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Pró-Reitoria de EaD e CCDD 1 Compras, Estoques e Logística Aula 1 Profª Rosinda Angela da Silva Pró-Reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa inicial Você já pensou na atividade de compras de uma grande empresa? Já pensou na quantidade de pessoas envolvidas nos processos de aquisições das matérias-primas e dos insumos para as organizações industriais? E as compras para uma grande loja de departamentos ou um grande varejista com milhares de produtos em suas gôndolas? E como será que os compradores conseguem gerenciar tantos produtos e fornecedores ao mesmo tempo? Qual será a qualificação necessária para se tornar um bom comprador? E ainda: será que comprar para uma empresa é a mesma coisa que comprar um produto para si mesmo? Com todos esses questionamentos, o Setor de Compras de uma organização parece ser bem interessante de conhecermos, não é mesmo? Então, a partir dessa perspectiva de curiosidade, nesta aula vamos conhecer o funcionamento desse departamento extremamente dinâmico das organizações. Vamos à nossa primeira aula sobre compras! Contextualizando As compras organizacionais são infinitamente diferentes das particulares, devido às especificidades das negociações. Avalie que uma compra particular pode ser movida por impulso ou uma necessidade psicológica, pois alguns profissionais das áreas de psicologia apontam que algumas pessoas realizam compras como forma de fuga de alguma insatisfação pessoal. Nesse tipo de ação, o objetivo de desejo satisfará uma necessidade específica de um indivíduo, e se em dois ou três dias ele se arrepender da compra tomará a decisão de solicitar a troca, ou não, e caberá à empresa que vendeu o bem aceitá-lo de volta, ou não. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 3 Já nas compras organizacionais, o comprador é um intermediário da necessidade da organização e deve adquirir exatamente o especificado, independente se a compra o agrada ou não. Sua função é disponibilizar o produto nas condições adequadas esperadas pela empresa. Para que ele possa comprar corretamente, as especificações devem ser claras, pois, se houver a necessidade de devolução do produto, o comprador terá que negociar com o fornecedor, fator que pode gerar estresse e perda de tempo do colaborador. Então conhecer as características dos Departamentos de Compras auxilia a redução de conflitos entre os departamentos e busca a melhoria contínua do processo de aquisição. E isso é saudável para qualquer tipo de organização. Segundo Ballou (2006, p. 356), as compras envolvem a aquisição de matérias-primas, suprimentos e componentes para o conjunto da organização. Entre as atividades associadas a elas, incluem-se: adquirir bens e produtos para suprir as necessidades das empresas; comparar os preços, a qualidade e o serviço; programar as compras; pesquisar bens e serviços; desenvolver e avaliar o desempenho dos fornecedores; entre outras. Tema 1: Compras nas Organizações O Departamento de Compra tem se destacado nas organizações devido à sua participação estratégica nos seus resultados, mas compreenda que nem sempre foi dessa forma. Assim como outros departamentos que tiveram que comprovar sua importância para o atingimento das metas nas firmas, o de Compras também percorreu um longo caminho. Martins (2006, p. 81) comenta que “o valor gasto nas compras de insumos para a produção, seja do produto, seja do serviço final, varia de 50% a 80% do total das receitas brutas”, isso já é motivo mais que suficiente para compreender a importância em se estudar o Setor de Compras. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 4 Para transitar do papel operacional para o estratégico, o Departamento de Compras necessitou se reinventar muitas vezes, e os profissionais que atuam nessa área tiveram que buscar qualificação profissional. Pelo menos no Brasil, somente nas duas últimas décadas é que iniciou o processo de capacitação de colaboradores para trabalhar exclusivamente no Setor de Compras. Por muito tempo, um comprador não tinha qualificação específica formal, ou seja, indivíduos com qualquer formação acadêmica, ou sem formação alguma, iniciavam suas carreiras profissionais nas áreas de Compras e aprendiam as atividades do setor gradualmente. Até bem recentemente, em empresas de pequeno porte, algumas de médio porte, e nas prestadoras de serviços, a atividade de compras era realizada pelo próprio proprietário da firma, e era bem comum. Isso era executado sem a utilização de nenhuma estratégia específica que pudesse resultar em uma boa negociação. Isso não significa dizer que as empresas perdiam dinheiro com as compras que realizavam, mas que desperdiçavam a oportunidade de negociar melhor. Com a mudança de cenário para um mundo mais globalizado, as organizações tiveram que rever suas estratégias, e algumas atividades se tornaram as “meninas dos olhos” de qualquer negócio. Nesse momento, as atenções se voltaram para o Departamento de Compras, resultando em mudanças interessantes nas rotinas de tal setor. As mudanças ocorreram desde estruturas físicas e tecnológicas até exigências de qualificação específica para o profissional que quisesse exercer a atividade de comprador. As empresas compreenderam que o Departamento de Compras necessitava de um espaço específico para realizar as atividades inerentes do setor, bem como um local adequado para receber visitas dos vendedores e representantes comerciais para suas negociações. Com isso, algumas Pró-Reitoria de EaD e CCDD 5 mudanças foram necessárias, tais como melhorias nos layouts para atender melhor a necessidade do departamento. Em relação às mudanças tecnológicas, as empresas compreenderam que os compradores necessitavam de computadores com acesso à internet e liberdade para acessar sites de compras que oferecessem a possibilidade de procurar os produtos e também comparar preços entre os concorrentes. Isso pode soar estranho, mas saiba que quando a internet surgiu no mundo organizacional, “internet discada”, ela era lenta e extremamente cara para as empresas. Devido a isso, nem todos tinham acesso a essa facilidade, mesmo nas áreas administrativas. E, com tantas mudanças, houve a necessidade de capacitar o capital humano e desenhar o perfil de comprador, pois se entendeu que esse profissional representa a organização no momento da negociação comercial. E, claro, deve fazer isso de forma responsável e que atinja os objetivos da empresa e do próprio departamento. Em linhas gerais, alguns elementos a serem analisados no colaborador da área de Compras são: Habilidade de negociar e identificar as melhores alternativas para a organização; Conhecimento de matemática financeira, preferencialmente que utilize a calculadora financeira ou domine os cálculos no Excel; Pessoa ilibada que inspire confiança e seja comprometida com o negócio da empresa; Facilidade de concentração e que saiba gerenciar conflitos, com clientes internos e fornecedores externos; Aceite desafios de reduzir custos com as compras sem descuidar da qualidade dos insumos, entre outros. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 6 Devido à atuação das grandes redes varejistas no Brasil, tais como Walmart, Carrefour, Extra, Casas Bahia, Lojas Americanas e McDonald’s, os Departamentos de Compras conquistaram o merecido status, pois tais firmas têm gerências de Compras, coordenação de Compras e até mesmo superintendência de Compras e outros cargos de alto escalão. E a qualificação do capital humano tem sido suprida pelasinstituições de ensino com cursos de nível técnico, graduação, especialização e MBA, para prepará-lo para exercer suas funções. Com o passar do tempo, a atividade de Compras evoluiu, e a mudança da visão de sua importância também. Segundo Pozo (2010, p. 135), o “Setor de Compras ou Suprimentos, como atualmente é denominado, tem responsabilidade preponderante nos resultados de uma empresa em face de sua ação de suprir a organização com os recursos materiais para seu perfeito desempenho e atender as necessidades de mercado”. As organizações de melhores práticas que perceberam isso fortaleceram seus Departamentos de Compras e com isso têm alcançado excelentes resultados nas negociações e desenvolvido parcerias de longo prazo com seus fornecedores. Para facilitar o entendimento dos conceitos envolvidos nas compras organizacionais, observe as seguintes colocações: Uma compra organizacional pode ser esporádica, como de um equipamento de alto valor agregado; Pode ser estratégica, como de um terreno para construção de uma nova planta ou ampliação; Pode ser corriqueira, como materiais de uso e consumo (higiene e limpeza, descartáveis e outros); Pró-Reitoria de EaD e CCDD 7 Pode ser sistemática, como a reposição de matérias-primas e insumos para produção; Pode ser de emergência, como a aquisição de uma peça de manutenção, reparos e operações (MRO) para substituição em uma máquina parada. Francischini (2012, p. 18) amplia essa lista e cita que as compras podem ser classificadas também quanto à frequência da necessidade de suprimentos pela empresa, tais como: compras constantes e habituais, programadas, de investimentos e sofisticadas. Tais classificações auxiliam os colaboradores das áreas de Compras a conhecerem seu poder de barganha com seus fornecedores, pois cada tipo de compra tem sua especificidade. Tema 2: Objetivos e Organização do Setor de Compras Com todas as transformações positivas por quais passaram os Setores de Compras das organizações nos últimos tempos, o estabelecimento de objetivos claros foi uma necessidade. De forma simplificada, Dias (2003, p. 15-18) determina que os principais objetivos a serem alcançados pelos Departamentos de Compras são: A aquisição de bens e contratação de serviços, na qualidade desejada para garantir o atendimento das necessidades da empresa; no momento preciso, para evitar dispêndios financeiros com aquisições que não serão utilizadas imediatamente; pelo menor custo possível, desde que atenda as especificações exigidas pelo setor solicitante; e na quantidade pedida, para evitar paradas de linhas e excesso de produtos em estoques. Outros autores apresentam diferentes objetivos principais e específicos para o Setor de Compras, mas em linhas gerais são parecidos com esses apresentados. E, para atingir tais objetivos, algumas atividades devem ser realizadas com maestria, tais como as citadas por Arnold (1999, p. 209): Pró-Reitoria de EaD e CCDD 8 determinar as especificações de compra: qualidade certa, quantidade certa e entrega certa (tempo e lugar); selecionar o fornecedor (fonte certa); negociar os termos e condições de compra; e emitir e administrar pedidos de compra. Podemos acrescentar ainda a coordenação do fluxo de fornecimento desde a seleção das fontes de fornecimento, o desenvolvimento de fornecedores, a contratação do transporte até o acompanhamento do encerramento do pedido de compras na organização. Para atender os objetivos propostos, o Setor de Compras deve se organizar de modo que ofereça a estrutura necessária aos colaboradores para que estes realizem suas atividades. Os Departamentos de Compras, no entanto, enfrentam inúmeros desafios para atingir seus objetivos. Vamos conhecer alguns: Compras emergenciais: quando uma empresa tem um grande volume de compras emergenciais, é um sinal de que os controles não estão adequados e há a necessidade de verificação in loco para levantar as causas. É necessário compreendermos que esse tipo de aquisição é prejudicial tanto para o Departamento de Compras quanto para a empresa como um todo. Vamos compreender esse ponto de vista. Quando uma solicitação de compras chega ao Departamento de Compras, existe um procedimento padrão a ser seguido, entretanto, no caso das emergenciais, passos importantes são anulados para a compressão do tempo. A atenção do comprador se volta para o motivo da compra (linha de produção parada, por exemplo), e nesse momento seu foco passa a ser “conseguir o produto”, custe o que custar. Isso significa dizer que entre conseguir um preço mais baixo e a entrega mais rápida, o prazo de entrega prevalecerá. Todos os demais itens (condições de pagamento, custo do frete, melhor preço) ficam em segundo plano. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 9 Falhas nas especificações técnicas: quando uma solicitação de compras chega ao Setor de Compras, espera-se que todas as especificações estejam detalhadas para evitar retrabalho ou até mesmo a devolução de um produto comprado de forma equivocada. Então, o comprador deixa de realizar atividades que realmente agregam valor ao seu trabalho para corrigir falhas que podem ser evitadas. Tais falhas costumam ocorrer nas solicitações de peças de reposição ou na manutenção de máquinas e equipamentos. E elas podem decorrer desde cadastros equivocados, insuficientes ou muito resumidos, até falta de conhecimento por parte do colaborador que solicita o produto. É preciso compreender que, por mais que o comprador seja qualificado e tenha relativo conhecimento técnico do produto que adquire, o usuário do produto é o mais indicado para preencher uma requisição de compras de forma correta. Demora na liberação das solicitações de compras: quando uma organização tem estrutura muito burocrática, isso pode ocasionar demora nas liberações das compras. Entenda que compete ao comprador a definição de “quem comprar”, mas não “quando e quanto comprar”, o que significa dizer que ele deve “aguardar” as devidas liberações dos responsáveis. E, quanto mais tempo demorar essa liberação, mais tempo o comprador levará para repor o produto na empresa. E isso pode causar inúmeros inconvenientes para o setor solicitante. Falta de confiabilidade dos fornecedores: o Setor de Compras é um dos responsáveis em contatar novos fornecedores para atender as necessidades das organizações, mas não consegue garantir cem por cento que estes não falharão em algum momento. Uma falha de um fornecedor pode causar prejuízos financeiros a organizações, pelo fato que uma hora parada da linha de produção impede que lotes de produtos sejam produzidos. Isso Pró-Reitoria de EaD e CCDD 10 acontece no varejo, quando o fornecedor falha, faltam produtos nas gôndolas para atender a necessidade do público consumidor. A organização do Setor de Compras é uma necessidade para que as tarefas sejam executadas de forma eficiente. Devido a isso, algumas atividades inerentes ao processo de compras serão apresentadas de acordo com o material de Pozo (2010, p. 137-139): Informação básica: controles e registros de fornecedores, de compras, de preços, de especificações, de consumo, de catálogos e econômicos; Pesquisa de suprimentos: estudo de mercado, especificações de materiais, análise de custos e financeira, desenvolvimento de novos fornecedores e de novos materiais e qualificação de fornecedores; Administração de materiais: garantir atendimento das requisições, manutenção dos estoques, evitar excesso de estoques, melhorar o giro de estoques, garantir transferência de materiais, padronizar embalagense elaborar relatórios; Sistema de aquisição: negociar contratos; efetivar as compras; analisar cotações, requisições e condições dos contratos; verificar o recebimento dos materiais; conferir fatura de compra; contatar vendedores; negociar redução de preços; e relacionamento interpessoal. Além dessas atividades mencionadas pelo autor, o Setor de Compras também realiza também visitas técnicas a fornecedores e recebe suas visitas, participa ativamente no desenvolvimento de novos produtos que necessitem de matérias-primas inovadoras, entre outros desafios. Além disso, é imprescindível o Setor de Compras acompanhar o mercado fornecedor para estar sempre informado das novidades em termos de novos entrantes nele. Tema 3: Compras Centralizadas e Descentralizadas As firmas normalmente organizam seu Setor de Compras de duas formas: compras centralizadas e as descentralizadas. Cada forma de atuação tem seus Pró-Reitoria de EaD e CCDD 11 prós e contras. Vamos discutir isso neste momento, pois de acordo com Bertaglia (2006, p. 27) as empresas utilizam o modelo de compra centralizada quando podem obter melhores preços e serviços em função do volume e optam pelo modelo de compra descentralizada quando têm como foco a velocidade na reposição e desejam manter menores volumes de estoques. Há ainda a possibilidade de utilizar os dois sistemas, o que é chamado de sistema híbrido de compras. Tal metodologia é comum em organizações que possuem várias plantas ou lojas de vendas. Centralizam-se as grandes compras de insumos, em alguns casos provenientes de importação, para conseguir bons descontos e baixo frete, e descentralizam-se as compras de menor quantidade. Vamos compreender as vantagens da utilização da centralização das compras de acordo com a proposta de Dias (2003, p. 56): O aumento do volume a ser adquirido proporciona maior poder de negociação para o comprador, principalmente em decorrência dos benefícios da economia de escala na fabricação e venda dos produtos; A centralização das aquisições implica em único preço para cada item, independentemente da localização geográfica, garantindo uma uniformidade nesse quesito; Melhor gestão dos estoques, garantida pelo maior controle sobre o volume global dos materiais; Melhor condição de atendimento em situações de escassez, no mercado fornecedor; Homogeneidade nos procedimentos gerais de compra. Vantagens da utilização da descentralização em compras: A presença física do comprador na unidade propicia maior afinidade do profissional com os problemas locais de abastecimento; Mais agilidade no atendimento das necessidades da sua própria unidade; Resposta mais rápida nas aquisições em condição de urgência ou emergência; Pró-Reitoria de EaD e CCDD 12 Maior autoridade e responsabilidade para a administração local. Comparando os dois modelos, percebe-se que ambos trazem benefícios para a empresa e também oferecem riscos pelo modelo de gestão imposto. Por exemplo, no modelo de compra centralizada, são atingidos melhores níveis de controle por parte da firma, mas necessita-se de um tempo maior para providenciar as reposições, porque o comprador aguarda todos os setores encaminharem suas necessidades. Já usando o modelo de compra descentralizada, a empresa necessitará de controles mais rígidos para não propiciar os desperdícios, mas tem como elementos positivos a agilidade e a rapidez na reposição dos bens e serviços. Além da definição do modelo de gestão do Departamento de Compras, é interessante estabelecer também as competências por cargo. Observe a proposta a seguir: Auxiliar de Compras: pode ser responsável pelo follow-up dos pedidos, contato com os fornecedores para solicitação de propostas e colocação de pedidos mais simples, como os materiais indiretos para produção ou de baixo valor financeiro. É como se esse colaborador estivesse no início de sua carreira como comprador; Assistente de Compras: pode ser responsável pelas compras de materiais diretos ou indiretos, gerenciamento de pedidos de média complexidade e negociação com fornecedores. O comprador está mais experiente e já tem competências desenvolvidas para negociar em nome da empresa; Gerente, supervisor ou coordenador de Compras: pode ser responsável pelas negociações de grandes pedidos com grandes fornecedores. Esse colaborador está no auge da sua carreira como comprador; Pró-Reitoria de EaD e CCDD 13 Diretoria ou superintendência de Compras: pode ser responsável pelas compras estratégicas das organizações e pelo gerenciamento de grandes contratos globais de fornecimento de insumos e serviços. Esse colaborador está na fase de maturidade da carreira, tem muita experiência e competência para gerenciar grupos de compradores. Além dessa divisão de competências x cargo, é possível também classificar os compradores de acordo com o tipo de produto que compram, tais como: Compra de insumos e matérias-primas (material direto), no caso da indústria; e produtos prontos para venda, no caso dos varejistas, atacadistas e distribuidores; Compra de materiais secundários, como material de segurança do trabalho, de higiene e limpeza e de escritório, esse exemplo serve para indústria ou varejo; Compra de materiais de MRO, que são itens indispensáveis para manter a estrutura física da organização em perfeitas condições de funcionamento; Compra de ferramentas e material de reposição, que são itens indispensáveis para a manutenção de máquinas e equipamentos, principalmente nas fábricas, entre outros. Para que o colaborador seja um comprador pleno e saiba negociar qualquer tipo de produto desses que foram citados, é importante que a empresa faça um rodízio entre os colaboradores, para que eles se capacitem gradualmente. Além de lhes propiciar a chance de realizar outras tarefas, auxilia no conhecimento de todo o grupo de fornecedores que negociam com a empresa e ainda inibe alguma possível corrupção, como dar preferência a tal fornecedor em detrimento do relacionamento que já construíram. Compete aos Pró-Reitoria de EaD e CCDD 14 encarregados dos setores avaliarem se o relacionamento dos compradores com terceiros é saudável sem gerar protecionismo, compra casada ou favorecimento. Essa última questão nos remete a um assunto extremamente importante no Setor de Compras, que é a ética no relacionamento com os fornecedores de materiais e provedores de serviços. As empresas têm investido fortemente nas questões morais e de princípios éticos em seus Departamentos de Compras para evitar dissabores com corrupções ou benefícios próprios dos compradores. Para que as relações comerciais sejam transparentes, os procedimentos devem ser claros, pois a empresa deve cientificar o comprador sobre qual o comportamento que ela espera dele. Para isso, a adoção de um Código de Ética tem se tornado uma frequência entre as grandes corporações, além das auditorias externas para conferir se os procedimentos estão sendo seguidos a contento. Essa ação é muito importante porque as firmas veem seus compradores como um elo estratégico com o mercado externo, os quais negociam em nome da empresa e de certa forma demonstram ao mercado quão ética ela é. Compreenda que, quando um comprador age de forma reprovável, é a imagem da empresa que ele está colocando em risco, além da sua própria imagem profissional. Para inibir tais ações, algumas organizações delimitam o recebimento de brindes por parte dos compradores, estabelecendo valores máximos a serem recebidos para caracterizar brinde, tais como: calendários, réguas,agendas, blocos de rascunho e canetas promocionais, os quais podem ser utilizados por qualquer colaborador na empresa. Pois se entende que, quando um fornecedor envia uma cesta de café da manhã, uma caixa com vinhos ou um bem de maior valor agregado, ele está enviando um presente individual, o que descaracteriza brinde. Esses casos devem ser evitados porque certamente espera-se reconhecimento por esse mimo. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 15 Discutir a ética em um departamento como o de Compras é necessário e saudável. Todos os colaboradores devem saber o que as empresas esperam deles e compete a eles desenvolverem suas atividades diárias com comprometimento e seriedade. Tema 4: Fluxo Básico das Aquisições Neste tópico, vamos compreender como ocorre o fluxo de uma compra em uma organização. No entanto, é necessário avaliar se a compra é de produto novo ou de reposição e ainda se o fornecedor é novo ou se já está homologado. Isso é importante para entendermos o fluxo como um todo. Vamos partir do pressuposto que o produto faz parte das compras cotidianas e o fornecedor já está qualificado a fornecer. Exemplo: compra de um insumo a partir do Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP): 1. O PPCP programa a produção da semana e solicita determinado parafuso para a fabricação daquele lote de produto; 2. O Almoxarifado separa o produto para ser enviado para a linha de produção e realiza sua baixa no sistema informatizado; 3. Automaticamente o sistema calcula o restante de material que ficou em estoque, juntamente com o estoque de segurança parametrizado no sistema que sinaliza a necessidade de reposição; 4. A Programação de Materiais avalia a informação disponibilizada pelo sistema informatizado e identifica a necessidade de compra do parafuso em questão; 5. Uma Solicitação de Compra (SC) é gerada no sistema de compras; 6. O comprador recebe a informação por meio do follow-up diário das necessidades de compras; Pró-Reitoria de EaD e CCDD 16 7. O comprador analisa criticamente a SC, verifica se a quantidade solicitada está dentro do lote mínimo de fabricação do fornecedor e avalia o se o prazo de entrega solicitado é compatível; 8. Por ser um insumo para a linha de produção, o fornecedor já está devidamente homologado, o que permite que o comprador emita a Ordem de Compra (OC) imediatamente; 9. O comprador encaminha por e-mail a OC ao fornecedor e solicita o seu aceite, item importante que garantirá que o fornecedor recebeu e concordou com as condições comerciais constante no pedido; 10. O comprador atualiza o sistema de pedidos de compras, colocando no status “aguardando entrega”; 11. O comprador acompanha diariamente os processos e verifica se o pedido de compras do parafuso está como “pendente de entrega”; 12. Em alguns casos, com 48h ou 24h de antecedência, o auxiliar de Compras contata o fornecedor para saber se o despacho do parafuso está confirmado; 13. A entrega do parafuso chega à empresa, o Setor de Recebimento realiza os procedimentos e segrega parte do material para a avaliação do Setor de Controle de Qualidade; 14. O Controle de Qualidade, por sua vez, faz os testes e aprova a entrada do material no estoque; 15. O colaborador responsável por alimentar o sistema atualiza o pedido como “atendido”. Se tudo correu bem nesse fluxo, o pedido entrará no status “encerrado”. Caso contrário, haverá a necessidade de o comprador negociar com o fornecedor uma possível devolução, desconto ou outra negociação. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 17 Todo esse processo pode e deve ser representado por meio de um fluxograma, para facilitar a visualização e, ainda, ser avaliado criticamente com frequência, detectando possíveis redundâncias ou falta de informações. Ao analisarmos a descrição desse fluxo, a tarefa de um pedido de compras parece simples e realmente é, entretanto, um Departamento de Compras não tem apenas um pedido de compra por dia para negociar com os fornecedores e acompanhar no follow-up. Em uma empresa de médio ou grande porte, é comum o Departamento gerenciar centenas de pedidos simultaneamente para garantir que os produtos sejam entregues no prazo. Em alguns casos, famílias inteiras de itens são compradas de poucos fornecedores; em outros casos, um mesmo item pode ser comprado de fornecedores distintos. Exemplo 1: uma indústria que utiliza uma família de itens componentes plásticos (40 modelos diferentes) e adquire todos esses “injetados” do mesmo fornecedor. O comprador terá vários itens para gerenciar, mas apenas um fornecedor para fazer o follow-up. Exemplo 2: um grande varejista de confecções vende em sua rede de lojas centenas de roupas diferentes adquiridas de diferentes fornecedores. Nesse caso, o comprador terá um grande mix de produtos para fazer follow-up e dezenas de fornecedores para gerenciar. Pelo prisma do exemplo 2, percebe-se que os compradores não gerenciam apenas um fluxo de compras, mas dezenas ou até centenas deles simultaneamente. O Setor de Compras costuma ser dinâmico, o que exige do comprador algumas habilidades, como: proatividade, dinamismo e agilidade. Dentre as principais competências que se espera desse profissional, a versatilidade e o saber trabalhar em equipe se destacam. Pró-Reitoria de EaD e CCDD 18 Devido à complexidade das rotinas de compras e a interação que o Setor tem com todos os departamentos da empresa, é necessário planejar suas atividades para que consiga atender seus clientes internos. É possível fazer uma analogia do Departamento de Compras como sendo um grande fornecedor que atende toda a companhia, e o nível de serviço entregue deve ser satisfatório a todos. Tema 5: Procurement O procurement é considerado uma evolução dos processos de compras tradicionais das organizações. Compreenda que nesses processos os objetivos estavam atrelados a abastecer a empresa de produtos e serviços para garantir sua operação. Já no caso do procurement, esse conceito foi ampliado para o gerenciamento das atividades estratégicas das compras, como negociações de grandes contratos, desenvolvimento e homologação de grandes fornecedores, qualificação de fornecedores internacionais, entre outros. E foram os avanços da Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) que abriram caminho para essa evolução. Conforme as organizações foram mudando e adentrando ao mundo globalizado e digital, as formas de comprar também evoluíram e se tornaram cada vez mais sofisticadas. Se em um passado recente os compradores dispendiam parte do seu tempo para negociações via telefone, atualmente esse é o recurso tecnológico menos utilizado. Segundo Martins (2006, p. 84), é o procurement que envolve, além do relacionamento puramente comercial com os fornecedores, também a pesquisa e o desenvolvimento desses relacionamentos, sua qualificação e o suporte técnico durante o relacionamento entre as partes, e que leva à necessidade de um aperfeiçoamento dos sistemas de informação. Hoje, há uma integração total entre todos os setores internos da empresa, clientes e fornecedores. E isso Pró-Reitoria de EaD e CCDD 19 atualmente é realizado de forma integrada e on-line, resultando em velocidade para as negociações de compras. Conforme comentamos no início desta aula, as empresas identificaram a necessidade de investir em computadores e internet para que seus compradores tivessem mais recursos para buscar melhores oportunidades de negociação com os fornecedores. E isso realmente fez a diferença. Atualmente, os compradores utilizamem abundância os recursos tecnológicos disponíveis e identificam constantemente novos fornecedores, bem como novas matérias-primas e novos polos de fornecimento. E, para que os compradores pudessem economizar tempo em suas tarefas e melhorar o processo de cotação e aquisição, a criação de uma ferramenta tecnológica que facilitasse essas atividades era imprescindível. E os desenvolvedores de tecnologias voltadas para os processos logísticos atenderam a esse pedido e criaram ferramentas que possibilitaram uma nova evolução do procurement para o e-procurement. Então, pode-se afirmar que o uso de computadores, juntamente com a internet, propiciou esse avanço extraordinário para as negociações de compras. E com isso os compradores automatizaram suas atividades cotidianas, liberando tempo para suas atividades mais estratégicas. Para isso, criaram portais em que o fornecedor podia capturar seu pedido de compras por meio do acesso com login e senha específicos. Isso resultou em economia de tempo para os compradores que direcionaram seus esforços para a fase mais estratégica da negociação, e não da inclusão e confirmação de uma OC para um fornecedor. Os fornecedores também se beneficiaram da onda tecnológica, adentraram no mundo digital sem fronteiras e ganharam espaço no mercado. Perceba que atualmente um fornecedor não precisa ter base física (planta industrial) para vender peças e componentes em qualquer lugar do país, porque Pró-Reitoria de EaD e CCDD 20 não dizer, em qualquer lugar do mundo! E isso foi positivo porque ampliou as possibilidades de boas negociações por parte dos compradores e fez com que o mercado fornecedor se reinventasse, tirando a todos da zona de conforto. Atualmente, os fornecedores disponibilizam em sua plataforma canais diretos de contato e a possibilidade de solicitação de cotação on-line sem a necessidade de um vendedor exclusivo para atender determinado segmento, empresa ou cliente. Podemos afirmar, então, que foi com o auxílio da TIC que a integração foi possível entre a indústria e seus representantes, distribuidores, fornecedores e provedores de serviços logísticos. O que faz com que as informações fluam de forma mais rápida e eficiente, servindo de base para as tomadas de decisões mais assertivas. As grandes redes varejistas, como os hipermercados, as grandes lojas de departamentos e os grandes distribuidores e atacadistas, valem-se dessa ferramenta em abundância. Considere que tais Departamentos de Compras são extremamente atarefados e seus compradores estão altamente qualificados e aptos a utilizar a TIC como recurso estratégico no atingimento das metas da empresa e do próprio setor. Trocando ideias Você considera a função de Compras importante em uma organização e que comprar para a empresa é a mesma coisa que comprar para si mesmo? Consegue identificar alguma diferença no processo? Síntese Nessa aula, tivemos o primeiro contato com a atividade de Compras Organizacionais. Para entendermos a importância desse Departamento, foram Pró-Reitoria de EaD e CCDD 21 apresentados os aspectos iniciais envolvidos e como foi a transição de um Setor visto como essencialmente operacional para gerencial e estratégico. Foram discutidos também que a mudança de cenário e a globalização da economia fizeram com que os Departamentos de Compras evoluíssem e começassem a utilizar ferramentas tecnológicas para desenvolver suas atividades com mais eficiência. Em linhas gerais, conhecemos o perfil do comprador que é esperado pelas organizações, bem como quais atividades ele pode desenvolver dependendo do cargo que exerce. Além disso, conhecemos também como são classificados os tipos de compras, os benefícios das compras centralizadas e descentralizadas e acompanhamos um fluxo inteiro de reposição de uma mercadoria. E, para finalizar, verificamos que os Departamentos de Compras utilizam o procurement e o e-procurement para facilitar a realização das suas atividades cotidianas e mantê-los conectados com o mercado fornecedor. O conteúdo apresentado foi apenas um apanhado geral das principais características das compras organizacionais e não tem a intenção de ser a última palavra sobre isso. Entretanto, já auxilia você a ter uma noção da importância desse Departamento que, assim como os outros setores dentro de uma empresa, tem sua parcela de responsabilidade no atingimento das metas organizacionais. Referências ARNOLD, T. J. R. Administração de materiais. São Paulo: Atlas, 1999. cap. 7. BALLOU, R. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2006. p. 356. 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