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Experimento 4 Dosagem de Ácido Fosfórico Introdução Representado pela fórmula química H3PO4, o ácido fosfórico é um composto líquido, incolor, solúvel em água e etanol, deliquescente, isto é, absorve a umidade do ar e consegue se dissolver, formando uma solução aquosa concentrada. Reage com metais, liberando gás hidrogênio inflamável, incompatível com bases fortes e com a maior parte dos metais. Trata-se do mais importante dos ácidos de fósforo. Industrialmente, o ácido fosfórico pode ser obtido a partir de dois processos diferentes. No primeiro, via úmida, rochas sedimentares ou magmáticas que contêm o mineral apatita reagem com o ácido sulfúrico, formando o ácido fosfórico e outros subprodutos como o CaSO4 e o H2SiF6. No segundo processo, via seca ou térmica, o fósforo é submetido a uma queima ao ar livre, formando o P4O10, que depois sofre hidrólise, dando origem ao ácido fosfórico. A forma mais utilizada para obtenção desse ácido é a via úmida, sendo que a via seca é mais usada no ramo farmacêutico. O ácido fosfórico é muito empregado na indústria alimentícia como acidulante de refrigerantes (principalmente os de cola), doces, molhos para saladas, geleias, fermentos biológicos, refinação do açúcar, estabilizante de óleos vegetais, usinas de chocolate; na indústria farmacêutica na obtenção de insulina, produção de antibióticos, fortificantes, etc.; na indústria química, na fabricação de fertilizantes agrícolas, fosfato bicálcico para ração animal, produção de carvão, formulação de detergentes, decapante, antiferrugem. O ácido fosfórico também é utilizado no tratamento biológico de efluentes e no polimento químico ou eletroquímico de peças de alumínio. Esse ácido inorgânico pode causar sérios riscos à saúde humana, se ingerido puro, por exemplo, gera queimaduras na boca, na traqueia e no estômago; se inalado, provoca irritação no sistema respiratório e dificuldade de respirar; o contato dérmico leva a queimaduras e irritação. Objetivo Preparar uma amostra de H3PO4 0,05M e achar a verdadeira concentração da amostra inicial a partir da titulação do primeiro e do segundo hidrogênio do ácido fosfórico. Dados • Solução de NaOH (PM = 40,00 e M = 0,1105mol/L); • Ácido fosfórico rotulado com 85% (p/p) de H3PO4 (PM = 98,00) (Ka1 = 7,5 * 10-3; Ka2 = 6,2 * 10-8 e K a3 = 4,8 * 10-13); • Indicadores: alaranjado de metila (3,10 – 4,40) e timolftaleína (8,30 – 10,5). Cálculos Preparo de 250 mL de uma solução de H3PO4 com aproximadamente 0,05M a partir de uma solução concentrada a 85% (p/p) e de densidade igual a 1,71g/mL 1,71g solução ----- 1 mL solução 85g H3PO4 ---- 100g solução ---- 58,48mL sol 100g solução ------ x = 58,48mL solução y -------- 1000mL y = 1453,5g H3PO4 98g H3PO4 ----- 1 mol Vi x Ci = Vf x Cf 1453,5g ---------- z Vi x 14,83 = 250 x 0,05 z = 14,83 mol/L Vi = 0,84 mL de solução concentrada Contudo, resolveu-se adotar um volume de ácido igual a 1,00mL. No primeiro ponto de equivalência, a reação decorrente entre o H3PO4 e o NaOH é de 1 para 1, portanto, o número de mmoles de H3PO4 é igual ao número de mmoles de NaOH. Entretanto, para o segundo PE, o número de mmoles de ácido é o dobro do número de mmoles da base, pois há a necessidade do desprendimento de duas hidroxilas da base para titular os dois hidrogênios do ácido, sendo assim, uma reação de 1 para 2, ou seja, número de mmoles de NaOH é igual a duas vezes o número de mmoles de H3PO4, expressão que permite encontrar a concentração de H3PO4 diluído, já que a alíquota de ácido é conhecida e igual a 10,00mL. Tais reações são ilustradas abaixo: 1º PE H3PO4 + OH- H2O + H2PO4- 2º PE H3PO4 + 2 OH- 2 H2O + HPO4= Titulação do 1º hidrogênio Com a solução diluída de H3PO4 preparada, foram realizadas duas titulações com NaOH 0,1105mol/L, obtendo-se dois volumes da solução de NaOH. Para o cálculo do número de mmols e, posteriormente, a real concentração da solução de ácido fosfórico, utiliza-se a média desses dois volumes encontrados: V1 = 5,45mL e V2 = 5,35mL VmédioNaOH = (V1 + V2) / 2 VmédioNaOH = 5,40mL Já que a estequiometria da reação decorrente da titulação do hidróxido de sódio com o primeiro hidrogênio do ácido fosfórico é de 1 para 1, então, o número de mmols de NaOH é igual ao de H3PO4 no primeiro ponto de equivalência. Assim, é possível calcular a concentração molar da solução de ácido fosfórico diluído, sabendo que a alíquota de H3PO4 utilizada nas titulações era de 10,00mL: nº mmoles NaOH = nº mmoles H3PO4 VNaOH * MNaOH = V H3PO4 * M H3PO4 (diluído) MH3PO4 = (5,40*0,1105) / 10,00 MH3PO4 (diluído) = 0,05967 mol/L Entretanto, deseja-se saber se a %p/p da solução concentrada do ácido informada pelo rótulo do produto é realmente aquela. Para obter tal resultado, utiliza-se o fator de diluição para a substância (fd), calculado a partir da seguinte expressão: fd = (volume do balão) / (volume da amostra) Como, para a análise, utilizou-se um balão de 250mL e uma alíquota de 1,00mL do ácido concentrado, tem-se: fd = 250 / 1 fd = 250 Com o valor do fd descoberto, basta multiplicá-lo pela concentração do ácido diluído e encontrar, então, a concentração da espécie concentrada: [H3PO4]c = [H3PO4]d * fd [H3PO4]c = 0,05967*250 [H3PO4]c = 14,92 mol/L Relacionando concentração molar como concentração comum, tem-se: C = M * MM. Portanto, C = [H3PO4]c * MM(H3PO4) C = 14,92 * 98,00 C = 1461,9 g/L Para encontrar a %p/p, quantidade de H3PO4 em gramas presente em 100g de solução, uma vez que a quantidade de massa em 1000mL já foi descoberta (C), basta relacioná-las através da seguinte regra de três: 1710g ----- C 100g ----- xg x = 85,50g/100g = 85,50% Titulação do 2º hidrogênio V1 = 10,90mL e V2 = 10,80mL VmédioNaOH = (V1 + V2) / 2 VmédioNaOH = 10,85mL 2 * nº mmoles NaOH = nº mmoles H3PO4 2 * VNaOH * MNaOH = V H3PO4 * M H3PO4 (diluído) MH3PO4 = (10,85 * 0,1105) / 20,00 MH3PO4 (diluído) = 0,05995 mol/L fd = (volume do balão) / (volume da amostra) fd = 250 / 1 fd = 250 [H3PO4]c = [H3PO4]d * fd [H3PO4]c = 0,05995* 250 [H3PO4]c = 14,99 mol/L C = [H3PO4]c * MM(H3PO4) C = 14,99 * 98,00 C = 1468,68 g/L 1710g ----- C 100g ----- xg x = 85,89 g/100g = 85,89% Pontos teóricos da curva de titulação (utilizando 25,00mL de H3PO4 de concentração igual à do NaOH, igual a 0,100M) Como a titulação é de um ácido fraco com uma base forte, o PE não ocorrerá mais em pH igual a 7,00, mas acima desse ponto. Este, diferentemente do acético, é um ácido poliprótico, ou seja, apresenta mais de um hidrogênio ionizável. Isso propicia outra peculiaridade – presença de mais de um PE, sendo esse determinado pela quantidade de hidrogênios ionizáveis no ácido. O ácido fosfórico (H3PO4), ao reagir com o hidróxido de sódio (NaOH), propicia duas reações de equilíbrio, pois apenas dois de seus hidrogênios apresentam capacidade suficiente de reagir com a hidroxila da base. Tal capacidade está relacionada com a constante de dissociação desses equilíbrios, conforme ilustrado abaixo: 1º PE H3PO4 + OH- H2O + H2PO4- K a1 = 7,5 * 10-3 2º PE H2PO4- + OH- H2O + HPO4-2 Ka2 = 6,2 * 10-8 Não Titulável HPO4-2 + OH- H2O + PO4-3 K a3 = 4,8 * 10-13 Para efetuar os cálculos da curva de titulação deste ácido com a base, considerou-se também o fato de as bases conjugadas serem sais anfóteros, pois agem como ácido com o acréscimo de mais base ao sistema. Para constatar a mudança de pH ao longo da adição de NaOH e poder montar o gráfico, levou-se em conta essas propriedades do H3PO4, necessárias para tais cálculos. A partir disso, pontos antes do PE, no PE e depois do PE foram tomados. Como o ácido está no erlenmeyer e a base, na bureta, tem-se: nºmmoles ácido titulado = nºmmoles base adicionada para as adições de base decorrentes antes do volume necessário para atingir o PE. Portanto, considerando o volume de ácido presente noerlenmeyer igual a 25,00mL: VNaOH = 0,00mL (pH determinado apenas pela presença de ácido) H3PO4 H+ + H2PO4- 0,100 - x x x Ka = ([H+] * [H2O4-]) / [H3PO4] 7,5 * 10-3 = x2 / (0,100 – x) Como não é possível cancelar o “x” do denominador, uma vez que a concentração analítica (nesse caso igual a 0,,100M) não é 103 maior que o Ka do ácido, tem-se: x2 + 1,75 * 10-6 - 7,5 * 10-3 = 0 x = [H+] = [H2PO4-] = 0,082933692 mol/L pH = 1,08 VNaOH = 12,50mL (1º ponto de semi neutralização) nºmmoles de H3PO4 iniciais = 25,00 * 0,100 = 2,50 nºmmoles OH- adicionados = nºmmoles de H2PO4- formados = 12,50 * 0,100 = 1,25 nºmmoles de H3PO4 restantes = 2,50 – 1,25 = 1,25 H3PO4 H+ + H2PO4- 1,25 1,25 Ka1 = ([H+] * [H2PO4-]) / [H3PO4] [H+] = (Ka1 * [H3PO4]RESTANTE) / [H2PO4-]FORMADO Como [H3PO4]RESTANTE = [H2PO4-]FORMADO, tem-se: [H+] = Ka1 = 7,5 * 10-3 M à pH = pKa1 = 2,12 VNaOH = 25,00mL (1º PE - Solução de H2PO4- - sal anfótero) nºmmoles OH- adicionados = nºmmoles de H2PO4- formados = 25,00 * 0,100 = 2,50 [H2PO4-] = 2,50 / 50,00 [H2PO4-] = 0,050 M Nestes casos onde há a presença da espécie anfótera em solução, a concentração de [H+] é dada pela raiz quadrada do produto entre as duas primeiras constantes de dissociação do ácido. Portanto, [H+] = (K a1 * Ka2)1/2 [H+] = (7,5 * 10-3 * 6,2 * 10-8)1/2 [H+] = 2,15 * 10-5 M pH = 4,67 VNaOH = 30,00mL (5,00mL após o 1º PE) nºmmoles OH- adicionados = nºmmoles de HPO4= formados = 5,00 * 0,100 = 0,500 nºmmoles de H2PO4- restantes = 2,50 – 0,500 = 2,00 H2PO4- H+ + HPO4= 2,00 0,500 Ka2 = ([H+] * [HPO4=]) / [H2PO4-] [H+] = (Ka2 * [H2PO4-]RESTANTE) / [HPO4=]FORMADO [H+] = Ka2 * [(nº mmoles H2PO4-RESTANTE) / (mmoles HPO4=FORMADO)] [H+] = (6,2 * 10-8 * 2,00) / 0,500 = 2,48 * 10-7 M pH = 6,61 VNaOH = 37,50mL (2º ponto de semi neutralização) [H+] = Ka2 = 6,2 * 10-8 M à pH = pKa2 = 7,21 Analogamente ao 1º ponto de semi neutralização. VNaOH = 50,00mL (2º PE - Solução de HPO4= - sal anfótero) Em analogia ao primeiro PE, tem-se neste ponto também a presença da espécie anfótera em solução, sendo, desta vez, a concentração de [H+] dada pela raiz quadrada do produto entre as duas últimas constantes de dissociação do ácido. Portanto, [H+] = (K a2 * Ka3)1/2 [H+] = (6,2 * 10-8 * 4,8 * 10-13)1/2 [H+] = 1,73 * 10-10 M pH = 9,76 VNaOH = 50,10mL (0,10mL após o 2º PE – excesso de base forte) nºmmoles OH- em excesso = 0,10 * 0,100 = 0,01 [OH-] = 0,01 / 50,10 = 2,00 * 10-4M pOH = 3,70 à pH = 10,3 Conclusão Pode-se concluir que alguns aspectos teriam influenciado no resultado diferenciado quando comparado ao ilustrado no rótulo do produto como, por exemplo, leituras tomadas indevidamente; indicador dificultando a constatação do PF; volumes tomados aproximadamente e, principalmente, sua higroscopia, pois o ácido é capaz de se dissolver na própria água que absorve do ambiente (alto grau de deliquescência). Tais erros são constatados quando os resultados dos volumes obtidos na titulação do primeiro e do segundo H+ são comparados – para o primeiro, houve certa concordância nos volumes, 5,40mL, contudo na segunda, que deveria ser exatamente o dobro da primeira, conforme mostrado nos cálculos para a curva teórica, não se observou exatamente isso (V2 = 10,85mL). Tanto é que a porcentagem peso a peso calculada a partir da média dos volumes para o 1º H+ (calculada analogamente à ilustrada neste relatório) foi diferente da obtida calculando-se para a faixa de volume do 2º H+ (C1 = 85,50% e C2 = 85,89%). Entretanto, é possível considerar tais resultados satisfatórios uma vez que os mesmos se encontram próximos e dentro da faixa de erro permitida. Bibliografia Vogel, Arthur Israel. Química analítica qualitativa. São Paulo,1981. Skoog, Douglas A.; West, Donald M.; Holler, F. James; Crouch, Stanley R. Fundamentos de química analítica. São Paulo, 2006.
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