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APOSTILA DE DIREITO PENAL III
PERÍODO 2016.2
DOCENTE: JALIGSON CARLOS FERREIRA LEITE
UNIDADE I:
1. CONCEITOS GERAIS APLICADOS À PARTE ESPECIAL.
 
Critérios de sistematização de tipos penais na Parte Especial.
Classificação dos crimes
2. CRIMES CONTRA A PESSOA
2.1 Crimes contra a vida 
2.1.1 Homicídio doloso, culposo, privilegiado e qualificado;
2.1.2 Infanticídio;
2.1.3 Induzimento e auxílio ao suicídio.
2.1.4 Aborto, auto-aborto, aborto provocado por terceiro, aborto qualificado e causas de justificação do aborto.
2.2. Das lesões corporais
2.2.1 Lesão corporal leve;
2.2.2 corporal grave;
2.2.3 Lesão corporal gravíssima;
2.2.4 Lesão corporal seguida de morte;
2.2.5 Lesão corporal culposa;
2.2.6 Causas de aumento de pena e hipóteses de substituição da pena.
2.3. Da Periclitação da vida e da saúde
2.3.1 noções gerais
2.4. Dos Crimes contra a honra.
2.4.1Calúnia.
2.4.2 Injúria.
2.4.3 Difamação.
2.4.4 Disposições comuns aos crimes e causas de exclusão nos crimes contra a honra.
2.5 Dos Crimes contra a liberdade individual.
2.5.1Constrangimento ilegal.
2.5.2 Sequestro, sequestro relâmpago e cárcere privado.
2.5.3 Redução à condição análoga a escravo.
3. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
3.1 Furto.
3.2 Roubo e extorsão.
3.3 Dano.
3.4 Apropriação indébita.
3.5 O estelionato e outras fraudes.
(UNIDADE I - PARTE I)
1. INTRODUÇÃO
	O Código Penal brasileiro é dividido, como se sabe, em uma parte geral e outra especial: a primeira contendo definições, regras e princípios gerais sobre a ação, o crime e a pena conforme a respectiva teoria adotada; e a segunda composta pelos tipos penais organizados como elenco normativo de condutas tipificadas mediante descrições de ações humanas cometidas na forma comissiva ou omissiva.
	Podemos visualizar da seguinte forma:
- Parte Geral: corpo de disposições “genéricas”, aplicáveis a todos os crimes tratados no Código Penal e também subsidiariamente aos tipificados em leis extravagantes. Fazem parte as normas de aplicação da lei penal, do crime, da responsabilidade, do concurso de agentes, das penas, das medidas de segurança, da ação penal e da extinção da punibilidade. Vai do art. 1º ao art. 120. Foi modificada pela Lei n.º 7.209/1984. 
- Parte Especial: cuida das infrações penais (normas incriminadoras) e das sanções correspondentes; incluem-se, ainda, regras particulares ou mesmo exceções a princípios gerais (dispositivos sobre ação penal, casos de isenção de pena, etc.), bem como normas explicativas (conceito de “casa”, no artigo 150, §4°; de “funcionário público”, no artigo 327 etc.). Vai do art. 121 ao art. 361.
	Em outros termos, na Parte Geral são descritos e explicitados os conceitos e as compreensões gerais sobre os seguintes aspectos: Aplicação da Lei Penal, Do Crime, Da Imputabilidade Penal, Do Concurso de Pessoas, Das Penas, Das Medidas de Segurança, Da Ação Penal, Da Extinção de Punibilidade. Por sua vez, na Parte Especial é exatamente a tipificação do crime e a pena relativa. Isto porque, como a própria Constituição prevê no seu Artigo 5º. Inciso XXXIX, em consonância com o Código Penal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Isto quer dizer que é necessário estar exatamente e literalmente o crime e a pena respectiva para eventual aplicação legal. Não se pode inovar nesta seara, sob prejuízo da incolumidade do cidadão.
	Evidente que na perspectiva de um Código, o legislador deseja congregar em único documento o tema que pretende tratar, sempre com a intenção de possibilitar o acesso mais objetivo as questões pertinentes. Entretanto, conforme já foi dito anteriormente, por vários motivos, gradativamente, os Códigos sofrem a ação do tempo e das mudanças sociais, que mais freqüentemente forçam ajustes ou legislações paralelas. 
	
	É comum se dar menor atenção ao estudo da parte especial em relação à parte geral, considerando-a de certa forma entediante. Ao mesmo tempo em que se visualiza na parte geral o alto nível de abstração e a riqueza conceitual próprias de temas essencialmente filosóficos.
	
	É à parte especial que cabe, afinal, a delimitação concreta do âmbito de criminalização primária – por meio de suas regras construídas como preceito e sanção – e a realização dos princípios informadores do direito penal moderno como taxatividade e lesividade.
	Como dito anteriormente, a referida Parte Especial cuida das normas penais incriminadoras ou normas de direito penal em sentido estrito. Os crimes são denominados de acordo com a rubrica marginal, ou seja, a expressão que consta ao lado dos crimes ali definidos. É também conhecido como título do crime ou nomem iuris. É dividida em onze títulos, que com exceção do quarto e do nono, são todos subdivididos em capítulos, tendo como bens tutelados os a seguir expostos: (1) dos crimes contra a pessoa; (2) dos crimes contra o patrimônio; (3) dos crimes contra a propriedade imaterial; (4) dos crimes contra a organização do trabalho; (5) dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (6) dos crimes contra a dignidade sexual; (7) dos crimes contra a família; (8) dos crimes contra a incolumidade pública; (9) dos crimes contra a paz pública; (10) dos crimes contra a fé pública; (11) dos crimes contra a administração pública. 
	Após a divisão em Títulos, subdivide-se em Capítulos (ex: No Título I que trata dos Crimes contra a Pessoa, encontramos o capítulo I que trata dos Crimes contra a Vida).
	Por fim, alguns Capítulos (não todos) estão divididos em Seções. Por exemplo: no Título “Crimes contra a pessoa” temos o Capítulo “Dos crimes contra a liberdade individual”, que está dividido nas seguintes “Seções”:
I – Dos crimes contra a liberdade pessoal;
II – Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio;
III – Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência;
IV – Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos.
 
	A Parte Especial está sistematizada e ordenada de acordo com a natureza e importância do objeto jurídico tutelado pelos tipos penais. O código Penal vigente entrou em vigor em 1940 e possui índole essencialmente individualista, iniciando-se com os crimes que atentam imediatamente contra bens jurídicos individuais até chegar aos crimes contra os interesses do Estado. Assim, temos primeiramente os crimes contra a pessoa, depois os crimes contra o patrimônio até se chegar aos crimes contra a Administração Pública. Essa classificação sofreu a influência de Arturo Rocco, penalista italiano o qual afirmava que a existência humana se apresenta ora como existência do homem individualmente considerado, ora como existência do homem em estado de associação com outros homens, isto é, de coexistência ou convivência dos homens em sociedade, segue-se a distinção entre bens ou interesses jurídicos individuais e bens ou interesses jurídicos coletivos, sendo que essa distinção devia corresponder à distinção dos crimes. 
	Segundo Rogério Greco ao iniciarmos o estudo da Parte Especial do Código Penal, podemos perceber a preocupação do legislador no que diz respeito à proteção de diversos bens jurídicos. São onze os títulos existentes que traduzem os bens que foram objeto de tutela pela lei penal. 
	
	Vale repetir as palavras do ilustre mestre, no contexto ora em análise.
“Embora sendo datada de 1940, a Parte Especial do Código Penal foi sendo, ao longo dos anos, modificada por meio de reformas pontuais. Novos artigos foram criados, outros modificados, enfim, embora idosa, a Parte Especial do CP sofreu profundas modificações que tiveram o condão de, em algumas situações, fornecer-lhe uma aparência de jovialidade, cuidando de temas que não mereceram a atenção do legislador original, a exemplo da inserção do capítulo correspondente aos crimes contra as finanças públicas, inserido no Título XI, relativo aos crimes contra a Administração Pública, feita pela Lei n. 10.028/00, ou, ainda mais recentemente, a modificaçãodo art. 149, por intermédio da Lei n. 10.803/03, que prevê o delito de redução à condição análoga a de escravo, sem falar na Lei n. 10.886/04, que criou o delito de violência doméstica, inserindo dois parágrafos (9º e 10) ao art. 129 do CP. O projeto original que culminou com o Código Penal de 1940 foi elaborado, inicialmente, pelo Dr. Alcântara Machado, professor da Faculdade de Direito de São Paulo, tendo sido entregue ao Governo Federal em 1938. O Ministro da Justiça, Dr. Francisco Campos, ao receber o aludido projeto, entendeu por bem submetê-lo a revisão, convocando para isso técnicos, que se houvessem distinguido não somente na teoria do delito, como também na prática da aplicação da lei penal. Assim, foi constituída a Comissão Revisora com os ilustres magistrados Vieira Braga, Nelson Hungria e Narcélio de Queiroz e com um ilustre representante do MP, o Dr. Roberto Lira. Embora da revisão houvessem advindo modificações à estrutura e ao plano sistemático, não há dúvida que o projeto Alcântara Machado representou, em relação aos anteriores, um grande passo no sentido da reforma da nossa legislação penal.A Parte Especial do Código Penal está dividida em títulos, capítulos e seções, ordenadas sistematicamente levando em consideração o bem juridicamente protegido. Foi somente a partir do Código Penal de 1940 que a Parte Especial teve início com os chamados Crimes Contra a Pessoa, ressaltando, dessa forma, a sua importância. Os Códigos que o antecederam, vale dizer, o Código Criminal do Império do Brasil (1830) e o primeiro Código Penal publicado durante o período republicano, denominado Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (1890), iniciavam, respectivamente, sua Parte Especial, com os crimes contra a existência política do Império e os crimes contra a existência política da república, demonstrando, com isso, a preponderância do Estado sobre o cidadão. O Código Penal de 1940 rompeu com essa regra, iniciando sua Parte Especial com o Título I, relativo aos Crimes contra a Pessoa”.
	A Parte Especial pressupõe a paciência na identificação do seu sujeito ativo, sujeito passivo, sua objetividade jurídica, elementos subjetivos, sua classificação, a pena, e a ação penal compatível à figura delitiva.
	O ordenamento jurídico penal brasileiro tutela a pessoa humana, sendo esta proteção jurídica penal relevante, uma vez que tutela valores inerente a vida, a honra, a liberdade, a família, dignidade sexual, o patrimônio, gerando inúmeras circunstâncias que leva o humano a pratica de infrações penais.
	O Estado Democrático de direito, encontra no princípio da legalidade penal uma efetiva limitação ao poder punitivo do estado. O princípio da reserva legal constitui um imperativo que não permite desvios nem exceções as novas exigências penais e da própria justiça. Verifica-se a busca de um meio-termo que permita a proteção dos bens jurídicos contra as condutas descritas como ilícitas, havendo a necessidade do uso de conceito, de juízos valorativos, sem distorcer princípio constitucional da legalidade.
	Assim, a tipificação de crimes descritas no tipo penal do Código Penal, na parte especial e leis extravagantes, estendem-se a conseqüências jurídicas quanto à aplicação de penas ou medidas de segurança que afetam o cidadão e a toda a sociedade, produzindo a garantia e a certeza sobre a natureza ilícita e a sanção penal condizente.
	Desta forma o Direito Penal, possui a função ético-social, de proteger o comportamento Humano, garantindo a segurança e a estabilidade do juízo da sociedade e a proteção a violação do ordenamento jurídico social. O objetivo é a proteção dos valores ético-sociais e da ordem social.
	
	Um dos objetivos da tipificação dos crimes se destina evitar que o individuo viva sob a ameaça e medo, porque não sabedor daquilo que pode ou não fazer na sociedade em que encontra. Da mesma forma, restringe a atuação dos julgadores e autoridades responsáveis pela lei e a ordem social, no sentido de que não haja aplicação de pena para situações não descritas antecipadamente como inconvenientes e consideradas proibidas. Tudo isso para manter a estabilidade social e jurídica.
2. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
Esquema da Classificação dos Crimes
Crimes comuns e especiais
Crimes comuns e próprios
Crimes de mão própria ou de atuação pessoal 
Crimes de dano e de perigo 
Crimes materiais, formais e de mera conduta 
Crimes comissivos e omissivos 
Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos permanentes
Crime continuado
Crimes principais e acessórios
Crimes condicionados e incondicionados
Crimes simples e complexos
Crime progressivo 
Delito putativo 
Crime provocado
Crime impossível
Crime consumado e tentado 
Crime falho
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
Crimes de dupla subjetividade passiva 
Crime exaurido
Crimes de concurso necessário 
Crimes dolosos, culposos e preterdolosos
Crimes simples, privilegiados e qualificados
Crime subsidiário 
Crimes vagos 
Crimes comuns e políticos 
Crime multitudinário
Crimes de opinião
Crimes de ação única e de ação múltipla ou de conteúdo variado
Crimes de ação penal pública e de ação penal privada 
Crime habitual e profissional
Crimes conexos
Crime de ímpeto
Crimes funcionais
Crimes à distância e plurilocais
Crimes pluriofensivos
Delito transeunte e não transeunte 
Crimes de responsabilidade
Crimes hediondos
Crime organizado
	As infrações penais dividem-se em crimes, delitos e contravenções (classificação tripartida) ou somente crimes ou delitos e contravenções (classificação bipartida). A primeira classificação é a adotada em países como França, Alemanha e Bélgica. Em nosso direito doméstico, reina a classificação bipartida. É entendido que não há diferença qualitativa ou substancial entre crime e contravenção, mas a diferença é quantitativa. Segundo Magalhães Noronha, “a contravenção é um crime menor, menos grave que o delito”. A decisão de qual infração é crime ou contravenção cabe ao legislador, analisando o grau de significância dos interesses jurídicos violados na prática de tal infração.
	Por qualificação entende-se “o nome dado ao fato ou à infração peça doutrina e pela lei” (José Frederico Marques). Pode ser legal (dada pela lei) ou doutrinária (dada pelos doutrinadores)
- Qualificação legal - Qualificação do fato é o nomen juris da infração; qualificação da infração é o nome dado à prática do fato: crime ou contravenção.
- Qualificação doutrinária - é o nome dado ao crime pela doutrina, resultado de um trabalho científico sobre o tema.
	Após essas breves considerações obre a distinção de crime e contravenção e a diferença entre classificação legal e doutrinária das infrações penais, analisaremos de forma mais profunda os crimes para o total entendimento deste tema.
2.1. CRIMES COMUNS E ESPECIAIS 
	Damásio E. de Jesus ensina: “os crimes comuns são os descritos no Direito Penal Comum; especiais, os definidos no Direito Penal Especial”.
2.2 CRIMES COMUNS E PRÓPRIOS
	“Crime comum é o que pode ser praticado por qualquer pessoa. Crime próprio é o que só pode ser cometido por uma determinada categoria de pessoas, pois pressupõe no agente uma particular condição ou qualidade pessoal” (Damásio E. de Jesus)
	Como ensina Mirabete, o tipo penal dos crimes próprios “limita o círculo do autor, que deve encontrar-se em uma posição jurídica, como os funcionários públicos, médicos.”
	Esta classificação é feita por Magalhães Noronha como crimes comuns e especiais.
2.3 CRIMES DE MÃO PRÓPRIA OU DE ATUAÇÃO PESSOAL 
	Damásio de Jesus conceitua este tipo de crime como “os que só podem ser cometidos pelo sujeito em pessoa”. Este crime é praticado de tal maneira que somente o autor está em condição de realizá-lo. (v.g.: incesto, falso testemunho) Mirabete completa o conceito ao dizer que “embora passíveis de serem cometidos por qualquer pessoa, ninguém os pratica por intermédio de outrem”.
2.4. CRIMES DE DANO E DE PERIGO 
	“Crimes de dano são os que só se consumam com a efetiva lesão dobem jurídico. Crimes de perigo são os que se consumam tão só com a possibilidade do dano”. (Damásio de Jesus)
	Damásio distingue os diversos tipos de perigo. Segundo ele, o perigo pode ser:
a-) presumido (Não precisa ser provado) ou concreto (necessita ser investigado e comprovado)
b-) individual (expõe uma única pessoa ao risco) ou coletivo (crimes contra incolumidade pública)
c-) atual (está ocorrendo), iminente (está prestes a desencadear-se) ou futuro (pode advir em ocasião posterior)
	Mirabete conceitua também estes dois tipos de crime. Os crimes de dano “só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico visado, por exemplo, lesão à vida. Nos crimes de perigo, o delito consuma-se com o simples perigo criado para o bem jurídico”. 
	Segundo Magalhães Noronha, “crimes de perigo são os que se contentam com a probabilidade de dano. Crimes de dano são os que só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico tutelado”.
2.5. CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA 
	Seguindo o conceito dado por Damásio de Jesus crimes de mera conduta são aqueles em que “o legislador só descreve o comportamento do agente”. O crime formal menciona em seu tipo “o comportamento e o resultado, mas não exige a sua produção para a consumação.” São distintos porque os crimes de mera conduta são sem resultado, os crimes formais tem resultado, “mas o legislador antecipa a consumação à sua produção”.
	No crime material “o tipo menciona a conduta e o evento, exigindo a sua produção para a consumação”.
	Vejamos o conceito de Mirabete: “No crime material há a necessidade de um resultado externo à ação, descrito na lei, e que se destaca lógica e cronologicamente da conduta. No crime formal não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente, e o resultado jurídico previsto no tipo ocorre ao mesmo tempo e, que se desenrola a conduta, havendo separação lógica e não cronológica entre conduta e resultado. Nos crimes de mera conduta a lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com a ação ou omissão do agente”.
2.6. CRIMES COMISSIVOS E OMISSIVOS 
	O critério que distingue estes dois crimes é o comportamento do agente.
	Segundo Damásio de Jesus, crimes comissivos são “os praticados mediante ação”, o agente pratica uma ação. Já os crimes omissivos são os praticados ‘mediante inação “, o agente deixa de praticar uma ação que deveria ser feita”.
	Mirabete define crime comissivo como “os que exigem, segundo um tipo penal objetivo, em princípio, uma atividade positiva do agente, um fazer”. Crimes omissivos como “os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico”.
	O mesmo autor fala ainda de crimes de conduta mista (comissivos-omissivos). São aqueles que “no tipo penal se inscreve uma fase inicial comissiva, de fazer, de movimento, e uma final omissão, de não fazer o devido”. E. Magalhães Noronha define que ocorre os crimes comissivos-omissivos “quando a omissão é meio ou forma de se alcançar um resultado posterior”.
2.7. CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E INSTANTÂNEOS DE EFEITOS PERMANENTES
	“Crimes instantâneos são os que se completam num só momento. A consumação se dá num determinado instante, sem continuidade temporal (homicídio). Crimes permanentes são os que causam uma situação danosa ou perigosa que se prolonga no tempo, como o seqüestro ou cárcere privado”. (Damásio E. de Jesus)
	Segundo Mirabete, crimes instantâneos de efeitos permanentes “ocorrem quando, consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, independentemente da vontade do sujeito ativo”. Como exemplo podemos citar a bigamia.
	Faz-se necessário saber que, segundo observação de Magalhães Noronha, “a instantaneidade não significa rapidez ou brevidade física da ação, mas cuja consumação se realiza em um instante”.
2.8. CRIME CONTINUADO
	O crime continuado está definido no caput do art. 71 do nosso Código Penal: “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro”.
	Magalhães Noronha conceitua crime continuado aquele que é “constituído por duas ou mais violações jurídicas da mesma espécie, praticadas por uma ou pelas mesmas pessoas sucessivamente e sem ocorrência de punição em qualquer daquelas, as quais constituem um todo unitário, em virtude da homogeneidade objetiva”.
	Damásio de Jesus explica-nos que neste caso “impõe-se-lhe pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas”. E ressalta que não se trata de uma tipo de crime, mas uma “forma de concurso de delitos”.
2.9. CRIMES PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS
	Damásio de Jesus define crimes principais aqueles que “existem independentemente dos outros”. Crimes acessórios são aqueles que “pressupõe outros”. Como exemplo, o mesmo autor cita o furto (principal) e receptação (acessório).
	“Os crimes principais independem da prática de delito anterior. Os crimes acessórios, como a denominação indica, sempre pressupõem a existência de uma infração penal anterior, a ele ligada pelo dispositivo penal que, no tipo, faz referência àquela”. (Júlio Fabbrini Mirabete)
2.10. CRIMES CONDICIONADOS E INCONDICIONADOS
	“Crimes condicionados são os que têm a punibilidade condicionada a um fato exterior e posterior à consumação. Incondicionados os que não subordinam a punibilidade a tais fatos” (Damásio E. de Jesus).
2.11. CRIMES SIMPLES E COMPLEXOS
	“Crime simples é o que apresenta tipo penal único. Delito complexo é a fusão de dois ou mais tipos penais” (Damásio de Jesus). 
	“São simples os crimes em que o tipo é único e ofendem apenas um bem jurídico. São complexos os crimes que encerram dois ou mais tipos em uma única descrição legal (sentido estrito) ou os que, em uma figura típica, abrangem um tipo simples, acrescido de fatos e circunstâncias que, em si, não são típicos sentido amplo).” (Júlio Fabbrini Mirabete)
2.12. CRIME PROGRESSIVO 
	Segundo Damásio, o crime progressivo ocorre quando “o sujeito, para alcançar a produção de um resultado mais grave, passa por outro menos grave”.
	Mirabete ensina que “no crime progressivo, um tipo abstratamente considerado contém implicitamente outro que deve necessariamente ser realizado para se alcançar o resultado”.
	Magalhães Noronha há crime progressivo quando “se tem um tipo, abstratamente considerado, contém outro, de modo que sua realização não se pode verificar, senão passando-se pela realização do que ele contém”.
2.13. DELITO PUTATIVO 
	Segundo Mirabete, crime putativo (ou imaginário) “é aquele em que o agente supõe, por erro, que está praticando uma conduta típica quando o fato não constitui crime”. Segundo Damásio de Jesus, o delito putativo ocorre quando “o agente considera erroneamente que a conduta realizada por ele constitui crime, quando, na verdade, é um fato atípico. Só existe na imaginação do sujeito”. O mesmo autor destaca que há três tipos de delito putativo:
- delito putativo por erro de proibição: ocorre quando o agente supõe violar uma norma penal que na verdade não existe. “Falta tipicidade à sua conduta, pois o fato não é considerado crime”.
- delito putativo por erro de tipo: há a errônea suposição do agente e esta não recai sobre a norma, ma sobre os elementos do crime. “O agente crê violar uma norma realmente existente, mas à sua conduta faltam elementares de tipo”.
- delito putativo por obra de agente provocador (crime de flagrante provocado): “ocorre quando alguém, de forma insidiosa, provoca o agente à prática de um crime, ao mesmo tempo que toma providências para que o mesmo não se consuma.”
2.14. CRIME PROVOCADO
	Ocorre o crime provocado “quando o agente é induzido à prática de um crime por terceiro, muitas vezes policial, para que se efetue a prisão em flagrante”. (Júlio Fabbrini Mirabete). Tem-se entendido que havendoflagrante por ter sido o agente provocado pela Polícia, há crime impossível.
2.15. CRIME IMPOSSÍVEL
	Descrito pelo art. 17 do Código Penal: “ Não se pune a tentativa, quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.
	“Este crime pressupõe sejam absolutas a ineficácia e a impropriedade” (E. Magalhães Noronha). Quando o dispositivo se refere ‘à ineficácia absoluta do objeto’, deve-se entender que “o meio é inadequado, inidôneo, ineficaz para que o sujeito possa obter o resultado pretendido”. No que diz respeito ‘à absoluta impropriedade do objeto’ material do crime, este “não existe ou, nas circunstâncias em que se encontra, torna impossível a consumação”. (Fabbrini Mirabete)
2.16. CRIME CONSUMADO E TENTADO 
	Segundo nosso Código Penal, há o crime consumado “quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal (art.14, I)”. Diz Mirabete que o crime está consumado “quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, quando o fato concreto se subsume no tipo penal abstrato descrito na lei penal”.
	Há o crime tentado “quando, iniciada a execução, não se consuma, por circunstâncias alheias à vontade do agente” (art.14, II). “A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática do ato de execução, mas não chega o sujeito à consumação por circunstâncias alheias à sua vontade”. (Júlio Fabbrini Mirabete)
2.17. CRIME FALHO
	“É a denominação que se dá à tentativa perfeita ou acabada, em que o sujeito faz tudo quanto está ao seu alcance para consumar o crime, mas o resultado não corre por circunstâncias alheias à sua vontade”. (Damásio E. de Jesus)
2.18. CRIMES UNISSUBSISTENTES E PLURISSUBSISTENTES 
	Ensina-nos Damásio de Jesus: “crime unissubsistente é o que se realiza com um só fato. Crime plurissubsistente é o que se perfaz com vários atos”.O primeiro não admite tentativa (v.g.: injúria) ; o plurissubsistente sim (v.g. homicídio).
	Mirabete completa o conceito dado por Damásio. No crime unissubsistente “conduta é una”. O crime plurissubsistente “é composto de vários atos, que integram a conduta, ou seja, existem fases que podem ser separadas, fracionando-se o crime”.
2.19. CRIMES DE DUPLA SUBJETIVIDADE PASSIVA 
	“São crimes que têm, em razão do tipo, dois sujeitos passivos”. (Damásio E. de Jesus) Podemos citar como exemplo a violação de correspondência; os dois sujeitos passivos são o destinatário e o remetente.
	A classificação dada por Júlio Mirabete diverge da conceituada por Damásio de Jesus. O exemplo citado acima, Mirabete classifica como crime plurissubjetivo passivo. Segundo ele, este tipo de crime “demanda mais de um sujeito passivo na infração”. (Mirabete fala ainda de crimes unissubjetivos, “aquele que pode ser praticado por uma só pessoa”) e crimes plurissubjetivos (“aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou mais agentes para a prática da conduta criminosa”). Magalhães Noronha classifica os chamados crimes unissubjetivos de Mirabete como crimes unilaterais (“pode ser praticado por uma única pessoa”).
2.20. CRIME EXAURIDO
	Damásio define crime exaurido como “aquele que depois de consumado atinge suas últimas conseqüências. Estas podem constituir um indiferente penal ou condição de maior punibilidade”.
	Mirabete diz que um crime é exaurido quando “após a consumação, que ocorre quando estiverem preenchidos no fato concreto os tipos objetivos, o agente o leva a conseqüências mais lesivas”.
2.21. CRIMES DE CONCURSO NECESSÁRIO 
	Segundo Damásio de Jesus, crimes de concurso necessário “são os que exigem mais de um sujeito”. O autor divide este tipo de crime em coletivos (os que têm como elementar o concurso de várias pessoas - art.288) e bilaterais (exigem o encontro de duas pessoas, mesmo que uma não seja culpável).
2.22. CRIMES DOLOSOS, CULPOSOS E PRETERDOLOSOS
	Há o crime doloso “quando o sujeito quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo” (CP art. 18, I). Mirabete contribui para o entendimento deste tipo de crime ao dizer que no crime doloso não devemos apenas analisar o objetivo que o agente quis alcançar, mas também a conduta do autor. Esta conduta é dividida em duas partes: interna e externa. Na interna, analisamos o pensamento do autor: ele se propõe a um fim, prepara os meios para a execução deste fim e, por fim, considera os efeitos do fim pretendido.
	A conduta externa é a exteriorização da conduta, uma “atividade em que se utilizam os meios selecionados conforma a normal e usual capacidade humana de previsão”.
	Há o crime culposo “quando o sujeito deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia” (CP art. 18, II). Nos crimes culposos não há a preocupação “com o fim da conduta; o que importa não é o fim do agente, mas o modo e a forma imprópria com que atua”, segundo Mirabete.
	Crime preterdoloso ou preterintencional “é aquele em que a ação causa um resultado mais grave que o pretendido pelo agente”. (Damásio E. de Jesus)
	É considerado por Mirabete um crime misto, “em que há uma conduta que é dolosa, por dirigir-se a um fim típico, e que é culposa pela causação de outro resultado que não era objeto do crime fundamental pela inobservância do cuidado objetivo. Há no dolo no antecedente e culpa no consequente”.
2.23. CRIMES SIMPLES, PRIVILEGIADOS E QUALIFICADOS
	Seguindo o conceito dado por Damásio de Jesus crime simples “é o descrito em sua forma fundamental. É a figura típica simples, que contém os elementos específicos do delito”. Mirabete ainda completa essa definição ressaltando que em seu conteúdo subjetivo não há “circunstância que aumente ou diminua sua gravidade”.
	O crime é considerado qualificado “quando o legislador, depois de descrever a figura típica fundamental, agrega circunstâncias que aumentam a pena”, segundo Damásio de Jesus. Fabbrini Mirabete diz ainda que “não surge à formação de um novo tipo penal, mas apenas de uma forma mais grave de ilícito”.
	Há ainda os crimes chamados privilegiados. Segundo a definição de Mirabete, estes “existem quando ao tipo básico a lei acrescenta circunstância que o torna menos grave, diminuindo, em conseqüência, suas sanções”.
2.24. CRIME SUBSIDIÁRIO 
	É a norma penal que tem natureza subsidiária em relação a outra. Segundo Damásio, “a norma principal exclui a aplicação da secundária”.
2.25. CRIMES VAGOS 
	“São os que têm por sujeito passivo, entidades sem personalidade jurídica, como a família, o público ou a sociedade” – art.233 praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público (Damásio E. de Jesus).
2.26. CRIMES COMUNS E POLÍTICOS 
	Damásio de Jesus distingue-os da seguinte maneira: “crimes comuns são os que lesam bens jurídicos do cidadão, da família ou da sociedade, enquanto os políticos atacam à segurança interna ou externa do Estado, ou a sua própria personalidade.”
	Mirabete classifica os crimes políticos como puros ou próprios, que “têm por objeto jurídico apenas a ordem política, sem que sejam atingidos bens ou interesses jurídicos individuais ou outros Estados”. Há ainda os crimes relativos ou impróprios, que “expõem a perigo ou lesam também bens jurídicos individuais ou outros que não a segurança do Estado”.
2.27. CRIME MULTITUDINÁRIO
	“É o praticado por uma multidão em tumulto, espontaneamente organizada no sentido de um comportamento comum contra pessoa ou coisas” - art 65, II, (Nélson Hungria)
2.28. CRIMES DE OPINIÃO
	“Consistem em abuso de liberdade do pensamento, seja pela palavra, imprensa ou qualquer meio de transmissão” (Damásio E. de Jesus).
2.29. CRIMES DE AÇÃO ÚNICA E DE AÇÃO MÚLTIPLA OU DE CONTEÚDO VARIADO
	Mirabete conceitua crime de ação simples aquele “cujo tipo penal contém apenas uma modalidade de conduta, expressa no verbo que constitui o núcleo da figura típica”.
	Na redação do art. 122 do Código Penal, observamos os verbos “induzir” ou “instigar” e “prestar” auxílio ao suicídio. Mesmo na prática destas três ações, elas são consideradas como um único crime. Assim, são definidos, porDamásio de Jesus, crimes de ação múltipla aqueles “em que o tipo faz referência a várias modalidades da ação”.
	Magalhães Noronha afirma que no crime de ação múltipla “o tipo contém várias modalidades de conduta delituosa, as quais, praticadas pelo agente, fatos do mesmo crime”.
2.30. CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA E DE AÇÃO PENAL PRIVADA 
	Nos crimes de ação penal pública “o procedimento penal se inicia mediante denúncia do órgão do Ministério Público”, conceito dado por Damásio de Jesus. Nos crimes de ação penal privada, este procedimento é feito mediante queixa do ofendido ou de seu representante legal, segundo o art. 100 §§ 1º e 2º do CP.
	O art. 101 expressa a distinção entre estes dois tipos de crime: o crime é de ação penal privada quando a lei expressamente o declara.
2.31. CRIME HABITUAL E PROFISSIONAL
	“Crime habitual é a reiteração da mesma conduta reprovável, de forma a constituir um estilo ou hábito de vida, art 229. Quando o agente pratica as ações com intenção de lucro, fala-se em crime profissional” (Damásio E. de Jesus).
	A definição de crime habitual para Mirabete é “a reiteração de atos, penalmente indiferentes por si, que constituem por um todo, um delito apenas traduzindo, geralmente um modo ou estilo de vida”. 
2.32. CRIMES CONEXOS
	Neste caso há um elo entre os crimes. O sujeito comete uma infração para ocultar outra. Damásio nos dá o exemplo de um sujeito que, após praticar um furto, incendeia a casa para fazer desaparecer qualquer vestígio. O fato do incêndio é cometido para assegurar a ocultação do furto.
2.33. CRIME DE ÍMPETO
	“É aquele em que a vontade delituosa é repentina, sem perceber deliberação” (Damásio E. de Jesus). Ex.: homicídio praticado por influência de forte emoção, art. 121, § 1º, 3ª.
2.34. CRIMES FUNCIONAIS
	Damásio de Jesus conceitua os crimes funcionais os que “só podem ser praticados por pessoas que exercem funções públicas” art. 150, § 2º. 300 ,301 etc.
2.35. CRIMES A DISTÂNCIA E PLURILOCAIS
	Os crimes a distância são aquele que “a conduta ocorre em um país e o resultado noutro”. Delito plurilocal “é aquele que, dentro de um mesmo país, tem a conduta realizada num local e a produção do resultado noutro” (Damásio E. de Jesus)
2.36. CRIMES PLURIOFENSIVOS
	“São os que lesam ou expõe a perigo de dano mais de um bem jurídico”, segundo Damásio de Jesus. Ex.: latrocínio, art.157, §3º, in fine (lesa a vida e o patrimônio)
2.37. DELITO TRANSEUNTE E NÃO TRANSEUNTE 
	“Transeunte é o que não deixa vestígios; não transeunte o que deixa” (Damásio E. de Jesus)
2.38. CRIMES DE RESPONSABILIDADE
	Este tipo de crime é alvo de discussões, pois esta classificação suscita dúvidas no que concerne a sua interpretação. Por vezes é entendido como crimes e infrações de natureza político-administrativo não sancionadas com penas de natureza criminal.
	Damásio de Jesus define, em sentido amplo, “como um fato violador do dever do cargo ou da função, apenado com uma sanção criminal ou de natureza política.” Divide ainda este tipo de crime em duas espécies: próprio, que constitui delito, e impróprio, que diz respeito à infração político-administrativo.
2.39. CRIMES HEDIONDOS
	Damásio de Jesus conceitua crimes hediondos como “delitos repugnantes, sórdidos, decorrentes de condutas que, pela forma de execução ou pela gravidade objetiva dos resultados, causam intensa repulsa”.
	João José Leal afirma que haveria um crime hediondo “toda vez que uma conduta delituosa estivesse revestida de excepcional gravidade, seja na execução, quando o agente revela total desprezo pela vítima, insensível ao sofrimento físico ou moral a que a submete, seja quanto à natureza do bem jurídico ofendido, ainda pela especial condição das vítimas”.
	A Constituição Federal de 1988 considera estes crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia (art. 5º, inc. XLIII).
2.40. CRIME ORGANIZADO
	É aquele praticado por uma organização criminosa. Segundo Mirabete, organização criminosa “é aquela que, por suas características, demonstre a existência de estrutura criminal, operando de forma sistematizada, com planejamento empresarial, divisão de trabalho, pautas de condutas em códigos procedimentais rígidos, simbiose com o Estado, divisão territorial e, finalmente, atuação, regional, nacional ou internacional”.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (COM GABARITO):
1. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) São considerados crimes próprios os delitos que podem ser realizados por qualquer pessoa, enquanto os crimes comuns exige-se sujeito ativo especial ou qualificado.
b) São considerados crimes comuns os delitos que podem ser realizados por qualquer pessoa, enquanto os crimes próprios exige-se sujeito ativo especial ou qualificado.
c) São considerados crimes comuns aqueles que são habitualmente realizados, enquanto os crimes próprios são os realizados com menor freqüência.
d) São considerados crimes próprios aqueles que são habitualmente realizados, enquanto os crimes comuns são os realizados com menor freqüência.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
Os crimes comuns não exigem do agente uma qualidade especial, portanto, qualquer um poderá se enquadrar nesse tipo de crime (por exemplo: roubo, furto, homicídio etc).
No entanto, os crimes próprios só podem ser realizados por um sujeito que tenha uma qualidade especial descrita na norma penal (por exemplo: mulher no auto-aborto, mãe no infanticídio, funcionário público no peculato etc).
2. Quanto aos crimes instantâneos. Considere as seguintes afirmações:
I - São aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta;
II - Produzem efeitos prolongado no tempo;
III - Não produzem efeitos prolongados no tempo;
IV - São aqueles cuja consumação exige qualidade especial do agente.
 	 
a) As assertivas I e III estão corretas.
b) As assertivas I, III e IV estão corretas.
c) As assertivas II e IV estão corretas.
d) As assertivas I, II e IV estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
"Os crimes instantâneos são aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta e não produzem um resultado prolongado no tempo. Assim, ainda que a ação possa ser arrastada no tempo, o resultado sempre é instantâneo". Guilherme de Souza Nucci.
3. Quanto aos crimes permanentes. Considere as afirmações:
I - Não se relaciona com o tempo;
II - Caracterizam-se com uma única conduta, porém seus efeitos perduram no tempo;
III - O homicídio e o roubo seguido de morte (latrocínio) não são crimes permanentes.
 	 
a) Somente a assertiva II está correta.
b) As assertivas I e III estão incorretas.
c) As assertivas II e III estão corretas.
d) Todas estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Os crimes permanentes são aqueles que se prolongam no tempo, ou seja, sua consumação só se dará quando cessarem os efeitos da conduta delitiva, por vontade ou não do agente. Por exemplo: Seqüestro ou cárcere privado nota-se que enquanto os agentes tiverem sob seu poder a vítima, o crime estará sendo cometido, ou seja, em andamento, por isso são crimes permanentes.
O homicídio e o latrocínio são crimes instantâneos, pois a conduta do agente criminoso se dará no ato de sua efetiva execução e se caracterizará neste mesmo ato. Enquanto os crimes permantentes, a situação antijurídica gerada se prolonga no tempo até quando queira o agente (caso não exista intervenção de terceiros, alheia a vontade do agente, por exemplo, a polícia).
4. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) Crimes comissivos são os cometidos por intermédio de uma comissão.
b) Crimes comissivos são os cometidos por intermédio de uma omissão.
c) Crimes comissivos são os cometidos por intermédio de uma ação.
d) Nenhuma está correta.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Os delitos comissivos são aqueles que são cometidos por intermédio de uma ação. Por exemplo: estupro, injúria, roubo etc).
5. Considere as afirmativas:
I - Os crimes omissivos são praticados através de uma abstenção.
II - Não existem crimes comissivos e omissivos ao mesmo tempo.
III - Os crimescomissivos por omissão são iguais aos omissivos por comissão.
IV - Os crimes omissivos por comissão são os que são cometidos por uma abstenção, mas que podem ser, excepcionalmente, praticados pela ação de alguém.
V - Os crimes comissivos por omissão são restritos aos casos de quem tem o dever de impedir o resultado.
Assinale a alternativa correta.
 	 
a) I e II.
b) I, IV e V.
c) Somente a II.
d) Somente a III.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
I - Os crimes omissivos são aqueles praticados através de uma omissão. Por exemplo: Omissão de socorro).
II - Existem crimes comissivos e omissivos ao mesmo tempo. Isso pode ser afirmado, pois existem os crimes as modalidades anômalas, que são: os comissivos por omissão e os omissivos por comissão.
III - De acordo a explicação da afirmação "IV" e "V", esses crimes são distintos.
IV - Os crimes omissivos por comissão são os que são cometidos por uma abstenção, mas que podem ser, excepcionalmente, praticados pela ação de alguém. Por exemplo: agente que impede outrem, por emprego de força física, de socorrer pessoa ferida.
V - Os crimes comissivos por omissão são delitos de ação, praticados excepcionalmente por omissão, restrita aos casos de quem tem o dever de impedir o resultado (art. 13, §2° do Código Penal).
Sendo assim, as afirmativas I, IV e V são as corretas.
6. Os crimes de atividade:
 	 
a) Necessitam de resultado naturalístico.
b) Não são crimes de mera conduta.
c) Não dependem, somente, da ação humana.
d) Todas estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
	As alternativas estão descrevendo exatamente o inverso quanto aos crimes de atividade.
	Vamos ao conceito:
São chamados crimes de atividade aqueles que contenham com ação humana esgotando a descrição típica, havendo ou não resultado naturalístico.
São chamados, também, de crimes formais ou de mera conduta.
Exemplo: Prevaricação (art. 319 do Código Penal).
7. Quanto aos crimes de resultado.
Considere as afirmações:
I - São chamados também de crimes naturais e formais.
II - Necessitam de um resultado naturalístico.
III - São crimes em que, se não ocorrer o resultado naturalístico, não admitem tentativa. 
IV - São crimes em que, caso não ocorra o resultado naturalístico, será apenas uma tentativa.
V - É conhecido, também, como crimes materiais e causais.
Assinale a alternativa correta.
 	 
a) I, II e IV.
b) II, IV e V.
c) I, II e III.
d) II, III e V.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
I - Esta afirmação está incorreta, pois não é conhecido desse modo, também, o crime de resultado.
II - Se o crime é de resultado, é óbvio que necessita de resultado naturalístico. 
III - De acordo com a IV.
IV - Caso não ocorra o resultado naturalístico, será apenas uma tentativa. Portanto a afirmação III está incorreta por dizer que não admite a tentativa.
V - O crime de resultado é conhecido, também, como crimes materiais ou causais.
8. Assinale a alternativa INCORRETA.
Os crimes de dano:
 	 
a) São os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado.
b) Trata da ocorrência de um prejuízo perceptível pelos sentidos humanos.
c) Constituem um dano efetivo ao bem jurídico protegido pela norma penal.
d) Todas as afirmações estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
Esta questão é a típica "pegadinha" dos concursos. O que foi pedido é que fosse assinalada a alternativa incorreta e esta é a alternativa "D". Pois todas estão corretas, exceto a alternativa que diz que estão todas incorretas.
É um jogo de palavras que deve ser prestado atenção nos concursos.
Parabéns aquele que assinalou a alternativa correta.
Explicação da questão - As alternativas "A" e "B" se interligadas, definirão o conceito de crimes de dano, sendo que a alternativa "C" é o mesmo do que está descrito na alternativa "A", porém em outras palavras.
9. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) Crime de perigo são os crimes que não se consumam.
b) Crime de perigo está relacionado com a audácia dos bandidos.
c) Crime de perigo são os que contenham, para a consumação, a mera probalidade de haver um dano.
d) Crime de perigo são aqueles que definem os crimes contra a vida ou a integridade física.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Os crimes de perigo são aqueles que a probabilidade de um dano já definem o crime na norma penal incriminadora. Os crimes de perigo podem se dividir em "perigo individual” (1) e "coletivo” (2), "perigo abstrato” (3) e "concreto” (4).
1 - probabilidade de dano abrange apenas uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas (art. 130 a 137 do Código Penal).
2 - probabilidade de dano envolve um número indeterminado de pessoas (art. 250 a 259 CP).
3 - probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal, independendo de prova (ex.: porte ilegal de substância entorpecente - arts. 12 e 16, Lei 6.368/76-, onde se presume o perigo para a saúde pública).
4 - probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada e provada (ex.: expor a vida de alguém a perigo - art. 132 CP).
10. Assinale a alternativa que se apresente a mais correta.
 	 
a) Os crimes unissubjetivos somente podem ser praticados por uma só pessoa e, os plurisubjetivos só podem ser cometidos por duas ou mais pessoas.
b) Os crimes plurissubjetivos admitem concurso de agentes.
c) A rixa é um crime unissubjetivos, pois cada um é responsabilizado por seus próprios atos.
d) O homicídio é um crime necessariamente plurissubjetivo, pois sempre existirá o agente e a vítima, indicando assim, duas ou mais pessoas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Somente esta está correta, as outras estão todas totalmente incorretas.
A própria conceituação básica está na resposta correta desta questão:
Crime Unissubjetivo: São os crimes que somente poderão ser cometidos por um único agente. Por exemplo: homicídio, aborto, extorsão, entre outros).
Crime Plussubjetivo: São os crimes que necessariamente, para se classificar deste modo, precisam ter dois ou mais agentes cometendo crime. Por exemplo: rixa, quadrilha ou bando, bigamia, entre outros).
Obs.: Não confundir Crime Plurissubjetivo com Concurso de Agentes. Os crimes plurissubjetivos exigem a participação de dois ou mais autores para a configuração do crime, ou seja, já está tipificado na norma penal a pluralidade de agentes para atingir a norma penal (rixa, quadrilha etc), no entanto, nos crimes unissubjetivos, quando na prática é cometido por dois ou mais agentes, a regra do artigo 29 será utilizada para tipificar todas as condutas, pois cada um contribuiu de um modo para o delito, sendo assim, a soma de todas essas manifestações criminosas atingem a figura típica total. Portanto, pode-se dizer que o Concurso de agentes, recai, somente, nos crimes unissubjetivos, pois nos crimes plurissubjetivos a norma penal já descreve a pluralidade de agentes, não sendo necessária a vinculação da regra do artigo 29 do CP (Concurso de Agentes).
11. Quanto aos crimes progressivos, assinale a alternativa incorreta:
 	 
a) Não se relacionam em nenhuma forma com os crimes complexos.
b) Quando um tipo penal tacitamente envolve o outro é considerado como crime progressivo.
c) Está contido no homicídio o crime de lesão corporal.
d) A alternativa "A" está incorreta.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Os crimes progressivos são aqueles que a norma penal tacitamente engloba outra, permanecendo a conduta mais gravosa (pois a menos grave está contida na mais grave).
As respostas "B", "C" e "D" estão corretas, portanto a alternativa INCORRETA, como foi pedido, é a alternativa "A".
A alternativa "D" está indicando a resposta que deveria ser feita, pois ela está correta.
12. Considere as afirmativas:
I - Os crimes progressivos e complexos fazem parte do fenômeno continência, que se dá quando um tipo engloba o outro.
II - Crimes complexos são os crimes que um tipo penal expressamente envolve outro.
III - O roubo é um crime complexo.
IV - O homicídio é umcrime progressivo.
V - O fenômeno "continência" é dividido em dois: Explícita e Implícita.
Assinale a alternativa correta mais completa.
 	 
a) I, III e V estão incorretas.
b) I, II, IV e V estão corretas.
c) Somente a III está correta.
d) Todas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
Todas as afirmações estão corretas, portanto a alternativa mais completa é a "D".
O fenômeno continência se divide em dois: explícita e implícita - no primeiro, trata dos crimes complexos (ex: Roubo envolve o furto, expressamente pela norma penal, "subtrair coisa alheia móvel [furto - art. 155], mediante grave ameaça ou violência a pessoa,...[roubo] art. 157 do CP). No segundo, trata dos crime progressivos, que tacitamente (implicitamente), um tipo penal envolve o outro. (ex: Homicídio, que para cometê-lo, pode-se deduzir que o agente teve que praticar o crime de lesão corporal).
13. A progressão criminosa:
 	 
a) É um instituto que tem os mesmos aspectos dos crimes progressivos.
b) É a evolução na vontade do agente, fazendo-o passar de um estágio para outro (de um crime para o outro), normalmente voltado contra o mesmo bem jurídico protegido.
c) O dolo do agente não é considerado para caracterizar a classificação de "progressão criminosa".
d) Todas alternativas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
A progressão criminosa é um instituto semelhante ao crime progressivo, porém não são iguais.
No caso do homicídio, no crime progressivo, a intenção do agente, desde o início, é a morte, sendo que a lesão corporal é uma mera conseqüencia para o resultado pretendido. No entanto, na progressão criminosa, o agente inicialmente praticou uma lesão corporal na vítima por ela não ter pagado uma dívida de jogo, logo após viu que não ia receber essa dívida e, somente posteriormente a lesão corporal (intenção inicial), resolve matá-la.
Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci - "Na progressão, a intenção inicial era a lesão, que evoluiu para o homicídio, enquanto no progressivo, o agente delibera matar, passando, por necessidade, pela lesão".
14. São requisitos para o reconhecimento do Crime Habitual:
I - Reiteração de vários fatos.
II - Identidade ou homogeneidade dos fatos.
III - Nexo de habitualidade entre os fatos.
IV - No mínimo a prática de 3(três) fatos no período de 1(um) ano.
 	 
a) I, III e IV estão corretas.
b) II e IV estão corretas.
c) I, II e III estão corretas.
d) Todas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra c.
As afirmações "I", "II" e "III" são exatamente os requisitos para configurar um crime habitual.
No crime habitual, pune-se, o "conjunto de condutas habitualmente desenvolvidas e não somente uma delas, que é atípica" (Guilherme de Souza Nucci).
15. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) Os crimes unissubsistentes são os que admitem a sua prática através de dois ou mais atos idênticos.
b) Os crimes plurissubsistentes exigem vários atos, decorrentes de várias ações.
c) Nos crimes unissubsistentes e plurissubsistentes não é admitida a tentativa.
d) Todas estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra d.
Os delitos unissubsistentes são os que admitem a sua prática através de um único ato, enquanto os plurissubsistentes exigem vários atos, componentes de uma ação.
No caso da tentativa, depende do caso, se unissubsistente não admite (ex.: Injúria verbal), porém se plurissubsistente o crime poderá admitir a tentativa (ex.: homicídio).
16. Assinale verdadeiro [v] ou falso [f], conforme corresponde as alternativas.
( ) São delitos de forma livre os que podem ser praticados de qualquer modo pelo agente.
( ) Nos delitos de forma livre não há vínculo com o método utilizado pelo agente, pois não há no tipo penal essa vinculação.
( ) São delitos de forma vinculada aqueles que somente podem ser cometidos através de fórmulas expressamente previstas no tipo penal.
 	 
a) V, F, F.
b) V, V, V.
c) F, F, F.
d) V, F, V.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
A questão versa sobre crimes de forma livre e de forma vinculada, que estão descritos na questão o seu conceito. Basta apenas, agora, os exemplos:
Forma livre - infanticídio, lesão corporal, entre outros.
 Forma vinculada - curandeirismo.
17. "São aqueles que não possuem sujeito passivo determinado, sendo este a coletividade, sem personalidade jurídica".
Guilherme de Souza Nucci descreveu qual crime?
 	 
a) Crimes Vagos.
b) Crimes Passivos.
c) Crimes de empreendimento.
d) Todas estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Ele descreveu os crimes vagos. Vamos aos exemplos:
Art. 209, CP - perturbação de cerimônia funerária, art. 210, CP - violação de sepultura, entre outros.
18. Os crimes remetidos são:
 	 
a) os tipos penais que são enviados de uma comarca a outra para seu julgamento.
b) os que se referem a norma penal de outra nação.
c) os crimes cometidos no estrangeiro que tem eficácia no Brasil.
d) os tipos penais que fazem expressa remissão a outros.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
Exemplos:
Uso de documento falso (art. 304), que remete aos delitos previstos nos arts. 297 a 302 do Código Penal.
19. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) Os crimes condicionados admitem a tentativa.
b) Os crimes de atentado admitem a tentativa.
c) Os crimes condicionados são os que dependem de uma condição qualquer, prevista no tipo ou não, para se configurarem.
d) Todas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Quanto ao crime de atentado - veremos na questão seguinte.
O conceito de crimes condicionados está descrito na alternativa correta. Exemplo desses crimes: delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio depende do advento do suicídio ou, em caso de tentativa de suicídio, da ocorrência de lesões graves para a vítima (art. 122, CP). Não admitem tentativa.
20. Assinale a alternativa correta.
 	 
a) Os crimes de atentado também são chamados de empreendimento. São crimes que prevêem, no tipo penal, a forma tentada equiparada à modalidade consumada.
b) Os crimes de empreendimento são totalmente distintos dos crimes de atentado, sendo o primeiro equiparado com os crimes de mera conduta e o segundo de tentativa.
c) Os crimes de atentado são os crimes que a forma tentada é 1/3 maior que as demais modalidades de tentativa.
d) Todas alternativas estão incorretas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
O conceito está na resposta correta, portanto vamos ao exemplo:
Art. 352 ("Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa.").
(UNIDADE I – PARTE II)
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I
CRIMES CONTRA A VIDA
1. Homicídio (Generalidades)
Espécies
Homicídio Consumado
Homicídio Tentado
Homicídio Doloso
Homicídio Culposo
Homicídio Necessário
Homicídio Piedoso
Homicídio Simples
Homicídio Privilegiado
Homicídio Qualificado
1.2 Meios
1.3 Forma
1.4 Sujeitos
1.5 Condenação
2. Participação em Suicídio
 2.1 Conceito
 2.2 Elemento Subjetivo
3. Infanticídio
 3.1 Conceito
 3.2 Estado Puerperal
4. Aborto
4.1 Espécies
Auto-aborto ou com o consentimento da gestante.
Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante.
Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante.
Aborto qualificado.
Aborto Legal.
4.2 Pontos de Destaque
Aborto Eugenésico
Prova da Gravidez
Concurso de Agentes
1. Homicídio (Generalidades)
	O homem em sua inteireza é o objeto precípuo do Direito. A razão de ser da norma penal é, pois, proteger a pessoa humana de todas as agressões relevantes que possam lhe advir independentemente da nacionalidade, da faixa etária ou condição social apresentada pelos envolvidos na condição de vítimas.
	Seguindo essa trilha, como era natural, o legislador pátrio coloca no ápice da pirâmide os denominados crimes contra a vida, visto que dela (vida)decorrem todos os demais direitos. Tal proteção, inclusive teve um caráter tão integral que, não somente a vida extrauterina (ex: homicídio) foi abarcada mais também a vida intrauterina (ex: aborto).
	Juridicamente, os Crimes dolosos contra a vida são o homicídio simples (art. 121, caput), o homicídio privilegiado (§ 1º), o homicídio qualificado (§ 2º), o induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122), o infanticídio (art. 123), o auto-aborto (art. 124), o aborto provocado sem o consentimento da gestante (art. 125) e o aborto provocado com o consentimento da gestante (CP, art. 126). Destarte, só há um tipo de crime culposo contra a vida: o homicídio culposo simples ou qualificado (CP, art. 121, §§ 3º e 4º). Por outro lado, existe apenas uma forma típica preterdolosa de crime contra a vida. É a do aborto qualificado pela lesão corporal grave ou morte (CP, art. 127). Tais crimes, à exceção do homicídio culposo são julgados pelo Tribunal do Júri Popular.
	Tradicionalmente, o índice de crimes contra a vida, em especial o homicídio, é considerado um “termômetro” do grau de violência encontrado em determinada sociedade, podendo ser visto talvez como o mais grave dos extensos problemas sociais existentes nessa mesma sociedade.
	A realidade atual é preocupante. O aumento sensível da criminalidade contando muitas vezes com a participação de jovens, o tratamento inadequado e desumano dispensado ao menor infrator, abandonado e marginalizado, a difusão dos entorpecentes até nas escolas, o desaparecimento e a subversão dos valores morais, muitas vezes estimulados pelos meios de comunicação de massa, a falta de diálogo entre as gerações e o aumento descontrolado da população, em especial nos grandes centros urbanos, são sem dúvida, preocupantes. Nossos governantes têm enorme responsabilidade para atenuar os sérios problemas que decorrem dessa situação, com destaque para o campo da segurança pública, diretamente relacionada com os crimes contra a vida.
	Como dissemos anteriormente, entre os bens de que a pessoa é titular e que o Direito procura garantir com o rigor da sanção punitiva, ocupa o primeiro lugar a vida, esse fenômeno de essência biológica, mas que participa da existência da sociedade e constitui o fundamento do ser individual-social que é o homem, fazendo da sua proteção um interesse conjunto do indivíduo e do Estado.
	O homicídio é o mais grave dos crimes contra a pessoa; e como atinge a vida, o bem fundamental do homem, é ele o “crime por excelência”, segundo definições. Expressivas as considerações de Nélson Hungria, sobre essa infração penal, nos termos seguintes: “O homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida e é o ponto culminante na ortografia dos crimes. É o crime por excelência. É o padrão da delinquência violenta ou sanguinária, que representa como que uma reversão atávica às eras primeiras, em que a luta pela vida, presumivelmente, se operava com o uso normal dos meios brutais e animalescos. É a mais chocante violação do senso moral médio da humanidade civilizada”. (“Comentários ao Código Penal”, vol. V, pg. 271).
	A conduta que se encerra no tipo legal do homicídio vem contida no preceito primário do art. 121, caput do Código Penal, na proposição seguinte: matar alguém. De maneira assim tão simples e sintética encontra-se descrita infração penal tão grave, porque múltiplas são as formas de conduta de que pode revestir-se o homicídio, e variados os meios admissíveis para a sua prática e realização.
	Praticar o homicídio é realizar uma conduta que consiste “em causar a morte” de alguém. Define-se, desse modo, tão-só o fato típico fundamental. Os demais elementos constitutivos do delito – a antijuridicidade e a culpabilidade -, não devem vir mencionados na definição, porque se pressupõe, sempre, que o crime exista por ter havido morte de alguém ilícita e culpável. Errôneas são, portanto, as definições do crime de homicídio em que se faz referência à injustiça do ato, ou a sua intencionalidade.
	Alguns autores, embora se restrinjam aos elementos do tipo para a conceituação do homicídio, definem a este de maneira um pouco vaga e equívoca, como por exemplo: “o homicídio é a destruição da vida humana”. É que não “basta dizer que o homicídio é a eliminação da vida humana”, porquanto também o é o suicídio, que não é crime, existindo os casos específicos previstos no Código Penal, artigo 122.
	Para Euclides Custódio da Silveira a razão de situar a lei penal e na parte especial os crimes contra a vida em primeiro lugar é simples e intuitiva: é que “a conservação da pessoa humana, condição primordial da personalidade, depende precipuamente da vida. Bem o disse o pranteado mestre italiano, Vicenzo Manzini, que a vida, mais do que um direito, é a condição primeira de todo direito individual, porque sem ela não há personalidade e sem esta não há que cogitar de direito individual” (“Direito Penal” – Crimes contra a Pessoa, ed. 1959, pg. 35).
	A Constituição Federal atual (1988) dispõe em seu artigo 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, “garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida”, dentre outros.
	A proteção da vida abriu margem à formação de várias espécies penais. Aí se inclui desde logo o homicídio, que compõe o núcleo desse grupo de tipos e de que na realidade derivam outras definições penais que, embora se apresentem como autônomas, apenas constituiriam extensões ou particularizações daquela figura penal.
	O art. 121, caput, Código Penal, define o crime de homicídio como sendo “matar alguém”. Essa “definição simplista, mas clara e precisa, é adotada por grande parte das legislações estrangeiras. Podemos afirmar que o homicídio é o delito por excelência e existe desde os tempos mais remotos da civilização. Ainda hoje são encontrados esqueletos da era pré-histórica com visíveis sinais de homicídio” (“Manual de Direito Penal”, César Dario Mariano da Silva, ed. 2000, vol.II/45).
	No sentido penal homicídio exprime a destruição da vida de um ente humano, provocada por ato voluntário (ação ou omissão) de outro homem ou ser humano.
	São, pois, elementares, para a constituição do homicídio doloso, como delito: a) a preexistência de uma vida humana; b) o ato voluntário do agente, causa eficiente da morte ou destruição provocada, seja esta consequente de ação ou omissão; c) a intenção determinada no agente para produzir a destruição, isto é o animus necandi (ânimo de causar a morte).
Espécies de homicídios
	Segue abaixo a relação doutrinária mais aceita quanto às formas de homicídio:
Homicídio consumado: é expressão usada para indicar já ter sido concluído o ato de destruição pretendido pelo agente, ou que os meios por ele empregados realizaram a sua intenção criminosa de matar a pessoa por ele visada. É empregado em oposição ao sentido de homicídio tentado. O homicídio consuma-se quando da atuação do agente resulta a morte de uma pessoa. É aí que se cumprem os extremos do tipo de matar alguém. Mas no caminho do homicídio doloso pode o processo não chegar ao seu fim e o crime parar no grau de tentativa, inexistente em se tratando de homicídio culposo.
Homicídio tentado: é o que não se cumpriu ou que não se consumou em face de atos ou circunstâncias estas alheias à vontade do agente. A conduta típica é matar alguém, ou seja, eliminar a vida de uma pessoa humana. Tratando-se de crime de ação livre, pode o homicídio ser praticado por meio de qualquer meio direto ou indireto, idôneo a extinguir a vida. São meios diretos os utilizados pelo agente ao atingir a vítima de imediato (disparo de arma de fogo, golpe de arma branca, propinação de veneno, etc.). São indiretos os que operam mediatamente através de outra causa provocada por ato inicial do agente: açular um cão ou um louco contra a pessoa que se quer matar; coagir alguém ao suicídio; deixar a vítima em situação de não poder sobreviver (no deserto, na floresta, ao alcance de uma fera, etc.). Na hipótese de homicídio tentado,o agente procedeu aos atos de preparação eventualmente necessários, armando-se, escolhendo hora ou local mais oportuno, assegurando-se, quando preciso, da colaboração de outrem e passou à execução do seu intento de matar. Antes de consumá-lo, porém, uma condição estranha à sua vontade deteve o movimento em marcha e a morte da vítima não se deu. Por exemplo: mune-se do revólver e vai ao encontro do desafeto, dispara a arma, mas não o atinge por erro de pontaria ou intervenção de terceiro, ou o fere, mas não lhe produz a morte. O resultado não aconteceu por circunstâncias alheias à sua vontade, conforme expresso no art. 14, II, Código Penal.
Homicídio doloso: No homicídio doloso a morte é sempre prevista e desejada pelo agente, para o que emprega meios eficientes ou suscetíveis de conseguir o resultado pretendido. Claramente se distingue do culposo, porquanto neste não havia a intenção, nem direta nem indireta e teve como causa fato que devia ser previsto e evitado. Na forma dolosa, e já foi visto, há o querer matar ou o assumir o risco de produzir esse resultado, fórmula em que se exprimem as duas espécies de dolo - o direto e o eventual. Dolo é consciência e vontade do fato e, segundo a veemência com que esses elementos se apresentem, tomará o dolo a sua feição mais grave ou menos grave.Mata com dolo direto quem prevê a morte como conseqüência necessária do seu ato e quer que ela ocorra, ciente de que o seu querer é ilícito. Dispara a arma contra o inimigo, consciente de que vai matá-lo e disposto a fazê-lo. Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir a morte, isto é, admite e aceita o risco de produzi-la. Não quer a morte de outrem, mas a prevê. 
 Nesse sentido, vejamos as palavras do Doutrinador Ney Moura Teles:
“Contém o parágrafo único do art. 18 do Código Penal norma geral segundo a qual, ‘salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente’. A ordem para o legislador é a de construir tipos dolosos e só excepcionalmente, ao lado de alguns, criar também tipos culposos. Assim, os tipos penais são construídos incluindo o dolo como um de seus elementos, sendo desnecessária a menção expressa a esse elemento subjetivo. Não será doloso o tipo quando a norma, expressamente, exigir a culpa, em sentido estrito, como uma de suas elementares. Por isso, o tipo penal do art. 121 do Código Penal deve ser lido assim: matar alguém dolosamente.Desse modo, diz-se homicídio doloso quando há a vontade homicida do agente, manifestada na deliberação de matar ou na intenção indeterminada de matar.Basta a intenção de ter querido o resultado (dolo direto) ou de ter querido assumir o risco de produzi-lo (dolo eventual). É a intenção direta ou indireta, mais ou menos perfeita de praticar o ato, conseguir seu objetivo, ou assumir o risco que dele advier. Dolo é a consciência e vontade de realizar o tipo legal de crime. Tratando-se de crime de resultado, haverá homicídio doloso quando o sujeito ativo realizar uma conduta com consciência e vontade de produzir o evento morte do sujeito passivo – dolo direto ou determinado –, ou quando, consciente de que sua conduta é capaz de produzir a morte, mesmo sem a desejar, o agente não se importar com sua produção, isto é, aceitá-la, se ela acontecer – dolo eventual. Homicídio com dolo direto é aquele em que o agente prevê que, com sua conduta, causará a morte da vítima e a realiza exatamente com a finalidade de que a morte ocorra. Como o dolo é a previsão do resultado (consciência) e a vontade de produzi-lo – um elemento subjetivo, portanto, verificável no interior da psique do agente –, sua demonstração, em algumas situações, não é tarefa das mais fáceis. Homicídio com dolo eventual é aquele em que o agente, prevendo que sua conduta poderá causar a morte da vítima, realiza-a sem a finalidade de matar, mas, se a vítima morrer, esse resultado lhe será absolutamente indiferente. Não quer matar, mas, se matar, “tudo bem”. A demonstração do dolo eventual é ainda muito mais difícil que a do dolo direto. Esse dolo é de mais difícil demonstração, porque, encontrando-se na esfera do pensamento do agente, sua atitude interna é a de não querer a morte, mas nela consentir, aceitando-a, se ela ocorrer. É de difícil verificação, porque muito se aproxima daquela atitude interna de prever a morte, não desejar e confiar, sincera, mas levianamente, que ela não acontecerá, a qual não configura dolo, mas culpa consciente. Veja-se o seguinte exemplo: João, dirigindo seu veículo, vê à sua frente a pedestre Maria. João pensa: “Vou assustar Maria, passando com meu carro bem próximo dela.” É previsível, como é óbvio, que com a conduta que pretende realizar poderá, sem desejar, atropelar Maria. E João faz essa previsão. A seu lado, está José, que o adverte do perigo. Provado está, portanto, que João fez a previsão. Todavia, João pode tomar duas atitudes internas: 1ª Responde para José: “Sei que é possível atingi-la, mas não se preocupe, José, eu não vou atropelá-la. Sou exímio motorista. Não há perigo.” Em seguida, João impulsiona seu veículo e, sem desejar, nem aceitar, acaba por atropelar Maria, causando-lhe a morte. 2ª Responde para José: “Sei que é possível atingi-la, não quero, mas se acontecer, aconteceu. Não me importo.” Em seguida João movimenta seu veículo e acaba por atropelar e matar Maria. Na primeira hipótese, João agiu sem dolo eventual. Na segunda, agiu dolosamente, pois, tendo previsto o que poderia acontecer, aceitou o resultado que, de fato, aconteceu. No exemplo dado, com os desdobramentos possíveis, ficou fácil demonstrar a atitude interna do sujeito, graças à presença de uma testemunha do fato, que poderá relatar exatamente o que se passou na cabeça do agente. Na realidade, todavia, uma testemunha presencial honesta e sincera nem sempre comparece em juízo para facilitar a tarefa do julgador. Analisando o mesmo exemplo, tal qual ocorreu, porém sem a testemunha presencial, a tarefa do julgador será mais difícil. Como poderá o juiz identificar a presença ou a ausência do dolo eventual? Primeira indagação importante: João e Maria eram conhecidos? Eram amigos? Se eram conhecidos, é possível crer na hipótese de que João pretendia, mesmo, aplicar um susto em Maria. Se não eram conhecidos, não se pode, com segurança, crer nisso. Se conhecidos e amigos, não tendo João nenhum motivo para causar algum mal para a vítima, é possível concluir que ele não tenha aceitado, anuído, consentido na morte. Se, porém, eram conhecidos e inimigos, ficará difícil acolher a alegação de não-aceitação do resultado por parte de João. Em qualquer caso, penso, a atitude de João de promover uma brincadeira – divertir-se – com algo tão perigoso impõe sua compreensão como hipótese de desconsideração para com o bem jurídico, afastando, assim, a própria idéia de não aceitação do resultado morte. Analise-se o caso do atirador de facas, do circo, que tem como parceira do espetáculo sua própria mulher. Há anos, apresentam-se em público, sem que jamais tenha ocorrido qualquer acidente. Até que um dia, ao atirar uma das facas, ele atinge e mata sua esposa. Há homicídio doloso ou culposo? Como descobrir a presença ou ausência de dolo? Tarefa difícil, mas não impossível. As investigações podem levar ao conhecimento da informação de que, nos últimos dias, o marido desconfiava de que ela o traía, tendo-a visto nos braços do trapezista, na noite anterior ao fato. Uma testemunha vira-o presenciando o encontro dos amantes, que nada perceberam. Levada essa informação à autoridade policial, esta pode concluir que na verdade o atirador aproveitou-se da situação para simular um acidente, a fim de fugir da acusação de homicídio doloso. Novas investigações levarão à verdade. Se, porém, nada se descobrir acerca da existência de um motivo para a prática do homicídio, a conclusão inexorável haverá de ser a de que o atirador nem quis, nem consentiu na morte da esposa que tanto amava. Nesse caso, não haverá dolo. Ausente o dolo, poderá haverhomicídio culposo ou um indiferente penal. Importante discussão, que nos dias atuais ganha cada vez maior importância, diz respeito aos homicídios praticados no trânsito, especialmente aqueles provocados por condução perigosa por parte de jovens que se dão à prática dos chamados “rachas”. O grande problema é saber: quem provoca morte durante os “rachas” age dolosa ou culposamente? No passado, doutrina e jurisprudência eram quase sempre unânimes em concluir pela ausência de dolo, simplesmente por ter sido praticado o homicídio no trânsito, com o uso de um veículo automotor, o que, à evidência, não correspondia à própria realidade desses infaustos acontecimentos, nem atendia às necessidades de proteção do bem jurídico. É certo que a grande maioria dos homicídios praticados no trânsito é, mesmo, culposa, por terem seus agentes se conduzido com negligência, imprudência ou imperícia, não querendo, nem aceitando, portanto, o resultado morte. Em muitas situações, nem mesmo a previsão é feita pelo condutor do veículo, de modo que aí não se pode falar em culpa consciente, mas culpa inconsciente. Na situação em que o agente participa de um “racha”, todavia, a situação é bem outra. Não se trata de mera inobservância do dever de cuidado objetivo, que ocorre quando condutores de veículos desrespeitam o limite de velocidade, realizando manobras imprudentes ou comportando-se com imperícia ou negligência. No “racha”, as pessoas organizam-se para uma competição sem qualquer outra motivação como ocorre no tráfego de veículos nas cidades. Querem simplesmente extravasar certos sentimentos de frustração pessoal. O objetivo é se exibirem, e nada mais. Ora, essa atitude interna é, por si só, reveladora da profunda desconsideração dos praticantes de “rachas” para com os bens jurídicos que se colocam a sua frente: vidas humanas, integridades corporais e mesmo bens materiais. O simples fato de se dedicarem a esse pretenso “esporte” em via pública já é suficiente para demonstrar que não estão preocupados com a possibilidade de agredirem algum bem jurídico. Não o valorizam, não se preocupam com sua provável lesão. Não se importam com sua preservação. Move-lhes apenas a busca do prazer individual, ainda que, para alcançá-lo, outros sejam prejudicados. Daí que não se pode concluir que aqueles que praticam tais condutas estejam imbuídos daquela atitude interna de não-aceitação, sincera porém leviana, da possibilidade da causação do resultado lesivo indesejado. Deve-se, ao contrário, concluir no sentido de que, tendo-se conduzido com indiferença para com os bens jurídicos em sua volta, que podem ser atingidos pelos movimentos que produzem com seus veículos, estão, com esse comportamento, aceitando a possibilidade concreta de lesioná-los, daí que sua conduta é dolosa, com dolo eventual. 
	
		Nesse sentido, vem posicionando-se o Superior Tribunal de Justiça: “Não se pode generalizar a exclusão do dolo eventual em delitos praticados no trânsito. Na hipótese de ‘racha’, em se tratando de pronúncia, a desclassificação da modalidade dolosa de homicídio para a culposa deve ser calcada em prova por demais sólida. No iudicium accusationis, inclusive, a eventual dúvida não favorece os acusados, incidindo, aí, a regra exposta na velha parêmia in dubio pro societate. O dolo eventual, na prática, não é extraído da mente do autor mas, isto sim, das circunstâncias. Nele, não se exige que resultado seja aceito como tal, o que seria adequado ao dolo direto, mas isto sim, que a aceitação se mostre no plano do possível, provável. O tráfego é atividade própria de risco permitido. O ‘racha’, no entanto, é – em princípio – anomalia extrema que escapa dos limites próprios da atividade regulamentada.” Como já se disse, embora o dolo – direto ou eventual – esteja na cabeça do agente, cabe ao juiz, analisando as circunstâncias que envolvem o fato, emitir seu juízo valorativo acerca da atitude interna do sujeito ativo do crime. Não basta que este afirme não ter desejado nem aceitado o resultado, é preciso que o juiz disso se convença, com base na análise profunda de todas as circunstâncias fáticas. Evidente que ao julgador caberá emitir sua conclusão acerca dos fatos, e sua decisão será passível de reexame pela instância superior, afastando, assim, o perigo de julgamento injusto. O que não se pode aceitar é que, pelo simples fato de ter sido a morte causada no trânsito, chegue-se à generalização de que é culposa.
Homicídio culposo: designação dada ao homicídio que resulta de ato negligente, imprudente ou imperito do agente, embora não tenha tido a intenção criminosa (animus necandi). É, assim, o homicídio resultante de uma falta cometida pelo agente. Não havia a intenção de matar, mas o ato que não foi previsto, quando o devia, veio dar causa ao resultado. A culpa se revela na falta de previdência e ausência de precaução, não admitidas para o caso em espécie. Vale ressaltar que, o homicídio em comento possui também uma forma típica descrita em norma penal permissiva. O §5º do art. 121 do CP prevê o perdão judicial: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar à pena se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”. Na forma culposa a morte da vítima não é visada. É a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz um resultado antijurídico não querido, mas previsível, ou excepcionalmente previsto, de tal modo que podia, com a devida atenção, ser evitado.
Homicídio Culposo no trânsito: Com a edição da Lei nº 12.791/2014 houveram algumas mudanças quanto ao art.302 do Código de Transito.Após esta lei,o homicídio culposo na direção de veículo automotor, ganhou uma versão qualificada no § 2º com pena de 02 a 04 anos de reclusão se o condutor nas seguintes hipóteses: 
Estava com capacidade psicomotora alterada em razão de álcool ou droga.
Participava, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística, ou exibição, demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente.
	Aqui surge o primeiro problema: Criar um homicídio culposo no trânsito qualificado pela embriaguez elimina o conflito doutrinário e jurisprudencial sobre o concurso material de crimes. Depois da alteração promovida pela lei 11.705/08, a embriaguez que era causa de aumento de pena do homicídio, ficou como crime autônomo e gerou a polêmica da responsabilidade cumulativa nos dois tipos.
	Com esta nova redação, o crime de conduzir veículo com capacidade psicomotora alterada fica absorvido pelo mais grave, a morte. Isso é bom pra quem dirige bêbado.
	O segundo problema: a pena do 302 caput também é de 02 a 04 anos, mas na modalidade detenção. Pela lógica existente até hoje, o crime é qualificado quando possui circunstância que o torna mais grave que a modalidade simples, por isso, deve apresentar um preceito secundário (pena) mais grave. Será que o legislador criou um homicídio culposo qualificado mais grave que o simples? O fato é bem mais grave, mas a pena não.
	Da detenção para a reclusão, o que muda é apenas o regime inicial de cumprimento de pena, lá começa no semi-aberto, aqui no fechado. Mas é processualmente difícil chegarmos a esse momento. O art. 44 do código penal autoriza a substituição de pena para esses crimes, a não ser que o réu não preencha os requisitos autorizadores, o que também é muito raro nesses casos.
	Salvo melhor juízo, esse é o primeiro caso que o legislador cria um crime qualificado com a mesma pena do simples. Isso é bom pra quem dirige bêbado.
	No art. 308, a lei também sofreu alterações. A pena máxima para a conduta de “Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:” foi aumentada de 2 para 3 anos, deixando de ser um crime de menor potencial ofensivo (9.0999/95).
	Se resultar lesão grave, a pena passa para reclusão de 3a 6 anos. (Importante lembrar que todos esses crimes trazem com pena secundária a suspensão ou proibição de obter CNH.)
	Quando passamos para a modalidade qualificada do Art. 308, surge o terceiro problema da lei, o legislador repete as elementares do crime de homicídio culposo qualificado, mas atribui uma pena bem maior, senão vejamos:
Art. 302 Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
§ 2º Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente:
Penas – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”
“Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada:
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo.”
	O mesmo crime, um com pena de 2 a 4 anos e o outro com pena de 5 a 10. Será que estamos diante do reconhecimento legal da seletividade do direito penal, que aplicará uma ou outra pena, dependendo de quem seja o criminoso, ou de quem ele seja filho?
	Essa nova lei também acalma os ânimos de quem defendia o dolo eventual presumido e automático nos homicídios cometidos em racha ou sob efeito de álcool. A nova redação reforça que se a circunstâncias demonstrarem que o autor não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo, o crime será culposo. Lógico. Atualmente os acidentes culposos na direção de veículos automotores que provoquem morte estão previstos no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro, que exasperou sensivelmente as penas, dobrando a mínima que era de 1 para 2 anos de detenção, além de outras conseqüências.Muitos criticam essa disposição legal do CTB (Lei nº. 9.503/97) por punir muito mais rigorosamente quem mata quando está na direção de automóvel, por exemplo, e de forma culposa, do que aquele que mata com arma de fogo, sem agir dolosamente. Também a título de exemplo: a arma dispara acidentalmente e mata quem estava próximo. No caso do automóvel a pena mínima é a de 2 anos de detenção. No exemplo da arma tal pena é a de 1 ano de detenção.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O Perdão Judicial é uma causa extintiva de punibilidade. Há divergência quanto à natureza jurídica da sentença que o determina. Para o STF tal sentença é condenatória. Já para o STJ apresenta natureza declaratória. É previsto genericamente no artigo 107 IX do Código Penal (extingue-se a punibilidade: (...)IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei) e de forma específica nos artigos 121, § 5º (homicídio culposo) e 129, §8º (lesão corporal culposa) do mesmo dispositivo, o perdão judicial é aplicável em várias hipóteses, não se limitando apenas ao homicídio culposo e à lesão corporal culposa. O perdão judicial nos casos de homicídio culposo (121, §5º, CP) consiste em causa extintiva de punibilidade, sendo utilizado nas hipóteses em que “as conseqüências da infração atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”. 
Homicídio necessário: é o que se praticou acobertado pelas justificativas legais (legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal). Nesses termos, mata em legítima defesa aquele que o faz para defender contra injusta agressão atual ou iminente um bem jurídico próprio ou alheio, empregando com moderação os meios necessários. Está expresso no art. 25 do Código Penal. São estes, portanto, os extremos da legítima defesa: agressão injusta atual ou iminente a um bem jurídico próprio ou de outrem, defesa do bem agredido pelos meios necessários, usados com moderação. É causa de exclusão da antijuricidade. A ordem jurídica visa à proteção dos bens juridicamente tutelados, não só punindo a agressão, mas também objetivando a preveni-la. Quem se defende, embora empregando violência, desde que dentro dos parâmetros definidos pelo próprio Código Penal, atua dentro da ordem jurídica, tratando-se de comportamento legítimo e não criminoso. A agressão é atual quando contemporânea de repulsa. É agressão presente, aquela que no momento se realiza como ensina Costa e Silva. E Nélson Hungria a denomina de agressão em “sua fase militantemente ofensiva”, para distinguir da agressão iminente que é aquela na fase “de imediata predisposição objetiva”. Para que a agressão e repulsa sejam contemporâneas, havendo assim agressão atual, é preciso que esta tenha sido iniciada. Todavia, o tempo da agressão começa o perigo iminente. Daí falar o estatuto penal em repelir “agressão atual ou iminente”. Por outro lado, o nosso Código reconhece o estado de necessidade que exclui o crime e o estado de necessidade que exclui a culpabilidade. A primeira situação é a daquele que pratica um mal para preservar direito seu ou alheio de perigo certo e atual que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, pela sua natureza e importância é consideravelmente inferior no mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo. No segundo, a daquele que, para proteger direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo ou atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa (art. 24 do Código Penal).O estado de necessidade tem como base uma situação de perigo para determinado bem jurídico, que somente pode salvar-se mediante a violação de outro bem jurídico. É o caso do alpinista que impede o companheiro e o atira ao precipício para evitar que se rompa a corda que os sustenta e que ameaça de partir-se sob o peso excessivo de dois corpos.Não há crime também quando o agente pratica o fato no estrito cumprimento de dever legal, como inserido no art. 23, III, Código Penal. Embora típica a conduta não é ilícita. Exemplos: fuzilamento do condenado pelo carrasco; morte do inimigo no campo de batalha; morte de alguém que mantém outrem refém com ameaças (revólver), para salvar a vítima. A excludente só ocorre quando há um dever imposto pelo direito objetivo, sendo certo que as obrigações de natureza social, moral ou religiosa, não determinadas por lei, não se incluem na justificativa. É necessário que o sujeito pratique o fato no estrito cumprimento de seu dever, pois fora daí a conduta torna-se ilícita e é punida. Por fim, não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de um direito, sendo necessário que o agente obedeça rigorosamente aos requisitos objetivos traçados pelo Poder Público. Fora daí haverá abuso de direito, respondendo o agente por esse abuso. Exemplos clássicos são as intervenções médicas e cirúrgicas. Na prática de esportes, como por exemplo, o futebol, o boxe e a luta livre, podem ocorrer resultados danosos. Mas desde que haja obediência irrestrita às regras que definem cada um desses esportes os seus autores não responderão por crime se provocarem resultados sérios, como ferimentos e mesmo a morte, desde que ocorridos acidentalmente, tratando-se de conduta lícita. Ao contrário, se o participante não se conserva dentro das regras do jogo, abusando, responderá pelo resultado lesivo, a título de dolo ou de culpa.
Homicídio piedoso: é o que se pratica por piedade ou misericórdia, seja a pedido da vítima, que deseja morrer, ou para evitar os sofrimentosou agonia, conseqüência de moléstia incurável. Tecnicamente é dito de eutanásia que se define morte dulcificada, desejada, provocada tão depressa, quanto se haja perdido toda esperança científica, morte originada pelo morto. O homicídio eutanásico ou homicídio piedoso não é autorizado entre nós.
Homicídio simples: denominação dada pelo Código Penal em distinção ao homicídio qualificado. É, assim o homicídio, que não se encontra configurada especialmente na lei penal, que o estabelece modificando-o de seu aspecto comum ou ordinário. Homicídio simples, pois, é ato voluntário, pelo qual se destrói a vida de um ente humano, sem qualquer agravação ou qualificação que venha alterar a natureza comum ou ordinária do crime.
		Ney Moura Teles assim se manifesta a respeito:
“No caput do art. 121 está o tipo fundamental do homicídio, denominado homicídio simples. O homicídio é um crime comum, material, simples, de dano, instantâneo de efeitos permanentes e de forma livre. Diz-se que é um crime comum, porque pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo, ademais, qualquer qualidade diferenciada do sujeito passivo. É crime material, porque há no tipo a descrição de uma conduta, com a exigência, para sua consumação, de que o resultado morte seja produzido pela conduta do agente. Simples, porque atinge um único bem jurídico, a vida humana extra-uterina, e de dano, pois destrói o bem jurídico protegido. É instantâneo de efeitos permanentes, porque consuma-se no momento da morte da vítima e suas conseqüências perduram por todo o tempo. É um crime que pode ser praticado pelas mais diversas formas de execução, por ação stricto sensu ou por omissão, daí que se diz ser um crime de forma livre. O homicídio por ação, ou comissivo, é aquele praticado através de uma conduta positiva do agente, que realiza um movimento corporal final, como disparar uma arma de fogo, desferir um golpe de faca, arremessar uma pedra ou uma barra de ferro, empurrar a vítima no precipício, ministrar-lhe veneno, constringir seu pescoço, impedindo a respiração. A ação pode ser física, como nos exemplos dados, mas também pode ser moral, como a de assustar uma pessoa cardíaca ou fragilizada física ou mentalmente, visando a que ela morra. O homicídio por omissão, chamado omissivo comissivo ou comissivo por omissão, é o praticado apenas pelos chamados garantes, aqueles que têm o dever de agir para impedir o resultado e que, omitindo-se, permitem, com isso, a morte da vítima (art. 13, § 2º, CP). Assim a mãe que deixa de amamentar o filho para que ele morra e o salva-vidas que permanece inerte diante do afogamento, desejando que o afogado venha a óbito. Conquanto a lei tenha construído outros tipos derivados do homicídio simples – os privilegiados no § 1º e os qualificados no § 2º do mesmo artigo –, haverá homicídio simples quando não for nem privilegiado, nem qualificado. Em outras palavras, para saber se há homicídio simples, deve-se raciocinar por exclusão. Somente será homicídio simples, se não tiver sido nem privilegiado, nem qualificado-
Homicídio privilegiado - O tipo privilegiado do homicídio se encontra definido no §1º: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”.
		Vejamos a manifestação do insigne douto Ney Moura Teles a respeito do homicídio privilegiado:
“Se é verdade que a destruição da vida humana por ação dolosa de outra pessoa constitui um dos crimes mais graves de nosso ordenamento jurídico, é preciso verificar que o desvalor da conduta pode ser diferente em cada situação. Se no homicídio o resultado é sempre o mesmo – a morte da vítima –, a conduta do agente nem sempre pode ser qualificada igualmente, pois se entremostra, muitas vezes, diferenciada uma de outras. Por essa razão, ao lado do homicídio simples, a lei fez derivar, no § 1º do art. 121 do Código Penal, algumas espécies de homicídio que, por circunstâncias especiais em que é praticado, são merecedores de reprovação menor do que a conferida ao homicídio simples. “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima”, a pena deverá ser reduzida de um sexto a um terço. Há decisões jurisprudenciais e opiniões doutrinárias respeitáveis no sentido de que a redução da pena é mera faculdade do juiz. Sustentam essa tese a forma literal “poderá” contida no § 1º do art. 121 do Código Penal. Penso que a diminuição da pena não é uma faculdade do juiz, mas um direito subjetivo do acusado que tiver a seu favor reconhecida uma circunstância privilegiadora, pelo Tribunal do Júri – que é o órgão competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. No inciso XXXVIII do art. 5º da Carta Magna está consagrada a “soberania dos veredictos do júri”, isto é, de todas as suas decisões, as quais, por essa razão, não são meras indicações ou recomendações para o juiz, mas determinações que devem ser, necessariamente, atendidas. Seria um contra-senso o júri afirmar o privilégio e o juiz não ficar vinculado a essa decisão, o que, a meu ver, constitui agressão à soberania do tribunal popular, assegurada constitucionalmente. DAMÁSIO DE JESUS ensina: “Reconhecido o privilégio pelos jurados, não fica ao arbítrio do julgador diminuir ou não a pena. A faculdade diz respeito ao quantum da redução... ‘A dúvida foi espancada com a nova redação do art. 492, inciso I, alínea “c”, do Código de Processo Penal, dada pela Lei nº 11.689, de 2008, que obriga o juiz, no caso de condenação, a prolatar sentença na qual imporá as diminuições da pena admitidas pelo júri. Há homicídio privilegiado pelas seguintes circunstâncias: (a) por motivo de relevante valor social; (b) por motivo de relevante valor moral; e (c) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (art. 121, § 1º do Código Penal). As duas primeiras figuras dizem respeito à motivação do agente, a última, a seu estado psíquico emocional provocado por atitude da vítima”.
- Homicídio por motivo de relevante valor social é aquele em que o agente age impulsionado por uma razão de grande importância social. Por valor social deve-se entender o que diz respeito aos objetivos da coletividade, a ser aferido segundo critérios objetivos e de acordo com a consciência ético-social geral. Além disso, o valor social que motiva a ação deve ser relevante, vale dizer, de grande importância, digno da maior consideração por parte de todos. Nos dias de hoje, em que a criminalidade violenta e organizada, especialmente o tráfico ilícito de entorpecentes, subjuga amplos setores sociais, mormente bairros e favelas, pode-se reconhecer o privilégio na conduta daquele que, com a exclusiva intenção de combater a criminalidade, mata o chefe da quadrilha que domina sua região. Move-o a busca da paz e da tranqüilidade social, que são a toda evidência, de enorme relevância social.
- Homicídio por motivo de relevante valor moral é aquele que cuida de uma motivação por valor de natureza moral. Tais valores são particulares, individuais, do próprio agente e devem, igualmente, ser de grande importância. Não contempla, portanto, qualquer valor individual, mas aquele que é considerado, ética e objetivamente, de grau elevado pela consciência social. Seria, por exemplo, o caso do pai que mata o autor do estupro contra sua filha menor. Já se entendeu também que o marido traído que mata a mulher adúltera comete o crime por motivo de relevante valor moral; todavia, melhor é compreendê-lo, em algumas situações, como homicídio privilegiado por violenta emoção. A eutanásia também é considerada pela doutrina dominante um homicídio privilegiado por motivo de relevante valor moral. Segundo Nelson Hungria, homicídio eutanásico é aquele praticado para abreviar piedosamente o irremediável sofrimento da vítima, e a pedido ou com o assentimento desta. O sofrimento irremediávelda vítima, portanto, constitui o valor moral de relevância que, impelindo o agente, torna-o menos severamente punível. 
- Homicídio emocional é o homicídio sob o domínio de violenta emoção quando o agente, diante de uma injusta provocação da vítima, se vê dominado por tamanha emoção e reage imediatamente. São três, pois, os requisitos para sua caracterização: a injusta provocação da vítima, a emoção violenta que domina o agente e sua reação imediata. Injusta provocação é o comportamento da vítima capaz de, por sua natureza e, principalmente, injustiça, desencadear um processo emotivo de grande intensidade no agente. Pode ser uma ação ou omissão que a vítima realiza em relação ao próprio agente ou a terceira pessoa. Não se confunde a provocação com a agressão, que, se existente, pode ensejar uma situação de legítima defesa. A provocação é um comportamento menos grave que a agressão, e com esta não se confunde. É uma atitude de desvalor para com um bem jurídico.
	Quanto à violência da emoção vejamos abaixo a pertinente manifestação doutrinária de Ney Moura Teles:
“A norma exige que a emoção seja violenta, isto é, de tal intensidade que haja muito mais do que uma simples alteração do equilíbrio psicológico. É a verdadeira ira ou a cólera que domina o sujeito, transformando-o por completo num ser descontrolado capaz de realizar comportamentos agressivos que não realizaria no estado normal. A reação deve ser pronta e rápida, imediatamente após a provocação, pois do contrário não se poderia atribuí-la ao estado emocional. Passado algum tempo após a provocação, o estado psíquico alterado do agente já não será o mesmo, o furor já terá arrefecido e sua reação só poderá ser atribuída ao desejo de vingança ou ao ódio que em si se instalara sentimento esse que o Direito não poderia, mesmo, premiar. Se não reagiu no instante seguinte à provocação, em que a intensidade da emoção que lhe arrebatou era maior, é porque ela não lhe alterou sobremaneira a capacidade de controlar-se, logo, não pode invocar o privilégio, que não se compatibiliza com a reação tardia. O chamado homicídio passional – daquele que mata por ciúmes, pela traição ou por simples suspeita, ou pelo flagrante de adultério ou, ainda, pela perda da pessoa amada que o abandonou – tem sido objeto de muitas discussões e decisões as mais diversas. É preciso distinguir a situação do agente que encontra o cônjuge em flagrante de adultério, das demais hipóteses. Não há dúvida de que a traição é um comportamento equivalente a uma provocação injusta. Afinal, a fidelidade e o respeito mútuos são deveres jurídicos, ainda quando não haja casamento mas só união estável. A visão dos amantes trocando carícias amorosas é, sem dúvidas, um fator de determinação da instalação, na mente do traído, de violenta emoção, aquela que pode desencadear a reação imediata. Tomado de cólera, irado diante da certeza absoluta da traição, a reação imediata com a morte de um ou de ambos ajusta-se perfeitamente à terceira figura privilegiadora do § 1º do art. 121.Já os homicidas passionais que matam por ciúmes, por suspeitas de traição ou porque foram abandonados, não estão acobertados pela norma. Não tendo havido qualquer provocação injusta, não há falar-se naquela violenta emoção, que deve ser causada pela ação da vítima. Ainda quando o agente esteja efetivamente perturbado ou mesmo sob o domínio de violenta emoção, é de ver que, nesses casos, a causa da alteração psíquica não pode ser atribuída a qualquer comportamento da vítima, mas tão-somente a suas próprias conjecturas, a sua própria criação mental. Dir-se-á que tais atitudes internas são decorrentes do sentimento de amor que o agente nutre pela outra pessoa e que a sensação de perda, ou o ciúme, ou, ainda, a suspeita de traição são capazes de produzir as alterações psicológicas que desencadeiam o processo emotivo violento. Perderiam aí, esses passionais, a plena capacidade de determinação e, por isso, mereceriam menor reprovação penal. Não é assim. Se é certo que o ciúme pode até ser considerado produto do sentimento de amor, não menos certo que ele seja principalmente fruto do sentimento de posse ou domínio sobre pessoa, o que, se não pode ser considerado fútil, também não pode ser entendido como motivo nobre. Daí que a perda da pessoa amada ou a suspeita sobre sua fidelidade não se ajustam à norma que beneficia o homicida. Sem que exista uma atuação concreta da vítima, que provoque a reação do agente, o privilégio seria, na prática, um incentivo às construções mentais destrutivas que podem acometer, momentaneamente, certos indivíduos”.
Homicídio qualificado: designação dada à figura delituosa do homicídio já enumerada pela lei penal com os elementos qualificativos, que o modificam em relação ao que se diz simples. É sempre mais rigorosamente punido. A qualificação do homicídio, assim, apresenta o crime agravado ou de maior gravidade, em vista da intensidade do dolo, nele anotada, da natureza dos meios postos em ação para executá-lo, do modo de ação ou desejo de fugir à punição. Revela, assim, o grau de perversidade do agente ou a visível maldade de sua prática. As figuras típicas qualificadas estão descritas no §2º: “Se o homicídio é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; ou para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de 12 a 30 anos”.
	Em outros termos, o homicídio qualificado é aquele em cuja prática demonstram-se patentes determinados meios que evidenciam atitudes e sentimentos reprováveis; ademais, caracterizam-se como qualificados aqueles que visam a fins nos quais também se nota carga de desaprovação.
	Quanto a essa modalidade de homicídio, dispõe-se que: considera-se qualificado o homicídio impulsionado por certos motivos, se praticados com o recurso a determinados meios que denotem crueldade, insídia ou perigo comum ou de forma a dificultar ou tornar impossível à defesa da vítima; ou, por fim, se perpetrado com o escopo de atingir fins especialmente reprováveis (execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime) (PRADO, 2002, p. 52).
	As qualificadoras podem ser de cunho subjetivo e objetivo. As de cunho subjetivo são motivo torpe e fútil. As de cunho objetivo se referem aos modos e meios de execução. São elas: meios insidiosos, cruéis e catastróficos (que causem perigo comum) e as praticadas pelos modos de dissimulação, traição e a tocaia.
	Vejamos em espécie as qualificadoras subjetivas:
Motivo Torpe ou Equiparado:
 O Estatuto Repressor Penal Brasileiro esculpiu que o homicídio assumirá uma forma qualificada caso for cometido “I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”. É primordial analisar, minuciosamente, todas as situações previstas pela redação do dispositivo acima, a fim de se compreender de maneira mais clara as bases que sustentam o chamado homicídio mercenário.
 1.1.1.1. Paga ou Promessa de Recompensa
	A nomeada “paga” ocorre nas hipóteses em que o autor do crime recebe algum valor em pecúnia (cunho material) ou similar para cometer o crime, há uma evidente interpretação analógica que equipara tal ato ao motivo torpe. Já a “promessa de recompensa” se funda na concepção que é prometido algo para o homicida praticar a conduta. Ainda neste passo, é salutar destacar que, a rigor, o pagamento tem aspecto material (vantagem econômica), todavia, a doutrina também admite pagamentos morais e/ou favores sexuais como espécies do gênero pagamento. Mirabete (2004, pág. 70) ensina ainda que a promessa em questão possa consistir também em perdão de uma dívida existente ou mesmo uma promoção no emprego.
	É necessário destacar que, mesmo que o mandante não cumpra a promessa e não entregue a recompensaprometida, haverá a qualificadora para ambos os envolvidos, já que, nesse caso, a razão de o executor ter matado a vítima foi a promessa, ainda que não cumprida pelo mandante.
1.1. 1.2. Motivo Torpe
	O “motivo torpe”, por excelência, é aquele que causa repugnância aos olhos da sociedade, “motivo abjeto, repugnante, ignóbil, desprezível, vil, profundamente imoral, que se acha mais abaixo na escala dos desvalores éticos e denota maior depravação espiritual do agente” (MIRABETE, 2004, pág. 70). Atenta contra a concepção do mínimo aceitável pela sociedade. A doutrina traz à baila uma gama considerável de exemplos que se enquadram dentro da torpeza assinalada, tais como: o réu que assassina sua namorada por descobrir que já não era mais virgem ou ainda aqueles que crimes cometidos por motivo de herança, rivalidade profissional ou tão apenas para satisfazer desejos meramente de cunho sexual.
	Segundo Gonçalves (2008, pág. 141), a torpeza também está atrelada a motivos de egoísmo e maldade. Contudo, a vingança só pode ser considerada como tal se for decorrente do binômio retro, ou seja, é necessário que seja um desdobramento para que assuma tal feição. Corroborando o apresentado, Mirabete (2004, pág. 70) oferta que a vingança para qualificar o homicídio, tal como um motivo equiparado ao torpe, é indispensável que seja ignominiosa, repulsiva a qualquer sentido ético. Distintamente o ciúme não tem sem sido considerado pelos Tribunais como motivo torpe.
	Como se observa o motivo torpe é repugnante, vil. Ela ofende gravemente a moralidade do homem médio. Ademais, esse crime configura hipótese de concurso necessário, já que depende do envolvimento de no mínimo duas pessoas: mandante e executor.
1.1.2. Motivo Fútil:
 Outro elemento considerado como responsável por qualificar o homicídio funda-se na premissa do crime ser perpetrado por um motivo fútil (“§ 2º - Se o homicídio é cometido: II - por motivo fútil”). Na esfera jurídica, este ensejo é considerado a partir de uma desproporcionalidade maciça entre o motivo causador e a perpetração do crime. Mirabete (2004, pág. 70) aduz que “fútil é o motivo sem importância, frívolo, leviano, a ninharia que leva o agente à prática desse grave crime, na inteira desproporção entre o motivo e a extrema reação homicida”. Ainda neste sentido, é salutar diferenciar o denominado motivo fútil do motivo injusto, pois, por vezes, uma situação que aparentemente tenha a aparência frívola, é relativamente suficiente para liberar a qualificadora do crime, como é o caso do ciúme.
 Os Tribunais Pátrios, reiteradamente, têm concebido o tema em tela nas discussões banais e habituais entre cônjuges, no término do namoro ou ainda em discussões familiares. Entretanto, o crime precedido por discussões acaloradas não pode ser qualificado.
	A luz do exposto, o exemplo mais valorado por grande parte dos doutrinadores, narra que se vislumbra a existência do motivo fútil quando em um restaurante, o cliente mata o garçom por ter encontrado uma mosca no prato de sopa que estava consumindo. Vale também dizer que se tem entendido que a embriaguez exclui o reconhecimento do motivo fútil, dada as consequências que acarreta no psiquismo.
	Ver-se que é desproporcionado ou inadequado em relação ao crime, do ponto de vista do homem médio. A simples falta de razão para o crime não é motivo fútil. A injustiça também não configura motivo fútil. Diz-se que há motivo fútil quando há motivação frívola, ridícula nas suas proporções como, por exemplo, o fato de ter rido do acusado ao vê-lo levar um tombo; ou o autor matar a vítima pelo fim do namoro; ou o autor que matou a vítima, pois ela se recusou a ir com ele ao cinema.
	Passemos a analisar em espécie as qualificadoras objetivas previstas nos incisos III e IV, art. 121, § 2º do CP:
1.1.3. Meios de execução
 O inciso III discorre acerca dos exequíveis meios que podem ser empregados para se perpetrar a conduta criminosa e, assim, alcançar o resultado ambicionado. Para tanto é primordial trazer à tona a redação do dispositivo em questão e que aduz: “§ 2º - Se o homicídio é cometido: III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum” (DJI/2009).
	Isto posto, é imprescindível tecer maiores considerações acerca do tema para se compreender sua essência e a importância conferida aos meios como qualificadoras de uma conduta criminosa. Ainda neste prisma, o mestre Mirabete (2004, pág. 71) afirma que a conduta do agente demonstra maior periculosidade, inviabiliza a defesa do ofendido ou ainda impõe uma situação de risco a toda a coletividade, sendo totalmente compreensível à carga valorativa atribuída pelo legislador ao estruturar o Diploma Repressor Criminal.
	► Veneno
	A primeira figura elencada pela redação do inciso III é o veneno. Em conformidade com a visão doutrinária em vigor, concebe-se tal substância como aquela que uma vez introduzida no organismo, possui a capacidade de destruir a vida ou lesar a saúde. Ademais, é viável ainda defini-lo como “veneno consiste em qualquer tipo de substância tóxica, seja ela sólida, líquida ou gasosa, que possa produzir qualquer tipo de enfermidade, lesão, ou alterar as funções do organismo ao entrar em contato com um ser vivo, por reação química com as moléculas do organismo” (Wikipédia/2009). Pode ser de origem mineral (arsênico, mercúrio, cianureto), vegetal (cicuta) ou animal (peçonha de serpente), na forma sólida, líquida ou gasosa.
	O célebre doutrinador Hungria, ao ser citado por Mirabete, salienta ainda que “incluem-se como veneno as substâncias inócuas que podem, por circunstâncias especiais, causar a morte da vítima: o açúcar ao diabético, o ‘sal de cozinha propinado a quem haja ingerido calomeno (subcloreto de mercúrio)’...” (MIRABETE, 2004, pág. 71).
	Cuida também sustar que é necessário que seja ministrado de maneira sorrateira, sub-reptícia ou ainda iludindo a vítima. Segundo ensina Costa e Silva, pode ser administrado por via bucal, nasal, retal, hipodérmica, intravenosa, etc. No entanto, se a substância for empregada de forma violenta, configurará a qualificadora de emprego de meio cruel.
	►Fogo 
	O Diploma Criminal apresenta também o fogo como elemento que qualifica o crime de homicídio, pois é um meio cruel e, fortuitamente, é causador de perigo comum, qual seja o incêndio. Urge destacar que não carece de atingir mais de uma pessoa, basta tão-só à mera probabilidade para que o crime de perigo esteja configurado.
	►Explosivo:
 Houaiss (2004, pág. 326) apregoa a concepção de explosivo como toda e qualquer “substância capaz de explodir ou de produzir explosão”. Nesse mesmo passo, Sarau, ao ser citado por Mirabete (2004, pág. 72), afirma que “é qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente em gás à temperatura elevada”. Assim, ao ser provocada uma detonação ela atingirá não somente a vítima, mas sim, todos os que a rodeiam. Comumente, emprega-se esse meio em crimes de cunho político ou em atos tipicamente terroristas.
 ►Asfixia
 O inciso III enumera ainda a utilização da asfixia como um meio que qualifica a conduta criminosa. Desta feita, considera-se tal conduta como responsável por impedir a função respiratória do ofendido e, assim, culminando em sua morte. As linhas doutrinárias, tanto na esfera jurídica como nos meandro da medicina legal, afirmam que pode ocorrer de distintas maneiras.
	A doutrina apresenta uma gama de espécies que causam a morte por asfixia mecânica, tais como: a esganadura (constrição do pescoço pelas próprias mãos, impossibilitando a passagem do ar), o estrangulamento (emprego de determinados materiais que, em conjunto com a força muscular, inviabilizam a respiração), a sufocação (utilização de específicos objetos, como travesseiros e mordaças, para obstruir o fluxo de ar), o soterramento (imersão em meio sólido, como é o caso de entulhos), o afogamento (imersão em meio líquido, a exemplo da água), o enforcamento(obstrução da passagem de oxigênio devido o próprio peso da vítima) ou o confinamento (colocação da vítima em local que impossibilite a circulação de ar). No que concerne à asfixia tóxica, ocorre, precipuamente, por gases tóxicos.
	►Tortura
 Em linhas doutrinárias, concebe-se a ocorrência da tortura como infligir mal desnecessário para causar a vítima dor, angustia ou majorar um sofrimento já existente ou na iminência de existir. Consoante Gama (2006, pág. 369) expõe, a tortura é o “sofrimento ou tormento infligido a alguém”. Fragoso (2009), ao citar Roberto Lyra, exalta, em suas considerações, que: “não se considera, para contemplar a tortura, o mal do crime o número de golpes ou ferimentos – o que mais indicaria automotismo – mas o sofrimento moral ou físico com requinte de arte acelerada”.
	A conduta em apreço tem duas distintas faces, uma física e outra moral. A primeira está intimamente atrelada a causar ao corpo da vítima mutilações ou qualquer outro meio capaz de aumentar a dor. Já a segunda encontra assento nas formas utilizadas para despertar no psiquismo da vítima maior sofrimento, como é o caso de se aproveitar de uma situação complexa para despertar o sentimento de medo ou ainda de terror na vítima.
Em relação à qualificadora da morte, há que se fazer uma distinção com o crime de homicídio qualificado pela tortura, previsto no art. 121, §2°, III, do Código Penal, cuja pena é de reclusão, de doze a trinta anos, ou seja, superior à da Lei de Tortura. 
No crime de homicídio, o agente quer a morte da vítima ou assume o risco de produzi-la; vale dizer, existe dolo em relação ao resultado morte e o meio escolhido para concretizar seu intento é a tortura. Essa, portanto, é a causa direta e eficiente da morte visada pelo agente. 
Já no crime de tortura da lei especial, o sofrimento que o agente impõe à vítima deve ter por finalidade um dos objetivos mencionados na lei (obter informação, declaração ou confissão de alguém; provocar ação ou omissão criminosa; por discriminação racial ou religiosa; para impor castigo ou medida preventiva). Acontece que, por excessos na execução do crime, o agente acaba causando culposamente a morte da vítima. Assim, a figura do crime de tortura qualificada pela morte (art. 1°, §3°, da Lei n.° 9.455/97) é exclusivamente preterdolosa. 
	 ►Meio Insidioso
 Preconiza-se o meio insidioso como aquele constituído por fraude ou que seja desconhecido da vítima, não sabendo que está sendo atacada. Nas palavras do mestre Mirabete (2004, pág. 73), “o que qualifica o homicídio não é propriamente o meio escolhido ou usado para a prática do crime, e sim o modo insidioso que o agente executa, empregando, para isso, recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima...”. 
	Ainda na ótica do Superior Tribunal de Justiça, o assunto em questão são aqueles que são empregados de maneira enganosa ou fraudulenta e cujo poder mortífero se encontra oculto, surpreendendo à vítima, tornando-se extremamente complexa ou mesmo impossível a defesa. Magniore (MIRABETE, 2004, PÁG. 73) cita uma sucessão de exemplos que ilustram a concepção de algo insidioso, como: o emprego de armadilha ou a sabotagem do veículo automotor da vítima ou ainda do aeroplano.
 ►Meio Cruel
 A penúltima conduta abarcada pela redação do inciso III é o denominado meio cruel, aquele que submete a vítima a danosos e inúteis vexames ou mesmo a sofrimentos, seja de cunho, seja de essência moral. É descrito como algo bárbaro, brutal, que causa martírio a vítima ou ainda que aumente, de modo inútil, o sofrimento do ofendido.
	“A crueldade só pode ser reconhecida quando partida de um ânimo calmo que permita a escolha dos meios capazes de infligir o maio padecimento desejado à vítima” (MIRABETE, 2004, pág. 73). Nesse passo, Fragoso notícia que “meio cruel é todo aquele que acarreta padecimento desnecessário para a vítima, ou, como se diz na Exposição de Motivos do CP de 1940, o meio que aumenta inutilmente o sofrimento, ou revela uma brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”. Vale destacar que a repetição de golpes para se obter o homicídio não configura o crime de homicídio, desde que assuma um caráter de sadismo.
 
►Meio que pode resultar Perigo Comum
 Além do fogo e explosivo esmiuçados acima, aprouve ao legislador abarcar também as demais condutas que podem acarretar perigo comum para a coletividade ou ainda para um determinado grupo de indivíduos. Neste sentido, Fragoso (2009) assinala que “perigo comum é aquele que ocorre em relação a determinado grupo de pessoas (...) são elementos cuja capacidade destruidora não pode ser controlada pelo agente”. Como exemplo, pode-se citar a inundação e o desabamento provocado pelo agente delituoso com o único fito de causar a morte do ofendido, pondo, em conseqüência de seus atos, os demais em uma situação de perigo.
1.1.4 Modos Empregados (Modus operandi):
 A redação do inciso IV explicita uma sucessão de situações que, de certa monta, dificultam ou tornam impossível a defesa da vítima, sendo, devido a isso, consideradas como qualificadoras do crime de homicídio. Dado o apresentado, é cogente a necessidade de trazer à baila a redação do referido dispositivo e que estabelece: “§ 2º - Se o homicídio é cometido: IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido” (DJI/2009).
	Doutrinariamente, são mecanismos empregados pelo agente ativo e que asseguram maior segurança na perpetração da conduta, uma vez que se vale da boa-fé ou mesmo da falta de prevenção da vítima. Frente a essas ponderações, mister se faz à análise minuciosa de tais ações para se compreender o assunto em questão.
 ►Traição
 Na esfera penalista da Ciência Jurídica, considera-se a traição como “um ataque súbito e sorrateiro que atinge o sujeito passivo, o qual, descuidado, porque confiante, não percebe o gesto criminoso.” (SIQUEIRA, 2009). Ainda nesse passo, cumpre lançar mão das palavras do mestre Mirabete (2004, pág. 73) que salienta: “é qualificado o homicídio pela traição quando há insídia, não pela natureza do meio empregado, mas pelo modo da atividade executiva, demonstrando o agente maior grau de criminalidade”.
	De igual maneira, aduz também Fragoso (2009), “é o procedimento insidioso, como disfarce de intenção hostil, de tal modo que a vítima, iludida, não tem motivo para desconfiar do ataque e é colhida de surpresa”. As Altas Cortes Brasileiras tem reconhecido que ocorreu traição na conduta do homicida que elimina a esposa, esganando-a durante o ato sexual, bem como nas situações de tiros pelas costas.
 ►Emboscada
 A segunda figura que estampa a redação do inciso IV como recurso que dificulta a defesa do ofendido é a denominada emboscada. Siqueira (2009) aduz que: “a emboscada, também conhecida por tocaia, é ação premeditada que ocorre quando o agente aguarda ocultamente a passagem ou a chegada da vítima, a qual se encontra desprevenida, para o fim de a atacar”.
 ►Dissimulação
 Outro modo de execução apresentado é a nomeada dissimulação, cujo fito do agente, segundo Siqueira (2009) expõe, é a ocultação do próprio desígnio criminoso, isto é, “o sujeito ativo age de forma a iludir a vítima, a qual passa a pensar que não tem motivos para desconfiar de um possível ataque, de modo que, desta forma, é apanhada desatenta e indefesa”. Mirabete (2004, pág. 74) lista como corriqueiro exemplo o emprego de um disfarce ou qualquer ato similar que iluda o ofendido da agressão que está prestes a sofrer, especial, no que atina o porte de arma.
 ►Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
 Enumera-se de maneira genérica todo o recurso que, uma vez utilizado pelo agente ativo, dificultará ou mesmo, em determinadas situações, inviabilizará a defesa da vítima. Ainda nesse mister, cabe trazer à bailaa denominada surpresa, ainda que não seja pilar expresso na redação do inciso em tela, a jurisprudência afirma que, conforme as linhas de Fragoso (2009) expressam, a surpresa não deve ser confundida com a traição, ainda que muito se assemelhe. Tal fato ocorre, vez que a primeira não exige os elementos de confiança e deslealdade, pilares indispensáveis do segundo.
	Mirabete (2004, pág. 74) expõe que “a surpresa pode qualificar o delito quando, efetivamente, tenha ela dificultado ou impossibilitado o agente de se defender”. Ante ao apresentado, reconheceu-se a surpresa como qualificadora do crime nas situações a vítima estava repousando ou dormindo, no uso de uma faca que o agente sacou da bota, no gesto que não permitiu a defesa da parte ofendida ou mesmo quando não era previsível pela vítima. Todavia, não se reconheceu a surpresa como qualificadora nos casos da morte da mulher pelo marido quando viviam em comuns situações de brigas ou ainda nos casos de divergência entre o algoz e a vítima.
 ►Assegurar a Execução, a Ocultação, a Impunidade ou Vantagem de outro crime
 O legislador ofertou aos Operadores do Direito na redação do inciso V uma gama de situações que qualificam o homicídio, vez que desdobram uma conexão, seja teleológica, seja consequencial. Posto isto, é cogente a necessidade de trazer à tona a redação do referido inciso: “§ 2º - Se o homicídio é cometido: V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.” (DJI/2009). Nesse passo, o mestre Mirabete (2004, pág. 74) traz à tona ponderações acerca do tema em epígrafe, explicitando os axiomas constitutivos de cada conexão.
	Sob este foco deve-se frisar que Conexão é a existência de um vínculo entre dois delitos. A doutrina subdivide a conexão em teleológica e consequencial. Vejamos a seguir as hipóteses de conexão :
- A teleológica é quando o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime. Logo, o agente primeiro mata a vítima para depois cometer outro crime. Quando consegue consumar ambos os crimes, o agente responde pelo homicídio qualificado e também pelo outro crime em concurso material. Há, entretanto, casos em que o agente pratica o homicídio para cometer outro delito, mas nem consegue iniciar a execução deste outro crime. Aí haverá homicídio qualificado, mas não o segundo crime. É também possível que o agente cometa o homicídio com a intenção de assegurar a execução de outro crime e depois desista de praticá-lo. Nesse caso, a qualificadora deve ser reconhecida. Vale dizer que, essa qualificadora não se aplica se o agente visa assegurar a impunidade de um crime impossível ou putativo (embora possa, se for o caso, ser responsabilizado pela qualificadora do motivo torpe).
- A consequencial ocorre quando o homicídio visa assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime. Então, o agente antes comete o outro crime e depois o homicídio. Na ocultação, o sujeito quer evitar que se descubra que o crime foi praticado. Na impunidade, a preocupação do agente não é evitar que se descubra a ocorrência do crime anterior, mas evitar a punição do autor desse delito. Não é necessário que o próprio homicida tenha sido o autor do crime anterior. Nas hipóteses em que o homicídio é qualificado pela conexão, o tempo decorrido entre os dois delitos é indiferente. Assim, não afasta a qualificadora o fato de alguém ter cometido certo crime há vários anos e, ao ser descoberto, matar a testemunha que poderia incriminá-lo.
	Em outras palavras, a chamada conexão teleológica se consubstancia quando o homicídio é praticado com o fito de executar outro crime, isto é, resume-se a um meio para alcançar outra conduta delituosa. Já a conexão consequencial, pode ser vislumbrada quando o homicídio é cometido para ocultar ou mesmo assegurar a impunidade de um delito. No primeiro caso, ocorre nas situações em que o homicídio é praticado contra o perito ou profissional técnico responsável por apurar os fatos atinentes ao crime. No segundo, Mirabete (2004, pág. 74) é contundente ao exemplificar como “homicídio da testemunha que pode identificar o agente como autor de um roubo”. É imperativo frisar que a doutrina moderna apresenta também como conexão consequencial as situações em que se comete o homicídio para fugir à prisão em flagrante ou ainda para assegurar a vantagem do produto, preço ou proveito de crime.
 Consoante o Estatuto da Criança e do Adolescente acrescentou, nas situações em que o homicídio qualificado for praticado contra menores de quatorze (14) anos, a pena será aumenta em um terço (1/3). No mesmo sentido a Lei N°. 10.741, o Estatuto do Idoso, que caso a conduta criminosa seja perpetrada contra indivíduo com idade superior a sessenta (60) anos, a pena também será ampliada. A luz do exposto a redação do parágrafo 4°, em sua parte final, afirma que: “§ 4º. (...) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.” (DJI/20009)
	Em ambos os casos, vigoram a premissa que os sujeitos passivos têm maior dificuldades de se defender, bem como a maior carga de reprovação concedida pela sociedade no que tange o crime em tela. Além disso, é salutar destacar que amparado pelo princípio non bis in idem, afasta-se as agravantes de pena dispostas na redação do artigo 61, inciso II, alínea “h”, a fim de evitar uma dupla punição pelo mesmo fato delituoso.
 ► Feminicídio
 Com o advento da Lei 13.104 de 9 de março de 2015, o art. 121, § 2° do Código Penal passou a ter o inciso VI que trata do Feminicídio:
Art. 121. Matar alguém:
 Homicídio qualificado 
 § 2° Se o homicídio é cometido: 
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
 E o que é o Feminicídio? É o homicídio doloso (consumado ou tentado) qualificado praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino.
 Para que possamos entender bem o que o novo dispositivo tem a dizer temos que, antes de qualquer coisa, atentar para o que o legislador quis estabelecer com “razões da condição do sexo feminino”.
 O art. 121, § 2°-A, do Código Penal estabelece duas situações de “condição do sexo feminino”. Vamos a elas:
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
 Para a aplicação desta nova lei, quando o legislador fala em violência doméstica e familiar, temos que buscar a explicação no art. 5° da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06).
 Sendo assim, a Lei Maria da Penha em seu art. 5°, incisos I, II e III estabelece que:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
 Pois bem, dessa forma podemos concluir que se o agente ativo comete um homicídio consumadoou tentado na forma dolosa (quando tem a vontade e consciência de produzir o resultado) contra a mulher em uma das situações previstas nos incisos acima, incorre no crime de Feminicídio.
 A grosso modo podemos afirmar, então, que de acordo com o inciso I do dispositivo, o Feminicídio ocorre por “relações de proximidade”.
 Muito importante ressaltar que não é só o homem que pode ser o sujeito ativo do crime, aqui estudado, pois a mulher também pode cometer um Feminicídio se incorrer nas hipóteses dos incisos I e II do art, 121, VI, § 2-A.
 Sendo assim, o Feminicídio pode ser cometido pelo marido, ex-marido, esposa, ex-esposa, companheiro(a), ex-companheiro(a), pai, mãe, sogro(a), enteado(a), irmão(a) (inclusive a (o) de criação), namorado(a), ex-namorado(a)...
 E a condição do transexual, como fica? Basicamente, há dois entendimentos:
a) não há Feminicídio contra transexual, pois é geneticamente homem (conceito biológico);
b) adota-se o “conceito jurídico”, pois, se a Justiça autorizou a modificação do documento, pode ser vítima de Feminicídio.
 Ainda que pese inúmeras discussões acerca do tema, prevalece o segundo entendimento na corrente majoritária.
 Já o inciso II trata do menosprezo ou discriminação à condição da mulher. Aqui o Feminicídio ocorre com a morte (ou sua tentativa) da mulher por ela ser mulher.
 Trata-se de um atentado contra a vida da mulher causada por, supostamente, possuir uma condição inferior; por pertencer ao gênero feminino.
 É a colocar em prática a teoria da famosa (e nefasta) frase: “só podia ser mulher mesmo”.
 Então temos que tomar cuidado quando ouvirmos por ai que matar mulher é Feminicídio. Nem sempre.
 Por exemplo, se há a morte de uma mulher, ainda que por um homem, numa briga originada de um desentendimento no trânsito, temos um crime de homicídio qualificado por motivo fútil (artigo 121, § 2º., II, CP) e não o Feminicídio, previsto no artigo 121, § 2º., VI, CP. Ou seja, não é todo homicídio de mulher que configura um Feminicídio, mas apenas aqueles em que se revele a chamada “violência de gênero”.
 Muito importante esclarecer que os requisitos dos inciso I e II do § 2°-A são alternativos e não cumulativos, ou seja, basta a incidência de um deles no caso concreto para que o crime seja tipificado.
 Um ponto que merece atenção e também deve ser observado neste crime, são as causas de aumento de pena que nele incidem. Vejamos o § 7° do art. 121 do Código Penal:
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
 O dispositivo é bem esclarecedor em sua redação e não demanda maiores explicações para seu entendimento.
 Incontestável que o novo tipo penal criado é mais uma forma de combate à violência contra a mulher, inclusive tendo sido incluído no rol dos crimes hediondos (Lei 8.072/90), porém, enquanto precisarmos criar mais leis para o autocontrole coletivo, estaremos reconhecendo que ainda não estamos prontos para uma evolução social e humana, pois de nada adiantará alterar a legislação se o ser humano permanecer o mesmo.
 ► Homicídio Funcional	
A Lei nº 13.142/2015 alterou o Código Penal com escopo de criar uma nova qualificadora ao crime de homicídio.
Considera-se homicídio funcional quando o agente passivo for autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
Seguindo a mesma sistemática do feminicídio o homicídio funcional também é uma qualificadora cuja pena será reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Houve também alteração na Lei no 8.072/ 1990 tornando o homicídio funcional crime hediondo, in verbis:
Art. 1º.São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII).
Pode-se arrolar como consequências da hediondez do homicídio funcional as seguintes :
a) Da progressão de regime
O crime de homicídio funcional é hediondo, assim, a progressão de regime dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
b) Do regime inicial de cumprimento de pena
O crime de homicídio funcional é punível com pena de reclusão, portanto, o regime inicial de cumprimento de pena será inicialmente fechado, semiaberto ou aberto, dependendo da pena efetivamente aplicada.
c) Livramento condicional 
No homicídio funcional só será possível a concessão de livramento condicional cumprido mais de dois terços da pena, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
d) Análise da possibilidade de concessão da fiança extrajudicial e judicial 
No crime de homicídio funcional é impossível a concessão da fiança extrajudicial ou judicial.
e) Possibilidade de decretação da prisão preventiva 
O crime de homicídio funcional é punido com pena máxima superior a quatro anos; portanto, atendidos os requisitos previstos nos novos artigos 311 e 312 do Código de Processo Penal, é possível a decretação da prisão preventiva.
f) Possibilidade de decretação da prisão temporária
 	Se houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado no crime de homicídio funcional, é possível a prisão temporária, devendo ainda ser atendidos um dos requisitos infracitados:
a) quando for imprescindível para as investigações do inquérito policial; ou
b) quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade.
São agentes passivos do homicídio funcional:
1. Autoridades no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
A terminologia “autoridade” descrita na primeira parte do artigo 121, § 2º, inciso VII, do Código Penal, será objeto de muita controvérsia, contudo, entendo que devemos utilizar a interpretação analógica.
 	A palavra autoridade (derivada do latim auctoritas) é normalmente usada para descrever o poder dado ao estado, a priori, surge como oportuna e inadiável definirmos o real sentido da terminologia autoridade para os exatos fins da aplicação da qualificadora do artigo 121, § 2º, inciso, VII, do Código Penal.
Há ainda autoridades eclesiásticas, autoridades políticas e uma infinidade de autoridades na administração pública.
Usando a interpretação analógica e atendendo ao princípio da legalidade, entendemos que a ratio legis não foi alcançar todas as espécies de autoridades do Brasil e sim aquelas que exercem funções semelhantes às definidas no próprio inciso, quais sejam, as autoridades do sistema de segurança pública assim definidas como os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público. 
Perceba que o legislador logo após o uso da terminologia “autoridade” usa a frase “OU” agente descrito nos artigos 142 (Forças Armadas) e 144 (Policiais) da Constituição Federal, integrantes do sistemaprisional e da Força Nacional de Segurança Pública, ou seja, todos são “autoridades”, “agentes” e “integrantes” do sistema de segurança pública.
Portanto, podem ser agentes passivos do homicídio funcional, os Ministros do STF, membros dos Tribunais Superiores, Desembargadores dos Tribunais de Justiça, Magistrados federais e estaduais, membros do Ministério Público da União e Membros do Ministérios Públicos dos Estados quando formem vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, e seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
b) Agentes da Marinha, Exército e Aeronáutica, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
c) Integrantes da polícia federal, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
d) Integrantes da polícia rodoviária federal, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
e) Integrantes da polícia ferroviária federal, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
f) Integrantes da polícia civil, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
g) Integrantes da polícia militar e corpos de bombeiros militares, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime. 
h) Integrantes do sistema prisional, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
i) Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública, quando foram vítimas no exercício da função ou em decorrência dela, ou seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da motivação funcional do crime.
Quanto à forma de qualificação vale dizer que, as qualificadoras subjetivas são aquelas relacionadas com a motivação do crime e as objetivas, relacionam-se com as formas de sua execução.
Na qualificadora do homicídio funcional, não são formas de execução do crime, e sim, a motivação delitiva; portanto, a qualificadora do homicídio funcional é uma qualificadora subjetiva.
Portanto, são qualificadoras:
1. Subjetivas (Artigo 121, incisos I, II, V e VI do CP) 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
1. Objetivas (Artigo 121, incisos III e IV do CP)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Sendo o homicídio funcional uma qualificadora subjetiva, haverá, impreterivelmente, duas consequências:
a) As qualificadoras subjetivas (Artigo 121, incisos I, II, V, VI e VII) não se comunicam aos demais coautores ou partícipe no concurso de pessoas. A qualificadoras objetivas (artigo 121, incisos III, IV), comunicam-se desde que ingressem na esfera de conhecimento dos envolvidos.
b) Não é possível a qualificadora do homicídio funcional ser cumulada com o privilégio do artigo 121, § 1º do Código Penal.
Ou seja, não existe homicídio funcional qualificado-privilegiado, isso porque doutrina e a jurisprudência dominante sempre admitiram, como regra, homicídio qualificado-privilegiado, estabelecendo uma condição; a qualificadora deve ser de natureza objetiva, pois o privilégio descrito nos núcleos típicos do artigo 121 § 1º, são todos subjetivos, algo que repele as qualificadoras da mesma natureza.
Posição do STF:
“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido da possibilidade de homicídio privilegiado-qualificado, desde que não haja incompatibilidade entre as circunstâncias do caso. Noutro dizer, tratando-se de qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de execução do crime), é possível o reconhecimento do privilégio (sempre de natureza subjetiva)”(HC 97.034/MG)..
Posição do STJ:
“Admite-se a figura do homicídio privilegiado-qualificado, sendo fundamental, no particular, a natureza das circunstâncias. Não há incompatibilidade entre circunstâncias subjetivas e objetivas, pelo que o motivo de relevante valor moral não constitui empeço a que incida a qualificadora da surpresa” (RT 680/406).
Quanto à Competência para julgar o homicídio funcional em regra será da justiça estadual, no Egrégio Tribunal do Júri, vide artigo 5º, inciso XXXVIII, in verbis:
“É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”. [3]
Excepcionalmente, a competência é da Justiça Federal, quando:
a) Crime de homicídio praticado contra funcionário público federal, quando relacionado com o exercício da função
Súmula 147 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. (DJ 18/12/1995).
b) Quando houver deferimento do incidente de deslocamento de competência da ação penal para a Justiça Federal
Homicídio qualificado-privilegiado - No crime de homicídio, há ocasiões em que o sujeito pratica o fato típico impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima – o que, teoricamente, configuraria homicídio privilegiado-, com recurso a determinados meios que denotam crueldade, insídia ou perigo comum ou de forma a dificultar ou tornar impossível à defesa da vítima – o que, em tese, seria considerado um crime qualificado. Dessa forma, nesses casos, em um mesmo fato típico, antijurídico e culpável encontram-se tanto elementos que contribuiriam para a atribuição de qualificadoras ao crime, quanto circunstâncias que possibilitariam a análise do homicídio de forma menos gravosa – mediante as circunstâncias privilegiadoras.Com fulcro nessa situação, percebe-se que é possível a concorrência de circunstâncias privilegiadoras e qualificadoras em um mesmo crime de homicídio. Todavia, a doutrina não apresenta posicionamento unânime quanto à possibilidade do homicídio qualificado-privilegiado. Porém, em que pese haver entendimentos contrários – que não admitem a concomitância de qualificadoras e privilegiadoras-, considera-se ser possível a coexistência de causas privilegiadoras com causas qualificadoras, desde que a qualificadora configure uma circunstância objetiva, já que a privilegiadora tem, sempre, natureza subjetiva, porque se relaciona com o motivo do crime ou com o estado anímico do agente. Exemplo disso é a situação do homicídio praticado sob o domínio de violenta emoção – homicídio, em tese, privilegiado-, com o uso de asfixia – homicídio, em tese, qualificado. Todavia,deve-se salientar que, conforme entendimento, as qualificadoras de motivo fútil e torpe não podem concorrer com as circunstâncias privilegiadoras, uma vez que possuem caráter subjetivo e, por isso, não podem coexistir com privilegiadoras – que também possuem caráter subjetivo em um mesmo crime.Nesse contexto, pode-se concluir que, em que pese a grande divergência de doutrinadores de renome, a doutrina tem prevalecido no sentido de admitir a forma privilegiada-qualificada, desde que exista compatibilidade lógica entre as circunstâncias. Assim, pode-se aceitar a existência concomitante de qualificadoras objetivas com as circunstâncias legais do privilégio, que são de ordem subjetiva (motivo de relevante valor social e domínio de violenta emoção). O que não se pode aceitar é a convivência pacífica das qualificadoras subjetivas com qualquer forma de privilégio, tal como seria o homicídio praticado, ao mesmo tempo, por motivo fútil e por relevante valor moral. 
	Nesse sentido, pronuncia-se Rogério Greco, dispondo o seguinte:
“O que se torna inviável, no caso concreto, é a concomitância de uma qualificadora de natureza subjetiva com o chamado, equivocadamente, privilégio, visto serem incompatíveis, a exemplo daquele que mata o seu desafeto por um motivo fútil e ao mesmo tempo de relevante valor moral. São situações excludentes entre si.(GRECO, 2008, p. 393)”.
	Não se pode deixar de acrescentar que, em regra, a doutrina discorda da natureza hedionda do homicídio qualificado-privilegiado. Nesse sentido, manifesta-se Rogério Greco:
“Majoritariamente, a doutrina repele a natureza hedionda do homicídio qualificado-privilegiado, haja vista que - é o argumento - não se compatibiliza a essência do delito objetivamente qualificado, tido como hediondo, com o privilégio de natureza subjetiva. Ante a inexistência de previsão legal, bem como o menor desvalor da conduta em comparação ao homicídio qualificado, consumado ou tentado, o homicídio qualificado-privilegiado não pode ser considerado como crime hediondo. (GRECO, 2008, p. 392)”.
Existem várias definições, embora não contempladas na legislação e nem no Código Penal. A doutrina os define e na realidade, e como regra, não assumem relevância em termos de punição por prática de homicídio. Algumas das definições constituem agravantes e que por isso têm força para aumentar penas previstas, como as descritas abaixo:
Feticídio: é a morte do feto, considerado como ser humano, embora não nascido, em conseqüência de aborto criminoso. 
Fratricídio: morte de um irmão por outro irmão. Quando se trata de morte de irmã, diz-se sororicídio. 
Infanticídio: morte de uma criança recém-nascida, por sua própria mãe, durante o parto ou logo depois. 
Matricídio: morte da mãe pelo próprio filho. Parricídio: morte do pai pelo filho. 
Regicídio: morte de um rei por um de seus vassalos ou súditos. 
Suicídio: a auto-eliminação, ou seja, a morte que o próprio homem dá a si. 
Uxoricídio: morte de um dos cônjuges provocada pelo outro. 
1.2 Meios
	Os meios podem ser físicos (disparos de revólver, golpes de punhal, etc.), químicos (uso de veneno ou de açúcar contra diabéticos), patogênicos ou patológicos (transmissão de moléstias por meio de vírus ou bactérias), ou ainda psíquicos ou morais, consistentes na provocação de emoção violenta a um cardíaco, na comunicação determinante de intensa dor moral ou pavor.
	A condição posta pelo homem para determinar a morte de outrem pode consistir no uso de qualquer meio capaz de produzir a destruição da vida humana. Será um meio mecânico, um golpe com ou sem emprego de instrumento vulnerante, um meio físico, que pode hoje compreender ainda a energia atômica, um meio químico como a utilização de venenos, um meio biológico, como o uso de germes patogênicos, ou mesmo um processo meramente psíquico. 
	A possibilidade de se matar alguém por ação puramente psíquica é objeto de discussão. O certo é que se pode determinar a morte de outrem pela provocação de violento choque psíquico, por um susto enorme, pela notícia falsa do falecimento de um ente querido, dada propositadamente, de súbito. O agente pode desencadear na vítima uma crise emocional repentina e violenta a que as suas condições orgânicas não podem resistir, ou pode mantê-la deliberadamente em estado contínuo e prolongado de alta tensão ou de depressão nervosa, que finda por consumir-lhe a vida, implicando no fato a responsabilidade do agente se concorrem às condições necessárias da culpabilidade.
1.3. Forma 
	O homicídio pode ser praticado por ação (comissão): disparos, golpes com barra de ferro, etc., ou omissão (mãe que não alimenta o filho de tenra idade, médico que não ministra o antídoto ao envenenado). Nestes casos é indispensável que exista o dever jurídico do agente de impedir o resultado morte. Já se decidiu pela existência de participação criminosa daquele que, estando ao lado do filho menor, que portava revólver, nada fez para impedir que ele disparasse a arma, alvejando mortalmente a vítima com que havia brigado (RT 536/368).
1.4 Sujeitos
	O sujeito ativo, ou agente, do crime de homicídio é qualquer pessoa física. Não se tratando de crime próprio, a possibilidade da autoria não está limitada a um determinado círculo de pessoas. Assim sendo, todo homem ou pessoa com capacidade penal genérica, está apto a ser sujeito ativo do homicídio simples, qualificado ou privilegiado.
	Também não é o homicídio um crime de mão própria. Desse modo pode alguém praticá-lo servindo-se de outra pessoa. É possível, portanto, a co-autoria no homicídio. No entanto, se o mandante do crime pagar ou prometer recompensa a quem executar o delito, o homicídio passará de simples a qualificado, conforme o que estatui o art. 121, § 2º, nº I, do Código Penal. Matar alguém mediante paga ou matar alguém, mediante promessa de recompensa, são formas típicas qualificadas do crime de homicídio.
	Situação curiosa é a que se verifica com os indivíduos duplos ou xipófagos. Sobre o assunto, assim se exprime Euclides Custódio da Silveira na obra citada: “Dado que a deformidade física não impede o reconhecimento da imputabilidade criminal, a conclusão lógica é que responderão ambos como sujeitos ativos. Assim se os dois praticarem um homicídio, conjuntamente ou de comum acordo, não há dúvida de que responderão ambos como sujeitos ativos, passíveis de punição. Todavia, se o fato é cometido por um, sem ou contra a vontade do outro, impor-se-á a absolvição do único sujeito ativo, se a separação cirúrgica é impraticável por qualquer motivo, não se podendo excluir sequer a recusa do inocente, que àquele não está obrigado. A absolvição se justifica como diz Manzini, porque conflitando o interesse do Estado ou da sociedade com o da liberdade individual, esta é que tem de prevalecer. Se para punir um culpado, é inevitável sacrificar um inocente, a única solução sensata há de ser a impunidade”.
	O sujeito passivo do homicídio é alguém, isto é, qualquer pessoa humana, o ser vivo nascido de mulher, qualquer que seja sua condição de vida, de saúde, ou de posição social, raça, religião, nacionalidade, estado civil, idade ou convicção política. Criança ou adulto, pobre ou rico, letrado ou analfabeto, nacional ou estrangeiro, branco ou amarelo, silvícola ou civilizado, toda a criatura humana, com vida, pode ser sujeito passivo do homicídio, pois a qualquer ser humano é reconhecido o direito à vida que a lei penalmente tutela.
	O moribundo tem direito a viver os poucos instantes que lhe restam de existência terrena, e por isso, pode ser sujeito passivo do homicídio. Assim também o condenado à morte. 
1.5 Condenação
	Crime de tamanha gravidade e, em conseqüência, sujeito a pena tão severa, o homicídio exige para a punição a certeza da morte de um ser humano.
	Esse resultado de morte deve ser provado pela presença do cadáver. Na crônica dessa espécie punível não são raros os casos em que se condenou alguém por homicídio e mais tarde veio a aparecer com vida a suposta vítima, às vezes quando a conseqüência da punição jáse tornara irremediável.
	Vale a pena trazer à baila as palavras do insigne Mestre Luiz Flávio Gomes: :
	“Embora essa seja a regra, na ausência de cadáver, pode haver elementos suficientes de certeza para substituí-lo. As circunstâncias podem impor a segura convicção da morte quando as provas indiretas (testemunhais) sobre a morte da vítima (sobre o corpo de delito), somadas eventualmente com as provas indiciárias, forem indiscutivelmente convincentes. Mas deve-se recomendar prudência na interpretação desses dados, A dúvida, por mínima que seja, impede a conclusão de homicídio, que poderia conduzir a funesto erro judiciário.
	São muitos os casos rumorosos no Brasil, nesse campo (não encontro do corpo da vítima). Um deles aconteceu no Rio de Janeiro, no início da década de 60 (século XX). O corpo desta vítima nunca apareceu. Ela havia acabado de se separar do embaixador brasileiro Manuel de Teffé Von Hoonholtza. Numa viagem com o advogado Leopoldo Heitor ela desapareceu. O advogado diz que ela foi sequestrada após um assalto. A suspeita pelo desaparecimento recaiu sobre ele. Ele foi julgado pelo tribunal do júri. Foi condenado num primeiro julgamento e absolvido no segundo. Cuida-se do caso Dana de Teffé (desaparecida desde o fatídico dia em que viajava com um advogado). O corpo nunca apareceu. O suspeito foi absolvido.
	Há um outro caso também bastante famoso. Na comarca de Araguari-MG, dois irmãos (irmãos Naves) foram condenados injustamente por uma morte que não existiu. Quinze anos depois da condenação a vítima reapareceu. Nessa altura um deles já havia morrido dentro da prisão. Naquele episódio, ocorrido no ano de 1937, tal como esclarece Hélio Nishiyama, os irmãos Naves chegaram a ser absolvidos duas vezes pelo Tribunal do Júri, porém, após recurso da acusação, foram condenados a pena de 25 anos e 06 meses de reclusão pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (naquela época, o veredicto dos jurados não era soberano).
	Há outros casos (um PM no Distrito Federal e um juiz de direito em SP, por exemplo) em que os jurados ou juízes, mesmo sem o corpo da vítima, condenaram o réu.
	Nosso Código de Processo Penal (art. 167) admite a prova indireta (testemunhal) quando o corpo da vítima desaparece. Por que existe essa regra processual? Para evitar a impunidade. Se essa regra não existisse bastaria matar a vítima e fazer desaparecer o seu corpo (para se garantir a impunidade). 
	Sintetizando: a comprovação da morte da vítima (que constitui a materialidade da infração) exige prova direta (perícia do próprio corpo). Essa é a regra. Excepcionalmente, para suprir-lhe a falta (em virtude do desaparecimento dos vestígios), a lei processual admite a prova indireta (testemunhal). Um terceiro meio probatório sozinho, isolado (outros indícios da morte: sangue, cabelo da vítima etc.), a lei não prevê. Mas junto com a prova indireta (testemunhal) pode ser que vários outros indícios sejam encontrados (e provados). Nesse caso, tais indícios reforçam a prova indireta. Esse conjunto probatório indireto + indiciário pode alcançar o patamar de uma convicção que afasta todo tipo de dúvida. Isso pode gerar condenação.
	O dilema é o seguinte: se o desaparecimento do corpo da vítima nunca permitisse condenação, estaria garantida a impunidade (ocultando-se o cadáver). Mas condenar sem o corpo da vítima pode levar a mais um crasso erro judicial (caso dos irmãos Naves). Nem impunidade, nem erro judicial. Os extremos devem ser evitados. Mas todo cuidado é necessário.
	Como podemos evitar as posições extremadas? Colhendo muitas provas técnicas. Isso é tarefa da polícia científica (que está sucateada no Brasil, em geral). No caso de Eliza Samúdio, por exemplo, houveram provas testemunhais bem como alguns indícios (a vítima teria passado no sítio de Bruno, teria sido levada para uma outra casa onde teria sido executada etc.). Que se pode fazer mais? Provas periciais. Luzes e reagentes (luminol, por exemplo) podem descobrir manchas de sangue (não visíveis). Testes de DNA. Provas dos registros telefônicos (não se trata da interceptação telefônica). Manchas de sangue nos carros. Uso de luzes forenses para a descoberta de pelos, cabelos, fibras de roupas, impressões digitais etc. etc.”
		No caso citado, tais fatos já refletiram na condenação de dois dos réus no caso de Eliza em novembro de 2012. Desse modo, dois anos e cinco meses depois que se tornou público o desaparecimento e morte de Eliza Silva Samúdio, a Justiça condenou os primeiros dois dos oito réus no processo. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de infância e braço direito do goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza, foi condenado por sequestro, cárcere privado e homicídio triplamente qualificado. Ele não poderá recorrer em liberdade e deverá cumprir uma pena de 15 anos, 12 deles em regime fechado. Já Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, foi condenada pela participação no sequestro de Eliza e de Bruno Samúdio, filho da modelo e do atleta que à época tinha cinco meses de idade. Ela teve a pena estipulada em cinco anos em regime aberto. Vale dizer que, tais condenações foram impostas embora não tenha aparecido os restos mortais da vítima, face a todo conjunto probatório desenvolvido no processo correlato.
1.6 Atualidades
	A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou em dezembro de 2012 a proposta que aumenta a pena para os homicídios cometidos por preconceito de qualquer natureza. De acordo com o anteprojeto, que será transformado agora em projeto de lei, assassinatos provocados em razão da orientação religiosa, sexual ou condição física ou social da vítima, por exemplo, serão tipificados como homicídios qualificados por motivo torpe, com pena de 12 a 30 anos de reclusão. A proposta ainda eleva a pena mínima para os homicídios simples, de seis para oito anos de prisão. A pena máxima, nesses casos, é de 20 anos. O texto foi apresentado pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ).
 	
	Além dos crimes motivados por preconceito, também passam a ser tratados como homicídio qualificado os cometidos contra agentes públicos que estiverem exercendo funções de prevenção, investigação, enfrentamento e julgamento de um crime ou de atos de improbidade administrativa.  Também será enquadrado como homicídio qualificado o assassinato de jornalistas em razão de denúncias feitas, testemunhas e ativistas de defesa dos direitos humanos.
	O anteprojeto ainda inclui no Código Penal o crime de infanticídio cometido pela mãe que teve bebê recentemente. Segundo o texto aprovado, quem auxiliar a mãe nesse tipo de crime responderá por homicídio comum. O texto é produto de discussões de uma subcomissão especial criada da própria CCJ. Agora, receberá um número da Mesa Diretora e começará a tramitar na Câmara. Terá de passar por uma série de comissões temáticas antes de seguir para o plenário.
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO AO SUICÍDIO
	Não existe no Direito Penal Pátrio, punição para o suicídio, tenha ele se consumado ou por algum motivo tenha se frustrado. Todavia, apresenta-se como crime a participação em suicídio alheio.
 	A proteção penal é dirigida à vida humana.
	Por ser crime comum o sujeito ativo e passivo podem ser qualquer pessoa.
	É um crime de conduta múltipla ou conteúdo variado composto pelos verbos induzir, instigar e auxiliar.
	O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de levar alguém à supressão da própria vida.
	Segundo Romeu Almeida Júnior tal crime em sendo material tem seu momento consumativo subordinado à ocorrência da morte ou de lesão corporal grave da vítima. Não realizando o suicídio ou resultando da ação da vítima lesão leve a participação será impunível. Diante dessa realidade torna-se insubsistente a possibilidade da tentativa.
	 Dispõe o art. 122 do Código Penal que é crime “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça”. A morte que um homem dá a si mesmo escapa à consideração do Direito Penal. O suicídio não se pune. Nãoé que se reconheça ao homem a faculdade de dispor da própria vida e de encerrá-la quando as circunstâncias a isso o tenham compelido. A não incriminação do suicídio não exclui a sua fundamental ilicitude moral e jurídica, quer sob o ponto de vista individual, como destruição de uma vida humana, seja embora a do próprio autor, quer sob o aspecto social, com as suas implicações de direitos e deveres em face da sociedade.
	Conceito de suicídio: “é a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado, chamando-se, ainda, autocídio e autoquiria” (Odon Ramos Maranhão, “Curso Básico de Medicina Legal”, p. 222). “No Brasil, não se pune o autor da tentativa de suicídio, por motivos humanitários: afinal, quem atentou contra a própria vida, por conta de comoção social, religiosa ou política, estado de miserabilidade, desagregação familiar, doenças graves, causas tóxicas, efeitos neurológicos, infecciosos ou psíquicos e até por conta de senilidade ou imaturidade, não merece punição, mas compaixão, amparo e atendimento médico. Pune-se, entretanto, aquele que levou outra pessoa ao suicídio, ainda que nada tenha feito para que o resultado se desse, tendo em vista ser a vida um bem indisponível, que o Estado precisa garantir, ainda que contra a vontade do seu titular. De outra parte, fica nítido que o suicídio é ato ilícito – embora não seja penalmente punido, até mesmo porque, quando se consuma, não teria sentido algum aplicar sanção à família – quando se vê, no art. 146, §3º, II, do Código Penal, não ser típica a ‘coação exercida para impedir o suicídio’” (Guilherme de Souza Nucci, “Código Penal Comentado”, ed. 2000, pg. 323).
	Não há confundir entre participação no suicídio e homicídio consensual ou a pedido da vítima. São dois delitos diferentes e o segundo, salvo os casos, especialíssimos, do homicídio eutanásico, deve ser punido com as penas do art. 121 do Código Penal, prevendo o parágrafo único do art. 122 que a pena será duplicada se o crime for praticado por motivo egoístico ou se a vítima é menor ou tem por qualquer causa a capacidade de resistência diminuída.
	A participação em suicídio alheio ainda apresenta a forma qualificada quando ocorrer por motivo egoístico for à vítima menor ou a capacidade de resistência da vítima for diminuída por qualquer causa.
	No que diz respeito à situação em comento, vejamos uma situação inusitada retratada na Folha de São Paulo no dia 04/07/2011:
“Ela pagou para ser morta
‘Mãe, adeus. Consegui o que queria. Di sinto a sua falta... Desculpe, vou tentar ser feliz’. A carta, escrita à mão trêmula, foi o último comunicado da advogada Giovana Mathias Manzano. No dia 13 de junho, ela foi assassinada com três tiros, um na nuca e dois na cabeça, num canavial de Penápolis (479 km de São Paulo).
Para a polícia, familiares, amigos e colegas de curso, não há dúvida: Giovana planejou a própria morte.
Contratou o matador, pagou em dinheiro, escolheu o local do crime e a maneira como seria morta. Tudo após anos de luta contra a depressão. ‘Quis isso, não aguentava mais sofrer’, escreveu. Sem coragem para o suicídio, achou alguém para matá-la, um jovem ‘sem amor à vida’, segundo a polícia (…)
A confissão do assassino, Wellington de Oliveira Macedo, 21, que estava na cadeia até 18 de maio, por tráfico, só ocorreu depois que a polícia reuniu todas as provas  (…)
Parentes e amigos ajudaram a esclarecer, relatando o motivo: tristeza, uma das consequências da síndrome de borderline, transtorno psiquiátrico diagnosticado pelos especialistas que a atendiam, caracterizado pela instabilidade de humor, angústia constante e profunda causada por medo de abandono (...)
Giovana não suportava a falta do marido, que, segundo as amigas, passou a não atender mais suas ligações"
	Para nossa lei, viver é um direito e não uma obrigação. Por conta disso, o suicídio não é um delito.  Embora cometer suicídio seja um direito, ajudar alguém a cometê-lo é um crime. Ele se chama “induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio” e está no artigo 122 de nosso Código como vimos anteriormente. Reparem que a lei se refere a três verbos diferentes: induzir, instigar ou auxiliar. Basta que o criminoso aja conforme um deles e a vítima (a pessoa que quer se matar) morra ou sofra lesão corporal grave. 
	No caso de alguém pedir ajuda para se matar, trata-se do auxílio. É o que acontece, por exemplo, com a eutanásia. Não existe o crime de ‘eutanásia’ no Brasil. Quem ajuda outra pessoa a matar-se (eutanásia), está auxiliando ao suicídio e responde de acordo com o artigo 122, descrito acima.
	Se alguém ajuda um suicida que não está doente, não se trata de uma eutanásia na linguagem comum, mas na linguagem jurídica o crime continua o mesmo: auxílio ao suicídio.
	Só que a matéria acima não está tratando de um auxílio ao suicídio. Não foi a vítima quem tirou sua própria vida. O criminoso é quem deu o tiro. Logo, trata-se de um homicídio. É o mesmo que ocorre quando o doente está em um estado tal que, embora ele queira morrer, ele já não tem força física para usar a droga que seu amigo comprou para que ele pudesse se matar: se o amigo aplicar a droga que vai causar a morte, trata-se de homicídio.
	A diferença é saber quem é que tomou a atitude (agiu) que levou de fato à morte. Quem, por exemplo, apertou a ampola que injetou a droga ou que, como no caso da matéria acima, apertou o gatilho.
	Mas há mais um último detalhe mencionado na matéria: ela ficou deprimida porque o ex-marido deixou de atender seus telefonemas. Logo, o marido também responde por indução ao suicídio? Afinal, como acabamos de ver, há três verbos no artigo 122.
	O importante aqui é que não há indução culposa, só dolosa, ou seja, você só responde pelo artigo 122 se você quis ou assumiu o risco. No caso acima, óbvio que ele não quis, mas ele assumiu o risco? Assumir o risco significa que a pessoa previu (ou deveria ter previsto) o risco de gerar o resultado através de sua ação (ou omissão), sabia que era muito provável que o risco se materializaria, e foi em frente assim mesmo. E isso não ocorreu. Não houve o vínculo direto entre sua conduta e a morte da vítima. Foi a depressão, e não a separação que levou ao suicídio. Milhares de outros fatores – sociais, biológicos, psíquicos, químicos ou o que seja – contribuíram para a depressão. Não dá pra dizer que foi aquela rejeição a responsável pelo suicídio.
	E existe um outro detalhe sobre a lógica jurídica que é importante entendermos: se ele não pudesse se divorciar porque ela poderia se suicidar, ele estaria, na prática, condenado a algo: a manter-se casado para sempre. Óbvio que a lei não pode ‘condenar’ alguém a um casamento-escravo só porque o outro cônjuge pode ficar deprimido e a depressão pode gerar um suicídio. Se ele, por outro lado, sabendo que ela estava clinicamente deprimida, dissesse algo como “você tem de se matar porque é louca” ou “por que você não se mata? Você nunca vai encontrar ninguém e vai morrer de solidão”, aí sim, a justiça poderia compreender que ele estava assumindo o risco de levar (‘instigar’ ou ‘induzir’) aquela pessoa que ele sabia que estava deprimida a matar-se. E isso seria crime.
	Modalidades comissiva e omissiva: 
	A redação do art. 122 do CP permite visualizar que tal infração penal deverá ser praticada comissivamente, isto é, o agente pratica algum comportamento dirigido a influenciar diretamente o ânimo da vítima no sentido de praticar o suicídio. 
	Questão controvertida, que vale ser destacada, diz respeito à possibilidade de o delito em tela ser praticado via omissão. Primeiramente, somente poderíamos in casu, entender como relevante a omissão do agente que gozasse do status de garantidor, uma vez que não tendo sido prevista expressamente qualquer modalidade omissiva no tipo penal, a única omissão cabível na espécie seria a de natureza imprópria. 
	
	Luiz Regis Prado, admitindo tal possibilidade, aduz:“Em verdade, o auxílio a suicídio por omissão é, em tese, admitido, se o omitente ocupa posição de garante. Entretanto, esta não existe ou desaparece a partir do momento em que o suicida recusa a ajuda para impedir o ato suicida ou manifesta sua vontade nesse sentido. Se irrelevante a vontade do suicida por não ter discernimento ou maturidade suficientes para compreender e assumir plenamente as conseqüências do ato suicida, o comportamento omissivo configuraria, em princípio, o delito de homicídio comissivo por omissão”. 
	Em que pese a força do raciocínio acima, entendemos que se o agente possui o status de garantidor, não será a vontade expressa da vítima em se matar que terá o condão de afastar a sua responsabilidade penal se, no caso concreto, podia agir fisicamente a fim de evitar o resultado. Embora devendo agir, pois que considerado garantidor, se no caso concreto encontrava-se impossibilitado fisicamente para tanto, eliminada será a sua responsabilidade penal. 
	Em sentido contrário à opinião de Luiz Regis Prado, trazemos à colação os argumentos de Frederico Marques: “Não há auxílio por omissão, como querem ilustres mestres e doutrinadores do Direito Penal. Prestar auxílio é sempre conduta comissiva. A expressão usada no núcleo do tipo (prestar-lhe auxílio para que o faça) do art. 122 impede a admissão de auxílio omissivo”. 
	Entendemos como a maior parte da doutrina, ser admissível a prestação de auxílio por omissão, desde que o agente se encontre na posição de garante, quando, no caso concreto, devia e podia agir para evitar o resultado, razão pela qual poderá responder de acordo com a norma de extensão prevista no §2º do art. 13 do CP, pelo delito tipificado no art. 122 do mencionado diploma repressivo, se com a sua omissão dolosa contribuiu para a ocorrência do resultado morte da vítima. 
	Consumação e tentativa
	Como falamos anteriormente, o preceito secundário do art. 122 do CP diz que a pena é de reclusão de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão de 1 a 3 anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Dessa redação, podemos concluir que o delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio se consuma quando ocorre, primeiramente, a morte da vítima ou, ainda, quando esta, mesmo sobrevivendo, sofre lesões corporais de natureza grave, ou seja, aquelas previstas nos §§1º e 2º do art. 129 do CP. A lei penal determinou um mínimo de lesão para que o agente pudesse responder pela infração penal em estudo. 
	Causas de aumento de pena
	Analisemos de forma mais detalhada os incisos I e II, do parágrafo único do art. 122 do CP que estabelece as causas de aumento de pena em que a pena será duplicada: 
I – se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. 
	Inicialmente, devemos salientar que o parágrafo único do mencionado art. 122 contém causas especiais de aumento de pena (ou majorantes) e não qualificadoras como afirmam alguns autores, a exemplo de Frederico Marques. Assim, somente no terceiro momento do critério trifásico de aplicação da pena é que será considerada a majorante, duplicando-se a pena que tiver sido encontrada até aquela fase. 
	Entendidas como causas especiais de aumento de pena, vamos à análise de cada uma delas, individualmente: 
a) Motivo egoístico → por motivo egoístico, entende-se o motivo mesquinho, torpe, que cause uma certa repugnância. Guilherme de Souza Nucci ainda o define dizendo tratar-se “do excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente”. 
b) Vítima menor → quando a lei penal fala em vítima menor, está se referindo, portanto, aquela menor de 18 anos, data em que se inicia a maturidade penal, e maior de 14 anos. Caso a vítima não tenha, ainda, completado os 14 anos, haverá uma presunção (relativa) no sentido da sua incapacidade de discernimento, o que conduzirá ao reconhecimento do homicídio, afastando-se, portanto, o delito do art. 122 do CP. 
c) Vítima que tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência → a lei fala em diminuição da capacidade de resistência e não em eliminação dessa capacidade. Se a vítima tem eliminada a capacidade de resistir, o delito será de homicídio; se a sua capacidade está diminuída, o crime será o do art. 122 do CP, tendo o agente a pena duplicada. 
	Pena, ação penal e suspensão condicional do processo
	Se o suicídio se consuma, a pena é de reclusão de 2 a 6 anos; se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão de 1 a 3 anos. 
	Em ambas as hipóteses a ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Ocorrendo lesão corporal de natureza grave, permite-se, presentes os requisitos contidos no art. 89 da Lei n. 9.099/95, seja levada a efeito proposta de suspensão condicional do processo pelo MP, ficando afastada tal possibilidade na hipótese em que o crime for cometido por motivo egoístico, bem como quando a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência, uma vez que, nesses casos, a pena será duplicada, nos termos do parágrafo único do art. 122. 
	Suicídio conjunto (pacto de morte)
	Conforme afirmamos anteriormente, para que responda pelo delito do art. 122 do CP, o agente não pode ter praticado qualquer ato de execução característico do delito de homicídio, pois, caso contrário, deverá ser responsabilizado por este delito. 
	Imagine-se a hipótese daquele casal de namorados que, após decidirem que eliminariam a vida, resolvem fazê-lo com o emprego de um revólver. O namorado aponta-lhe a arma em direção à cabeça e puxa o gatilho, causando-lhe a morte. Ele, logo em seguida, faz o mesmo, atirando contra a própria cabeça. Contudo, embora ferido gravemente, consegue sobreviver. Teria o namorado sobrevivente cometido o delito do art. 122 do CP? A resposta, aqui, só pode ser negativa, uma vez que, tendo executado comportamento característico do crime de homicídio, deverá por este responder. 
	Podemos citar, ainda, o exemplo trazido à colação por Hungria, quando os namorados, pactuados em morrer juntos, optam por fazê-lo por asfixia de gás carbônico, “e enquanto um abria o bico do gás, o outro calafetava as frinchas do compartimento. Se qualquer deles sobrevive, responderá por homicídio, pois concorreu materialmente no ato executivo da morte do outro. Se ambos sobrevivem, responderão por tentativa de homicídio. No caso em que somente um deles tivesse calafetado as frestas e aberto o bico de gás, responderá esse, na hipótese de sobrevivência de ambos, por tentativa de homicídio, enquanto o outro responderá por instigação a suicídio”, desde que, acrescentamos à conclusão do grande penalista brasileiro, neste último caso, ocorra lesão corporal de natureza grave. 
Atualidades 
	Os §§ 1º e 2º do artigo 123 do Projeto do Novo Código Penal, autorizam a concessão de perdão judicial no caso de eutanásia ou ortotanásia e no auxílio a suicídio.
3. Infanticídio (art.123 do CPB)
3.1. Generalidades
	Analisando a figura típica do infanticídio, percebe-se que se trata, na verdade, de uma modalidade especial de homicídio, que é cometido levando em consideração determinadas condições particulares do sujeito ativo, que atua influenciado pelo estado puerperal, em meio a certo espaço de tempo, pois que o delito deve ser praticado durante o parto ou logo após. 
	Seus traços marcantes e inafastáveis são, portanto, os seguintes: 
a) que o delito seja cometido sob a influência do estado puerperal; 
b) que tenha como objeto o próprio filho da parturiente; 
c) que seja cometido durante o parto ou, pelo menos, logo após. 
	3.1.1Classificação doutrinária
	Crime próprio (pois que somente pode ser cometido pela mãe), simples, de forma livre, doloso, comissivo e omissivo impróprio, de dano, material, plurissubsistente, monossubjetivo, não transeunte, instantâneo de efeitos permanentes.3.1.2 Sujeito ativo e sujeito passivo
	O infanticídio é um delito próprio, uma vez que o tipo penal do art. 123 do CP indicou tanto o seu sujeito ativo como o sujeito passivo. 
	Assim, pela redação da figura típica, somente a mãe pode ser sujeito ativo da mencionada infração penal, tendo como sujeito passivo o seu próprio filho. 
	Tratando-se de crime próprio, o infanticídio admite as duas espécies de concurso de pessoas (co-autoria e participação). 
	
	O delito pode ser cometido tanto contra o nascente, isto é, aquele que está nascendo, que ainda se encontra no processo de expulsão, quanto contra o neonato, ou seja, aquele que acabou de nascer, já se encontrando desprendida da mãe. 
	3.1.3 Modalidades comissiva e omissiva
	O delito de infanticídio pode ser praticado comissiva ou omissivamente. 
	A parturiente, na qualidade de garante, pode influenciada pelo estado puerperal, causar a morte do próprio filho, deixando de fazer o que é necessário à sobrevivência dele. 
	Como o verbo matar pressupõe um comportamento comissivo, a parturiente, com a sua inação, somente poderá responder pelo delito em questão em virtude da sua qualidade especial de garantidora, que lhe foi atribuída pela alínea „a do §2º do art. 13 do CP. 
	3.1.4 Objeto material e bem juridicamente protegido
	O bem juridicamente protegido é a vida do nascente ou do neonato. O nascente e o neonato são os objetos do delito em estudo, pois que a conduta da parturiente é dirigida finalisticamente contra eles. 
	3.1.5 Infanticídio com vida intrauterina
	Pode ser que, uma vez iniciado o parto, por exemplo, com o rompimento da membrana amniótica, a parturiente, influenciada pelo estado puerperal, pratique manobra no sentido de causar a morte de seu próprio filho, ainda em seu útero. Pergunta-se: Nesse caso, estaríamos diante do delito de infanticídio ou do crime de aborto? 
	Para que possamos manter a coerência do raciocínio, não importa se a vida era intra ou extrauterina. Para nós, o divisor de águas entre o crime de aborto e o de infanticídio é, efetivamente, o início do parto, e não se a vida era intra ou extrauterina, embora exista controvérsia doutrinária e jurisprudencial nesse sentido. 
	3.1.6 Aplicação do art. 20, §3º, do CP (erro sobre a pessoa) ao delito de infanticídio 
	Imagine-se a hipótese em que a parturiente, influenciada pelo estado puerperal, vá até o berçário, logo após o parto, e, querendo causar a morte do próprio filho, por erro, acabe estrangulando o filho de sua colega de enfermaria, causando-lhe a morte. 
	
	No caso em questão, deverá a parturiente responder pelo delito de homicídio ou pelo infanticídio? 
	Preconiza o §3º do art. 20 do CP: “O erro quanto à pessoa a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”. 
	No caso apontado, considerando que a parturiente almejava causar a morte de seu próprio filho e, por erro, acabou matando o filho de sua colega de quarto, aplica-se a regra correspondente ao erro sobre a pessoa, que deve ser responsabilizada pelo infanticídio. 
 3.1.7 Julgamento pelo Júri sem a presença da ré
	O infanticídio tem seu julgamento realizado pelo Tribunal do Júri. A presença do réu, como regra, é indispensável ao seu julgamento em Plenário do Júri, conforme determina o caput do art. 451 do CPP. 
	
	Contudo, tratando-se de crime afiançável, como é o caso do delito de infanticídio, tal regra é excepcionada, podendo-se levar a efeito o julgamento da acusada mesmo encontrando-se revel, nos termos do §1º do referido art. 451 do CPP. 
	
	Dessa forma, tendo em vista que ao delito de infanticídio fora cominada pena de detenção, que, por exclusão, encontra-se no rol daquelas entendidas como afiançáveis, conclui-se ser permitido o julgamento da ré em Plenário do Júri, mesmo que verificada a sua revelia. 
 
 
3.1.8 Aplicação da circunstância agravante do art. 61, II, ‘e’, segunda figura
	Caberia a aplicação da circunstância agravante prevista no art. 61, II,e, segunda parte (ter cometido o crime contra descendente)? 
	Não, pois, caso contrário,estaríamos fazendo uso do chamado bis in idem, pois que a própria redação contida no caput do art. 61 do CP diz serem “circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime”. 
	Na infração penal em estudo, a condição de filho é elementar constitutiva do delito de infanticídio, razão pela qual a pena não poderá ser agravada no segundo momento do critério trifásico previsto pelo art. 68 do CP. 
3.2 Elementos estruturais do tipo legal
“Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”
 3.2.1 Matar
 	
	Todo ser humano tem direito à vida. A proteção à vida, caracterizada como o bem maior do ser humano, tem fundamento na Constituição Federal, que propaga aos demais ramos do ordenamento jurídico esse direito tido como essencial e indispensável ao desenvolvimento da pessoa humana.
O verbo matar, elemento principal do crime de infanticídio, por si só, já indica uma violação contra a pessoa e contra a vida. Ao se ler apenas esta palavra, pode-se detectar a caracterização de um crime contra o ser vivo e consequentemente, contra a vida deste ser vivo. 
 
Considerado como a ação nuclear da figura típica do infanticídio, assim como no delito de homicídio, matar significa destruir a vida alheia, in casu, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe. Tirar a vida de um ser humano significa causar-lhe a morte. Tão difícil é definir a morte, como conceituar a sua antítese, a própria vida.
3.2.2 Sob a influência do estado puerperal
 
É importante o destaque a este termo, essencial para a caracterização do crime de Infanticídio, uma vez que a simples alteração da expressão “sob a influência de”, pode acarretar numa mudança significável em sua tipificação.
Quando o crime de Infanticídio, em seu art. 123 do Código Penal, prevê que, para a tipificação deste artigo, deve-se matar sob a influência do estado puerperal, significa dizer que, caso a mãe (agente) venha a matar no estado puerperal, o infanticídio encontra-se descaracterizado. Isso porque, uma das principais características deste crime é a avaliação de um critério psicofisiológico da agente, isto é, o Infanticídio leva em consideração o desequilíbrio fisiopsíquico da mulher parturiente. Daí a explicação de uma pena mais atenuante que a do homicídio (art. 121, CP).
 
“Trata-se o estado puerperal de perturbações, que acometem as mulheres, de ordem física e psicológica decorrentes do parto”.
 
Estado puerperal “é o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno. Há profundas alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. É uma hipótese de semi-imputabilidade que foi tratada pelo legislador com a criação de um tipo especial. O puerpério é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez. Como toda mãe passa pelo estado puerperal – algumas com graves perturbações e outras com menos -, é desnecessária a perícia”. 
O estado puerperal, como se observa, é um comportamento atribuído a toda mãe na hora do parto. Ocorre que, na maioria das mulheres, essa perturbação psíquica é tão mínima, que não implica em risco para o recém-nascido. Exatamente por isso, não se pode dizer que quando a mãe mata o próprio filho no estado puerperal, ela está sob um estado psíquico fortemente abalado decorrente do parto.
A preocupação do legislador, ao aplicar o termo “sob a influência de”, foi a de determinar que o Infanticídio somente é aplicável, quando a mãe encontra-se dotada de uma perturbação grave, capaz de oferecer riscos a si própria ou a outrem, graças ao seu estado puerperal.
3.2.3 O próprio filho
 
O crime de infanticídio é um crime próprio, em que somentea mãe pode ser sujeito ativo, ou seja, não pode ser praticado por qualquer um. O infanticídio é “crime da genitora, da puérpera”. 
O sujeito passivo, segundo previsão literal do art. 123, é o “próprio filho”, expressão que abrange não só o recém-nascido (aquele que acabou de nascer, já se encontrando desprendido da mãe), como o nascente também (aquele que está nascendo, ainda se encontrando em processo de expulsão), por força da elementar contemplada no próprio dispositivo, que determina o momento da ação (cláusula temporal): “durante o parto ou logo após”.
 
3.2.4 Durante o parto ou logo após
 
Ao determinar a cláusula temporal, o legislador buscou delimitar o período da influência do puerpério. Como bem observou Roberto Lyra, “o que ninguém nega, o que todos reconhecem e proclamam, sem sobra de dúvida, é que, durante o parto ou logo após, há estado puerperal. Não importa se começa antes ou vai além, o fato é que, infalivelmente, com maior intensidade, ocorre durante o parto ou logo após, isto é, no período mencionado pelo Código, podendo ter ou não a indispensável relação com o crime”.
A expressão “durante o parto” indica o momento a partir do qual o fato deixa de ser considerado como aborto e passa a ser entendido como infanticídio, ou seja, o marco inicial para o raciocínio correspondente à figura típica do infanticídio é, efetivamente, o início do parto. Antes do início do parto, a ação contra o fruto da concepção caracteriza o delito de aborto. Isso demonstra que o momento em que se inicia e finda o parto é de extrema importância, uma vez que é por seu intermédio que se pode afirmar estar diante de um delito de aborto, de infanticídio ou de homicídio.
Clinicamente, deve-se saber que a medicina visualiza formas diferentes de início do parto, dependendo da natureza que este assuma. Existem duas espécies diferentes de parto, o parto normal ou natural e o parto cesárea ou tomotocia, que possuem consequentemente, dois momentos distintos de início.
O parto normal ou natural “inicia-se com a dilatação, ampliando-se o colo do útero; a seguir o nascente é impelido para o exterior, caracterizando a fase da expulsão. Por fim, a placenta destaca-se e também é expulsa pelo organismo, sendo esvaziado o útero. Com isso, está encerrado o parto, mesmo que o cordão umbilical ainda não tenha sido cortado”. Há, porém, posicionamento no sentido de que “o parto, a que se refere o texto legal, é o que começa com o período de expulsão, ou, mais precisamente, com o rompimento da membrana amniótica. Antes desse período, a ocisão do feto constitui aborto”.
O parto denominado cesariana, cesárea ou tomotocia, inicia-se com o “ato cirúrgico consistente em incisar o abdome e a parede do útero para libertar o concepto aí desenvolvido”.
Dessa forma, a doutrina tem afirmado que o início do parto pode ocorrer em três momentos, quais sejam: a) com a dilatação do colo do útero, b) com o rompimento da membrana amniótica, c) com a incisão das camadas abdominais, no parto cesariana. 
A expressão logo após traz diversos posicionamentos doutrinários, uma vez que o legislador não fixou prazo para identificar o quantum do logo após o parto que influenciará para a determinação do crime de infanticídio. 
Os doutrinadores Heleno Fragoso, Tourinho Filho e Guilherme de Souza Nucci acreditam que a expressão “logo após” possui caráter de imediatidade. Nucci assim conclui:
 
“a expressão “logo após” encerra imediatidade, mas pode ser interpretada em consonância com a “influência do estado puerperal”, embora sem exageros e sem a presunção de que uma mãe, por trazer consigo inafastável instinto materno, ao matar o filho estaria ainda, mesmo que muitos dias depois do parto, cometendo um infanticídio. O correto é presumir o estado puerperal quando o delito é cometido imediatamente após o parto, em que pese poder haver prova em contrário, produzida pela acusação”.
 
Rogério Greco chega próximo a esse entendimento, ao afirmar que a expressão deve ser entendida à luz do princípio da razoabilidade, uma vez que “a parturiente somente será beneficiada com o reconhecimento do infanticídio se entre o início do parto e a morte do seu próprio filho houver uma relação de proximidade, a ser analisada sob o enfoque do princípio da razoabilidade”.
Contudo, a doutrina, de um modo geral, acredita que se deve dar uma interpretação mais ampla, para poder abranger todo o período do estado puerperal. Magalhães Noronha posiciona-se no sentido de que o período “logo após o parto” encontra-se 
 
“delimitado pela influência do estado puerperal, isto é, aquele estado de angústia, perturbações etc., que justificam o delictum exceptum. A lei não fixou prazo para, como outrora alguns códigos faziam, porém não se lhe pode dar uma interpretação mesquinha, mas ampla, de modo que abranja o variável período de choque puerperal. É essencial que a parturiente não haja entrado ainda na fase de bonança, em que predomina o instinto materno. Trata-se de circunstância de fato a ser averiguada pelos peritos médicos e mediante prova indireta”.
 
Fernando Capez defende o estudo da expressão em cada caso concreto e acredita que “a melhor orientação é aquela que leva em consideração a duração do estado puerperal, exigindo-se uma análise concreta de cada caso. Assim, o delito de infanticídio deve ser cometido enquanto durar o estado puerperal, não importando avaliar o número de horas ou dias após o nascimento, e, se aquele não mais subsistir, não mais poder-se-á falar em delito de infanticídio, mas em delito de homicídio”.
A expressão “logo após o parto” não desafiou a ousadia do legislador de 1940 e nem da comissão revisora para ser alterada, justamente pelo fato de ser incomensurável, o que gera as mais variadas visões e definições acerca do lapso temporal em que dura o estado puerperal, ou mesmo o parto. Surgem assim, entendimentos variados como vimos, como o de que o período dura alguns dias ou a noção de um intervalo de tempo que se estende enquanto perdurar a influência do estado puerperal, cabendo uma análise específica de cada caso concreto, embora esse último seja majoritário.
É o que afirma, por exemplo, o jurista Damásio de Jesus:
 
“A melhor solução é deixar a conceituação da elementar “logo após” para a análise do caso concreto”.
  
3.3 A Forma Culposa no Infanticídio
 
Como o art. 123 do Código Penal prevê como fato típico matar o próprio filho, o dolo no infanticídio consistirá na vontade da mãe de causar como resultado a morte do filho nascente ou recém-nascido (dolo direto) ou assumir o risco desse resultado (dolo indireto).
Está-se, nesse caso, diante dos dois elementos principais do dolo: a vontade e a consciência. A vontade da mãe consiste em querer matar seu filho. A consciência consiste no fato de que ela sabe que estará cometendo um fato típico e antijurídico ao provocar a morte da criança.
Quando se refere ao tipo subjetivo de determinado crime, quer-se procurar saber qual será o comportamento do agente para que este crime seja consumado, ou seja, no tipo subjetivo, a preocupação é com a conduta humana. Portanto, o tipo subjetivo do Infanticídio é o próprio dolo (direto ou indireto), uma vez que, para que ele seja consumado, exige-se que o comportamento do agente seja o de matar o filho, sob a influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto. 
 
Existe grande divergência na doutrina ao analisar a admissão de infanticídio culposo, pelo fato do crime de Infanticídio não trazer previsto em seu tipo legal a forma culposa expressamente, de acordo com o parágrafo único do art. 18 do Código Penal.
Alguns autores defendem a tese de que não há forma culposa, pelo simples fato dela não estar prevista no tipo penal do Infanticídio, em obediência ao art. 18,parágrafo único do Código Penal, que diz que para haver a possibilidade de culpa, esta deve estar expressamente prevista, como é o caso de Paulo Queiroz, Júlio Fabrini Mirabete e Renato Fabrini.
 
	Outros autores acreditam que há, sim, a possibilidadeda mulher vir a matar o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, de forma culposa, contudo, a ela não será imputado delito algum (nem homicídio nem infanticídio). 
A inimputabilidade se justifica pelo perdão judicial, previsto nos arts. 107, inciso IX e 120, ambos do Código Penal, que induz a não aplicabilidade da pena devido às circunstâncias justificadas.
	
O perdão judicial é aquele que, embora o delito esteja perfeito em todos os seus elementos constitutivos (ação ou omissão típica, ilícita e culpável), o magistrado pode deixar de aplicar a sanção penal correspondente, devido a determinadas circunstâncias legalmente previstas.
Sendo concedido na própria sentença ou acórdão, o perdão judicial é causa extintiva da punibilidade e, nos termos do parágrafo único do art. 13 da Lei n.º 9.807/1999 (Lei de proteção às vítimas e testemunhas ameaçadas e a acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração em investigação policial ou processo criminal), “a concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.
Dessa forma, a doutrina que defende a inimputabilidade da mulher no caso de “infanticídio culposo”, assim entende, devido à gravidade do fato, principalmente por ser seu próprio filho e à repercussão social que essa mulher terá de sofrer, o que já é o suficiente para puni-la do acontecido, já que o infanticídio foi cometido sem a intenção da mãe.
Há uma corrente, também defendida por Damásio de Jesus (uma vez que indiretamente está ligada ao perdão judicial) que entende que o crime de infanticídio ocorrerá quando a consciência psíquica decorrente do estado puerperal for reduzida e não, eliminada. Isso quer dizer que, caso a mulher mate seu próprio filho porque o estado puerperal lhe causou extrema perturbação psíquica, ou seja, total perda de sua consciência, ela será inimputável, de acordo com o art. 26 do Código Penal, in verbis: 
 
“Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”
 
Há ainda, o pensamento doutrinário de que, caso a mulher vir a matar a criança agindo culposamente, não se encontrando sob a influência do estado puerperal, responderá ela por homicídio culposo e não por infanticídio.
Em primeiro lugar, porque um dos requisitos objetivos do Infanticídio é que a ação de matar seja cometida por uma mulher que esteja sob a influência do estado puerperal. Não importa que a mãe mate estando no estado puerperal (nesse caso, ela responderia por homicídio) e sim, que ela mate por causa do estado puerperal. Uma vez que a agente não se encontra sob a influência do estado puerperal, não tem lógica o crime de infanticídio, que justifica sua existência pelo fato de que a mãe, durante ou logo após o parto, pode ter uma perturbação psíquica, que a leve a cometer um fato ilícito, gerando uma punibilidade menos grave. 
Em segundo lugar, mais uma vez em observação ao parágrafo único do art.18 do CP, como a mulher que mata culposamente o filho sem a influência do estado puerperal, ainda que presentes todos os outros elementos objetivos do tipo, deve responder por homicídio, lhe seria cabível a forma culposa, uma vez que prevista expressamente para o crime de homicídio (art. 121, § 3º, CP).
Essa posição é adotada por Nélson Hungria, Cezar Roberto Bittencourt, Fernando Capez, entre outros.
 
3.4 Do concurso de pessoas
 
Prevê o art. 123 do atual Código Penal Brasileiro:
 
“Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”:
Pena – detenção, de dois a seis anos.”
 
Como já visto, o crime de infanticídio possui elementares que o caracterizam como sendo próprio ativo e passivo, ou seja, apenas a mãe pode cometê-lo e apenas o filho será a vítima deste tipo.
Apesar de somente a mãe poder ser sujeito ativo principal, pode ocorrer que um terceiro realize o verbo típico (matar) por meio da participação ou concorra para a prática do crime. Indaga-se: Este terceiro seria autor ou partícipe de homicídio ou de infanticídio?
 
Como o legislador do direito penal não especificou o crime cometido por aquele que concorre nas penas do infanticídio, a doutrina preocupou-se em defini-lo, não obstante as muitas divergências que enfrentaram entre si. Para tanto, imagine três situações exemplificativas:
a) Situação 1 - A mãe mata a criança e o pai ajuda (participa com auxílio moral ou material).
b) Situação 2 - A mãe mata a criança e o pai também mata.
c) Situação 3 - O pai mata a criança e a mãe ajuda (sem praticar os atos executórios).
Diante destas três situações, surgem as seguintes indagações: Quando o pai mata ou ajuda a matar, qual seria o crime cometido por ele, uma vez que o crime de infanticídio é próprio e apenas a mãe pode ser sujeito ativo? Teria sentido o pai que auxilia a matar responder por uma pena maior que a da mãe, que, apesar de praticar as elementares do tipo, seria incursa em crime que possui pena menor? Veja:
 
Situação 1:
Conforme visto, o verbo “matar” é o elemento principal do crime, onde o Infanticídio só será consumado se ocorrer a morte do recém-nascido. Pois bem, a mãe, durante ou logo após o parto, mata seu filho com a ajuda do pai. Suponha que o pai estivesse assistindo e estimulando a mãe a matar seu próprio filho (auxílio moral) ou lhe desse ferramentas ou armas que seriam fundamentais para causar a morte da criança (auxílio material). Qual fato típico caberia para o pai? E para a mãe?
Há duas correntes que buscam solucionar esta hipótese:
- Corrente nº. 1:
A corrente doutrinária majoritária acredita que, nesse caso, ambos os pais responderiam pelo art. 123 do Código Penal, ou seja, pelo crime de infanticídio, sendo que o pai o responderia combinado com o art. 29 do Código Penal, que prevê a hipótese de concurso de pessoas.
Assim entende Roberto Lyra, Magalhães Noronha, Frederico Marques, Basileu Garcia, Bento de Faria, Damásio de Jesus e, dentre outros, Fernando Capez, ao dizer que “a ‘circunstância’ de caráter pessoal (estado puerperal), na verdade, não é circunstância, mas elementar; logo, comunica-se ao partícipe”. 
No mesmo sentido, conclui o jurista Rogério Greco:
“Quando é a própria parturiente que, sozinha causa a morte do recém-nascido, mas com a participação de terceiro que, por exemplo, a auxilia materialmente, fornecendo-lhe o instrumento do crime, ou orientando-a como utilizá-lo, ambos, da mesma forma, responderão pelo infanticídio, já que a parturiente atuava influenciada pelo estado puerperal e o terceiro que a auxiliou conhecia essa particular condição, concorrendo, portanto, para o sucesso do infanticídio”. 
- Corrente nº. 2:
A outra corrente, embora minoritária, entende que a influência do estado puerperal não se comunica, e, por isso, o participante deve responder pelo crime de homicídio. Este entendimento foi defendido por Nélson Hungria, Heleno Cláudio Fragoso, Galdino Siqueira, Aníbal Bruno, dentre outros.
Situação 2:
Quando a mãe e o terceiro executam em co-autoria a conduta principal, matando a vítima, há duas correntes que buscam solucionar o impasse.
- Corrente nº. 1:
A corrente majoritária acredita que a gestante que atua influenciada pelo estado puerperal, sem dúvida, responderá pelo infanticídio. O terceiro co-autor, que também executa a ação de matar, da mesma forma, deverá responder pelo mesmo delito, conforme determina o art. 30 do Código Penal.
São adeptos a essa corrente Fernando Capez, Edgard Noronha e Rogério Greco, ao afirmar que “todos aqueles que, juntamente com a parturiente, praticarem atos de execução tendentes a produzir a morte do recém-nascido ou do nascente, se conhecerem do fato de que aquela atua influenciada pelo estado puerperal, deverão ser, infelizmente,beneficiados com o reconhecimento do infanticídio”. 
- Corrente nº. 2:
A corrente minoritária, presidida por Nelson Hungria, acredita que o delito de infanticídio é personalíssimo, sendo incomunicável a influência do estado puerperal. Portanto, entendem que o co-autor do delito, que não a parturiente, deverá responder pelas penas do homicídio.
 Heleno Fragoso diz que o concurso de pessoas no infanticídio é inadmissível, argumentando que “o privilégio se funda numa diminuição da imputabilidade, que não é possível estender aos partícipes. Na hipótese de co-autoria (realização de atos de execução por parte de terceiros), parece-nos evidente que o crime deste será o de homicídio”. 
 
Situação 3:
Considerando o inverso da situação 1, suponha que a mãe estivesse assistindo e estimulando o pai a matar a criança (auxílio moral) ou lhe desse ferramentas ou armas que seriam fundamentais para causar a sua morte (auxílio material). Para tanto, duas correntes buscam identificar o delito cometido de cada um.
- Corrente nº. 1:
Os adeptos a essa corrente afirmam que o terceiro, no caso o pai, deveria responder pelo crime de homicídio e a mãe, como partícipe do crime de homicídio. Ocorre que, não há sentido que a partícipe, que não realizou o núcleo do tipo (não matou, apenas ajudou a matar) responda por homicídio e a mãe que mata a criança responda por infanticídio, cuja pena é mais branda. Nesse caso, acaba por ocorre um desvio subjetivo de condutas e a mãe responde por infanticídio.
Melhor explica Cezar Roberto Bittencourt, ao concluir:
 
“Assim, embora o fato principal praticado pelo terceiro configure o crime de homicídio, certamente a mãe puérpera ‘quis participar de crime menos grave’, como prevê o § 2º do art. 29. Por isso, à luz do disposto nesse dispositivo, há desvio subjetivo de condutas, devendo a partícipe responder pelo crime menos grave do qual quis participar, qual seja, o infanticídio”. 
- Corrente nº. 2:
Essa corrente acredita que tanto o terceiro autor da conduta, quanto a mãe partícipe, devem responder pelas penas do crime de infanticídio. Damásio de Jesus bem se posiciona:
 
“Se o terceiro mata a criança, a mando da mãe, qual o fato principal determinado pelo induzimento? Homicídio ou infanticídio? Não pode ser homicídio, uma vez que, se assim fosse, haveria outra incongruência: se a mãe matasse a criança, responderia por delito menos grave (infanticídio); se induzisse ou instigasse o terceiro a executar a morte do sujeito passivo, responderia por delito mais grave (co-autoria no homicídio).
Segundo entendemos, o terceiro deveria responder por delito de homicídio. Entretanto, diante da formulação típica desse crime em nossa legislação, não há fugir à regra do art. 30: como a influência do estado puerperal e a relação de parentesco são elementos do tipo, comunicam-se entre os fatos dos participantes. Diante disso, o terceiro responde por delito de infanticídio. Não deveria ser assim. O crime de terceiro deveria ser homicídio. Para nós, a solução do problema está em transformar o delito do infanticídio em tipo privilegiado de homicídio”. 
 
	Rogério Greco defende o pensamento de Damásio de Jesus e assim conclui:
 
“Em suma, se o terceiro acede à vontade da parturiente que, influenciada pelo estado puerperal, dirige finalisticamente sua conduta no sentido de causar, durante o parto ou logo após, a morte do recém-nascido ou nascente, em qualquer das modalidades de concurso de pessoas, de acordo com a regra contida no art. 30 do Código Penal, deverá ser responsabilizado pelo delito de infanticídio”. 
		
3.5 O estado Puerperal e a Perícia Médico-Legal
 
A realização de uma perícia médico-legal é essencial para se determinar o crime de infanticídio. Inúmeros exames periciais devem ser elaborados a fim de detectar a prática do delito. Observe então, passo a passo, como podemos definir, por meio de exames médico-legais, se um fato ocorrido pode ser caracterizado como infanticídio ou não. 
 
3.5.1 Estados Fisiológicos do Filho
 
Diagnosticar o tempo de vida do filho no momento em que é morto pela mãe, tem extrema importância para a realização da perícia no infanticídio. Através da identificação do tempo de vida, a perícia pode determinar se o fato ocorrido trata-se de um aborto, uma causa acidental ou um infanticídio. Os estados a serem avaliados são os seguintes: estado de natimorto, de ser nascente, de infante nascido ou de recém-nascido.
 
3.5.1.1 Natimorto
 
Considera-se natimorto ou nado-morto, o feto morto durante o período perinatal, que se inicia a partir da vigésima segunda semana de gestação, quando o peso fetal gira em torno de quinhentos gramas, podendo vir a falecer dentro do útero ou durante o parto, ocasião em que ocorre o óbito fetal.
Óbito fetal consiste na “morte de um produto da concepção ocorrida antes da expulsão ou de sua extração completa do corpo materno, independentemente da duração da gestação. A indicação do óbito fetal é dada pelo fato de que, após a separação do corpo materno, o feto não respire ou mostre qualquer outra evidência de vida, tais como: batimento do coração, pulsação do cordão umbilical ou movimento efetivo dos músculos de contração voluntária”. 
Uma vez comprovado que o feto é natimorto – mais adiante se encontram os métodos para a comprovação , o infanticídio torna-se descaracterizado, vez que considerado crime impossível por absoluta impropriedade do objeto (art. 17 do Código Penal Brasileiro).
 
3.5.1.2 Ser Nascente
 
Considera-se ser nascente aquele que tenha sido expulso total ou parcialmente do orifício externo do útero e que possui todas as características do infante nascido, exceto o fato de não respirar ainda de forma autônoma. 
No infanticídio de ser nascente, as lesões causadoras da morte estão nas partes que se expuseram inicialmente ao mundo e tem caracteres de lesão produzidas “in vitam”.
O infanticídio de ser nascente ocorre “durante o parto”, momento expressamente previsto na legislação para sua tipicidade. Em determinadas legislações penais alienígenas, matar o filho durante o parto pode caracterizar feticídio.
 
3.5.1.3 Infante Nascido
 
O infante nascido é aquele que acabou de nascer, se desprendeu do útero da mãe e respirou. Porém, diferente do recém-nascido, o infante nascido é considerado o infante que ainda não recebeu qualquer tipo de assistências, principalmente quanto à higienização pessoal ou ao tratamento adequado do cordão umbilical.
O infanticídio do infante nascido ocorre, dessa forma, após o parto.
 
3.5.1.4 Recém-Nascido
 
Recém-nascido ou neonato é aquele que, caracterizado pelos vestígios comprobatórios da vida intrauterina, possui um estágio que vai desde os primeiros cuidados após o parto até aproximadamente sete dias contados do nascimento (ponto de vista médico-legal). O recém-nascido apresenta as mesmas características do infante nascido, exceto o estado sanguinolento e o não tratamento do cordão umbilical. 
O art. 134 do Código Penal Brasileiro prevê crime contra o recém-nascido, embora não especifique o período de tempo em que se pode considerar um recém-nascido. Nucci define que “recém-nascido é o ser humano que acabou de nascer com vida, ou seja, que finalizou o parto com vida extrauterina caracterizada pela instalação da respiração pulmonar”. 
Quanto ao termo final da expressão “recém-nascido”, a doutrina diverge no entendimento. Para tanto, verifique algumas posições doutrinárias:
 
a)             O bebê é considerado recém-nascido até a queda do cordão umbilical – nesse sentido, Damásio E. d Jesus e Julio Fabbrini Mirabete; 
b)            Recém-nascido é aquele que nasceu há poucos dias – nesse sentido, E. Magalhães Noronha;
c)             “o limite de tempo da noção de recém-nascido é o momento em que a délivrance se torna conhecida de outrem, fora do círculo da família, pois, desde então, já não há mais ocultar desonra” – nesse sentido, Nélson Hungria; 
d)            Recém-nascido é aquele que nasceu há poucos dias, não ultrapassandoum mês e desde que não se tenha tornado de conhecimento público – nesse sentido, Cezar Roberto Bittencourt e Heleno Fragoso.
  
3.6. Provas de vida extra-uterina autônoma (exames no bebê)
 
Uma vez conhecidos os diferentes estados de vida do filho, o primeiro passo dentre muitos da esfera pericial referente ao infanticídio é determinar se o filho nasceu com vida ou sem vida. Quando a vítima do delito é um ser nascente, desnecessária é a constatação da existência de vida extrauterina autônoma, vez que basta a ocorrência de vida biológica. Já para a configuração do infanticídio de infante nascido ou de recém-nascido, a comprovação da existência de vida extrauterina autônoma é de fundamental importância, já que a violência contra um natimorto constitui crime impossível. 
Tal diagnóstico é feito pela comprovação da respiração através das Docimásias (do grego Dokimasia, Dokimazo, que significa exame, experiência, indagação e são provas baseadas na possível respiração ou nos seus efeitos) ou através das provas ocasionais (como a presença de corpos estranhos nas vias respiratórias, de substâncias alimentares no tubo digestivo, de lesões ou de indícios de recém nascimento).
Cabe ressaltar que o laudo pericial deverá compulsoriamente especificar qual a espécie de Docimásia utilizada para a afirmação conclusiva de que a vítima nasceu com vida, uma vez que o não cumprimento desta formalidade desproverá a perícia médico-legal da necessária fundamentação comprobatória da materialidade do delito (Revista dos Tribunais, volume 554, página 363).
Hélio Gomes leciona que, dentre todas as docimásias respiratórias pulmonares, "a mais antiga e de uso mais difundido é, sem dúvida, a docimásia hidrostática de Galeno. É também a melhor, pela facilidade de execução e de interpretação dos resultados".
Esta docimásia baseia-se na densidade pulmonar, e explica-se pelo fato de que o pulmão que não chegou a respirar possui densidade maior que a água. Já o pulmão que respirou, de forma contrária, possui densidade menor.
3.7 Estado Puerperal
 
	Fernando Capez define o estado puerperal como sendo “perturbações, que acometem as mulheres, de ordem física e psicológica decorrentes do parto. Ocorre, por vezes, que a ação física deste pode vir a acarretar transtornos de ordem mental na mulher, produzindo sentimentos de angústia, ódio, desespero, vindo ela a eliminar a vida de seu próprio filho”.
O estado puerperal existe sempre, durante ou logo após o parto, mas nem sempre produz as perturbações emocionais tão graves que podem levar a mãe a matar o próprio filho. Dessa forma, apesar de a chegada do recém-nascido ser tipicamente considerada uma dádiva para a mulher, a fase do puerpério não a afasta dos transtornos de humor, que podem alterar bruscamente.
Para configurar o delito de infanticídio, é de extrema importância determinar se a mulher é portadora de grave perturbação psíquica, decorrente do estado puerperal. A realização de um exame com o objetivo de se verificar a presença de grave perturbação psicológica na parturiente, capaz de levá-la ao cometimento do gesto extremo, é papel fundamental do perito. 
Não obstante, o exame pericial é muito dificultoso, uma vez que, sendo a perícia normalmente realizada algum tempo depois do parto, não restam, nesta ocasião, quaisquer vestígios deste estado confusional que possam ser detectados. A não ser que o exame seja realizado imediatamente após a consumação do ato, o que é uma hipótese remota é quase impossível a afirmação pericial de que o crime foi cometido sob a influência do considerado estado puerperal.
Por se tratar de avaliação psicológica da parturiente, o índice de certeza absoluta inexiste, visto a impossibilidade de se adentrar na mente de um ser humano e descrever sem alguma sombra de dúvida o que se passa na sua cabeça, não obstante os avanços tecnológicos da medicina legal e psicologia jurídica. É exatamente por isso que o crime de infanticídio é tão criticado. O fato de o Código Penal ter adotado um critério fisiológico para fundamentar a consideração do crime de infanticídio, uma vez que considera fundamental a perturbação psíquica que o estado puerperal pode provocar na parturiente, deixa brechas para uma aplicação muito subjetiva. A parturiente pode chegar a ser privilegiada por um crime cometido, sem que tenha matado seu filho necessariamente sob a influência do estado puerperal, e sim, por outras circunstâncias alheias que a motivaram a praticar tal ato.
3.5. Atualidades 
	Segundo a proposta do Novo Código Penal as principais alterações no crime em comento são as seguintes:
Hoje: Matar o próprio filho durante ou logo após o parto pode resultar em prisão de 2 a 6 anos
Pela proposta: Detenção de 1 a 4 anos. 
Também será penalizado quem induzir, instigar ou auxiliar a mãe a praticar o ato, com reclusão de 6 a 20 anos.
	Outro ponto que chama atenção diz respeito ao fato de que há tribos indígenas que costumam matar recém-nascidos quando estes, por algum motivo, são considerados uma maldição. De acordo com o projeto, tais crianças ficam sem proteção penal, desde que se comprove que o índio agiu “de acordo com os costumes, crenças e tradições de seu povo”. 
4. Aborto
4.1 Generalidades
	A proteção que o Direito concede à vida humana vem desde o momento em que o novo ser é gerado. Formado o ovo, depois embrião e feto, já sobre ele se exerce, para resguardá-lo, a ação da norma penal, tomando-se desde então por um ser humano esse homem em formação.
	A destruição dessa vida nascente, até o momento em que começa o processo do parto, constitui o aborto. A partir do instante em que se inicia o nascimento, o crime passa a ser de homicídio, salvo quando ocorre a circunstância particular que dele faz a figura privilegiada do infanticídio.
	O bem jurídico protegido na incriminação do aborto é a vida do ser humano em formação. E o objeto material do crime é o feto humano vivo em qualquer momento da sua evolução, até o início do parto.
	A ação consiste em toda forma de atividade dirigida a dar morte ao feto. E é com a morte do feto que o crime se consuma. A materialidade desse crime pressupõe a existência de feto vivo e, portanto, uma gravidez em curso.
	Daí a exigência da prova de que o ser em formação ainda vivia quando se praticou ação abortiva e de que em conseqüência dela é que veio a morrer. A morte tem de ser resultado direto das manobras abortivas ou da imaturidade do feto para viver no meio exterior, na expulsão por elas provocada.
	Na definição proposta por Frederico Marques, “para o Direito Penal e do ponto de vista médico-legal, o aborto é a interrupção voluntária da gravidez, com a morte do produto da concepção”. 
	Consuma-se o crime, pois, com a morte do feto, resultante da interrupção da gravidez. Para Edgard Magalhães Noronha (“Direito Penal”, ed. Saraiva 1976, vol. 2/61), não é necessária a expulsão do feto, não sendo esse, portanto, o momento consumativo: “pode haver expulsão sem existir aborto, quando, no parto acelerado, o feto continua a viver, embora com vida precária ou deficiente; pode ser expulso, já tendo, entretanto, sido morto no ventre materno; pode ser morto aí e não se dar a expulsão, e pode ser morto juntamente com a mãe, sem ser expulso. Em todas essas hipóteses, é a morte do feto que caracteriza o momento consumativo”.
	4.1.1 Classificação doutrinária
	
	Crime de mão própria, quando realizado pela própria gestante, sendo comum nas demais hipóteses, quanto ao sujeito ativo. Considera-se próprio quanto ao sujeito passivo, pois que somente o feto e a mulher grávida podem figurar nessa condição. Pode ser comissivo ou omissivo (desde que a omissão seja imprópria), doloso, de dano, material, instantâneo de efeitos permanentes, não transeunte, monossubjetivo, plurissubsistente, de forma livre. 
	4.1.2 Início e término da proteção pelo tipo penal do aborto:
	A vida tem início a partir da concepção ou fecundação, isto é, desde o momento em que o óvulo feminino é fecundado pelo espermatozóide masculino.Contudo, para fins de proteção por intermédio da lei penal, a vida só terá relevância após a nidação, que diz respeito à implantação do óvulo já fecundado no útero materno, o que ocorre 14 dias após a fecundação. 
	Assim, enquanto não houver nidação não haverá possibilidade de proteção a ser realizada por meio da lei penal. Temos a nidação como termo inicial para a proteção da vida, por intermédio do tipo penal do aborto. Portanto, uma vez implantado o ovo no útero materno, qualquer comportamento dirigido finalisticamente no sentido de interromper a gravidez, pelo menos à primeira vista, será considerado aborto (consumado ou tentado). 
	Se a vida, para fins de proteção pelo tipo penal que prevê o delito de aborto, tem início a partir da nidação, o termo ad quem para esta específica proteção se encerra com o início do parto. Portanto, o início do parto faz com que seja encerrada a possibilidade de realização do aborto, passando a morte do nascente a ser considerada como homicídio ou infanticídio, dependendo do caso concreto. 
	O parto tem início com: a) dilatação do colo do útero, b) rompimento da membrana amniótica, ou c) tratando-se de parto cesariana, com a incisão das camadas abdominais. 
	Vale ainda dizer que, podem ocorrer duas espécies de aborto, a saber: 
a) natural ou espontâneo 
b) provocado (dolosa ou culposamente) 
	Ocorre o chamado aborto natural ou espontâneo quando o próprio organismo materno se encarrega de expulsar o produto da concepção. Para fins de aplicação da lei penal, não nos interessa o chamado aborto natural ou espontâneo. 
	Por outro lado, temos o aborto provocado, sendo esta provocação subdividida em: dolosa e culposa, também reconhecida como acidental. 
As espécies dolosas são aquelas previstas nos arts. 124 (auto-aborto ou aborto provocado com o consentimento da gestante), 125 (aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante) e 126 (aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante). 
	Não houve previsão legal para a modalidade de provocação culposa do aborto, razão pela qual, como veremos adiante, se uma gestante, com seu comportamento culposo, vier a dar causa à expulsão do feto, o fato será considerado como um indiferente penal. 
	4.1.3 Bem juridicamente protegido e objeto material
	O bem juridicamente protegido, de forma precípua, por meio dos três tipos penais incriminadores, é a vida humana em desenvolvimento. 
	O objeto material do delito de aborto pode ser o óvulo fecundado, o embrião ou o feto, razão pela qual o aborto poderá ser considerado ovular (se cometido até os dois primeiros meses de gravidez), embrionário (praticado no terceiro ou quarto mês de gravidez) e, por último, fetal (quando o produto da concepção já atingiu os cinco meses de vida intrauterina e daí em diante). 
	4.1.4 Elemento subjetivo
	Os crimes de auto-aborto, aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante e aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante somente podem ser praticados a título de dolo, seja ele direto ou eventual. 
	Também poderá o agente atuar com dolo eventual, uma vez que, ao agredir uma mulher sabidamente grávida, não se importava se essa viesse a abortar o que realmente acontece. Nessa hipótese, deverá responder pelas lesões corporais produzidas na gestante em concurso formal impróprio com o delito de aborto, pois que agia com desígnios autônomos, aplicando-se-lhe, no caso em exame, a regra do cúmulo material de penas. 
	4.1.5 Consumação e tentativa
	Consuma-se o crime com a morte do feto, resultante da interrupção da gravidez. Pode ocorrer dentro do útero materno como ser subsequente à expulsão prematura. 
	
	Fundamental é a prova de que o feto estava vivo no momento da ação ou da omissão do agente, dirigidas no sentido de causar-lhe a morte. 
	
	Não exige a doutrina, para fins de caracterização do aborto, que o feto seja viável, ou seja, que possua uma capacidade de desenvolvimento que o conduza à maturação. 
	
	Na qualidade de crime material, podendo-se fracionar o iter criminis, é perfeitamente admissível a tentativa de aborto. 
Pergunta-se: A gestante que fora surpreendida na sala de espera de uma clínica clandestina poderia responder pela tentativa de aborto? Para nós, o fato seria atípico, pois que estar aguardando para ser atendida, mesmo que para realização de um aborto, não se configura início de execução, mas ato de mera preparação. 
	4.1.6 Causas de aumento de pena
	Por uma impropriedade técnica, a rubrica constante do art. 127 do CP anuncia: forma qualificada. Na verdade, percebe-se que no mencionado artigo não existem qualificadoras, mas sim causas especiais de aumento de pena, ou majorantes, conforme se verifica na sua redação.
 
	Dessa forma, somente no terceiro momento do critério trifásico de aplicação da pena é que o julgador, verificadas as lesões corporais graves ou a morte da gestante, fará incidir o aumento de um terço, ou mesmo duplicar a pena até então encontrada. 
	Ainda merece destaque na redação contida no art. 127 do CP, o fato de que somente terá aplicação a majorante nas hipóteses de aborto provocado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante. Como a autolesão não é punível, à gestante que, realizando o auto-aborto, vier a causar em si mesma lesão corporal de natureza grave, não se aplicará a causa de aumento de pena. 
	Os resultados apontados no art. 127 do CP (lesão corporal grave ou morte) somente podem ter sido produzidos culposamente, tratando-se, na espécie, de crime preterdoloso. Se queria com o seu comportamento inicial, dirigido à realização do aborto, produzir na gestante lesão corporal grave ou mesmo a sua morte, responderá pelos dois delitos em concurso formal impróprio, pois que atua com desígnios autônomos, aplicando-se-lhe a regra do cúmulo material de penas. 
	4.1.7 Prova da vida
	O aborto é um crime que deixa vestígios. Nesse caso, nos termos do art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Contudo, também de acordo com o art. 167 do CPP, não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá supri-lhe a falta. 
	4.1.8 Julgamento pelo Júri, sem a presença da Ré, no delito de auto-aborto 
	O crime de aborto, nas suas três modalidades, deve ser submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, uma vez que a vida é o bem jurídico por ele protegido. Contudo, nem todas as suas modalidades exigem a presença do autor do delito em Plenário do Júri para que se proceda ao julgamento. No crime de auto-aborto, como a pena cominada é a de detenção de 1 a 3 anos, sendo afiançável a referida infração penal, da mesma forma que o delito de infanticídio, não se exige a presença da ré em Plenário, podendo, inclusive, ser realizado o julgamento à sua revelia, conforme determina o §1º do art. 451 do CPP (“Se se tratar de crime afiançável, e o não-comparecimento do réu ocorrer sem motivo legitimo, far-se-á o julgamento à sua revelia). 
	
	Nas demais hipóteses de aborto, torna-se indispensável a presença do réu em Plenário, não podendo o processo seguir, a partir dessa fase, à sua revelia. 
	4.1.9 Pena, ação penal e suspensão condicional do processo 
	
	Tanto no delito de auto-aborto (ou mesmo quando a gestante consinta que nela seja realizado o aborto por terceiro) como no de aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante, em virtude da pena mínima cominada a essas duas infrações penais, tipificadas nos arts. 124 e 126 do CP, será permitida a proposta de suspensão condicional do processo, presentes os seus requisitos legais. Entretanto, no delito de aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante, tal proposta restará inviabilizada se houver a produção de lesões corporais de natureza grave ou a morte da gestante, pois que serão aplicadas as majorantes previstas no art. 127 do CP.A ação penal, em todas as modalidades de aborto, é de iniciativa pública incondicionada. 
	4.1.10 Agressão à mulher grávida 
	Se, agindo com dolo de lesão, agredir uma mulher grávida que, contudo, não venha a abortar, ao agente será aplicada a circunstância agravante prevista no art. 61, II, „h‟, última figura, do CP, ou seja, agrava-se a pena por ter cometido o crime contra mulher grávida. Ocorrendo o aborto como resultado qualificador das lesões corporais por ele praticadas, ou mesmo na hipótese em que o dolo do agente era o de interromper a gravidez, isto é, o dolo de aborto, não será possível a aplicação da circunstância agravante acima mencionada, pois que tais circunstâncias, conforme determina o caput do art. 61 do CP, somente podem agravar a pena quando não constituem ou qualificam o crime.
 
	4.1.11 Gestante que tenta suicídio
	Pode ocorrer que a gestante queira eliminar a própria vida e realize um comportamento dirigido a esse fim. Caso a gestante sobreviva ao atentado contra a própria vida, não ocorrendo, também, a interrupção da gravidez, deverá ser imputado a gestante o delito de tentativa de aborto. Caso haja morte do feto, terá cometido o delito de aborto consumado. 
	4.1.12 Ordem judicial
	A lei penal e a lei processual penal não prevêem em nenhum tipo de formalização judicial no sentido de se obter uma ordem para que sejam levadas a efeito qualquer uma das modalidades do chamado aborto legal. O “senhor da decisão”, nessas hipóteses, será o médico. Verificando que a vida da gestante corre risco, poderá praticar o aborto, documentando sua decisão em papeletas e prontuários, que terão o condão de demonstrar, inclusive pela realização de exames, que a vida da gestante corria risco em caso de manutenção da gravidez. 
	Na segunda hipótese, ou seja, nos casos de gravidez resultante de estupro, para que o aborto seja realizado pelo médico, alem de não ser exigida autorização judicial, não há necessidade de que a gestante tenha dado início a ação penal, ou mesmo que tenha representado nesse sentido. É preciso, contudo, que tenha, de alguma forma, trazido ao conhecimento oficial do Estado o fato de ter sido vítima de um crime de estupro. Sua palavra, segundo entendemos, destituída de qualquer formalização, não pode ser levada em consideração. Esse documento, válido para fins de trazer ao médico a segurança de que precisa para a realização do aborto, poderia ser um simples boletim de ocorrência policial, lavrado pela polícia militar ou pela polícia civil, um exame de corpo de delito feito por órgão oficial do Estado, como o Instituto Médico Legal, ou até a cópia da inicial da ação penal por ela promovida. 
	Se comprovada a falsidade das declarações, a gestante teria que responder pelo crime de aborto, sendo que ao médico seria aplicada a causa de exclusão da culpabilidade correspondente ao erro de proibição indireto, pois que atuava acreditando estar amparado por uma causa de justificação, relativa ao exercício regular de um direito. 
	4.1.13 Concurso de pessoas no delito de aborto
	Adotando uma teoria reconhecida como monista temperada, moderada ou matizada, diz o art. 29 do CP: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. A regra, que sofre algumas exceções, é a de que todos que concorrem para o crime respondam pela mesma infração penal. 
	No crime de aborto existe exceção à regra adotada pela teoria monista. Mediante o confronto dos arts. 124 e 126 do CP, percebemos que se a gestante procura alguém para que nela possa realizar o aborto, o médico que levou a efeito as manobras abortivas responderá por uma infração penal (art. 126 do CP), e a gestante por outra (art. 124 do CP), quando, de acordo com a teoria monista, deveríamos ter uma única infração penal distribuída entre a gestante e o médico, razão pela qual não podemos considerar pura a teoria monista adotada pelo Código Penal, mas sim moderada, temperada ou matizada, dadas as exceções existentes. 
	Merece destaque, também, em sede de concurso de pessoas, a discussão relativa à participação no crime de aborto. Não há qualquer dúvida quanto ao seu cabimento, em qualquer das três modalidades constantes dos arts. 124, 125 e 126 do CP. 
	Se a gestante é induzida por seu namorado a praticar o aborto e se, efetivamente, vier a realizá-lo, este deverá ser responsabilizado penalmente pela sua participação no crime do art. 124 do CP. 
	A questão ganha relevo quando nos deparamos com as causas de aumento de pena previstas no art. 127 do CP. Se, no caso concreto, entendermos, por exemplo, que a participação se deu no comportamento previsto no art. 124 do CP, e se, porventura, vier a gestante, no auto-aborto, sofrer lesões corporais de natureza grave, ou mesmo a falecer, o agente que a induziu não responderá pela participação com sua pena especialmente agravada, pois que a lei afirma, claramente, que a majorante somente incidirá nos dois artigos anteriores ao art. 127, vale dizer, naqueles artigos que prevêem o aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante, e também, o aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante. 
	Ao contrário, se a participação disser respeito a qualquer desses dois artigos (art. 125 e 126 do CP) e se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-los, a gestante sofrer lesões corporais de natureza grave ou se vier a morrer, terão aplicação os aumentos previstos no art. 127 do CP. 
	
4.1.14 Gestante que morre ao realizar o aborto, sendo que o feto sobrevive 
	Podemos, também, trabalhar com a hipótese de que tenha havido a morte da gestante ao se submeter a um aborto, sendo que o feto, mesmo retirado antecipadamente do útero materno, sobrevive. 
	No caso em questão, estaríamos diante de uma tentativa de aborto, cuja pena será especialmente agravada em decorrência da morte da gestante. 
Lesão corporal grave ou morte, como resultados não dolosos, sem a morte do feto, constituirão tentativa da forma qualificada.
	4.2. Espécies
	O nosso Código distingue três espécies de aborto, diferenciadas entre si pela natureza do agente e pela existência ou não de consentimento da gestante: aborto provocado pela própria gestante, por terceiro sem consentimento desta, por terceiro com este consentimento. A severidade da punição aumenta a partir da hipótese mais leve, que alguns chamam aborto simples, que é a de ser o agente a própria gestante, até a mais grave, com a provocação do aborto por terceiro, sem o consentimento da gestante.
	Na primeira espécie, é a gestante que provoca aborto em si mesma. Essa figura punível desdobra-se em duas formas: ou a gestante executa ela mesma o aborto, ou consente que outrem o provoque. Em ambas as hipóteses, para a gestante, a cominação de pena é a mesma.
	Pode a gestante também atuar como autor mediato, promovendo a execução mediante a intervenção de terceiro que age sem culpabilidade, como é o caso em que finge um aborto espontâneo ou acidental incompleto, cujos restos um médico é chamado a eliminar, mas, na realidade, procedendo de boa-fé, provoca o aborto.
	De forma clara, Romeu Almeida Júnior, prevê as seguintes figuras:
O auto-aborto ou o aborto provocado pela própria gestante. (Art.124, 1ª parte);
A ação da gestante em consentir para que outrem lhe provoque o aborto (art.124, 2ª parte);
O aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art.125);
O aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante. (art.126);
O aborto qualificado se resulta lesão corporal de natureza grave ou morte. (art.127);
O aborto necessário, para salvar a vida da gestante, e o aborto sentimental ou humanitário, quando a gravidez resulta de estupro. (art.128).
OBS: O aborto eugenésico sempre lembrado pela doutrina, não tem conotação legal, embora haja posicionamentos jurisprudenciais que o defendam quando houver vários riscos para a integridade do feto.
4.2.1	Auto-aborto ou com o consentimento da gestante.Essa hipótese configura a de um crime próprio, pois apenas a gestante pode figurar como sujeito ativo do crime. Na primeira parte do artigo em tela o terceiro figura enquanto partícipe deve se limitar ao aspecto psicológico da indução ou instigação à gestante, sem, contudo, existir a participação material para tanto.
No que tange a segunda parte do referido artigo o agente é o terceiro, apesar de haver o consentimento da gestante. Em face do que compreende a teoria monista ele deveria responder pelo mesmo artigo. Todavia, em caráter excepcional o terceiro que praticar atos materiais deverá ficar incurso no art.126, ao passo que a gestante responde pelo art.124, 2ª parte.
No tipo penal em estudo dois são os verbos núcleos: provocar e consentir. No que se refere ao segundo aspecto é digno de nota que o consentimento deve ser válido, pois, havendo discordância da gestante, seja real ou presumidamente, o tipo será o do art.125.
	Na hipótese de concordância a gestante permite expressamente ou por atos que demonstrem essa permissão, ou não impede a intervenção do terceiro.
	Deve haver consentimento para que se dê morte ao feto, e só com a morte do feto se consuma o crime, não no momento em que a gestante manifesta a sua permissão. É claro que a mulher que consente deve compreender o fim e a importância daquilo no que consente, de modo a fazer participar a sua consciência e vontade do resultado a que se visa. 
	Não influi o consentimento que não decorre de vontade juridicamente válida, ou porque a mulher que o concede não tinha capacidade para querer com eficácia jurídica, como é o caso da não maior de quatorze anos ou da alienada ou débil mental, ou porque foi obtido por meios que frustram livre determinação da gestante, como fraude, grave ameaça ou violência.
	Pode a gestante ser vítima de fraude, consentir porque induzida em erro pelo ardil que lhe armou o terceiro como, por exemplo, quando este a faz beber uma substância abortiva, convencendo-a de que se trata de medicamento para outro fim, ou quando consegue persuadi-la de que o prosseguimento da gravidez lhe traria, com certeza, grave dano à saúde ou mesmo a morte.
	Também vicia o consentimento a grave ameaça, isto é, o fato de a gestante ceder à manifestação do propósito do agente de causar-lhe ou a pessoa que ela estima dano sério e inevitável, se ela não consentir na intervenção.
	O mesmo acontece se a gestante é submetida à violência, a emprego de força física que obriga a decidir-se pelo consentimento, força física para obter a permissão da gestante, não para executar o próprio ato do aborto.
4.2.2. Aborto praticado por terceiro, sem que haja consentimento da gestante
	
 	Aqui o terceiro age contra a vontade da gestante que também é vítima da ação criminosa. Esse não consentimento poderá se exteriorizar tanto de forma real quanto presumida. Há, nessas hipóteses, a resistência da gestante ou a ocorrência de fraude e por isso a não resistência.
	Nesse tipo de aborto é comum à possibilidade de haver grave ameaça ou violência, caso em que a doutrina vislumbra o concurso formal do crime de aborto com o constrangimento ilegal.
	Nesse caso, ou há uma manifestação da vontade da gestante contrária à prática do aborto, expressa em palavras ou atos, ou a gestante não exprime em qualquer sentido a sua vontade, o que pode ocorrer ainda se ela não tem consciência de que está sendo objeto de um processo de aborto, ou nem sequer conhece o seu estado de gravidez.
	Para Nelson Hungria é o caso mais grave de aborto, por isso mesmo a pena cominada é a mais rigorosa: “não é necessária a negativa expressa da gestante; basta que os meios abortivos tenham sido empregados à sua revelia, ou mesmo ignorando ela achar-se grávida” (“Comentários ao Código Penal”, ed. Forense 1979, vol. V/303).
	Há pena prevista para o terceiro que provoca o aborto sem consentimento da gestante. Se o agente é médico ou parteira a essa pena principal se junta a acessória de incapacidade temporária para o exercício da profissão. O Código prevê ainda que a gestante provoque aborto em si mesma, para ocultar desonra própria. A pena recairá também sobre aquele que provoca o aborto, com o consentimento da gestante para ocultar a sua desonra.
4.2.3. Aborto qualificado
	Seu foco centra-se nas hipóteses dos arts. 125 e 126 não abrangendo a hipótese do art.124 pois se a gestante morre obviamente a punibilidade será extinta, se, por outro lado, resultam-lhe lesões graves, já existe, por assim dizer, verdadeira punição quanto ao seu ato delituoso, dispensando-se o aumento de pena.
 É pacífico na doutrina e jurisprudência pátrias que a natureza jurídica desses delitos apresenta-se como preterdolosa, pois, a intenção precípua de natureza dolosa dirige-se ao aborto, ao passo que os resultados consistentes nas lesões corporais graves ou na morte são penalizados como sendo de natureza culposa.
 No aborto praticado por terceiro, se, do próprio ato de fazer abortar ou dos meios para esse fim utilizados, resulta para a gestante lesão corporal de natureza grave ou morte, temos a forma qualificada dessa espécie punível, com exacerbação das penas, que são aumentadas de um terço até a metade (art. 127 do Código Penal).
4.2.4. Abortos permitidos 
	O Direito reconhece, com função justificativa, situações que configuram um particular estado de necessidade, em que para salvar determinado bem jurídico se faz preciso sacrificar a vida do feto.
	Tem-se admitido certo número de indicações ou critérios em que se justifica a interrupção da gravidez – indicação médica, indicação ética ou emocional, indicação eugênica, indicação social ou econômica, indicação racista. E hoje a tendência que se manifesta, nem sempre digna de aprovação, é para aumentar o número de causas de exclusão da ilicitude do aborto.
	O nosso Código reconhece para excluir a antijuridicidade do aborto as duas primeiras espécies – a indicação médica e a sentimental. Dispõe que não será punido o aborto: a) se não há outro meio de salvar a vida da gestante; b) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante, ou, quando incapaz, do seu representante legal (Art. 128 do Código Penal).
	É o item a o chamado aborto necessário, que depende do consentimento da gestante, pois não se equipara à intervenção cirúrgica, que pode ser levada a efeito contra a vontade do paciente, mas na verdade o médico não necessita do consentimento para intervir. E para Júlio Fabbrini Mirabete “cabe ao médico decidir sobre a necessidade do aborto a fim de ser preservado o bem jurídico que a lei considera mais importante (a vida da mãe) em prejuízo do bem menor (a vida intrauterina)” (ob.cit. pg. 80). O item b é chamado aborto sentimental, também denominado ético ou humanitário.
	Exceção feita aos casos de aborto necessário e sentimental, a lei não autoriza a realização de qualquer outro tipo. “O chamado aborto eugenésico, que ocorre quando há suspeitas de que o filho virá ao mundo com anomalias graves, não é permitido por lei. Mesmo assim, abundam os alvarás judiciais autorizando esse tipo de aborto, quando há comprovada anencefalia (ausência de cérebro), agenesia renal (ausência de rim), abertura de parede abdominal e síndrome de Patau (onde há problemas renais, gástricos e cerebrais gravíssimos)” (César Dario Mariano da Silva, ob.cit. pg. 64).
 4.2.4.1Aborto Terapêutico 
	O aborto terapêutico, segundo definição de Leonídio Ribeiro, - “é o esvaziamento uterino realizado de urgência, pelo parteiro, em circunstâncias excepcionais, nos casos de perigo iminente de vida da gestante, em conseqüência de perturbações graves e irremediáveis do curso normal da gravidez”.
	O Código Penal chamou-o de aborto necessário. Para que seja impunível, exige o art. 128, nº I, além da condição subjetiva de ser praticado por médico, aquela outra de caráter objetivo de não haver outro meio de salvar a vida da gestante.
	Não nos parece admissível o aborto necessário, em nossa legislação penal, sem que existaesse pressuposto objetivo, o qual Custódio da Silveira desdobra em dois requisitos, que são os seguintes: a) que a vida da gestante corra perigo; b) que não haja outro meio de salvá-la. Não se justifica, por isso, o aborto terapêutico, como explicitamente o diz Nelson Hungria, para evitar “apenas dano à saúde”.
	Medida excepcional, que só se pratica porque a lei a admite, a provocação do aborto para salvar a vida da gestante constitui providência extrema de que o médico deve lançar mão, tão-só quando indiscutível a sua necessidade para impedir a morte da mulher. Com os recursos, porém, de que hoje dispõe a ciência médica, cada vez mais diminuem os casos em que o aborto é indicado como providência terapêutica para salvar a gestante da morte.
	Para que exista o aborto como figura delituosa, é necessário: a) que se execute ação capaz por si de produzir o aborto; b) que essa ação se execute com o fim direto de provocar o aborto; c) que de fato se produza o aborto. Infere-se daí que não há delito se a ação pode produzir dois efeitos, um dos quais é o aborto, e não se procura diretamente a ele, mas ao outro fim. 
 4.2.4.2 Aborto Sentimental ou Humanitário 
	Aborto sentimental, ou aborto humanitário, é aquele permitido em legislação para interromper a gravidez de mulher estuprada.
	Nos termos em que situou o Código Penal, no art. 128, nº II, trata-se de fato típico penalmente lícito. Afasta a antijuridicidade da ação de provocar o aborto, por entender que a gravidez, no caso, produz dano altamente afrontoso para a pessoa da mulher, o que significa que é o estado de necessidade a ratio essendi da impunidade do fato típico.
	O aborto decorrente de estupro não é punido. Aceita que foi, porém, a impunidade dessa forma de aborto, deve-se aplicar a lei, no que diz respeito às exigências nela contidas, com o mais absoluto rigor, só admitindo a licitude da ação, quando preenchidos, irrestritamente, os pressupostos exarados na norma permissiva.
	Em primeiro lugar, nem a gestante, e muito menos parteiras ou pessoas sem habilitação profissional, podem provocar o aborto para interromper gestação oriunda de estupro. Em segundo lugar, indeclinável é o consentimento da gestante ou de seu representante legal, como antecedente da operação abortiva. Por fim, indispensável é que o médico tenha elementos seguros sobre a existência do estupro. Faltando um desses requisitos, que seja, o aborto será criminoso.
	Entende-se que a violência ficta autorize a extirpação do feto e a interrupção da gravidez. O preceito permissivo não abrange o aborto honoris causa, mas unicamente o aborto no caso de gravidez resultante de estupro. A lei penal, embora erroneamente, quis evitar, como explica Nélson Hungria, a maternidade odiosa que dê vida a um ser que recordará à mulher, perpetuamente, o horrível episódio da violência sofrida. Ora, não se vai autorizar a morte de um ser humano, de uma pessoa com direitos antecipadamente reconhecidos pela ordem jurídica, em nome de uma fictio júris. Sem a prova da cópula praticada com violência ou grave ameaça (Código Penal, art. 213), não se permite o aborto. E as presunções legais ou as ficções jurídicas não se incluem entre os meios de prova.
	Cumpre ao médico agir com suma cautela, exigindo, por isso, prova concludente do estupro. A vida do nascituro não pode estar sujeita a conjeturas ou simples suspeitas. Sem demonstração convincente da prática do estupro, permitido não é ao médico, praticar o aborto. Se o fizer, responderá pelo crime do art. 124, segunda parte.
	Na hipótese da gestante ser menor e o consentimento provier de seu representante legal o médico que praticou o aborto, sem assegurar-se devidamente da prova do estupro, incorrerá nas penas do art. 125, se a menor não deu também seu consentimento, ou tiver menos de 14 anos. O representante da menor, em qualquer caso, será punido como co-autor.
4.3 Pontos de destaque
4.3.1 Aborto eugenésico – Tal espécie não é prevista pela legislação pátria em termos de permissão. Mesmo diante da possibilidade de a criança nascer com deformidade ou mesmo enfermidade incurável, o CP não exclui a ilicitude da eliminação do produto da concepção.A Jurisprudência, contudo, vem flexibilizando esse posicionamento como acontece com a hipótese de acefalia (ausência total da cabeça).
4.3.2 Prova da gravidez – A orientação dos Tribunais é no sentido de que esta prova deve ser feita através de exame comprobatório e não pela simples confissão da gestante. Essa confissão não supre, pois, a ausência da prova de gravidez.
4.4. Atualidades 
	O problema do aborto no Brasil vem, já há algum tempo, demandando um debate sereno e isento de todo tipo de preconceitos e hipocrisia. De fato, a questão já deixou de ser um tema puramente ético-filosófico para assumir também as proporções de um caso de saúde pública.
	Evidentemente, a liberalização do aborto não é uma questão simples. Com efeito, os riscos tanto do ponto de vista da saúde pública como da ética são enormes. Em primeiro lugar, há que se considerar que uma eventual descriminação dessa cirurgia poderia levar algumas mulheres a descuidarem da contracepção. É claro que uma operação abortiva – sempre traumática e potencialmente perigosa para a mulher – não pode tornar-se um substituto de métodos mais simples e seguros de evitar filhos.
	Da perspectiva ética, os riscos são ainda maiores. De fato, com as modernas técnicas de diagnóstico pré-natal, que permitem a detecção de inúmeras características físicas e genéticas, os eventuais pais de uma criança com graves defeitos congênitos podem decidir por abortar o feto que, se desenvolvesse, certamente teria uma qualidade de vida bastante ruim e traria muitas complicações para os genitores. Casos como esses abrem as portas para distorções bastante perigosas, como o mito da eugenia, de funesta memória. Um dia os pais poderão estar abortando um feto porque queriam uma menina em vez de um menino, no ano seguinte, poderão estar interrompendo uma gravidez porque o bebê não teria o tipo de cabelo ou a cor dos olhos desejados.
	A dificuldade do tema não pode justificar uma permanente postergação desse debate. Dado o caráter profundamente polêmico do aborto, parece bastante improvável que uma decisão seja consensual. Ainda assim, é uma questão cuja importância e urgência a sociedade brasileira não pode ignorar por mais tempo.
	De forma sintética pode-se dizer que as principais alterações quanto ao crime de aborto são:
- Aborto
Hoje: É crime, exceto se houver risco para a vida da mãe ou a gravidez for resultado de estupro.
Pela proposta: Continua sendo crime, mas serão ampliadas as hipóteses de descriminalização:
- Gravidez em caso do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida;
- Anencefalia comprovada ou quando o feto padecer de graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente, em casos atestados em dois meses;
- Por vontade da gestante até a 12ª semana de gravidez, se o médico ou o psicólogo atestar que a mulher não apresenta condições de arcar com a maternidade;
-Redução de penas:
- Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: Hoje, detenção de 1 a 3 anos; proposta, detenção de 6 meses a 2 anos
- Aborto provocado por terceiro: Hoje, reclusão de 3 a 10 anos; pela proposta, de 4 a 10 anos; 
- Criação da figura do aborto consensual provocado por terceiro:
Detenção de 6 meses a 2 anos
	Vejamos abaixo a opinião lúcida do Desembargador Roberval Casemiro Belinati (coordenador-geral do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do TJDFT, e professor universitário de Direito Penal), em palestra proferida em setembro de 2012, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, com a qual concordamos plenamente:
“Verifica-se que o Projeto do Novo Código Penal reduz ainda mais as penas já tão reduzidas. O aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento, atualmente punido com detenção de um a três anos, passa a ter pena de prisão de seis meses a dois anos (art. 125).O terceiro que provoca aborto com o consentimento da gestante, atualmente punido com reclusão de um a quatro anos, passa a sofrer pena de prisão de seis meses a dois anos (art. 126). Se o aborto for provocado sem o consentimento da gestante, o terceiro é punido com prisão, de quatro a dez anos (art. 127). Curiosamente, ele recebe um aumento de pena de um a dois terços se, “em consequência do aborto ou da tentativa de aborto, resultar má formação do feto sobrevivente” (art. 127,§1º). Esse parágrafo parece ter sido incluído para estimular o aborteiro a fazer abortos “bem feitos”, evitando que, por “descuido”, ele deixe a criança com vida e má formada.
	As maiores mudanças, porém, estão no artigo 128. Ele deixa de começar por “não se pune o aborto” e passa a começar por “não há crime de aborto”. O que hoje são hipóteses de não aplicação da pena (escusas absolutórias) passa a ser hipóteses de exclusão do crime. E a lista é tremendamente alargada. Basta que haja risco à “saúde” (e não apenas à “vida”) da gestante (inciso I), que haja “violação da dignidade sexual” (inciso II), que a criança sofra anomalia grave, incluindo a anencefalia (inciso III) ou simplesmente que haja vontade da gestante de abortar (inciso IV). Neste último inciso o aborto é livre até a décima segunda semana (três meses). Basta que um médico ou psicólogo ateste que a gestante não tem condições “psicológicas” (!) de arcar com a maternidade.
 	 A ciência médica ensina que com doze semanas de gestação o bebê já está bem formado. Todos os sistemas orgânicos funcionam. Ele já respira e urina. O corpinho da criança já está bem evoluído e possui até impressões digitais. Quando sua mãe dorme, o bebê também dorme, mas quando a mãe desce uma escada, ele ouve um ruído forte e acorda. Com doze semanas de gestação, o bebê sente dor e é sensível à luz, ao calor e ao barulho. Eliminá-lo não significa destruir um monte de células sem vida humana, conforme alguns afirmam. Significa sim o assassinato de um ser humano inocente e indefeso.
	A Constituição Federal garante a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida.
Não importa se o nascituro apresenta deficiência física, cerebral, anomalia grave, se vai viver somente por alguns instantes, se vai ser rico ou pobre. Em qualquer circunstância o nascituro tem o direito de nascer e de viver, visto que, o direito à vida é cláusula pétrea, que não pode ser modificada por emenda constitucional, por lei ordinária e muito menos por um código penal.
	O aborto, além de ofender a Carta Magna, macula o Código Civil Brasileiro, no seu artigo 2º, que proclama que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
	Antes de nascer, o nascituro já é protegido pelo direito civil, e depois de nascer, será sujeito de direitos e deveres.
	O aborto desrespeita o Estatuto da Criança e do Adolescente, que alerta que “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida”.
	O Estado tem obrigação de oferecer condições para a gestante ter o filho sadio e para que o filho desenvolva-se dignamente. Não tem o direito de oferecer condições para a mãe matar o filho.
	O aborto também ofende a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o Pacto de São José da Costa Rica, que o Brasil acolheu, e que diz que “toda pessoa tem o direito de que respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.
	O extermínio de seres inocentes e indefesos também viola a Convenção sobre os Direitos da Criança, que o Brasil adotou da Assembleia Geral das Nações Unidas. Ela preceitua que “toda criança tem o direito inerente à vida.”
	Igualmente desrespeita o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que também declara que “o direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido por lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.”
	Ora, defender a vida humana não é questão meramente religiosa, como alguns afirmam. Defender a vida humana é respeitar a Deus, é respeitar o semelhante, é observar o direito brasileiro, o direito internacional, é, acima de tudo, amar.
	Além do aspecto jurídico, nenhuma razão social pode justificar a prática do aborto, sendo inaceitável a alegação de que o aborto é necessário para controlar a natalidade, para combater a pobreza, para combater a fome, para combater o desemprego, para melhorar a raça, para solucionar conflito decorrente de infidelidade conjugal, para resolver gravidez não desejada ou para não permitir o nascimento de pessoa com deficiência. Todos esses argumentos são absurdos! Infeliz ainda é a alegação de que a mulher é dona de seu corpo e deve ter liberdade para decidir sobre a continuidade ou não da gravidez. Ora, a mulher é uma pessoa e o feto é outra. Ela tem o dom sagrado de gerar o filho, mas não tem o direito de matá-lo.
	Também não é correta a alegação de que a liberação do aborto no Brasil reduziria a taxa de mortalidade materna, diminuiria o número de abortos e proporcionaria grande economia para os cofres públicos. Se na clandestinidade são praticados milhares de abortos, provavelmente mais de um milhão por ano, imagine o que aconteceria após a liberação?
	A liberação do aborto só iria favorecer a “indústria do aborto” e seria um prêmio para aqueles que desejam se enriquecer, ganhar muito dinheiro com o assassinato de seres inocentes e indefesos.
	Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, paga-se de 100 a 1.200 dólares por um aborto. Imagine uma clínica realizando de 10 a 20 abortos por dia, quanto lucraria com o hediondo crime!
	O Congresso Nacional deve tomar o máximo de cuidado para não ser iludido por aqueles que representam os interesses do poder econômico e desejam fazer fortuna com a liberação do aborto”. 
5. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA
	Na atual Carta Magna, é reconhecida a instituição do Júri com a organização que lhe der a lei, assegurados como princípios básicos: a plenitude do direito de defesa, o sigilo nas votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
	O Júri na atual Constituição encontra-se disciplinado no art. 5º, XXXVIII, inserido no Capítulo dos Direitos e Garantias Individuais.
	Sua finalidade é a de ampliar o direito de defesa dos réus, funcionando como um garantia individual dos acusados pela prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que, em lugar do juiz togado, preso a regras jurídicas, sejam julgados pelos seus pares.
	Como direito e garantia individual, não pode ser suprimido nem por emenda constitucional, constituindo verdadeira cláusula pétrea (núcleo constitucional intangível). Tudo por força da limitação material explícita contida no art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal.
	O Tribunal do Júri é um órgão colegiado heterogêneo e temporário, constituído por um juiz togado, que o preside, e de vinte e um cidadãos escolhidos por sorteio (CPP, art. 433).
	O rito procedimental para os processos de competência do Júri é escalonado. A primeira fase se inicia com o oferecimento da denúncia e se encerra com a decisão de pronúncia (judicium accusationis ou sumário de culpa). A segunda tem início com o libelo e termina com o julgamento pelo Tribunal do Júri (judicium causae). A instrução criminal segue o procedimento comum aos crimes apenados com reclusão.
	Atualmente, inserem-se na competência do Júri os seguintes crimes: homicídio doloso (CP, art. 121), infanticídio (art. 123), participação em suicídio (art. 122) e o aborto (arts. 124 a 127), tentado ou consumado. O procedimento previsto para estes crimes será sempre o mesmo, independentemente de serem apenados com reclusão ou detenção.
	O juiz pode tomar as seguintes decisões ao encerramentodo judicium accusationis: pronúncia, desclassificação, impronúncia e absolvição sumária.
Pronúncia: é uma decisão processual de conteúdo declaratório em que o juiz proclama admissível a imputação, encaminhando-a para julgamento perante o Tribunal do Júri. O juiz-presidente não tem competência constitucional para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, logo não pode absolver nem condenar o réu, sob pena de afrontar o princípio da soberania dos veredictos. Na pronúncia, há um mero juízo de prelibação, pelo qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem penetrar no exame do mérito. Restringe-se à verificação da presença do fumus boni iuris, admitindo todas as acusações que tenham ao menos probabilidade de procedência. No caso de o juiz se convencer da existência do crime e os indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de pronúncia, fundamentando os motivos de seu convencimento. Não é necessária prova plena de autoria, bastando meros indícios, isto é, a probabilidade de que o réu tenha sido o autor do crime.
Desclassificação: a desclassificação ocorre quando o juiz se convencer da existência de crime não doloso contra a vida, não podendo pronunciar o réu, devendo desclassificar a infração para não dolosa contra a vida. Caso venha a desclassificar o delito para não doloso contra a vida, deverá remeter o processo para o juízo monocrático competente, o qual, recebendo o processo, aplicará o procedimento previsto no art. 410.
Impronúncia: é uma decisão de rejeição da imputação para o julgamento perante o Tribunal do Júri, porque o juiz não se convenceu da existência do fato ou de indícios da autoria. Nesse caso a acusação não reúne elementos mínimos sequer para ser discutida. Não se vislumbra nem o fumus boni iuris, ou seja, a probabilidade de sucesso da pretensão punitiva.
Absolvição sumária: é a absolvição do réu pelo juiz togado, em razão de estar comprovada a existência de causa de exclusão da ilicitude (justificativa) ou da culpabilidade (dirimente).
	A sentença é definitiva e faz coisa julgada material. Trata-se de verdadeira absolvição decretada pelo juízo monocrático.
	Trata-se de uma decisão de mérito, que analisa prova e declara a inocência do acusado. Por essa razão, para que não haja ofensa ao princípio da soberania dos veredictos, a absolvição sumária somente poderá ser proferida em caráter excepcional, quando a prova for indiscutível. Havendo dúvida a respeito da causa excludente ou dirimente, o juiz deve pronunciar o réu. Neste sentido, a jurisprudência pacífica do Tribunal de Justiça de São Paulo; “A absolvição sumária do art. 411 do CPP só tem lugar quando a excludente de culpabilidade ou da ilicitude desponte nítida, clara de modo irretorquível, de prova dos autos. Mínima que seja a hesitação da prova a respeito, impõe-se a pronúncia, para que a causa seja submetida ao júri, juiz natural dos crimes dolosos contra a vida, por mandamento constitucional” (RT 656/279).
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
DOS CRIMES CONTRA A VIDA (SEM GABARITO)
01º) (Defensor Público – MG) Quanto aos crimes contra a pessoa, é CORRETO afirmar que 
a) o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio é expressamente previsto como qualificado.
b) o objeto material do infanticídio pode ser coincidente com seu sujeito passivo.
c) o aborto eugênico ou eugenésico está expressamente permitido em nosso Código Penal.
d) o sujeito passivo do crime do art.122 pode ser, também, o menor quando portador de grave moléstia mental que retira, por completo, sua capacidade de discernimento.
e) o motivo fútil é aquele repugnante, ofensivo aos valores morais.
02º) (Promotor de Justiça – SP) Levando em consideração dominantes orientações jurisprudenciais e doutrinárias, é FALSO afirmar que o aborto sentimental ou humanitário prescinde, para ser realizado, da existência de condenação, processo ou mesmo inquérito policial pelo crime de estupro.
a) não pode ser praticado por parteira ou enfermeira, mas apenas por médico.
b) é autorizado nos casos em que há presunção de violência do estupro, bastando, para tanto, prova da causa, ou seja, de ser a gestante menor de 14 anos ou alienada mental.
c) não é autorizado nos casos em que a gravidez é resultante de atentado violento ao pudor, pois o texto legal refere-se unicamente a estupro, impedindo a analogia ou a interpretação extensiva.
d) não necessita, para ser praticado, de autorização judicial, bastando o consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
03º) (Juiz de Direito – PA) Caio dispara uma arma objetivando a morte de Tício, sendo certo que o tiro não atinge o órgão vital. Durante o socorro, a ambulância que levava Tício para o hospital é atingida violentamente pelo caminhão dirigido por Mévio, que ultrapassara o sinal vermelho. Em razão da colisão, Tício falece. Responda : quais os crimes imputáveis a Caio e Mévio, respectivamente ?
a) Tentativa de homicídio e homicídio doloso consumado.
b) Lesão corporal seguida de morte e homicídio culposo.
c) Homicídio culposo e homicídio culposo.
d) Tentativa de homicídio e homicídio culposo.
e) Tentativa de homicídio e lesão corporal seguida de morte.
04º) (Promotor de Justiça – MG) Pedro e João irmãos, nadavam em um lago, momento em que o primeiro começa a se afogar. João, no entanto, permanece inerte, eximindo-se de qualquer intervenção. Pedro, afinal, vem a falecer. A responsabilidade de João será : 
a) Por crime de homicídio doloso, aplicando-se as regras da omissão imprópria.
b) Por crime de homicídio culposo, aplicando-se as regras da omissão imprópria.
c) Pelo crime de perigo, tipificado no art. 132, do Código Penal (perigo para a vida ou saúde de outrem).
d) Por crime de omissão de socorro.
e) Por crime de abandono de incapaz.
05º) (Promotor de Justiça – MG – 2004) Assinale a alternativa INCORRETA:
a) O aborto social ou econômico não é permitido pela lei brasileira.
b) O feto é titular do direito à vida no auto-aborto.
c) O óvulo fecundado não tem a proteção penal.
d) Praticado aborto necessário pela gestante, presente o estado de necessidade.
e) Ocorrendo lesão corporal grave no aborto provocado pela própria gestante, incabível a forma qualificada.
06º) (OAB - MG) O agente NÂO será punido por tentativa de homicídio doloso quando:
a) querendo matar a vítima, utiliza meio relativamente eficaz para a consumação do crime.
b) ocorrer o arrependimento posterior.
c) Embora o agente não soubesse, efetua disparos contra pessoa que morrera minutos antes de enfarto agudo do miocárdio.
d) Na tentativa imperfeita de homicídio.
07º) (Juiz de Direito – PR) Sobre os crimes contra a vida, é CORRETO afirmar :
a) 	É pacífico o entendimento dos tribunais inadmitindo as hipóteses de homicídio qualificado-privilegiado, eis que a qualificação do homicídio repele o privilégio, e vice-versa, independentemente de serem os qualificados de ordem objetiva ou subjetiva.
b) 	O aborto praticado por terceiro com o consentimento válido da gestante enseja a imputação em diferentes tipos penais para a gestante e para o terceiro.
c) 	Se no homicídio culposo as consequências do delito atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária, a lei prevê o dever do juiz deixar de aplicar a pena, fazendo incidir hipótese de perdão judicial.
d) 	O delito do art. 122 (instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio) do Código Penal somente pode ser imputado àquele que tem o dever legal de cuidar do suicida.
08º) (Tribunal de Justiça – DF) Analise as proposições e assinale a única alternativa correta:
I - 	Na morte da companheira infiel há legítima defesa da honra.
II – 	O parentesco não qualifica o homicídio, funcionando como agravante.
III – 	O portador de AIDS que contamina outra pessoa, com intenção de matá-la, responde por homicídio doloso, desde que ocorra morte.
a) Todas as proposições são verdadeiras.
b) Todas as proposições são falsas.
c) Apenas uma das proposições é verdadeira.
d) Apenas uma dasproposições é verdadeira.
e) Apenas uma das proposições é falsa.
09º) (Defensor Público – AC) No que se refere aos crimes dolosos contra a vida, especificamente ao suicídio, considerando que tal hipótese, isoladamente, constitui fato atípico, embora, na visão sociológico, seja classificado como fato social normal, assinale a opção incorreta.
a) 	A tentativa de suicídio é impunível, já que, do ponto de vista da política criminal, seria um estímulo punir o suicida nessa modalidade.
b) 	A autolesão é punível quando o iter criminis percorrido pelo agente se aproximar da hipótese de lesão grave ou gravíssima.
c) 	A hipótese de autodestruição na forma consumada deve ser sempre objeto de investigação em inquérito policial, visando-se apurar a participação de terceira pessoa.
d) 	Devem ser objeto de denúncia somente as hipóteses de instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio.
 
10º) (Juiz de Direito – MG) Assinale as assertivas CORRETAS.
1.	A eutanásia pode ser citada como exemplo de homicídio privilegiado, uma vez que o autor do crime age para abreviar o sofrimento da vítima portadora de doença incurável e desenganada pela medicina.
2.	O homicídio praticado contra velho ou criança torna-o qualificado pela maior dificuldade de defesa da vítima.
3. 	A premeditação, que em muitos casos revela maldade de espírito, não é qualificadora do crime de homicídio.
a) 1,2 e 3.
b) 1 e 2, apenas.
c) 1 e 3, apenas.
d) 2 e 3, apenas.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (QUESTÕES OBJETIVAS)
DOS CRIMES CONTRA A VIDA (COM GABARITO)
1.O crime de homicídio é classificado como:
 	 
a) comum, instantâneo e material.
b) próprio, permanente e formal.
c) comum, instantâneo e formal.
d) próprio, instantâneo e material.
 	 
A resposta certa é a letra a. O crime de homicídio é classificado como:
Comum: pois pode ser praticado por qualquer pessoa;
Instantâneo: pois, uma vez consumado, está encerrado, a consumação não se prolonga;
Material: uma vez que o tipo penal exige a ocorrência do resultado para sua consumação.
2.Responderá por homicídio, com causa de diminuição de pena, o agente que cometer o delito:
 	 
a) impelido por motivo de relevante valor social ou moral.
b) mediante paga ou promessa de recompensa.
c) por motivo fútil.
d) mediante dissimulação.
 	 
A resposta certa é a letra a. Conforme art 121, do CP: "Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
3.O homicídio:
 	 
a) é crime que deixa vestígios, mas a materialidade do delito pode ser provada por testemunhas, dispensando-se o exame de corpo de delito.
b) é crime que deixa vestígios e por isso é necessário o exame de corpo de delito para a prova da materialidade da infração penal.
c) é crime que não deixa vestígios, pois a materialidade do delito é o próprio corpo da vítima.
d) é crime que não deixa vestígios, pois com a morte da vítima não é possível o exame do corpo de delito.
 	 
A resposta certa é a letra b. 
O homicídio é crime que deixa vestígios e, portanto, é necessária a realização do exame de corpo de delito para provar-se a materialidade do crime. Quando possível, a não realização do corpo de delito gera nulidade absoluta do processo (arts. 158 e 564, III, "b", do CPP). Se não for possível a realização do exame, poderá ser feito da forma indireta.
4.Quando o agente, querendo matar a vítima, dispara tiros em direção a ela, mas não a acerta:
 	 
a) não responde por crime nenhum, uma vez que a vítima não sofreu nenhuma lesão.
b) responde por porte ilegal de arma apenas.
c) responde por tentativa de homicídio, pois queria matar a vítima.
d) responde por tentativa de lesão corporal, pois não chegou a lesionar a vítima.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Se o agente dispara tiros em direção da vítima querendo matá-la, mas não a acerta, responde pelo crime de tentativa de homicídio, uma vez que agiu com dolo de matar, não importando se ocasionou ou não lesões na vítima.
5.O homicídio privilegiado é aquele que o agente comete:
 	 
a) por vingança.
b) compelido de relevante motivo pessoal.
c) por influência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima.
d) dominado por violenta emoção logo após injusta provocação da vítima.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
Conforme art 121, do CP: "Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
6.A eutanásia:
 	 
a) é permitida em nosso ordenamento jurídico.
b) é crime de homicídio privilegiado, por ser praticado por um relevante valor moral do agente.
c) é crime de homicídio privilegiado, por ser praticado por um relevante valor social.
d) é crime de lesão corporal com resultado morte.
 	 
A resposta certa é a letra b.
 "(...)O Código Penal Brasileiro não reconhece a imputabilidade do homicídio eutanásico, haja ou não o consentimento do ofendido, mas, em consideração ao motivo, de relevante valor moral, permite a minoração da pena (...)", conforme ensina Julio Fabbrini Mirabete (Manual de Direito Penal, volume II, 25ª edição, pág.34, Editora Atlas).
7.Segundo a maioria doutrinária e jurisprudencial, havendo confronto entre qualificadoras e privilegiadoras, o homicídio privilegiado:
 	 
a) pode ser considerado hediondo.
b) terá a hediondez afastada, tendo em vista que as circunstâncias preponderantes são motivos determinantes do crime, da personalidade e a reincidência, prevalecendo-se as de natureza subjetiva sobre a objetiva.
c) não terá a hediondez afastada, tendo em vista que as circunstâncias preponderantes são motivos determinantes do crime, da personalidade e a reincidência, prevalecendo-se as de natureza objetiva sobre a subjetiva.
d) Nenhuma das alternativas está correta.
 	 
A resposta certa é a letra b.
Segundo maioria doutrinária e jurisprudencial, havendo confronto entre qualificadoras e privilegiadoras, o homicídio privilegiado terá a hediondez afastada, tendo em vista que as circunstâncias preponderantes são motivos determinantes do crime, da personalidade e a reincidência, prevalecendo-se as de natureza subjetiva sobre a objetiva.
8.Assinale a alternativa CORRETA sobre o crime de homicídio qualificado:
 	 
a) será considerado hediondo, consumados ou tentados.
b) será considerado hediondo, apenas se incidirem duas qualificadoras.
c) não será considerado hediondo.
d) será considerado hediondo, apenas na sua forma consumada.
 	 
A resposta certa é a letra a.
O homicídio qualificado é considerado hediondo, conforme art. 1º, da Lei nº 8.072/90: "São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Dec-Lei 2848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §2º, I, II, III, IV e V).
9.Responderá por homicídio qualificado, o agente que cometer o delito:
 	 
a) mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.
b) impelido por motivo de relevante valor social ou moral.
c) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
d) Todas as alternativas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Responderá por homicídio qualificado, consoante art. 121, §2º, do CP:
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultarperigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
10. "A" está agonizando no hospital, sem poder se mexer, e pede que "B" lhe dê veneno para morrer. Nessa hipótese, caso "B" atenda ao pedido de "A":
 	 
a) responderá por crime de instigação ao suicídio.
b) responderá por crime de homicídio qualificado pelo emprego de veneno.
c) responderá por crime de homicídio privilegiado.
d) não responderá por nenhum crime.
 	 
A resposta certa é a letra c.
 "B" pratica eutanásia, motivo pelo qual responderá por homicídio privilegiado, considerando-se que havendo confronto entre qualificadoras (emprego de veneno) e privilegiadoras (relevante valor moral), o homicídio privilegiado terá a hediondez afastada, tendo em vista que as circunstâncias preponderantes são motivos determinantes do crime, da personalidade e a reincidência, prevalecendo-se as de natureza subjetiva sobre a objetiva.
"(...)O Código Penal Brasileiro não reconhece a imputabilidade do homicídio eutanásico, haja ou não o consentimento do ofendido, mas, em consideração ao motivo, de relevante valor moral, permite a minoração da pena (...)", conforme ensina Julio Fabbrini Mirabete (Manual de Direito Penal, volume II, 25ª edição, pág.34, Editora Atlas).
11. No caso de diminuição de pena do homicídio, o juiz poderá reduzir a pena:
 	 
a) de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
b) de 1/8 (um oitavo) a 1/3 (um terço).
c) de 1/9 (um nono) a 1/3 (um terço).
d) Nenhuma das alternativas estão corretas.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Segundo o §1º, do art. 121: "Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço".
12. Assinale a resposta INCORRETA.
 	 
a) O homicídio culposo terá sua pena aumentada, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.
b) O homicídio culposo terá sua pena aumentada, se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato.
c) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
d) O homicídio culposo será punido a título de homicídio doloso, se o agente foge para evitar prisão em flagrante.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
O homicídio culposo terá sua pena aumentada, se o agente foge para evitar prisão em flagrante (art. 121, §4º, do CP).
13. "A", ao sair da garagem de sua residência com seu carro, sem perceber, atropela seu filho de 02 anos, que brincava tranquilamente atrás do veículo, vindo este a falecer. Nessa hipótese, "A":
 	 
a) responderá por homicídio doloso, com pena aumentada, tendo em vista que a vítima era menor de 14 anos.
b) responderá por homicídio culposo, com pena aumentada, pois o crime resultou de inobservância de regra técnica.
c) não cumprirá pena alguma pelo crime, tendo em vista que as consequências da infração o atingiram de forma tão grave que a sanção penal se tornou desnecessária.
d) responderá por homicídio privilegiado, tendo em vista o domínio da violenta emoção.
 	 
A resposta certa é a letra c.
Dispõe o art. 121, §5º, do Código Penal: "Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária".
14. "A" atira visando matar "B", que, no entanto, já estava morto em razão de ataque cardíaco. Nessa hipótese, é correto afirmar que tal conduta configura:
 	 
a) crime impossível ou de tentativa inidônea.
b) crime de homicídio tentado.
c) de vilipêndio ao cadáver.
d) tentativa branca.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
Não é possível matar alguém que já está morto, portanto, a conduta em questão configura crime impossível pela absoluta impropriedade do objeto (art. 17, do CP).
15. "A" dirigindo seu carro, sem a devida prudência, atropela "B" que vem a falecer. "A" deverá:
 	 
a) responder pelo crime de homicídio doloso, tipificado pelo art. 121, "caput", do Código Penal.
b) responder pelo crime de homicídio culposo, tipificado pelo art. 121, §4º, do Código Penal.
c) responder pelo crime de homicídio culposo, tipificado pelo art. 302, do Código de Trânsito Brasileiro.
d) não responderá por nenhum crime, pois não tinha a intenção de matar.
 	 
A resposta certa é a letra c.
Havendo lei que, além da regra geral, traga elementos especiais, aplicar-se-á esta ao caso concreto em virtude do princípio da especialidade.
Dispõe o art. 302, do CTB: "Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: (...)".
16. As câmeras de segurança do Banco Dólar filmaram a ocorrência de furto em sua agência, onde o sujeito aparecia com uma capuz cobrindo o seu rosto. No dia seguinte, o agente do furto mata um funcionário do Banco, pois este seria o único que poderia ter visto sua fisionomia. O homicídio é qualificado:
 	 
a) por motivo torpe.
b) pois foi praticado para assegurar a ocultação.
c) por motivo fútil.
d) pois foi praticado para assegurar a impunidade.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
O crime em tela já havia sido descoberto pelas câmeras do banco, assim, o agente cometeu o homicídio para garantia que a autoria do crime ficasse incógnita e ele não viesse a sofrer nenhuma sanção penal.
17. "A" é inimigo de "B" e decide agredi-lo. Em um certo dia, ao acordar, "A" vai ao encontro de "B" e lhe dá um soco na boca, arrancando-lhe os dentes. Em seguida, decide matá-lo e dispara um tiro fatal em face "B". "A" responde:
 	 
a) por homicídio.
b) por homicídio em concurso material com lesões corporais.
c) por lesão corporal seguida de morte.
d) por homicídio em concurso formal com lesões corporais.
 	 
A resposta certa é a letra a. 
De acordo com o princípio da absorção ou consunção, o crime mais grave absorve o crime de menor gravidade, assim, as lesões corporais ficam absorvidas pelo crime de homicídio, segundo entendimento do Professor Damásio Evangelista de Jesus e do Fernando Capez.
18. Ao praticar "roleta russa", "A" acaba por causar a morte de um de seus amigos que participava da "brincadeira". "A" deverá ser julgado por:
 	 
a) homicídio doloso, pois agiu sob a forma de dolo direto.
b) homicídio culposo, pois agiu sob a forma de culpa consciente.
c) homicídio doloso, pois agiu sob a forma de dolo eventual.
d) homicídio privilegiado pela forte emoção.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Ao "brincar de roleta russa", o agente "A" assume o risco de produzir o resultado, ou seja, a morte de um de seus amigos. Assim, deverá responder por homicídio doloso, pois agiu sob a forma de dolo eventual.
19. Réu condenado pela prática do delito de homicídio qualificado foi preso definitivamente. Depois de ter cumprido parte da pena, requereu transferência para o regime semi-aberto, o que foi negado pelo juiz. Tal decisão está correta?
 	 
a) Não, vez que a progressão do regime prisional é garantia constitucional que abrange qualquer condenação.
b) Sim, vez que o juiz poderá negar a progressão do regime prisional baseando-se na primariedade e antecedentes do réu.
c) Sim, vez que a lei dos crimes hediondos veda a progressão do regime prisional para o crime de homicídio qualificado.
d) Não, pois a progressão, desde que cumprida parte da pena, é direito do condenado, não podendo tal decisão ficar ao arbítrio do juiz.
 	 
A resposta certa é a letra d. 
Mesmo previsto na lei de crimes hediondos, quem pratica homicídio qualificado tem direito à progressão da pena, desde que cumpridos os requisitos legais: "A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado forprimário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente", conforme art.2º, §2º, da Lei nº 8.072/90, com redação dada pela Lei nº 11.464/07.
20. Aquele que recebe dinheiro para praticar um homicídio:
 	 
a) responderá por homicídio simples.
b) responderá por homicídio privilegiado.
c) responderá por homicídio qualificado.
d) não responderá por nenhum crime.
 	 
A resposta certa é a letra c. 
Aquele que mata mediante pagamento responde por homicídio qualificado (art. 121, §2º, I, do CP).
21. Pode ser sujeito ativo de infanticídio 
A) qualquer pessoa que cometa crime de homicídio contra crianças menores de quatorze anos. 
B) apenas os pais de criança com menos de trinta dias. 
C) somente a mãe do recém-nascido. 
D) os pais da criança recém-nascida.
Letra C
22. O agente que, dolosamente, impede o socorro ao suicida que se arrependera do ato extremado e tentava buscar auxílio, comete 
A) crime de omissão de socorro. 
B) crime de homicídio. 
C) crime de induzimento ao suicídio. 
D) fato penalmente irrelevante. 
Letra “B”
 
23. É incorreto afirmar-se que 
A) para a realização do aborto sentimental, é prescindível a existência de autorização judicial. 
B) o namorado que acompanha a gestante que deseja abortar ou paga o aborto criminoso, a pedido dela, comete o crime de auto-aborto na condição de co-autor. 
C) em caso de aborto necessário feito por médico, nenhum crime pratica a enfermeira que o auxiliou. 
D) para a realização do aborto necessário é prescindível o consentimento da gestante ou de seus familiares. 
 
Letra “B”
24. Inexistindo médico em uma longínqua fazenda, é correto dizer-se que, no caso de aborto necessário feito por enfermeira, sem o consentimento da vítima, 
A) é aplicável ao caso a causa de exclusão de criminalidade prevista como aborto necessário. 
B) a enfermeira comete o crime de aborto sem o consentimento da gestante. 
C) a enfermeira deve ser absolvida pela justificativa do estado de necessidade de terceiro. 
D) a enfermeira é beneficiada pelo reconhecimento do exercício regular de direito. 
Letra “C”
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (QUESTÕES DISSERTATIVAS)
DOS CRIMES CONTRA A VIDA (COM GABARITO)
01. No homicídio podemos identificar alguma modalidade de interpretação analógica? Exemplifique.
	Sim. No parágrafo 2.º do art. 121, em seu inciso I, o Código Penal exemplifica dois tipos de motivo torpe e deixa que interpretação analógica identifique os demais.
O mesmo ocorre no inciso III com o perigo comum, e no inciso IV com outro recuso que dificulte ou impossibilite a defesa do ofendido. 
02. Em que hipóteses o homicídio é considerado crime hediondo?
	O homicídio é considerado hediondo na sua forma qualificada, desde que não esteja eivado por nenhum privilégio.
3. Que são qualificadoras e como distinguir as qualificadoras das causas de aumento de pena?
	Qualificadora é uma circunstância legal especial, que apresenta o delito em espécie própria, configurando-o como crime distinto do normal.
As qualificadoras distinguem-se das causas de aumento de pena porque alteram a pena abstratamente cominada ao delito. 
04. Que são atenuantes genéricas e como distinguir uma atenuante genérica de uma causa de diminuição de pena?
	Atenuantes genéricas são aquelas que poderão ser aplicadas a qualquer crime, desde que este se adapte a elas. A distinção se mostra ausente de dúvidas quando se verifica que a causa de diminuição de pena possui um "quantum" determinado para a redução da sanção, enquanto que a atenuante genérica não estipula expressamente a quantidade de pena que deve ser subtraída. 
5. O que são qualificadoras de ordem subjetiva?
	Qualificadoras de ordem subjetiva são aquelas que se referem ao motivo da prática do crime. 
6. O que são qualificadoras de ordem objetiva?
	Qualificadoras de ordem objetiva são aquelas que se referem ao meio como foi praticado o crime (o modo de execução do delito). 
7. No homicídio, indique as qualificadoras de ordem objetiva e subjetiva, respectivamente.
	Qualificadoras de ordem objetiva:
Art. 121, parágrafo 2.º, inciso III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
	Qualificadoras de ordem subjetiva:
Art. 121, parágrafo 2.º, inciso I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – por motivo fútil;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. 
8. É possível a existência de qualificadoras objetivas e subjetivas ao mesmo tempo?
	Sim, é possível a existência de qualificadoras de ordem objetiva e subjetiva ao mesmo tempo, já que uma se refere ao modo de execução e a outra ao motivo de sua prática, respectivamente. 
9. É possível a existência de homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo?
	A doutrina não é pacífica no sentido de aceitar a existência de homicídio qualificado e privilegiado ao mesmo tempo.
Júlio Fabbrini Mirabete, por exemplo, condena a aceitação, estabelecendo que um homicídio qualificado jamais poderá ser privilegiado.
Já Damásio Evangelista de Jesus, Heleno Cláudio Fragoso e Aníbal Bruno, por exemplo, concordam com a existência do homicídio qualificado-privilegiado, desde que as qualificadoras sejam de ordem objetiva, pois as privilegiadoras são sempre de ordem subjetiva, não sendo possível, por exemplo, a prática de um crime por relevante valor moral e ao mesmo tempo por motivo torpe. 
10. Qual a diferença entre motivo torpe e motivo fútil?
	Torpe é o motivo abjeto, desprezível, repugnante e profundamente imoral. Fútil é o motivo sem importância, frívolo, leviano, cuja conseqüência extrema é desproporcional à causa. 
11. A ausência de motivo qualifica o homicídio?
	A jurisprudência é farta no sentido de desconsiderar a ausência de motivo como qualificadora do homicídio. Entretanto, há posições em contrário, considerando-a como motivo fútil. 
12. O ciúme caracteriza motivo fútil ou torpe?
	A jurisprudência dominante caracteriza o ciúme como motivo fútil. 
13. A vingança caracteriza motivo fútil ou torpe?
	Se a causa que a originou é ignominiosa e desprezível, a vingança é considerada motivo torpe, caso contrário, não. Todavia, há decisões em sentido oposto. 
14. É possível a existência de motivo fútil e torpe ao mesmo tempo?
	Não é possível a existência de motivo fútil e torpe no mesmo crime de homicídio pois tratam-se de qualificadoras de ordem subjetiva, que se referem ao motivo da prática do delito e não é possível a incidência de duas qualificadoras de ordem subjetiva no mesmo delito. 
15. Que entende por meio cruel?
	Meio cruel é aquele que sujeita a vítima a graves e inúteis vexames ou sofrimentos físicos e/ou morais. É o meio bárbaro, martirizante, brutal, que aumenta, inutilmente, o sofrimento da vítima. 
16. Diferencie a conexão teleológica da conexão consequencial.
	A conexão teleológica ocorre quando o crime é praticado como meio para a realização de outro delito. Já a conexão consequencial ocorre quando o crime é praticado para encobrir o delito anterior já cometido. 
17. Qual o reflexo, na pena, do reconhecimento de mais de uma qualificadora e como se opera o cálculo?
	Se existir mais de uma qualificadora, apenas uma será considerada como tal (àquela que for preponderante do crime), a outra será considerada agravante, se prevista na lei. 
18. Como diferenciar o homicídio do aborto?
	O crime de homicídio configura-se pela eliminação da vida humana extra-uterina, enquanto que o aborto caracteriza-se pela eliminação de vida humana endo-uterina. 
19. Como diferenciar o crime de homicídio do crime de lesão corporal seguida de morte?
	A diferenciação se faz observando-se o elemento subjetivo do tipo, ou seja, a vontade, a intenção do agente na prática do crime.Se o agente deseja a morte da vítima, fala-se em homicídio, em caso contrário, lesão corporal seguida de morte. 
20. Como diferenciar o crime de homicídio do crime de latrocínio?
	Através do elemento subjetivo do tipo, qual seja, a vontade do agente. 
21. É possível o reconhecimento de crime continuado em sede de homicídio?
	Sim, é possível, levando-se em consideração o parágrafo único do art. 71, que prevê a continuação em crimes contra vítimas diversas, cometidos com violência ou grave ameaça a pessoa. 
22.Diferencie imprudência, negligência e imperícia.
	A imprudência caracteriza-se pela ausência de moderação na realização de um determinado ato, que pode resultar em um mal previsível pelo imprudente.
A negligência configura-se pela ausência de cuidado necessário à execução de um determinado ato, ou seja, pela omissão ou inobservância de dever que competia ao agente realizar.
A imperícia caracteriza-se pela inabilidade do agente em realizar determinado ato, pois ele não possui arte ou técnica para tal. 
23. Qual a diferença entre o crime de aborto e o homicídio culposo no momento do parto?
	A diferença é que no crime de aborto punível a eliminação da vida humana ocorre quando esta se localiza no interior do ventre materno, por vontade da mãe ou de outrem, enquanto que o homicídio culposo consiste na eliminação da vida humana extra-uterina, quando não se objetivava esse resultado, que era previsível e só ocorreu por imprudência, negligência ou imperícia. 
24. Os ofendículos podem configurar homicídio culposo? Por quê?
	Se os ofendículos estiverem dispostos de maneira adequada, com avisos, não configuram o homicídio culposo pois tratam-se de um exercício regular do direito do indivíduo. 
25. Qual a diferença entre o homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor (art. 302, CTB) e o homicídio culposo do Código Penal?
	As penas cominadas para o delito de homicídio culposo na direção de veículo automotor são maiores do que as do Código Penal. Além disso, o Código Brasileiro de Trânsito prevê a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, o que não ocorre no Código Penal.
Em resumo, as diferenças residem nas regras especiais para aquele delito específico que o art. 302, CTB, possui. 
26. Quais são os crimes que determinam a competência do Tribunal do Júri?
	Os crimes que determinam a competência do Tribunal do Júri são os dolosos contra a vida. 
27. Qual a diferença entre auxílio, induzimento e instigação?
	O auxílio é caracterizado pela conduta do agente de prestar ajuda material à vítima, como o fornecimento de meios para a prática do suicídio (arma, veneno etc.), instruções sobre o modo de empregá-los, a criação de condições de viabilidade do suicídio etc.
Já o induzimento consubstancia-se pela iniciativa do agente, que cria na mente da vítima o desejo de suicídio quando esta ainda não pensara nele. O induzimento pressupõe a iniciativa na formação da vontade de outrem.
A instigação configura-se pela conduta do agente de reforçar, acoroçoar, estimular a idéia preexistente de suicídio. 
28. Por que se diz que o crime do art. 122 do Código Penal é um delito de resultado necessário?
	Porque é imprescindível a consumação do crime, ou pelo menos que vítima apresente lesão grave, para que o agente responsável pelo induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio seja punido. 
29. É possível a ocorrência do crime de participação em suicídio em sua modalidade tentada?
	Não é possível a ocorrência do crime de participação em suicídio em sua modalidade tentada, salvo se a vítima sofrer lesões corporais de natureza grave.
30. É possível a participação culposa em suicídio?
	Sim, é possível a participação culposa em suicídio. Entretanto, não se configura em crime, pois sua ocorrência é considerada penalmente irrelevante. 
31. É possível a participação em suicídio por omissão?
	Sim, é possível a participação em suicídio por omissão, nos casos em que o indivíduo tem o dever jurídico de impedir o resultado. Há crime, por exemplo, no caso do diretor de prisão que não obsta a morte do preso pela greve de fome. 
32. Quais são as hipóteses de causa de aumento de pena pertinentes ao crime de participação em suicídio?
	As causas de aumento de pena pertinentes ao crime de participação em suicídio estão configuradas nos incisos I e II do parágrafo único do art. 122, CP, como segue:
I – se o crime é praticado por motivo egoístico: é uma causa de natureza subjetiva. Motivo egoístico é todo aquele que diz com o propósito de obtenção de uma vantagem pessoal.
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência: é uma causa de natureza objetiva. 
33. Que entende por infanticídio?
	Infanticídio é uma modalidade de homicídio privilegiado onde a mulher, sofrendo de insanidade temporária (causada pelo puerpério), mata o próprio filho, durante o processo de parto ou imediatamente após. 
34. O crime de infanticídio é comum ou próprio?
	O crime de infanticídio é próprio, pois só pode ser praticado pela mãe contra o seu próprio filho. 
35. Que entende por estado puerperal?
	É uma insanidade temporária que pode acometer a gestante no momento do processo de parto. 
36. Como diferenciar o infanticídio do aborto?
	O infanticídio é um crime praticado quando o feto já possui vida extra-uterina; já o aborto é um delito cometido apenas quando o nascituro ainda não possui vida extra-uterina, ou seja, antes da ocorrência do parto. 
37. Qual o bem jurídico protegido pelo crime de infanticídio?
	O bem jurídico protegido pelo crime de infanticídio é a vida do feto nascente, infante nascido ou recém-nascido. 
38. É possível a ocorrência do crime de infanticídio em sua modalidade culposa?
	Não é possível a ocorrência do crime de infanticídio em sua modalidade culposa, pois o delito só é punível a título de dolo. 
39. A tentativa de infanticídio é admissível?
	Sim, sendo crime material e admitindo o fracionamento da conduta, enseja a forma tentada. 
40. Existe forma omissiva para o infanticídio?
	Sim, como por exemplo no caso em que a mãe causa a expulsão do feto e deixa que ele sofra uma queda, não realizando nenhum ato impeditivo. 
41. Fale sobre o concurso de agentes no infanticídio.
	Discute-se, na doutrina, se aquele que colabora na prática de um infanticídio responde pelo crime de infanticídio ou pelo de homicídio.
O puerpério é uma condição de caráter pessoal da mãe e, via de regra, não se comunica aos co-autores. Do que se conclui que o co-autor responderia por homicídio.
	Entretanto, é uma condição elementar do crime.
Assim sendo, diante dos termos precisos do art. 30, CP, é inegável a comunicabilidade das condições pessoais quando elementares do crime, a não ser que a lei disponha expressamente em contrário, o que não é o caso.
Portanto, aquele que colabora na prática de infanticídio, responde pelo crime de infanticídio. 
42. Que são circunstâncias?
	Circunstâncias são atos ou fatos descritos na lei que tem influência na repercussão da pena. 
43. Que são circunstâncias de caráter pessoal?
	Circunstâncias de caráter pessoal são atos ou fatos próprios do agente, que não se comunicam aos co-autores, salvo quando elementares do crime. 
44. Como se diferencia um elemento do crime de uma circunstância?
	A diferenciação é realizada do seguinte modo:
Faz-se um retrospecto acerca do crime. Dos fatos, retira-se aquele que não se sabe ser elemento ou circunstância; após essa retirada, se o delito continuar existindo, trata-se de uma circunstância. 
45. Quem pode ser sujeito ativo do crime de infanticídio?
	Quem pode ser sujeito ativo do crime de infanticídio é a mãe que se encontrar sob a influência do estado puerperal. Pode entretanto haver co-autoria ou participação, comunicando-se a ele a circunstância elementar do tipo, em virtude da determinação legal do art. 30, CP.
46. Qual o bem jurídico protegido pelo crime de aborto?
	No caso de auto-aborto e de aborto consensual, o bem jurídicoprotegido é a vida humana em formação.
No caso de aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante, o bem jurídico protegido é a vida humana em formação, a vida e a integridade corporal da mulher grávida. 
47. Classifique as várias modalidades de aborto previstas pelo Código Penal.
	São seis as modalidades previstas:
- auto-aborto;
- aborto consentido pela gestante;
- aborto não consentido pela gestante;
- aborto qualificado;
- aborto necessário;
- aborto sentimental. 
48. Quem pode ser sujeito ativo no crime de aborto?
	Existem várias hipóteses:
- sujeito ativo no crime de auto-aborto é a própria mulher grávida.
- sujeito ativo no crime de aborto consensual é qualquer pessoa, tendo a própria gestante como partícipe.
- sujeito ativo no crime de aborto praticado por terceiro, sem o consentimento da gestante é qual quer pessoa. 
49. Que entende por aborto legal?
	Aborto legal é aquele praticado com autorização da lei, trazendo consigo uma causa de exclusão da antijuridicidade nos casos de aborto necessário e sentimental. 
50. Existe alguma modalidade no crime de aborto onde é reconhecido o preterdolo? Qual?
	Não no crime de aborto mas no delito de lesões corporais, no inciso V do parágrafo 2.º do art. 129, CP, é reconhecido o preterdolo no sentido de que o agente desejou causar lesões corporais, mas fez com que a vítima abortasse. 
51. O chamado aborto eugenésico é permitido no Brasil?
	O aborto eugenésico (aquele executado ante a suspeita de que o ser humano virá ao mundo com anomalias graves) não é permitido no Brasil, já que não existe disposição expressa na lei. 
52. A quem cabe fornecer autorização para a prática do aborto sentimental?
	Não se exige autorização para a prática do aborto sentimental, mas somente o consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
53. Quais os pressupostos básicos para que o médico possa realizar o aborto necessário?
	Os pressupostos básicos para que o médico possa realizar o aborto necessário são os seguintes:
- a verificação da necessidade da realização do aborto em razão do risco de vida para a mãe;
- o Código de Ética Médica aconselha, sempre que possível, a pratica do aborto somente após a consulta a uma junta.
54. Uma enfermeira treinada pode realizar o aborto necessário? Em que condições?
	Não, somente em estado de necessidade. 
55. Como diferenciar o aborto seguido de morte do aborto seguido de homicídio?
	Através do elemento subjetivo do tipo, qual seja, a vontade do agente. No aborto seguido de homicídio, o agente teve a intenção de matar e, portanto, agiu com dolo. O que não ocorre no caso de aborto seguido de morte.
					
CAPÍTULO II
				DAS LESÕES CORPORAIS
1.Generalidades (conceito)
2.Classificação
 2.1 Classificação Legal
 2.2 Classificação Doutrinária
3.Espécies
 3.1 Lesões Graves
 3.2 Lesões Gravíssimas
 3.3 Lesão corporal seguida de morte
 3.4 Lesão corporal privilegiada
 3.5 Lesão corporal culposa
 3.6 Lesão Corporal Culposa Qualificada.
4. Substituição
5. Perdão Judicial
6. Ação Penal
7. Princípio da insignificância, lesões corporais e vias de fato: 
8. Consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude:
1.Generalidades ( conceito) 
	A vida humana como elemento propulsor de todo sistema penal , como se viu linhas atrás, é referencial máximo na escala de valores legal. Ora, a vida se materializa exatamente através do corpo humano, sendo sua integridade física e psíquica uma necessidade para o bom desempenho das atividades referentes a cada pessoa e como tal não poderia deixar de dar especial atenção a legislação penal como se verá nas linhas que seguem.
Conceito: É toda e qualquer ofensa ocasionada à normalidade funcional do corpo ou organismo, seja do ponto de vista anatômico, fisiológico ou psíquico.
Ao lado disso, como bem assinala Hungria, “o crime de lesão corporal consiste em qualquer dano ocasionado por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou a saúde (fisiológica ou mental) de outrem”.
	A proteção jurídica, pois, é voltada à incolumidade do indivíduo, seja do ponto de vista de sua integridade física e fisiopsíquica.
	Pela locução lesão corporal, é possível compreender toda e qualquer espécie de ofensa praticada contra a normalidade funcional do corpo ou organismo humano, albergando-se tanto a visão anatômica como psíquica e fisiológica do organismo. Deste modo, a desintegração da saúde mental também será considerada como lesão corporal, vez que a inteligência, a vontade ou a memória estão atrelados à atividade funcional do cérebro, sendo, inclusive, pelo conhecimento médico, como um órgão dotado de grande importância. “Da mesma forma, entende-se como delito de lesão corporal não somente aquelas situações de ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítimas criadas originalmente pelo agente, como também a agravação de uma situação já existente”.
 
	Ao lado do expendido, o termo outrem empregado no caput do artigo 129 do Código Penal, em decorrência de um exame inicial, pode ser considerado como tão somente o ser humano, vivo. Deste modo, não subsiste a possibilidade de se perpetrar a conduta de lesões corporais em pessoas jurídicas, animais ou, ainda, coisas inanimadas (objetos). Outrem, nos termos propalados pelo tipo penal em exposição, é o ser vivo, logo, excluídos estão os cadáveres, como vítimas da conduta de lesão corporal. Destarte, verifica-se que aquele que agride um cadáver “destruindo parcialmente seu corpo morto, pode, dependendo do elemento subjetivo e da situação em estudo, cometer o crime de destruição de cadáver (art. 211 do CP), vilipêndio a cadáver (art. 212 do CP) ou, mesmo, o delito de dano (art. 163 do CP)”.
 
	Ademais, a concepção de ser vivo deve ser analisada, a fim de compreender a incidência do artigo em comento, notadamente em decorrência das divergências doutrinárias existentes. Nesta senda, a fim de trazer à colação a manifestação doutrinária, Luiz Regis Prado, ao lecionar acerca da lesão corporal, pontua que o objeto será “o ser humano vivo, a partir do momento do início do parto até sua morte”, afastando, em decorrência disso, a possibilidade da conduta ser praticada contra a vida intrauterina, isto é, o feto em formação dentro do útero materno.
	Doutrinariamente, o crime de lesão corporal é considerado comum, logo, qualquer pessoa poderá praticá-lo. “A lei penal não individualiza determinado sujeito ativo para o crime de lesões corporais, razão pela qual qualquer pessoa pode gozar desse status, não se exigindo nenhuma qualidade especial”. Já no que se refere ao sujeito passivo, via de regra, qualquer pessoa poderá ser vítima do crime de lesões corporais, atentando-se, por necessário, para a exceção entalhada no inciso IV do §1º e no inciso V do §2º do artigo 129, os quais exigem que seja mulher em estado gravídico, porquanto a redação dos dispositivos ora aludidos mencionam as hipóteses de aceleração de parto e aborto, respectivamente. Ora, há que se reconhecer que apenas a gestante será considerada como sujeito passivo da conduta delituosa, sendo, nesta situação, descrito como crime próprio. Teles afirma que “quando a ofensa recair sobre o ser humano em formação, sujeito passivo é a coletividade, a sociedade, o Estado, o interesse estatal na preservação da integridade corporal ou da saúde do ser humano em formação”.
	Outrossim, as disposições contidas no §9º do artigo 129 prevê, também, modalidade qualificada referente à violência doméstica, pois a própria dicção legal enumera quem serão os perpetradores da conduta, a saber: ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, quando o agente se prevalece das relações domésticas, de coabitação ou hospitalidade. O crime será considerado próprio em relação ao sujeito passivo, já que somente os elencados no dispositivo legal poderão o crime de lesão corporal, na modalidadeviolência doméstica.
	 Em outros termos, o sujeito passivo da violência doméstica objeto da referida lei é a mulher. Doutro giro o sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação.
 
	 Objetivamente a ação física se manifesta através do verbo “ofender”, representando a lesão de um terceiro. Poderá ser praticado por qualquer meio e em regra de forma comissiva, admitindo-se em caráter menos usual a forma omissiva.
	
 Ao examinar a conduta delituosa vertida no artigo 129 do Código Penal, o dolo está assentado na vontade de produzir um dano ao corpo ou à saúde de outrem, ou, ainda, assumir o risco desse resultado. Tal dolo é denominado, doutrinariamente, como animus laedendi ou nocendi, distinguindo-se, deste modo, da tentativa de homicídio, no qual se verifica a presença do animus necandi, consistente na vontade de matar. Vislumbra-se ainda além do dolo (figura simples), a culpa (figura culposa) e o preterdolo nas formas qualificadas pelo resultado.
	 Por ser o crime material, e o processo executivo ser fracionável admite-se a tentativa e a consumação tem o seu ápice quando da produção da lesão ao corpo e a saúde.
	 De forma clara pode-se resumir os pontos gerais acerca de lesões corporais da seguinte forma :
	Classificação doutrinária
	Crime comum quanto ao sujeito ativo, bem como, como regra, quanto ao sujeito passivo, à exceção, nesse último caso, das hipóteses previstas no inciso IV do §1º (aceleração de parto), no inciso V do §2º (aborto), bem como no §9º (violência doméstica). Crime material, de forma livre, comissivo, omissivo impróprio, instantâneo (em alguma situações, a exemplo da perda de membro, pode ser considerado como instantâneo de efeitos permanentes), de dano, monossubjetivo, plurissubsistente, não transeunte. 
	
Sujeito ativo e sujeito passivo
	A lei penal não individualiza determinado sujeito ativo para o crime de lesões corporais, razão pela qual qualquer pessoa pode gozar desse status, não se exigindo nenhuma qualidade especial. 
	No que diz respeito ao sujeito passivo, a exceção do inciso IV do §1º e do inciso V do §2º do art. 129, que prevêem, respectivamente, como resultado qualificador das lesões corporais a aceleração de parto e o aborto, bem como do §9º, que prevê também a modalidade qualificada relativa à violência doméstica, qualquer pessoa pode assumir essa posição. 
	Nas exceções apontadas (aceleração de parto e aborto), somente a gestante pode ser considerada sujeito passivo, bem como aquele que seja ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, quando prevalece o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, sendo os crimes, nesses casos, entendidos como próprios com relação ao sujeito passivo, pois que os tipos penais os identificam. 
	Objeto material e bem juridicamente protegido
	Bens juridicamente protegidos, segundo o art. 129 do CP, são a integridade corporal e a saúde do ser humano. 
	Objeto material é a pessoa humana. 
	Exame de corpo de delito: 
	Sendo um crime que deixa vestígios, há necessidade de ser produzida prova pericial, comprovando-se a natureza das lesões, isto é, se leve, grave ou gravíssima. 
	Elemento subjetivo: 
	A modalidade simples da figura típica, prevista no caput do mencionado artigo, que prevê o delito de lesão corporal de natureza leve, somente pode ser praticada a título de dolo, seja ele direto ou eventual. 
	O dolo de causar lesão é reconhecido por intermédio das expressões latinas animus laedendi ou animus vulnerandi. 
 
2. Classificação
De acordo com os termos legais estabelecidos no art.129, temos os seguintes tipos de lesões:
I - 	Lesão simples dolosa (art.129, caput)
II - 	Lesão qualificada dolosa (art.129, §§ 1º, 2º e §3º)
III - 	Lesão privilegiada dolosa (art.129, §§ 4º e 5º)
IV - 	Lesão simples culposa (art.129, § 6º)
V - 	Lesão qualificada culposa (art.129, §7º)
 Doutrinariamente são classificadas quanto a sua natureza sendo consideradas graves ou gravíssimas. A lei, por sua vez, só fala em lesões leves, graves e seguida de morte. Adotando-se o critério da exclusão se alcançará às lesões leves, visto que assim se considerarão todas as que não forem graves, gravíssimas ou seguida de morte.
	Dentro desse panorama, devem-se ressaltar as hipóteses legais previstas em cada uma dessas espécies, a saber:
2.1Lesões leves
 A concepção de lesão corporal é proveniente de exclusão, porquanto os §§1º, 2º e 3º do artigo 129 prevêem o crime lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas de morte. Logo, dão azo à conduta em epígrafe as lesões que não causam qualquer dos resultados descritos nos parágrafos supramencionados. Todavia, em se tratando de crimes de lesões corporais leves decorrentes de violência doméstica, a conduta será considerada como qualificada, em consonância com o que preceitua o §9º, introduzido no artigo 129 por meio da Lei Nº. 10.886, de 17 de junho de 2004 e, posteriormente, modificado pela Lei Nº. 11.340, de 07 de agosto de 2006.
 Desta feita, pequenas equimoses ou ainda ínfimos arranhões são considerados como lesões corporais leves, logo, em decorrência da reprimenda cominada, de três meses a um ano de detenção, a tramitação do procedimento observará as disposições contidas na Lei Nº. 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cível e Criminação), estando condicionado à representação da vítima, sob pena de se operar, no prazo de seis (06) meses, a decadência. Insta pontuar que se for conduta qualificada pela violência doméstica, o apostilado não será apreciado na órbita dos Juizados Especiais, nem dependerá de representação, sendo a ação incondicionada, conforme atual entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal. “O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 4.424/DF, deu interpretação conforme aos arts. 12, I, 16 e 41 da Lei n. 11.340/2006, estabelecendo que, nos casos de lesão corporal no âmbito doméstico, seja leve, grave ou gravíssima, dolosa ou culposa, a ação penal é sempre pública incondicionada”.
2.2 Lesões graves (hipóteses previstas no art.129 § 1º do CPB)
Segundo a legislação em vigor abrange as seguintes possibilidades:
►Lesão Corporal Grave: Incapacidade para as Ocupações Habituais por mais de trinta dias (art. 129, §1º, inc. I, do Código Penal)
A primeira consequência que torna a lesão corporal grave é a que produz, como resultado, a incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, como bem assinala o inciso I do §1º do artigo 129. Quadra frisar de a locução ocupação habitual não é interpretado como sinônimo de trabalho diária; ao contrário, tal locução é detentora de um sentido mais amplo, abarcando todas as atividades praticadas pela vítima. Convém lançar mão dos ensinamentos apresentados pelo festejado doutrinador Guilherme de Souza Nucci:
“Ocupação habitual: deve-se compreender como tal toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima, e não apenas sua ocupação laborativa. Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo de renda ou sustentada por outra, deixando de exercitar sua habituais ocupações, sejam elas quais forem – até mesmo de simples lazer –, pode ser enquadrada nesse inciso, desde que fique incapacitada por mais de trinta dias […]
 Assim, não se restringe a interpretação da locução caracterizadora do inciso I a um conceito meramente econômico, mas sim se utiliza de uma ótica funcional, no que se refere a lesão sofrida pela vítima. “Entenda-se como atividade corporal, física ou intelectual, razão pela qual pode ser sujeito passivo tanto o ancião, como a criança ou o adolescente incapacitado de continuar sua preparação funcional”. Nessa senda, para a configuração do crime de lesão corporal grave, com incapacidade para as ocupações habituais por maisde trinta dias, não é necessária a demonstração de prática de atividade laboral exercida pela vítima, visto que o tipo penal refere-se à atividades exercidas com frequência, não necessariamente remuneradas ou profissionais.
 Com efeito, deve-se ter em mente que a atividade empreendida pela vítima tem que ser, segundo a legislação vigente, considerada lícita. Ao lado disso, a disposição em apreço alcança também a incapacidade psíquica e a meramente relativa, esta última consistente no fato da vítima poder executar parte de suas tarefas habituais, mas não a totalidade. 
 O prazo de trinta dias previsto no inciso I do §1º do art. 129 do Estatuto Repressivo, por óbvio, deve ser contado da data do fato e não da lavratura do primeiro exame de corpo de delito, com dispõe o §2º do art. 168 do Código de Processo Penal. Além disso, impõe evidenciar que a ausência de laudo complementar, o qual deve ser realizado após o decurso de trinta dias a contar da data dos fatos, acarreta a desclassificação da conduta de lesão corporal grave para de natureza leve, ante a ausência de prova.
►Lesão Corporal Grave: Perigo de Vida (art. 129, §1º, inc. II, do Código Penal)
 
 Outra consequência que qualifica a lesão corporal como grave é o perigo de vida, previsto no inciso II do §1º do artigo 129, que é considerada como de “natureza culposa, sendo as lesões corporais qualificadas pelo perigo de vida um crime eminentemente preterdoloso, ou seja, havendo dolo no que diz respeito ao cometimento das lesões corporais e culpa quanto ao resultado agravador. Ao lado disso, cuida observar que o Diploma Repressor Penal refere-se ao perigo efetivo, concreto, o qual é constado por meio de exame pericial competente.
 A locução perigo de vida está assentada em uma probabilidade, considerada concreta e efetiva, de morte, em decorrência da lesão ou ainda do processo patológico advindo. Não pode ser confundido com o perigo presumido, sendo imprescindível, para a substancialização da hipótese compreendida no dispositivo em destaque, que se apresente concretamente. Para tanto, o simples prognóstico revela-se inócuo, sendo carecido um diagnóstico e efetivo perigo de vida para a vítima. Destarte, se o laudo pericial não traz em seu bojo a precisão exata o processo que deu azo ao ferimento produzido, a desclassificação para lesões corporais leves será medida que se impõe, segundo entendimento jurisprudencial.
►Lesão Corporal Grave: Debilidade Permanente de Membro, Sentido ou Função (art. 129, §1º, inc. III, do Código Penal)
Num primeiro momento, ao examinar o inciso III do §1º do artigo 129, acobertando-se pelo sentido ofertado pelo Código Penal em vigor, a debilidade permanente deve ser interpretada como sinônimo da diminuição ou ainda o enfraquecimento da capacidade funcional. “Debilidade significa uma redução na capacidade funcional, uma diminuição das possibilidades funcionais da vítima”. 
Neste aceno, prima sublinhar que a locução supracitada, com o escopo de configurar a lesão corporal grave, não deve ser compreendida como algo eterno, sem a possibilidade de retorno à capacidade original. “A melhor ilação do inciso em estudo é aquela que entende a permanência no sentido duradouro, mesmo que reversível após longo tempo”.
 
Afigura-se imperioso assinalar que os membros são os apêndices do corpo, subdivididos em superiores (braço, antebraço e mão) e inferiores (coxa, perna e pé). No que se refere aos dedos, segundo a interpretação doutrinária, são partes integrantes dos membros, logo, a perda de um dedo dá corpo a debilidade permanente da mão ou do pé. Os sentidos “são todas as funções perceptivas do mundo exterior, ou seja, os mecanismos sensoriais por meio dos quais percebemos o mundo exterior (visão, audição, olfato, gosto e tato)”. Logo, se em razão das lesões sofridas acarretar a debilidade de qualquer um deles, a lesão corporal será considerada como grave. 
No que tange à perda de peças dentárias, o entendimento jurisprudencial consolidado acena no sentido que para que seja reconhecida a redução da capacidade funcional é necessária demonstração da perda da capacidade mastigatória. É sabido que a perda de dentes pode reduzir a capacidade funcional da mastigação, mas não causa debilidade permanente. Colhe-se, a fim de sedimentar o expendido, os seguintes entendimentos jurisprudenciais, que, com propriedade, manifestam-se que:
Ementa: Apelação Crime. Lesão Corporal Grave. Prova. Condenação. O agente que, durante desentendimento banal acerca de uma corrida de táxi, agride seu oponente com vários socos, que resultam a perda de dentes e fratura de outros dentes, pratica o delito de lesão corporal. A palavra da vítima, associada à declaração de testemunha presencial que viu o réu agredir o ofendido com socos, são elementos suficientes para a condenação do acusado. Debilidade da Função Mastigatória. Perda de dentes. Desclassificação para Lesão Leve. Para que seja reconhecida a redução da capacidade funcional, no caso, é necessária demonstração da perda da capacidade mastigatória, o que não ocorreu no caso dos autos. É sabido que a perda de dentes pode reduzir a capacidade funcional da mastigação, mas não causa debilidade permanente. Ademais, além de não provada a incapacidade permanente da função mastigatória, a vítima já fazia uso de próteses em substituição a alguns dentes que havia perdido anteriormente ao fato. Após a colocação de novas próteses, não houve demonstração de perda da capacidade mastigatória. Desclassificação do fato para o delito de lesões corporais leves. Parcial Provimento. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Primeira Câmara Criminal/ Apelação Crime Nº 70034652008/ Relator Desembargador Marco Antonio Ribeiro de Oliveira/ Julgado em 14.04.2010)
Ementa: Apelação. Lesões Corporais. Legítima Defesa. Agravante de Motivo Fútil. Embriaguez. Isenção de Custas. Pena Redimensionada. […] 3. A perda de peças dentárias que enfraquece a função mastigatória deve estar demonstrada para configurar a debilidade. Parcial Provimento. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Terceira Câmara Criminal/ Apelação Crime Nº 70029618592/ Relatora Desembargadora Elba Aparecida Nicolli Bastos/ Julgado em 10.09.2009)
 No que pertine à função, deve ser considerada como atuação específica exercida por qualquer órgão, que é a parte do corpo humano que tem determinada capacidade funcional. São enumeradas pela doutrina como funções dotada de grande relevância a respiratória, circulatória, reprodutora, secretora, digestiva, locomotora. Ao lado disso, impende anotar que, tratando-se de órgãos duplos, a perda de um é considerada como debilidade permanente e não a perda da função, já que haverá, ainda, um outro órgão que desempenhe a mesma função, exceto se a vítima não mais possui o outro órgão, razão pela qual passará a conduta ser considerada como gravíssima, na forma do inciso III do §2º do artigo 129. Deste modo, a vítima que perdeu a visão de um dos olhos ou a audição de um dos ouvidos, o crime será considerado como lesão corporal grave, eis que houve a redução da capacidade de enxergar e de ouvir.
Ementa: Lesão Corporal Gravíssima. Perda da Visão de um olho. Desclassificação para lesão corporal grave, decorrente de debilidade permanente do sentido da visão. - A perda de um dos órgãos duplos caracteriza lesão grave, e não gravíssima. Negativa de autoria e de dolo afastadas pela prova. Apelo Provido, em parte. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Primeira Câmara Criminal/ Apelação Crime Nº. 70006902886/ Relator Desembargador Ranolfo Vieira/ Julgado em 03.03.2004)
►Lesão Corporal Grave: Aceleração de Parto (art. 129, §1º, inc. IV, do Código Penal)
 
Considera-se como grave, quando da lesão corporal resultar na aceleração (antecipação) do parto, como bem obtempera o inciso IV do §1º do artigo 129[27]. À guisa de elucidação, a aceleração do parto se dá quando há expulsão do feto antes do termo final da gravidez conseguindo sobreviver,em razão da lesão corporal sofrida pela gestante. O Código vigente abarcou a punição de tal conduta, em decorrência de ser o parto prematuro algo perigoso, tanto para o feto como para a gestante. Todavia, se o agente delituoso desconhecia o estado gravídico da vítima, não subsistirá a qualificadora, porquanto a ignorância era plenamente escusável.
 
Ao lado disso, “a qualificadora da aceleração e parte somente pode ser atribuída ao agente a título de culpa, sendo a infração penal, ou seja, a lesão corporal qualificada pela aceleração de parto, de natureza preterdolosa”. Impende realçar que se o agente delituoso envidava esforços com o escopo de interromper a gravidez com a expulsão do feto, restará consubstanciado o crime de aborto, já que o intento ambicionado era esse, e não de lesão corporal qualificada pela aceleração (antecipação) do parto. À guisa de citação, colhe-se o seguinte precedente:
Ementa: Lesão Corporal. (Art-129, pár-1, inc-IV do CP). Autoria e materialidade comprovadas. Se da lesão corporal sofrida resultar na antecipação do nascimento, responde o agente pelo crime de lesão corporal de natureza grave por aceleração de parto. Negaram provimento ao apelo. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Primeira Câmara Criminal/ Apelação Crime Nº 70000298992/ Relator Desembargador Marcel Esquivel Hoppe/ Julgado em 15.12.1999)
2.3 Lesões gravíssimas (hipóteses previstas no art.129 § 2º do CPB )
	
Como dissemos anteriormente nos termos legais não existe tal nomenclatura, isto, pois, esta é fruto da doutrina hodierna que entende que, embora tenha havido essa omissão legal a natureza dessas lesões, a gravidade de seus efeitos e, consequentemente, de suas sanções justificam tal empreitada.
Nessa medida, vejamos suas possibilidades:
 	Incapacidade permanente para o trabalho. (A disposição legal é incidente sobre o efeito lucrativo da atividade, ao passo que o aspecto de permanência identifica-se com o período em que há impossibilidade avaliativa, sem, contudo, demarcar prazo preciso).
 	Enfermidade incurável. (Entende-se esta como sendo a situação que tenha dependência de um tratamento excepcional ou de difícil ocorrência em que pese às circunstâncias da vítima).
- 	Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.(Na perda há a retirada daqueles, ao passo que na inutilização embora também aconteça uma perda essa é funcional e não anatômica).
- 	Deformidade permanente. (Nessa hipótese o aspecto a ser analisado é estético embora não se restrinja a nenhuma parte do corpo específica como o rosto)
- 	Aborto. (Aqui a vontade precípua do agente é a prática da lesão corporal apesar de não haver ignorância do estado gestacional da mulher. O aborto, pois, é uma conseqüência indireta do evento criminoso).
	Vejamos de forma mais detalhada as hipóteses supracitadas:
 ► Lesão Corporal Gravíssima: Incapacidade Permanente para o Trabalho (art. 129, §2º, inc. I, do Código Penal)
 A incapacidade permanente para o trabalho pode ser produzido tanto dolosa como culposamente. A lei, expressamente, se refere à incapacidade para atividade profissional remunerada. “Distingue-se o que a lei menciona como lesão permanente, em que há uma previsão de que a vítima não vai restabelecer, daquilo que é perpétuo, em que se comprova que não houve o restabelecimento”. O Diploma Penal se alicerça com o simples diagnóstico de que a vítima não mais poderá exercer suas funções laborativas. Na mesma esteira é a lição de Nucci:
“Incapacidade permanente para o trabalho: trata-se de inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. Nesse contexto, diferentemente da incapacidade para as ocupações habituais, exigi-se atividade remunerada, que implique em sustento, portanto, acarrete prejuízo financeiro para o ofendido”.
 Cuida anotar que a incapacidade deve ser permanente, ou seja, duradoura, não sendo, entretanto, necessariamente perpétua. Logo, óbice não há para que se configure a conduta em análise se tempo depois a vítima retorne normalmente para o exercício do trabalho. O importante é a incapacidade de cunho duradouro, sem que haja um tempo preciso para o restabelecimento da vítima.
	►Lesão Corporal Gravíssima: Enfermidade Incurável (art. 129, §2º, inc. II, do Código Penal)
 De início, há que se salientar que enfermidade é um processo patológico em curso, logo, enfermidade incurável é a doença cuja curabilidade não é obtida, no atual estágio de desenvolvimento da medicina. Trata-se de doença que a medicina, em seu atual estado de avanço, não possui cura. 
	 Ao lado disso, cuida anotar que o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais abalizou entendimento que aquele que, tendo conhecimento que é portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), transmite a outrem, terá incorrido na hipótese que torna a lesão corporal gravíssima, para tanto, cita-se o precedente:
Ementa: AIDS – Transmissão por meio de Relação Sexual – Lesões Corporais Gravíssimas - Condenação – Recurso Provido. Está incurso nas sanções do art. 129, § 2º, II, do Código Penal, aquele que, sabendo- se portador do vírus HIV, mantém relação sexual, tornando sua parceira soropositiva. (Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Segunda Câmara Crimina/ Apelação Crime 1.0000.00.342300-1/000/ Relator Desembargador José Antonino Baía Borges/ Julgado em 30.10.2003)
 Em mesmo sentido, Mirabete, com bastante propriedade, já se manifestou que “a transmissão de AIDS (Síndrome de Deficiência Imunológica Adquirida), pelo coito ou por transfusão, enquanto não ocorre a morte da vítima, é crime de lesão corporal grave, que pode ser integrado por dolo direito ou eventual”. Afora isso, a doutrina se posicionou no sentido que a qualificadora em estudo pode ser decorrente tanto de um comportamento doloso como culposo do agente delituoso.
	►Lesão Corporal Gravíssima: Perda ou Inutilização do Membro, Sentido ou Função (art. 129, §2º, inc. III, do Código Penal)
 A qualificadora em epígrafe exige, para sua configuração, a ablação de qualquer membro, inferior ou superior, ou ainda sua completa inutilização. Cuida anotar que ablação pode ser decorrente de mutilação (causada por uma violência), amputação (decorrente de procedimento cirúrgico) com a inutilização, em que o membro ou órgão, conquanto ainda esteja ligado ao corpo, não possui capacidade funcional. Isto é, ainda que exista o membro, fato é que este não possui qualquer capacidade física que viabilize sua utilização. “Se as lesões sofridas pela vítima fazem com que seu braço, embora fisicamente ainda preso ao seu corpo, não possa mais ser utilizado para qualquer movimento rotineiro, o caso será de inutilização”. Aplica-se, com efeito, tal entendimento também no que se referencia à perda de sentido ou função.
	►Lesão Corporal Gravíssima: Deformidade Permanente (art. 129, §2º, inc. IV, do Código Penal)
 Em uma primeira análise cabe realçar que deformar está adstrito ao sentido de modificar esteticamente a forma anteriormente existente, sendo necessário, segundo alguns doutrinadores, que a deformidade seja aparente e tenha o condão de causar constrangimento à vítima. “É necessário, portanto, que a modificação no corpo da vítima seja permanente e visível, causando um dano estético de certa monta e capaz de causar impressão de desagrado, vexatório para a vítima”. A lesão, para caracterizar deformidade permanente, deve ser de tal proporção que cause certo vexame ao portador e desgosto ou desagrado a quem a vê.
 
	Segundo Rogério Greco , a lei penal, ao trazer a qualificadora, não apresenta qualquer exigência no que concerne à visibilidade do dano, ou seja, estando visível para as demais. 
	Fernando Capez, sobre a deformidade permanente, com bastante propriedade, assim disserta: 
“Deformidade é o dano estético de certa monta. Permanente é a deformidade indelével, irreparável. Entende-se por irreparável a deformidade que nãoé passível de ser corrigida pelo transcurso de tempo. Assim, não deixa de configurar deformidade permanente a utilização de artifícios que a camuflem, por exemplo, orelha de borracha, substituição do olho natural por olho de vidro, uso de aparelho ortopédico. [...] Deve o dano estético ser de certa monta, o que exclui, por exemplo, as pequenas cicatrizes, a perda de dente, mas não é necessário que ele atinja os limites de coisa horripilante ou aleijão”. 
 Com efeito, exigi-se que a deformidade seja dotada de significado, devendo trazer consigo modificações visíveis e graves para o corpo da vítima, ainda que tal visibilidade esteja restringida a um número limitado de pessoas. Há, ainda, entendimentos que para o reconhecimento da qualificadora da deformidade permanente é necessário a existência de um dano estético de grau vultuoso, uma desfiguração notável ou chocante. Não há necessidade de que a deformidade seja considerada como algo repulsivo, mas, obrigatoriamente, deve pelo menos criar desagrado ou mal-estar àquele que a observa.
	►Lesão Corporal Gravíssima: Aborto (art. 129, §2º, inc. V, do Código Penal) 
 
	 A hipótese aventada na redação do inciso V do §2º do artigo 129 é o denominado aborto preterintencional, consistente na situação em que o agente delituoso ambiciona apenas causas as lesões corporais à vítima, não tendo o intento de causar o aborto. Mister se faz pontuar que, caso o agente objetive causar aborto, responderá por este crime em concurso com o de lesões corporais. 
	
	Ao lado disso, calha colacionar o seguinte entendimento jurisprudencial:
Ementa: Apelação-Crime. Lesão Corporal Gravíssima. Materialidade e Autoria comprovadas. Aborto causado por queda da vítima, decorrente de violento empurrão desferido pelo réu. Comprovação de que o réu tinha pleno conhecimento da gravidez da vítima. Condenação que se impunha. Apelo improvido. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Primeira Câmara Criminal/ Apelação Crime Nº 70034181941/ Relator Desembargador Manuel José Martinez Lucas/ Julgado em 14.04.2010)
 Além disso, não se exige que o agente delituoso tenha conhecimento da gravidez da vítima para que a conduta reste perpetrada. É imperioso, ainda, colacionar que, para que haja a caracterização do delito, a vítima deverá comprovar seu estado gravídico, não sendo o suficiente a mera alegação de peritos.
2.4 Lesão corporal seguida de morte (art.129, § 3º do CPB)
Tal espécie de lesão é chamada por alguns doutrinadores de homicídio preterdoloso ou preteritencional. Existe dolo quanto ao delito antecedente e culpa quanto ao consequente. 
Em outros termos, a conduta delituosa inserta no §3º do artigo 129 é descrita como crime eminentemente preterdoloso, isto é, a conduta perpetrada pelo agente delituoso deve ter escopo de provocar lesões corporais na vítima, sendo o resultado morte decorrente de culpa. “Caso alguém lesione outrem para ocasionar-lhe a morte, ou assumido o risco de produzir esse resultado, responderá por homicídio consumado, se lograr êxito”. Desse modo, em restando consubstanciado que o resultado não era ambicionado pelo agente delituoso nem tão pouco assumiu o risco de produzir o resultado, responderá ele pelo crime de lesões corporais seguida de morte. Mister se faz assinalar que é imprescindível a existência do nexo de causalidade, ou seja, que a morte da vítima seja resultante da lesão corporal sofrida, quer seja diretamente, quer seja de forma indireta.
 O crime de lesão corporal seguida de morte cinge-se na fusão de duas infrações distintas, a saber: a lesão corporal na qual há a presença do dolo, consistente na vontade do agente em ferir a integridade física de outrem, e a morte, que, conquanto não ambicionado pelo agente delituoso, é decorrente da ação perpetrada por ele, pela qual responderá a título de culpa, já que não era ambicionado o resultado morte da vítima. A distinção entre a lesão corporal e o homicídio culposo deflui de que na primeira conduta o antecedente é um delito doloso, ao passo que, no segundo, é um fato penalmente indiferente ou, quando muito, contravencional. À fim de ilustrar o expendido, se a morte for decorrente de vias de fato, como um empurrão que causa a queda da vítima, restará perpetrado o crime de homicídio culposo.
2.5 Lesão corporal privilegiada (art.129, § 4º do CPB)
 A exemplo do que ocorre no crime de homicídio, a conduta delituosa em estudo, nas modalidades leve, grave, gravíssima e seguida de morte, admite a forma privilegiada, com a consequente redução da sanção cominada, como bem pontua o §4º do artigo 129. Ao lado disso, para que haja o reconhecimento da causa de diminuição da pena insculpida no dispositivo supra é imperioso que o agente perpetrador atue em ressonância a uma das condições estatuídas, a saber: relevante valor social, relevante valor moral ou ainda sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
 A primeira figura exaltada pela redação em comento é o relevante valor social. Conforme é esculpido, esse pilar se funda no interesse público, ou seja, a coletividade tem pleno interesse na corporalização da conduta, assim, aquele que atende tal anseio deve ser beneficiado com uma circunstância que viabiliza a diminuição da pena. São apresentados como exemplos recorrentes, por maciça parte da doutrina, lesionar o traidor da pátria ou ainda lesionar um homicida recorrente. No primeiro caso, é explícito que tal ato busca resguardar a Pátria de uma conduta tão vergonhosa que é praticada por um dos seus filhos. Já a segunda tem como fito primordial assegurar a tranquilidade de todos os cidadãos ante uma situação extrema que atenta contra o ideário de harmonia e de segurança almejado por toda a sociedade. 
Outra situação abarcada no dispositivo supra, faz menção ao relevante valor moral, algo atrelado aos interesses individuais do agente que perpetra a conduta. Logo, tal valor moral é possuidor de grande particularidade, podendo, inclusive, abranger a piedade e a compaixão, ou seja, a conduta tem como motivação o interesse particular do agente. A última figura compreendida na redação do §4º do artigo 129 cinge-se à lesão corporal praticada sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, afigurando-se como requisitos indispensáveis: (a) a existência de uma emoção absorvente; (b) provocação injusta por parte da vítima; e, (c) reação imediata. 
 Faz–se imprescindível que a emoção causada seja violenta a tal ponto que cause um choque no agente delituoso, assim, aquele que age pautado na frieza não pode se valer desse privilégio, visto que premeditou o resultado ambicionado. No que atina a injusta provocação ela se traduz como algo antijurídico (vedado pelo Código Penal Nacional) ou mesmo sem um motivo razoável que a sustente. São apresentados como exemplos mais corriqueiros que motivam a violenta emoção: a injúria real; o marido que surpreende a mulher em flagrante de adultério, eliminando-a e ao amante em evidente exaltação emocional; aquele que é agredido momentos antes pela vítima.
2.6 Lesão corporal culposa (art.129, § 6º do CPB)
Esse tipo abrange as lesões corporais leves, graves e gravíssimas.
O artigo 129, em seu §6º, pune também a lesão corporal causada culposamente, logo, se da imprudência, negligência ou imperícia do agente resultou lesão corporal na vítima, o agente será punido com detenção, que oscilam de dois meses a um ano. “Exige-se […] que estejam presentes todos os requisitos necessários à configuração do delito culposo, devendo o julgador realizar um trabalho de adequação à figura típica, haja vista tratar-se de tipo penal aberto”. Ao lado disso, insta anotar que a lesão corporal culposa não leva em consideração a gravidade da lesão, que só será considerada na fixação do quantum da pena. 
 Quadra realçar que se a lesão corporal culposa for perpetrada na direção de veículo automotor, em virtude do corolário da especialidade, ser-lhe-áaplicada as disposições contidas no artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro. Em razão da pena cominada ao delito contido no dispositivo supra, o processado gozará dos institutos albergados na Lei Nº 9.099/1995, podendo, inclusive, o magistrado propor ao denunciado outras condições que entender pertinente ao caso concreto, conforme entendimento pacificado pela jurisprudência pátria, a exemplo do colhido:
Ementa: Habeas Corpus. Lesão Corporal Culposa na direção de veículo automotor. Suspensão condicional do processo. Afastamento das condições impostas. Descabimento. Afora as condições elencadas nos incisos do §1º do art. 89 da Lei nº 9.099/95, pode o magistrado propor ao denunciado outras condições que entender pertinentes, desde que se mostrem adequadas ao fato e observem à situação pessoal do acusado. De outro lado, o pagamento de prestação social ou a prestação de serviços à comunidade não são penas antecipadas, bem como não ofendem ao princípio constitucional da presunção de não-culpabilidade, na medida em que a suspensão condicional do processo é benefício oferecido ao denunciado e, se aceito, obsta o prosseguimento do persecutio criminis. Ademais, acaso descumpridas as condições aceitas pelo réu, a consequência será a revogação do benefício e prosseguimento da ação penal, não havendo falar em punição antecipada, porquanto ao final da persecução penal poderá o indigitado, inclusive, ser absolvido. Negado seguimento. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Sétima Câmara Criminal/ Habeas Corpus Nº. 70046377891/ Relatora Desembargadora Rosane Ramos de Oliveira Michels/ Julgado em 28.11.2011).
 Tal como ocorre no crime de homicídio culposo, será possível o emprego do perdão judicial, se as consequências da infração atingiram o agente delituoso de forma tão grave que a sanção penal se torna desnecessária, como bem assinala o §8º do artigo 129. Trata-se de hipótese em que o juiz poderá, repita-se, conceder o perdão judicial, podendo, ainda, assinalar que as consequências podem ser tanto físicas, como ferimento do agente, ou morais, a exemplo da morte ou ainda lesão de parentes ou pessoas com quem o agente tinha afinidade.
2.7 Lesão corporal culposa qualificada (art.129, §7º do CPB)
Aqui a pena será aumentada se ocorrentes as hipóteses previstas no art.121, § 4º.
2.8 Lesão corporal por meio de violência doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004).
 
 A Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, que implementou mecanismos para coibir a violência em âmbito doméstico e familiar contra a mulher, inseriu o §11 no artigo 129, acrescentando mais uma causa especial de aumento de pena, quando a conduta constante no §9º for perpetrada contra pessoa portadora de deficiência. Pois bem, por pessoa portadora de deficiência deve-se dispensar uma interpretação jungida no Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1.999, que regulamentou a Lei Nº 7.853, de 24 de outubro de 1.989, calcando a acepção de deficiência como a perda da normalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que tem o condão de gerar incapacidade para o desempenho de atividade, dentro dos padrões considerados como normal pelo ser humano. Desta feita, a deficiência é a física, auditiva, visual e mental.
 Igualmente, o §7º do artigo 129 traz ainda que será a pena aumentada, em um terço, se a lesão for perpetrada contra menor de 14 (quatorze) anos ou maior de 60 (sessenta) anos. Trata-se de “hipótese de lesão corporal agravada por considerar-se que a vítima, nesses casos, tem maiores dificuldades de se defender do que um adulto”. Além disso, é dispensada uma maior censurabilidade na conduta perpetrada contra uma criança ou um idoso. Com efeito, se restar devidamente comprovado pelo agente delituoso o erro no que concerne às condições pessoais, a criança aparentar idade superior a quatorze anos e o idoso idade menor de sessenta anos, será excluída a agravação da pena. Havendo dúvida, deverá a mesma ser sanada por documento hábil.
 A Lei Nº 10.886, de 17 de junho de 2.004, inseriu no artigo 129 os §§9º e 10º, inaugurando, por meio do primeiro dispositivo, o delito de violência doméstica. Cuida assinalar que a conduta exaurida nos parágrafos ora colacionados não se aplica tão apenas às situações em que mulheres forem vítimas, mas a todas pessoas, sejam do sexo masculino ou feminino, que se adequem às hipóteses trazidas à baila pelo tipo penal em apreço. Cuida realçar que, quando a mulher for vítima de violência doméstica ou familiar, apresentando-se, desta sorte, como vítima da conduta perpetrada, tal circunstância acarretará tratamento mais severo ao autor da infração delituosa. Prima pontuar, ao lado disso, que, por expressa disposição consagrada na Lei Nº 11.340/2006, as condutas nomeada como violência doméstica ou familiar não serão passíveis de ter sua marcha processual no microssistema dos Juizados Especiais, mesmo que a pena cominada à conduta seja inferior a 01 (um) ano.
 Aliás, há que se salientar que a Lei Maria da Penha é clara quando aduz à impossibilidade de aplicação da Lei Nº 9.099/1995 e de seus institutos às condutas delituosas praticados com violência doméstica e familiar contra mulher. Ademais, mesmo ocorrendo a hipótese de lesão corporal leve esta será considerada como qualificada, “por isso, de acordo com a posição majoritária da doutrina, seria possível a aplicação das penas substitutivas previstas no art. 44 do Código Penal”. Aliás, este é entendimento pacificado dos Tribunais de Justiça, como se colaciona:
Ementa: Habeas Corpus. Lesão Corporal. Violência Doméstica. Suspensão Condicional do Processo. Inaplicabilidade da Lei N.º 9.099/95. Orientação do Pretório Excelso no sentido da constitucionalidade do art. 41 da Lei N.º 11.340/2006. Não Cabimento. Substituição da Pena Privativa de Liberdade por Restritivas de Direitos. Impossibilidade. Crime praticado com Violência à Pessoa. Não Preenchimento do requisito previsto no inciso I do art. 44 do Código Penal. Constrangimento ilegal não evidenciado. Ordem Denegada.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido da inaplicabilidade da Lei n.º 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica ou familiar, em razão do disposto no art. 41 da Lei n.º 11.340/2006. Precedentes.
2. Incabível, na hipótese, a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, tendo em vista que o Paciente não preenche o requisito previsto no art. 44, inciso I, do Código Penal, pois, não obstante a pena imposta tenha sido inferior a 4 (quatro) anos, trata-se de delito cometido com violência contra a vítima, o que impossibilita a pretendida substituição.
3. Ordem denegada.
(Superior Tribunal de Justiça – Quinta Turma/ HC 192.417/MS/ Relatora Ministra Laurita Vaz/ Julgado em 06.12.2011/ Publicado no DJe em 19.12.2011)
 Contudo, se a vítima (sujeito passivo) for mulher, frise-se, a substituição não poderá importar na aplicação de cesta básica ou outra prestação de cunho pecuniário, assim como no pagamento isolado de multa, em razão e expressa vedação burilada no artigo 17 da Lei Maria da Penha. Ao lado disso, há entendimentos jurisprudenciais que “a lesão corporal provocada em decorrência de relacionamento conjugal rompido, mas mantida a ligação entre o casal, em virtude do filho comum, subsume-se à violência doméstica”, configurando, por extensão, o crime capitulado no §9º do artigo 129.
2.9.Lesão Corporal Funcional 
A lei 13.142/2015 também criou uma nova majorante ao crime de lesão corporal, in verbis:
 “Art. 129, § 12: “Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços”.
A lesão corporaldolosa de natureza gravíssima e a lesão corporal seguida de morte, quando cometidas por motivos funcionais são consideradas hediondas, na exata forma do novo artigo 1º, inciso, I – A da lei 8.072/1990, in verbis:
 “Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição”.
A Lei nº 13.142/2015 que entrou em vigor no dia 7.7.2015, por ser mais gravosa não terá efeitos retroativos; assim, quem cometeu homicídio funcional nas condições descritas no artigo 121 § 2º, inciso VII, até o dia 06/07/2015, não responderá por homicídio qualificado funcional.
3.Substituição da pena (art.129 § 5º do CPB)
 O §5º do artigo 129 do Código Penal em vigor traz à baila as hipóteses de substituição da pena. O inciso I do dispositivo em comento assinala que o magistrado poderá substituir a sanção a ser cominada se o agente delituoso, ao perpetrar uma lesão corporal de natureza leve, cometer tal conduta impelido por motivo de relevante valor social, moral ou sob o domínio de violenta emoção, após injusta provocação da vítima. “É possível, pois, a substituição nos casos de lesão corporal leve praticada por relevante valor social ou moral e por violenta emoção, bem como no caso de ter o agente sofrido também lesões corporais”.
 Cuida pontuar que a acepção de natureza corporal leve é a que está abarcada no caput do artigo 129, bem como a expressamente entalhada no §9º do mesmo dispositivo, que positivou a conduta de violência doméstica. Com efeito, em “na hipótese de violência doméstica ou familiar contra a mulher, ficará impossibilitada a substituição da pena privativa de liberdade pela pena de multa, aplicada isoladamente”.
 
 Revela-se imperioso anotar que, em se tratando de direito subjetivo do agente delituoso, deverá o magistrado aplicar uma das soluções ofertadas pela redação do parágrafo em apreço. Assim, deverá o julgador reduzir a pena cominada no caput do artigo 129 ou substituí-la por pena pecuniária. Não há que se falar em existência de discricionariedade do magistrado em promover a aplicação, porquanto, como dito alhures, é direito subjetivo do sentenciado. Outrossim, quando ocorrer a reciprocidade de lesões corporais, também consideradas como leve, terá cabimento a substituição da pena a ser cominada.
4.Perdão Judicial (art.129, § 8º do CPB)
A sua concessão liga-se a hipótese do agente ter conseqüências tão graves, arcando de certa forma com o resultado por ele produzido. Todas as noções trabalhadas quanto ao perdão judicial referente ao homicídio culposo são pertinentes e aproveitáveis quanto a essa possibilidade.
5.Ação Penal Antes da Lei 9.099/95, todas as figuras delituosas estudadas eram crimes passíveis de ação pública incondicionada. Todavia, com o advento desta lei a lesão corporal dolosa de natureza leve passou a exigir a representação do ofendido para que o Ministério público possa promover a ação penal correlata. O mesmo se diga em relação a lesão corporal de natureza culposa.
	Nesse passo, mantêm-se como figuras delituosas de ação penal pública incondicionada.
● Lesões corporais de natureza grave em sentido amplo (art.129,§ § 1º e 2º )
● Lesão corporal seguida de morte (art.129, § 3º).
● Lesão corporal por meio de violência doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004).São os seguintes os dispositivos legais correlatos referentes ao art.129 do Código Penal.
        § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
        § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
        § 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006). 	
6.Princípio da insignificância, lesões corporais e vias de fato: 
	Já deixamos antever ser possível a aplicação do princípio da insignificância ao delito de lesão corporal, seja ela dolosa ou culposa, visto que, embora abstratamente considerada, a integridade corporal e a saúde sejam bens que mereçam, efetivamente, a proteção do Estado por intermédio do Direito Penal, muitas vezes no caso concreto tal proteção se faz desnecessária, dada a pouca ou nenhuma importância da lesão sofrida pela vítima. 
	O problema está, na verdade, em tentarmos conciliar a aplicação do princípio da insignificância, trabalhando não somente com o delito de lesão corporal, como também com a contravenção penal de vias de fato, prevista no art. 21 do Dec. Lei n. 3688/41. 
	Na verdade, o que distingue o delito de lesão corporal da contravenção penal de vias de fato é o dolo do agente, o seu elemento subjetivo. No primeiro caso, a finalidade do agente é praticar um comportamento que venha, efetivamente, ofender a integridade corporal ou a saúde da vítima; no segundo, embora a conduta também se dirija contra a vítima, não tem a magnitude da primeira. 
	Dessa forma, devemos nos socorrer da proposta de Ferrajoli, quando preconiza que todas as contravenções penais devem ser revogadas, se quisermos, realmente, manter o equilíbrio do sistema penal, com a adoção das teses minimalistas, com seus correspondentes princípios, destacando-se dentre eles o da intervenção mínima e o da insignificância. 
	Concluindo, portanto, entendemos ser possível a aplicação do princípio da insignificância ao delito de lesões corporais, devendo-se, por oportuno, ser negada a validade da contravenção penal de vias de fato, que contraria a lógica do raciocínio minimalista, principalmente na vertente que impõe ao Direito Penal tão-somente a proteção dos bens mais importantes e necessários ao convívio em sociedade. 
7.Consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude
	Tivemos oportunidade de analisar, quando do estudo da Parte Geral do CP, que o consentimento do ofendido pode ter duas finalidades importantes consideradas em nossa teoria do delito. 
	A primeira seria a de aplicá-lo como causa que conduziria à atipicidade do fato toda vez que o dissenso fizesse parte da figura típica. 
	Uma segunda colocação relativa ao estudo do consentimento do ofendido nos levaria à exclusão da ilicitude do fato típico, como é a hipótese que começaremos a estudar, que diz respeito ao delito de lesão corporal. 
	Entretanto, antes de analisarmos a efetiva possibilidade de ser alegado o consentimento do ofendido em sede de lesão corporal, é preciso que, primeiramente, apontemos os requisitos indispensáveis à sua caracterização, a saber: 
a) que o bem seja disponível; 
b) que a vítima tenha capacidade para consentir; 
c) que o consentimento tenha sido prévio ou, no mínimo, concomitante ao comportamento do agente. 
	Nesta oportunidade, interessa-nos mais de perto a análise do primeiro requisito necessário ao reconhecimento do consentimento do ofendido, vale dizer, a disponibilidade do bem. 
	A integridade corporal ou a saúde são bens disponíveis ou indisponíveis? A resposta correta aqui, é, depende. Depende, na verdade, da intensidade da lesão corporal sofrida. 
	Se a lesão corporal, outrossim, for de natureza leve, entendemos como perfeitamente disponível a integridade física. Caso contrário, se for grave ou gravíssima, já não terá repercussão o consentimento. 
	Se a lesão corporal for de natureza graveou gravíssima, o consentimento, segundo entendemos, já não será válido. Poderá a própria vítima mutilar-se, mas não solicitar a terceiro que pratique esse comportamento. 
	Assim, concluindo, o consentimento do ofendido poderá afastar a ilicitude sendo considerado uma causa supralegal, desde que a lesão corporal praticada seja de natureza leve. 
	
CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
1. Introdução: 
-       Crimes de dano: a conduta do agente gera uma efetiva lesão ao bem ou interesse protegido (ex.: vida, no homicídio; integridade física, na lesão corporal; honra, na injúria etc.).
-       Crimes de perigo: a conduta do agente cria uma “probabilidade de dano” ao bem jurídico, colocando-o em uma situação de risco. No que se refere ao dolo, basta que o agente tenha a intenção de expor à vítima a tal situação de perigo. São, em geral, de natureza subsidiária, sendo absorvidos pelos crimes de dano quando vierem a ocorrer. Possuem as seguintes espécies:
a)    Perigo concreto: há necessidade de “comprovação” da situação de perigo no caso concreto para a consumação (ex.: art. 132, CP).
b)    Perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: a consumação ocorre, automaticamente, com a mera prática da conduta, não se exigindo a comprovação da produção da situação de perigo. Há presunção absoluta (iure et de iure) de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos (ex.: art. 130, caput, CP).   
c)    Perigo individual: atingem uma pessoa determinada ou número determinado de pessoas  (arts. 130 a 136, CP).
d)    Perigo coletivo ou comum: colocam em perigo um número “indeterminado” de pessoas. Estão previstos no Capítulo I do Título VIII da Parte Especial do Código Penal (arts. 250 a 259). 
2. Espécies
Vejamos , em espécie, os principais pontos de destaque dos crimes em comento:
2.1 - Artigo 130, caput – Perigo de contágio venéreo
-       Objeto Jurídico: a vida e a saúde da pessoa (incolumidade física).
-       Objeto Material: a pessoa que mantém relação sexual com o agente infectado.
-       Núcleo do tipo: “expor” (colocar em risco) alguém, por meio de relação sexual, ou seja, conjunção carnal ou atos libidinosos diversos (coito anal, sexo oral etc.) à doença venérea, a qual é a transmitida mediante o contato sexual (gonorreia, cancro mole, sífilis etc.). Norma penal em branco: doenças venéreas são as assim definidas pelo Ministério da Saúde (DST- doenças sexualmente transmissíveis). 
-       Sujeito Ativo: qualquer pessoa que esteja infectada por doença venérea             (sexualmente transmissível). É crime de mão própria, pois só agente pode transmitir a doença. Não admite a co-autoria, embora admita a participação.   
-       Sujeito Passivo: qualquer pessoa (até mesmo a prostituta e garotos de programa).
-       Elemento Subjetivo: dolo de perigo, direto (sabe) ou eventual (deve saber).
-       Consumação: com a relação sexual ou ato libidinoso. É indiferente se houver contaminação, já que se trata de crime de “perigo” em que o agente não tinha a intenção de transmitir a moléstia venérea. Caso haja a contaminação, o juiz deverá considerá-la para fixar a pena (art. 59 do CP ).
-       Tentativa: é possível.
-       Classificação: próprio e de mão própria; de forma vinculada; comissivo; instantâneo; de perigo abstrato (caput) ou de perigo com dolo de dano (§ 1º); unissubjetivo; plurissubsistente.
-       Ação Penal: pública condicionada à representação.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1) E se a vítima já estiver contaminada com doença venérea?  
 2) É necessário contato físico entre autor e vítima? 
  3) O uso de preservativo exclui o crime?
  4) E se o agente contaminado com doença venérea pratica um crime de estupro?
 5) E se houver o consentimento do ofendido em manter relações sexuais com o agente contaminado?
§1º - Intenção de transmitir a moléstia
-       Crime perigo com dolo de dano: conforme entendimento doutrinário majoritário, o agente age com dolo direto de transmitir a doença, embora o crime seja de perigo, já que é dispensável a efetiva transmissão da doença. 
-       Consumação: com a mera exposição ao perigo.  
QUESTÃO PARA REFLEXÃO: 
6) E se a vítima for efetivamente contaminada?  
Artigo 131 – Perigo de contágio de moléstia grave
-       Objeto Jurídico: a vida e a saúde da pessoa.
-       Objeto Material: a pessoa que sofre o contágio ou o risco de contágio.
-       Núcleo do tipo: “praticar” (cometer; executar); forma livre (abraço; tossir perto; passar objetos etc.). A doença deve ser “contagiosa”, pouco importando se incurável ou não, e o ato deve ser “compatível” com uma das formas de contágio. Se o agente pratica ato “não sexual” e transmite doença venérea estará configurada essa modalidade criminosa. Para alguns, norma penal em branco (Magalhães Noronha). Para outros, depende da essência da moléstia (Bitencourt). 
-       Sujeito Ativo: qualquer pessoa, desde que esteja contaminado com doença grave (crime próprio). 
-       Sujeito Passivo: qualquer pessoa (desde que não seja imune à moléstia ou já esteja contaminada com a mesma doença).
-       Elemento Subjetivo: dolo de dano. O termo “com o fim de transmitir” demonstra o dolo direto. A maior parte da doutrina exclui o dolo eventual. Não se admite a modalidade culposa.   
-       Consumação: com a prática do ato, independentemente da efetiva transmissão da doença. 
-       Tentativa: é possível.
-       Classificação: formal; de forma livre; próprio; comissivo; unissubjetivo; instantâneo; unissubsistente ou plurissubsistente; de perigo com dolo de dano.  
-       Ação Penal: pública incondicionada.
 QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1) Se houver a efetiva contaminação, como será responsabilizado o agente?
  2) E se o agente agiu culposamente?
2.2. Artigo 132, caput – Perigo para a vida ou saúde de outrem
-       Objeto Jurídico: a vida e a saúde da pessoa.
-       Objeto Material: a pessoa que sofre a situação de perigo direto e iminente.
-       Núcleo do tipo: “expor” significa criar ou colocar á vítima em perigo de dano concreto, sendo de forma livre. Ex. fechar ou abalroar o veículo da vítima; desferir golpe com instrumento contundente próximo à vítima; manusear produtos químicos ou arremessar dardos perto de alguém. Pode ser cometido por omissão no caso, por exemplo, de patrão que não fornece aparelhos de proteção a seus funcionários, desde que resulte perigo concreto para estes.  O perigo tem que ser: a) “direto” - dirigido a pessoa ou pessoas determinadas. Se o agente visar um número indeterminado de pessoas, haverá crime de perigo comum, previsto nos arts. 250 e seguintes do CP; b) “iminente”: atual, imediato.                                                 
-       Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
-       Sujeito Passivo: qualquer pessoa.
-   Elemento Subjetivo: dolo de perigo, direto ou eventual, em relação a pessoa(s)   determinada(s). Não admite a modalidade culposa. 
-       Consumação: no momento em que a vítima fica exposta a perigo concreto.
-       Tentativa: é possível, na modalidade comissiva. 
-       Classificação: comum; formal; de forma livre; comissivo ou omissivo; instantâneo; de perigo concreto; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente; de subsidiariedade expressa.   
-       Ação Penal: pública incondicionada.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO: 
1) E se a exposição a perigo se der por meio de “disparo de arma de fogo”?
 2) E se da conduta do agente resultar morte ou lesão corporal?
3) O consentimento do ofendido afasta o crime?
4) E se a vítima for pessoa idosa?
Parágrafo único – aumento de pena
Objetiva, principalmente, a proteção aos “boias-frias”. As normas a que se refere o dispositivo são as previstas no Código de Trânsito Brasileiro e legislação complementar.   
2.3. Artigo 133, caput – Abandono de incapaz
-       Objeto Jurídico: a vida, a saúde e a segurança da pessoa.
-       Objeto Material: a pessoa abandonada.
-       Núcleo do tipo: “abandonar” (deixar só; largar; desamparar). Necessitada separação física, “distanciamento” entre o agente a vítima. Pode ser praticado por ação (levar a vítima bastante ferida para um local ermo e ali deixá-la) ou por omissão (abandonar uma vítima que precisa de assistência em sua residência). Há de ser provocado o perigo efetivo para a vítima (perigo concreto).    
-       Sujeito Ativo: Só pode ser praticado por quem tem a vítima sob seu cuidado, guarda vigilância ou autoridade (crime próprio):
a)    cuidado: assistência eventual (ex.: enfermeira em relação a pessoa inválida);
b)    guarda: assistência duradoura (ex.: pais em relação aos filhos menores de 18 anos);
c)    vigilância: assistência acauteladora (ex.: instrutor de alpinismo em relação aos alunos iniciantes);
d)    autoridade: poder de uma pessoa sobre outra proveniente de direito público ou privado (ex.: oficial da polícia militar em relação a seus subordinados).   
-       Sujeito Passivo: é a pessoa incapaz (deve haver uma especial relação de “assistência” entre o agente e a vítima). A incapacidade pode ser permanente (ex.: doentes mentais ou físicos e idosos) ou eventual (ex.: pessoa embriagada).
-       Elemento Subjetivo: dolo de perigo, direto ou eventual. Não se admite a modalidade culposa. 
-       Consumação: com o abandono, independentemente do resultado naturalístico, desde que a vítima seja submetida à situação de risco concreto (perigo concreto).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO:
1) E se o agente, após abandonar a vítima, reassumir o dever de assistência? 
  Tentativa: É possível, na modalidade comissiva. 
-       Classificação: próprio; instantâneo de efeitos permanentes; de forma livre; de perigo concreto; comissivo ou omissivo; unissubjetivo; unissubsistente, podendo ser plurissubsistente em alguns casos.   
-       Ação Penal: pública incondicionada.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
2) E se não houver o vínculo de cuidado, guarda, vigilância ou autoridade?
 3) E se o agente abandona, mas fica à distância, observando?
 4) E se for iniciativa do incapaz se afastar do seu protetor? 
 Artigo 133, §§1º e 2º - Figuras qualificadas
 Se resulta lesões graves e “gravíssimas” ou morte. Trata-se de figuras “preterdolosas”. Se o dolo, desde o início, for de dano, o agente responderá por homicídio ou lesão corporal. As lesões leves ficam absorvidas pelo crime do art. 133, caput, CP, pois o crime possui pena inferior a deste.     
 Artigo 133, §3º - Aumento de pena
Aplicam-se as modalidades previstas nos §§ 1º e 2º . 
a) lugar ermo: solitário, isolado (habitual ou acidentalmente). 
b) agente ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima: rol é taxativo (não pode ser ampliado ).
c) vítima maior de 60 anos. 
2.4 Artigo 134, caput – Exposição ou abandono de recém-nascido
-       Objeto Jurídico: a vida, a saúde e a segurança do ser humano recém-nascido.   
-       Objeto Material: o recém-nascido.
-       Núcleo do tipo: “expor” (remover; mudar a vítima do local protegido para o local de perigo; “abandonar” (deixar de prestar assistência; largar “à própria sorte”). Abrange conduta comissiva e omissiva. 
-       Sujeito Ativo: a mãe ou o pai, tendo sido a criança concebida em situação de desonra (incesto; adultério etc.). É a posição de Bento de Faria, Mirabete, Heleno Cláudio Fragoso e outros. Cezar Roberto Bitencourt e Rogério Greco entendem ser somente a mãe, podendo o pai responder pelo art. 133, CP. 
-       Sujeito Passivo: pessoa recém-nascida, havendo certa controvérsia sobre o conceito de “recém-nascido”. Para alguns, considera-se até a queda do cordão umbilical.  
-       Elemento Subjetivo: Dolo. “Ocultar desonra própria”, configura o especial fim de agir (“dolo específico”). Essa honra a ser preservada deve ser de natureza sexual, a reputação, a boa fama que a pessoa goza perante as outras. Não se admite a modalidade culposa.     
-       Consumação: com a exposição ou abandono que gere “perigo efetivo” ao recém-nascido (perigo concreto), independentemente de resultado naturalístico. 
-       Tentativa: é possível quando a conduta for comissiva (ex.: a mãe é flagrada no instante em que abandonava o recém-nascido).
-     Classificação: próprio; formal; de forma livre; comissivo ou omissivo; instantâneo de efeitos permanentes; de perigo concreto; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente.      
-       Ação Penal: pública incondicionada.
  QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1) E se o agente não é mãe ou pai do recém-nascido?
  2) E se o agente já é desonrado, por exemplo, uma prostituta?
  3) E se o abandono se deu por outro motivo que não a ocultação da desonra (p.ex.:  falta de condições financeiras para criar o recém-nascido)? 
 4) O marido que, agindo por conta própria, abandona o filho adulterino concebido por sua esposa infiel pratica o crime tipificado no art. 134, CP?
 Artigo 134, §§1º e 2º - Figuras qualificadas
São figuras “preterdolosas”, dessa forma, só se aplicam se o resultado mais grave ocorrer por “culpa” do agente.
Se o agente deseja causar a “morte” do recém-nascido ou lesões graves ou gravíssimas, responderá por infanticídio (se presente o estado puerperal), homicídio ou pela lesão corporal respectiva de acordo com o resultado. 
 2.5. Artigo 135, caput – Omissão de socorro
Lembrar do art.135A 
	O fato de virarmos as costas ao nosso semelhante, que vive um momento de perigo não criado por nós, será objeto de reprimenda penal. Assim é o caso do delito de omissão de socorro. 
	A omissão de socorro encontra-se no rol dos crimes omissivos denominados próprios. 
	Os crimes omissivos próprios são aqueles cuja omissão vem narrada expressamente pelo tipo penal incriminador. 
	Ao contrário, os crimes omissivos impróprios não se encontram tipificados expressamente na lei penal. Na verdade, somente podemos visualizar o comportamento omissivo do agente no tipo penal devido ao fato de que a norma que transforma o agente em garantidor é considerada como norma de extensão, vale dizer, aquela que tem por finalidade ampliar a figura típica, a fim de que nela sejam abrangidos casos que ela não previu expressamente. 
	Somente podem praticar o delito de omissão de socorro aqueles que não gozam do especial status de garantidor, pois que estes últimos terão que responder pelo resultado, quando deviam e podiam agir a fim de evitá-lo, e não o fizeram. 
	As normas existentes nas omissões próprias são sempre de natureza mandamental. Ou seja, o tipo penal prevê um comportamento omissivo, impondo ao agente um fazer algo a fim de evitar o resultado por ele previsto (dano ou perigo). 
	Por criança abandonada ou extraviada devemos entender aquela que, de acordo com o art. 2º do ECA (Lei n. 8.069/90), não tenha, ainda, completado 12 anos de idade e que tenha, por algum motivo, sido abandonada à própria sorte por aqueles que eram seus responsáveis, ou, no caso da criança extraviada, que tenha com eles perdido o contato ou a vigilância, não sabendo retornar ao seu encontro. 
	Pessoa inválida, segundo a concepção de Hungria, “é toda aquela que, entregue a si mesma, não pode prover a própria segurança, seja isto por suas próprias condições normais ou por acidente”. 
	Pessoa ferida é aquela que teve ofendida a sua integridade corporal ou saúde, seja por ação de terceiros, caso fortuito, ou até mesmo por vontade própria. 
	A segunda parte do caput do art. 135 do CP traduz um comportamento alternativo, assim redigido: “ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”. 26 Isso significa que o agente tem uma escolha? Pode optar por procurar socorro junto à autoridade pública? A resposta só pode ser negativa, segundo entendemos. O socorro deve ser prestado imediatamente por aquele que, nas condições em que se encontrava, tinha plenas condições de fazê-lo. 
	Entretanto, não sendo possível para o agente prestar, ele próprio, o socorro, aí sim, deverá buscar auxílio junto às autoridades competentes. 
	Como a própria lei penal esclarece, somente responderá pelo delito de omissão de socorro o agente que podiaprestar a assistência sem risco pessoal. Havendo risco para o agente, o fato será atípico no que diz respeito à sua assistência direta, mas não o exime de responsabilidade, se também, podendo, não procura socorro junto à autoridade pública. 
	Questão que deve ser esclarecida diz respeito a quem se amolda ao conceito de autoridade pública. São aqueles que, por definição legal, tenham o dever de afastar o perigo, como acontece com os bombeiros e policiais. 
	Entretanto, pode ser encarada como autoridade competente a prestar o auxílio o Promotor de Justiça que, por exemplo, atue em uma Promotoria Especializada na Proteção de Crianças e Adolescentes, na hipótese envolvendo crianças abandonadas. 
 
2.5.1Pontos de destaque do crime de omissão de socorro
	2.5.1.1 Classificação doutrinária 
	
	Crime comum quanto ao sujeito ativo e próprio com relação ao sujeito passivo, nas hipóteses em que a lei exige dele uma qualidade especial, de perigo concreto (devendo ser demonstrado que a omissão do agente trouxe, efetivamente, uma situação de perigo para a vítima), doloso, de forma livre, omissivo próprio, instantâneo, monossubjetivo, podendo ser considerado, dependendo da situação, unissubsistente ou plurissubsistente, transeunte (como regra). 
	2.5.1.2 Objeto material e bem juridicamente protegido: 
	O crime de omissão de socorro tem como bens juridicamente protegidos a vida e a saúde. 
	Objeto material do delito de omissão de socorro é a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida que se encontre na situação de grave e iminente perigo. 
	2.5.1.3 Sujeito ativo e sujeito passivo: 
	O delito de omissão de socorro é comum com relação ao sujeito ativo, podendo, portanto, ser praticado por qualquer pessoa que não goze do status de garantidora, uma vez que, nesse caso, o agente teria que responder pelo resultado que devia e podia ter evitado. 
	O art. 135 do CP aponta como um de seus sujeitos passivos a criança abandonada ou extraviada. Também poderá ser sujeito passivo do delito de omissão de socorro qualquer pessoa que se encontre inválida ou ferida, não importando, aqui, a sua idade ou sexo. 
	2.5.1.4 Consumação e tentativa: 
	Questão extremamente interessante e controvertida diz respeito ao momento em que se tem por consumado o delito de omissão de socorro. 
	Não há muita diferença entre as conclusões a que chegaram autores renomados. Na verdade, devemos apontar o momento no qual a inação, ou seja, a negação da prestação do socorro já pode ser entendida como o momento da consumação do delito em estudo. 
	Devemos apontar, para fins de reconhecimento da consumação do delito de omissão de socorro, quando a inação do agente trouxe efetivo perigo para a vida ou para a saúde da vítima. 
Não é a simples omissão em socorrer, ou seja, a negativa em prestar o socorro, que consuma o delito em exame, mas sim a negação do socorro que importa, concretamente, em risco para a vida ou para a saúde da vítima. 
	O segundo raciocínio diz respeito à possibilidade de tentativa no delito de omissão de socorro. 
	
	Juarez Tavares assevera: “Nos crimes omissivos próprios não se admite tentativa, porque, uma vez que a omissão esteja tipificada na lei como tal, se o sujeito se omite, o crime já se consuma; se o sujeito não se omite, realiza ele o que lhe foi mandado”. 
	No mesmo sentido, afirma, Cezar Roberto Bitencourt: “A omissão de socorro, crime omissivo próprio ou puro, por excelência, não admite a tentativa, pois não exige um resultado naturalístico produzido pela omissão”. 
	2.5.1.5 Elemento subjetivo: 
	O delito de omissão de socorro somente admite a modalidade dolosa, seja o dolo direto ou eventual. 
	2.5.1.6 Causas de aumento de pena: 
	A doutrina, majoritariamente, aduz que as causas de aumento de pena previstas no transcrito parágrafo único somente poderão ser atribuídas ao agente a título de culpa, tratando-se, portanto, de um crime preterdoloso, ou seja, dolo com relação à omissão, e culpa no que diz respeito ao resultado (lesão corporal de natureza grave ou morte). 
	2.5.1.7 Penal e ação penal: 
	Para a hipótese do caput do art. 135 do CP, em decorrência da quantidade máxima de pena prevista em abstrato, a competência para julgamento do delito de omissão de socorro, pelo menos ab initio, será do Juizado Especial Criminal, uma vez que tal infração penal se amolda ao conceito daquelas consideradas como de menor potencial ofensivo, sendo possível a aplicação de todos os institutos que lhe são inerentes. 
	Ocorrendo lesão corporal de natureza grave, aumentando-se a pena de metade, ou morte, caso em que a pena será triplicada, ainda assim persiste a competência do Juizado Especial Criminal, haja vista que, mesmo triplicando a pena máxima cominada em abstrato, o seu limite não ultrapassa os dois anos. 
	Existe possibilidade alternativa de aplicação da pena privativa de liberdade ou a pena de multa. 
	2.5.1.8 Agente que não socorre a vítima atropelada temendo agravar a situação: 
	A toda hora os programas jornalísticos informam que, em situações que envolvam acidentes, é melhor que a vítima não seja removida do local, a não ser que essa remoção seja realizada por pessoal qualificado para tanto, uma vez que se corre o risco de agravar seu estado de saúde, principalmente no que diz respeito a problemas na coluna cervical. 
	Imagine-se a hipótese em que o agente, percebendo que a vítima esteja precisando de socorro, logo após uma colisão de veículos, não o efetue pessoalmente sob o argumento de não ser preparado para socorrer pessoas que se encontram no estado como no da vítima.
 
	Teria ele que ser responsabilizado pelo delito de omissão de socorro? Primeiramente, o agente não se negou simplesmente a socorrer. Havia uma motivação justa que permitia afastar a censurabilidade de seu comportamento, sob o argumento da inexigibilidade de conduta diversa. 
	Contudo, embora, segundo a sua concepção, não podia prestar diretamente o socorro à vítima; obrigatoriamente deveria buscar socorro junto à autoridade competente, sob pena de ser responsabilizado pelo delito de omissão de socorro. 
	
	2.5.1.9 Concurso de pessoas nos delitos omissivos: 
	Se várias pessoas, em comum acordo, deixam de prestar o necessário socorro à vítima, poderíamos falar em concurso de pessoas em crimes omissivos? 
A questão não é pacífica, pelo contrário, sendo que a doutrina se divide nesse ponto. 
	Juarez Tavares, entendendo pela impossibilidade do concurso de pessoas em crimes omissivos, explica: “Embora a norma mandamental possa se destinar a todos, como na omissão de socorro, o preenchimento do dever é pessoal. Consoante esse dado, podemos afirmar que nos crimes omissivos não há concurso de pessoas, isto é, não há co-autoria nem participação. Cada qual responde que lhe é imposto. Trata-se, na verdade, como expõe Armin Kaufmann, de uma forma especial de autoria colateral”. 
	No mesmo sentido, Luiz Regis Prado afirma que “o crime de omissão de socorro não dá lugar ao concurso de pessoas (nem co-autoria, nem participação)”. 
Numa posição diametralmente oposta, Cezar Roberto Bitencourt assevera: “Os crimes omissivos próprios, na nossa concepção, admitem tanto a co-autoria quanto a participação em sentido estrito. Se, por exemplo, duas ou mais pessoas deliberarem, umas anuindo à vontade das outras, todas responderão pelo mesmo crime, mas em co-autoria, em razão do vínculo subjetivo. Se alguém, porém, que não está no local, mas por telefone, sugere, ou instiga a quem está em condições de socorrer para que não o faça, responderá também pelo crime, mas na condição de partícipe”. 
	Entendemos, com Cezar Roberto Bitencourt, pela admissibilidade do concurso de pessoas em sede de crimes omissivos, sejam eles próprios, como é o caso do delito de omissão de socorro, ou mesmo impróprios. 
	2.5.1.10 Agente que imagina que corre risco, quando na verdade este não existe: 
	Pode ocorrer a hipótese em que o agente, acreditando correr risco pessoal,deixe de prestar o necessário socorro à vítima quando, na realidade, não havia qualquer risco. 
	De acordo com a regra do art. 20 do CP, se o erro for escusável, afasta-se o dolo e a culpa; sendo inescusável o erro, o dolo continua a ser afastado, mantendo-se, contudo, a responsabilidade penal a título de culpa, se houver previsão legal. 
	Como não há previsão legal para a omissão de socorro culposa, e não sendo o agente garantidor, o fato deverá ser considerado atípico. 
	2.5.1.11 Obrigação solidária e necessidade de ser evitado o resultado: 
	O delito de omissão de socorro traduz um dever solidário, dirigido a todos nós.Na qualidade de obrigação solidária, se algum dos sujeitos se habilita a prestar o socorro, não se exige que os demais pratiquem o mesmo comportamento. Contudo, se o agente que tentou levar a efeito o socorro não podia fazê-lo a contento sem a ajuda dos demais, os que permaneceram inertes serão responsabilizados pela omissão de socorro. 
	Caso tenha feito de tudo o que estava ao seu alcance a fim de evitar a produção desses resultados que, infelizmente, sobrevieram, o agente não poderá ser responsabilizado penalmente, pois, conforme esclarece Muñoz Conde, “a lei não lhe impõe nenhum dever de evitá-lo, senão meramente o dever de socorrer”. 	
 2.5.1.12 Omissão de socorro no Estatuto do Idoso: 
	Em virtude do princípio da especialidade, quando se tratar de pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, aplica-se o tipo penal de omissão previsto no art. 97 do Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/03). 
	Dessa forma, a segunda parte contida no art. 135 do CP, que se refere à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo, está abrangida pela redação mais ampla do art. 97, que aponta para qualquer situação de iminente perigo em que se encontre o idoso. 
	2.5.1.13 Omissão de socorro no Código de Trânsito Brasileiro: 
	Também aqui houve especialização da omissão de socorro. 
	O art. 304 do CTB somente se aplica aos condutores de veículos que, de alguma forma, estiverem envolvidos em acidentes de trânsito, cujos resultados não lhes possam ser atribuídos culposamente. Isso porque, havendo culpa do motorista envolvido no acidente, que produziu lesão ou morte da vítima, a sua omissão de socorro será considerada causa de aumento de pena, conforme determinam os parágrafos únicos dos arts. 302 e 303 do CTB. 
	Assim, somente será possível a aplicação do aludido art. 304 aos condutores de veículos que não agiram com culpa no acidente em que foram envolvidos. Verdadeira aberração foi a previsão contida no parágrafo único do art. 304 do CTB, caracterizando como omissão de socorro a hipótese de fuga do agente, mesmo tratando-se de vítima com morte instantânea. 
	Se os bens juridicamente protegidos pelo delito de omissão de socorro, seja no CP, no Estatuto do Idoso, ou mesmo no CTB são a saúde e a vida, e se, no caso concreto, não existe sequer pessoa a ser protegida, como se pode responsabilizar criminalmente o agente pelo delito de omissão de socorro? Ariosvaldo de Campos Pires e Sheila Selim, criticando o dispositivo em estudo, asseveram: “Não se poderá imputar omissão de socorro a quem não poderia prestá-lo, e.g., verificada a morte antes que possível qualquer medida de assistência, de tal sorte que, a haver socorro, seria ele prestado ao cadáver e não ao ferido. A hipótese é de crime impossível (art. 17, CP)”. 
	2.5.1.14 Recusa da vítima em deixar-se socorrer: 
	O fato de a própria vítima não querer ser socorrida afasta a obrigação que tem o agente em lhe prestar o socorro? Absolutamente não. Isso porque os bens juridicamente protegidos pelo tipo penal, que define a omissão de socorro, são indisponíveis. 
	Como a situação de perigo é grave, ou seja, proporcionará um dano considerável à vítima, a sua integridade física ou a sua saúde passam a ser consideradas indisponíveis, razão pela qual, mesmo contra a sua vontade, deverá o agente prestar-lhe socorro. 
	Somente ficará isento de responsabilidade o agente que, dada a resistência da vítima em ser socorrida, se encontrar numa situação em que corra risco pessoal. Nessa hipótese, caso deixe, efetivamente, de prestar o socorro, seu comportamento será atípico. 
	De forma clara pode-se resumir as generalidades do crime ora em estudo da seguinte forma :
-       Objeto Jurídico: a vida e a saúde do ser humano, juntamente com o dever de assistência e solidariedade mútua, embora haja alguma divergência, já que para alguns somente é a vida e a saúde.   
-       Objeto Material: criança abandonada ou extraviada ou qualquer pessoa que necessite de socorro.
-       Núcleo do tipo: “deixar” de prestar socorro (falta de assistência imediata). Em latim: nihil facere. A pessoa deve ter condições pessoais de socorrer a vítima em perigo, em decorrência da elementar “quando possível fazê-lo sem risco pessoal”. Não se exige um ato de “heroísmo”. “Não pedir socorro da autoridade pública” (àquelas que, por definição legal, tenham o dever de afastar o perigo, tais como bombeiros e policiais) de forma imediata (falta de assistência mediata). Trata-se de crime omissivo próprio ou puro.    
-       Sujeito Ativo: qualquer pessoa, inclusive se for a própria causadora da situação de perigo, desde que não tenha agido previamente com dolo ou culpa, não havendo necessidade de vínculo entre o agente e a vítima.
-       Sujeito Passivo:
a)    Criança “abandonada” (deixada à própria sorte) ou “extraviada” (perdida; que não sabe retornar ao seu local de convívio). Criança é a pessoa que tenha até 12 anos incompletos (Lei n.º 8.069/90-ECA). Depois disso, temos um “adolescente”. Não se confunde com crime de abandono de incapaz, pois nesse o próprio agente toma a iniciativa de abandonar a criança. 
b)      Pessoa inválida ou ferida e ao desamparo: inválida é a deficiente (física ou mental); ferida é a pessoa que sofreu lesão corporal (acidentado). Há que se somar o termo “ao desamparo”, ou seja, impossibilitada de se livrar do perigo por conta própria. Atenção: se a omissão de socorro referir-se a pessoa idosa em situação de iminente perigo, estará caracterizado crime mais grave, descrito no art. 97 da Lei n.º 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), com pena de detenção de seis meses a um ano e multa.   
c)    Pessoa em grave e iminente perigo: qualquer pessoa que se encontra impedida de se livrar do perigo por suas próprias forças. Não é inválida nem tampouco está ferida. Ex.: pessoa presa dentro de um carro, durante enchente ocasionada por forte chuva; pessoa pendurada na janela de um prédio, prestes a despencar do décimo andar; pessoa trancada em quarto de uma casa em chamas.   
 -       Elemento Subjetivo: Dolo de perigo, direto ou eventual. Não existe a forma culposa. Se a situação de perigo para a vítima for causada de forma dolosa, ocorrerá a absorção da omissão pelo crime de dano (homicídio ou lesão corporal). Se a causação do perigo for culposa, a omissão posterior caracterizará o homicídio culposo ou a lesão corporal culposa majorados (art. 121, § 4º e art. 129, § 7º). 
-       Consumação: no momento da omissão, independentemente de resultado naturalístico. 
-       Tentativa: impossível por trata-se de crime omissivo puro (ou próprio).
-       Classificação: comum; formal; de forma livre; omissivo próprio; de perigo concreto ou de perigo abstrato, dependendo da situação; unissubjetivo; instantâneo; unissubsistente.
-       Ação Penal: pública incondicionada.
  QUESTÕES PARA RELEXÃO: 
1) O artigo 135 é de perigo concreto ou abstrato?
 2) E se a vítima recusar o socorro?
 3) E se houver uma relação específica entre os sujeitos do delito? Por exemplo, pai em relação ao filho ou enfermeiro em relação ao doente?
 4)  O agente pode “escolher” entre socorrer ou “acionar a autoridade”?
 5)  É possível a co-autoria e a participação na omissão de socorro?      
6) O que configura o “risco pessoal” contido no tipo? 
7) O que ocorre se o agente deixa de prestar o socorro supondo situação derisco pessoal que na verdade não existia? 
8) E se há várias pessoas que poderiam prestar o socorro e apenas uma o faz? Como fica a situação das demais? 
9) Como será tipificada a omissão de socorro em decorrência de acidente de trânsito?
Artigo 135, parágrafo único – aumento de pena
São figuras “preterdolosas”, sendo que o dolo é de omitir o socorro e, por culpa, o resultado mais danoso acaba ocorrendo. Há necessidade de ficar provado que, caso o agente tivesse socorrido ou providenciado o socorro á vítima, poderia ter evitado a ocorrência do resultado agravador (relação de causalidade) por tratar-se de crime omissivo próprio.    
2.6. Artigo 136, caput - Maus-tratos
-       Objeto Jurídico: a vida e a saúde da pessoa humana.
-       Objeto Material: a pessoa sob autoridade, guarda ou vigilância de outrem que sofre os maus-tratos.
-       Núcleo do tipo: “expor” a perigo a vida ou a saúde de “pessoa” sob sua “autoridade”, “guarda” ou “vigilância” através de uma das seguintes condutas (crime de forma vinculada):
a)    Privando a vítima de alimentação ou cuidados indispensáveis (omissiva): pode ser uma privação total ou parcial. Deve criar perigo à vida ou saúde. Exs.: mãe que deixa de servir o jantar reiteradamente ao seu filho pequeno; não prover de  vestuário resistente ao frio; não ministrar os  medicamentos necessários etc.
b)    Sujeitando a vítima a trabalho excessivo ou inadequado: excessivo é desmedido ou exagerado (ex.: obrigar a  carregar peso desproporcional à capacidade da pessoa). Inadequado é trabalho impróprio às condições de idade, sexo, desenvolvimento físico, saúde etc. (ex.: obrigar uma pessoa doente a trabalhar durante toda a noite, ao relento ).
c)    Abusando dos meios de correção ou disciplina: exceder; extrapolar. Pode ser violência física (ex.: violentos chutes ou socos na vítima; violentas chineladas no rosto de uma criança)  ou moral (ex.: ameaças; xingamentos; impedir o sono; obrigar criança a comer insetos; acorrentar criança ao pé da cama para impedir que saia de casa etc.)   
		A conduta deve ter o fim de “educação” (processo de formação intelectual, moral e física; ex.: relação entre curador e interdito), “tratamento” (meio utilizado para a cura de enfermidades físicas ou mentais; ex.: relação entre médico e paciente) e custódia (proteção de alguém que se encontra legalmente detido (ex.: relação entre carcereiro e condenado).    
- Sujeito Ativo: aquele que tem:
d)    Autoridade (vínculo de poder derivado de direito público ou privado) sobre a vítima;
e)    Guarda (assistência a pessoas que não prescindem da guarda) sobre a vítima;
f)     Vigilância (zelo pela segurança pessoal mas sem os rigores da guarda) sobre a vítima.
Trata-se, pois, de crime “próprio” (sujeito ativo “especial”).
Exs.: pais, tutores, professores, médicos, enfermeiros, carcereiros, etc.
-       Sujeito Passivo: apenas as pessoas que estejam sob autoridade, vigilância ou guarda do sujeito ativo. Exs.: filhos, pupilos, alunos, enfermos, presos, etc.
-       Elemento Subjetivo: Dolo de perigo, direto ou eventual (vontade de maltratar). Não se admite a modalidade culposa.
-       Consumação: no momento em que a vítima é exposta a perigo, independentemente de resultado naturalístico. Em regra, pode ser classificado como crime instantâneo, embora para alguns, como Cezar Roberto Bitencourt, nas hipóteses de “privação de alimentos” ou “privação de cuidados indispensáveis” é exigida a habitualidade. Nessas modalidades, seria então crime permanente.    
-       Ação Penal: pública incondicionada.
-       Classificação: próprio; de perigo concreto; formal; de forma vinculada; comissivo ou omissivo; instantâneo, podendo ser permanente em algumas situações; unissubjetivo; plurissubsistente; de ação múltipla ou de conteúdo variado (o agente poderá praticar os vários comportamentos previstos no tipo, mas somente será responsabilizado por uma infração penal).   
-       Tentativa: é possível se o crime é cometido por meio de ação e seja possível o fracionamento da conduta criminosa.  
  QUESTÕES:
1)    Como se distingue o crime de maus-tratos do delito de tortura?
     2) E se o agente submete “criança” ou “adolescente”, sob sua guarda ou vigilância, a vexame ou constrangimento?
  3) O marido pode ser sujeito ativo em relação à esposa?
4)  Se a vítima for pessoa idosa, como será a adequação típica?
Artigo 136, §§1º e 2º - Figuras qualificadas
Lesões graves ou morte.  Configuram crimes preterdolosos. 
Artigo 136, § 3º - Aumento de pena
Parágrafo incluído pelo ECA (Lei n.º 8.069/90). Criança ou adolescente menor de 14 anos.
Veja o quadro-resumo abaixo:
PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
	Titulação do Crime
	Capitulação Legal
	Pena
	Agravante
	130 – 
Perigo de contágio venéreo 
	Expor alguém, por meio de relações sexuais, a contágio de moléstia venérea
	Detenção 
de 3 meses a 1 ano, ou multa
	Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos e multa.
	131 – 
Perigo de contágio de moléstia grave
	Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
	Reclusão 
de 1 a 4 anos, e multa
	
	132 – 
Perigo para a vida ou saúde de outrem
	Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
	Detenção 
de 3 meses a 1 ano, se não constituir crime mais grave
	A pena é aumentada de 1/6 a um 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços
	133 –
Abandono de incapaz 
	Abandonar pessoa que está sob seu cuidado e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
	Detenção 
de 6 meses a 3 anos
	- Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - Reclusão, de 1 a 5 anos.
- Se resulta a morte:
Pena - Reclusão, de 4 a 12 anos.
Aumento de pena: As penas aumentam-se de 1/3:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima
	134 –
Exposição ou abandono de recém-nascido
	Expor ou Abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria
	Detenção 
de 6 meses a 2 anos
	- Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
- Se resulta a morte:
Pena - Detenção, de 2 a 6 anos
	135 –
Omissão de socorro
	Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal; ou não pedir o socorro da autoridade pública:
	Detenção
 de 1 a 6 meses, ou multa
	aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte
	136 –
Maus - tratos
	Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade
	Detenção
 de 2 meses a 1 ano, ou multa
	- Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - Reclusão, de 1 a 4 anos.
- Se resulta a morte:
Pena - Reclusão, de 4 a 12 anos.
- Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra menor de 14 anos
					
DA RIXA
Art. 137, caput, trata da rixa simples – “participar de rixa, salvo para separar os contendores” – cuja pena é de detenção de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
Rixa Simples
Conceito: A rixa é uma luta envolvendo pelo menos 3 pessoas e que se caracteriza pelo tumulto, pela confusão, de tal forma que não se consegue distinguir a conduta de cada participante.
 Cada envolvido visa atingir qualquer um dos demais e todos agem ao mesmo tempo, por isso, são todos autores e vítimas do mesmo crime.
 É um crime de concurso necessário, de condutas contrapostas. Os crimes de concurso necessário podem ser de condutas paralelas (quadrilha ou bando), convergentes (adultério) ou contrapostas (rixa).
 Para se computar o número mínimo de 3 contendores, leva-se em conta a participação dos inimputáveis na luta.
Núcleo do tipo:
Participar é tomar parte efetiva na troca de agressões. Aquele que toma parte na troca de agressões é chamadode partícipe material ou partícipe da rixa.
Partícipe moral é aquele que não pratica a conduta, não toma parte na luta, mas estimula o crime, também chamado de partícipe do crime de rixa.
O partícipe moral não entra para o cômputo de número mínimo de 3 rixadores.
Consumação:
O crime se consuma quando 3 pessoas, ou mais, começam a lutar. A doutrina entende que não há tentativa, trata o delito como instantâneo: ou a briga se inicia e consuma a rixa, ou há indiferente penal. 
O Prof. Damásio, entretanto, tem uma opinião divergente, entendendo necessária a classificação da rixa:
· rixa ex improviso: quando surge de repente e para a qual não haveria possibilidade de tentativa;
· rixa ex proposito: há uma combinação de hora e local por parte dos envolvidos, hipótese em que seria possível a tentativa, no caso de a polícia impedir o início da briga.
 	Não é necessário falar em legítima defesa para aquele que entra na luta querendo separar os demais, pois o próprio art. 137 do Código Penal exclui o delito nesse caso. 
É possível alegar a legítima defesa para crime mais grave que possa ocorrer durante a rixa, mas quanto ao crime de rixa, esse já estará consumado.
Exemplo: os rixadores lutam sem arma; no meio da confusão, um deles saca uma faca em legítima defesa e um outro utiliza um revólver para contê-lo; esse último não responderá pelo homicídio ou pelas lesões que causar (porque acobertado pela justificante), porém será responsabilizado por rixa qualificada, assim como os demais contendores.
 Se, durante a rixa, ocorrem lesões leves, essas são absorvidas. 
A rixa é um crime de perigo e se caracteriza ainda que ninguém sofra lesões.
Rixa Qualificada
Para os participantes de rixa que resultar em lesão grave ou morte, o parágrafo único fixa pena de detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. A pena é igual, tanto para lesão grave como para morte. 
A rixa é qualificada para todos, até mesmo para quem não tenha dado causa ao resultado lesão grave ou morte. Basta participar da rixa que resulte em morte ou lesão corporal grave para responder pela forma qualificada. É uma hipótese de responsabilidade objetiva. 
	A própria vítima das lesões graves responde por rixa qualificada. Se for identificado o causador direto da morte ou da lesão, os participantes da rixa respondem por rixa qualificada e o causador da morte ou lesão responde por homicídio ou lesão corporal (dolosa ou culposa) em concurso material com o crime de rixa qualificada. Ver exposição de motivos do CP para o crime de rixa.
 A ocorrência de mais de uma morte não altera a característica: trata-se de uma única rixa qualificada.
 Mesmo a pessoa que entra na rixa e dela se afasta antes do resultado agravador, responde por rixa qualificada, pois com seu comportamento anterior estimulou a troca de lesões que acabou levando à morte ou lesão corporal grave.
 Responde por rixa simples a pessoa que entra na rixa após a consumação da morte ou da lesão grave.
CAPÍTULO IV
DOS CRIMES CONTRA A HONRA
1. Generalidades
2. Espécies:
 2.1 Calúnia
 - Conceito
 - Possibilidade
 - Tentativa
 - Exceção da verdade
 2.2 Difamação
 - Conceito
 -Aspecto subjetivo
 - Tentativa
 -Exceção da verdade
 2.3 Injúria
 - Conceito
 - Aspecto subjetivo
 - Tentativa
3. Retratação
4. Pedido de Explicações
5. Ação Penal
1. Generalidades:
	Tal capítulo denota a presença de crimes cada vez mais constantes em nosso meio e de repercussão social gravosa das mais eficazes.
	A proteção legal incide nessas hipóteses sobre a Honra. Esta se vislumbra como o conjunto de atribuições morais, intelectuais e físicas de uma pessoa, que lhe possibilita consideração social (Honra Objetiva) e estima própria (Honra Subjetiva).
	Assim, como nos assevera a doutrina contemporânea, a honra é o sentimento de nossa dignidade própria, bem como o apreço e respeito de que somos objeto ou nos tornarmos merecedores perante os nossos concidadãos. (Nelson Hungria).
 A respeito da honra, escreveu Shakespeare que “o bom nome é a primeira joia do coração do homem”; e, a propósito da calúnia, o mais grave dos crimes contra ela cometidos, aduziu o imortal dramaturgo: “O caluniador é pior do que o ladrão, pois quem rouba minha bolsa, rouba algo que me empobrece, mas que lhe é útil e que posso repor; porém, aquele que me calunia, tira-me a honra, que de nada lhe serve e que não mais consigo repor”.
	A honra é um bem considerado constitucionalmente inviolável (art. 5º, X, CR/88). 
	Costuma-se entender a honra e, consequentemente, a sua agressão sob os aspectos objetivo e subjetivo. 
	Para Damásio “honra é o elenco das qualidades morais, físicas, intelectuais e demais dotes do cidadão, que o fazem merecedor de apreço no convívio social”. Pode a mesma se dividir, segundo o renomado autor, em: 
Honra Objetiva: sentimento geral, externo; o que os outros pensam da pessoa. Reputação no meio social. Imagem que a pessoa goza perante os outros.
Honra Subjetiva: sentimento interno, pessoal. O que o ser humano pensa de si mesmo, com relação a seus atributos físicos, morais e intelectuais. Relaciona-se com o amor-próprio a autoestima da pessoa. Divide-se em:
- Honra-dignidade: atributos morais da pessoa;
- Honra-decoro: atributos físicos e intelectuais.
	A chamada honra objetiva diz respeito ao conceito que o sujeito acredita que goza no seu meio social. Segundo Carlos Fontán Balestra, “a honra objetiva é o juízo que os demais formam de nossa personalidade, e através do qual a valoram”. 
	Já a honra subjetiva cuida do conceito que a pessoa tem de si mesma, dos valores que ela se auto-atribui e que são maculados com o comportamento levado a efeito pelo agente. 
	Pode ainda haver a seguinte classificação:
Honra Comum: não tem nenhuma correlação com a atividade que a pessoa exerce. Ex.: chamar alguém de “ladrão”.
Honra Especial: relacionada com a atividade específica do ofendido. Ex.: dizer que determinado servidor público é adepto ao “peculato”; chamar um médico cirurgião de “açougueiro”.
	A distinção tem repercussão prática, uma vez que, por intermédio dela, se poderá visualizar o momento consumativo de cada infração penal prevista pela lei, que atinge a honra da vítima, conforme veremos mais adiante. 
	O CP catalogou três delitos contra a honra, a saber: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). 
	Os dois primeiros (calúnia e difamação) maculam a honra objetiva do agente, sendo que o último, a injúria, atinge sua honra de natureza subjetiva. 
	Quanto aos meios de execução nos crimes em análise Hungria esclarecia que o crime contra a honra “é praticado mediante a linguagem falada, escrita ou mímica, ou por meio simbólico ou figurativo. Verbis, scriptis, nutu et facto”. 
	Importante salientar as formas pelas quais se pode cometer um delito contra a honra, pois que, dependendo do meio utilizado pelo agente, poderá ser eliminada ou afirmada a possibilidade de tentativa. 
	Uma vez escolhido o meio a ser utilizado na prática da infração penal, estaremos, consequentemente, diante do raciocínio da unissubsistência ou da plurissubsistência do crime. Sendo unissubsistente, não se admitirá a tentativa; ao contrário, afirmando-se a plurissubsistência do delito, em virtude dos meios selecionados, será permitido o raciocínio correspondente ao conatus. 
	O meio selecionado ao cometimento de qualquer um dos crimes contra a honra será fundamental ao raciocínio pertinente ao iter criminis. 
	Outro ponto que merece destaque diz respeito às Imunidades dos Senadores, Deputados e Vereadores.	Determina o art. 53 da CR/88: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. 
	Houve, portanto, previsão da chamada imunidade material para os deputados e senadores que, na defesa de seu mandato,

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