriais, motores e autônomos. Quando os neurônios sensoriais são lesionados, surge a sensação de queimadura e desconforto crô- nico no pé. Danos nos neurônios motores geram anormalidades biomecânicas que geram compressão e cisalhamento nos metatarsos e proeminências ósseas, aumentando o risco de lesão nessas áreas. O comprometimento do sistema nervoso autônomo provoca perda do controle dos vasos sanguíneos no pé e reduz a capacidade de transpiração, por isso a pele se torna seca e descamativa. Como o indivíduo apresenta menor percepção sensorial, essas áreas se tornam propensas ao surgimento de lesões (IRION, 2012). Com isso, vemos que o mecanismo de surgimento dessas úlceras não é vascular, mas sim mecânico (DEALEY, 2008). O conjunto de manifestações do chamado “pé diabético” será detalhado na Unidade 3, na aula sobre Abordagem ao usuário com lesões nos membros inferiores. Destaca-se também que as feridas classificadas como ulcerativas e ocasionadas por pressão não serão detalhadas aqui, pois serão abordadas no conteúdo da próxima aula. Vejamos um exemplo: Figura 5 - Úlcera neuropática. Fonte: <http://endocrinologiaelsalvador.com/wp-content/ uploads/2011/12/caso32.jpg>. Acesso em 15 dez. 2017. 12Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Portanto, caros cursistas, estamos finalizando a primeira aula da segunda unidade deste módulo, no qual conhecemos mais sobre os diferentes aspectos a serem levados em consi- deração para classificar lesões. Esses conhecimentos são importantes para os profissionais de saúde adotarem procedimentos adequados no tocante ao tratamento das lesões. Aula 2: Lesões por pressão: um mundo a desbravar Prezados, iremos dar início a mais uma aula do segundo módulo deste curso. Nesta aula, versaremos sobre as lesões por pressão. Vamos conhecer um pouco mais desse universo e relembrar nossa situação-problema? A atuação da ESF envolve um cuidado que vai extrapolar os muros de uma unidade de saúde e chega até o local onde vivem os usuários do Sistema Único de Saúde. Na situação problema deste módulo, estamos acompanhando a história de duas pessoas que apre- sentam diferentes lesões. Um deles, o Sr.Crispiniano, encontra-se acamado devido ao agravamento de sua condição de saúde e, nesse ínterim, acabou por desenvolver uma lesão ou úlcera por pressão. E o que é ulcera por pressão? Úlcera por pressão consiste em “lesão localizada na pele e/ou tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea, que surge como resulta- do da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de torção” (NPUAP, 2014, p. 12). Tais lesões também podem aparecer em decorrência do uso de dispositivos, como son- das, sistema de drenagem, cateteres e equipos, por exemplo. A tolerância do tecido mole à pressão e ao cisalhamento pode também ser afetada por microclima, nutrição, perfusão, comorbidades e por sua condição (NPUAP, 2016). Veja, a seguir, a pressão exercida sobre a pele e o surgimento de lesão por pressão. Figura 6 - Úlcera de pressão. 14 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Importante observar: se, além da pressão/forças de deslizamento existe também umidade no tecido, a lesão tanto pode ser uma úlcera de pressão, como lesão por umidade (lesão combinada), algo que pode ser visto, por exemplo, em pessoas acamadas com uso de fraldas geriátricas. Nesses casos, a umidade proporcionada pelas eliminações urinárias e/ou intestinais retidas na fralda fragiliza a pele do indivíduo em uma área que já se encontra sob pressão por ter proeminências ósseas e pelo posicionamento prolongado. É importante ter cuidado também com o uso de sondas e drenos, pois, a depender do local onde se encontrem entre a pessoa e a superfície da cama, também podem ocasionar o surgimento de feridas. Em idosos hospitalizados, por exemplo, o uso de fraldas é considerado um dos responsáveis pelo surgimento de agravos dermatológicos e pela exacerbação dos episódios de inconti- nência urinária. Em qualquer ambiente de cuidado, o uso prolongado de fraldas acaba dei- xando a pele úmida, bem como “diminui a resistência da pele, sendo um fator contribuinte para o surgimento das úlceras por pressão, especialmente para aqueles idosos restritos ao leito e com mobilidade física prejudicada” (ALVES et al., 2016, p. 207). Embora tal situação aumente as chances de se desenvolver lesões, é importante deixar claro que úlcera por pressão não é sinônimo de Dermatite Associada à Incontinência (DAI), posto que essa pode ser caracterizada pela presença de eritema e edema na superfície da pele, por vezes, em conjunto com bolhas de exsudato seroso, erosão ou infecção cutânea secun- dária (ALVES et al., 2016). Caros cursistas, até aqui estamos nos reportando às Úlceras por Pressão (UPP), no entanto, no ano de 2016, o termo “úlcera” foi substituído por “lesão” e sua classificação em estágios também passou por algumas mudanças, elaboradas pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). Para o NPUAP, a expressão “lesão” descreve de forma mais precisa esse acometimento, pois se aplica tanto para a pele intacta como para a pele ulcerada. Na nova proposta, na nomenclatura dos estágios, passam a ser empregados algarismos arábicos ao invés dos romanos (NPUAP, 2016). A sigla ficou conhecida como LPP (Lesão por Pressão). 15 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Saiba mais sobre a mudança de terminologia para úlcera por pressão nos links a seguir: <http://www.segurancadopaciente.com.br/noticia/ muda-terminologia-para-ulcera-por-pressao-confira/> <http://www.sobest.org.br/textod/35> A National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) anunciou a mudança de terminologia de úlcera de pressão para lesão por pressão e atualizou a classificação por estágios, veja no link a seguir: <http://www.npuap.org/national-pressure-ulcer-advisory-panel- npuap-announces-a-change-in-terminology-from-pressure-ulcer- to-pressure-injury-and-updates-the-stages-of-pressure-injury/> Assim, considerada a definição exposta, percebemos que algumas áreas se encontram mais susceptíveis ao desenvolvimento desse tipo de lesões. A figura a seguir destaca os pontos do nosso corpo que sofrem mais pressão quando nos encontramos na posição dorsal, observem: Figura 7 - 1. Região occiptal; 2. Região escapular; 3. Face posterior do cotovelo; 4. Região Sacral; 5. Região trocantérica; 6. Calcâneo. Fonte: NPUAP (2016). 16 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões A NPUAP classifica as LPP da forma a seguir. • Lesão por Pressão Estágio 1: pele íntegra com eritema não branqueável Pele intacta com uma área localizada de eritema não branqueável, sendo que, em pessoas de pele mais escura, a aparência desta alteração pode ser um pouco diferente. A presença de eritema branqueável ou alterações na sensa- ção, temperatura ou consistência podem surgir antes de mudanças visuais. As mudanças de cor não incluem a descoloração roxa ou marrom, as quais podem indicar LPP em tecidos profundos. • Lesão por Pressão Estágio 2: perda de espes- sura parcial da pele com exposição da derme Perda parcial da espessura da pele com derme exposta (Figura 4). O leito da ferida é viável, rosa ou vermelho, úmido, e também pode se apresentar como uma flictena com exsudato seroso intacto ou rompido. Nesta lesão, o tecido adiposo (gordura) e os tecidos mais profundos não estão visíveis. O tecido de granulação, esfacelo, e a escara tam- bém não estão presentes. • Lesão por Pressão Estágio 3: perda total da espessura da pele Possui perda total da espessura da pele na qual o tecido adiposo (gordura) é visível na úlcera. O tecido de granulação e a borda despregada da lesão estão frequentemente presentes. Pode haver tecido necrótico visível, com profundidade do prejuízo tecidual variável, sendo que áreas de adiposidade significativa podem desenvolver feridas profundas. Descolamento e tunelização no leito da lesão também podem ocorrer. Fáscia, músculo, tendões, ligamentos, cartilagem e/ou osso não estão expostos. Se o esfacelo ou escara cobrirem a extensão da perda tecidual, tem-se uma LPP não estadiável. Figura 8 - Estágio 1 Fonte: NPUAP (2016). Figura 9 - Estágio 2 Fonte: NPUAP (2016). Figura 10 - Estágio 3 Fonte: NPUAP (2016). 17 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões • Lesão por Pressão Estágio 4: perda total da espessura da pele e perda tissular Como o nome já explicita, aqui existe perda total da espessura da pele e exposição de tecidos, como fáscia, músculo, tendão, ligamento, car- tilagem ou osso. Esfacelo e/ou necrose podem ser visíveis. Bordas despregadas, descolamentos e/ou tunelização ocorrem frequentemente. A profundidade pode variar conforme a localiza- ção anatômica. Se o esfacelo ou escara cobrirem a extensão da perda tecidual, ocorreu uma LPP não estadiável. • Lesão por Pressão não Estadiável: perda da pele em sua espessura totale perda tissular não visível Quando há perda total da espessura da pele e tecido em que não é possível ver a extensão do dano tecidual no interior da úlcera por estar coberto por esfacelo ou necrose. Nesses casos, quando o tecido desvitalizado é removido, a LPP pode ser classificada como estágio 3 ou 4. • Lesão por Pressão Tissular Profunda: descoloração vermelho escura, marrom ou púrpura, persistente e que não embranquece. Pele intacta ou não intacta com área localizada de vermelho escuro persistente não branqueável, descoloração marrom ou roxa ou separação da epiderme revelando um leito da ferida escuro ou com flictena de sangue. Figura 11 - Estágio 4 Fonte: NPUAP (2016). Figura 12 - Pressão não Estadiável. Fonte: NPUAP (2016). Figura 13 - Pressão Tissular Profunda. Fonte: NPUAP (2016). 18 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões No atual consenso da NPUAP, foram adicionadas também outras duas definições que con- templam as LPP relacionadas ao Dispositivo Médico e às LPP em Membrana Mucosa. Essa primeira categoria trata daquelas lesões que surgem, por exemplo, quando um dreno ou uma sonda se encontra entre a pele do usuário e a superfície da cama, deixando uma marca no formato do dispositivo que a provocou. Ao avaliar uma lesão como essa, você deverá aplicar o sistema de estadiamento que descrevemos há pouco. A LPP em membrana mucosa também envolve a utilização de dispositivos médicos, porém se refere às alterações causadas diretamente em regiões como boca, nariz, meato uretral, as quais são recobertas por mucosa e que, devido à anatomia do tecido, essas lesões não podem ser estadiadas como as anteriores (MORAES et al., 2016; NPUAP, 2016). As figuras apresentadas nos dão uma ideia da profundidade e dos tecidos comprometidos em lesões que se encontram em diferentes estágios. Elas causam dor e sofrimento nas pessoas acometidas por esse agravo e podem aparecer como consequência de diversas situações de saúde pela influência de alguns fatores intrínsecos, como: mobilidade reduzida ou imobilidade devido a internações prolongadas ou lesões causadas por quedas; deficiên- cia sensorial; doenças graves; alteração do nível de consciência; extremos de idade; história prévia de LPP; doença vascular; desnutrição e desidratação. Quanto aos fatores extrínsecos, podemos citar o cisalhamento, a fricção e a pressão do corpo sobre a superfície da cama. Existem ainda aqueles fatores que, quando presentes, aumentam as chances de desenvolver lesões, tais como a umidade da pele – especialmente na região sacral para indivíduos em uso de fraldas geriátricas – e o uso de medicamentos que interferem no processo cicatricial (REBRAENSP, 2013). Sobre esse último aspecto, é importante destacar que medicamentos interferem nesse processo para que seu uso seja feito com maior cautela entre usuários que estão se recupe- rando de LPP (para revisar, veja o conteúdo da Unidade 1 deste módulo). A ocorrência das LPP é tão significativa que atualmente sua prevenção se configura como uma das estratégias para a Segurança do Paciente adotadas em instituições no mundo inteiro. Acesse: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/03/ PROTOCOLO-ULCERA-POR-PRESS--O.pdf>. Assista também ao vídeo produzido pelo Proqualis sobre prevenção de úlceras por pressão: <https://www.youtube.com/watch?v=4ZA37WcCNSQ>. 19 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Assim, caros cursistas, diante de todos os prejuízos que a ocorrência das LPP pode acarre- tar à saúde dos usuários acometidos, para a vida de seus familiares e/ou cuidadores, além do impacto econômico para os serviços de saúde, devem ser reforçadas as recomenda- ções para prevenção desse evento adverso, que incluem: avaliar a pele do indivíduo usando conhecimentos semiológicos e/ou com auxílio de escalas; estimular a alimentação saudá- vel e ingestão hídrica; proteger a pele de cisalhamento, umidade, ressecamento, fricção e pressão de dispositivos; manter a pele limpa e hidratada; recomendar o uso de colchões adequados; proteger proeminências ósseas; promover ou orientar as outras pessoas da residência a realizarem mudanças de posição na pessoa com lesões (preferencialmente a cada duas horas); participar de ações de educação permanente e promover ações de edu- cação em saúde envolvendo o público leigo; adotar protocolos para avaliação de risco, com estratégias de prevenção e tratamento. Aspectos para prevenção de Lesões por Pressão: <http://www.npuap.org/wp-content/uploads/2016/04/Pressure- Injury-Prevention-Points-2016.pdf> Portanto, após assistir aos vídeos e fazer a leitura dos materiais complementares, é possível perceber a importância da prevenção das lesões por pressão, objetivando promover a saú- de e evitar prejuízos aos pacientes. A seguir, apresentaremos a Escala de Braden para adultos, a qual é utilizada para identificar o risco do paciente em desenvolver úlcera por pressão. Para tanto, segue a descrição de algumas etapas. 20 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Escala de Braden 1 ponto 2 pontos 3 pontos 4 pontos Percepção sensorial: habilidade de responder significativamente à pressão relacionada com o desconforto. Completamente limitado: não responde a estímulo doloroso (não geme, não se esquiva ou agarra-se), devido à diminuição do nível de consciência ou sedação, ou devido à limitação da habilidade de sentir dor na maior parte da superfície corporal. Muito limitado: responde somente a estímulos dolorosos; não consegue comunicar o desconforto a não ser por gemidos ou inquietação, ou tem um problema sensorial que limita a habilidade de sentir dor ou desconforto em mais da metade do corpo. Levemente limitado: responde aos comandos verbais, porém nem sempre consegue comunicar o desconforto ou a necessidade de ser mudado de posição. Ou tem algum problema sensorial que limita a sua capacidade de sentir dou ou desconforto em uma ou duas extremidades. Nenhuma limitação: responde aos comandos verbais. Não tem problemas sensoriais que poderiam limitar a capacidade de sentir ou verbalizar dor ou desconforto. Umidade: grau ao qual a pele está exposta à umidade. Constantemente úmida: a pele é mantida úmida/ molhada quase constantemente por suor, urina etc.; a umidade é percebida cada vez que o paciente é movimentado ou posicionado. Muito úmida: a pele está muitas vezes, mas nem sempre úmida/ molhada, e a roupa de cama precisa ser trocada pelo menos uma vez durante o plantão. Ocasionalmente úmida: a pele está ocasionalmente, durante o dia, úmida/molhada, necessitando de troca de roupa de cama uma vez por dia aproximadamente. Raramente úmida: a pele geralmente está seca; a roupa de cama só é trocada nos horários de rotina. Atividade física: grau de atividade física. Acamado: mantém-se sempre no leito. Restrito à cadeira: a habilidade de caminhar está severamente limitada ou inexistente. Não aguenta o próprio peso e/ou precisa ser ajudado para sentar-se na cadeira ou cadeira de roda. Caminha ocasionalmente: caminha ocasionalmente durante o dia, porém, por distâncias bem curtas, com ou sem assistência. Passa a maior parte do tempo na cama ou cadeira. Caminha frequentemente: caminha fora do quarto pelo menos duas vezes por dia e dentro do quarto pelo menos a cada duas horas durante as horas que está acordado. Mobilidade: Habilidade de mudar e controlar as posições corporais. Completamente imobilizado: não faz nenhum movimento docorpo por menor que seja ou das extremidades sem ajuda. Muito limitado: faz pequenas mudanças ocasionais na posição do corpo ou das extremidades, no entanto é incapaz de fazer mudanças frequentes ou significantes sem ajuda. Levemente limitado: faz mudanças frequentes, embora pequenas, na posição do corpo ou das extremidades, sem ajuda. Nenhuma limitação: faz mudanças grandes e frequentes na posição sem assistência. 21 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Escala de Braden 1 ponto 2 pontos 3 pontos 4 pontos Nutrição: padrão usual de ingestão alimentar. Muito pobre: nunca come toda a refeição. É raro quando come mais de 1/3 da comida oferecida. Come 2 porções ou menos de proteína por dia. Toma pouco líquido. Não toma nenhum suplemento dietético líquido. Está em jejum ou mantido em dieta de líquidos claros ou hidratação EV por mais de 5 dias. Provavelmente inadequado: raramente faz uma refeição completa e geralmente come somente metade de qualquer alimento oferecido. A ingestão de proteína inclui somente 3 porções de carne ou derivados de leite. De vez em quando, toma um suplemento alimentar. Ou recebe menos do que a quantidade ideal de dieta líquida ou alimentação por sonda. Adequado: come mais da metade da maior parte das refeições. Ingere um total de 4 porções de proteína (carne, derivados do leite) por dia. Ocasionalmente recusa uma refeição, mas usualmente irá tomar um suplemento dietético oferecido. Ou está recebendo dieta por sonda ou Nutrição Parenteral Total, que provavelmente atende à maior parte das suas necessidades nutricionais. Excelente: come a maior parte de cada refeição. Nunca recusa a alimentação. Come geralmente um total de 4 ou mais porções de carne e derivados do leite. De vez em quando, come entre as refei- ções. Não necessita de suplemento alimentar. Fricção e cisalhamento Problema: necessita de assistência moderada ou assistência máxima para mover-se. É impossível levantar-se completamente sem esfregar- se contra os lençóis. Escorrega frequentemente na cama ou cadeira, necessitando assistência máxima para frequente reposição do corpo. Espasmos e contrações levam a uma fricção constante. Potencial para problema: movimenta-se livremente ou necessita de uma assistência mínima. Durante o movimento, a pele provavelmente esfrega-se em alguma extensão contra lençóis, cadeiras, restrições ou outros equipamentos. Na maior parte do tempo, mantém relativamente uma boa posição na cadeira ou na cama, porém, de vez em quando, escorrega para baixo. Nenhum problema aparente: movimenta- se de forma independente na cama ou cadeira e tem força muscular suficiente para levantar o corpo completamente durante o movimento. Mantém, o tempo todo, uma boa posição na cama ou cadeira. Total de pontos Quadro 2 – Escala de Braden para adultos. Fonte: <http://www.scielo.br/img/revistas/rbti/v22n2/ a12anx03.gif>. Acesso em: 15 dez. 2017. 22 Feridas e curativos na Atenção Primária à Saúde Classificação das lesões Portanto, após conhecer a Escala de Branden, podemos observar que, quanto menor for a pontuação (escore), maior será o risco de desenvolvimento de úlcera por pressão. Prezados, estamos finalizando a Aula 2 e também mais uma unidade de estudos deste curso, em que conhecemos mais acerca das lesões por pressão.
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