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09/11/14 1 Percepção e produção • Mas por que há uma distância entre a percepção e a produção durante o primeiro ano? Maturação do aparelho fonador e do cérebro Durante o primeiro ano de vida, o bebê vai aprender a controlar seus movimentos respiratórios e o funcionamento da laringe. Por essa razão fala-se de fase de fonação. Esse primeiro contato com seu aparelho fonatório passa por vocalizações reflexos, gritos e sons vegetativos (gemidos, bocejos, suspiros). 09/11/14 2 • A linguagem oral é organizada em sons produzidos ar3culatoriamente pelo aparelho fonador A produção do som envolve vários orgãos que conjuntamente fazem, como resultado, soar nossa voz. São eles: aparelho respiratório, a laringe, as cavidades de ressonância e os articuladores. Produção do som: O ar inspirado passa pelas cordas vocais em posição aberta, enchendo os pulmões. Na expiração é que ocorre a fonação. O ar é aspirado pelos pulmões passa pelas cordas vocais em posição fechada . As cavidades de ressonância têm um papel fundamental na produção do som, pois nelas é que ocorrem as modificações do som fundamental produzido na laringe. Comparando a um instrumento, poderíamos dizer que as cavidades de ressonância da voz funcionam como a caixa de um violão. Nada adiantaria vibrar-mos as cordas de um instrumento isoladamente, pois produziria um som "pobre". 09/11/14 3 Etapa Idade Capacidade I 0-1 meses Etapa de fonação II 2-3 meses Fase de ressonância III 4-8 meses Fase exploratória IV 7-10 meses Balbucio canônico V 9-13 meses Proto-linguagem A produção durante o primeiro ano Balbucio Os primeiros sons do balbucio são mais ou menos os mesmos em diferentes línguas: -‐ O [a] inaugura as vogais, seguida de [e],[i],[u] -‐ As consoantes [p] e [b] são seguidas pelas nasais [m] e [n]. Geralmente as formas são imprecisas ao início e depois se assemelham cada vez mais aos fonemas da língua. Aquisição dos sons ocorrem até os cinco ou seis anos. 09/11/14 4 Science Online: www.sciencemag.org/feature/data/1047897.shl [ma, dæ, go] Tendências universais no balbucio 09/11/14 5 CRONOLOGIA DA AQUISIÇÃO DOS FONEMAS (SONS) DO PORTUGUÊS os sons são adquiridos pelas crianças gradualmente de acordo com o amadurecimento do aparelho fonador (Lamprecht,2004) CAGLIARI, L.C.,Alfabetização i lingüística. S.P.Ed. Scipione, 1993:55 Desenho Esquemático Do aparelho Fonador,com os nomes dos lugares De articulação Usados Classificação Fonética os sons 09/11/14 6 fonema letra correspon dente exemplos de palavras com o fonema idade de surgimento do fonema na fala da criança idade de domínio do fonema pela criança P Pato, copo 1 ano 1 ano e 6 meses B Bola 1 ano 1 ano e 6 meses T tapete 1 ano 1 ano e 6 meses D dado 1 ano 1 ano e 6 meses M mala 1 ano 1 ano e 6 meses N nada 1 ano 1 ano e 6 meses Nh Banho, manhã 1 ano 1 ano e 6 meses C,q,k Casa, queijo, kiwi 1 ano 1 ano e 7 meses G Gato, guia, guloso 1 ano 1 ano e 8 meses V Vela, vaca 1 ano e 3 meses 1 ano e 8 meses F faca 1 ano e 3 meses 1 ano e 9meses S sapo 1 ano e 2meses 2 anos Z zebra 1 ano e 5 meses 2 anos X, ch Chuva, xadrez, elástico 1 ano e 5 meses 3 anos e 6 meses J, g Gente, loja, desde 1 ano e7 meses 3 anos e 6 meses S (final de palavra) Lápis, pés,três 1 ano e 7 meses 2 anos e 6 meses 09/11/14 7 S(meio da palavra) Pasta,festa, testa 2 anos e 2 meses 3 anos L Lata 1 ano e 6 meses 2 anos e 8 meses R (rr) Carro, horta, rua 2 anos /2 anos e 8 meses 3 anos e 4 meses ! ! R R Caro, barata Porta, barco 2 anos e 8 meses 3 anos 4 anos e 2 meses Lh Olho,milho, molho 2 anos e seis meses 4 anos Encontros consonantais Pr,Br, gr,tr,cr Fl,pl Braço, fraco,trator, Flauta, planta 2 anos e 8 meses 5 anos 09/11/14 8 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 mois Percepção Produção Discriminam os fonemas de todas as línguas Aprendizagem das regularidades Detecta o acento lexical da LM Aperfeiçoam ento da percepção dos sons da LM Reconhecimento das combinações de sons da LM Percepção das vogais da LM Declínio da percepção de sons das línguas estrangeiras Produção de sons « não- linguísticos » Produção de vogais Balbucio canônico Produção de sons da LM Primeiras palavras Universal Específico da LM 15 Resumo… • Universal > específico • Mesma evolução para percepção (6 meses) e para a produção (9 meses) com uma diferença • Grandes etapas na produção • MAS grande variabilidade em função das crianças (monolíngues) 09/11/14 9 A produção • Quando e como emergem as primeiras palavras? A produção • Após as primeiras palavras, como se desenvolve a linguagem? Idade Desenvolvimento 12-13 meses Primeiras palavras (holófrase) 18 meses Explosão lexical 24 meses Entrada na sintaxe 24-36 meses Explosão gramatical 09/11/14 10 Explosão vocabular (por volta dos 18 meses) • Até 18 meses, aparecimento lento das primeiras palavras (2 ou 3 palavras por semana), vocabulário de até 50 palavras em média • A partir de 18 meses, grande aumento do léxico (muitas palavras por dia) 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 Madeleine Léonard Théophile Explosão vocabular (em torno de 18 meses) 09/11/14 11 Entrada na sintaxe (18-24 meses) • Primeiras combinações de palavras (estágio telegráfico) « tirar casaco » « papai sai » « mamãe bolo » « dá bola »… vídeo (criança ao telefone) • 23:17 09/11/14 12 • Em seguida, a extensão média dos enunciados (EME ou MLU) aumenta regularmente até o 4o ano • Estruturas gramaticais cada vez mais complexas e variadas: • Utilização do « eu » (por volta de 3 anos) • Questões : « Quem é ? O quê? O que que é? Que é isso? » • Marcas de possessão, de negação Explosão gramatical (24-36 meses) MADELEINE 25 Meses Explosão gramatical (24-36 meses) 09/11/14 13 Há três etapas essenciais do desenvolvimento linguís3co da criança: 0 aos 12 meses -‐ Pré-‐verbal 1 aos 5 anos -‐ Verbal básico 5 anos em diante -‐ Desenvolvimento linguís3co • De 2/3 a 5 anos : aquisição da sintaxe pela análise da regularidade das estruturas e não por imitação. – Pronomes, preposições – Supergeneralização gramatical, concordâncias – Compreensão de frases complexas • Aos 5 anos, diminui a velocidade da aquisição De 36 meses a 5 anos 09/11/14 14 Luiz Antonio De 36 meses a 5 anos Avaliar a linguagem da criança • O profissional que lida com a criança de 0 a 5 anos deve ficar atento quandoas aquisições não parecem normais. Cada criança progride conforme o seu próprio ritmo, mas as aquisições seguem a mesma ordem, apenas a velocidade dos progressos é que varia muito. 09/11/14 15 • “A formação da linguagem não é objeto de uma aprendizagem. O que podemos ensinar a uma criança baseia-‐se naquilo que ela mesma já construiu:enriquecemos, melhoramos sua linguagem, mas isso não acontece no início (...).Não existe um tempo para os sons outro para as palavras, tudo evolui ao mesmo tempo”.(Paule Aimard, 1998:58) Como es3mular o desenvolvimento da linguagem oral? • A conversa no dia-‐a dia -‐ Pronunciar os sons da língua de forma correta para as crianças que estão aprendendo a falar; cantar; sempre se manifestar oralmente sobre as ações com a criança; -‐ Em uma roda de conversa se trabalha noção de tempo e espaço, algo tão vago para a criança; Roda de histórias -‐ Contar história com entonação e ritmo; leitura dramá3ca;fazer listas oralmente (nomes de frutas, de animais, de brinquedos, etc.) -‐ Música – brincadeiras cantadas para todas as idades 09/11/14 16 Da linguagem oral à linguagem escrita • O processo de codificação e decodificação a criança adquire a língua escrita a par3r dos conhecimentos que possui da língua oral. • A decifração da escrita A fala pode ser representada através de palavras e as palavras são cons3tuídas de sons que são combinados de modos diferentes para formar uma palavra com sen3do. Falar pressupõe a aquisição de um sistema lingüís3co que envolve aspectos: • Foné3cos e fonológicos (os sons da língua) • Morfológicos (formação das palavras) • Sintá3cos(formação das sentenças) • Semân3cos(o sen3do das palavras) • Sociais(o ambiente, a comunidade de fala) • Pragmá3cos(o contexto, a situação comunica3va) 09/11/14 17 O ERRO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM • No processo de aquisição da língua materna a fala da criança exibe momentos de erros muita vezes depois de já terem registrado formas aparentemente corretas, rela3vamente ao domínio de observação. 09/11/14 18 • “ adivinha se eu tô sentada ou empezada?” • você está chorando? Não, tô graçando!” Vamos escondi? (vamos esconder?) Eu fazei tudo sozinho Vamos cojuntos no meu carro. 09/11/14 19 • No Português • Domínio da morfologia: • Regularizações dos verbos irregulares: • “eu fazi, “eu sabo”, eu dizei”, “eu dizei”, “ele trazeu”, “ele cabeu”. No Português • Domínio da morfologia: • Regularizações dos verbos irregulares: • “eu fazi, “eu sabo”, eu dizei”, “eu dizei”, “ele trazeu”, “ele cabeu”. • Outras formas verbais destoantes que afetam a morfologia dos verbos regulares • “eu aprendei” = em aprendi • “”eu não escondei” = eu não escondi. 09/11/14 20 • Há um momento em que a fala da criança mostra verbos de segunda pessoa ou terceira conjugação flexionados como de primeira conjugação, verbos de primeira flexionados como de segunda conjugação, produzindo um estranhamento para quem escuta. Noções saussureanas de sintagma e paradigma para os dados de A: • No momento de erro, a fala da criança se mostra afetada por uma relação sintagmá3ca na medida em que se destaca des-‐ como uma porção independente do restante da cadeia sonora; • Por relação paradigmá3ca ou associa3va, na medida em que, numa cadeia virtual, desmurchar e desabrir são colocados juntos a desligar, desabotoar, desamarrar, destampar etc; cabendo ainda dizer que desta segunda relação depende a primeira, que só pode ocorrer com o prévio alinhamento das formas. 09/11/14 21 • Um dos aspectos da relação da fala da criança com a fala do adulto é o fato da primeira incorporar constantemente argumentos que circulam na segunda. As incorporações promovem efeitos de sen3do e referencialidade, garan3ndo a unidade. • Observam-‐se também na fala da criança argumentos que não mostram a mesma relação com a fala do adulto, mas que promovem os mesmos efeitos mencionados, ou ainda que dela se distanciam pelas contradições, erros, deslocamentos ou arranjos insólitos. • Fatos como esses exigem do inves3gador uma escuta voltada para a singularidade desta fala e uma teorização que inclua os fenômenos mencionados 09/11/14 22 • Exemplo de erro que exibe a cons3tuição das esferas paradigmá3cas – para falar à maneira do estruturalismo saussureano. Trata-‐se das inovações encontradas na fala da criança quando elas se referem a ações ou processos reversíveis. • ( a mãe fecha uma caixa de brinquedos; decepcionada, A diz) • A.Cê diabriu! (=desabriu, =fechou) • Vendo uma bexiga murcha, A pergunta à empregada) • A.Ela fica maciinha? • E.Ela ta macia. • A. Ela demurcha outra vez ? (=desmurcha=enche) 09/11/14 23 • No português para exprimir uma ação e o seu reverso temos orapares morfologicamente relacionado ( ligar-‐desligar) ou pares que não há nenhuma base morfológica comum (abrir-‐ fechar). • Nos dados encontramos indícios da cons3tuição de um mecanismo gramá3cal: aquele afeito à classe semân3ca de verbos que expressam reversão de processo. Fica evidente que já há o deslocamento da forma des-‐ e da carga semân3ca a ela associada, mas os limites de sua aplicação não estão fixados dando a ver uma diferença entre a fala da criança e a do adulto. 09/11/14 24 Bibliografia • CASTRO M.F.P; FIGUEIRA, R.A. Aquisição da linguagem. In: PFEIFFER, C. C.; NUNES, J. H. Introdução às ciências da linguagem-‐ linguagem, história e conhecimento. Pontes, 2006 • Clark E. (2003). « Acquiring language: issues and ques3ons ». Clark, E. V. (2003). First language acquisi=on. Cambridge: Cambridge University Press, 1-‐21. • Shatz, M. (2007). « On the development of the field of language development ». In Hoff & Shatz, Blackwell Handbook of Language Developement. Blackwell, 1-‐15.
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