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AMBIENTAL 2018

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Direito Internacional do Meio Ambiente, quanto às relações bilaterais, e que serviria de precedente a inúmeras decisões arbitrais posteriores19.
No mesmo sentido, a doutrina dos internacionalistas tem indicado o importante Princípio 21 da Declaração de Estocolmo, adotado em 1972, como cristalização de uma das normas fundamentais do Direito Internacional do Meio Ambiente, conforme declarada por ocasião do julgamento do Caso da Fundição Trail. Deve-se acentuar que o mencionado Princípio 21, por sua relevância, foi reafirmado como Princípio 2º da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento20.
De fato, a preocupação generalizada com a proteção do meio ambiente, bem como a consciência da necessidade de sua proteção no âmbito internacional, como se tem dito, é uma particularidade do século XX, mais precisamente, dos arredores dos anos 1960. O caso da Fundição Trail, de um contencioso arbitral bilateral restrito a Estados Unidos da América e Canadá, estender-se-ia, a partir de então, a outras situações bi ou multilaterais e passaria a ser invocado, em especial por tribunais arbitrais, como fundamentação de normas que passaram a ter um alcance global.
18 Um exemplo simples pode ser visto com o caso da Convenção de 1883, assinada em Paris, para a proteção das focas de pele do Mar de Behring; tal convenção pretendia, conforme a visão daquela época, impedir a extinção da espécie, não pela idéia da preservação do equilíbrio ambiental do meio, mas em função de uma regulamentação do mercado internacional das peles de luxo. SOARES, G. F. S. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p. 43.
19 É um caso solucionado em 1941, por um tribunal arbitral, que tratava de um embate apresentado pelos Estados Unidos da América contra o Canadá, devido a ocorrências danosas de poluição transfronteiriça suportadas por pessoas, animais e bens situados nos Estados Unidos da América, causadas por correntes de ar que traziam partículas e a fumaça tóxica (dióxido de enxofre) produzidas no Canadá, por uma empresa particular. A parte fulcral da sentença, assim está disposta: “nenhum Estado tem o direito de usar ou de permitir o uso de seu território de tal modo, que cause dano em razão do lançamento de emanações no, ou até o território de outro”. SOARES, G. F. S. Direito internacional do meio ambiente: emergência, obrigações e responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001, p. 44.
20 O Princípio 21 da Declaração de Estocolmo de 1972 é o seguinte: “Os Estados têm, de acordo, com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, o direito soberano de explorar seus próprios
recursos, conforme suas próprias políticas relativas ao meio ambiente, e a responsabilidade de assegurar que tais atividades exercidas dentro de sua jurisdição, não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou a áreas além dos limites da jurisdição nacional”. Organização das Nações Unidas. Declaração de Estocolmo. Estocolmo. 1972. Disponível em <http://www.silex.com.br/leis/normas/estocolmo.htm>. Acesso em: 03 dez. 2010.
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Excetuando o caso da Fundição Trail, segundo Alexandre Kiss, o ano de 1960 expôs o início de uma nova cruzada de consciência sobre os problemas ambientais no âmbito internacional, e que pode ser tido como a tônica da atualidade: “o meio ambiente é um valor complexo, que deve ser encarado como uma entidade concreta em relação ao seu componente, extremamente frágil e que necessita de proteção contra seu maior predador: o homem (que, afinal, é igualmente seu beneficiário)”21.
Assim, para observar o nascimento do Direito Internacional do Meio Ambiente, segundo Guido Fernando Silva Soares, devem ser estudados quatro fenômenos ocorridos a partir do final da Segunda Guerra Mundial, bem como a crescente conscientização do mundo, sobre a necessidade da proteção dos Direitos Humanos22: “a) a abertura das discussões nos foros diplomáticos internacionais à opinião pública internacional (por força da extraordinária expansão dos meios de comunicação em massa) e a conseqüente valorização das teses científicas sobre os fatos relativos ao meio ambiente; b) a democratização das relações internacionais, com a exigência correlata da efetiva participação da opinião pública na feitura e nos controles de aplicação dos grandes tratados internacionais, por força da atuação dos Parlamentos nacionais na diplomacia dos Estados (a democratização da diplomacia é uma conquista definitiva do século XX); c) a situação catastrófica em que o mundo se encontrava, pela possibilidade de uma destruição maciça de grandes partes do universo, representada pela ameaça da utilização dos engenhos bélicos (relembre-se, 1960 é o auge da Guerra Fria), fabricados por meio da utilização militar da energia nuclear; e, d) a ocorrência de catástrofes ambientais, como os acidentes de vazamentos de grandes nuvens tóxicas (naquele então, de grandes proporções, mas não catastróficas como aconteceria em 1976, em Seveso, na Itália, considerado o maior desastre industrial da Europa Ocidental), ou grandes derramamentos de petróleo cru no mar, fenômenos que fizeram recrudescer as letais experiências da poluição indiscriminada e não localizada em um ponto geográfico, que poderia eventualmente ser controlada por uma única autoridade estatal”23.
21 A idéia de fixar os arredores dos anos 1960, como a data do nascimento do Direito Internacional do Meio Ambiente é do Professor Alexandre Kiss, em sua obra Droit International de l’environnement, de 1989.
22 Interessante notar que a Declaração Internacional dos Direitos do Homem, proclamação da Assembléia das Nações Unidas, é de 1948.
23 Importante notar que se encontravam, pois, reunidas as duas primeiras questões que iniciam a elaboração do direito: a necessidade social e a vontade determinante de a fonte normativa produzir a regra jurídica. Da
mesma forma, novos foros de discussão internacional começaram a surgir, como a Organização das Nações Unidas e as Organizações Não-Governamentais o que facilitaram o debate sobre a proteção do meio ambiente. Nesse sentido, as primeiras discussões sobre danos ambientais começaram com: a) a questão da poluição transfronteiriça, seja por água doce ou ar; e, b) a questão da poluição crescente e desenfreada dos mares e oceanos, por meio das três formas detectadas: 1. Alijamento; 2. Deposição; e, 3. “Poluição telúrica”.
A partir dos anos 1960, a movimentação dos Estados em busca de uma regulamentação global do meio ambiente foi exponenciada. Até a data de 1972, quando se realizaria a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, várias convenções internacionais afirmariam a pujança do Direito que então surgia, o Direito Internacional do Meio Ambiente, o qual teria sua certidão de maturidade plena firmada naquele evento na Suécia.
Assim, dentro de tal movimentação dos Estados e da atuação de sua Assembléia Geral (sob cuja égide importantes tratados e convenções passariam a ser negociados e assinados diretamente pelos Estados) ou de seus organismos especializados, a Organização das Nações Unidas, enquanto organização primeira das relações internacionais na atualidade, não poderia deixar de refletir a preocupação dos Estados e dos cidadãos quanto aos aspectos ambientais em âmbito mundial. Em 1968, sua Assembléia Geral, por meio da Resolução nº 2.398 (XXIII), aprovaria a recomendação encaminhada por seu Conselho Econômico e Social, no sentido de convocar-se, o mais breve possível, uma Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente Humano24. Tendo finalmente o governo sueco oferecido sua capital como sede do evento, em 1972, reuniu-se em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, fato que, como já dito, selou a maturidade do Direito Internacional do Meio Ambiente25.
É assaz interessante tratar também da utilização da energia nuclear, fenômeno característico da segunda metade do século
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