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A Guerra Amazônica pela Terra no Sul do Pará Introdução O Sul do Pará, localizado no coração da Amazônia, tornou-se famoso devido à violência da luta pela terra. Grande parte da atual violência pela posse da terra no Brasil, está concentrada nesta área da Região Norte. O Sul do Pará Determinado como o conjunto de municípios situados na região geográfica abaixo da Rodovia Transamazônica e leste do Rio Xingu (região de limite com os estados do Maranhão e Tocantins). Possui grande riqueza de recursos naturais Seu desenvolvimento econômico sempre esteve atrelado à valorização desses recursos. O Sul do Pará Ciclo da borracha: a exploração da borracha, no início do século XIX até começo do século XX fez com que a população se multiplicasse e fosse tomada por um sistema de trabalho e endividamento, denominada aviamento. A fim de atender à produção da borracha, o Estado passou a oferecer arrendamentos de longo prazo à elite local, estabelecendo assim um padrão de desigualdade na propriedade da terra, que persiste até os dias de hoje. O Sul do Pará O acesso da região, até a década de 50, era limitada a seus rios e afluentes. A construção da Rodovia Belém-Brasília, em 1956, e da rodovia PA-150, na década de 70, tornou os recursos da região novamente acessíveis. O Sul do Pará foi alvo do programa de desenvolvimento criado pelo governo militar (SUDAM), que envolvia incentivos fiscais e isenções de impostos. Os diversos programas atraíam grandes pecuaristas e madeireiros. Esta região, como pôde ser vista, passou por ciclos de picos e quedas, que gerou grandes conflitos que continuam em ebulição. Violência e Fronteira Para Friedrick Turner, fronteira era uma acentuada divisão entre selvageria e civilização e sua passagem representava a evolução do despovoado e selvagem. Os seguidores de Turner incorporaram noções de desenvolvimento econômico com estágios progressivos, tendo como grande exemplo a conquista do Oeste, nos Estados Unidos. Em uma análise mais moderna, diferentemente do pensamento de Turner, a conquista do Oeste ocorreu em um cenário de intensa luta pelo poder e pela hierarquia entre raças, classes, gêneros, etc. Violência e Fronteira O discurso desenvolvimentista do regime militar aceitava a natureza heroica do povoamento pioneiro da fronteira. O “desenvolvimento” incentivado pelos militares criou processos sociais que desenraizavam a população nativa, desalojavam tanto antigos moradores quanto os recém-chegados, e degradavam o meio ambiente. Nas regiões de fronteira, apenas a violência possibilita a existência da propriedade e somente a ameaça de violência sustenta sua longevidade. Teoria política de litígio A aplicação da teoria baseia-se em Martin e Miller, que enfatizam os mecanismos ambientais, cognitivos e relacionais como fatores para o desenvolvimento de um entendimento concreto de exemplos específicos de litígio. Mecanismos ambientais: abrangem os processos construídos social e espacialmente, no cenário do Sul do Pará, os principais são a escassez de terras e as leis fundiárias brasileiras. A escassez de terras é fator de monumentais transformações políticas, como foram as revoluções russa e chinesa. E como leis fundiárias brasileiras se tem o exemplo do aforamento perpétuo. Teoria política de litígio Mecanismos cognitivos: São as percepções da história da região e a consequente ontologia da violência. O surgimento da violência no Pará tem suas origens com a revolta da Cabanagem (1835), iniciada com uma luta pelo poder entre a elite proprietária de terras, que utilizava seus trabalhadores como testas de ferro contra os mercadores portugueses. A rebelião tornou-se uma luta de classes quando os mestiços sem terra, os cabanos, voltaram-se contra seus patrões. A violência continuou durante o século XIX e XX, como uma forma de controle sobre os trabalhadores. Teoria política de litígio Mecanismo cognitivos(cont.): O coronelismo se estabeleceu e fez exercer seu poder econômico e político, protegido por um escudo de impunidade para seus atos, frequentemente violentos. As lutas de classe se intensificaram na segunda metade do século XX, no auge do governo militar, quando o sul do Pará tornou-se palco de uma insurgência por parte de militante do PC do B. Os guerrilheiros maoístas infiltraram-se na região no final da década de 60 e foram logo combatidos pelo governo militar, que atuava em prol da estrutura de poder local e que temia o comunismo. Teoria política de litígio Mecanismos relacionais: É a influência recíproca que deflagra uma força social em decorrência das intenções políticas dos grupos envolvidos. Com a construção das rodovias e a descoberta de ouro em Serra Pelada. Várias organizações sociais; como a CPT, SPDH e as STR’s; chegaram à região, formando uma coalizão para um formidável movimento. Com a queda do regime militar, essas e outras organizações começaram a se organizar em favor dos sem terra. Teoria política de litígio Mecanismos relacionais(cont.): Movimentos como o MST têm função litigiosa fundamental ao reunir populações de indivíduos sem terra para criar uma comunidade de interesses. O MST é um exemplo primordial de mecanismo relacional, já que além de operar na região, tem uma rede ligando os movimentos brasileiros com os movimentos campesinos de todo o mundo por meio de afiliações a organizações multinacionais. Donos de terra também se organizaram, dominando o poder local e criando sua própria organização para defender os direitos de propriedade privada, a UDR (União Democrática Ruralista), para impedir a agressiva atuação do MST e organizações em busca da Reforma Agrária. Meio ambiente Ao analisar os mecanismo ambientais que abriram caminho aos conflitos na região, presta-se atenção à legislação fundiária brasileira e postula-se que a ambiguidade pertinente ao uso social e produtividade produziu uma cobertura institucional para a ocupação de terras públicas e privadas. O fato de terras florestais serem improdutivas em qualquer sentido convencional de agricultura, parece induzir a crer que sejam o alvo de ocupação e formação de assentamentos do movimento sem terra. Finalmente, os grandes proprietários temendo que o movimento atinja suas terras, podem desmatá-las antecipadamente para eliminar qualquer justificativa legal para a ocupação. Meio ambiente Apesar de não se saber se o processo de desmatamento retrata agressivas ocupações de camponeses antes da expropriação, desmatamento antecipado por parte do dono da terra, ou decisões agrícolas que levaram à conversão em pastagem, pode-se especular que um componente considerável, pode ser atribuído aos processos contenciosos descritos.
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